De início, gostaria de cumprimentar a colenda turma recursal
Pois bem, em razão do tempo exíguo, tratarei na sustentação oral
apenas três dos principais fundamentos do recurso, pois são os mais relevantes.
O primeiro é em relação à inépcia da inicial, em virtude da
ausência de causa de pedir.
O artigo 330 do cpc estabelece que a petição inicial será inepta
quando faltar o pedido e a causa de pedir. A causa de pedir é o conjunto de fatos do qual decorre o direito do autor. Ou seja, é a origem fática de onde advém o direito pleiteado. A causa de pedir é essencial para qualquer processo. Sem ela, o pedido fica vazio, não tem fundamento concreto, de fato, mas apenas com fundamentos de direito. No caso em julgamento, a petição inicial simplesmente não apresenta causa de pedir, mas apenas o pedido. Nas folhas que entreguei a vossas excelências, está a petição inicial do autor, de apenas duas folhas. Na parte que trata dos fatos, o autor se limita a dizer que é credor do requerida na importância de 3400 reais. Ora, isso não é causa de pedir. Na ação de cobrança, o pedido é que seja reconhecido que o autor é credor do réu. Esse é o pedido, e não a causa de pedir. Numa ação de cobrança, a causa de pedir serão os fatos que deram origem à dívida. Pode ser o descumprimento de um certo contrato, o inadimplemento de um empréstimo, ou o não pagamento pela compra de um bem. No presente caso, o autor não menciona o por que de o réu estar lhe devendo o montante pedido. Se lhe emprestou o dinheiro, se lhe vendeu alguma coisa ou se prestou um serviço. Não há nenhuma menção a nenhum fato que origine a dívida. Além de dar origem ao pedido, a causa de pedir é indispensável para a ocorrência do contraditório e da dialética processual. No presente caso, a ausência de causa de pedir torna praticamente impossível o oferecimento de uma contestação efetiva, pois como o autor não alega nada, o réu não tem o que contestar e o que infirmar. Não tendo o que contestar, impõe-se ao réu a tarefa diabólica de fazer a prova negativa de que não deve nada e nunca deveu ao autor, já que este não especifica o que está cobrando.
Para iniciar o segundo ponto, gostaria de ler um trecho da carta
de citação enviada ao réu, que diz o seguinte: o desinteresse na autocomposição deverá ser manifestado, por petição, a ser apresentada até dez dias antes da data da audiência. Segundo esse trecho, o réu tem o direito de manifestar que não quer conciliar e participar da audiência, desde que o faço com antecedência de dez dias. O réu fez isso, juntando a petição com quase vinte dias de antecedência. E o juiz, ignorando completamente a petição e o texto da carta de citação, decretou a revelia do réu. Ocorre que, se o réu faltou à audiência, foi porque acreditava que tinha o direito de faltar, desde que avisasse com antecedência. O juízo induziu o réu a erro por meio do texto da carta de citação, razão pela qual não poderia decretar a sua revelia. Não se discute se o réu tinha ou não a obrigação de comparecer à audiência, mas que a carta de citação lhe dava a opção de não comparecer.
Por fim, gostaria de adentrar nos efeitos da revelia. O principal
efeito da revelia é de que os fatos alegados pelo autor serão considerados verdadeiros. Assim, a revelia não induz necessariamente e automaticamente à procedência da ação. Dos fatos descritos na inicial pelo autor, que terão presunção relativa de veracidade, deverá decorrer o direito pleiteado. No presente caso, a petição inicial só tem pedido, mas não tem causa de pedir. Não é descrito nenhum fato, sequer para ser considerado verdadeiro. Assim, o autor não se desincumbiu do ônus de demonstrar os fatos constitutivos de seu direito, pois não narrou nenhum. Como não se desimcumbiu desse ônus, a improcedência da ação é medida natural.
Dessa maneira, encerro minha sustentação oral, requerendo a
procedência do presente recurso e a improcedência completa dos pedidos do autor.