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RAFAEL AUGUSTO VALENTIM CRUZ MAGDALENA

FOTO CAPA

TECNOLOGIA EM
MEIO AMBIENTE
UNIDADE 8

AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA:


ECONOMIA CIRCULAR

1. CONCEITO DE AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA


Antes de compreender o que é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), precisamos
relembrar que o Ciclo de Vida é o grupo que compõe todas as fases necessárias para
que um determinado produto faça sua função na cadeia de produtividade, conforme a
figura a seguir.
Figura 01. Ciclo de Vida

Fonte: elaborada pelo autor

A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) vem ao encontro da necessidade que a gestão


ambiental apresentava de compreender a cadeia produtiva em sua totalidade, de
forma sistêmica e não apenas de forma pontual. Embora não seja possível fazer
avaliações fragmentadas de atividades industriais que causam impactos ambientais
de forma ampla, é preciso analisar a redução de resíduos gerados, matérias-primas
consumidas, energia utilizadas, assim como interligar a destinação dos materiais e de
sua transformação em diversos produtos por meio de processos industriais.

Aliado às necessidades observadas anteriormente, o mercado competitivo espera que


as empresas demonstrem diferenciais em relação aos seus concorrentes. Contudo,
essas vantagens estão associadas à qualidade e aos aspectos ambientais dos produtos.
A partir dessa expectativa do mercado e as necessidades industriais de gestão, a
Avaliação de Ciclo de Vida se consolidou.

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A dinâmica competitiva do mercado globalizado impõe necessidades cada


vez mais rigorosas de qualidade e controle de produtos e processos. Neste
contexto, a análise do ciclo de vida do produto (ACV) surge como uma fer-
ramenta de controle com ampla aplicabilidade. A ACV é uma ferramenta de
análise de desempenho ambiental de sistemas de produção utilizada como
estratégia para inserção no mercado. (TAKAHASHI; MORAIS, 2000, p. 1)

Assim, a Avaliação de Ciclo de Vida pode ser compreendida como uma ferramenta do
pensamento sistêmico utilizada para gestão, na qual controla o sistema de produção,
com entradas e saídas, auxiliando na tomada de decisões. Nesse contexto, ela também
é conhecida como craddle-to-grave analysis - análise de berço a sepultura, e o recorte
a ser analisado por ser: gate to gate, gate to grave, grave to cradle - de porta a porta, de
porta ao túmulo ou do túmulo ao berço.

Logo, a ACV é utilizada por governos, indústrias, consumidores e organizações não-


governamentais. Entretanto, observa-se algumas limitações entre elas, como:
`  Possível subjetividade.

`  ICV e AICV apresentam limitações nos métodos.

`  Não é exata nos casos que existem limitações de acesso e disponibilidade dos dados.

`  Apresenta impactos potenciais, deixando de lado os aspectos econômicos e sociais.

Essa avaliação possui como objetivo saber qual é o desempenho ambiental nas
diversas etapas do ciclo de vida de produtos, identificando quais etapas impactam mais
o meio ambiente; auxiliar na tomada de decisões na indústria, em ONGs e no governo,
por meio de estratégias de planejamento; subsidiar a escolha de indicadores de
desempenho ambiental, assim como técnicas de quantificação; facilitar na comparação
entre produtos, além de auxiliar na elaboração de rótulos e declarações ambientais.
Após essa identificação, avalia-se quais seriam os custos das mudanças necessárias
para minimizar o impacto ambiental, por meio de simulações virtuais, auxiliando no
surgimento de produtos sustentáveis, chamados ecodesign.

No campo das políticas públicas, a ACV pode construir critérios e requisitos baseados
na sustentabilidade, fornecendo dados para construção de regulações ambientais e
normas. Entretanto, o Inventário de Ciclo de Vida depende de informações robustas de
um banco de dados com informações sobre todas as partes da produção.
Figura 02. Informações utilizadas no Inventário

Resíduos Fluxos de Impactos


Insumos
de produção massa e energia ambientais

Fonte: elaborada pelo autor

O Inventário de Ciclo de Vida (ICV) pode ser compreendido como uma matriz que
demonstra os sistemas de produção de um serviço ou produto, utilizando recursos
financeiros e tempo. Isso ocorre por causa da complexa rede de informações a serem
analisadas, a montante e a jusante. O processo, por sua vez, se torna menos complexo
quando o acesso às informações do banco de dados é facilitado. Nesse contexto, é

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importante salientar que aproximações e utilização de bases de dados diferentes se


fazem necessárias, pois não existe um repositório de dados de ACV que possua as
informações de um produto em determinado ciclo de vida. Logo, as informações como
a região em que o ciclo de vida ocorre é fundamental para que a ACV se torne relevante
nesse processo. Dessa forma, o ICV pode apresentar resultados diferentes para siste-
mas de produção similares, pois, temos a interferência da gestão e do local.

A ACV é reconhecida mundialmente como uma metodologia para modelagem de


sistemas de produção, pois utiliza os padrões internacionais determinados pelas normas
da International for Standardization (ISO14040 e 14044), sendo composta por quatro
fases interativas:
`  Definição do Objetivo e Escopo.

`  Análise do Inventário.

`  Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida.

`  Interpretação.

O exemplo de algumas aplicações diretas que podem ser feitas a partir da Avaliação
do Ciclo de Vida são: desenvolvimento e melhorias de produtos; marketing; auxiliar na
elaboração de políticas públicas; planejamento estratégico; fornecer informações para
auditorias; identificar os processos, insumos e sistemas que contribuam sobre os im-
pactos ambientais, entre outras.

Assim, a ACV auxilia a criar uma cultura de ciclo de vida, o que ocorre quando as em-
presas das cadeias produtivas compartilham os dados de ACV, assim como o processo
de criação dos inventários e suas respectivas interpretações. O resultado dessa cultura
estabelecida é a rapidez do processo na obtenção de resultados, sendo um esforço
coletivo que traz resultados.
SAIBA MAIS

Para saber mais sobre as normatizações que são aplicadas à Avaliação de Ciclo de
vida: NBR ISO 14040, NBR ISO 14044, ISO 14047, ISO/TR 14049 e ABNT ISO/TS
14071, veja mais detalhes no site da ABNT. Disponível em:http://www.abnt.org.br/nor-
malizacao/lista-de-publicacoes/abnt. Acesso em: 15 abr. 2021.

2. HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA


O surgimento da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) começou entre os anos 1960 e início
de 1980, período marcado pela primeira crise do petróleo. Essa crise foi incentivada por
vários fatores, entre eles, a compreensão de que esse recurso era finito, mobilizando a
população mundial para a necessidade de utilizar os meios naturais de forma sustentável
e a movimentação dos países que formavam a Organização dos Países Exportadores
de Petróleo (OPEP), para que diminuíssem o volume exportado e aumentasse o valor
dos barris. Com isso, países como os Estados Unidos, que tinham sua economia e
indústrias baseadas na utilização de combustíveis fósseis e seus derivados, passaram
por uma crise na queda da produção.

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O Brasil não ficou alheio a esse cenário mundial, na década de 1970, criou-se o
Programa Nacional do Álcool (Proálcool) em que foram definidas estratégias de médio
e longo prazo para o desenvolvimento da cadeia do etanol. O que motivou o governo
no lançamento desse programa foi o volume de importação de petróleo que o Brasil
apresentava no período. Nesse contexto, cerca de 80% de todo o petróleo consumido
pelo país era de importação, além da insegurança energética que rondava o país nesse
momento. Outro fator que auxiliou na instauração do Proálcool, refere-se ao fato de que
a indústria canavieira estava com capacidade instalada ociosa.

A partir dessa primeira crise do petróleo, tornou-se intensa a busca por novas fontes
de energia, assim como o aprimoramento dos processos já existentes para melhorar o
consumo de recursos naturais não renováveis. Nesse primeiro momento, começava a
se estruturar de forma simples o que conhecemos hoje por ACV. Nesse cenário, muitos
estudos trabalhavam em questões referentes à política de reciclagem e às embalagens
de bens de consumo, sendo que um grande foco foi para a comparação entre as
embalagens retornáveis e de uso único.

Além disso, outro marco para a ACV ocorreu em 1965, no qual a companhia americana
de bebidas Coca-Cola Company custeou um estudo que consistia em comparar as
embalagens que a empresa utilizava, a fim de identificar qual era o recipiente do ponto
de vista ambiental mais adequado para a utilização. Esse estudo foi elaborado pelo
Midwest Research Institute (MRI), sento intitulado com Resource and Environmental
Profile Analysis (REPA).

No ano de 1974 aconteceu uma melhoria no modelo REPA, em que a United States
Environmental Protection Ganecy (USEPA) pediu esse aprimoramento. A REPA serviu
de modelo base para constituir um novo procedimento de comparação dos impactos
ambientais gerados pelos produtos, no caso as embalagens. Em seguida, outros paí-
ses participaram no desenvolvimento de ideias similares, como ocorreu no Continente
Europeu, chamado de Ecobalance.

Após isso, muitos métodos foram empregados aos mesmos produtos, no entanto, os
resultados nem sempre eram semelhantes, o que trouxe para discussão a confiança
empregada a essa ferramenta. As necessidades energéticas, a geração de resíduos e
as emissões eram as principais diferenças apresentadas. Dessa forma, cada método
apresentava resultados diferentes e gerava uma batalha entre eles para determinar
qual seria o mais confiável, sendo chamada por alguns autores como a guerra dos
ACVs. Nesse período, os softwares foram estabelecidos, assim como o banco de dados
que foram comercializados, auxiliando no avanço e na disseminação da metodologia.

Para regulamentar esses métodos, a fim de encontrar critérios para serem utilizados pela
ACV, novos órgãos foram criados. Nesse contexto, destacam-se as seguintes organizações:
`  Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC), criada em 1979, nos EUA.

`  International Standardization Organization (ISO) iniciou no ano de 1993.

A International Standardization Organization (ISO) foi a responsável pela formação


de normas e regras para a gestão ambiental que tivessem aceitação internacional,

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portanto, acabando com a regra de métodos e resultados múltiplos. Pela ISO foi ins-
taurada e publicada a série de normas ISO 14000, em que fazem parte os requisitos
da ACV - ISO 14040.

Tabela 01. Normas ISO 14040 - ACV

Nº. ANO TÍTULO DA NORMA


14040: 1999 Avaliação do ciclo de vida: princípios e estruturas.
Avaliação do ciclo de vida: objetivos e escopo, definições e análise
14041: 1998
de inventários.
14042: 2000 Avaliação do ciclo de vida: avaliação de impacto de ciclo de vida.
Avaliação do ciclo de vida: informações sobre a apresentação de dados
ISO/TR 14048:2002
para um estudo de avaliação do ciclo de vida.
Avaliação do ciclo de vida: exemplos para a aplicação da norma ISO
ISO/TR 14049:2002
14041: 1998.
Fonte: elaborada pelo autor

Neste estudo, as normas ISO são fundamentais para a ACV, pois elas determinam como
deve ser feita cada uma das quatro fases da avaliação, padronizam as apresentações
de dados, definem regras gerais para a condução da ACV, assim como estabelecem os
critérios a serem utilizados para a divulgação de resultados. Nesse contexto, ela possui
o propósito de entregar às empresas uma ferramenta que auxilie na tomada de decisão,
além de avaliar outros caminhos sobre os métodos utilizados na manufatura.

Enfim, as normas da ISO são fundamentais para garantir a transparência, ética,


verificabilidade, relatórios precisos, padronização internacional, explicação da
metodologia utilizada, entre outras.

A partir da década de 1980, em alguns países, as legislações ambientais incentivaram,


principalmente na Europa, o desenvolvimento com a criação de banco de dados para
a ACV, sendo elaborado incialmente na Suécia, Alemanha e Suíça, por centro de
pesquisas universitárias, consultorias, entre outras.

Tabela 02. Banco de dados ACV

PAÍS DE ORIGEM NOME


Alemanha Ökobau.dat database.
Alemanha GaBi database.
Austrália AusLCI – The Australian Life Cycle Inventory Database Initiative
Canadá CRMD – Canadian Raw Materials Database
Canadá LCI BD-Quebec – CIRAIG Quebec LCI database
Estados Unidos Estados Unidos USLCI – U.S. Life Cycle Inventory Database
Japão IDEA – Inventory Database for Environmental Analysis
União Europeia ELCD – European Reference Life-Cycle Database
Fonte: adaptado de Silva; Mansone (2016, p. 27)

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O Brasil, por meio do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia


(IBICT), em 2016, produziu um material intitulado Análise Crítica das Principais Polí-
SAIBA MAIS

ticas de Gestão, Manutenção e Uso de Banco de dados Internacionais de inventários


do Ciclo de Vida de Produtos, estabelecendo uma avaliação detalhada de vários ban-
cos de dados, inclusive, os citados no quadro anterior.

Para saber mais, acesse o site disponível em: https://acv.ibict.br/wp-content/uplo-


ads/2016/11/dados_ciclo_de_vida_finalissima.pdf. Acesso em: 15 abr. 2021.

No ano de 2000, uma parceria ocorreu entre a SETAC e a United Environment Pro-
gramme (UNEP), onde foi criado o Life-Cicly Initiative, que possui o propósito de gerar
e compartilhar ferramentas que possuam grande praticidade para avaliar o ciclo de vida
de sistemas de produtos.

O Brasil enfrenta dificuldades na ACV que podem ser consideradas básicas, pois não
possui um banco de dados próprio; falta recursos humanos, e desenvolve pouca pes-
quisa nessa área.

Após compreender o conceito de Avaliação de Ciclo de Vida, assim como o histórico do


desenvolvimento dessa ferramenta, apresentaremos nas próximas páginas as etapas
da Metodologia ACV.

3. ETAPAS NA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA


A ACV é comporta por quatro fases ligadas interativamente entre si, conforme a figura
a seguir:

Figura 03. As fases da ACV

Definição de Análise de Inventário Avaliação de Impacto


Objetivo e Escopo de Ciclo de Vida de Ciclo de Vida

Interpretação

Fonte: elaborada pelo autor

A primeira fase é a Definição de Objetivo e Escopo, que engloba as escolhas que serão
utilizadas pela ACV durante todo o processo, sendo preciso determiná-las de forma
correta e clara.

O Objetivo deve abordar:


`  Qual será a aplicação que se espera do estudo e as razões para sua execução.

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`  Qual será o público-alvo.

`  Determinar se o estudo é comparativo.

Já no Escopo, os seguintes itens devem ser tratados:


`  Escolher o sistema de produto que será estudado.

`  Elencar quais as funções do sistema de produto.

`  Definir a unidade funcional.

`  Definir qual a fronteira que o sistema utilizará.

`  Determinar o sistema de alocação.

`  Selecionar categorias de impactos e metodologias de avaliação de impactos.

`  Quais os requisitos de dados.

`  Determinar os pressupostos e limitações.

`  Escolher o tipo de revisão crítica, se for necessário.

`  Selecionar o formato e tipo do relatório.

A segunda fase, Análise de Inventário, é composta pela coleta de dados das emissões
que são feitas em todo o ciclo produtivo e das quantidades utilizadas de matérias-pri-
mas e energia, e pelos cálculos que devem ser aplicados nas entradas e saídas do
sistema de produtos estudados. Esses cálculos, por sua vez, possuem como finalidade
quantificar cada fluxo e referenciá-lo seguindo a unidade funcional determinada na pri-
meira fase da ACV.

Nesse momento, é importante salientar que se deve respeitar o balanço de massa e


energia, a fim de que se garanta o controle do processo e da integridade. A segunda
etapa ou fase é que necessita de mais tempo, esforços e recursos, pois os dados ne-
cessários para a elaboração nem sempre são de fácil levantamento.

Nesta etapa é importante se atentar para alguns fatores, sendo eles:


`  Construir um fluxograma do sistema de produto.

`  Determinar os procedimentos de cálculo.

`  Escolher os procedimentos de alocação.

Por meio do inventario, torna-se possível a identificação no ciclo de vida do produto;


demonstrando as quantidades de materiais que circulam por meio do sistema, desde a
entrada até a saída; quais são os pontos de criação de resíduos e, por consequência,
a destinação. Esse processo possibilita encontrar quais são os pontos onde ocorre a
maior perda de matéria-prima ou a produção de resíduos.

A terceira fase é a Avaliação de Impacto de Ciclo de Vida. Essa etapa apresenta como
objetivo fundamental entender os impactos ambientais potenciais de um sistema de

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produto. Para buscar essa compreensão, deve-se utilizar os dados que foram compila-
dos no ICV. Desse modo, por meio da avaliação, procura-se determinar qual a gravida-
de dos impactos sobre o meio ambiente utilizando três etapas: classificação, caracteri-
zação e a valoração.

De forma geral, as categorias agrupadas na classificação são o esgotamento de re-


cursos, os impactos ecológicos e a saúde humana. A caracterização é quantificada e o
impacto que ocorre em cada categoria, utilizando para isso dados biológicos, químicos,
toxicológicos e físicos que estão associados aos impactos potenciais. Por fim, a valo-
ração é feita na abordagem da importância dos resultados apresentados na avaliação
dos impactos ambientais.

Como você pôde observar, muitos métodos já foram criados para a prática dessa ava-
liação, porém, é necessário se atentar em como está a transparência dos pressupostos
determinados, considerar aspectos como a subjetividade, impactos e diferenças de in-
dicadores nas análises.

A seguir, listamos alguns elementos imprescindíveis nessa fase:


`  Admitir quais as categorias de impacto, modelos de caracterização e indicadores.

`  Classificar os resultados do ICV, fazendo relançar com as categorias de impacto.

`  Executar os cálculos de caracterização.

A amplitude dos resultados, entre eles o grau de comunicabilidade e o grau de subjeti-


vidade, estão relacionados com os fatores opcionais aplicados no estudo. Já os fatores
opcionais da AICV são determinados pelo agrupamento, ponderação ou normalização.

A última fase, Interpretação, deve ser analisada pelas constatações das fases dois e
três em conjunto, para que os dados apresentados pelo Inventário e pela Avaliação de
Impacto possam ser traduzidos em conclusões e, assim, possa sugerir recomendações.

Desse modo, as interpretações devem estar alinhadas com as definições que foram feitas
logo na primeira fase, e, de forma crítica, deve-se analisar a qualidade dos dados do ICV,
as limitações e as subjetividades relacionadas. Contudo, a interpretação é um processo
de idas e vindas, revisitando pressupostos e definições iniciais, analisando a natureza e a
qualidade dos dados utilizados, de forma consistente com as diretrizes propostas.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR

Está na hora de pensar na aplicação da ACV. Esse estudo de caso se trata da ne-
cessidade de construir uma estratégia que aumentasse o desempenho de fraldas,
tornando-as menos impactantes ao meio ambiente, considerando todo o ciclo de vida.
Para isso, fraldas de tecidos e descartáveis foram comprados.

No ciclo de vida das fraldas de tecido, considera-se os seguintes recursos: o algodão


(para sua produção, utiliza-se fertilizantes químicos e pesticidas, extração e transporte
de água, energia para colheitadeiras, e o solo, que sofre erosão). Durante sua utiliza-
ção, há dispêndio de água e energia nas lavagens e uso de produtos de limpeza, que
em sua maioria não são biodegradáveis. As fraldas de tecido são reutilizáveis por pelo
menos 75 vezes e seu descarte pode ser em aterro sanitário ou incinerador.

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Para a fabricação das fraldas descartáveis são utilizados recursos como água, ener-
gia, branqueadores, celulose e plástico. A sua utilização não gera resíduos, pois, não
há necessidade de lavagem, porém, sua disposição final acarreta em grandes quan-
tidades de resíduos sólidos, persistência desses resíduos no ambiente por um longo
período de tempo e possível contaminação do solo.

A tabela a seguir mostra a comparação entre as duas fraldas.


Tabela 03. Comparação das fraldas de pano x descartáveis

FATOR
IMPACTO POR FRALDAS FRALDAS
DE
CRIANÇA POR ANO DE PANO DESCARTÁVEIS
DIFERENÇA
Energia necessária 2532 MJ 8900 MJ 3.5 x
Efluentes gerados 12,4 m³ 28 m³ 2.3 x
Matéria-prima não renovável 25 kg 208 kg 8,3 x
Matéria-prima renovável 4 kg 361 kg 90 x
Resíduos sólidos 4 kg 240 kg 60 x
Fonte: Assis (2009, p. 51)

A partir da comparação estabelecida nessa tabela, conclua a fase de interpretação da


Avaliação do Ciclo de Vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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