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Primeira pergunta -

1. O sistema internacional tem três principais definições. Seguindo uma delas, podemos
citar o pensamento de Raymond Aron, que dizia que o sistema poderia ser descrito
como um conjunto de unidades políticas independentes que interagem entre si, e que
consistiria basicamente nas regras tácitas fundamentais que os Estados seguiriam
quando confrontados com a necessidade de se relacionar com outros. Estas regras
seriam influenciadas pelas diferentes relações de poder e, consequentemente, pelas
implicações de tal diferença na capacidade de imposição e submissão entre eles.
Tendo em vista a anarquia do sistema, a dinâmica de relação entre os países não sofre
regulação por parte de nenhuma força externa ou superior – como é o Estado em
relação à sociedade -, apenas de suas condições históricas e econômicas de poder no
cenário internacional.

Já a sociedade internacional seria uma organização de Estados com valores e


interesses convergentes, com seus conjuntos de acordos e regras, visando um caminho
em comum para se manter a ordem de suas relações mútuas e com os demais países,
representando assim um território - geograficamente contíguo ou não - de
relativa exceção ao estado de anarquia absoluta entre os países em geral. Os países
unidos em sociedades internacionais fortaleceriam a influência de suas resoluções
conjuntas no sistema internacional.

2. Apesar da base anárquica do sistema, que em tese não permitiria a garantia de


confiança de um Estado no outro, o sistema internacional tem ordem. Essa ordem
também não é, segundo a teoria realista, embasada em um acordo igualitário, mas
sim, em uma imposição dos interesses de países com maior capacidade política de
influência no sistema sobre todos os outros. Um exemplo histórico emblemático são
as resoluções do Congresso de Viena em 1915. Os países envolvidos no Congresso
criaram instituições que os permitiram convergir em seus interesses, fortalecendo suas
formas de se relacionar em busca de minimizar conflitos entre si. Vale lembrar que
esses interesses, mesmo convergentes, não são necessariamente igualitários, já que
países com maior poder, como foi o caso da Inglaterra durante o Congresso, teriam
mais capacidade de moldar as novas normas coletivas, forçando países a acatar
aquelas propostas ainda que não correspondessem plenamente aos seus interesses,
mas por resultarem ser mais vantajosas que sua inexistência. Um momento histórico
também fortemente ilustrativo da noção de ordem internacional é o da Guerra Fria, no
qual as duas grandes potências (EUA e URSS) influenciavam outras nações a
seguirem seus interesses políticos, determinando suas atuações no sistema
internacional de maneira dicotômica.

Apesar de sua imensa força, que é embasada em condições historicamente


consolidadas, uma ordem internacional é passível de ser quebrada, o que geralmente
acontece por ocasião de uma grande ruptura nos interesses que a sustentam, por parte
das unidades envolvidas ou por interferência externa de outras unidades que,
excluídas dos acordos de relacionamento em vigor sob a ordem em questão, tiveram
sua soberania e sua influência no sistema internacional prejudicadas.

3. Como nas ideias anteriormente discutidas, a sociedade de Estados tem como


principais interesses buscar a manutenção da ordem e da própria sociedade de Estado,
a preservação da paz e da segurança, a limitação da violência e a garantia do respeito
à propriedade. Os Estados se coordenam através de instituições para poder alcançar
esses objetivos. Elas se dividem em cinco tipos, que diferem em grau de formalização
e organização:
 Arranjos ad hoc: Cooperações de duração determinada que visam a resolver um
problema específico.
 Multilateralismo: Coordenação entre três ou mais Estados marcada por uma
reciprocidade difusa.
 Regimes Internacionais: Arranjos construídos por Estados para reger suas relações em
uma área específica, onde é formado um conjunto de normas e regras a partir da
expectativa convergente dos participantes a respeito de um mesmo tema.
 Alianças Militares: Coordenações que visam à união para se combater um inimigo em
comum considerado perigoso em potencial. Podem ser ofensivas ou defensivas e mais
ou menos institucionalizadas dependendo do caso.
 Segurança Coletiva: Cooperação cujo objetivo é o de dissuadir qualquer Estado que
dela faça parte a recorrer à violência para garantir seus interesses, mantendo garantido
o compromisso de reação caso os envolvidos acreditem que certa unidade ameaça a
preservação da paz ou da segurança de qualquer outro.
Segunda Pergunta -

O tema da cooperação visando à segurança passou ao longo da história por diversas


modificações. Seu principal objetivo, no entanto, sempre foi, pelo menos em tese, o
mesmo: garantir a paz e a segurança entre os envolvidos, que estariam de acordo com
o compromisso de união, militar ou apenas política, contra quem representasse uma
ameaça a este objetivo.

O que entendemos hoje como medidas de segurança coletiva começou a ser discutido
no Concerto Europeu. No Congresso de Viena, nações se uniram para estabelecer regras
internas que as fizeram reconhecer-se mutuamente como grandes potências e convergir no
propósito de evitar concentrações hegemônicas do poder e, principalmente, o conflito militar
como meio de conquistá-las. Anos depois, a Liga das Nações retomava, pós Primeira Guerra,
a ideia de formalizar a segurança e suas medidas. Mas falhava, uma vez que, ainda sem o
sistema de vetos, a desorganização estrutural da Liga e o conflito de interesses entre as
nações não as permitiram entrar em um acordo definitivo a respeito. Foi apenas com a ONU e
o Conselho de Segurança, décadas depois, que obtiveram os primeiros êxitos na direção de
seu objetivo. A introdução do sistema de vetos e do P5, juntamente com a criação dos
capacetes azuis e das missões das Forças de Manutenção da Paz das Nações Unidas, foram os
principais fatores desse êxito, apesar de as missões terem sofrido mudanças em sua maneira
de agir ao longo dos últimos anos. No início elas eram muito limitadas em sua capacidade de
ação, pois a carta de princípios da ONU não se mostrava clara quanto à possibilidade do uso
da força para minimizar os conflitos nem quanto ao prejuízo à soberania dos países
intervenções desta natureza poderiam causar. A ONU sempre discutiu o quanto seria possível
intervir em assuntos de nações independentes, tema que até hoje gera conflito e divide
opiniões nacionais em relação às intervenções das missões de paz – desaprovadas por muitos
países. Ainda assim, atualmente, as Nações Unidas têm mais liberdade para intervir, tanto
com a força quanto com a diplomacia, prezando fundamentalmente pela segurança dos civis
durante e depois do conflito e pelos encaminhamentos políticos locais que, atualmente,
também são fiscalizados pelas Nações Unidas.

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