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ERASMO VALLADAO AZEVEDO E Neto 4 ‘NOVAES FRANCA cTc ANO Fla 6 Sou estu0® : : CONFLITO DE INTERESSES 5 NAS ASSEMBLEIAS DE S.A. CAPITULO Ut O INTERESSE SOCIAL NA LEI DE S.A. 1. O interesse social na Let 6.404, de 15.12.76 ‘A disciplina de protegio 20 interesse social $6 veio a en- ccontrar regulacio mais completa e abrangente no direito posi- tivo brasileiro com a promulgacio da nova Lei das Sociedades por Ages — a Lei 6.404, de 15.12.76. De hi muito os rectamos visio institucional da so- tanciada no Decreto-lei 2.627, de 1940 2 conjuntura em que da, como salientou Lamy Filho, mas que jé se encontrava superada pela realidade™. © predo- minio da grande empresa na vida econdmica moderna ea visio Tei admiravel para da sociedade an6nima como instrumento juridico idea! para sua ‘organizagio"; a distingZo entre companhias abertas € fecha- das, a separacio entre propriedade ¢ gestZo e a responsabilida- de social da grande empresa; a tendéncia para a universalizacio. dos grupos societirios. os (Concentagao a divesdad) estes totalmente alheios 4s previsbes do legislador de 1940; 0 aparecimento de novos contratos relativos 4 aquisicio de agdes; 2 eclosio das sociedades de economia mista; ¢ a conclusio de que a lei de sociedades por acdes constitui um instrumento de 104, Lamy Fiho, ob. et p. 126 105, 1eia qu, como se sade, vere er Pallsseau um de seus aautos cf 1a Socité Anon Franga, 1967. “Tecbmigue d’Organization de !Bareprise, Sey, Pati, (© INTERESSE SOCIAL NA LEL DE S/A 35 politica econOmica que cumpriaatualizar, foram alguns dos pon- tos salientados como indicativos da necessidade de uma ampla reforma do diploma das sociedades anbnimas no Brasil!6 Lamy Filho, como se sabe um dos autores do antepro} que véio a se converter na Lei 6.404, adverti, versidide de interesses 2 disciplinat, ressaltando: mister, por isso, buscar a dificilima linha de conciliacao entre 0 interesse da-empresa, cujo éxito deve'ser assegurado, do acionista que deve sex protegido contra a fraude, do gestor que precisa de li berdade , do credor que faz jus a seguranca de seu cré- dito ¢ do proprio Estado, fiscal do interesse pablico em jo- 0", E, entre uma solugfo privatiste pura — aperfeigoamen- ‘ausentes, ou de fiscals que submetessem a sociedade a presenga permanente do agente do poder pablico e que, no interesse do {rédito pablico, e/ou da que a sociedad no int ttagio — 0 co-autor do an uma posigio concliatria: "Parece-nos certo, por tudo isso, que 45 novas regras devem visar no campo privado 2o aperfeigoa- Essa linha conciliatria (¢ relist) propugnada por Lamy Filho, que acabou por prevalecer na Lei 6408, permeando to- daa sua estrutura, refletese, vivamente, na disciplina dos di- Jnteresses ém jogo na companhia: “O acionista”,dizo art. to no interesse da companhi diz 0 parigrafo nico do eve cnerecro seu" poder” “com 0 fim de fazer 2 companhia realizar 0 sen objeto ¢ cum: prir sua fungio social, ¢ tem deveres e responsabilidades para ‘com os deinais acionistas da empresa, os que nela trabalham € 106, Lary Filho, ob. ci, pp poder, nos termos do att ‘orieatara companhia para fim ‘ou praticar atos em detrimento dos: trios, “dos que trabalhama na mesma ou dos investidores ‘em valores mobillarios emitidos pela companhla”. ‘Dessa forms, a Lei 6.404 estabeleceu umm regime dual (oct, pando o direto brasileiro posigio singular nessa matéria, como clo desse escopo, pois o objeti Jo exercicio da atividade emp: social stricto sensu, mas, igualmente, o initeress do bem pablico, visto que, como adverte Ascarelli, 0 pr6pr reconhecimento da iniiativa privada por parte do legislador si rem para Sebi cee aso oc x ere, 14, capt 1, Sake x ‘que empresta iclonalista!"4, sensu A expressio interesse da compan da Lei 6.404, ou simplesmente interes 8 ‘CONFLITO DE INTERESSES © INTERESSE SOCIAL NA LEI DE SIA 30 nos parecer, de event 10 A sua condigao de s6cios (lembre-se, a prop6: acenada por Jaeger, no sentido de que, auma lar, 0s s6cios podem ter um intexesse comum enquanto mem- bros de uma mesma familia, interesse este, contudo, que 30, diz respeito, necessariamente, 4 sua qualidade de s6cios)"¥6 voluntaria de interesses, como ‘acidental(avaria comum), quer da anleausalts, como salietaCalé Maco, a caus alo cons ‘usta senfo uma desnecessriaduplcagso ds elementos integrates 0 De. {cio Juridico. Nos onezosos, alimam ele, se cusn eth a eraprenaeae ‘ha. proms 0 agents. ea coli om 9 bt do wo, endo mera endo confunde propriamente coma prestao da Ou tra pare, portm,prendeae 3 hineande ta ebigarson nag goede lima andlise com 2 prépriavoatade, no pas. ~ 0 sstenta que a causa domandtafere da vontade ger. Scio judo 0 seu spec Fo que varia de cise ae conrurto ve'nrssests O INTERESSE SOCIAL NA LEI DE Si a a mi ‘Todos esses interesses, decantados por Galgano, slo inte- esses ex causa soctetatis; todos eles, portanto, dizem respeito 20 interesse comum dos s6cios uti soci, vale dizer, 20 interes- i se da companhia. Obviamente, 0s $6 lem se desavir no ' objeto da sociedade (art. 22°da Lei 6.404), como 0 escopo,fim, de produgio e de disteibuicio de lucros entre os s6cios, sob'2 forma de dividendos!*. Galganio decompée ainda mais esse conceito, sendo til tra- 2er pata cé sua licdo. Segundo cle, a nogao de sociedade pode i sas conferem bens tocante a eles: interesse do acionista controlador, exemplifi- ‘cativamente, pode consistir no interesse ‘preliminar’ de forta- lecer a empresa; 0 dos acionistas minoritirios no interesse ‘fi- ‘exercitam em comum uma atividade econ6mica para obter 05 ueros; c) realizam os lucros com o escopo de dividi-los entre ~ = clas. © exame dessa noslo, diz. Galgano, demonstra como no ‘contrato de sociedade posta ser identificada uma pluralidade de interesses, coordenados entre eles, todos definivels como ‘in- fais’. Existe, antes de mais nada, um ‘interesse s0- jue 0 patriménio social, formado tiliaado para o exercicio de uma Uma tltima questo que se poe &a de se saber se 0 legis dor brasileiro tesia privilegiado algum desses interesses, todos eles conducentes& Grbita do interesse da comp: ‘mento dos demais, Por exemplo; se privlegio mum A “maxima eficiéncia da empresa produt tenta parte da doutrina peninsular, em face do Codi liano, em detrimento do interesse comum distribuicao de di- vvidendos (com o que se atingiria, levada a tese i fitimas con- seqiiéncias, como apontou Jaeger, resultados semelhantes 203, a doutrina instirucionalista da empresa em s), A primeira vista, em face do cariter marcadamente instita- ‘clonal da Lel 6.404, €setentadoa responder positivamente. Mas, ‘um exame atento desse diploma legal, deve-se aceitar a afi mago cum grano salfs, Na verdade, como lembra Bulgarelli, inua Galgano, & interésse social 0 int ment lume de producio, a conquistar novos mercados, 2 acrescer # poréncia econdmica da sociedade. Sob 0 segundo ‘aspecto, é interesse social ointerésse a maximizacto dos lucros. Sob o terceito, weresse social o interesse 4 maximiza- regular detalhadamente a criagio de reservas, nos arts.194 € seguintes'®, Se essa tentativa de harmonizacio de interesses fol Perante os trmos da Let 6.404, parece no restr mals qualeuer va a respeth da nature juridiea do disco do acloista 20 diidendo. "Namesou chra ero ta, Lede rata também proficenemente da Ques- to das reserras ocala, 20 Capitulo IV (pp. 199 2254) do, efetivamente, o direito do acionista a0 di- cles roan cre ee ro cnr Se oo ee ree ‘identificilo com 0 préprio interesse da compa- Pode se conclu, astm, que o interes da compan (0 igre social sti ss) ta Ll 6.404, cone ceito tipico e especifico™”, consistente no interesse comum Ecos Preatzapio do ccopo socal srangendo porto, goat Gquerinicresse que ca respeito causa do conrato de soe dene inteceseArmelnreficiéndacaempes, seat maxt ‘miaclo dos lucros, sje maximizago dos aividendos™. Em (0 INTERESSE SOCIAL NA LEI DE S/A 6 face desse conceito, portanto, qualquer outro interesse comum. ‘0u individual dos sécios pode ser classificado como extra- social!®, 3. O papel do tnteresse da companbia nas deliberacées assembleares Examinemos agora o papel atribuido pela Lei 6.404 a0 in- teresse da companhia nas deliberacSes assemble Gera coincidente com o interesse social. Nesse sentido, pode-se dizer que, embora 0 vot © acionista esta obrigado a perseguir 0 interesse social’ Nes pepsi, ora did crear deo de var tno un eo dict poe teenage ar hanes ce ineportooincenco muscle a coon mee timo, como interesse comum, também em certa medida the Pete Bun npr saa Seen Bena erie oe a concrete eae 123 we eo ato om Mr noc eat cme ene ae oar oe Shocas Since teresa emia Sina cine aes eee a Ho Nesta pt oh deta mnt ere renee eluate bara ere ae Sobre o tema, v. Carvathoss, Comentarios... it 9, “impBese a0 scion uae ‘de'voto, 2 obrigagio de exerebla, sempre eexclasvatnent, no ineretse a compara”, “ ‘CONFLITO DE INTERESSES divitto a doppia faccia: de um lado, direito subjetivo — 20 Vo riitatelando tm interesse individual do acionista; de outro Iedo, um poder concedido 20 acionista no intresse socal! ‘Nessa matéria, entretanto, tendo-se presente a nossa lei, deverse fazer uma distingio essencial entre 0 voto do acionista controlador € 0 dos demais actonistas. ‘im sua obra fundamental, tantas vezes citada, demonstra Comparato, com base em Claude Champaud, que 0 controle io Esento o direito de dispor dos bens alheios como um propric- tasio, Controlar urha empresa, assim, diz o eminente mestré, miea32, Justamente em 12240 de possuir 0 acionista contro- ador esse poder de disposicio sobre bens. ‘como se de- {es fosse proprietirio, salienta 0 mestre mais a priedade sob a forma de empresa ‘no soment ‘Go social, mas é uma fungdo social. A atividade empre Ser exercida pelo empresério nas sociedades mercantis, nio no interesse proprio, mas no interesse social, isto 6, de todos os ‘Socios nif soci. Teata-se, portanto, de um poder-dever, a meio Caminho entre o jus € 0 munus”>, Mais ainda. Além de estar ‘Vinculado a perseguir o interesse da companhia, incumbe, ou- rossim, ao acionista controlador usar 0 poder de que é investi- Go com o fim de fazer 2 companhia realizar 0 seu objeto € cum- pitt sua funeZo social, respeitando e atendendo aos interesses Bos demais aclonistas, dos trabathadores e da comunidade em ‘sendo-Ihe vedado orientar a companhia para fim lesi- 60 de’ lar imteresses ale! Tepercatit na esfera jurfdica de.outrem, © que, em direito, £e- presenta, precisamente, uma fungio!™, como anotou Compa: Pifo. ¢ cvidente que o seu voto nenhuma semelharica posal com * Lat. te, 1. 0 Poder. ct pp. 91/92 Ibider, pp. 100/201 ‘cf, Santoro Passarel, b. ols poeres jurdicos (0 poder de apr no inerese de orem ‘Svo) os Jars tallanos, 0 avs do designaivo gentrico enetut sient, 2 proptsito, que os jurists prtios sempre vera ‘uma cet ntigdo dese diereng,sobeerodo no direc de fala, onde © po (0 INTERESSE SOCIAL NA LEI DE S/A 6s o direito subjetivo, entendido como prerrogativa de rela do Drépsio interesse. Por ese razdo,assevera o mestre em Outro Eset, é que, em tema de Voto o status do controlador dife- re, af, sensivelmente, da posicdo do nio-controlador. Enquan- te aquele tem deveres e responsabilidades nfo s6 em relago aos cemais acionistas, mas também perante os trabalhadozes € 2 comunidade em que atua a empresa, 0s nio-controladores de- ‘Vem puutar sua atuagio na compankia pelos interessesestita: rene societiios. que uns sto auteticns empresirios, 0 pas- So que os outros aio passam de s6clos capitalists, Ora, 0 20- der reconhecido pela lei 20 emprestrio €, tecnicamzente, uma ‘nga, o4o uma preszogtiva de gor no interest proprio, por {isso que 0 controle no s¢ confunde, de forma alguma, com a propriedade. O poder de voto do acionista ndo-controlador, 30 Eontrio, assemelha-se& prerrogativa do Posto se assemelhe mais 20 direto s co voto do aclonistanlo-controtador com e fuma vez queo ant. 115 determina, como se viu, que 0 acionista {qualgues acionista) deve vorar no interesse d2 companhia. E tanto iss € verdade que, se assim nfo o fizer, responders oacio- nists afo-comtrolador por perdas e danas, ainda que seu voto io prevaleca, anal, na deiberagao tomada na assembéia, 208 termios do § 3°, do mesmo dispostvo legal. A distincio feta, entretanto, dever levar o juz, a nosso ver, ‘mais rigoroso do voto do acionista controlador, jf que a ‘olocou na condicao de interprete do interesse so- cial, genericamente falando™*. ‘A Lei 6.404 institu 0 interesse da companhia, portanto, come im limite fancional c genético 3 iberdade de voto, 20 ‘qual devem se conformar hs declaragbes de vontade de-todos der contero 10 pal se denomin pote eno dito (entre abs, pitci-poder ‘io pltlo direto") (Teoria. i, pp. 35201 136, CE. Bulgael,Socadades...ci, p 38. 6 ‘CONFLITO DE INTERESSES 0s acionstas, sob pena de ser caracterizado como abusivo 0 Voto 7.138, Fea claro, por tudo isso, que sendo indiretamente, 4 protegio ‘menos freqiientes que os da maio- sia), como esclarece Fran Martins: “Assim, 2 regra'com que se inicia 0 art.115 da nova lei uma norma de cariter geral, tanto aplicivel 20 acionista majoritério como ao minoritrio; 4 est centretanto, beneficiar4 principalmente porque, nio sendo per- mitido 0 exercicio do voto contra o interesse da companhia (que, no fundo, € a obtengio de lucros a serem distribuidos en- ‘constituem uma tutela do s6cio contra a soci sinalan- do uma linha demarcat6ria entre: vonta- de soberana da sociedade, ¢ 2 es cio, sub- traida 20 poder de disposi¢z0 da de tutela do interesse da companhia, 20 sevés, tulela a soctedade fo umn limite & persecugio deinteresses pes- soais pelo sécio, diversos daqueles protegidos na forma de di- reito individual, brea teoria dos drettos inavaoais¢ sa rete. ei. Pp. 2567289. 141.00. cit, cerolugio histérica,

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