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'TRACOS DE CONCRETO PARA OBRAS DE PEQUENO PORTE Marcos R. Barboza Paulo Sérgio Bastos UNESP, Faculdade de Engenharia de Bauru, Departamento de Engenharia Civil Resumo Liste trabalho surgi de duas necessidades basicas: caracterizar os concretos produzidos por pedreiros em obras de pequeno porte ¢ definir tragos de concreto com os materiais utilizados na Cidade de Bauru/SP. Com 0 conhecimento das principals earacteristicas dos eoneretos produzidos rncssas obras, como abatimento, teor de argamassa ¢ resisténcia, deseavolveu-se um estado de dosagem experimental objetivando construir Diageamas de Dosagem de concretos com trés tipos 2, CP VARI © CP ILE-32) © brita 1. Os Diagramas de Dosagem de cimento (CP ILE. possibilitaram definir 24 tragos de concreto, com abatimentos em torno de 17 cm e resisténcias & compressio entre 15 MPa ¢ 50 MPa Os tragos descnvolvidos atendem as prescrigdes das normas NBR 6118/03 ¢ NBR 14931/04, ¢ podem ausiliar engenheiros © construtores na obtengio de concretos de melhor qualidade, em especial aqueles feitos em canteitos de obras de pequeno port Palavras-chave: desagem experimental, rags de concrete, aditve platificante, diagram de dosage 1 Introdugao Os tragos de conereto constantes em tabelas antigas, ainda hoje muito utilizados na confecgio de concretos para obras de pequeno porte, nao atendem aos requisitos de qualidade hoje exigidos. As tabelas claboradas por Branco [1], por exemplo, bem como suas derivadas, tém tragos de concreto com britas 1 € 2 combinadas, quando hoje, via de regta, apenas a brita 1 é utilizada, Outras tabelas de tragos, como de Tartuce [2], Silva [3] € Ripper [4], necessitam et adaptadas para atender as novas prescrigées contidas na NBR 6118/03 [5] quanto as relagdes a/c maximas, em fungio da Classe de Agressividade Ambiental Devido ao sistema construtivo utilizado nas edificagdes de pequeno porte, os coneretos de centrais dosadoras (concreto usinado) sto aplicados apenas nas estacas escavadas, lajes ¢ vvigas, com consumo minimo de 2 ou 3 m* de conereto. No caso dos pilares (pilarctes), que so preenchidos com concreto tio logo as paredes de alvenaria vo sendo clevadas, 0 volume de concreto necessirio é pequeno, ¢ por isso é confeccionado na propria obra. Na cidade de Bauru/SP, por exemplo, os coneretos feitos nessas construgées sto oriundos da tradigio construtiva, nfo tém base técnica € tampouco preocupagio em atender as prescrigdes de normas, como a NBR 14931/04 [6 Procurando contribuir nesta questo, esta pesquisa foi desenvolvida tendo dois objetivos principais: caracterizar e definir as propriedades bisicas dos concretos feitos por pedreiros no canteiro de obra de construgées de pequeno porte, e realizar um estudo de dosagem experimental com o propésito de definir Diagramas de Dosagem e tracos de concreto, compostos com brita 1 como agregado gratido e os cimentos CP II-E-32, CP V-ARI e CP IL. 2, para resisténcias de dosagem & compressio compreendidas entre 15 ¢ 50 MPa. 2 Caracterizagio dos Concretos de Obras de Pequeno Porte "Treze obras em fase de exccugio foram visitadas na cidade, em dia de confecsio de concteto, onde foram medidos © abatimento dos concretos no tronco de cone (NBR NM 67/98), © moldados dois corpos-de-prova cilindricos 15x30 cm (NBR 5738/03), para determinagio da resisténcia & compressiio. Os resultados esto apresentados na Tabela 1. Tabela 1 ~ Resisténcia de dosagem é compressio (f.mia~ MPa) e abatimento (cm) de coneretos produzidos em obras de pequeno porte na cidade de BaurwSP. Obra T[2[3 7 4isi;e 77) es [oe foiutels fosnmia 6,62 [9,87 9,76 | 11,77] 5,61 | 10,77 [17,49] 10,33 [11,97 [13,33 | 7,38] 22,07 [8,44 ‘Abatimento[ 11 [20 [20 [is [ - [19 [21 [at [20 [20 [1a [ is [20 Observou-se que 0s coneretos sio produzidos com base na tradigio construtiva local, ficando © trago a cargo dos pedreitos, sem qualquer preocupagio quanto ao atendimento das prescrigées de normas. Os tragos usados sio muito semelhantes, sendo geralmente constituidos por um saco de cimento (50 kg), dois carrinhos de arcia “grossa” ¢ dois carrinhos de brita 1 (ou 2,5 carrinhos de cada agregado). A variagio na quantidade dos materiais é muito grande, pois cada operirio responsavel pela confecgdo do conereto preenche o carrinho sem controle da quantidade. O teor de argamassa é alto, superior a 55%, 0 que diminui a possibilidade de nichos de conctetagem. O abatimento médio € de 17,3 cm, e mostra que, em geral, os pedreiros preferem trabalhar com concretos de alta fluidez, para possibilitar sua penetracio em formas estreitas ¢ envolver as barras da armadura, sendo obtida com adigéo de grande quantidade de agua. Como conseqiiéneia, os concretos apresentam baixa resisténcia e alta porosidade. ‘Em fungio das baixas resisténcias de dosagem, 2 resisténcia caracteristica f,, dos concretos € nula ou muito baixa, ¢ nenhum concteto atende 20 f,, minimo de 20 MPa da NBR 6118/03 [5], 0 que denota a desqualificacio dos coneretos produzidos. 3 Estudo de Dosagem Experimental O estudo de dosagem experimental foi feito seguindo o método de dosagem IPT/EPUSP, apresentado por Helene e Terzian [7], com a obtengio de Diagramas de Dosagem. 31 Caracteri: Prova dos Materiais, Mistura, Moldagem e Ensaio dos Corpos-de- © agregado mitido utilizado foi uma arcia quartzosa extraida do rio ‘Tiet , comercialmente conhecida como “grossa”, ¢ como agregado gratido foi utilizada a brita 1 de basalto, com caracteristicas apresentadas na Tabela 2. Tabela 2 - Caracteristicas fisicas dos agregados. ENSAIO NorMA | AREIA | BRITA ‘Massa unitdria em estado solto seco (gem) | NM 45/06 145 1,59 Massa unitiia em estado compactado seco | 4 459g 161 1,64 > NBR9T76 Massa especifica (g/cm") NM 53/03 2,63 2,95 Médulo de finura NM 248/03 190 8,00 Dimensio maxima caracteristiea (mm) (NM 248/03 12 19 Coeficiente de inchamento médio NBR 646787 | 134 | Umidade critica (%) NBR 6467/87 | 4.40 | = Teor de argila e materiais fridveis (% NBR 7218/87 | 16,47 - Teor de matéria organica NBR 7218/87 | Suspeita = Para obter uma consisténcia semelhante Aquelas observadas nos conerctos de obras de pequeno porte, ¢ visando obedecer as relagies a/c maximas indicadas na NBR 6118/03 [5], foi usado o aditivo plastificante Vedacit Fazgrauth, na proporsio de 1,3 % sobre a quantidade de cimento, o que possibilitou obter concretos com abatimentos em torno de 17 cm. A massa especifica do aditivo é de 1,19 kg/dm’ Para determinagio do teor ideal de argamassa dos concretos foi aplicado o procedimento apresentado em Helene € Terzian [7], tendo sido escolhido o teor de 57 % (Figura 1), Os agregados exam secos ao sol, ficando a areia com apaténcia seca. O aditivo era misturado @ totalidade da 4gua da mistura, feita numa betoneira de eixo inclinado, com capacidade de 350 litros. Primeiro era misturada a brita 1 com a totalidade da agua com o aditivo, por 30 s, em seguida por mais 30 s com © cimento. A areia era adicionada aos poucos, sendo 0 conereto misturado por cinco minutos. Os corpos-de-prova cilindricos de 15 x 30 em foram adensados em mesa vibratéria, em duas camadas, Apés 24 horas eram desmoldados e submersos em Agua. Para regularizacio das superficies de topo dos corpos-de-prova nos ensaios de compressio foram usadas placas de neoprene inseridas em dispositivos de ago. & 32 Diagramas de Dosagem e Tragos dos Concretos Figura I ~ Concreto com teor de argamassa de 57%, Foram misturados os tragos Rico (1:3,5), Médio (1:5,0) ¢ Pobre (16,5), para cada um dos trés tipos de cimento, ¢ construidos os Diagramas de Dosagem. A partir deles foram definidos 24 tracos de conereto, sendo oito tragos para cada cimento, com resistencias & compressio de 15, 20, 25, 30, 35, 40, 45 € 50 MPa, Cada trago foi misturado em betoneira, tendo sido medido © abatimento, a massa especifica € moldados quatorze corpos-de-prova para ensaios compressio simples, sendo dois corpos-cle-prova para as idades de 3, 7, 63 € 91 dias, e trés corpos-de-prova para os 28 dias, e t1és para ensaio de compressio diametral 0s 28 dias. No caso dos coneretos com cimento ARI foi medida também a sesisténcia & compressio simples na idade de 1 dia. Os resultados dos ensaios a compressio simples possibilitaram tragar novos Diagramas de Dosagem, com as curvas ajustadas sobre oito pontos, portanto, mais precisos que os Diagramas de Dosagem iniciais, determinados apenas com os tracos Rico, Médio ¢ Pobre. Com base nesses Diagramas de Dosagem mais precisos foram determinados os tragos finais dos coneretos, mostrados nas Tabela 3, Tabela 4 ¢ Tabela 5, conforme os trés tipos de cimento. “so0as syepioye oom 9p esseu © 21908, ves [ets | ar vo] ec sre [590 oe [oe as | ws | pr avo] Be 186 | $6 oe [08 ss [a9s | 0 086 | eR ve | 8 was [16s | tue Yes Le oe [9 “ ris ue] * ost | €16 | cue % |e ws [a9 | 906 wz st | £06 | O¥e wz [at | oF ass [oes | 92 BT] OF [ool] ae vI6 als 9 | st swe] ve | eoe| tue | ces ele 7) 1910] & | a» [@y/ ao a) GD oH lossy, sendy [eapogleraylomomy eanipy |ssayleamipy end espod e1o1y|oyuaty lmay| 8%) 4 | € | 1 SOHN OMT T IE SMBUS 9p LT IT S31q09 Om TU ‘moun op Fat exeag (PY SBRPT AH AT ouNanID aa epesadsg woiesoq oovs WA VEN OOVEL ANTIOA WE ODVEL ‘VSSVN WG OOVUL 2p epURISIS AL TAV-A dd OuauUaTD WoD Soja12UOD ap SOSDAL~ p PjaqD], “$0098 sy yum 9p esseu & 2140, oF sat_| 09 ur eri[ co [sat [use a0 [ os [ve ey aL | 16s ise SST | #5 [98 | ore sez | Fw oF 38 | 26s 398 wt] ss [oat | oe we | or | ee ; os 38 | 98S wet] ts [oat | cee ost | St | ot ~” val | wus et] sy | vat | oc6 S82 | Of Der_| 69S Ed pre] P| 06t | Poe ore] st 0% 36I_| 095 or pee] 0} | 96t | 16s | aie 0 vz ee _| 088 oe sot] 9 | coc) wus | 16 siye ae | @ ep @ | Go [G0] ep | ey wlile ny indy [espag|erazylowau| 1y| > jexpaaleay lendy wap eia1y| ‘eipy spePT ea 108) o>ygp> oxi | eed oywou> 9p 4 1 Baa 1499 ox | Bae omoup ap 1 eavg | Cate) ee ouawi sa oSis0q ov Wn Vava OVAL SIOTOA WA OOVUL VSSVIN WG OSVUL ap eugsiso TEAM do Tajaiaaa ap SOs], ~F BIAqRL, “spas syepioyeun ‘S049 81 2P EET iy “OIA 9p wssEU w 934) Tr | ee | ve [59 |e [us Te are [re T [oro] sev [set] os [or] ve apa pe wes [5 | or Oot tre [val | 199 wor |r| sr [9e [1 ee 5 [655 | atr eo [eat [ose [eee [atv wer [sar [or |e 92 oo DLL ee ar vas LBS | ont we [arfaclom me] ., [orolwelore[ we [ee SC eS Sis [WS | 9 #5 [rere [wee] toe] 8" fesopese [ee oc [se Fp TS ve at |e 00 | are sol act | err] ey Soe [en | te iso] st [set st FL Etat [085 f309 | 08 oF 5 ear] tar [wea | 08 et | eo ps Fe [sor [aes Tew | cor [sce] 1 [ser ew [owe | at wofee [atest for # Gen] Go oo] oo | an DO] ew [ew] eo pan] eo oy fan way | sped losmpy| endy [espe ereay|ovuamn| \eapog|vteay ostupy enBy eapad ersay ouaun.y|osmpy, °™ lespag\esy) * | & | € ep cou eau eae cuoupeprieea | compoonwur era commend 1 eea Cue SPePT ounalii 3a Seg OOVS WI VUVd OOVUL @WO10A WA OSVEL VSSVIN Wa OOVEL ap UPDURISISON TEAL d.) OMauUyD WO Soja1IUOD ap SODDAL —§ DIAQDL, Na Figura 2 verifica-se que menor consumo de cimento por metro cibico de concreto ‘corre com uso do cimento CP II-E, ¢ o maior consumo ocorre com o cimento CP IL-F. O cimento CP V-ART tem consumo intermedisiio entre eles. O menor consumo com © cimento CP ILE ocorreu porque este cimento interagiu melhor com o aditivo plastificante utilizado, © que proporcionou telagées Agua/cimento menores em compar: 208 concretos com os outros dois cimentos. ‘Consumo de Cimento/m? de concreto fn (MPa) Figura 2 - Consumo de cimento/m' de concreto em funcao da resisténcia do concreto. Em relagio ao ganho de resisténcia em fungio do tempo, na Tabela 6 so apresentadas as resisténcias médias adquiridas em relacio A idade de 28 dias. Nota-se que os concretos com cimento CP ILF apresentaram ganhos de resisténcia semelhantes aos concretos com cimento ARI. Tabela 6 — Resisténcia média adquirida pelos concretos (26) para cada tipo de cimento em relagio aos 28 dias de idade. Idade_[ CPE [CP V-ARI| CPILF 0 0 0 0 1 - 35 - 3 37 69 66 7 58 83 80 28 100 100 100 4 Consideragdes Finais Os tragos de conereto apresentados neste trabalho devem ser vistos como sugestdes para um proporcionamento inicial. © profissional que deles fazer uso deverd fazet testes com os materiais da sua regio, especialmente quanto & arcia, ao cimento € 4 interacio entre ele € 0 aditivo, ¢ fazer as correcées necessirias para obter © abatimento ¢ a resisténcia a compressio esperadas, que podem diferir dos resultados aqui apresentados. ‘A arcia utilizada nos coneretos era seca 20 sol, de modo que se for utilizada areia timida, a quantidade da 4gua de amassamento deverd ser diminuida, sendo colocada somente aquela necessiria para obter um abatimento préximo de 17 em. ‘Outro aspecto importante € quanto ao proceso de mistura, A utilizagio de betoneiras de pequena capacidade, preenchiclas 4 plena carga, deverio resultar concretos com resisténcia A compresséo menores que as aqui apresentadas. ‘Também é importante observar que as resisténcias 4 compressio, mostradas nas trés tabclas de tracos, sdo resisténcias de dosagem. Para se obter a resisténcia caracteristica (£,) & necessirio aplicar a equagio fy fy, — 1,658, , adotando-se 0 desvio padrio s, conforme as condigdes de preparo do concreto, dados na NBR 12655/96 [8]. 5 Agradecimentos (Os autores agradecem 4 FAPESP (Fundagio de Amparo a Pesquisa do Estado de Sto Paulo), A empresa Votorantim, pela doagio do cimento Votoran CP I-E, 4 empresa Vedacit, pela doacio do aditivo plastificante Fazgrauth, e 20 St. Edson Alves da Silva, pela doagio dos cimentos CP -F e CP V-ARL 6 Referéncias Bibliograficas [1] BRANCO, A.A.C. Tabela de tragos. Rio de Janeiro, 1974, [2] TARTUCE, R. Dosagem experimental do concreto. Sio Paulo, Ed. Pini, IBRACON/PINI, 1993, 115p. [3] SILVA, R.G, Manual de tragos de concreto. Sio Paulo, Ed. Nobel, 3*ed., 1975, 142p. [4] RIPPER, E, Como evitar exros na construgio, Sio Paulo, id. Pini, 1985, 122p. [5] ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. Projeto de estruturas de conereto — Procedimento - NBR 6118. Rio de Janeiro, ABNT, mar/2003, 221p. [6] ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. Exccugio de estruturas de concreto — Procedimento - NBR 14931. Rio de Janeiro, ABNT, 2004, 53p. [7] HELENE, PRL. ; TERZIAN, P. Manual de dosagem e controle do concreto, Sio Paulo Ed. Pini, 1995, 349p. [8] ASSOCIAGAO BRASILEIRA DE, NORMAS TECNICAS. Concreto — Preparo, controle ¢ recebimento ~ Procedimento - NBR 12655. Rio de Janeiro, ABNT, 1996, 19p.

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