A construção da masculinidade na contemporaneidade é um fenômeno
complexo, enraizado em uma interseção de fatores históricos, sociais e econômicos.
Como mencionado por Connell (2005), a masculinidade não é uma entidade fixa, mas sim um campo em constante transformação e negociação, moldado pelas relações de poder e as expectativas culturais. Nesse contexto, os homens muitas vezes se encontram em um dilema entre a preservação de uma imagem de virilidade e a necessidade de cuidar da própria saúde. A imagem do homem forte e viril, promovida pela sociedade contemporânea, cria uma pressão significativa sobre os homens para que correspondam a esse ideal. Como apontado por Kimmel (1996), o medo da feminilidade e a necessidade de provar a própria masculinidade muitas vezes levam os homens a adotarem comportamentos de risco e a evitarem cuidados de saúde preventivos. Essa relutância em buscar cuidados médicos está intrinsecamente ligada à construção da identidade masculina, em que a vulnerabilidade e a preocupação com a saúde são frequentemente interpretadas como sinais de fraqueza. A sociedade muitas vezes espera que a masculinidade se manifeste em características como força física, controle emocional e assertividade. Essas expectativas, muitas vezes referidas como “normas de masculinidade”, podem influenciar as decisões e comportamentos dos homens em diversos aspectos da vida, incluindo sua abordagem aos cuidados de saúde. Os homens podem hesitar em procurar assistência médica por medo de serem percebidos como frágeis ou menos masculinos (Courtenay, 2000). Essa relutância pode resultar em diagnósticos tardios e tratamentos menos eficazes para condições de saúde. A crise da masculinidade contemporânea também está ligada à evolução do papel do homem na sociedade. Com as mudanças nas dinâmicas familiares e a maior participação dos homens em atividades domésticas e no cuidado com os filhos, novas formas de masculinidade têm emergido. No entanto, para muitos homens, especialmente os que foram socializados em padrões mais tradicionais, essas mudanças podem ser desafiadoras e conflituosas. Referências: Connell, RW (2005). Masculinidades. Imprensa da Universidade da Califórnia. Courtenay, WH (2000). Construções da masculinidade e sua influência no bem-estar dos homens: Uma teoria de gênero e saúde. Ciências Sociais e Medicina, 50(10), 1385- 1401. Kimmel, MS (1996). Masculinidade na América: uma história cultural. Imprensa da Universidade de Oxford.