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Livro Nelio Agosto Cap 6
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1. Introdução
2. Monitoramento da Qualidade da Água
2.1 Características Sensoriais
4. Referências
1. Introdução
Os microrganismos surgiram em meio aquoso e, a partir desse ambiente, adap-
taram-se também ao solo, ar, plantas, trato intestinal de homens e animais, pele de
manipuladores e, ainda, em lagos, lagoas, rios e mares, que constituem as fontes
primárias da contaminação dos alimentos. O controle de qualidade da água para
qualquer uso na indústria de alimentos é necessário para evitar possíveis riscos à
saúde dos consumidores dos produtos comercializados. Esse controle reduz efeitos
negativos que as características físicas, químicas e microbiológicas da água podem
provocar na indústria, como processos corrosivos, depósitos de matéria orgânica
e sedimentos; além de auxiliar a fabricação de alimentos que atendam aos critérios
de qualidade exigidos dos produtos industrializados. A água pode ser usada como
um componente da formulação de um produto e participa de várias etapas do pro-
cessamento, além de estar em contato com alimentos, equipamentos e utensílios e
ser usada para lavagem de mãos e asseio pessoal.
Para melhor avaliar a qualidade, a indústria deve considerar a água uma ma-
téria-prima e usar planos de amostragem adequados. Em algumas situações, suge-
re-se a aplicação de planos completos em que a água seria submetida às análises
previstas na legislação, incluindo, por exemplo, uso de um novo manancial, grande
mudança no tratamento e grande mudança no sistema de distribuição. Os planos
completos são aplicáveis durante a implantação da indústria e repetidos anualmente
naquelas em funcionamento. Planos reduzidos são propostos quando se conhecem
a qualidade do manancial, o histórico da qualidade da água, os tratamentos prévios
e os riscos de contaminação. Além disso, a freqüência de análises é dependente de
vários fatores, dentre eles se inclui o fato de ser água de sistema de abastecimento
público ou de soluções alternativas e dos pontos de amostragem. Assim, sugere-se
que as análises de indicadores de poluição sejam realizadas semestralmente, que as
análises dos indicadores da qualidade microbiológica sejam semanais e a de cloro
residual, seja diária (Tabelas 4, 5 e 6).
Tabela 4 - Freqüência mínima de amostragem para o controle da qualidade da água de sistema
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A cor não deve ser superior ao valor máximo permitido pela Portaria 518/MS,
que é de 15 uH (Unidade Hazen - PtCO/L). A cor é deÞnida pela decomposição de
matéria orgânica e, também, pela presença de íons metálicos, como ferro e manga-
nês, plânctons e resíduos industriais.
A legislação exige que a água não apresente sabor nem odor que impeçam seu
consumo. Poluição industrial ou doméstica, matéria orgânica e atividade biológica
de microrganismos são responsáveis pela ocorrência de sabor e odor na água.
Tabela 8 - Alguns padrões de qualidade exigidos pela Resolução nº 357, do Conselho Nacional
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diarréia, vômitos e dores abdominais, geralmente sendo necessária a hospita-
lização. A invasão de outros tecidos e órgãos também pode ocorrer. A grande
particularidade desse protozoário, que o torna tão importante para questões de
saúde pública, corresponde à sua resistência à cloração.
Cyclospora sp.
Embora existam muitas espécies neste gênero, apenas C. cayetanensis tem
sido associado ao homem, sendo reconhecido como patógeno desde 1977. Seu
ciclo de vida ainda não está totalmente esclarecido, mas já se sabe que esses proto-
zoários se multiplicam nas células do intestino delgado, culminando com a liberação
de oocistos nas fezes. O período de incubação varia de 2 a11 dias, podendo a doen-
ça se estender por duas semanas. Os sintomas incluem diarréia não-sanguinolenta,
perda de apetite e peso, cólica estomacal, náusea, vômito, fadiga e febre. Poucos 285
estudos têm sido desenvolvidos para determinar o comportamento desses protozo-
ários diante de agentes de desinfecção, assim pouco se sabe sobre sua resistência
ao cloro nos níveis usados no tratamento da água.
Toxoplasma gondii
A toxoplasmose é uma zoonose, ou seja, doença transmitida entre animais
e homens, sendo os felinos os hospedeiros primários. Dentre os hospedeiros se-
cundários, incluem-se outros vertebrados, como roedores, bem como bovinos e
outros animais relacionados à produção animal. Quando os oocistos são ingeridos
por esses hospedeiros, ocorre a liberação de esporozoídeos que se multiplicam as-
sexuadamente, colonizando rapidamente o intestino delgado. Esses esporozoídeos
podem invadir outros tecidos e órgãos do corpo do hospedeiro, via sistemas circu-
latório e linfático, ocorrendo a formação de cistos nos tecidos. A ingestão de tecidos
infectados pode desencadear um mecanismo infectivo semelhante à ingestão de
oocistos, como ocorre, por exemplo, no consumo de carne contaminada. A infec-
ção pode ser sintomática ou assintomática, sendo o inchaço das glândulas linfáticas,
fadiga e dores nas articulações e musculaturas os sintomas mais freqüentes.
cap.06
Com relação aos protozoários, faz-se necessário conhecer aspectos Þsiológi-
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Figura 2 - Etapas de um tratamento convencional de água: a), b), c) vistas de um manancial, d) mistura
rápida dos agentes de floculação, e) floculação, f)-decantação, g) filtração e h) tanque de cloração por
contato.
metro e na densidade das partículas. Nesse caso, a velocidade da sedimentação
Equação 1 - Lei de Stokes que determina a velocidade de sedimentação das partículas na água
em razão de vários fatores
292 Na indústria de alimentos, deve-se usar água mole, com concentrações abaixo
de 50 mg.L-1 de dureza. A ação de calor e alcalinos sobre os sais responsáveis pela
dureza é mostrada nas reações químicas 2. Nesse caso, essa água, se utilizada em
caldeiras, dever ter sua dureza corrigida para valores próximos de zero, por meio
do tratamento interno, realizado nas caldeiras. Para isso, utilizam-se, geralmente,
fostatos, polifosfatos e sais sódicos do EDTA. Esses produtos ou suas formulações
podem ser adquiridos em empresas especializadas, sob diversos nomes comer-
ciais. Como informação, pode-se aÞrmar que o fosfato trissódico atua por precipi-
tação da dureza, o que não é conveniente, pois haverá depósitos na superfície do
aço carbono. Os polifosfatos, em contrapartida, atuam sobre a dureza por formação
de quelatos com os sais, não ocorrendo, portanto, a deposição. A capacidade de
formação de quelatos é variável de acordo com o polímero; por exemplo, 1,0 g de
hexametafosfato de sódio complexa cerca de 74 mg de dureza. Outros polifosfa-
tos, como o tripolifosfato de sódio e o tetrafosfato de sódio são capazes de quelar,
respectivamente, 57 e 38 mg de dureza por grama do quelante. O EDTA-Na e o
gluconato de sódio atuam seqüestrando os sais responsáveis pela dureza, e cada
grama dessas substâncias seqüestram 200 e 300 mg de dureza, respectivamente;
no entanto, são de custo mais elevado do que os polifosfatos.
Tabela 16 - Alguns dos usos da água na indústria de alimentos
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Figura 4 - Caldeira flamotubular, à lenha e de baixa de pressão, de uso comum na indústria de alimentos.
cap.06
Nélio José de Andrade Higiene na indústria de alimentos
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Figura 5 - a), b), c) Incrustações minerais em caldeiras; d) Válvula para controle de purga; e) Realização
de uma purga.
Reações Químicas 2 - Ação de calor e alcalinos sobre os sais responsáveis pela dureza
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de dureza entre 51 e 150 mg.L-1 ou dura com valores entre 151 e 300 mg.L-1 ou, ain-
da, muito dura com índices de dureza acima de 300 mg.L-1, a indústria de alimentos
deve utilizar outras alternativas. Uma alternativa tecnologicamente viável é aquela
que utiliza trocadores de cátions para a remoção dos sais de cálcio e magnésio.
Nesse caso, podem ser usadas as resinas sintéticas, por exemplo as constituí-
das de poliestireno, como matriz polimérica. Essas resinas geralmente têm um por-
centual de divinilbenzeno entre 5 % e 8 % e ácido sulfônico ou sulfonato de sódio,
que são o sítio ativo de troca de cátions. Essa resina mencionada como exemplo,
dentre outras, pode ser usada como leito Þltrante em reatores ou Þltros, onde os sais
causadores da dureza Þcam retidos, liberando a água mole. As resinas apresentam
determinada capacidade de troca e, após um tempo de uso, devem ser regeneradas;
processo geralmente realizado pela lavagem do Þltro em contracorrente com uso de
ácido forte, para as resinas à base de ácido sulfônico e solução de cloreto de sódio,
em concentrações entre 5 % e 10 %, para aquelas à base de sulfonato de sódio. Por
meio da troca iônica, pode-se eliminar a dureza ou reduzi-la a valores mais baixos e
usar as outras alternativas de tratamento e controle. Se a água disponível para uma
indústria de latícinios tem em sua composição 120 mg.L-1 de dureza, recomenda-se:
i) reduzir essa concentração para valores próximos de zero e utilizá-la na geração
de vapor em caldeiras; e ii) diminuir a concentração dos sais de cálcio e magnésio
para 50 mg.L-1 ou, a um valor próximo a esse, efetuar o tratamento interno da água
de alimentação das caldeiras e adquirir detergentes com agentes abrandadores para
realizar a higienização em superfícies para processamento de alimentos.
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Teores de cloro entre 5 e 10 mg.L-1 de CRL são utilizados para a água de res-
friamento de produtos enlatados esterilizados, como leite condensado, milho verde
e ervilhas. Após o tratamento térmico, esses alimentos devem ser resfriados da ma-
neira mais rápida possível, para temperatura ambiente, e não podem permanecer à
temperatura próxima de 50 °C por tempo prolongado, uma vez que favorece o de-
senvolvimento de microrganismos termofílicos esporulantes que, geralmente, são
aqueles que sobrevivem ao tratamento da esterilização comercial. Particularmente,
naquelas embalagens com espaço vazio na parte superior há formação de vácuo
cap.06
que pode favorecer a entrada de água. Se esta estiver contaminada e ocorrerem
Nélio José de Andrade Higiene na indústria de alimentos
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O cloro residual total pode ser determinado por diferentes métodos. Por exem-
plo, pelas técnicas do DPD (N,N-dietil-p-phenylenediamine), de amplo uso em esta-
ções de tratamento de água. Pode ser determinado também por métodos de oxir-
redução, geralmente usado na avaliação de concentrações elevadas de cloro. No
caso da técnica titulométrica, a solução clorada é acidiÞcada, para que todo o cloro
seja transformado em Cl2 e, em seguida, promove-se uma reação de oxirredução
entre o Cl2 e o KI, em que o Cl2 é reduzido para Cl- e o I- é oxidado para I2. Assim, a
quantidade de I2 formada na reação é equivalente à de Cl2 e pode ser determinada
pela titulação com Na2S2O3. Um mililitro de Na2S2O3 0,01 N equivale a 0,3545 mg de
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