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Capitulo SA Psicologia Social tual HA PSICOLOGIA SOCIAL POS-MODERNA ‘Como ja comentamos no inicio deste capitulo, as mudangas que se produziram no contexto da filoso- fia e da sociologia da ciéncia durante os anos 1970 e 1980 chegaram a uma ruptura com a concepgio neopo- sitivista da ciéncia e a um forte debate em que se questionaram os fundamentos nos quais até entio se baseou © conhecimento cientifico. Na psicologia social, estas idéias encontraram eco nos denominados enfoques teéricos pés-modernos, inspirados no relativismo de algumas das correntes que esto de acordo com a nova sociologia do conhecimento cientifico ¢ na filosofia neopragmatista de (Richard Rorty (1979), que nega a validade da ciéncia por estar baseada em uma concepeao representacionista errada do conhecimento.) PSICOLOGIA SOCIAL * PERSPECTIVAS PSICOLOGICAS E SOCIOLOGICAS Entre os diferentes enfoques que constituem as concepgdes pés-modernas da psicologia social (veja Ovejero, 1999), poderiamos incluir © construcionismo social de Kenneth Gergen (1982, 1988a, 1988b, 1989, 1999, 2001), 0 enfoque etogénico de Rom Harré (Harré, 1974, 1979, 1983, 1997; Harré, Clarke e De Carlo, 1985; Harré e Secord, 1972), 0 enfoque retérico de Michael Billig (1987, 1990, 1991), a anilise das conversagdes (Antakie e Diaz, 2001; Antakie e {itiguez, 1996; Heritage, 1998, 1990; Sacks, 1989, 1992) e a anilise do discurso de Jonathan Potter e Margaret Wetherell (Potter, 1996, 1997; Potter ¢ Wetherell, 1987; Wetherell e Potter, 1996). Estes enfoques compartilham certos tragos comuns, como sua critica as priticas e aos métodos cientificos derivadas da concep¢io neopositivista da ciéncia e a wa rejeigio da ciéncia como uma forma de saber privilegiado. Igualmente, criticam a concepgio repre- sentacionista do conhecimento, isto é, a idéia de que existe uma relacio entre nossas idéias € 0s fatos externos aos quais ela provavelmente se refere, o que os leva a rejeitar o argumento de que a validade e a objetividade do conhecimento sé podem ser alcancadas mediante um proceso de verifica¢io empirica que procure pela simetria entre os fatos objetivos do mundo real e nossas representacdes desses fatos. Da mesma maneira, rejeita-se uma nogio explicativa e de causalidade do conhecimento, junto com a nogio de acumulatividade e progresso cientifico.A oposicio a uma filosofia racionalista ou realista ¢ sua substitui¢io por uma perspectiva relativista e o abandono das nogdes de validade e objetividade, levam a uma énfase na retérica ou na anilise do discurso. A idéia de Wittgenstein dos jogos de lingwagem, segun~ do a qual a linguagem nio tem a fungio de representar 0 mundo, mas seu significado depende de seu uso e do contexto no qual é utilizado, est por tris da defesa de uma psicologia social pés-moderna em que toda pratica discursiva, retdrica ou textual em nenhum caso nos leva a um referencial externo, mas as priticas de uma comunidade interpretativa. O que é préprio da linguagem para os psicélogos sociais pés-modernos é seu cariter relacional ¢ ndo-representacional. ‘Obviamente, nas caracteristicas destacadas, os diferentes modelos teéricos aqui mostrados variam tanto na énfase como em alguns aspectos de fundo. Por exemplo, o enfoque que mais se afasta inicial- mente dos anteriores é o etogénico. A perspectiva etogénica de Rom Harré poderia ser qualificada de realismo, € no de relativismo como no caso do construcionismo social de Kenneth Gergen ou na anilise do discurso de Potter e Wetherell (1987) e Potter (1996).A teoria realista da ciéncia de Harré considera a anilise das regras que dio sentido aos episddios (ages sociais) que formam a trama da vida social. Para Harré (1986), é vilido reclamar a racionalidade e plausibilidade de uma teoria de forma in- dutiva, através de seu cariter referencial e de sua adequacao empirica, isto é, de sua capacidade para rea~ lizar previsdes ¢ resultados bem-sucedidos. Da mesma maneira,a importincia de autores como Rorty € diferente no construcionismo social de Kenneth Gergen e na anilise do discurso de Potter e Wetherell, os quais fazem seus os postulados anti-representacionistas e antimentalistas de Richard Rorty, que na perspectiva de Michael Billig, embora assumindo a concepedo nio-representacionista do conhecimento em seu enfoque retérico da psicologia social, critica duramente © etocentrismo do filésofo americano Billig, 1995). Mas, além das divergéncias logicas em um movimento heterogéneo, cujas fontes psicold- gicas, sociologicas e epistemolégicas nao sio em todos 0s casos coincidentes, todos os psicélogos sociais aqui incluidos compartitham certas caracteristicas em torno de sua insatisfagio com a psicologia social tradicional de origem psicolégica, tanto em suas abordagens epistemoldgicas como em seus enfoques tedricos e recursos metodoldgicos : O construcionismo social de Kenneth Gergen O construcionismo social nio deve ser considerado uma teoria, no sentido clissico dado a ex- pressio na psicologia social tradicional. Isto é, um conjunto articulado de propostas sobre um aspecto Capitulo 5 A Psicologia Social Atval da realidade social ou psicoldgica que é possivel analisar ¢ verificar com os métodos de pesquisa con- vencionais, principalmente de carter experimental. Como teoria, 0 construcionismo social nio deve ser entendido como um compromisso com uma visio positivista da ciéncia em que, partindo de um conjunto unificado de hipéteses dedutiveis, eles se submetem a contrastes empiricos para analisar sua correspondéncia com os fatos observados, mas como um modo de gerar novas formas de conhecimento que ajudem a repensar a sociedade e os individuos que a constituem. © construcionismo social justifica © conhecimento tedrico por si mesmo, defende que nio hi nenhuma forma privilegiada de acesso 4 realidade ¢, baseando-se no neopragmatismo de Rorty, considera desnecessirio procurar na correspon- déncia entre nossas idéias ¢ a realidade externa a validade dos principios que as orientam: a verdade como correspondéncia, 0 conhecimento como representacao de uma realidade que esté af fora deixou de constituir uma posigdo minimamente aceitével. (tbaiiez, 1996, p.84) Esta critica metatedrica 4 nogio de teoria derivada de uma concepgio empirico-positivista da cigncia representa, logicamente, um convite para reconsiderar as formas tradicionais de fazer psicologia social em que esti implicita a idéia de que através da experimentagio é possivel extrair, de forma auto- corretiva e acumulativa, os mecanismos universais que explicam a conduta humana. Portanto, © construcionismo social é uma metateoria (uma teoria da teoria) e uma teoria social sobre as formas pelas quais os individuos historicamente situados interpretam a realidade, se relacionam €-constroem o mundo onde vivem. Na opiniio de Gergen (1982, 1984, 1988a, 1997), a psicologia social tradicional se configurou 20 redor de uma série de principios. O primeiro deles € que cada érea de conhecimento tem um objetivo de estudo proprio ¢ claramente definido, O segundo é a crenga na existéncia de regularidades da con duta que podem ser identificadas. De acordo com esta premissa, as ciéncias tém como objetivo o estabe- lecimento de leis ou principios universais que governam as relagdes entre os fendmenos observados, de tal maneira que se possam fazer previsdes sobre eles. A terceira premissa, corolario da anterior, é a crenga em que 0 conhecimento empirico obtido através da observagio ¢ do confronto de hipéteses, es- pecialmente através dos métodos experimentais, tem como finalidade descobrir estes principios universais. O quarto principio é a f€ no progresso cientifico, isto é,a convicgio de que partindo de métodos objetivos da ciéncia se chegara 4 acumulagio do conhecimento ¢ a uma maior compreensio do com- portamento social. O quinto, é que 0 conhecimento cientifico envolve, ao mesmo tempo, um progresso social. Todas estas premissas so, segundo Gergen, a base de uma psicologia social comprometida com uma teoria representacional do conhecimento errada. Conseqiientemente, este autor rejeita qualquer «_ método de anilise empirico que pretenda, mediante o contraste de hipéteses, apoiar ou rejeitar a valida~ de do conhecimento assim gerado: Qualquer proposta razoavel que estabeleca uma relacdo funcional entre termos mentais € acontecimentos observaveis 6 analiticamente verdadeira. Isto é assim jd que sua verdade deriva da estrutura da lingua- ‘gem em contraste com a sua relagdo com acontecimentos observdveis... Qualquer proposi¢ao razoavel {que estabeleca uma relagio entre os estimulos do mundo e 0 campo psicolégico, ou entre o campo psicolégico e a conseqiiente acio, é verdadeira por definicao... as teorias e a pesquisa psicol6gicas que PSICOLOGIA SOCIAL * PERSPECTIVAS PSICOLOGICAS E SOCIOLOGICAS Kenneth Gergen Kenneth Gergen, considerado um dos psicélogos mais importantes do movimen- to socioconstrutivista na psicologia social, é atualmente professor de psicologia no Swarthmore College e trabalha no Instituto Taos (do qual é co-fundador), destinado a pesquisa em temas relacionados com o construcionismo social e sua aplicagao a0 campo da terapia, do desenvolvimento organizacional e da educacao. Gergen obteve notoriedade na psicologia social no inicio dos anos 1970, devido as eriticas que fez aos métodos experimentais derivados do positivismo, que preten- diam ser descobertas que, de maneira cumulativa, completariam 0 quebra-cabeca da realidade, Em um ensaio autobiogréfico, comenta como no final dos anos 1960 também ele, contagiado pela ilustio de descobrir as verdades que so subjacentes ao comportamento humano, realizou pesquisas experimentais sobre a forma com que 0 autoconceito influericia na tomada de decisdes. Entretanto, logo comecou a suspeitar de que o actimulo do conhecimento sobre fendmenos sociais somente seria possivel se as sociedades fossem organismos estaveis, o que resulta dificil de susten- tar. As sociedades sio mutaveis e, portanto, os significados que as pessoas dio as coisas também o so. Se 05 significados influissem nas acdes e decisGes das pessoas, 0 proprio conhecimento cientifico, que justamente se caracteriza por dar novos sentidos, afetaria a forma com que entendemos nosso ambiente e, portanto, influenciaria de modo imprevisivel em nosso comportamento. pretendem descrever os processos de percep, 0 aprendizado da linguagem, 0 processamento da in- formagio, a expresso emocional, a relacao entre atitudes e comportamento, a relagdo entre pensa- mento e aco, entre outros, so essencialmente produtos ou extensdes das convenes existentes da linguagem. (Gergen, 1988b, p. 37-8) Para compreender as conseqiiéncias-que-derivam do construcionismo social, podemos conside- rar, por exemplo, os principios basicos dos estudos sobre cogni¢o social analisados em sego anterior. Parece claro que um dos fundamentos do enfoque do processamento da informacio € que existem mentes individuais e existe um mundo exterior. O mecanismo que une ambas as entidades € 0 proces- samento da informacio. Para Gergen (1985, 1989), a0 contririo, a linguagem nao representa os contetidos da mente, nem ela é reflexo dos contetidos do mundo. Se prescindirmos do vinculo entre o dizer (a linguagem) ¢ o pensar (0 conhecimento), ¢ entre o conhecimento (como algo que esti na cabega das pessoas) ¢ a realidade (como mundo de objetos exteriores), s6 restari a linguagem como convengao. A teoria construcionista de Gergen (1985, 1988b) prope reconsiderar criticamente todo 0 conhecimento gerado em psicologia social (cognitiva) e analisi-lo como priticas discursivas. Para os construcionistas, 3 teorias psicossociais so construgdes sociais, produto de convengées lingiiisticas. A partir desta posigio, é irrelevante pretender confitmar como verdadeira ou como falsa uma teoria submetendo-a 4 anilise empirica, pois 0 conhecimento é considerado uma convencio social articulada em volta da linguagem. E a linguagem, nos alerta Gergen (1999), no tem como fungio a representagao objetiva do mundo, nem tampouco deve ser entendida como expressio de uma condicio interna, seja de cardter cognitivo ou emocional. Capitulo SA Psicologia Social Atual Gergen chega assim a conclusio de que 0 conhecimento obtido na psicologia social é histérico, pois 05 resultados obtidos das pesquisas, uma vez comunicados sociedade, a transformam. Seu artigo “Social psychology as history”, publicado em 1973 e seu livro Historical social psychology, publicado em 1984,.;-- abriram um amplo debate na psicologia social sobre a necessidade de compreender 0 comportamento humano de forma diacrdnica, o que significa mudar uma perspectiva tradicional, preocupada em enfatizar 65 tracos permanentes dessa conduta elaborando principios atemporais e universais, por uma concepcéo aleatéria e mutavel da conduta. “Apoiando-se na hermenéutica de Gadamer, comecou a expor as bases de seu construcionismo. A her ‘menéutica assume que 0 conhecimento da realidade sé é possfvel a partir do horizonte hist6rico de conhe- cimentos e experiéncias do qual se parte, isto 6, o conhecimento sempre esté impregnado de subjetividade de quem conhece e é definido pelos limites de suas préticas interpretativas. Portanto, as interpretacdes que fazemos da vida psiquica responclem aos conceitos prévios que compartilhamos a respeito da natureza humana, e nao aos fatos como realidades extemas. S40 construgdes sociais que podem ser estudadas para compreender sua genese e evolucao. O campo da pesquisa deixa de ser o mundo interior ou a vida psiquica, e se torna a forma como construimos nossas realidades. Kenneth Gergen publicou numerosos livros, e suas idéias foram expostas inicialmente em seu livro Toward transformation in social knowledge, e desenvolvidas em outros, como The saturated self e Realities and relationships: soundings in social construction. Entre seus textos mais recentes, se encontram An invi~ tation to social construction e Social construction in context. %s Quando dizemos algo, seja a expressio de uma crenga ou de um sentimento, devemos entender que isto tem uma fungio de performance, isto é, deve ser considerado uma forma de relagio com 0s ou- tros e niio a expresso de um estado interno da mente. Expressar uma idéia ou uma emogio significa Sempre nos referirmos a alguém, e nesse sentido envolve uma forma de relagio. Por exemplo, expressbes como quero, desejo, penso envolvem uma referéncia a um outro implicito em um didlogo. Esta forma de entender a linguagem esti em sintonia com 0 segundo Wittgenstein, que afirmava que 0 sentido da linguagem £ conseqiiéncia do seu uso. Um exemplo disso, afirma Gergen (1999), € a expressio bom dia, cujo sentido é dado pelo contexto em que é utilizada. Por exemplo, como forma de saudagio. Fora das relagdes que se estabelecem no jogo da saudacio, a expressio perde seu valor como significado. Por isso, dizer bom dia no contexto de uma discussio sobre o desemprego, acrescenta Gergen, nao teria nenhum significado. As regras de seu uso sio definidas pelos jogos de linguagem. T= Como vemos, a perspectiva defendida por Gergen quebra, de forma radical, muitos dos fanda- mentos em que se baseia uma parte consideravel da psicologia em geral e a psicologia social em particu- lr. Jé destacamos que ele questiona os mesmos fundamentos da psicologia social cognitiva, mas também uma concepeio social da linguagem que, até reconhecendo sua origem na interagio social, o vincula com 6s conteiidos da mente (ver separadamente as segdes dos Capitulos 2 ¢ 3 dedicadas a George Herbert Mead e LevVygotski). Poderiamos dizer 0 mesmo de teorias como a das representagdes sociais, da qual, mesmo compartilhando alguns aspectos, como o cariter relacional ¢ intersubjetivo do conhecimento do senso comum, afasta-se pela sua énfase Sbvia representacional ¢ pela utilizagio de uma metodologia convencional. Mas nio sio somente questionados os aspectos tedricos ¢ conceituais de teorias como as mostradas; também sio questionadas as consideragdes metodolégicas e as técnicas das anilises utilizadas. PSICOLOGIA SOCIAL + PERSPECTIVAS PSICOLOGICAS E SOCIOLOGICAS Devemos lembrar que, na perspectiva construcionista, a idéia de que a aplicagio do método pode nos evar a um conhecimento objetivo do funcionamento da mente ou da sociedade é, no melhor dos casos, um desejo bem-intencionado, mas insustentavel. Em vez da légica cientifica tradicional, 0 construcio- nismo social propée algo bem diferente: 0 construcionismo social dé énfase ao discurso como 0 veiculo através do qual o eu e 0 mundo se articulam, ¢ ao funcionamento desse discurso nas relacOes sociais. (Gergen, 1999, p. 60) Descartado o recurso da ciéncia como fonte legitima de validagio do conhecimento, Gergen nos propde uma maneira pragmaatista de entender as conseqiiéncias de adotar a teoria do construcionismo social. Como os dados empiricos nio nos servem para legitimar nenhuma teoria nem premissa sobre a realidade, a linguagem deve ser entendida como uma forma de relacio. Sua proposta é dar atengio as conseqiiéncias que diferentes formas de disturso tém em nossas priticas cotidianas ¢ intelectuais (veja Gergen, 1985, 1997, 2001). Desta maneira, a alternativa do construcionismo social ¢ a de provocar um_ potencial multidimensional no que se refere a linguagem. Com essa expressio, Gergen se refere a uma idéia que jé desenvolveu em seu livro Toward transformation in social knowledge (1982), ou seja, a utilizagdo das teorias de forma generativa, com a finalidade de questionar suas préprias premissas ¢ gerar teorias al- ternativas. A utilidade das teorias em psicologia social é servir de ilustragdo a idéias interessantes, que provoquem nossa imaginagio que sirvam para propor ages sociais relevantes que mudem a sociedade (Gergen, 1997). A finalidade do construcionismo social é a de transferir a capacidade das pessoas de_ manter opinides aparentemente contraditérias ou diferentes ao debate entre epistemologias contrapos- tas e teorias rivais para, dessa maneira, explorar a racionalidade dos argumentos de cada teoria ou posigio epistemoldgica: Se as pessoas fossem capazes de tratar os diferentes aspectos de um mesmo problema, entio seria possivel reconceitualizar as verdadeiras crengas como uma forma de posicionamento social. Isto 6, mais do que ver a pessoa como alguém que tem um conjunto unificado de crencas (dispondo de uma posi¢ao nica e coerente) podemos ver a pessoa como alguém fundamentalmente plural. Mesmo quando o in- dividuo reclama um ponto de vista particular como minha crenga, meu valor ou principio verdadeiros, nao devemos interpreté-lo como um discernimento introspectivo (por exemplo, sei que é minha opiniéo porque posso sentir ou ver que 6 assim). Pelo contrario, reclamar essa posicao € o resultado do posiciona- mento social, em que o individuo esta situado em um momento determinado, em um processo de inter- cambio face a face... (Gergen, 2001, p. 62) Gergen propde como objetivo do construcionismo social a transferéncia para debate cientifico, educativo ¢ pedagégico, assim como para as diferentes priticas em que nos vemos envolvidos como. profissionais, a multidimensionalidade lingifstca que, como seres humanos, temos. A perspectiva constru- cionista nos coloca em uma divida metodolégica permanente, ao desnaturalizar processos que nada mais sio do que construgdes histéricas ¢ culturais. Deste modo, o conhecimento psicossocial é, da pers- pectiva construcionista, algo provisério que deve ser permanentemente desconstruido (veja Ibiiiez, 1989).A desconstnugao, como ferramenta de anilise envolve a necessidade de considerar 0 conhecimento gerado na psicologia social como uma construcio social e identificar e evidenciar os fatores ideolégicos e de poder que determinaram a forma adotada por ela (veja Parker, 1990). Capitulo $A Psicologia Social Atal Certamente, as propostas do construcionismo social sio uma chamada de atengio sobre os pontos ppacfces das ciéncias sociais. A partir deste ponto de vista, deveriam abrir um debate sobre a construgi0 do conhecimento em ciéncias sociais em seu conjunto, incluindo a psicologia social. Provavelmente, 0 interessante das propostas do construcionismo social € que nos convidam a pensar sobre as priticas com que, como psicdlogos, sociélogos ou psicélogos sociais, estamos envolvidos, sobre a natureza histérica de nosso conhecimento, sobre nossas concep¢des sobre a verdade ea objetividade envolvidas em nossos miétodos ¢ técnicas de pesquisa. Ou seja, a repensar nossa atividade, Isto nio quer dizer que necessaria- mente devamos nos transformar em construcionistas sociais para percebermos aquilo que fazemos, nem que © construcionismo social nio possa ser criticado como um conhecimento historicamente situado € como uma nova forma de relativismo intelectual e cultural, Mas, certamente, devemos reconhecer seu mérito em ter aberto um debate necessitio na psicologia social. Sem uma reflexio sobre © papel da te- oria © das praticas em que nés, psicdlogos sociais (tanto de procedéncia psicol6gica como sociol6gica), estamos envolvidos, corremos o risco de transformar a psicologia social em um conhecimento técnico, mas despojado de seu cardter reflexivo e critico. As conseqiiéncias de adotar esta forma de-considerar a Psicologia como técnica seriam converter o psicélogo social no que Ortega y Gasset (1930) denominou © birbaro especialista, exemplo de homem massa, preocupado com a adequacdo instrumental entre meios € fins, ¢ auto-satisfeito com um conhecimento exaustivo sobre uma minéscula parcela da realidade.

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