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TECNOLOGIA EM
MEIO AMBIENTE
UNIDADE 8
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Avaliação de Ciclo de Vida: Economia Circular U8
Assim, a Avaliação de Ciclo de Vida pode ser compreendida como uma ferramenta do
pensamento sistêmico utilizada para gestão, na qual controla o sistema de produção,
com entradas e saídas, auxiliando na tomada de decisões. Nesse contexto, ela também
é conhecida como craddle-to-grave analysis - análise de berço a sepultura, e o recorte
a ser analisado por ser: gate to gate, gate to grave, grave to cradle - de porta a porta, de
porta ao túmulo ou do túmulo ao berço.
` Não é exata nos casos que existem limitações de acesso e disponibilidade dos dados.
Essa avaliação possui como objetivo saber qual é o desempenho ambiental nas
diversas etapas do ciclo de vida de produtos, identificando quais etapas impactam mais
o meio ambiente; auxiliar na tomada de decisões na indústria, em ONGs e no governo,
por meio de estratégias de planejamento; subsidiar a escolha de indicadores de
desempenho ambiental, assim como técnicas de quantificação; facilitar na comparação
entre produtos, além de auxiliar na elaboração de rótulos e declarações ambientais.
Após essa identificação, avalia-se quais seriam os custos das mudanças necessárias
para minimizar o impacto ambiental, por meio de simulações virtuais, auxiliando no
surgimento de produtos sustentáveis, chamados ecodesign.
No campo das políticas públicas, a ACV pode construir critérios e requisitos baseados
na sustentabilidade, fornecendo dados para construção de regulações ambientais e
normas. Entretanto, o Inventário de Ciclo de Vida depende de informações robustas de
um banco de dados com informações sobre todas as partes da produção.
Figura 02. Informações utilizadas no Inventário
O Inventário de Ciclo de Vida (ICV) pode ser compreendido como uma matriz que
demonstra os sistemas de produção de um serviço ou produto, utilizando recursos
financeiros e tempo. Isso ocorre por causa da complexa rede de informações a serem
analisadas, a montante e a jusante. O processo, por sua vez, se torna menos complexo
quando o acesso às informações do banco de dados é facilitado. Nesse contexto, é
` Análise do Inventário.
` Interpretação.
O exemplo de algumas aplicações diretas que podem ser feitas a partir da Avaliação
do Ciclo de Vida são: desenvolvimento e melhorias de produtos; marketing; auxiliar na
elaboração de políticas públicas; planejamento estratégico; fornecer informações para
auditorias; identificar os processos, insumos e sistemas que contribuam sobre os im-
pactos ambientais, entre outras.
Assim, a ACV auxilia a criar uma cultura de ciclo de vida, o que ocorre quando as em-
presas das cadeias produtivas compartilham os dados de ACV, assim como o processo
de criação dos inventários e suas respectivas interpretações. O resultado dessa cultura
estabelecida é a rapidez do processo na obtenção de resultados, sendo um esforço
coletivo que traz resultados.
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre as normatizações que são aplicadas à Avaliação de Ciclo de
vida: NBR ISO 14040, NBR ISO 14044, ISO 14047, ISO/TR 14049 e ABNT ISO/TS
14071, veja mais detalhes no site da ABNT. Disponível em:http://www.abnt.org.br/nor-
malizacao/lista-de-publicacoes/abnt. Acesso em: 15 abr. 2021.
O Brasil não ficou alheio a esse cenário mundial, na década de 1970, criou-se o
Programa Nacional do Álcool (Proálcool) em que foram definidas estratégias de médio
e longo prazo para o desenvolvimento da cadeia do etanol. O que motivou o governo
no lançamento desse programa foi o volume de importação de petróleo que o Brasil
apresentava no período. Nesse contexto, cerca de 80% de todo o petróleo consumido
pelo país era de importação, além da insegurança energética que rondava o país nesse
momento. Outro fator que auxiliou na instauração do Proálcool, refere-se ao fato de que
a indústria canavieira estava com capacidade instalada ociosa.
A partir dessa primeira crise do petróleo, tornou-se intensa a busca por novas fontes
de energia, assim como o aprimoramento dos processos já existentes para melhorar o
consumo de recursos naturais não renováveis. Nesse primeiro momento, começava a
se estruturar de forma simples o que conhecemos hoje por ACV. Nesse cenário, muitos
estudos trabalhavam em questões referentes à política de reciclagem e às embalagens
de bens de consumo, sendo que um grande foco foi para a comparação entre as
embalagens retornáveis e de uso único.
Além disso, outro marco para a ACV ocorreu em 1965, no qual a companhia americana
de bebidas Coca-Cola Company custeou um estudo que consistia em comparar as
embalagens que a empresa utilizava, a fim de identificar qual era o recipiente do ponto
de vista ambiental mais adequado para a utilização. Esse estudo foi elaborado pelo
Midwest Research Institute (MRI), sento intitulado com Resource and Environmental
Profile Analysis (REPA).
No ano de 1974 aconteceu uma melhoria no modelo REPA, em que a United States
Environmental Protection Ganecy (USEPA) pediu esse aprimoramento. A REPA serviu
de modelo base para constituir um novo procedimento de comparação dos impactos
ambientais gerados pelos produtos, no caso as embalagens. Em seguida, outros paí-
ses participaram no desenvolvimento de ideias similares, como ocorreu no Continente
Europeu, chamado de Ecobalance.
Após isso, muitos métodos foram empregados aos mesmos produtos, no entanto, os
resultados nem sempre eram semelhantes, o que trouxe para discussão a confiança
empregada a essa ferramenta. As necessidades energéticas, a geração de resíduos e
as emissões eram as principais diferenças apresentadas. Dessa forma, cada método
apresentava resultados diferentes e gerava uma batalha entre eles para determinar
qual seria o mais confiável, sendo chamada por alguns autores como a guerra dos
ACVs. Nesse período, os softwares foram estabelecidos, assim como o banco de dados
que foram comercializados, auxiliando no avanço e na disseminação da metodologia.
Para regulamentar esses métodos, a fim de encontrar critérios para serem utilizados pela
ACV, novos órgãos foram criados. Nesse contexto, destacam-se as seguintes organizações:
` Society for Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC), criada em 1979, nos EUA.
portanto, acabando com a regra de métodos e resultados múltiplos. Pela ISO foi ins-
taurada e publicada a série de normas ISO 14000, em que fazem parte os requisitos
da ACV - ISO 14040.
Neste estudo, as normas ISO são fundamentais para a ACV, pois elas determinam como
deve ser feita cada uma das quatro fases da avaliação, padronizam as apresentações
de dados, definem regras gerais para a condução da ACV, assim como estabelecem os
critérios a serem utilizados para a divulgação de resultados. Nesse contexto, ela possui
o propósito de entregar às empresas uma ferramenta que auxilie na tomada de decisão,
além de avaliar outros caminhos sobre os métodos utilizados na manufatura.
No ano de 2000, uma parceria ocorreu entre a SETAC e a United Environment Pro-
gramme (UNEP), onde foi criado o Life-Cicly Initiative, que possui o propósito de gerar
e compartilhar ferramentas que possuam grande praticidade para avaliar o ciclo de vida
de sistemas de produtos.
O Brasil enfrenta dificuldades na ACV que podem ser consideradas básicas, pois não
possui um banco de dados próprio; falta recursos humanos, e desenvolve pouca pes-
quisa nessa área.
Interpretação
A primeira fase é a Definição de Objetivo e Escopo, que engloba as escolhas que serão
utilizadas pela ACV durante todo o processo, sendo preciso determiná-las de forma
correta e clara.
A segunda fase, Análise de Inventário, é composta pela coleta de dados das emissões
que são feitas em todo o ciclo produtivo e das quantidades utilizadas de matérias-pri-
mas e energia, e pelos cálculos que devem ser aplicados nas entradas e saídas do
sistema de produtos estudados. Esses cálculos, por sua vez, possuem como finalidade
quantificar cada fluxo e referenciá-lo seguindo a unidade funcional determinada na pri-
meira fase da ACV.
A terceira fase é a Avaliação de Impacto de Ciclo de Vida. Essa etapa apresenta como
objetivo fundamental entender os impactos ambientais potenciais de um sistema de
produto. Para buscar essa compreensão, deve-se utilizar os dados que foram compila-
dos no ICV. Desse modo, por meio da avaliação, procura-se determinar qual a gravida-
de dos impactos sobre o meio ambiente utilizando três etapas: classificação, caracteri-
zação e a valoração.
Como você pôde observar, muitos métodos já foram criados para a prática dessa ava-
liação, porém, é necessário se atentar em como está a transparência dos pressupostos
determinados, considerar aspectos como a subjetividade, impactos e diferenças de in-
dicadores nas análises.
A última fase, Interpretação, deve ser analisada pelas constatações das fases dois e
três em conjunto, para que os dados apresentados pelo Inventário e pela Avaliação de
Impacto possam ser traduzidos em conclusões e, assim, possa sugerir recomendações.
Desse modo, as interpretações devem estar alinhadas com as definições que foram feitas
logo na primeira fase, e, de forma crítica, deve-se analisar a qualidade dos dados do ICV,
as limitações e as subjetividades relacionadas. Contudo, a interpretação é um processo
de idas e vindas, revisitando pressupostos e definições iniciais, analisando a natureza e a
qualidade dos dados utilizados, de forma consistente com as diretrizes propostas.
ATIVIDADE COMPLEMENTAR
Está na hora de pensar na aplicação da ACV. Esse estudo de caso se trata da ne-
cessidade de construir uma estratégia que aumentasse o desempenho de fraldas,
tornando-as menos impactantes ao meio ambiente, considerando todo o ciclo de vida.
Para isso, fraldas de tecidos e descartáveis foram comprados.
Para a fabricação das fraldas descartáveis são utilizados recursos como água, ener-
gia, branqueadores, celulose e plástico. A sua utilização não gera resíduos, pois, não
há necessidade de lavagem, porém, sua disposição final acarreta em grandes quan-
tidades de resíduos sólidos, persistência desses resíduos no ambiente por um longo
período de tempo e possível contaminação do solo.
FATOR
IMPACTO POR FRALDAS FRALDAS
DE
CRIANÇA POR ANO DE PANO DESCARTÁVEIS
DIFERENÇA
Energia necessária 2532 MJ 8900 MJ 3.5 x
Efluentes gerados 12,4 m³ 28 m³ 2.3 x
Matéria-prima não renovável 25 kg 208 kg 8,3 x
Matéria-prima renovável 4 kg 361 kg 90 x
Resíduos sólidos 4 kg 240 kg 60 x
Fonte: Assis (2009, p. 51)
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