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Ve Ai OALLGCOS CEM eee eee EDUCACAO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL OU SOCTEDADES SUSTENTAVEIS? EDUCATION FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT OR SUSTAINABLE SOCIETIES? EDUCATION POUR LE DEVELOPPEMENT DURABLE OU SOCIETES DURABLES ? ¢EDUCACION PARA EL DESARROLLO SUSTENTABLE O SOCTEDADES SUSTENTABLES? Victor Novicki* RESUMO O alcance do desenvolvimento sustentivel ou de sociedades sustentaveis exige adotar diferentes concepgdes de educagao sando conquistar legitimidade junto & sociedade sobre o que produzir, para quem ¢ como. Este trabalho objetiva analisar as concepgoes de educagio defendidas em eventos internacionais, enfatizando as categorias “consciéncia’ e ‘participagdo” como dimensdes da praxis e indicadoras de uma Educagdo Ambiental emancipadora, Entendemos que és conferéncias (Estocolmo, Rio-92, Johannesburgo) objetivam obter consenso sobre a viabilidade do “capitalismo sustentavel”, preconizando solugdes de mercado ¢ uma educagdo conservacionista € conservadora da sociedade de classes. De modo distinto, Tbilisi e 0 Tratado de Educagdo Ambiental para Sociedades Sustentaveis identificam nas relagdes sociais capitalistas 0 cerne das questées social e ambiental e defendem uma educacio emancipadora que contribua para 0 Homem perceber-se ¢ agir como produto e produtor do meio ambiente e da sociedade, o que pressupde um “capitalismo democrétieo” como etapa para a construgio de sociedades sustentaveis: Palayras-chave: Educagio Ambiental. Desenvolvimento Sustentivel. Sociedades Sustentiveis. Consciéncia Ambiental. Participagdo Social. Linhas Criticas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 * Doutor em Cigneias Soci is pela Universidade Estadual de Campinas (1998). Pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professor Adjunto do Programa de P6s-Graduagao em Educagiio da Universidade Esticio de Sa — RI (novicki@ globo.com) | INTRODUCAO, Qualquer resposta a pergunta formulada no titulo serd informada por visdes de mundo que buscam efetivar distintos projets, que exi mM uma educagio para a conservagdo ou transformagao da correlagdo de forgas presente na sociedade. A rigor, em uma perspectiva critica, cabe questionar a viabilidade da_ sustentabilidade (ALTVATER, 1995, 1999; CHESNAIS; SERFATI, 2003) e da democracia (PRZEWORSKI, 1989; WOOD, 2006) sob 0 modo de produgao capitalista. No encaminhamento do debate sobre a sustentabilidade, consideraremos os seguintes pressupostos: (a) hi uma relagdo de subordinagto do modelo de desenvolvimento (sustentvel ou nao) a sociedade civil (GRAMSCT, 1978) que, em Ultima instancia, busca conquistar legitimidade (consenso) sobre o que produzir, para quem e como, (b) o Estado, a quem cabe organizar e proteger © processo de acumulagio capitalista, internaliza e condensa em sua armacdo institucional a assimetria de poder presente na sociedade, materializando-a em politicas pablicas (POULANTZAS, 1986; OFFE, 1984), (¢) 0m produgdo capitalista) & o responsavel (esséneia) pela exclusio social ¢ degradagio ambiental (aparéneia) (MARX, 1988). O primeiro pressuposto fundamenta Foladori (2001), a0 afirmar que no existem so modo de produzir ¢ consumir coisas e pessoas (modo de “limites externos” (esgotamento e poluicio da natureza) a sustentabilidade do planeta, mas sim “limites internos” - as relagdes sociais capital as, sob as quai natureza e seres humanos sto considerados exclusivamente como recursos para 0 proceso de acumulagao capitalist ‘a. O segundo, se considerarmos que desde 0 século XVII brasileiros denunciam a destruigao da natureza (PADUA, 2002), leva & compreensio de que a transformagio das exi ncias socioambientais em politicas efetivas tem sido Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 ‘curtocircuitada’ pelos regimes politicos que dao forma ao Estado brasileiro (NOVICKT, 1998). O terceiro permite (a) recusar a falsa ascendéncia da questo social (exclusio social) sobre a questo ambiental, pois a resolugio de ambas precisa ser encaminhada simultaneamente © (b) construir uma visio de mundo que articula fenémenos aparentemente desconectados (fome, trinsito castico, concentragao fundisria, deficit na prestagdio de servigos publicos de saide, habitagto, educagio), ou seja, superar a alienagdo inerente ao modo de produgao capitalista que impede o estabelecimento de exclu relagdes entre fendmenos (“limites externos social) & esséneia (modo de producao capitalista). Em seu conjunto, esses pressupostos (a) questionam a redugaio da crise ambiental a “limites externos”, argumentando que os problemas ambientais surgem como resultado de um conflito no interior da sociedade ou das contradigdes entre capital € trabalho (MARX, 2004), e capital € natureza (BENTON, 1996), exigindo trazer 0 debate da sustentabilidade para © campo das relagdes. socia ‘Nao ha sentido em pensar separadamente as relagdes técnicas com meio ambiente e a configuracio historica das sociedades. Sustentaveis sio as formas sociais de apropriagdo e uso do meio ambiente, e ndo os recursos naturais. Isto posto, a sustentabilidade remete necessariamente as lutas sociais” (ACSELRAD, 1997, p. 25), (b) chamam a atengao para os limites do discurso governamental que apresenta Estado como agente do interesse geral da sociedade e para as politicas setoriais que afirmam visar a resolugao da exclusiio soci e da degradacio ambiental, fundamentais ao processo de acumulagio capitalista, que & organizado e protegido pelo aparetho de Estado, (c) contribuem para superar uma leitur classista sobre a problemitica ambiental, segundo a qual a reversio da degradago ambiental se dard através unicamente de solugdes técnicas/econémicas & da mudanga de comportamento individual: sumir no dia-a-dia condutas coerentes com Numa sociedade massificada e complexa, as priticas de protecio ambiental pode estar além das possibilidades da grande maioria das pessoas. Muitas vezes o individuo € obrigado, por circunstncias que esto fora do seu. controle, a consumir produtos que usam embalagens descartéveis em lugar das retorndveis; a alimentar-se com frutas verduras cultivadas com agrot6xicos; a utilizar © transporte individual em vez do coletivo, apesar dos engarrafamentos; a trabalhar em a existéncia de lixdes no seu bairro; a desenvolver Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 atividades com alto custo energético; a morar ao lado de indtistrias poluentes; a adquirir bens com obsolescéncia programada, ou seja, a conviver ou praticar atos que repudia pessoalmente, cujas razdes, na maioria dos casos, ignora, De acordo com esta visio, as decisdes envolvendo aspectos econdmicos, politicos, sociais e culturais sio as que condicionam a existéncia ou inexisténcia de agressGes ao meio ambiente (QUINTAS, 2002, p. 15). Entretanto, na vertente ambiental da hegemdnica economia neoclissica, no “ecocapitalismo” (HAWKEN et al, 1999), focado nos “limites externos” a sustentabilidade, encontram-se basicamente duas propostas que, em sintese, defendem a cortegio de falha nos mecanismos de ajuste do mercado, através da internalizaciio da poluigio (“externalidade negativa”) como um custo de produgiio e da adogio de “tecnologias limpas” ou ecoeficientes, pois levardio ao uso racional dos recursos naturais, Nessa abordagem, 0 foco é 0 desenvolvimento sustentdvel (DS), por meio de m “ambientalismo de livre mercado”: A andlise dos pressupostos que norteiam esta concepgio de desenvolvimento sustentével permite-nos compreender a necessidade do aumento da competi¢ao, da maior mobilidade de capital, dos processos de acumulagao ¢ de alocagao de capital, de busca cada vez maior de aumento da produtividade do trabalho pelo capital © de eficiéncia, na dinamica capitalista de geragio de valor. Permite-nos compreender, igualmente, que, na concepcdo de desenvolvimento ustentavel centrada na légica do capital, o livre mercado 6 0 instrumento da alocacio eficiente dos recursos planetitios e, neste sentido, a relagio trabalho € meio ambiente esta subsumida & supremacia do capital, com sérias consequéneias para o mundo do trabalho e para os recursos naturais (DELUIZ; NOVICKI, 2004, p. 22) Em uma perspectiva critica (BURKETT, 1999; LOWY, 2005; ALTVATER. 1995, 1999), sem desconsiderar os avangos tecnolégicos ~ que nao s40 colocados a servigo de todos os seres humanos, a sustentabilidade & entendida como o pelo qual as sociedades administram as condigdes materiais de sua reprodugio, redefinindo os prineipios éticos e sociopoliticos que orientam a distribuigiio de seus recursos ambientais” (ACSELRAD; LEROY, 1999, p. 28). Essa concepedo tem como Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 fundamento norteador a equidade como principio de sociedades sustentdveis, Seus pressupostos esto ancorados na tradi¢io do marxismo e na critica da economia politica, ou sej | nas criticas & sociedade fundada sobre a propriedade privada dos meios de produgdo, a subsungdo do trabalho ao capital e & Iégica da acumulagio capitalista (MARX, 1988). Desta forma, a andlise dos pressupostos que norteiam essa concepgio de sociedade sustentivel revela-nos a necessidade da critica ao modelo de desenvolvimento capitalista e © papel dos sujeitos politicos na construgio de alternativas societarias democraticas que superem a desigualdade social e a degradacio das prdprias bases materiais do modo de producdo. Permite-nos compreender [...] que na concepgao da stentabilidade na l6gica democritica, a relacio trabalho e meio ambiente nao esta subsumida A hegemonia do capital, mas as categor trabalho natureza articulam-se na perspectiva de ampliagio da qualidade de vida das popul da desigualdade socioambiental (DELUIZ; NOVICKI, 2004, p. 24). jagdes e de superagao da desigualdade/exclusao social & Em ambas as visdes de mundo: desenvolvimento sustentével ou sociedades € central, pois, visando atender aos interesses em disputa, busca-se, respectivamente, ocultar — retendo nossa atenga0 numa mirfade de fendmenos aparentemente desconexos, com a pat agao fundamental da midia na construgao do consenso — ou explicitar a esséncia da exclusio social (desigualdade social entre proprietérios dos meios de produgo e proprietérios da forga de trabalho) e da questo ambiental, ie., © conflito entre interesses privados (acumula capitalista) e © bem pblico ~ 0 meio ambiente, um “bem comum”, de todos e, particularmente, da “classe- -do-trabalho” (ANTUNES. que 2001), pois € quem paga os mais altos custos da degradagio socioambiental, ou seja, grupos em piores condigdes socioeconémiicas esto mais expostos que outros a riscos ambientais, Na perspectiva de uma “educacio emancipadora”, para Mészairos (2005), o que precisa ser confrontado ¢ alterado € todo o sistema de internalizagao da ideologia dominante, com suas dimensées vi is e ocultas, ou seja, romper com a Iégica do capital na drea da educagao significa substituir as forgas onipresentes e enraizadas de internalizagao mistificadora por ua alternativa conereta abrangente. O autor destaca a importincia da internalizago de uma concepgio ampla de educagio e da vida Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 intelectual que abrange todos os momentos de nossa vida, dentro e, particularmente, fora da escola: a educagio deve se voltar para a superagio da alienagao inerente a ordem social capitalista, tormando consciente esse processo de aprendizagem em sentido amplo, de tal forma que também nos reconhegamos como responsdveis pela manutencio ou mudai de nossas visdes de mundo e, consequentemente, de nossas condigdes de existéncia Neste sentido, este trabalho objetiva analisar como consciéncia e participagdo social, centrais & educago emancipadora proposta por Mésziros (2005), so tratadas em conferéncias e documentos internacionais (Estocolmo, Tbilisi, Rio-92, Tratado de Educagao Ambiental pa ‘a Sociedades Sustentaveis, Johannesburgo), visando identificar as concepedes de educagiio e suas finalidades: desenvolvimento sustentivel ou sociedades sustentiveis? Estas reflexdes justificam-se, primeiro, porque ha um aparente consenso entre os que defendem desenvolvimento sustentivel ou sociedades sustentiveis sobre o papel da educagao para o alcance da consciéncia ambiental e para a orga izagiio/mobilizagao e participagio no espago pablico. Em segundo lugar, porque o Orgao Gestor da Politica Nacional de Educagdo Ambiental afirma que a formulagio ¢ a implementag3o do Programa Nacional de Educagao Ambiental (BRASIL, 2005) tm sido informadas por aqueles documentos intemacionais e, particularmente, pelo Tratado de Educagao Ambiental para Sociedades Sustentaveis, que identifica “a alienagao e a ndo-participagao da quase totalidade dos individuos na construgdo de seu futuro” como as principais causas da crise socioambiental. Assim, este artigo consiste em esforgo preliminar pa analise das politicas de Educagao Ambiental 2 ESTOCOLMO, RIO, JOHANNESBURGO: 4 BUSCA DO “CAPITALISMO SUSTENTAVEL” A Conferéncia das Nagdes Unidas sobre 0 Meio Ambiente Humano (Estocolmo 1972), realizada em uma conjuntura de crise do capitalismo e de conquista do poder pelo neoliberalismo (FIORT, 1997), visava discutir 0 binémio desenvolvimento econdmico-meio ambiente e, ao reconhecer que a educagio era um elemento critico para o combate crise ambiental do mundo, recomendou a implementagdo do Programa Intemacional de Educagdo Ambiental. Entretanto, 0 diagndstico da crise ambiental estava marcado por uma visio conservadora, porque identificava apenas duas de suas Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 causas: os desastres naturais ¢ 0 subdesenvolvimento/pobreza.' A natureza clas: desse sta jagndstico & evidente, por desconsiderar a forma de atuagdo dos grandes empreendimentos, as causas do subdesenvolvimento e da pobreza, ¢ a “poluigtio da riqueza” relacionada ao padriio de consumo energético insustentivel dos paises centrais nfo generalizével_ ao conjunto da humanidade, 0 que langa desafios & questo demoerética, pois “a apenas sob condigdes de extrema desigualdade global” (ALTVATER, 1999, p. 129). Este diagnéstico informa as solugdes e a concepgao de educa stentabilidade ecoldgica ou no & possivel ou se torna possivel 10 propos Com base em suas cons ‘ages, esta Conferéncia afirmou que seria neces rio planejar um desenvolvimento acelerado. Esse desenvolvimento deveria ser feito. mediante maciga transferéneia de recursos em forma de assisténcia financeira e teenolégica que complementassem os esforgos internos dos paises em desenvolvimento, Ou seja, se propunha um assessoramento aos paises subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, enfatizando a educagio como um dos elementos fundamentais para 0 combate & crise ambiental, evidenciando que as solugdes deveriam ser estruturadas no ambito do individuo e da técnica (BATISTA, 2007, p. 112). Vinte anos depois, em 1992, em uma conjuntura de expansio do neoliberalismo, a Conferénci das Nagdes Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento torna mais claro que 0 desenvolvimento sustentivel — aquele que “atende as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de s geragdes futuras atenderem as s proprias necessidades” — sera aleangado com solugdes de mercado, Layrargues (1997) desenvolve uma andlise comparativa entre ecodesenvolvimento, proposto por Ignacy Sachs (1986), € desenvolvimento sustentvel, conforme defendido pela Comissio Brundtland: Ocorreu_ um movimento de dupla conveniéneia entre Norte € Sul, onde o primeiro. desejando omitir a potuigao da riqueza, ¢ 0 segundo, desejando obter investimentos para | Vinte e seis anos depois, a politica educacional brasileira, ao tratar do Tema Transversal Meio Ambiente (BRASIL, 1998, p. 173), teproduz este diagndstico: “AS relagdes politico-econdmicas que permitem a continuidade dessa formagao econbmica e sta expansio resutam ma exploragao desenfreada de recursos naturis, especialmente pelas populacdes carentes de paises subdesenvolvidos como 0 Brasil & 0 caso, por exemplo, das populagdes que comercializam madeira da Amazinia, nem sempre de forma lez, ov dos indigenas do sul da Bahia que queimam suas matas para vender carvao vegetal” (grifos nossos). Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 mitigar a pobreza, orquestraram seus interesses particulares em total harmonia (...). Enfim, enquanto o ecodesenvolvimento postula com relagio & justiga social, que seria necessirio estabelecer um teto de consumo, com um nivelamento médio entre o Primeiro e Terceiro Mundo, o desenvolvimento sustentavel afirma que seria necessério estabelecer um piso de consumo, omitindo o peso da responsabilidade da poluigao da riqueza. Enquanto 0 ecodesenvolvimento reforga o perigo da erenga ilimitada na tecnologia moderna, € prioriza a criagdo de teenologias endégenas, 0 desenvolvimento sustentével continua acreditando firmemente no potencial da tecnologia modema, ainda propée a transferéncia de tecnologia como o critério de ‘ajuda’ ao Terceiro jo do mercado, 0 Mundo. Enquanto 0 ecodesenvolvimento coloca limites a livre atu: desenvolvimento sustentivel afirma que a solugiio da crise ambiental viré com a sociedades modemnas (LAYRARGUES, instalagio do mercado total na economia das 1997, p.9)2 is internacionai A Rio-92 aprovou, dentre outros acordos oficial Agenda 21, um programa de ago para o desenvolvimento sustentavel (DS), que se inicia com a afirmagdo da primazia da economia como motor do DS, apontando, em seus varios capitulos, a necessidade de “um ambiente econémico e internacional ao mesmo tempo dinamico e propicio”, de “politicas econdmicas internas saudaveis”, da “liberalizagao do comércio” ¢ de uma “distribuigao Stima da produgao mundial, sobre a base das vantagens comparativas” (ACSELRAD; LEROY, 1999, p. 18), na perspeetiva da I6gica € da hegemonia do mercado, Tanto a Comissio Brundtland, quanto a Agenda 21, propdem uma nova relagdo entre produgio, meio ambiente e desenvolvimento econémico inspirada em uma nogio de sustentabilidade pautada por uma visio a0 desenvolvimento econdmica dos sistemas biolégicos, segundo a qual caberi econdmico apropriar-se dos fluxos tidos como excedentes da natureza sem, no entanto, comprometer “capital natural”. Sua estratégia conjuga crescimento econémico com progresso técnico capaz de poupar recursos materiais, mas sem restri¢do aos ritmos da acumulagao capitalista, O mercado é apresentado como “o ambiente institucional mais favoravel A considerago da natureza como capital” (ACSELRAD; LEROY, 1999, p. Essa converpeneia de interesses entre as classes dominantes dos paises centrais e periféricos também foi detectada 20 anos antes. © “recado” divulgado pelo governo militar em cartaz, durante a Conferéneia de Estocolmo, nao deixava diividas: “Bem-vinda a poluicao, estamos abertos para ela. O Brasil & um pais ‘que nio tem restrigdes. Temos varias cidades que reveberiam de bragos abertos a sua poluigio, porque © ‘que ns queremos So empregos, so dolares para o nosso desenvolviniento” (DIAS, 1991, p. 14). Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 24), convertendo-se o DS, nessa concepgao, em um ambientalismo de livre mercado.* Entretanto, paradoxalmente, no Capitulo 36 da Agenda 21: “Promogio do Ensino, da Conscientizagio ¢ do Treinamento” — que nio faz mengio A expresso “educagio ambiental”, mas a “educaco sobre o meio ambiente e desenvolvimento” -, & fmulo a atribuido & educagao um papel central para a conscientizagao e para 0 es participagio: 36.3. [...] O ensino € também fundamental para conferir consciéncia ambiental e ética, valores € atitudes, técnicas e comportamentos em consonancia com o desenvolvimento sustent vel e que favorecam a participagao piiblica efetiva nas tomadas de decisio (CNUMAD, 2001, p. 534). A Caipula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentavel (Johannesburgo 2002) reforgou o entendimento de que a Iégica do mercado & 0 meio para aleangar o desenvolvimento sustentavel através no mais da Educagio Ambiental, mas da “Década da Educago para 0 Desenvolvimento Sustentavel 2005-2014", como forma de aplicar 0 capitulo 36 da Agenda 21, que j4 propunha uma “Reorientagao do ensino no sentido do desenvolvimento sustentavel”.* Apés 30 anos, o discurso da Unesco mudou em relagio a0 diagnéstico da crise ambiental, agora incluindo, algm da pobreza e dos desastres naturais, a riqueza’ is" (UNESCO, 2005). 0 08 ricos que tém os maiores niveis de produgao e consumo nao- sustenté Nesse documento, a “educagio para 0 desenvolvimento sustentavel” (EDS) deve contribuir para a consciéncia sobre “a fragilidade do meio ambiente fisico e aos efeitos das atividades e decistes humanas relativas ao meio ambiente” (p. 18), 0s “limites e potencial do crescimento econdmico e de seus impactos na sociedade ¢ no meio * (p. 74). Unesco (2005) considera a participagio social, ao lado da governanca, relagdes de género & ambiente” (p. 18), “como as ages de uns afetam as vidas dos demais * Considerando essas caracteristicas da Agenda 21 ¢ 0 documento “Formando Com-Vida - Comissio do Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola: construindo Agenda 21 na Escola” (BRASIL, 2004), ccabe indagar: em que medida a politica educacional brasileira incorporou os pressupostos e prinefpios norteadores da Agenda 21? * Cinco anos depois, nia Confereneia Internacional sobre Meio Ambiente © Sociedade: Educagio & Conscigncia Piblica para a Sustentabilidade (Tessalonica, Grécia, 1997), foi feita mengio 4 “educacio para 0 desenvolvimento sustenkivel": “O estabelecimento de um fundo especial para a educagso para © ‘desenvolvimento sustentivel deve ser considerado como uma forma de aumentar o apoio ¢ a visibilidade” (DIAS, 2000, p. 198) Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 formas de organizagao econdmica, como parimetros soci a serem abservados pela educacio na busca pelo desenvolvimento sustentivel: “aprender deve levar a uma Participagio ativa na busea e aplicagdo de novos padres de organizagio social ¢ mudanga, trabalhando para encontrar estruturas e mecanismos mais idéneos que reflitam a visio do desenvolvimento sustentivel” (p. 45) e “ampla participa cidadtios no estabelecimento de parimetros para o desenvolvimento sustentavel e uma boa governanga” (p. 62). AEDS, segundo a Unesco (2005), deveria possuir as seguintes caracteristicas: ser interdiscipl nar e holistica, ser parte integrante do curriculo como um todo, nao ‘como uma matéria separada: favorecer 0 pensamento critico € as solugdes de problemas recorrer a miltiplos métodos; favorecer a participago dos alunos no proceso de tomada de decisdes: imtegrar ao cotidiano as experiéneias de aprendizagem oferecidas; ser localmente relevante: tratar as questdes locais assim como as globais, usando a linguagem que os alunos usam mais comumente. Sobre a relagio entre Educagio Ambiental e EDS, assim posiciona-se o documento: A educacdo para o desenvolvimento sustentavel nao deve ser equiparada & educagio ambiental. Educagdo ambiental é uma disciplina bem estabelecida que enfatiza a relagao dos homens com 0 ambiente natural, as formas de conservé-lo, preserviclo e de administrar seus recursos adequadamente. Portanto, [a educagao para] desenvolvimento sustentivel engloba educagtio ambiental, colocando-a no contexto mais amplo dos fatores socioculturais € questées sociopoliticas de igualdade, pobreza, democracia ¢ qualidade de vida. Desenvolvimento sustentdvel deve ser integrado em outras disciplinas e néo pode, em funcdo do seu aleance, ser ensinado como uma disciplina independente (UNESCO, 2005, p. 46-47) (grifos nossos). Assim, 10 anos apés a Agenda 21 propor que a “educaciio sobre meio ambiente e desenvolvimento deve integrar-se em todas as disciplinas”, a Unesco (2005) entende que desenvolvimento sustentével é um tema transversal ¢ que a educagao ambiental & uma dis plina com abordagem reducionista: Uma outra curiosidade paradoxal a repeti¢ao, no documento da Une . de que a BA & uma ‘disciplina’ que ‘apen: se preocupa com as relagdes humanas em seus am Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 Nas orientagdes do extinto Programa Internacional de Educagao Ambiental da prépria Unesco e PNUMA, entretanto, a EA ¢ orientada de forma transversal e as relagdes humanas com seus ambientes sio complexidades de enorme envergadura (MEIRA: SATO, 2005, p. 12). 3 TBILISI E TRATADO DE EDUCACAO AMBIENTAL: EM BUSCA DO “CAPITALISMO DEMOCRATICO” A partir dos anos de 1970 ocorreram cinco grandes eventos intemnacionais sobre Educagio Ambiental: I Conferéncia Intergovernamental sobre Educacio Ambiental (Tbilisi 1977), I Congreso Internacional sobre Educagiio e Formagio Ambientais (Moscou 1987), Férum das Organizagdes Nao-Governamentais e Movimentos Soc’ evento paralelo & Eeo-92 (Rio de Janeiro 1992), III Conferéncia Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educagio e Consciéneia Ptiblica para a Sustentabilidade (Tessalonica 1997) © IV Conferéncia Internacional de Educacio Ambiental (Ahmedabad 2007). Dentre cles, destacaremos as recomendagdes da Conferéncia de Toilisi e do Tratado de Educacio Ambiental para Sociedades Sustentiveis e Responsabilidade Global, pois, diferente da l6gica do mercado defendida pelo desenvolvimento sustentavel (DS), fornecem subsidios para a construgao de sociedades sustentaveis. Na Conferéneia de Tbilisi (UNESCO, 1997), foram definidos os objetivos, fungdes, estratégias, caracterfsticas, prinefpios e recomendagdes para a Educagio Ambiental (EA). O item esse evento ser considerado um marco conceitual da Educagto Ambiental eritica: da Recomendagdo n° | ajuda-nos a entender 0 porqué de um objetivo fundamental da educagio ambiental € lograr que os individuos ¢ a coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integragio de seus aspectos biolégicos. sociais, econdmicos ¢ culturais, e adquiram os conhecimentos, os valores, os comportamentos e as habilidades priticas para participar responsavel e eficazmente da 10 da qualidade do prevengdo e solugdo dos problemas ambientais, € da gestio da que meio ambiente. Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 Esse objetivo € corretamente denominado de “fundamental”, pois foca os alicerces de uma proposta educacional eritica, podendo ser decomposto em trés partes que se articulam para a superagio da “educagio conservacionista” defendida pelo DS Primeiro, ao fazer menciio aos “individuos” e a “coletividade”, significa que a EA proposta nessa Conferéneia descarta a abordagem reducionista da relagao individuo- 80 dade, pautada no dualismo cartesiano que descola ou aliena o indi uo da sociedade, a parte do todo. Esse artificio alienante, por um lado, permite culpabilizar de maneira geral “todos os seres humanos” pelos impactos ambientais, sem atribuir pesos especificos aos diferentes atores sociais — Estado, mercado, sociedade, individuo ~ e. por outro, revela 0 objetivo da educacio conservacionista: “entendendo o problema ambiental como fruto de um desconhecimento dos principios ecolégicos [falta de informagio] que gera ‘maus comportamentos’ nos individuos, caber a educagio conservacionista... criar ‘bons’ comportamentos” (LAYRARGUES, 2000, p. 89). Esse enfoque “comportamentalista \dividualista” leva seus adeptos a associarem a degradaga ~ um “limite exteno” & ambiental ao crescimento populacional do planeta sustentabilidade (FOLADORI, 2001), pois, conforme Guimaraes (2004, p. 139-140), se 4 questo ambiental esta relacionada ao comportamento dos individuos, qua to mais individuos, mais problemas: A educagao comportamentalista centra seu esforgo educativo na crenga de que a transmissio de informagdes provoque mudangas de atitudes, sem considerar a influéneia do habito nas atitudes individuais e, por conseguinte, a influéncia dos. valores socialmente construidos sobre os hibitos de cada um. 10 considerando esas relagdes, a educago comportamentalista descontextualiza os individuos como seres sociais que retirando toda a influéneia que a sociedade tem sobre sua relativa autonomia. Em segundo I ur, Thilisi define como objetivo da EA “lograr que os individuos ea coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural ¢ do meio ambiente criado pelo homem, resultante da integragao de seus aspectos biolégicos, icos, sociais, econdmicos e cultura Diferente da educagdo conservacionista, que, através de outro reducionismo, privilegia os aspectos biol6gicos do meio ambiente (natureza), foco das solugdes téenicas, essa concepedo de meio ambiente abrange os recursos naturais do nosso planeta, as instituigdes e valores criados historicamente pela Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 ago social do homem e, principalmente, a “tensa0” existente entre ambos (esgotamento € poluigdo dos recursos naturais). Essa concepeio dialética da relagaio Homem-meio ambiente ou do metabolismo sociedade-meio amt snte explicita claramente a necessidade de se incorporar as diferentes dimensOes da questio ambiental de modo interdisciplinar (ciéneias naturais e humanas), tanto na resolugdo dos. problemas ambientais, quanto nas atividades de pesq ae ensino sobre questdes situadas na interface das teméticas educacional e ambiental, como a EA. Essa concepgio de meio ambiente permite colocar em xeque a sociedade que causa e lucra com a miséria humana e com 0 esgotamento/poluicio da natureza/meio ambiente, pois desloca dialeticamente do individuo para a sociedade (parte-todo) as origens da degradagao ambiental e da desigualdade social, que exige, além de solugdes técnicas/econdmicas, 0 questionamento das relagdes sociais capitalistas, visando a construcio de sociedades sustentavei Em Tbilisi (UNESCO, 1997), a consciéncia (ambiental) tem como pré-requisito © conhecimento “geral ¢ especifico sobre o meio ambiente” (Recomendacio n° 20), sobre 0 “meio ambiente global ¢ a degradagdo ambiental” (Recomendagdo n° 2) ou “conhecimentos ambientais” (Recomendagao n° 6), mas, ressaltamos, conhecimento “daquele meio ambiente”, o defendido por Tbilisi, abrangendo seres humanos, natureza a “tensao” entre eles, ot seja, conhecimentos sobre o “funcionamento” da natureza, da sociedade © das suas relagdes, © que pressupde a interdisciplinaridade envolvendo as ciéncias naturais e humanas. Thilisi, em terceiro lugar, entende que os contetidos conceituais, procedimentais € atitudinais envolvidos nessa concepgio de EA tém como finalidade a resolugto de problemas ambientais locais/coneretos: “adquiram os conhecimentos, os valores, os comportamentos € as habilidades praticas para participar responsavel e eficazmente da prevengio € solugdo dos problemas ambientais”, apontando para a importincia da relagio teoria-pritica ou reflexdio—acio, ou seja, além da critica ao modo de producto capitalista, faz-se necessdria a construcio de alternativa concretamente sustentavel Cabe a EA, em uma perspectiva emancipadora, contribuir para a participagao na esfera piiblica, levando em consideragtio nossa “cultura politica autoritéria” (NOVICK, 1998), que revela, conforma e perpetua a assimetria entre os poderes econdmico e politico presente em nossa sociedade. Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 Em seu conjunto, a adogao do item “c” da Recomendagao n° 1 de Tbilisi implica refletir sobre categoria analiticas que consideramos centrais para compreender e tansformar a realidade socioambiental: (a) superar a alienagdo do Homem em relagio natureza e a sociedade, através da consciéncia de que somos “naturalmente humanos ou * (MARX, 2004) ou da consciénei humanamente naturais a de nos a dupla (¢ inaliendvel) determinac’io: natural e social, (b) conquis far_na sociedade civil a participagio no processo decisério de formulagdo/implementagdo de politicas pablicas e pritica sociais que visem o pleno exercicio da cidadania, Na I Jornada Internacional de Educagao Ambiental, que culminou no Forum das -Governamentais € Movimentos Sociai Organizacdes Na ., evento paralelo i ECO-92. foi produzido © Tratado de Educaciio Ambiental para Sociedades Sustentiveis e Responsabilidade Global (TEASS). Na Introducio, o Tratado destaca a importineia da EA, entendida como processo educativo transformador ¢ permanente na “formagiio de valores e na agio social” para a criago de “sociedades sustentaveis e equitativas” baseadas “no respeito a todas as formas de vida”. O TEASS é um ponto de inflexo no debate sobre a sustentabilidade, pois promove 0 deslocamento de “desenvolvimento sustentivel” para “Sociedades sustentéveis”, o que fica mais claro quando © documento relaciona ao modo de producio capitalista as causas, simultaneamente, da degradagao ambiental ¢ da desigualdade social, ¢ identifica a alienagao ¢ a falta de parti pacio como desafios da EA: As caus primérias de problemas como o aumento da pobreza, da degradagio humana e ambiental e da violéncia podem ser identificadas no modelo de civilizagao dominante, {que se baseia em superproducio e superconsumo para uns ¢ em subconsumo e falta de condigdes para produzir por parte da grande maioria [. Consideramos que sio inerentes a crise a erosdo dos valores bésicos ¢ a alienagdo ¢ a néo-participagdo da quase totalidade dos individuos na construgdo de seu futuro. E fundamental que as comunidades planejem e implementem sua préprias altemnativas as politicas vigentes. Dentre essas alternativas esté a necessidade de aboligao dos programas de desenvolvimento, ajustes e reformas econdmicas que mantém o atual modelo de crescimento, com seus terriveis efeitos sobre 0 ambiente e a diversidade de espécies, incluindo a humana (grifos nossos: Linhas Criicas, Brasil 14,7. 27 p, 215-282, ju/éez. 2008, ISSN 1981-0431 © Tratado apresenta, dentre seus prineipios, uma definigao de “Educagao Ambiental para Sociedades Sustentiveis”, muito distante de uma educacio conservacionista, comportamentalista-individualista ou “para 0 desenvolvimento sustentivel A educagio & um direito de todos; somos todos aprendizes e educadores. A educacio ambiental deve ter como base 0 pensamento eritico ¢ inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seus modos formal, ndo-formal e informal, promovendo a tansformagio e a construcao da sociedade. A educagdo ambiental ¢ individual e coletiva. Tem o propésito de formar cidadios com consciéncia local e planetiria, que respeitem a autodeterminacio dos povos e a soberania das nagdes. A educacdo ambiental no neutra, mas ideolégica. E um ato politico. A educagio ambiental deve envolver uma perspectiva holistis . enfocando a relagio entre o ser humano, a natureza € 0 universo de forma interdisciplinar. A educagao ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade e 0 respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democriticas e da interagdo entre as culturas, A educagdo ambiental deve tratar as questies globais criticas, suas causas e inter-relagdes em uma perspectiva sistémica, em seu contexto social € histérico. Aspectos primordiais relacionados ao desenvolvimento e ao meio ambiente, tais como populagao, satide, paz, direitos humanos, democracia, fome, degradagao da flora e fauna, devem se abordados dessa maneira Dentre outros aspectos, cabe destacar que a “educagio ambiental para sociedades sustentiveis” deve “estimular e potencializar o poder das diversas populacdes”, enfatizar os problemas locais em suas atividades: “trabalhar os prinepios deste Tratado a partir as realidades locais, estabelecendo as devidas conexdes com a realidade planetéria, objetivando a conscientizagao para a transformagao”, sensibilizar as popula ‘des para que “constituam Conselhos Populares de Agio Ecolégica e Gestio do Ambiente visando investigar, informar, debater e decidir sobre problemas e politicas ambientais”, reconhecer © conhecimento popular valorizando as diferentes formas de conhecimento, que é “diversificado, acumulado e produzido socialmente, nao devendo ser patenteado ou monopolizado” e “fazer circular informagdes sobre o saber e a meméria populares; ¢ sobre iniciativas e tecnologias apropriadas ao uso dos recursos naturais Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 4 EDUCAGAO E SUSTENTABILIDADES: OUTRAS CONSIDERACOES: A partir dos anos de 1970, constata-se outra crise do capitalismo e a adogio de medidas, sob a Gtica neoliberal, do retomar a taxa de lucro, tais como reestruturagio produtiva, reforma do aparelho de Estado, reformas educacionais e, ndo menos importante, reforma do modelo de desenvolvimento, o que foi discutido em trés conferéncias internacionais. A sustentabilidade via reforma do capitalismo atende aos interesses de legitimagio deste modo de producao junto a sociedade, pois, conforme irreformaveis. Mészéros (2005), as determinagées fundamentais do sistema capital ismo sustentivel” assemelha-se 4 comparagao, feita por Lowy (1994), entre os artificios usados pelos positivistas para sairem dos impasses tedricos em que se veem com 0 expediente a que recorreu o Bardo de Munchhausen: atolado num pantano, com seu cavalo, e vendo que ndo contava com a ajuda de inguém para salvé-lo, 0 Bar‘io agarrou seus proprios cabelos e puxou-se para cima! O capitalismo puxa-se pelos proprios bolsos para passar a imagem que esta saindo do “pintano”, ou melhor, desvinculando-se da desigualdade/exclusio social eda degradagao ambiental, Da Conferéncia de Estocolmo (1972), passando pela ECO-92, que vulgarizou a expressao desenvolvimento sustentavel, até a Cipula Mundial na Africa do Sul (2002), ver ica-se uma corrente, um curso d’égua favorivel ao moinho do DS (“ambientalismo de livre mercado”) e, consequentemente, de uma educagdo que a ele se subordine. O ecocapitalismo no questiona 0 modo de produgao gerador da desigualdade social e da degradacio ambiental e volta-se, por meio de solugdes de mercado, para os problemas ambientais, desconsiderando os processos que os geram; reduz 0 meio ambiente a natureza, alienando o ser humano da natureza ¢ da sociedade, impedindo-os de se perceberem como produto e produtores do meio ambiente e da sociedade e, coerentemente, defende uma educacao conservacionista e conservadora da correlagiio de forgas presente na sociedade, Entretanto, paradoxalmente, verifica-se uma adesiio retérica A necessidade da consciéncia ambiental e da participagdo social: a educagdo deve contribuir para 0 individuo, principalmente © pobre, ter consciéneia da fragilidade do meio ambiente frente as “ages humanas”, assumir a culpa “de todos os seres humanos” e participar da Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 solugao dos problemas ambientais, através de “bons comportamentos”, que nao incluem refletir sobre a esséncia da crise socioambiental. Nos documentos analisados, a denominada “falta de consciéncia ambiental” é atribufda a falta de informagiio sobre a questo ambiental. A rigor, ha o predominio de uma “falsa consciéncia socioambiental” que & produzida/reproduzida constantemente pelo modo de produgao capitalista, por meio de diferentes mecanismos (trabalho alienado, consenso/ideologia, concepei0 reducionista de meio ambiente), como estranhamento/alienagdo, impedindo tanto o reconhecimento de que somos através do trabalho “humanamente naturais ou naturalmente humanos”, quanto a transformagdo do “Homem em si” em “Homem para que o retiraria da condiga capital (NOVICKI, 2007). Como destacam Meira e Sato (2005), somente peixe morto nada conforme a de recurso, coisa ou mercadoria forga de trabalho para o correnteza do DS; os ainda “vivos” lutam no espago pablico pela construgio de sociedades sustentaveis, 0 que nos remete & questao democritica como uma dimensio da sustentabilidade. Q subtftulo “em busca do capi lismo democritico” — 0 que entendemos ser perseguido pelas Recomendagdes de Thilisi ¢ do Tratado como uma etapa fundamental rumo as sociedades sustentaveis — visa levantar questdes como que Adam Przeworski (1989, p, 243-244) formula: A combinagao de democracia ¢ capitalismo estabelece um compromisso: aqueles que no possuem instrumentos de produgio consentem com a instituiciio da propriedade privada do estoque de capital, enquanto os que possuem instrumentos produtivos consentem com as instituigdes politicas que permitem a outros grupos apresentar eficazmente suas reivindicagdes quanto a alocagio de recursos e & distribuigao do produto. Pode ser valido lembrar que esse compromisso foi julgado inviavel por Marx, que afirmou que a ‘repablica burguesa’ baseia-se em uma contradigéo que a torna inerentemente instével como forma de ot nizagiio social. A combinacio da propriedade privada dos meios de producto com o sufrigio universal, argumentou Marx, deve conduzir & ‘emancipagao social” das classes oprimidas, por intermédio de seu poder politico, ou 4 ‘restauragdo politica’ da classe opressora, por meio de seu poder econdmico. Assim, asseverava Marx, a democracia capitalista € ‘apenas a forma politica de revolugao da sociedade burguesa, e ndo sua forma de vida conservadora’, apena um Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 espasmédico, excepcional estado de ci sas [..] impossivel como a forma normal da sociedade’ Este € 0 desafio colocado & Educagiio Ambiental emancipadora: como contribuir para a criak Jo/uso de espagos ptiblicos de participagao efetiva no capitalismo? Tbilisi e © Tratado formulam press upostos e principios norteadores dessa caminhada e, da mesma forma que Mészéros (2005), consideram que os processos educacionais © os processos sociais mais abrangentes de reprodugio esto intimamente relacionados, sendo inconcebivel, portanto, uma reformulacdo significativa da educagio sem a transformagao da sociedade. Essa busca torma-se extremamente complexa em um pats (NOVICKI, 1998), ido brasileiro (regimes como o Brasil profundamente marcado por uma “cultura politica autoritiria’ observavel pelos regimes politicos que deram forma ao Es monirquico, oligérquico, populista, militar, “nova repablica’...), que inviabilizaram 0 pleno exercicio da cidadania, contribuindo atualmente para a falta de interesse do brasileiro em participar nos processos de formulagdo e implementagio de politicas piblicas e préticas sociais que visem superar a desigualdade social ¢ a degradagio ambiental. Enfim, quais sA0 as implicagdes na sociedade do discurso governamental que afirma conduzir 0 Programa Nacional de Educagio Ambiental (BRASIL, 2005) fundamentado em conferéneias internacionais com visdes de mundo antagdnicas e, particularmente, em Tbilisi € no Tratado que defendem a construgdo de sociedades sustentaveis, se © papel do Estado é organizar e proteger © processo de acumulagao capitalista, produzindo/reproduzindo a correlagio de forgas existente na sociedade, alienando © ‘curtocircuit ‘ncias_socioambientais em indo’ a transformagao de exig politicas efetivas. A “busca do capitalismo sustentivel” (DS) exige, conforme as conferéncias internacionais, compatibilizar os interesses ligados & producdo/consumo de mercadorias © a preservagio ambiental, Entretanto, recentemente, o aparelho de Estado descaracterizou conceitualmente a questo. ambiental ao fragmentar seu encaminhamento, entre 0 Instituto Brasileiro do Meio Ambiente © dos Recursos Naturais Renoviveis (licenciamento das atividades produtivas) e o Instituto Chico Mendes de Conservagio da Biodiversidade (preservagiio e educagio ambientais): a Linhas Criticas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 fragmentagao da realidade no interior do aparetho de Estado divide © poder de pressao dos movimentos ambientalistas, contribuindo para uma correlagio de forgas favordivel & degradagio socioambiental, Esse procedimento nio ¢ uma novidade em nossa “cultura pois, no trato da questio agréria, a partir de 1964, com a instauragdo da ditadura militar, 0 tratamento das questoes agricola e fundidria foi separado na armagio institucional do Estado: conforme expresso de Candido Graybowski, era necessario “excluir 0 conflito para gerir o negécio”, entendemos que ‘© mesmo ocorre hoje com a questo ambiental, Da mesma forma que nos anos de 1980, marcados por uma conjuntura de reemergéncia da sociedade civil e de intensa luta pela terra, em que pessoas ligadas aos movimentos passaram a integrar os quadros dos Grgdos fundidrios (NOVICKI, 1998), hoje também o pessoal do Estado parece vivenciar uma “dupla militincia’, no interior do Estado e no interior dos movimentos i0 foram ambientalistas. No século passado os resultados dess “dupla militane favordveis ao fortalecimento da so dade, dos movimentos sociais frente ao aparetho de Estado: ¢ agora? Entendemos que se faz necessario 0 desenvolvimento de estudos que analisem a relagio Estado-Sociedade, mediada pela questao socioambiental, bem como papel do pessoal do Estado (burocracia) na formulago e implementagio das politicas de Educagao Ambiental Referéncias ACSELRAD, H. Sustentabilidade e demoeracia, Proposta, Rio de Janeiro: Fase, n. 71, p. 11-16, dez./fev. 1997 ; LEROY, J. P. Novas premissas da sustentabilidade democritica, Rio de Janeiro: Fase, 1999. ALTVATER, E. 0 prego da riqueza. Sio Paulo: Edusp, 1995. Os desafios da globalizagio e da crise ecolégica para o discurso da democracia fos humanos, In: HELLER, A. (Or A crise dos paradigmas em ciéncias sociais e os desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Contraponto, 1999. p. 109-154. ANTUNES, R. 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In different ways, Tbilisi and the Environmental Education Convention for Sustainable Societies identified in the social capitalist relations the core of social and environmental issues and defended an emaneipating education that contributes towards Man perceiving self and acting as a product and a producer of society and the environment, which presumes a “democratic capitalism” as a step to build sustainable societi Keywords: Environmental education. Sustainable development. Sustainable societies. Environmental consciousness. Social participation. L’éducation pour le développement durable ou sociétés durables ? Résumé L’atteinte du développement durable ou de sociétés durables exige I'adoption de jrentes conceptions d’éducation visant conquétir la Iégitimité auprés de la société Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 ar quoi produire, pour qui et comment. Ce travail a comme objectif analyser les conceptions d’éducation défendues dans des événements internationaux, mettant Vemphase sur les eatégories ‘conscience’ et ‘participation’ comme dimensions de la praxis et indicateurs d’une Education de [Environnement émancipatrice. Nous comprenons que les trois conférences (Stockholm, Rio-92, Johannesburg) avaient comme objectif obtenir un consensus sur la viabilité du « capitalisme durable », préconisant les solutions de marché et une éducation conservationiste et conservatrice de la société de classes. De manitre différente, Tbilisi et le Traité de Education Environnementale pour les Sociétés Durables ont identifié dans les relations capitalistes le cere des questions sociales et environnementales et ont défendu une éducation émancipatrice qui contribue pour que I’ Homme se percoive et agisse comme un produit et producteur de environnement et de la société, ce qui présuppose un « capitalisme démocratique > comme étape pour la construction de sociétés durables, ‘Mots elefs : Education environnementale. Développement durable, Sociétés durables, Conscience environnementale. Participation sociale Educacién para el desarrollo sustentable 0 sociedades sustentables? Resumen El alcance de! desarrollo sustentable 0 de sociedades sustentables exi fintas concepciones de edueacién visando conquistar legitimidad junto a la sociedad acerea de Jo qué producir, para quién y cémo. Este trabajo objetiva analizar las concepeiones de educacién defendidas en eventos internacionales, enfatizando las categorias consciencia y participacién como dimensiones de la praxis e indicadoras de una educacién ambiental emancipadora. Entendemos que tres conferencias (Estocolmo, Rio-92, Johannesburgo) objetivan obtener consenso acerea de 1a viabilidad del “capitalismo sustentable”, preconizando soluciones de mercado y una educacién conservacionista y conservadora de la sociedad de clases. De manera distinta, Tbilisi y el Tratado de Educacién Ambiental para Sociedades Sustentables identifican en las relaciones soci capitalistas el cee de las cuestiones social y ambiental y defenden una educacién emancipadora que contribuya para que el Hombre se perciba y reaccione como producto y productor del medio ambiente y de la sociedad, lo que presupone un “capitalismo democratic” como etapa para construcci6n de sociedades sustentables, Linhas Criicas, Brasilia, v.14, n.27 p. 215-282, uL/dez. 2008, ISSN 1981-0431 Palabras-clave: Educacién ambiental. Desarrollo sustentable. Sociedades sustentables. Consciencia ambiental. Participacién social, Recebido em: 12.02.2009 Aceito em: 10.09.2009

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