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Ensaio Curto - Relações de gênero e carreiras em tecnologias.

Curso: Análise e Desenvolvimento de Sistemas

Aluno: César Augusto Ramos Reigado


RA: GU3019977

Mulheres na Tecnologia: fator particular ou evidência estrutural?

Embora maioria nas universidades brasileiras, as mulheres ainda


possuem, no mercado global e, ainda mais expressamente no Brasil, baixa
participação no setor de tecnologia. Além disso, na Universidade de São Paulo
(USP) as engenharias da Escola Politécnica são ocupadas majoritariamente
por homens, em total descompasso com a realidade universitária. Mas o que
gera essa tamanha desigualdade de gênero, especialmente no setor
tecnológico? Ademais, esta questão é existente apenas em um setor
econômico específico ou se mostra também em outras áreas?
Um relatório encomendado pela OCDE (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2019 apontou que as
mulheres possuem cerca de 30% a mais de chances de se formarem em um
curso de graduação no Brasil em relação aos homens. Contudo, estes
possuem maiores chances de conseguirem emprego e terem maiores salários,
mesmo possuindo a mesma qualificação técnica. Este abismo em meio aos
graduandos também se exemplifica no fato de que cursos de tecnologia
possuem maioria gritante masculina, enquanto cursos de humanidades são
majoritariamente femininos. Dos fatores que explicam essa diferença pode-se
citar o não incentivo, na educação básica, para mulheres assumirem postos
que são equivocadamente vinculados exclusivamente aos homens. Carreiras
de humanidades, especialmente após inúmeros cortes na Ciência a partir de
2016, possuem geralmente salários ínfimos se comparadas às chamadas
“exatas”. Além disso, a própria educação familiar nuclear estabelece a mulher
como “cuidadora” ou educadora. Enquanto meninos são orientados a seguirem
carreiras de “inventores” ou engenheiros.
No Senado brasileiro, por exemplo, mulheres ocupam cerca de 10% das
cadeiras legislativas; e a população brasileira é composta aproximadamente
por 52% de mulheres. Não é de se estranhar que essa visão patriarcal de
sociedade esteja presente num setor que historicamente é dominado por
homens e que, apenas recentemente, passou a ser minimamente
responsabilizado por isso. Obras cinematográficas da atualidade, como o filme
Estrelas Além do Tempo (2016), ganharam destaque ao mostrar a importância
das mulheres no projeto que levou a humanidade ao espaço. E, ainda mais
importante, é a história de mulheres negras que foram protagonistas deste
projeto em meio às leis segregacionistas e à luta pelos direitos civis nos EUA.
Para revolver um abismo social desta magnitude, não bastam exemplos
de representatividade, embora estes sejam importantes. A questão é que a
sociedade brasileira ainda carrega consigo aspectos coloniais e julga que
mulheres devam ser submetidas a funções apenas familiares ou de “suporte”
ao desenvolvimento masculino. Se poucas pessoas conhecem a importância
de Margaret Hamilton, programadora que permitiu o sucesso da missão Apolo
11, também praticamente não há memória pública no Brasil para Maria Quitéria
de Jesus, combatente no processo das Guerras de Independência. Aqui se
trata, portanto, de uma questão estrutural que interfere na realidade
socioeconômica, política e, evidentemente, no entendimento da história e da
memória. Não basta erguer estatuas e citar um parágrafo em homenagem; é
necessário derrubar as instituições que historicamente excluem as mulheres.
Ao longo de décadas, a luta feminista teve uma série de conquistas,
desde o sufrágio até o direito à educação. O que se demonstra historicamente
é que apenas a pressão social consegue trazer mudanças, nas esferas privada
ou pública, estando ambas sempre relacionadas, como demonstrado nos
dados expostos. De acordo com o estudo do IBGE de 2019, a sindicalização
feminina é inferior à masculina, o que evidencia o afastamento da mulher do
ambiente de disputa por espaços. A revolucionária e teórica Rosa Luxemburgo
afirma em seu famoso texto A Proletária que “as mulheres proletárias precisam
fincar pé na vida política por meio de sua participação em todos os domínios,
apenas assim é que elas criam um fundamento para os seus direitos.”
Portanto, seja no mercado de tecnologia, no espaço público ou nas esferas de
decisão, é pela representação sociopolítica que os direitos são conquistados.

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