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Parecer CDRN

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Notícias

Gerardo Saraiva de Menezes


Presidente do Conselho Destaque
Directivo da Região Norte

40 Vida Associativa

Qualificar para responsabilizar Engenharia no Mundo 41


A temática da segurança, nomeadamente a da segurança e saúde no
trabalho, continua a ser preocupação primeira dos engenheiros e da 42 Perfil Jovem

sua Ordem. Este número da INFO é dedicado a este tema, surgindo


na sequência do 8.º Congresso Internacional de Segurança e Saúde,
que a Ordem dos Engenheiros – Região Norte, juntamente com a
Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e a Associação 46 44 Lazer

Disciplina
Portuguesa de Segurança e Higiene do Trabalho (APSET), levou a
cabo, com reconhecido sucesso, no passado mês de Julho. Mais Agenda
uma vez o mercado honrou a organização com uma participação
massiva, confirmando este congresso como o momento de eleição
para a melhor aprendizagem e confronto de experiências entre os
profissionais do sector.
Sendo muito importante a visão da segurança na perspectiva das
condições do trabalho, importa, porém, que não se perca de vista
que esta é apenas uma das componentes do objectivo geral de 12 34 40
segurança ou, melhor dizendo, do objectivo geral de qualidade que
deve exigir-se da intervenção de quem programa, concebe, produz,
explora, mantém e/ou desconstrói qualquer obra ou sistema de
Engenharia.
A recente e infeliz sucessão de acidentes – de trabalho, mas não só
– a que assistimos reavivou o debate não apenas sobre segurança e
Ficha Técnica
saúde no trabalho, mas também sobre a segurança em geral. A
derrocada que em Braga provocou a morte a três operários foi Propriedade: Ordem dos Engenheiros – Região Norte.
Director: Luís Ramos (director.info@oern.pt).
naturalmente catalogada como acidente de trabalho, mas assim não Conselho Editorial: Gerardo Saraiva de Menezes, Maria Teresa Ponce de Leão,
teria sido se as vítimas tivessem sido estranhas à obra – Fernando de Almeida Santos, Carlos Pedro Castro Fernandes Alves, António
Machado e Moura, Joaquim Ferreira Guedes, António Acácio Matos de
utilizadores dos prédios vizinhos ou transeuntes –, o que bem Almeida, Carlos Brito, Luís Guimarães Almeida, Carlos Neves, Francisco
podia ter acontecido. Por outro lado e por exemplo, repetidos Antunes Malcata, Pedro Jorge da Silva Guimarães, Vítor Manuel Lopes Correia,
Carlos Vaz Ribeiro, Fernando Junqueira Martins, Luís Martins Marinheiro, Luís
episódios de descargas ilegais de efluentes tóxicos para rios e Pizarro, Luís Machado Macedo, António Rodrigues da Cruz, Amílcar Lousada.
ribeiras colocam também a questão da segurança e da Redacção: Susana Branco (edição), Paula Cardoso Almeida e Sónia Resende.
Paginação: Paulo Raimundo.
responsabilidade sobre a direcção técnica do licenciamento e Imagens: Arquivo QuidNovi, Getty Images.
exploração das unidades industriais. Grafismo, Pré-impressão e Impressão: QuidNovi.
Praceta D. Nuno Álvares Pereira, 20 4.º DQ – 4450-218 Matosinhos. Tel.229 388 155.
Bem se vê que a questão não se reduz ao domínio da Engenharia www.quidnovi.pt. quidnovi@quidnovi.pt
Civil, tradicionalmente mais regulado, pois que em todas as Publicação trimestral: Jul/Ago/Set – n.º 16/2008. Preço: 2,00 euros. Tiragem: 12 500
exemplares. ICS: 113324. Depósito legal: 29 299/89.
vertentes da Engenharia se identificam facilmente intervenções que Sede: Rua de Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto.
Tel. 222 071 300. Fax.222 002 876. http://norte.ordemdosengenheiros.pt
pela sua complexidade técnica, pelo risco elevado ou por possuírem Delegação de Braga: Largo de S. Paulo, 13 – 4700-042 Braga.
especial interesse económico e/ou social, deveriam requerer Tel. 253 269 080. Fax. 253 269 114.
Delegação de Bragança: Av. Sá Carneiro, 155/1.º/Fracção AL. Edifício Celas
condições especiais a quem nelas pode intervir e impor um controlo – 5300-252 Bragança. Tel. 273 333 808.
exigente, formal e público dessa intervenção. Delegação de Viana do Castelo: Av. Luís de Camões, 28/1.º/sala 1
– 4900-473 Viana do Castelo. Tel. 258 823 522.
A concepção e controlo da produção industrial, incluindo a gestão Delegação de Vila Real: Av. 1.º de Maio, 74/1º dir.
dos seus resíduos e efluentes, a fiabilidade dos sistemas – 5000-651 Vila Real. Tel. 259 378 473.
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informáticos vitais, a segurança dos produtos condição única, mas é seguramente condição
alimentares, a fiabilidade dos sistemas de transporte indispensável à garantia de padrões de eficiência
individuais ou colectivos, a utilização de produtos apropriados e à salvaguarda da segurança intrínseca de
químicos na produção agrícola, a fiabilidade dos qualquer sistema ou de quem participa na sua produção
equipamentos ou das instalações electromecânicas em ou por esta possa ser afectado.
geral ou a correcta administração e utilização dos Esta orientação para a qualidade é um desafio que a
recursos naturais são simples e rápidos exemplos de todos deve mobilizar:
áreas de intervenção com risco intrínseco considerável, • Ao Estado e seus governantes, bem como às
quase sempre com forte impacto na vida pessoal e instituições de ensino, de quem se reclama o controlo
colectiva, que nos devem levar a reflectir sobre o que e a promoção de um ensino de qualidade que a par do
se tem feito para que os requisitos exigíveis a quem as conhecimento treine para a responsabilidade;
promove ou nelas tem participação técnica relevante • Ao Legislador, a quem se exige desde logo coerência e
sejam o espelho do padrão geral da qualidade e, claro clareza na definição dos requisitos e das
está, da segurança, expectável para estas acções. responsabilidades associadas às intervenções de risco
É precisamente esta preocupação com a qualidade das ou de especial relevância económica ou social, mas
intervenções, premissa iniludível da segurança dos também o discernimento de requerer competência para
sistemas, e com a defesa do interesse colectivo, que poder reclamar responsabilidade;
tem norteado a intervenção da Ordem dos Engenheiros • À Ordem dos Engenheiros, de quem se espera
no sentido de sensibilizar o legislador para a continuado empenhamento no apoio à estruturação da
necessidade de definir para a intervenção técnica, mas formação de base mais adequada ao desenvolvimento
não só, em matérias e sistemas de interesse público, do mercado, no estímulo à qualificação dos seus
um enquadramento legal inequivocamente orientado membros, na promoção e defesa da melhor prática
para a exigência de maiores competências técnicas, profissional, na clarificação dos actos de Engenharia e
naturalmente adaptadas à natureza da intervenção, e dos requisitos para o seu exercício e na
para a clarificação de quem é quem e de quem faz o regulamentação e normalização desses actos, com
quê nestes processos. particular atenção àqueles que, por opção ou por
Sendo evidentemente muitos e diversos os eventos laxismo, o Legislador tarda em tratar;
externos e internos que podem levar um sistema à • A todos nós, os engenheiros, de quem se espera um
ineficiência ou ao acidente, é inegável que a melhor e exercício profissional responsável.
primeira política de prevenção é a exigência de Uma acção concertada entre todos os interessados
qualificação aos técnicos chamados a intervir. seria com certeza a melhor via para a construção de
Subestimar, esbater ou mesmo ignorar exigências de um modelo de intervenção mais adequado ao interesse
competência a quem pode responsabilizar-se pela da sociedade, todavia, visões distintas ou a simples
concepção ou condução técnica das diferentes fases do falta delas têm impedido a concretização de tal
ciclo de vida de um sistema é inevitavelmente um desiderato. Em todo o caso, esta especial dificuldade
primeiro e dramático passo no sentido da de articulação não exime cada parte das suas
sobreexposição à ineficiência e por conseguinte ao obrigações e responsabilidades.
risco. Ao invés, pugnar pela correcta e inequívoca Apenas e só quando interiorizarmos que o problema é
identificação dos actos que requerem confiança pública, de todos, e não apenas dos outros, seremos capazes
pugnar pela especificação de qualificação técnica de olhar com outros olhos para as derrocadas que nos
especial a quem pode intervir e responsabilizar-se por assolam, substituindo a tentação da rápida atribuição
esses actos, pugnar pela regulamentação destas de responsabilidade aos outros por uma reflexão
profissões e pugnar por um sistema de ensino exigente, cuidada, afinal a única que nos permitirá transformar
capaz de dotar o mercado de profissionais competentes os erros e/ou as desgraças em oportunidades de
e por isso responsáveis e responsabilizáveis não será melhoria.
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Adolfo Roque
Adolfo Roque faleceu no passado dia 22 de Porto – desde a época de 1983/84. O seu
Setembro, aos 73 anos, vítima de doença carácter multifacetado e o seu espírito aberto
prolongada. O homem da Revigrés levaram-no ainda a incentivar a criatividade no
(reconhecida fábrica de revestimentos e design – promovendo concursos com os
pavimentos), como era conhecido, foi melhores artistas, como Júlio Resende – e a
pioneiro em vários sectores e um modelo de escolher Siza Vieira para projectar o Edifício
empreendedorismo. A actividade de provedor Comercial da Revigrés e Tomás Taveira para o
da Misericórdia de Águeda, a ligação Centro Cívico do Barrô.
institucional ao Futebol Clube do Porto, como O sucesso nos negócios de Adolfo Roque foi
presidente do Conselho Fiscal, e a fundação proporcional ao seu altruísmo com aplicações
da Exponor, durante a direcção da AIP, são práticas, por exemplo, na fundação dos
alguns exemplos do dinamismo deste bombeiros e o Conservatório de Águeda e no
engenheiro de Minas nascido na aldeia de financiamento de inúmeras obras públicas na
Barrô, no concelho de Águeda. Com uma forte aldeia onde nasceu e na Universidade de Coimbra.
personalidade, o presidente da Associação Regional do Contributos que lhe valeram o reconhecimento e a distinção
Centro da Ordem dos Engenheiros concluiu o secundário como empresário por parte de várias instituições e algumas
em Coimbra e licenciou-se na Universidade do Porto em condecorações presidenciais.
Engenharia de Minas, em 1958. Dez anos depois voltaria à A grande visão profissional, aliada a uma constante
mesma universidade para frequentar os primeiros dois anos preocupação social, contrasta com os seus prazeres
do curso de Economia, tendo mesmo investido na Bolsa simples: gostava de ler e de viajar ou de assistir a concertos
com sucesso. Entre 1962 e 1968, e depois de uma breve ao vivo. Mas um outro hobby tornaria mais uma vez
passagem por uma fábrica de cerâmica, ingressou na famoso Adolfo Roque. O gosto por coleccionar saca-rolhas
Companhia de Diamantes de Angola onde exerceu vários tornou-o num exclusivo membro português do International
cargos técnicos e de gestão. De regresso a Portugal com o Correspondence of Corkscrew Addicts – um clube
intuito de ser empresário, Adolfo Roque trabalhou ainda na internacional único que integra uma lista de 50 sócios de
direcção da Dyrup. Mas foi na sua terra natal que a sua diversas nacionalidades.
ambição ganhou forma com a fundação, em 1977, da Pelo homem – de ideias fortes e gostos humildes – e pelo
Revigrés. O êxito da fábrica levou-o a fundar e a ser profissional – figura indelével do meio económico e socio-
accionista do BCP e da Companhia de Seguros Global. -cultural português – a Região Norte da Ordem dos
Adolfo Roque foi ainda pioneiro no patrocínio empresarial a Engenheiros expressa aqui as sentidas condolências à
uma equipa da 1ª Divisão de futebol – o Futebol Clube do família e aos colegas da Região Centro.
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Responsabilidade técnica
na condução de obras
Por solicitação do Ministério Público de uma das normas legais e regulamentares aplicáveis, mormente as
comarcas desta região, o Conselho Directivo Regional, disposições administrativas e técnicas associadas ao
ouvido o Conselho Regional Norte do Colégio de processo de licenciamento da construção e da utilização e
Engenharia Civil, deliberou, na sua reunião de 13 de Maio as disposições técnicas imperativas em matéria de
de 2008, emitir um parecer do qual se dá público responsabilidade pela elaboração de projectos e
conhecimento atento o interesse geral das questões a que definição das suas alterações, que a obra se encontra
responde: concluída em conformidade com a utilização prevista no
alvará de licença e, também, verificar, validar e registar
1. Definições todos os factos relevantes da execução da obra, mormente
Por engenheiro responsável pela obra, para além do que datas de início e fim da obra, factos que originem
aos projectistas diz respeito, pode entender-se uma de paragens ou suspensões da obra e alterações ao projecto
três hipóteses: licenciado.
Atentas as funções de fiscal, em especial de fiscal de
1.1. Director da obra – engenheiro habilitado e integrado matérias de evidente interesse público, entende este
no quadro de pessoal e no quadro técnico da empresa de Conselho Directivo que, à semelhança do que se passa
construção responsável pela execução da obra, titular de com a Coordenação de Segurança no regime de Segurança
alvará, nos termos e para os efeitos do Decreto-Lei n.º e Higiene no Trabalho na Construção, esta função não
12/2004, de 9 de Janeiro, e da Portaria n.º 16/2004, de 10 deve ser exercida por técnico ao serviço do empreiteiro,
de Janeiro, a quem incumbe assumir a direcção efectiva devendo isso sim ser assumida por técnico independente,
do estaleiro, assegurando a execução da obra em ou ao serviço do dono de obra, devidamente habilitado.
conformidade com o contrato, estabelecendo, por si só ou
integrado no sistema de decisão da empresa, as 2. Questões
metodologias e abordagem dos trabalhos, o seu
planeamento temporal e económico, a gestão dos 2.1. É possível que durante a execução de uma obra de
recursos necessários, incluindo os recursos humanos construção civil se efectue a mudança do engenheiro
(corresponde ao “director técnico de empreitada” previsto responsável pela mesma?
no regime da contratação pública); Sim; situação aliás prevista no n.º 9 do artigo 9º do
Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro (Regime
1.2. Engenheiro fiscal – engenheiro habilitado, designado Jurídico da Urbanização e Edificação ou RJUE), que
pelo dono de obra, a quem compete, pelo menos, estabelece que “a substituição do requerente ou
fiscalizar a execução da obra e a actividade do empreiteiro, comunicante, do responsável por qualquer dos projectos
assegurando ao dono de obra a conformidade da obra apresentados ou do director técnico da obra deve ser
executada com o contratualmente estabelecido; comunicada ao gestor do procedimento para que este
proceda ao respectivo averbamento no prazo de 15 dias a
1.3. Director técnico da obra – engenheiro habilitado, contar da data da substituição”.
designado pelo dono da obra (cf. n.º 1 do art.º 76º do Esta possibilidade de substituição aplica-se a qualquer um
RJUE, conjugado com a alínea c) do n.º 1 do art.º 3º da dos casos identificados em 1.
portaria n.º 1105/2001 de 18 de Setembro), a quem
incumbe certificar que a obra foi executada de acordo com 2.2. Qual deverá ser o procedimento a adoptar para se
o projecto aprovado, que a obra foi executada de acordo operar a mudança do engenheiro responsável?
com as condições do licenciamento, que as alterações O procedimento a adoptar para se operar a mudança
efectuadas ao projecto estão em conformidade com as diferirá consoante o caso:
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i. se a substituição se refere ao director da obra (cf. 1.1.), sem 2.3. Quais as consequências para o não cumprimento
prejuízo da nota no final da resposta a esta questão, o do procedimento de substituição?
procedimento desenrola-se apenas no âmbito das relações Quanto às consequências do incumprimento do
entre o dono de obra e o empreiteiro, devendo seguir o que disposto naquele n.º 9 do artigo 9º do RJUE, a primeira
estiver contratualmente estabelecido entre as partes; será de âmbito administrativo, uma vez que, por força
do disposto na alínea o) do n.º 1 e no n.º 7 do artigo
ii. se a substituição for a do engenheiro fiscal (cf. 1.2.), com a 98º do RJUE, a falta do requerimento a solicitar à Câmara
mesma ressalva, tratar-se-á de uma decisão da exclusiva municipal o averbamento da substituição do autor
competência do dono de obra; do projecto ou do director técnico de obra origina
uma contra-ordenação, punível com coima graduada
iii. já no caso da substituição ser a do director técnico de obra de € 100,00 a € 2500,00, no caso de pessoa singular, ou
(cf. 1.3.), precisamente por estar em causa o exercício de de € 1.000,00 até € 10.000,00, no caso de pessoa
funções de fiscal em matérias que interessam à Administração colectiva.
(respeito pelo projecto aprovado, cumprimento das condições Uma segunda consequência do incumprimento dos
do licenciamento, alterações efectuadas ao projecto em procedimentos acima descritos poderá ser a prática de
conformidade com as normas legais e regulamentares uma infracção disciplinar por parte do engenheiro
aplicáveis, obra concluída em conformidade com a utilização substituto, caso viole culposamente a norma do n.º 5 do
prevista no alvará de licença, etc.), entendemos que esta artigo 89º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, nos
substituição deve passar pelo envio, pelo dono de obra, de um termos da qual “um engenheiro deve recusar substituir
requerimento de substituição ao presidente da Câmara outro engenheiro, só o fazendo quando as razões dessa
Municipal competente, justificando a necessidade da substituição forem correctas e dando ao colega a
substituição, anexando o termo de responsabilidade do novo necessária satisfação”.
técnico e fazendo prova de que este obteve o acordo do Por último, deverá ser apreciado se, num caso concreto, a
engenheiro substituído (n.º 5 do art.º 89º do estatuto da Ordem substituição feita sem o consentimento do engenheiro
dos Engenheiros). A obrigação do engenheiro substituto dar a substituído teve como objectivo ou foi uma acção
devida satisfação ao colega substituído, assegurando-se de que necessária para produzir um certo resultado típico que
as razões da substituição são correctas, imposta pelo n.º 5 do preencha um tipo legal de crime, caso em que a conduta
artigo 89º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, deve do engenheiro substituto poderá ter, também,
aplicar-se a qualquer dos casos de substituição. consequências criminais.
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Apresentação do novo Na opinião de Luís Macedo, o novo Neste âmbito, a nova legislação altera os
código "está a ser posto em prática limites quantitativos dos trabalhos a
Código de Contratos muito rapidamente", o que deverá mais e obriga a que a correcção de erros
Públicos originar "muitas dificuldades" até e omissões do projecto seja feita na fase
porque "não há ainda um conhecimento de formação do contrato e não na fase
de todos os conceitos". Além disso, de execução. Carlos Batalhão reconhece
O novo Código de Contratos Públicos critica ainda o delegado de Braga da a importância destas transformações,
(CCP) vai aumentar a transparência dos Ordem dos Engenheiros, "não há mas está convicto de que a "tentativa de
contratos públicos, empreitadas e arrumação no código, o que obriga o controlo de custos terá uma eficácia
fornecimentos. Esta é a maior certeza utilizador a percorrer todas as partes prática muito reduzida".
dos engenheiros. para se elucidar sobre um único O CCP – que entrou em vigor a 30 de
Nos seminários dedicados a este tema, aspecto". Julho – reúne, num só texto, as normas
que decorreram em Braga, em Junho, as Carlos Batalhão foi mais duro nas antes repartidas por três directivas e
dúvidas eram mais do que muitas, até críticas e afirmou que o CCP "deixa estabelece "tanto a disciplina aplicável
porque se trata de um diploma muito a desejar", sendo que "às vezes à contratação pública como o regime
"extenso" e "complexo". Por isso, o não se percebe muito bem o que o substantivo dos contratos públicos que
principal objectivo dos encontros foi legislador pretende". Este advogado revistam a natureza de contrato
mesmo estudar as novas directivas e mostra-se muito céptico em relação à administrativo". Assim, a parte II
chamar a atenção dos engenheiros para aplicação do diploma, sobretudo no que refere-se à formação dos contratos
as diferenças em relação à legislação concerne às derrapagens nas públicos, enquanto a parte III é
anterior. empreitadas de obras públicas. aplicável aos contratos que revistam a
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natureza de contrato administrativo. Fórum por um Norte comuns e transversais a todas as


Alterando muitas das regras da ordens", explicou Manuela Dias,
legislação anterior, o novo código mais forte membro da comissão organizadora do
responde "à exigência de simplificação, FORNOP e da secção regional Norte da
modernização e clareza, formuladas A Ordem dos Engenheiros "saltou Ordem dos Médicos, auspiciando um
tanto por entidades adjudicantes como para a rua" e assumiu as suas "trajecto longo" para a recém-nascida
por operadores económicos", afirma responsabilidades sociais ao associar-se instituição.
Isabel Fonseca, professora da Escola de às suas congéneres para criar o Fórum De resto, um dos objectivos para os
Direito da Universidade do Minho. Regional Norte das Ordens Profissionais próximos tempos é, de acordo com
Na verdade, "vem aumentar a (FORNOP) e desempenhar, assim, um Fontes de Carvalho, "manter o cordão de
transparência, que é uma exigência papel interventivo na região. solidariedade que une todas as ordens",
quase obsessiva da União Europeia", A primeira iniciativa pública do fórum agitando ao mesmo tempo a "massa
acrescenta Luís Macedo, lembrando que aconteceu em Setembro. Tratou-se de crítica do Norte do país". Aliás, para o
os engenheiros vão ser obrigados, "com uma palestra subordinada ao tema primeiro Bastonário da Ordem dos
ou sem vontade, a cumprir as exigências "Século XXI – Desafio para as Ordens Médicos Dentistas a "perda de
comunitárias". Também Cláudia Viana, Profissionais", que decorreu na secção importância da cidade do Porto é
outra das oradoras, acredita que vai regional da Ordem dos Médicos, e onde acentuada e preocupante".
passar a haver "uma maior clareza na se debateu a situação do Porto no No fundo, a expectativa das ordens
adjudicação e na escolha do contexto nacional. profissionais envolvidas é que esta região
co-contratante". Este fórum representa cerca de 50 mil se transforme numa referência a nível
Já para Isabel Fonseca, um dos aspectos profissionais e assume-se como um nacional e europeu. De resto, de acordo
mais importantes das novas directivas "espaço de reflexão sobre vários temas com José Manuel Moreira, docente da
"prende-se com a modernização e a
necessidade de introduzir novas
realidades, como a e.contratação, que
pressupõe o acolhimento das vias
electrónicas, a redução de prazos para
as fases do procedimento e a
desmaterialização dos procedimentos
contratuais; novos mecanismos,
incluindo procedimentos pré-contratuais
de escolha dos contratantes e
mecanismos de difusão electrónica de
anúncios e outras informações".
Sobre a mesma temática, a Região
Norte da Ordem dos Engenheiros, em
parceria com a Região Centro da Ordem
dos Engenheiros, o Instituto da
Construção e do Imobiliário (INCI, IP) e
a Associação dos Industriais da
Construção Civil e Obras Públicas
(AICCOPN), promoveu no dia 15 de
Julho, em Vila Real, uma sessão de
esclarecimento. A sessão decorreu no
pequeno auditório do Teatro de Vila Real
e teve como interlocutores os juristas
Bernardo Azevedo e Vasco Moura
Ramos.
Página 10 NOTÍCIAS info

universidade de Aveiro e um dos Já o Núcleo Estudantil de Computação


palestradores, o "Norte tem obrigação Gráfica (NeCG), criado em 2006, valeu a
de ter níveis de exigência que possam Tiago Pinto Fernandes uma menção
fazer com que seja reconhecido". honrosa no GMGE. Aquele que começou
Gerardo Saraiva de Menezes, presidente por ser um núcleo de conhecimento
do conselho directivo da Ordem dos e interajuda na investigação,
Engenheiros – Região Norte, concorda desenvolvimento e aquisição de
e explica que o FORNOP surgiu do facto experiência na área da computação
de as ordens se sentirem "responsáveis gráfica, especialmente a dos jogos
por participar num esforço de reflexão" electrónicos, simulações e criação de
sobre os problemas da região. O fórum ambientes virtuais, alargou o seu âmbito
é, no fundo, uma forma de "dizermos a actividades que possam ser úteis à
que estamos cá e que estamos sociedade. Uma nova vertente realizada
disponíveis, emprestando o melhor que através do desenvolvimento de
temos", sublinhou ainda. plataformas virtuais que facilitem
Por sua vez, Moreira da Silva, presidente e ajudem pessoas com dificuldades.
do Conselho Regional Norte da Ordem
dos Médicos, espera que "estes 50 mil valor acrescentado à comunidade civil
profissionais sirvam de alavanca para a e académica em que se inserem.
Região Norte, ajudando a colocá-la onde O papel preponderante que Filipa Moura
Engenheiro Xavier
ela merece em Portugal e na Europa". desempenhou na criação do Grupo Malcata distinguido
Além da Ordem dos Engenheiros Estudantil de Engenharia de Software
– Região Norte, o FORNOP integra (GEES) valeu à estudante o primeiro
com mais um
ainda as ordens dos Advogados, lugar do concurso da Microsoft. prestigiado galardão
Arquitectos, Biólogos, Economistas, Apresentado oficialmente no início de
Enfermeiros, Farmacêuticos, Médicos, Junho, o GEES é um núcleo estudantil O International Leadership Award foi
Médicos Dentistas, Médicos Veterinários, que pretende ajudar a colmatar algumas atribuído ao professor Xavier Malcata
Revisores Oficiais de Contas e Câmara falhas que possam existir no ensino da pela sua dedicação aos elevados ideais e
dos Solicitadores. Engenharia de software nos diferentes aos objectivos prosseguidos pela
estabelecimentos de ensino em Portugal. International Association of Food
Protection (IAFP), e bem assim pela
promoção da sua missão em países
Alunos da FEUP para além dos EUA e do Canadá.
premiados O actual director da Escola Superior de
Biotecnologia e coordenador do Colégio
pela Microsoft de Engenharia Química da Região Norte
da Ordem dos Engenheiros foi
Alunos da Faculdade de Engenharia da considerado unanimemente pelo júri de
Universidade do Porto (FEUP), Filipa selecção como um profissional
Moura, do 4º ano do Mestrado Integrado possuidor de raras capacidades de
em Engenharia Informática e trabalho e como um académico detentor
Computação (MIEIC), e Tiago Pinto de excepcional dedicação – que investiu
Fernandes, do 3º ano do MIEIC, foram duas décadas da sua vida na área da
ambos distinguidos pela Microsoft, no segurança e protecção alimentar,
âmbito do concurso Great Minds, Great cobrindo diversos aspectos em várias
Efforts (GMGE). Um galardão destinado disciplinas, enquanto dava corpo a uma
a alunos de tecnologias de informação liderança única e particularmente
que se destaquem pela dinâmica e pelo meritória em investigação científica,
info NOTÍCIAS Página 11

educação avançada, formação do ambiente. Para além do volume


profissional, transferência de tecnologia, crescente das actividades de apoio a
colaboração internacional e entidades externas, a ESB orgulha-se de
envolvimento com o IAFP. Esta uma prestação de topo em termos de
associação sem fins lucrativos foi satisfação dos seus clientes. Há alguns
fundada em 1911 para representar os anos, recebeu por isso o estatuto de
profissionais de segurança alimentar. Laboratório Associado de Estado na área
Actualmente congrega para cima de de risco alimentar e ambiental
3200 membros distribuídos por mais de – nas suas vertentes de avaliação e
50 países – provenientes da indústria, comunicação de risco.
das instituições estatais e das O professor Xavier Malcata foi
universidades e institutos de igualmente eleito para um dos comités
investigação, e interessados na científicos da European Food Safety
segurança alimentar e na saúde pública Authority, sendo o único português
(nas suas vertentes de formação e naquela situação.
serviços). 47 comissões organizadoras e científicas O investigador recebeu inúmeras outras
O professor Xavier Malcata tem liderado de congressos, proferiu 130 palestras distinções internacionais – incluindo o
investigação focada especialmente em convidadas e reviu 220 artigos de Ralph H. Potts Memorial Award (1991) e
produtos tradicionais portugueses, desde investigação. Durante a última década, o Young Scientist Research Award
os queijos, com denominação de origem Xavier Malcata tem vindo a desempenhar (2001), da American Oil Chemists’
protegida, à broa de Avintes, e bem igualmente as funções de director da Society; o Foundation Scholar Award
assim sobre produtos funcionais – desde Escola Superior de Biotecnologia (ESB), – Dairy Foods Division (1998) e o
novas culturas probióticas a bebidas da Universidade Católica, com quase 25 Danisco International Dairy Science
enriquecidas em antioxidantes. O anos de existência – concebida como Award, da American Dairy Science
engenheiro químico tem igualmente instituição comprometida com a Association (2007); o Scientist of the
contribuído para a elaboração do Plano envolvente socioeconómica, pautada Year Award, da European Federation of
Nacional de Alimentação – na sua pelos mais exigentes critérios Food Science and Technology (2008); e o
vertente de segurança alimentar, no internacionais de qualidade e dotada de Samuel Cate Prescott Award, do Institute
âmbito do Conselho Nacional de um modelo organizativo integrado de of Food Technologists (2008).
Alimentação e Nutrição de que é ensino/formação, investigação, extensão Para atingir os seus objectivos
membro. O laureado é ainda autor de e empreendedorismo. estatutários de disponibilização de um
244 artigos internacionais sujeitos a O trabalho multidisciplinar desenvolvido fórum para a troca de informação
processo de revisão, recebeu 2430 na ESB – sob a sua liderança – e na área sobre a protecção da cadeia alimentar,
citações oficiais pelos seus pares, da promoção de elevados padrões de dirigido aos profissionais de segurança
supervisionou 17 dissertações de segurança alimentar, constitui um case alimentar de todo o mundo, o IAFP
doutoramento, é membro do corpo study de sucesso em Portugal e na promove a difusão das mais recentes
editorial de cinco jornais científicos Europa. As amplas instalações, tecnologias, inovações,
internacionais, escreveu 11 livros fortemente apetrechadas com regulamentações e resultados de
monográficos, editou quatro livros, equipamentos analíticos e processuais, e investigação pura e aplicada, através
produziu 36 capítulos em livros, escreveu o amplo e profundo know how existente da publicação de dois respeitados
29 artigos em jornais nacionais, permitem executar actividades de jornais internacionais arbitrados
preparou 50 publicações técnicas, investigação e serviços às empresas – – Food Protection Trends e Journal of
participou em 37 comités nacionais e 26 designadamente microbiológicos, Food Protection; este último tem-se
comités internacionais de avaliação de químicos, sensoriais e de embalagem, posicionado sistematicamente como
investigação, coordenou 86 bolsas sendo caracterizadas por um historial de um dos dois mais citados na área da
individuais para estudantes, liderou 23 e sucesso em consultoria, parcerias de ciência e tecnologia alimentar, sendo
colaborou em 38 projectos de investigação e desenvolvimento e apoio igualmente líder incontestado no
investigação e desenvolvimento, integrou ao nível regulatório na área alimentar e campo da microbiologia alimentar.
Página 12 DESTAQUE info

Engenheiros Fernando de Almeida Santos, Hipólito de Sousa e António Matos de Almeida

Segurança do Trabalho na Construção


Sector da construção civil e obras públicas
– visão da política nacional de Segurança do Trabalho

1. Introdução representantes de vários serviços do Ministério do Trabalho e


A intervenção da Ordem dos Engenheiros (OE) na legislação da Solidariedade Social e do Ministério das Obras Públicas,
relativa a Segurança do Trabalho na Construção (STC) Transportes e Comunicações e representantes dos parceiros
iniciou-se logo em Abril de 2004, no 1º mês após a tomada de sociais do sector e das respectivas ordens e associações
posse dos actuais órgãos, a propósito da audiência pública profissionais).
relativa ao diploma regulador da Qualificação dos Técnicos
para o Exercício da Coordenação de Segurança na Construção, Através de reuniões entre a Comissão Executiva e a Comissão
sobre o qual a OE apresentou uma proposta alternativa de de Acompanhamento, a Ordem dos Engenheiros, em conjunto
Decreto-Lei. Posteriormente, na preparação da proposta de com a Ordem dos Arquitectos, a Associação Nacional dos
revisão do Decreto 73/73, apreciou-se a legislação do sector de Engenheiros Técnicos e a Associação Portuguesa de Segurança
forma global, constatando-se que, no conjunto, esta se e Higiene do Trabalho, desenvolveu uma proposta de Decreto-
apresentava desconexa, frequentemente contraditória, e -Lei, assumida como posição conjunta relativa ao diploma que
consolidando-se a opinião de que é absolutamente necessário define o Exercício da Coordenação de Segurança e Saúde. Esta
reordená-la com coerência. proposta está apresentada adiante. Todos os elementos da
Comissão Executiva, bem como da Comissão de
A proposta da OE sobre Coordenação de Segurança (CS) Acompanhamento, incluindo sindicatos, institutos públicos e
surgiu, assim, isolada do contexto estruturante que veio a ser parceiros sociais, se mostraram unanimemente favoráveis, de
criado com a proposta de revisão do Decreto 73/73, sem forma genérica, a esta proposta. O desenvolvimento conjunto
prejuízo de total coerência com os princípios que a nortearam. de uma solução que conciliasse as diversas posições sobre a
matéria não foi difícil.
Para melhor sustentar as intervenções da OE nesta
matéria, a Região Norte da OE criou um grupo de reflexão Nesta proposta foi dado particular destaque à:
que integrou reputados especialistas na matéria, no seio – Importância da componente profissional e do
do qual se debateram as questões fundamentais que se reconhecimento de direito público de engenheiros, arquitectos
colocam. e engenheiros técnicos:
No presente documento faz-se um levantamento sumário da – Actividade Profissional específica em obras marcadamente
actual política de STC, das debilidades do actual modelo e de Engenharia Civil, diferenciando-as das Obras de Edificação;
perspectiva-se a sua melhoria, numa visão integrada com o – Reforço das disciplinas de Segurança, Higiene e Saúde do
complexo legislativo do sector. Em suma, pretende-se Trabalho, em horas ou créditos lectivos nos Cursos de
estabelecer na OE uma ideia sobre a política de STC que é Coordenação de Segurança.
desejável.
2. Situação existente
Pelo Ministério do Trabalho e pelo Ministério das Obras 2.1. Enquadramento da Segurança e Higiene
Públicas, Transportes e Comunicações foi criada uma do Trabalho (SHT) no contexto do processo
Comissão Executiva e uma Comissão de Acompanhamento de Construção
para efeitos de elaboração da proposta de diploma que A SHT não é encarada no processo construtivo como parte
determinasse a Qualificação dos Responsáveis de integrante das diversas actividades de construção, do mesmo
Coordenação de Segurança e Saúde para obras de Construção modo que, por exemplo, a recolha de provetes para controlo de
e de Engenharia Civil, pelo despacho conjunto n.º 257/2006, qualidade que está interiorizada como um procedimento
de 15 de Março (composto por uma Comissão Executiva e integrado na actividade de aplicação de betões em obra. A STC
uma Comissão de Acompanhamento, integrando deveria ser integrada de igual modo no processo de
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construção, e, actualmente, ainda não é assim considerada. É No caso particular do Sector da Construção a existência da
vista como uma actividade dissociada, externa, que entra no figura do dono de obra estabelece a diferença e consagra o
processo de fora para dentro, quando deveria constituir parte princípio de separação de responsabilidade entre ele, o dono
intrínseca do mesmo processo. de obra, a quem compete a coordenação, e a entidade
executante, geralmente o empreiteiro.
Esta realidade poderá encontrar justificação histórica no
desenvolvimento desordenado a que temos assistido em De forma esquemática o quadro seguinte estabelece o paralelo
Portugal. Assim aconteceu com o sector da construção civil entre a construção e outros sectores de actividade, no que
e obras públicas que conheceu um surto vigoroso de respeita à intervenção técnica especializada em SHT.
crescimento sem que o sistema nacional de ensino e de
formação tivesse, de forma planeada e articulada com as
necessidades da indústria, formado e dotado o sector das QUADRO 1
competências necessárias em matéria de SHT. A falta de
planeamento gerou necessidades de mão-de-obra que o SECTOR DA OUTROS
mercado não dispunha e entraram no sector operários CONSTRUÇÃO SECTORES
provenientes de todas as origens profissionais, sem COORDENADOR
qualificação, e, ao mesmo tempo, não existiam estruturas DE SEGURANÇA Não aplicável
DONO DE OBRA
capazes de enquadrar eficazmente o problema. E SAÚDE EM PROJECTO
E OBRA (2)

Esta filosofia de SHT representou mais um contributo para a TÉCNICO


desqualificação do Sector da Construção. ENTIDADE DE SEGURANÇA Não aplicável
EXECUTANTE E HIGIENE NO
TRABALHO (1)
Quando o Estado se viu confrontado com elevados níveis de
sinistralidade, para o qual o meio profissional não estava TÉCNICO SUPERIOR DE SEGURANÇA
preparado, numa primeira fase transferiu a responsabilidade E HIGIENE NO TRABALHO (1)
ENTIDADE
para as empresas e centrou a acção essencialmente na EMPREGADORA TÉCNICO DE SEGURANÇA E HIGIENE NO
envolvente do problema, legislando. Mas a legislação não TRABALHO (1)
surte efeito sem estruturas eficazes, nem recursos humanos
qualificados segundo uma perspectiva que promova as
competências em SHT como valores na base de formação
profissional de todos os níveis de técnicos e operários do (1) Função exercida em todos os sectores de actividade, sem
sector, integrando, na base educacional, a consciência cívica obrigação de formação específica sectorial, mesmo para o
da prevenção e da segurança. Sector da Construção, apesar do enquadramento legal
específico;
A actual filosofia horizontal da SHT, que enquadra no mesmo (2) Função exclusiva do Sector da Construção, ainda sem
organismo do Estado (Ministério do Trabalho e Segurança definição legal da qualificação exigida.
Social) a tutela de todos os sectores da actividade económica,
também não favorece a visão especializada que o sector da Não obstante o regime específico a que o sector da construção
construção civil e obras públicas requer tendo em conta as civil e obras públicas está sujeito, em matéria de STC, no perfil
suas especificidades. dos Técnicos de Segurança prevalece o conceito de formação
de banda larga, comum a todos os sectores de actividade.
Apesar da evolução positiva verificada com a publicação da
2.2. Organização geral da segurança portaria 326/2005, de 29 de Março, que estabelece um
itinerário de formação de Técnicos de Segurança de grau 3 com
A mobilidade constante das unidades produtivas, dos perfil de construção (TSHT – Construção), tal não acontece
produtos, das equipas e dos processos, a interferência do nos níveis de responsabilidade superior com os TSSHT (grau 5).
dono de obra na produção, bem como a grande cadeia de
subcontratados, são algumas das especificidades do sector Em ambos os casos o perfil de TSHT – Construção não é
da construção civil e obras públicas. Estas características exigido e, de modo análogo, apesar da função de Coordenador
justificam que este sector seja objecto dum regime jurídico de Segurança ser exclusiva no Sector da Construção, as últimas
específico e cujas regras gerais de STC estão definidas no DL propostas de legislação conhecidas insistem no mesmo
273/2003. conceito de banda larga.
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Neste contexto: Os obsoletos:


• Decreto-Lei n.º 41.820, de 11 de Agosto de 1958
O Estado assume as seguintes funções: – Regime da Segurança na construção civil;
• Legislação de SHT e fiscalização, centradas no MTSS; • Decreto n.º 41.821, de 11 de Agosto de 1958
• Regulação geral da actividade das entidades executantes e – Regulamento da Segurança na construção civil;
dono de obra centrada no MOPTC. • Decreto n.º 46.427, de 10 de Julho de 1965
– Regulamento das instalações provisórias destinadas ao
No plano da empresa o modelo prevê: pessoal empregado nas obras;
• Organização de serviços de SHT das entidades O regime de acesso e permanência na actividade de
empregadoras; construção civil e obras públicas (alvarás) – Decreto-Lei
• Exigência, pelo regime de alvarás, de serviços próprios de n.º 12/2004, de 9/1 – Regime jurídico aplicável no
SHT a partir da classe 6, integrando TSSHT (CAP 5) e exercício da actividade de construção civil, bem como a
TSHT – Construção (CAP 3) no quadro técnico das sua Portaria Complementar 16/2004, de 10/1.
empresas de construção. Na interacção dos diversos diplomas encontramos situações
omissas, equívocas e mesmo contraditórias, que urge resolver.
No plano dos empreendimentos:
• O dono de obra é o “pivot” do processo de SHT. 2.4. Agentes identificados na legislação
Compete-lhe nomear a CS e promover o PSS e a Interferem com a SHT os seguintes agentes, definidos no DL
Compilação Técnica; 273/2003 em vários diplomas específicos de SHT, no regime
• A CS é independente da entidade executante; jurídico das empreitadas, licenciamento de obras particulares,
• À entidade executante compete executar a obra ou qualificação dos técnicos:
respeitando a legislação e o PSS, mas também é
responsável pela implementação e melhoria da prevenção. No plano das organizações:

2.3. Quadro legislativo actual • dono de obra


A legislação sobre SHT é regulada pela Lei Quadro n.º 441/91, • entidade executante
de 11 de Novembro que transpõe a directiva comunitária para • subempreiteiro
direito interno e constitui a plataforma para todas as • entidade empregadora
actividades laborais.
No plano individual:
O Sector da Construção é objecto de um regime específico
que assenta naquela Lei Quadro e é constituído, entre outros, • Autor (es) do projecto
pelos seguintes diplomas: • Director Técnico da Empreitada
• Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29/10 – que estabelece as • Director Técnico da Obra
regras gerais sobre planeamento, organização e • Representante da entidade executante
coordenação da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho • Trabalhador Independente
em estaleiros temporários ou móveis. • Representante dos trabalhadores
• Decreto-Lei n.º 110/2000, de 30/06 – que enquadra as • Fiscal da Obra1
condições de acesso e exercício dos TSHT (grau 3) e • Coordenador de Segurança (projecto e obra)1
TSSHT (grau 5). • Técnico Superior de Segurança e Higiene no Trabalho
• Portaria 326/2005, de 29 de Março – aprova os itinerários (grau 5)
de formação da área da construção civil, entre os quais a • Técnico de Segurança e Higiene no Trabalho (grau 3)2
“Prevenção e Segurança – Construção”.
• Portaria 1105/2001, de 18/02 – exige a apresentação do Esta multiplicidade de agentes é frequentemente equívoca na
PSS no licenciamento de obras particulares. correspondência da designação à função e, entre eles, a
• Está em elaboração o diploma que enquadra as fronteira de responsabilidade, em matéria de SHT, é difusa.
condições de acesso e exercício da Coordenação de No essencial, identificámos três missões a desempenhar
Segurança. pelos vários agentes com os quais interage a Coordenação de
Segurança:
A legislação em vigor que interfere com a SHT da construção • Projectar;
dispersa-se num vasto conjunto de diplomas, da qual se • Executar;
destacam: • Fiscalizar.
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A arrumação do conteúdo destas missões, bem 2.6.2. Do conflito do DL 273/2003 com


como a designação inequívoca dos agentes, outros diplomas
está tratada na proposta de revisão do Decreto 73/73, • A Coordenação da Segurança em fase de projecto
pela OE. deve ser entendida como uma peça integrante do
projecto de especialidade de uma obra e, portanto,
2.5 Perfil e funções do CS, TSSHT e TS sujeita a licenciamento durante a fase de licenciamento
2.5.1. Coordenador de Segurança – projecto de especialidades de Engenharia e não licenciável na
e obra fase de construção como actualmente se verifica.
(qualificação ainda não legislada) • Com a Portaria n.º 104/2001 de 21 de Fevereiro
Enquadramento: Pessoa singular ou colectiva por conta do (Concursos de Obras Públicas), no que respeita à
dono de obra intervenção no processo negocial.
Missão: Organiza, desenvolve, coordena e controla
as actividades de prevenção e protecção 2.6.3. Do conflito com o Código de Trabalho
contra riscos profissionais na construção. • Regulação do dever de cooperação quando laboram
Desempenha uma missão ao mais alto várias empresas no mesmo local: comparticipação,
nível de responsabilidade. subcontratação e solidariedade.
• Critério de imputação de responsabilidade contra-
2.5.2. Técnico Superior de SHT (Grau 5 -ordenacional às diversas entidades intervenientes no
previsto no DL 110/2000) estaleiro.
Enquadramento: Pessoa singular por conta da entidade • Omissão regulamentar da responsabilidade contra-
empregadora -ordenacional dos Consórcios e dos ACE.
Missão: Assegura os serviços de segurança e saúde • Diferente responsabilização dos Coordenadores de
da empresa, entidade executante ou Segurança conforme o seu vínculo ao dono de obra por
entidade empregadora. contrato de trabalho. Estes últimos incorrem em
responsabilidade disciplinar e contra-ordenacional,
2.5.3.Técnico de SHT (Grau 3 previsto no DL enquanto os nomeados ao abrigo dum contrato de
110/2000) prestação de serviços apenas estão sujeitos a
Enquadramento: Pessoa singular por conta da entidade responsabilidade civil.
empregadora, do CS, ou Fiscalização.
Pode ter, ou não, o perfil de TSHT- 3. Síntese das deficiências do sistema
Construção: conforme itinerário de formação previsto • Não há um léxico comum nos vários diplomas da
na portaria nº 326/2005, de 29 de Março. legislação.
Missão: Analisa e dá parecer, em termos de • A legislação é desconexa e contraditória e não integra
prevenção, segurança e risco profissional uma estrutura coerente.
sobre projectos de estaleiro, • A ausência de tutela conjunta MTSS/MOPTC é um
equipamentos, tecnologias e trabalhos de factor de desarticulação legislativa.
maior risco. • Apesar de, como já referimos, se registar a evolução
Efectua inspecções periódicas, organiza, positiva nos itinerários de formação de TSHT (grau 3),
desenvolve, aplica e controla as onde passou a existir um perfil de construção, nada
actividades de prevenção e protecção impede que os TSHT (grau 3) e TSSHT (grau 5) que
contra riscos profissionais. operam no Sector da Construção tenham um perfil de
formação de banda larga, aberto a formações de base
2.6. Debilidades da legislação alheias à construção.
2.6.1. Da redacção do DL 273/2003 • A CS é actualmente exercida sem qualificação
• Redacção prolixa repetindo deveres dos intervenientes e regulamentada e a tendência do legislador vai no
estabelecendo contra-ordenações em duplicado. mesmo sentido de banda larga.
• Falta de clareza na definição dos intervenientes. • O exercício da CS por pessoas colectivas não está
• Omissão relativa à responsabilidade contra- regulamentado.
ordenacional do CS. • A fronteira de responsabilidade entre os vários
• Sobreposição de responsabilidades. agentes é difusa. Em matéria de SHT não é clara a
• Remete a qualificação e a formação para diploma responsabilidade que cabe à CS, a quem projecta, a
específico, que ainda não existe. quem executa e a quem fiscaliza.
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• Apesar da importância atribuída à CS em projecto, • A CS deve ser independente da entidade executante e


não há nenhum dispositivo que evidencie que ela foi nomeada pelo dono de obra.
exercida nessa fase. • Deve separar-se a responsabilidade de concepção da
Facto diferente e apenas exigida no licenciamento de obras responsabilidade de execução, o que significa:
particulares é a apresentação do PSS acompanhado de um • Abordar o PSS e a CT como uma especialidade
termo de responsabilidade; de projecto, com uma fase de anteprojecto, anterior ao
Não está definida a qualificação exigível ao autor; início dos trabalhos e outra de execução, esta
Nas obras públicas, como não estão sujeitas a correspondente à evolução da primeira de acordo com
licenciamento, não existe qualquer mecanismo. as reais condições da obra;
• Não regula adequadamente algumas situações frequentes: • Atribuir à CS a responsabilidade de concepção,
• Quando o dono de obra também é entidade expressa no PSS, de modo idêntico ao que se passa
executante. com os projectistas;
• Concursos de Concepção-Construção. • Atribuir a responsabilidade pela implementação
• A Segurança não é vista como componente intrínseco do do PSS à Direcção de Obra (entidade executante). Esta
projecto/obra, mas como algo exterior que se junta ao pode cooptar adjuntos especialistas, como preconiza a
processo de construção. proposta de revisão do DL 73/73.
• Atribuir a responsabilidade de fiscalização e
4. Proposta de reorganização controlo de implementação do PSS à Coordenação de
Segurança que, assim, deverá assegurar competências
4.1. Ideia geral do Modelo específicas. Do mesmo modo, a Fiscalização assegura
4.1.1. Ordenamento legislativo todas as outras competências técnicas requeridas 3.
• Alterar a designação SHT (Segurança e Higiene do • Esta visão articula-se com a proposta de revisão do DL
Trabalho) para STC (Segurança no Trabalho da 73/73.
Construção), acompanhando a linguagem internacional; • O perfil dos técnicos de segurança, qualquer que seja o
• A legislação de STC deve integrar-se de forma coerente seu nível, deverá exigir formação de base na construção.
com a restante legislação da construção, evidenciando A CS deve ser exigida formação base de nível superior na
os mesmos princípios gerais. construção, acrescida de formação específica em
• A legislação dispersa relativa a STC (em projecto e coordenação de segurança no trabalho da construção.
obra), descrita no parágrafo 2.3., deve ser revogada e
reorganizar-se do seguinte modo: No plano das empresas:
• Diploma condensando as regras gerais (DL 273/2003
revisto). • O regime de alvarás deve estabelecer apenas o número
• Conjunto de normas com especificações de: instalações de Técnicos de Segurança exigidos para cada classe;
provisórias, equipamento de protecção individual, • O perfil dos técnicos deve ser TSHT-Construção;
movimentação de cargas, etc.;
• A qualificação dos técnicos responsáveis pelo exercício 4.2. Alterações legislativas
da CS deve remeter-se para a revisão do Decreto 73/73 4.1.2. Revisão e compatibilização do DL
que é sede própria de qualificação profissional de todos 273/2003 com a restante legislação:
os agentes individuais
do sector; • Relativamente às funções definidas no “Regulamento de
• Deve regulamentar-se o exercício da CS por pessoas Segurança no Trabalho da Construção Civil” (Decreto-Lei n.º
colectivas. (Sugere-se que esta regulamentação, bem 41821, de 1958) e do “Regulamento das Instalações
como a relativa ao exercício de fiscalização por pessoas Provisórias destinadas ao pessoal empregado nas obras”
colectivas, se desenvolva no âmbito do INCI, instituto (Decreto-Lei n.º 46427, de 1965).
que regula os agentes não individuais que actuam no • Idem com a Portaria n.º 104/2001, de 21 de Fevereiro
sector da construção). (Concursos de Obras Públicas), no que respeita ao
acompanhamento na fase negocial.
4.1.2. Organização da responsabilidade • Com a Portaria n.º 1105/2001, de 18 de Setembro,
de STC no processo de construção revogando a exigência da apresentação do PSS nas Câmaras
• No plano dos empreendimentos Municipais para efeitos de Licenciamento de Obras
• O dono de obra deve permanecer como “pivot” da Particulares por um ofício do ACT acusando a recepção.
gestão da responsabilidade da segurança. • Criar idêntico mecanismo para as obras públicas.
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• Adequando outras disposições, designadamente: 4.2.4. Revisão da Portaria n.º 16/2004,


• Revisão das condições de exigência dos de 10 de Janeiro relativa aos alvarás
documentos de prevenção de riscos profissionais e da de construção:
definição de parâmetros para determinados riscos para • A partir de 1 de Fevereiro de 2006, o quadro mínimo
serem considerados como especiais. passa a exigir técnicos de SHT.
• Clarificando interacção da CS com os TSH da • Com a actual redacção os técnicos exigidos, TSHT ou
entidade executante no decurso das obras (cf 4.1.2.). TSSHT, podem ter formação de base alheia à
• Atribuir à CS na fase de Projecto o estatuto de construção.
“projecto parcelar” com o significado que lhe é dado • Este conceito de banda larga dos TSHT
pela proposta de revisão do Decreto 73/73. e TSSHT seria, a verificar-se, mais um
contributo para a desqualificação do Sector da
4.2.2. Qualificação dos coordenadores Construção.
de segurança e saúde • Propõe-se que o quadro técnico de STC seja
• Coordenada com os princípios e conteúdos da preenchido por:
proposta de revisão do Decreto 73/73, de 28 de • Técnicos com formação de base na construção
Fevereiro (em processo de revisão). e complementar em Segurança no Trabalho da
• Conforme proposta da OE, ajustando a matriz de Construção.
competências.4 • Profissionais da construção que possuam
• Face ao elevado nível de exigências da função, esta formação específica em coordenação de segurança e
deve ser valorizada e acentuado o perfil de saúde (e não TSSHT).
especialização académica e profissional no Sector da • Suspensão imediata da actual exigência até estar
Construção. resolvida a qualificação da CS.

4.2.3 Revogação dos restantes diplomas 4.3. Papel da Ordem dos Engenheiros
relativos a SHT constantes na lista • Exercício da responsabilidade estatutária de garantir a
do parágrafo 2.3. revendo-os e confiança pública associada aos actos de Coordenação
agrupando-os num conjunto de normas, de Segurança, em sintonia com a proposta de revisão
designadamente: do Decreto 73/73.
• Revisão do “Regulamento de Segurança no Trabalho • Estimular e promover a formação dos membros na
da Construção Civil” (Decreto-Lei n.º 41821, de 1958) e área da STC.
do “Regulamento das Instalações Provisórias • Acompanhar atentamente as evoluções no sector,
destinadas ao pessoal empregado nas obras” (Decreto- nomeadamente através do Grupo de Reflexão, e actuar
Lei n.º 46427, de 1965). Estes regulamentos estão sempre que necessário.
obsoletos. Dada a sua natureza técnica, a revisão • Acompanhar a componente de STC integrada nos
deverá envolver profissionais da construção com currículos académicos dos cursos acreditados.
elevada experiência e competência técnica. • Certificar acções de formação.

1
Pode ser pessoa colectiva, mas neste caso existirá um responsável individual; 2 Pode ter ou não perfil de construção conforme itinerário de formação referido em 2.2 ;
3
Enquanto o âmbito da fiscalização corrente depende do âmbito e profundidade que o dono de obra entender adequados, no que respeita à STC, perante o interesse
público em jogo ela é imposta com requisitos legais; 4 Se o PSS vier a ser considerado como “projecto parcelar”, a solução desejável é acrescentá-lo ás instruções para a
elaboração de projectos e definir a sua complexidade na classificação de categorias I a IV .
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Proposta de projecto de Decreto-Lei


O Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de Outubro, sobre as reconheça ser equivalente à formação específica inicial
regras gerais de planeamento, organização e coordenação exigida para a autorização.
para promover a segurança e saúde no trabalho em
estaleiros da construção, obriga à existência de sistemas de O presente Decreto-Lei visa completar o quadro legal
coordenação de segurança e saúde durante a elaboração do estabelecido, fixando as normas reguladoras da autorização
projecto e a execução da obra. Execução de obra integra do exercício da actividade de coordenação de segurança e
construção, reconstrução, ampliação, alteração, reparação, saúde e das condições de reconhecimento dos respectivos
conservação, reabilitação, limpeza, restauro ou demolição e cursos de formação profissional, promovendo-se assim, a
trabalhos complementares. qualificação dos coordenadores de segurança e saúde, tendo
em conta as exigências da função, a experiência profissional,
A coordenação em matéria de segurança e saúde, desde a as habilitações académicas e a formação específica.
elaboração do projecto da obra, deve desempenhar uma
função essencial na minimização ou controlo dos riscos a Para efeitos de elaboração da proposta de diploma que deu
que os trabalhadores podem estar sujeitos durante a origem ao presente Decreto-Lei, foi criado, pelo despacho
execução da obra. Nesse sentido, para que a função da conjunto nº. 257/2006, de 15 de Março, um grupo de
coordenação seja eficaz, é necessário que quem a exerce trabalho, composto por uma Comissão Executiva e uma
esteja habilitado com conhecimentos científicos, Comissão de Acompanhamento, integrando representantes
tecnológicos e experiência prática adequados, pois só assim de vários serviços do Ministério do Trabalho e da
será possível garantir uma maior e sólida prevenção dos Solidariedade Social e do Ministério das Obras Públicas,
riscos profissionais. Transportes e Comunicações, e bem assim representantes
dos parceiros sociais do sector e das respectivas Ordens e
A dimensão, complexidade e a própria natureza das obras Associações profissionais.
são determinantes de diferentes condições de trabalho com
consequências diversas no que respeita à ocorrência de O presente Decreto-Lei corresponde ao projecto submetido
riscos, frequentemente muito graves, para a segurança, a apreciação pública...
higiene e saúde dos trabalhadores. Por isso, o exercício das
actividades de coordenação em matéria de segurança e Foram ouvidos os órgãos de governo próprios das Regiões
saúde no trabalho, quer durante a elaboração do projecto, Autónomas.
quer durante a execução da obra, implica níveis de exigência
diferentes no que diz respeito às competências requeridas, Assim:
em função da dimensão, complexidade e natureza dos Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 198.º da
empreendimentos que são objecto da coordenação. Constituição, o Governo decreta o seguinte:

Tendo em consideração essa circunstância, são instituídos


três níveis de competência dos coordenadores de segurança Capítulo I
em projecto e em obra de construção de edifícios, definidos
em função do valor das obras e da natureza de trabalhos de Disposições gerais
maior risco conexos com a construção em que podem
exercer a coordenação, sendo que para obras de Engenharia Artigo 1º
Civil não se determina apenas o nível 1.
(Objecto)
A par dos requisitos gerais da autorização para o exercício
da coordenação é necessário adoptar critérios que O presente Decreto-Lei regula o exercício da actividade de
permitam integrar os profissionais que têm assegurado a coordenação em matéria de segurança e saúde na
actividade da coordenação de segurança em projecto e em construção previsto no Decreto-Lei n.º 273/2003, de 29 de
obra, bem como de quem realizou cursos de formação Outubro, bem como o reconhecimento dos respectivos
orientados para o exercício da actividade cujo conteúdo se cursos de formação profissional.
info DESTAQUE Página 19

Artigo 2º ou obras de grande porte e obras de engenharia


(Modalidades de coordenação de segurança e saúde) hidráulica.

O exercício da actividade regulada pelo presente diploma 3. Para trabalhos com riscos especiais na construção, que
compreende: contemplem exposição a radiações ionizantes, a agentes
a) Coordenação de segurança e saúde em projecto; químicos, cancerígenos, nomeadamente o amianto, ou
b) Coordenação de segurança e saúde em obra; mutagénicos de categoria 1 ou 2, ou a agentes biológicos do
grupo 3 ou 4; se o responsável pelo exercício pela
Coordenação de Segurança e Saúde não reunir as habilitações
Artigo 3º específicas necessárias deve ser coadjuvado por pessoa com
(Níveis de competência da coordenação em matéria habilitação especializada para o efeito.
de segurança e saúde)

(ver Regulamento 1893/2006 do Parlamento Europeu e do Artigo 4º


Conselho de 20 de Dezembro de 2006 que estabelece a (Autonomia técnica)
nomenclatura estatística das actividades económicas
NACE) O coordenador de segurança e saúde, quer em projecto quer
em obra, exerce a respectiva actividade com autonomia
(ver Decreto-Lei n.º 197/2003, de 27 de Agosto, que técnica e funcional.
determina a Classificação Portuguesa das Actividades
Económicas CAE)
Artigo 5º
1. Para obras de construção de edifícios (residenciais e (Deveres gerais do coordenador)
não residenciais), a coordenação em matéria de segurança
e saúde é exercida de acordo com os seguintes níveis de 1. Sem prejuízo de outras obrigações consagradas em
competência: legislação específica, o coordenador de segurança e saúde,
quer em projecto quer em obra, deve:
a) Nível 1: habilita a exercer a coordenação em matéria de
segurança e saúde relativamente a qualquer classe do a) Exercer a actividade de coordenação de segurança e saúde
alvará emitido ao abrigo do regime jurídico de ingresso e na modalidade e nível para o qual está habilitado;
permanência na actividade da construção;
b) Promover junto do dono de obra a intervenção de peritos,
b) Nível 2: habilita a exercer a coordenação em matéria de quando necessário;
segurança e saúde relativamente a obra de valor não
superior ao limite da classe 6 do alvará emitido ao abrigo c) Colaborar com o dono de obra, autor do projecto, entidade
do regime jurídico de ingresso e permanência na executante, subempreiteiros, trabalhadores, técnicos de
actividade da construção; segurança, representantes dos trabalhadores para a
Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho e demais
c) Nível 3: habilita a exercer a coordenação em matéria de intervenientes no projecto e em obra, com vista à adopção e
segurança e saúde relativamente a obra de valor não implementação das medidas de prevenção adequadas;
superior ao limite da classe 2 do alvará emitido ao abrigo
do regime jurídico de ingresso e permanência na d) Informar a entidade executante, os subempreiteiros, os
actividade da construção. trabalhadores, os técnicos de segurança, os representantes
dos trabalhadores para a Segurança, Higiene e Saúde no
2. Sem prejuízo do disposto do número anterior é sempre Trabalho e demais intervenientes em obra, sobre situações
exigida a competência de nível 1 quando se trata do particularmente perigosas para a segurança e saúde dos
exercício da coordenação de segurança e saúde trabalhadores que requeiram uma intervenção imediata;
relativamente a obras de engenharia civil, designadamente
construção de estradas, auto-estradas, vias férreas, pontes e) Guardar sigilo sobre informações referentes à organização,
e túneis; construção de redes de transporte de água, de métodos de produção ou negócios relativos a qualquer
distribuição de energias, de telecomunicações e outras interveniente na elaboração do projecto ou na execução da
redes; construção de galerias, reservatórios elevados, silos obra, de que tenha conhecimento no exercício da actividade,
Página 20 DESTAQUE info

desde que não esteja em causa a segurança ou saúde dos de nível 1. Sempre que o valor estimado da obra seja
trabalhadores ou de terceiros; superior em 300%, relativamente ao valor limite da
classe 8, é obrigatória a existência de um técnico de
f ) Preservar a confidencialidade de dados pessoais dos higiene e segurança do trabalho de apoio com afectação
trabalhadores de que tenha conhecimento no exercício da de 100%. Por cada fracção igual deste valor deverá ser
actividade; obrigatória a existência de um técnico de higiene e
segurança do trabalho de apoio adicional com idêntica
g) Consultar e cooperar com organismos envolvidos na afectação.
promoção da segurança e saúde, nomeadamente os da
rede nacional de prevenção de riscos profissionais. b) Fase de Obra

2. O disposto no número anterior não pode ser derrogado 2. O Responsável pelo Exercício da Coordenação de
por acordo ou instrumento de regulamentação colectiva Segurança e Saúde não poderá assumir a responsabilidade
de trabalho. pelo exercício da coordenação de segurança em fase de
obra se esta exceder a afectação cumulativa de 100%, em
relação às várias obras que decorram simultaneamente
Artigo 6º sob a sua responsabilidade.
Para efeitos do cálculo da afectação do responsável pelo
(Garantia mínima de exercício efectivo de coordenação em exercício da coordenação de segurança em obra, devem
projecto e em obra) ser consideradas todas as nomeações,
independentemente da existência de comunicação prévia,
a) Fase de Projecto com referência à seguinte tabela:

1. O Responsável pelo Exercício da Coordenação de


Afectação mínima do coordenador de segurança em obra
Segurança e Saúde não poderá assumir a responsabilidade
pelo exercício da coordenação de segurança em fase de Classe de
habilitação 1a4 5a6 7a8 9
projecto se este exceder a afectação cumulativa de 100%, prevista
para a obra
em relação aos vários projectos que decorram
simultaneamente sob a sua responsabilidade. Estimativa do nº de dias Afectação
mínima do
trabalho/mensais previstos
Para efeitos do cálculo da afectação do responsável pelo para o mês de maior afectação Coordenador
de trabalhadores necessários de
exercício da coordenação de segurança em projecto, para na execução da obra segurança
em obra
deverá ter-se por referência a seguinte tabela:
Inferior a 500 20% n.a n.a. n.a.
500 a 5.000 30% 40% 50% 70%
Afectação mínima do coordenador de segurança em projecto
Superior a 5.000 70% 80% 90% 100%
Classe de
habilitação 1a4 5a7 8a9
prevista
para a obra
4. Nas obras de classe 9 e desde que o valor da obra seja
Nível de Coordenação exigida
legalmente
superior ao limite máximo da classe 8 é obrigatória a
existência de um técnico de higiene e segurança do
Nível 1 10% 30% 10% trabalho de apoio ao responsável do exercício da
Nível 2 10% 20% 10% coordenação de segurança de obra. Os técnicos de higiene
Nível 3 10% n.a. n.a. e segurança do trabalho de apoio deverão, no mínimo,
deter autorizações de exercício da actividade de
coordenação de nível 1 ou de nível 2. Sempre que o valor
Nas obras de classe 9 e desde que o valor estimado da da obra seja superior em 150%, relativamente ao valor
obra seja superior ao valor limite da classe 8 é obrigatória limite da classe 8, é obrigatória a existência de um técnico
a existência de um técnico de higiene e segurança do de higiene e segurança do trabalho de apoio com
trabalho para apoio ao responsável pelo exercício da afectação de 100%. Por cada fracção igual deste valor,
coordenação de segurança de projecto. Os técnicos de deverá ser obrigatória a existência de um técnico de
higiene e segurança do trabalho de apoio deverão deter higiene e segurança do trabalho de apoio adicional com
autorização para o exercício da actividade de coordenação idêntica afectação.
info DESTAQUE Página 21

Capítulo II 1. Para efeitos de autorização de exercício da actividade de


coordenação de segurança e saúde em projecto para obras
Autorização de exercício da actividade de coordenação em de construção de edifícios de nível 1, o requerente deve
matéria de segurança e saúde satisfazer, cumulativamente, os seguintes requisitos
mínimos:

Artigo 7º a) Arquitecto; Engenheiro Civil; Engenheiro Técnico Civil;


Engenheiro ou Engenheiro Técnico de outra especialidade
(Entidade competente) desde que reconhecido para a função pela sua Associação
Profissional.
A emissão, a renovação e a revogação da autorização para o
exercício da actividade de coordenação de segurança e b) Experiência profissional na elaboração de projectos de
saúde, em projecto, em obra, ou em projecto e em obra, obras, na direcção ou acompanhamento da execução de
compete ao organismo do ministério responsável pela área obras, ou na prevenção de riscos profissionais no sector
laboral com competências no âmbito da promoção da da construção, durante pelo menos cinco anos;
segurança e saúde no trabalho.
c) Aproveitamento em acção de formação específica
inicial, prevista no presente diploma;
Artigo 8º
2. Para efeitos de autorização de exercício da actividade de
(Autorização de exercício da actividade de coordenação de coordenação de segurança e saúde em projecto para obras
segurança e saúde em projecto para obras de engenharia civil) de construção de edifícios de nível 2, o requerente deve
satisfazer, cumulativamente, os seguintes requisitos
1. Para efeitos de autorização de exercício da actividade de mínimos:
coordenação de segurança e saúde em projecto ou em obra,
para obras de engenharia civil, o requerente deve satisfazer, a) Arquitecto; Engenheiro Civil; Engenheiro Técnico Civil;
cumulativamente, os seguintes requisitos mínimos: Engenheiro ou Engenheiro Técnico de outra especialidade
desde que reconhecido para a função pela sua Associação
Engenheiro Civil ou Engenheiro Técnico Civil, com Profissional.
experiência profissional na elaboração de projectos de
obras, na direcção ou acompanhamento da execução de b) Experiência profissional na elaboração de projectos de
obras, ou na prevenção de riscos profissionais no sector da obras na direcção ou acompanhamento da execução de
construção, durante pelo menos cinco anos e obras, ou de prevenção de riscos profissionais no sector
aproveitamento em acção de formação específica inicial, da construção durante pelo menos três anos;
prevista no presente diploma;
c) Aproveitamento em acção de formação específica
inicial, prevista no presente diploma.
Arquitecto, Engenheiro ou Engenheiro Técnico de outra
especialidade desde que reconhecido para a função pela 3. Para efeitos de autorização de exercício da actividade de
sua Associação Profissional, com experiência profissional coordenação de segurança e saúde em projecto para obras
na elaboração de projectos de obras, na direcção ou de construção de edifícios de nível 3, o requerente deve
acompanhamento da execução de obras, ou na prevenção satisfazer, cumulativamente, os seguintes requisitos
de riscos profissionais no sector da construção, durante mínimos:
pelo menos dez anos, e aproveitamento em acção de
formação específica inicial, prevista no presente diploma; a) Título profissional de agente técnico de arquitectura e
engenharia e titularidade de certificado de aptidão
profissional de técnico de segurança e higiene no trabalho;
Artigo 9º
b) Experiência profissional na elaboração de projectos de
(Autorização de exercício da actividade de coordenação de obras, na direcção ou acompanhamento da execução de
segurança e saúde em projecto para obras de construção obras, ou na prevenção de riscos profissionais no sector
de edifícios) da construção, durante pelo menos três anos;
Página 22 DESTAQUE info

c) Aproveitamento em acção de formação específica inicial, cumulativamente, os seguintes requisitos mínimos:


prevista no presente diploma. a) Título profissional de agente técnico de arquitectura e
engenharia e titularidade de certificado de aptidão profissional
de técnico de segurança e higiene no trabalho, ou certificado de
Artigo 10º aptidão profissional de técnico superior de segurança e higiene
no trabalho;
(Autorização do exercício da actividade de coordenação de
segurança e saúde em obra para obras de construção de b) Experiência profissional na direcção ou acompanhamento da
edifícios) execução de obra ou na prevenção de riscos profissionais em
obra, durante pelo menos três anos;
1. Para efeitos de autorização de exercício da actividade de
coordenação de segurança e saúde em obra para obras de c) Aproveitamento em acção de formação específica inicial,
construção de edifícios de nível 1, o requerente deve satisfazer, prevista no presente diploma.
cumulativamente, os seguintes requisitos mínimos:

a) Arquitecto; Engenheiro Civil; Engenheiro Técnico Civil; Artigo 11º


Engenheiro ou Engenheiro Técnico de outra especialidade
desde que reconhecido para a função pela sua Associação (Procedimentos de autorização)
Profissional.
1. O pedido de autorização para o exercício da actividade de
b) Experiência profissional na direcção ou acompanhamento da coordenação de segurança e saúde, com indicação da
execução de obra ou na prevenção de riscos profissionais em modalidade e do nível pretendidos, é apresentado junto da
obra, durante pelo menos cinco anos; entidade competente, acompanhado dos seguintes
documentos:
c) Aproveitamento em acção de formação específica inicial,
prevista no presente diploma; a) Certidão comprovativa de habilitações académicas;

2. Para efeitos de autorização de exercício da actividade de b) Certidão comprovativa de aproveitamento em acção de


coordenação de segurança e saúde em obra para obras de formação inicial específica;
construção de edifícios de nível 2, o requerente deve satisfazer
um dos seguintes requisitos mínimos: c) Atestado comprovativo de experiência profissional, emitido
designadamente, pela entidade empregadora, dono de obra ou
a) Arquitecto; Engenheiro Civil; Engenheiro Técnico Civil; outra entidade idónea;
Engenheiro ou Engenheiro Técnico de outra especialidade
desde que reconhecido para a função pela sua Associação 2. A competência para autorizar cabe ao dirigente máximo da
Profissional e experiência profissional na direcção ou entidade competente, com faculdade de delegação, mediante a
acompanhamento da execução de obra ou na prevenção de emissão de certificado numerado e datado, do qual conste a
riscos profissionais em obra, durante pelo menos três anos; modalidade e o nível de coordenação autorizada.

b) Certificado de técnico superior e segurança e higiene do 3. Os documentos a apresentar para os efeitos da alínea c) do
trabalho oriundo de licenciatura na área de segurança no n.º 1 são definidos em regulamento da entidade competente.
trabalho, e experiência profissional na direcção ou 4. A entidade competente pode, com fundamento na
acompanhamento da execução de obra ou na prevenção de documentação constante do processo, emitir autorização para
riscos profissionais em obra, durante pelo menos três anos; nível diferente do requerido.

3. Aos requisitos referidos no n.º anterior acresce o


aproveitamento em acção de formação específica inicial em Artigo 12º
coordenação de segurança e saúde.
(Equivalência de títulos)
4. É concedida autorização de exercício da actividade de
coordenação de segurança e saúde em obra para obras de É autorizado a exercer a actividade de coordenação de
construção de edifícios nível 3 ao requerente que satisfaça, segurança, em projecto ou em obra, o titular de autorização
info DESTAQUE Página 23

de exercício da mesma actividade, emitida por entidade público o registo nacional dos coordenadores de segurança e
competente de Estado-membro da União Europeia, saúde autorizados.
reconhecida nos termos da legislação em vigor.

Capítulo III
Artigo 13º
Formação profissional
(Prazo de validade e revalidação)
Artigo 16º
1. A autorização de exercício da actividade de coordenação de
segurança em projecto ou em obra é válida pelo período de (Formação específica inicial)
cinco anos a partir da sua concessão, podendo ser renovada
por iguais períodos. 1. A formação específica inicial para o exercício da
actividade de coordenação de segurança e saúde, em
2. A revalidação da autorização de exercício da actividade de projecto ou em obra, deve ter a duração mínima de
coordenação de segurança e saúde, em projecto ou em obra, duzentas e cinquenta horas, ou o equivalente a pelo menos
depende dos seguintes requisitos: 15 créditos ECTS.

a) Exercício da actividade durante pelo menos dois anos; 2. A formação específica inicial para o exercício da actividade
de coordenação de segurança e saúde, em projecto ou em
b) Realização, com aproveitamento, de formação específica de obra, deve incluir as seguintes unidades de formação:
actualização, prevista no artº. 14º;
a) Legislação e regulamentação relevantes para o exercício
3. A formação específica de actualização deve ser realizada da actividade;
durante os últimos dois anos do período de validade da
autorização. b) Acção do coordenador de segurança e saúde em projecto
e do coordenador de segurança e saúde em obra;
4. Se o coordenador não satisfizer o requisito referido na
alínea a) do n.º 2, a respectiva autorização pode ser revalidada c) Prevenção de riscos profissionais e riscos especiais
se frequentar com aproveitamento a componente de formação inerentes à indústria da construção;
inicial prática em contexto real de trabalho, prevista nas
alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 14º. d) Especificidades inerentes à Segurança, Higiene e Saúde
do Trabalho;

Artigo 14º e) Gestão e coordenação de segurança e saúde, em projecto


ou em obra.
(Revogação da autorização)

A autorização pode ser revogada pelo dirigente máximo da Artigo 17º


entidade competente quando se verifique o incumprimento
reiterado dos deveres do coordenador de segurança e saúde, (Regulamentação dos cursos de formação)
que coloquem em perigo a vida ou a integridade física dos
trabalhadores, de outros intervenientes na obra ou de Os critérios e procedimentos da homologação de cursos de
terceiros. formação específica inicial e de actualização, os perfis
funcionais e os programas de formação, bem como as
formas de avaliação são definidos por portaria do ministro
Artigo 15º responsável pela área laboral.

(Registo)
Artigo 18º
A entidade competente mantém permanentemente
actualizado e disponibiliza electronicamente para acesso (Homologação dos cursos de formação)
Página 24 DESTAQUE info

1. Compete ao organismo do ministério responsável Capítulo IV


pela área laboral, com competências no âmbito da
promoção da segurança e saúde no trabalho, Disposições finais e transitórias
a homologação dos cursos de formação específica inicial
e de actualização. Artigo 21º

2. A homologação dos cursos de formação referidos no (Regime transitório de autorização)


número anterior é válida por período de quatro anos.
1. É concedida autorização para exercer a actividade
3. Os cursos de Coordenação de Segurança na Construção de coordenação de segurança e saúde em projecto ou
devem ser ministrados apenas por estabelecimentos do em obra, correspondente à sua formação de base, a
ensino superior com cursos de licenciatura habilitantes à quem, na data da entrada em vigor do presente diploma,
formação de base requerida, e reconhecidos pelas se encontre no exercício efectivo dessa actividade há
respectivas Associações Profissionais de Direito Público mais de três anos, desde que, no prazo de dois anos a
de Arquitectos, Engenheiros ou Engenheiros Técnicos. contar da mesma data, obtenha aproveitamento em
curso de formação específica inicial previsto no artigo
14º, ou equivalência ao mesmo nos termos do n.º 2 do
Artigo 19º artigo 19º.

(Acesso à formação) 2. A autorização referida no número anterior deve ser


requerida no prazo de três meses a contar da entrada em
O acesso à formação específica inicial necessária ao vigor do presente diploma ou da data em que o
exercício da actividade de coordenação de segurança e interessado obtenha aproveitamento em curso de
saúde é condicionado à prévia satisfação, por parte do formação específica inicial.
candidato, dos requisitos exigidos nas alíneas a) dos
números 1, 2 e 3 do artigo 7º, no caso da coordenação de
segurança e saúde em projecto, e na alínea a) do n.º 1, Artigo 22º
primeira parte das alíneas a) e b) do n.º 2, e alínea a) do
n.º 3 do artigo 8º, no caso da coordenação de segurança e (Taxas)
saúde em obra.
1. Estão sujeitos a taxas os seguintes actos:

Artigo 20º a) Emissão de certificado correspondente à autorização de


exercício da actividade de coordenação de segurança e
(Equivalência de formações) saúde, em projecto, em obra ou em projecto e obra;

1. A entidade formadora pode conceder equivalência em b) Renovação de certificado previsto na alínea anterior;
matérias incluídas na formação específica inicial ou de
actualização a formando que tenha frequentado com c) Homologação dos cursos de formação específica inicial
aproveitamento curso homologado pelo organismo do ou de actualização;
ministério responsável pela área laboral competente em
matéria de promoção da segurança e saúde no trabalho. e) Equivalência da frequência com aproveitamento de
curso de formação sobre coordenação em matéria de
2. O organismo do ministério responsável pela área segurança e saúde à formação específica inicial ou
laboral competente em matéria de promoção da actualização relevantes para o exercício da actividade;
segurança e saúde no trabalho pode conceder
equivalência, a pedido do formando, da frequência com d) Auditoria de avaliação de curso de formação específica
aproveitamento de curso de formação sobre coordenação inicial ou de actualização, determinada pelo organismo do
em matéria de segurança e saúde, iniciado até à entrada ministério responsável pela área laboral competente em
em vigor do presente diploma, à formação específica matéria de promoção da segurança e saúde no trabalho,
inicial referida nos artigos 7º e 8º, tendo em consideração sempre que a mesma revele anomalias no funcionamento
os respectivos conteúdos. do curso imputável à entidade formadora.
info DESTAQUE Página 25

2. As taxas referidas no número anterior são estabelecidas 4. A instrução e aplicação de contra-ordenações é da


em portaria conjunta dos ministros responsáveis pelas competência do organismo do ministério responsável pela área
áreas das finanças e laboral. laboral competente para a inspecção das condições de
trabalho.
3. O produto das taxas reverte para o organismo do
ministério responsável pela área laboral com
competências no âmbito da promoção da segurança e Artigo 25º
saúde no trabalho.
(Vigência)

Artigo 23º 1. O presente Decreto-Lei entra em vigor 180 dias após a data
da sua publicação.
(Regulamentação) 2. Sem prejuízo do disposto no número anterior,
a obrigatoriedade de cumprimento do requisito de
As portarias referidas nos artigos 16º e 21º devem ser autorização referido na alínea c) dos números 1, 2 e 3
publicadas nos três meses posteriores à entrada em vigor do artigo 7º e alínea c) do número 1, número 3, e alínea b) do
do presente diploma. número 4, todos do artigo 8º, só é exigível decorrido um ano
após a entrada em vigor das portarias referidas nos artigos 16º
e 21º.
Artigo 24º
3. O disposto no número anterior não é aplicável à elaboração
(Contra-ordenações) de projecto ou execução dos trabalhos em obra iniciada antes
da data nele referida.
1. Constitui contra-ordenação muito grave, imputável ao
coordenador e ao dono de obra, o exercício da actividade
de coordenação de segurança por quem não tenha Artigo 26º
autorização para o efeito.
(Regiões Autónomas)
2. Constitui contra-ordenação grave, imputável ao
coordenador e ao dono de obra: Na aplicação do presente diploma às Regiões Autónomas são
tidas em conta as competências legais atribuídas aos
a) A violação do disposto na alínea a) do n.º 1 do respectivos órgãos e serviços regionais.
artigo 5º.

b) A violação das alíneas b) a f ) do n.º 1 do artigo 5º. Artigo 27º

3. Sempre que o exercício da actividade de coordenação de (Revisão)


segurança corresponder à execução de um contrato de
trabalho as contra-ordenações referidas no números O presente diploma deve ser revisto no prazo de cinco anos a
anteriores são imputáveis ao empregador. contar da sua entrada em vigor.
Página 26 DESTAQUE info

Engenheiro Ricardo Reis

Estratégia Nacional para a Segurança


e Saúde no Trabalho 2008-2012
No dia 12 de Março de 2008, através da Objectivo n.º 9: melhorar a qualidade da
Resolução do Conselho de Ministros prestação dos serviços de segurança e saúde
n.º 59/2008, foi aprovada a Estratégia no trabalho e incrementar as competências
Nacional para a Segurança e Saúde no dos respectivos intervenientes.
Trabalho. O sistema de gestão da segurança e saúde no
Ora, nesta, são definidos objectivos claros e trabalho em meio empresarial constitui a
inequívocos através de medidas concretas, que essência da abordagem da prevenção de riscos
gostaria de compartilhar através de algumas profissionais nos locais de trabalho.
transcrições, sem menosprezar logicamente A sua correcta organização, ligada a um
todo o documento, que julgo ser de extrema conveniente enquadramento dos sistemas
relevância e ambicioso, nomeadamente no produtivos das empresas, poderá constituir
“âmbito do desenvolvimento da prevenção de um elemento decisivo para a melhoria efectiva das
riscos profissionais nas empresas”, assim e cito: condições em que o trabalho é prestado, com uma
repercussão directa nos indicadores da sinistralidade
No âmbito do desenvolvimento da prevenção de riscos laboral.
profissionais nas empresas, como pressuposto de uma Para tanto, importará tomar medidas que clarifiquem a
melhoria efectiva das condições de trabalho legislação enquadradora e, simultaneamente, possibilitem
que os intervenientes neste sistema – técnicos de SHT,
Objectivo n.º 8: promover a aplicação efectiva da médicos do trabalho, representantes dos trabalhadores e
legislação de segurança e saúde no trabalho, em especial dos empregadores, trabalhadores designados e, mesmo,
nas pequenas empresas. os próprios empregadores – disponham de mecanismos
A aplicação eficaz do quadro legislativo é indispensável legais simples e compreensíveis e de qualificações
para proteger a vida e a saúde dos trabalhadores e adequadas aos respectivos exercícios e, também, que a
assegurar condições de igualdade para todas as empresas Administração seja dotada dos mecanismos que
que operam no espaço nacional. contribuam para uma maior celeridade processual no
Só um respeito mais rigoroso da legislação poderá âmbito da autorização para a prestação de serviços
contribuir efectivamente para uma verdadeira diminuição externos.
do número de acidentes de trabalho e de doenças Importa, assim, desenvolver as medidas seguintes:
profissionais. (…)
Todavia, o cumprimento da legislação de segurança e Medida n.º 9.4.: desenvolver o processo de auditoria e de
saúde no trabalho por parte das empresas parece revestir acompanhamento da actividade dos serviços externos de
a forma de mero cumprimento burocrático-administrativo. segurança e saúde, de molde a avaliar a capacidade
Tal situação deve ser combatida, através de uma leitura dos serviços autorizados, estabelecendo um plano de
pragmática e simplificadora dos objectivos essenciais das realização de auditorias que possibilite, até ao final de
normas de segurança e saúde. 2008, cobrir a maioria dos serviços autorizados.
No sentido da melhoria da actual situação, propõem-se as (…)
seguintes medidas: Medida n.º 9.6.: estabelecer um programa de auditorias
(…) no âmbito da promoção da segurança e saúde no
Medida n.º 8.8.: consagrar, nos planos de actividades da trabalho, direccionadas em especial aos serviços internos
ACT, as acções preventivas e inspectivas adequadas ao das empresas com relevância social e económica ao
controlo do cumprimento das normas de segurança e nível de cada região, tendo em vista identificar boas
saúde, com prioridade para a intervenção em empresas ou práticas e avaliar o efectivo funcionamento dos serviços,
locais de trabalho onde, no decurso dos últimos três anos, com especial incidência em matérias a definir
tenha ocorrido pelo menos um acidente de trabalho grave, previamente.
sob o ponto de vista das causas, ou mortal. Medida n.º 9.7.: definir um plano de visitas inspectivas
info DESTAQUE Página 27

aos serviços internos de segurança e saúde das empresas, promover a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho em
tendo em vista a verificação do grau de cumprimento das estaleiros da construção, onde se verifica o maior índice
obrigações legais, nomeadamente no que diz respeito à de sinistralidade em Portugal, e como tal uma legislação
execução das actividades principais previstas no âmbito que deveria ser considerada como política a implementar,
do respectivo funcionamento dos serviços. Esta actividade nesta matéria de SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO.
deverá incidir prioritariamente sobre os sectores Esta leitura poderá ser legítima, se for analisado o referido
produtivos das empresas que apresentem maiores índices Decreto-Lei numa óptica de utilizador/pagador, pois é
de sinistralidade e ter em conta a emergência dos novos evidente que o objectivo principal desta legislação foi
factores de risco. reforçar a responsabilidade, neste caso o dono de obra,
Medida n.º 9.8.: conceber e implementar um sistema de que se vê na necessidade de contratar o coordenador de
avaliação da qualidade dos serviços de segurança e saúde segurança (que até à data continu a não se saber as
no trabalho. habilitações exigidas), tendo a seu cargo diversas
(…) responsabilidades, que na sua essência, substituiem a
função da Autoridade das Condições do Trabalho (ACT),
Conforme referido nas medidas acima referidas, tanto a nível de projecto como na obra, ou seja, numa
considera-se da parte da(s) entidade(s) que as vão situação limite será “o braço direito” da ACT mas
promover a necessidade de se munirem de meios remunerado pelo utilizador.
significativos, que possivelmente vão onerar o Orçamento Ora, julga-se fundamental que esta filosofia seja extrapolada
de Estado. para as restantes áreas, nomeadamente indústria, comércio
Pois julga-se que, de certa forma, estas medidas não vão e serviços, agricultura e pescas, etc., onde deverá ser
no sentido que foi emanado através do Decreto-Lei exigido pelos responsáveis das empresas, também na
273/2003, de 29 de Outubro, que estabelece regras gerais óptica do utilizador/pagador, a existência de técnicos
de planeamento, organização e coordenação para habilitados para a implementação da SEGURANÇA
Página 28 DESTAQUE info

Engenheiro Ricardo Reis

E SAÚDE NO TRABALHO, por forma a não onerar o Estado


com auditorias, visitas inspectivas, sistemas de avaliações,
mas sim responsabilizar esses mesmos técnicos que serão
os seus interlocutores, nessas mesmas medidas.

Objectivo n.º 10: aprofundar o papel dos parceiros sociais


e implicar empregadores e trabalhadores na melhoria das
condições de trabalho nas empresas.
A participação e o diálogo social afiguram-se como
fundamentais para a consensualização de políticas de
melhoria das condições de trabalho e do bem-estar nos
locais de trabalho.
Os mecanismos de participação dos representantes dos
trabalhadores e dos empregadores em diferentes fóruns
de diálogo devem ser encaradas de molde a constituírem
um importante instrumento na promoção do
cumprimento das obrigações dos empregadores e dos
trabalhadores em matéria de segurança e saúde, no
exercício efectivo do direito à informação, consulta e
participação dos trabalhadores, bem como da cooperação
entre ambos, aos mais diversos níveis de diálogo.
As medidas seguintes visam dinamizar e favorecer a
implicação efectiva de empregadores e trabalhadores em
diversos níveis de participação.
Nestes termos, efectuam-se as propostas seguintes:
Medida n.º 10.1.: institucionalizar mecanismos de
concertação social sectorial, a implementar nos sectores
de actividade económica com maiores índices de
sinistralidade – construção, agricultura, transportes, entre
outros.
Medida n.º 10.2.: dinamizar a constituição de comissões
paritárias para a promoção da segurança e saúde no
trabalho, a implementar nas grandes obras a desenvolver
no período de vigência da estratégia.
Medida n.º 10.3.: incentivar a introdução de matérias de
segurança e saúde no trabalho na negociação colectiva.
(…)
Medida n.º 10.6.: reequacionar e clarificar as formas de
participação dos trabalhadores no domínio da segurança e
saúde no trabalho, designadamente na sua relação com os
respectivos serviços nas empresas – sejam internos,
sejam externos.

Ainda no âmbito do desenvolvimento da prevenção de


riscos profissionais nas empresas, as medidas acima
referidas, no que diz respeito a aprofundar o papel dos
parceiros sociais, que são bastantes (conforme é
apresentado no esquema reduzido), são de extrema
importância, pois só através destas relações/comunicação
constante entre estes é possível diferenciar o mercado e,
assim, dar maior qualidade às nossas empresas e
consequentemente ao país.
info DESTAQUE Página 29

Comércio e Serviços
Direcção-Geral das Actividades Económicas
Direcção-Geral do Consumidor
Autoridade de Segurança Alimentar e Económica
Conselho Nacional de Defesa do Consumidor
Comissão de Segurança de Serviços e Bens de Consumo
Direcções Regionais da Economia

Construção Civil Turismo


Autoridade para as Condições de Trabalho
Instituto da Construção e Imobiliário Direcções Regionais da Economia

Agricultura e Pescas Indústria


Inspecção-Geral da Agricultura e Pescas Autoridade da Concorrência
Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural Direcção-Geral das Actividades Económicas
Direcção-Geral das Pescas e Aquicultura Direcções Regionais da Economia
Direcções Regionais de Agricultura e Pescas
Página 30 DESTAQUE info

Engenheiro Zulmiro Ferreira Neves

O papel das empresas de construção


na evolução do cumprimento legal
de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho
As empresas que desde cedo adoptaram a se foram tornando insuficientes face à enorme
Certificação da Qualidade, antes ainda do procura, embora desde logo tenham entrado no
aparecimento da Lei-Quadro – o DL 441/91–, mercado empresas de prestação de serviços
criaram, por força da exigência para aquela externos nesta área, para as empresas que
certificação, os Serviços de Segurança, Higiene e preferiram adoptar esses serviços.
Saúde e Ambiente, tomando a dianteira de Algumas empresas aproveitaram a estrutura do
empresas mais avançadas do mercado do sector médico do trabalho, regulamentado pelos DL
da Construção Civil e Obras Públicas. Em termos 47511 e 47512, ambos de 25 de Janeiro de 1967,
legais havia já, desde 11 Agosto de 1958, o para arrancarem com os serviços da SHST.
Regulamento da Segurança no Trabalho da A Lei n.º 7/95, de 29 de Março, altera, por
Construção através dos DL 41820 e DL 41821 e o ratificação do DL 26/94, revogando
Regulamento das Instalações Provisórias, destinadas ao automaticamente os citados DL 47511 e 47512, nos termos
pessoal trabalhador, no DL 46427, de 10 Julho 1965. do seu art.º 31.
Porém, a Directiva Quadro (89/391/CEE) veio estabelecer A evolução vai acelerando com a saída de nova legislação
uma plataforma comum inovadora da prevenção dos riscos que me coíbo de referir, dada a sua utilidade ser reservada
profissionais e a necessidade de se perspectivar a aos técnicos que assumiram para sua profissão esta nova
prevenção numa abordagem global. área de serviços que pela sua exigência e rigor implica
O DL 441/91, de 14 de Novembro, que fez a transposição da formação específica e um certo espírito de missão, dada a
Directiva Quadro para o direito português, foi a rampa de grande dificuldade de fazer passar a mensagem e
lançamento que começou lentamente a gerar uma nova sensibilização, junto dos trabalhadores devido não só à sua
dinâmica no âmbito da Segurança, Higiene e Saúde no fraca formação escolar, como aos hábitos adquiridos de
Trabalho (SHST), surgindo em 1 de Julho de 1995 pouca exigência na higiene e relutância em assumir
o DL 155/95 (Directiva Estaleiros) com o enquadramento conselhos de prevenção e segurança!
das SHST na Construção, transpondo para o direito interno Face à necessidade imperiosa de se reduzir os riscos
as prescrições mínimas da segurança, higiene e saúde a profissionais nos sectores com maior sinistralidade laboral,
aplicar nos Estaleiros Temporários ou Móveis, adoptadas o Governo promete e impõe maior fiscalização, obrigando
pela directiva (92/57/CEE) do Conselho de 24 de Junho. as empresas, orientadas pelas associações da indústria da
Este diploma veio estabelecer as regras orientadoras das construção civil, a assumirem o cumprimento legal, no
acções dirigidas à prevenção da segurança, higiene e saúde combate à sinistralidade por acordo entre o Governo e os
dos trabalhadores no âmbito do definido no art.º 2º do DL parceiros sociais de 9 de Fevereiro de 2001, que previa
441/91, no que respeita a todos os trabalhos de construção também a revisão e o aperfeiçoamento das normas
de edifícios e Engenharia Civil. específicas de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho
Entretanto, grande parte das pequenas e médias empresas neste sector da construção civil e obras públicas, bem como
ia-se mantendo na cómoda posição do deixa ver para crer, o reforço de meios da actividade fiscalizadora, pela maior
até porque Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho implica incidência dos acidentes de trabalho e doenças
despesas que a todo o custo procuravam evitar. profissionais.
No entanto com a publicação do DL 26/94, de 1 de Porque entretanto as empresas tiveram a obrigação de
Fevereiro, as empresas sentiram a exigência legal de acompanhar as exigências, que os próprios donos de obra
criarem os seus serviços internos de SHST e o mercado da passaram a fazer, para cumprimento legal, quanto às suas
formação profissional deu pronta resposta à formação de próprias responsabilidades em matéria de segurança, as
técnicos de segurança quer de nível III quer de nível V que empresas que pretendiam vencer no mercado de trabalho
info DESTAQUE Página 31

corresponderam quer individualmente quer associadas em desenvolvimento da cultura de segurança no nosso país
consórcio e/ou ACE, condicionadas quer pela fiscalização neste sector. De facto, a tendência, ainda que lentamente,
de obra quer pelo coordenador de segurança, quando é a de eliminar quem não tem condições legais para se
exigido. manter no mercado, como os denominados “patos
Os grandes donos de obra, nomeadamente os bravos” que, sem respeito pelos seus trabalhadores, os
concessionários de estradas e não só, criaram comissões de mantêm na ignorância das exigências legais, violando
segurança, para impor rigor absoluto aos construtores, todas as regras criadas para sua defesa na segurança,
sujeitando-os de quando em quando a auditorias de higiene, saúde e ambiente no trabalho.
verificação quanto ao cumprimento dos procedimentos Muitos afirmam que os orçamentos do concurso não
estabelecidos. Estas exigências têm vindo a crescer, por prevêem os custos da segurança!
refinação dos métodos e rigor dos controlos, implicando que De facto é um erro que os projectistas cometem, pois,
as grandes e médias empresas, que têm a obrigação legal de através do seu coordenador do projecto, deveriam prever
apresentar o seu relatório oficial anualmente, deixaram de ser e quantificar toda a envolvente da segurança,
a prioridade de fiscalização para a ACT, que mantém agora a nomeadamente as protecções colectivas e protecções
sua atenção e vigilância prioritária centradas nas pequenas individuais, necessárias à construção em causa, bem
empresas onde ainda se verificam muitos acidentes por como todos os demais equipamentos e mesmo técnicos
ausência quase total de cumprimento legal, seja das de segurança de acompanhamento, de nível V e/ou III,
protecções colectivas contra quedas em altura, seja na conforme a exigência da obra em causa!
ausência de contraventamento nos andaimes e/ou No entanto, as empresas que entram nos concursos é que
escoramento na escavação de valas como, em toda a vária têm de efectuar essa previsão diluída nos artigos ou
série de tarefas de risco, neste tipo da indústria da construção. parcelas orçamentais em concurso, já que sabem ter de
É comum, principalmente nos centros menos cumprir os preceitos legais.
desenvolvidos, encontrarmos à vista de todos o O caminho já andado mostra uma grande evolução
incumprimento total das regras legais de segurança, desde através da estatística dos acidentes, que vai apresentando
os equipamentos utilizados à ausência total de protecções uma redução de acidentes e de mortes por acidente de
quer colectivas quer individuais, ainda que à entrada do trabalho neste sector, o que anima os entusiastas
estaleiro tenham a sinalética obrigatória. especialistas nesta matéria.
Esta prática é geralmente encontrada nos pequenos Continuando as melhores empresas a dar garantia do
empreiteiros que, quando procuram trabalhos de cumprimento legal, contribuem fortemente para a prática
subempreitada, nas grandes ou médias empresas, são lícita, dando confiança à inspecção do trabalho, quer pelos
confrontadas com as exigências de cumprimento por elas quadros de técnicos de segurança que possuem quer
imposto, em defesa da sua imagem e da sua credibilidade pelos seus procedimentos internos de controlo rigoroso
no mercado, muitas vezes sob os procedimentos que das condições de prevenção e segurança, que
possibilitaram a certificação da qualidade e mesmo a desenvolvem.
certificação conjunta da própria segurança, higiene e saúde Consciente deste facto, pode a ACT continuar a reduzir o
e ambiente. esforço dos seus inspectores, centrando a sua acção nos
Ainda há relativamente pouco tempo, os subempreiteiros pequenos empreiteiros e/ou pequenas obras, para que
preferiam trabalhar com as empresas que não faziam tenhamos a curto prazo um sector da Construção Civil e
exigências! Porém, a ACT tem feito enorme pressão na total Obras Públicas, trabalhando pelas mesmas regras de
legalização documental, desde o alvará à regularização da segurança, no cumprimento integral das leis do trabalho.
segurança social e fiscal, contratos do pessoal trabalhador Quantas vezes encontramos trabalhadores que fogem da
quer nacional quer estrangeiro, etc., incluindo toda a formação e das acções de sensibilização, afirmando-se já
documentação legal dos equipamentos mecânicos e dos conhecedores porque, lá no estrangeiro por onde
próprios trabalhadores. passaram, quem não cumprisse ia para a rua! Por que
As empresas que assumiram a política da segurança como será pois que o mesmo trabalhador não cumpre em
afirmação da sua política da qualidade vão além do simples Portugal, seu país natal?
cumprimento legal, mantendo técnicos experimentados, na Esperemos que as próximas gerações possam conseguir
vigilância interna com inspecções às suas obras, no rigoroso assimilar que no trabalho, qualquer que seja a profissão,
zelo pelo cumprimento legal, contratual e normativo. só pode ser bom artista aquele que assumir e praticar no
Asseguram assim um maior controlo na gestão da segurança. dia-a-dia a sua pessoal preocupação pelas condições de
Estas empresas são as que maior rigor impõem aos seus segurança no seu posto de trabalho, única garantia do seu
inúmeros subempreiteiros, contribuindo assim para o ganha-pão e bem-estar de toda a sua família.
Página 32 DESTAQUE info

Engenheiro João Jorge Ferreira Baptista – Coordenador de Segurança da EP – Estradas de Portugal

Promoção dos Planos de Emergência


numa empreitada de obra rodoviária
“Quando algo pode correr mal, então vai acontecer!”
– Lei de Murphy

Quando estamos a executar um empreendimento, o


acidente pode ocorrer. Às vezes ele acontece na obra
“mais segura” e quando assim for temos que ter todos os
mecanismos preparados e funcionais para dar início ao
resgate e salvamento de quem precisa.
Mas nessa altura podemo-nos deparar com grandes
dificuldades que poderão atrasar o resgate e salvamento da
vítima ou mesmo impossibilitar esse resgate por largas horas,
o que poderá resultar numa morte que podia ter sido evitada.
Na minha vivência profissional, em que já levo alguns
anos nesta “missão” de coordenador de segurança em
obra, deparei-me com inúmeros obstáculos e dificuldades
no accionamento do Plano de Emergência. A saber:

1 - Grande extensão dos empreendimentos.


O nosso estaleiro estende-se por vários quilómetros e
com várias frentes de trabalho, sendo que estas frentes
estão interligadas com vários estradas nacionais ou
caminhos municipais e para chegar junto do sinistrado
por vezes demora-se muito tempo.
conhecimento dos bombeiros locais, conjugados com o
2 - Dificuldade de transmitir a localização exacta do factor do estado atmosférico, podem estar intransitáveis
acidente. para a passagem dos veículos de pronto-socorro,
A pessoa que vai contactar os meios de socorro (INEM, ambulâncias, etc.
Bombeiros, Protecção Civil, etc.) por vezes não sabe
explicar, de uma forma clara, qual o local do acidente ou, 4 - Dificuldade de evacuação do trabalhador do local do
então, dado o nervosismo que é natural num momento acidente.
destes, informa que o acidente ocorreu no viaduto X ou na Coloquemos agora um caso que é muito provável de
passagem superior Y, e isso não é uma linguagem ocorrer num empreendimento do tipo rodoviário: um
perceptível pelo operador do INEM que está a anotar os trabalhador ferido com gravidade em cima de um
dados do acidente e que poderá encaminhar os meios de tabuleiro de um viaduto que está em construção cujo
socorro para um local da obra (como por ex. o estaleiro acesso pelos encontros ainda não existe e o único acesso
central de apoio) a quilómetros de distância do local do é através de escadas torre de andaime. Como descer a
acidente. maca com o sinistrado? Pelas escadas? E como virar nos
lanços de escada, se o espaço é tão reduzido?
3 - Dificuldade de os veículos do pronto-socorro acederem Acima identificadas as dificuldades operacionais, lembro
ao local do acidente. ainda uma dificuldade de ordem psicológica, que é a de
Como estamos a falar de obras rodoviárias, muitas vezes quem está no local, junto do acidentado, e nada pode
os acessos às frentes de trabalho são provisórios ou não fazer pois não tem conhecimentos médicos e dos minutos
existiam. Ora estes acessos, que não são do de espera até chegar o tão desejado auxílio que parecem
info DESTAQUE Página 33

uma eternidade... Perante isto o que fazer? • Verificar e garantir que os acessos às várias frentes
Os Planos de Segurança e Saúde fazem referência aos de obra estão transitáveis, nomeadamente para
Planos de Emergência, contudo este assunto, não raras ambulâncias.
vezes, é esquecido ou não passa de uma simples folha • Manter os caminhos livres e desimpedidos, sem
com os “contactos de emergência”, sem que seja equipamentos pesados a obstruir a passagem das
devidamente acautelado o que devia ter sido feito, antes ambulâncias.
de acontecer o acidente. • Ter os meios de evacuação adequados.
Para melhorar a eficácia do Plano de Emergência e • Ter no local uma manta térmica, no caso de obras
consequentemente a resposta rápida em caso de acidente, em zonas de montanha ou em época de Inverno.
aqui ficam algumas sugestões: Com as sugestões acima enumeradas, esperamos reduzir
– Elaborar uma planta com a localização dos Pontos de o tempo entre o acidente e o auxílio à vítima e assim
Encontro (PE) com o INEM/Bombeiros; estes PE ficam podermos contribuir para uma efectiva redução da
nas intersecções do empreendimento com as vias públicas sinistralidade grave ou mortal num dos sectores mais
existentes. complicados, como é o caso do sector da Construção Civil
– Contactar as autoridades de pronto-socorro e Obras Públicas.
(Protecção Civil/INEM/Bombeiros) e agendar uma
reunião e visita conjunta ao empreendimento para
aprovação da localização dos PE junto destas
entidades.
– Verificar, com elas, se o Plano de Emergência e em especial
se os Pontos de Encontro e os meios de resgate são os
suficientes e os necessários, pois por vezes torna-se
necessário adquirir na obra uma maca de resgate e
salvamento vertical (do tipo utilizado pelos helicópteros da
marinha, em operações de salvamento no mar, ver foto) para
evacuar um trabalhador de um local de difícil acesso.
– Dar formação sobre o Plano de Emergência a
todos os intervenientes na obra, elucidando sobre
como actuar em caso de acidente, como accionar o
Plano de Emergência, que tipo de informação relevante
deve ser dita ao operador que está do outro lado do
telefone e indicar qual o PE mais próximo do local do
acidente, etc.
– Promoção de um simulacro de acidente, de forma a
testar o grau de eficácia do Plano de Emergência;
– Elaborar um relatório do referido acidente e tirar as
necessárias ilações, nomeadamente corrigir o que correu
mal durante o simulacro, por forma a que não se repitam
os mesmos erros numa situação real, caso venha a
ocorrer.
Da experiência vivida em vários simulacros, e do que
correu menos bem nos mesmos, aqui ficam algumas
sugestões:
• Verificar se em todas as frentes existem plantas com
os PE e contactos de emergência.
• Verificar se a formação sobre este tema foi dada a
todas as equipas de trabalhadores.
• Garantir que existem “primeiros socorristas” em
número adequado e próximos das várias frentes de obra,
que têm um papel importante de orientar as operações e
“tranquilizar” a vítima, mas que não podem assumir actos
médicos, pois não é essa a sua função.
Página 34 VIDA ASSOCIATIVA info

IV Dia Regional Norte manifestou um desejo: “Espero que esta alargamento de fronteiras”.
do Engenheiro seja a primeira de muitas visitas ao reino O rol de intervenções da sessão de
de Miguel Torga”. abertura do Dia Regional terminou com
O distrito de Vila Real acolheu, nos dias O governador civil do distrito, António as palavras de Manuel Martins,
27 e 28 de Junho, o IV Dia Regional Martinho, mostrou-se honrado em presidente da Câmara Municipal de Vila
Norte do Engenheiro. O primeiro dia foi participar neste encontro e deixou um Real, que anunciou a doação de um
pontuado pelas passagens pela obra de elogio à Engenharia: “No distrito temos terreno pela autarquia, numa zona nobre
construção do Museu do Douro, pela motivos de sobra para homenagear a da cidade, para a construção da nova
Casa do Douro e pelo Instituto do Vinho Engenharia e os engenheiros que tanto sede regional da Ordem dos
do Porto. Visitas seguidas de um jantar, contribuíram para o desenvolvimento do Engenheiros (OE): "É preciso dar vida à
ainda no Peso da Régua, durante o qual país e da região”. A mesma gratidão parte velha da cidade e o vosso espaço
se debateu o tema Douro Alliance demonstrou Carlos Sequeira, vice-reitor tem de ser um paradigma. A casa dos
apresentado pelo engenheiro José Carlos da Universidade de Trás-os-Montes e engenheiros do Norte de Portugal tem
Fernandes. Alto Douro (UTAD), perante “a de ser um bom exemplo", afirmou.
O Teatro Municipal de Vila Real foi o Engenharia que soube dar resposta às O autarca sublinhou ainda a total
palco escolhido para a sessão solene do transformações sociais vividas ao longo disponibilidade para assegurar a
Dia Regional, cuja abertura coube ao dos tempos e aos novos desafios, como candidatura ao QREN, conjuntamente
delegado distrital Luís Pizarro que a globalização, a moeda única e o com a UTAD e com as associações
info VIDA ASSOCIATIVA Página 35

empresariais, para a construção de um binómio: eólica/hídrica; parque eólica com a hidroeléctrica, deixou
parque de Ciência e Tecnologia e hidroeléctrico em desenvolvimento alguns sinais positivos no que respeita
Agro-alimentar, "um grande desafio que (reforços de potência e novos ao crescimento da vertente eólica:
vai representar um enorme salto aproveitamentos), finalizando com uma "5 mil megawatt (MW) eólicos não é
qualitativo que Vila Real precisa", referiu. breve abordagem ao Programa Nacional miragem. Entre 2012 e 2015 podemos
Finalmente, Manuel Martins dirigiu de Barragens de Elevado Potencial estar lá muito perto", referiu. No que
algumas palavras de apreço aos Hidroeléctrico, lançado pelo Governo concerne aos reforços da potência,
engenheiros Luís Valente de Oliveira e Português. expôs o engenheiro Abílio Seca Teixeira,
Manuel Cardoso Simões, os O engenheiro da EDP começou por "estão em construção 940 MW".
homenageados do IV Dia Regional Norte referir que a posição portuguesa em Quanto aos novos aproveitamentos,
do Engenheiro. matéria de potencial hidroeléctrico não destacou o do Baixo Sabor, "que vai
Antes mesmo da cerimónia protocolar é favorável, quando comparada com a mais do que duplicar a capacidade de
de homenagens, teve lugar uma palestra de outros países europeus, já que o armazenamento portuguesa na bacia do
sobre "O Futuro da Hidroelectricidade na país, apesar de ter muitos recursos Douro com a maior vantagem de criar
Região Norte" proferida pelo engenheiro hídricos, tem um grande potencial uma grande reserva de água para
Abílio Seca Teixeira. Tema que foi ainda por explorar. Mais tarde, aquando utilização em situações de emergência".
explanado nas mais diversas vertentes, da abordagem do interesse do Finalmente abordou o Programa
entre as quais o potencial hidroeléctrico; funcionamento conjunto da produção Nacional de Barragens, salientando
nomeadamente o aproveitamento de
Foz do Tua. “A meta do Programa
consiste em atingir 7 mil MW em
2020", foi outro dos aspectos
abordados, salientando a significativa
contribuição dos novos
aproveitamentos na Zona Norte de
Portugal, centrados na bacia
hidrográfica do rio Douro.
O presidente do Conselho Directivo da
Região Norte da OE, Gerardo Saraiva de
Menezes, deu início à cerimónia
protocolar, elogiando "a excelência e a
singularidade das carreiras dos
homenageados neste que é mais um
dia de afirmação da Engenharia
portuguesa. Um dia de festa ao qual se
associam os 70 anos da criação da
delegação Norte".
José Alves Ribeiro, engenheiro
agrónomo e professor emérito da UTAD,
na área de Agronomia, presidiu à
homenagem ao também engenheiro
agrónomo Manuel Cardoso Simões,
"uma das grandes figuras da Engenharia
Agrónoma portuguesa e uma pessoa de
qualidades humanas fantásticas, um
grande senhor e um grande amigo".
Já o ex-governante Arlindo Cunha
enalteceu as qualidades do seu
Página 36 VIDA ASSOCIATIVA info

ex- companheiro político Luís Valente Organização Internacional do Trabalho apoiantes, entre os quais a OIT, a
de Oliveira baseando-se em seis notas (OIT) foram assuntos centrais. Agência Europeia para a Segurança e
da sua personalidade: o espírito de O congresso realizou-se nos dias 3 e 4 Saúde do Trabalho e a Associação
rigor e aprofundamento dos de Julho, na Alfândega do Porto, e foi Internacional da Segurança Social.
problemas que trata, um dos homens organizado pela Ordem dos Os riscos psicossociais no trabalho
mais cultos do nosso tempo – “um Engenheiros – Região Norte (OERN) foram um dos temas debatidos neste
pensador” –, a descrição e a lealdade, em cooperação com a Autoridade para congresso internacional. O trabalho
a enorme visão estratégica, o grande as Condições de Trabalho (ACT) e com precário, a intensificação do trabalho, a
sentido de estado no exercício das a Associação Portuguesa para a violência e a intimidação, bem como a
suas funções públicas, o espírito de Segurança e Higiene do Trabalho incompatibilidade entre a vida privada e
cidadania e a regionalização. (APSET). a profissional são actualmente alguns
"Ninguém em Portugal se dedicou Tal como no congresso transacto, o dos fenómenos que assumem
tanto a esta causa como Luís Valente evento deste ano contou com um preponderância em termos de queixas
de Oliveira", concluiu. grande conjunto de patrocinadores e de dos trabalhadores. Neste âmbito,
Depois da recepção aos novos membros
da Ordem dos Engenheiros – Região
Norte e da distinção dos membros com
mais de 25 e 50 anos de inscrição, o
Bastonário da OE, Fernando Santo,
proferiu algumas palavras, sublinhando a
crescente afirmação da classe
profissional dos engenheiros no
desenvolvimento do país e reiterando a
marca de qualidade da OE que se
diferenciou face àquilo que o ensino não
conseguiu fazer.
Como ilustrou o delegado distrital, Luís
Pizarro, "este encontro regional, que
começou com as cores, cheiros e sons
do reino maravilhoso de Miguel Torga,
terminou com os seus sabores num
almoço convívio na Quinta de Santo
António, em Vila Real".

8.º Congresso Internacional


de Segurança, Higiene
e Saúde do Trabalho

A avaliação dos riscos profissionais, no


sentido da prevenção e da melhoria de
condições e de saúde no trabalho, foi o
principal tema de debate do 8.º
Congresso Internacional de Segurança,
Higiene e Saúde do Trabalho.
A Estratégia Europeia para a Segurança
e Saúde no Trabalho para os anos 2007
-2012 e a Convenção 187 da
info VIDA ASSOCIATIVA Página 37

Garcia Pereira, advogado especialista Luís Lopes, na última sessão plenária existentes em Portugal na área da
em Direito do Trabalho, alertou para os do 8.º Congresso Internacional de Segurança e Saúde no Trabalho e dos
problemas de assédio moral, Segurança, Higiene e Saúde do principais riscos que os trabalhadores
destacando que o número de casos que Trabalho, a 4 de Julho. correm. No que diz respeito a prazos
são levados até à Justiça constitui uma Criada na sequência da aprovação, pelas para a aplicação deste inquérito, Luís
ínfima minoria da realidade. "A grande instâncias da União Europeia, de uma Lopes espera "que os seus indicadores
questão do ponto de vista jurídico-legal, nova Estratégia de Segurança e Saúde estejam identificados até ao fim deste
mais do que a prova de existência de no Trabalho para o período 2007 - 2012, ano para que, numa segunda fase,
situações de assédio e da consagração a Estratégia Nacional tem como seja feita a elaboração técnica do
formal da sua ilicitude, é a de conseguir objectivo reduzir de forma constante e mesmo, que ficará a cargo do Instituto
que os nossos tribunais conheçam e consolidada os índices de Nacional de Estatística. A partir daí o
compreendam a enorme gravidade dos sinistralidade laboral, aproximando-os inquérito será colocado no terreno e
danos que este tipo de assédio dos padrões europeus. Neste âmbito, serão tratados os dados para que se
necessariamente causa às suas vítimas a Resolução de Conselho de Ministros cumpra o compromisso de que até ao
e fixem indemnizações realmente n.º 59/2008, publicada em Diário da fim desta Estratégia tenhamos os
condignas e proporcionais àquela República, que aprova a Estratégia factos tratados, publicados e,
gravidade", defendeu o jurista. Nacional para a Segurança e Saúde no sobretudo, resultados obtidos".
A segurança rodoviária ocupacional foi Trabalho, determina, como essencial, Após a apresentação decorreu um
também tema deste congresso. Apesar "que se caminhe no sentido do debate que contou com a presença de
das diversas campanhas de desenvolvimento e consolidação de um representante dos empregadores,
sensibilização e alterações ao Código de uma verdadeira cultura nacional de Nuno Biscaya, da Confederação da
Estrada, a sinistralidade rodoviária em prevenção, entendida nos termos da Indústria Portuguesa (CIP), e de dois
Portugal envolvendo condutores Convenção 187 da OIT, como o direito representantes dos trabalhadores:
profissionais em veículos ligeiros e a um ambiente de trabalho saudável e Carvalho da Silva, da Confederação
pesados de mercadorias, tractores seguro, respeitado aos mais diversos Geral dos Trabalhadores Portugueses
agrícolas e pesados de passageiros, níveis e no qual os governos, os (CGTP), e João Proença, da União
continua a apresentar números empregadores e os trabalhadores se Geral dos Trabalhadores (UGT).
preocupantes. De acordo com vários comprometam activamente com João Proença sublinhou que os
estudos apresentados sobre as causas recurso instrumental a um sistema de trabalhadores são destinatários e
da sinistralidade, para além do veículo e direitos, responsabilidades e agentes nas medidas de saúde e
do meio, os condutores são os obrigações no qual o princípio da segurança, não deixando de apontar
principais causadores de acidentes. prevenção seja concertado ao mais também a responsabilidade a estes
alto nível". quando não cumprem as regras.
Luís Lopes salientou que é "a primeira A falta de formação e de informação
Estratégia Nacional para a Segurança vez que o país tem uma Estratégia foi realçada como um dos problemas
e Saúde no Trabalho 2008-2012 Nacional para a Segurança e Saúde no associados ao não cumprimento
Actualmente, a prevenção dos acidentes Trabalho para vários anos" tendo sido, dessas regras de segurança.
de trabalho e das doenças derivadas da neste sentido, o terceiro Estado- "O trabalhador tem os seus direitos e
situação profissional detém uma membro a apresentar este deveres nesta matéria, embora muitas
importância estratégica no quadro das instrumento de política global de vezes não os cumpra porque não está
políticas públicas comunitárias e promoção da segurança e saúde no devidamente informado", referiu o
nacionais. Nesse ponto, assume trabalho, de médio prazo. secretário-geral da UGT.
particular importância a Estratégia Um dos pontos de relevo da Estratégia A necessidade de que a segurança e
Nacional para a Segurança e Saúde no Nacional, no âmbito da promoção da higiene do trabalho seja reconhecida
Trabalho para o período 2008 - 2012, prevenção, será a realização de um como um direito efectivo dos
apresentada pelo Coordenador inquérito nacional às condições de trabalhadores foi uma das ideias
Executivo para a Promoção da trabalho que permitirá fazer um defendidas pelo secretário-geral da
Segurança e Saúde no Trabalho da ACT, diagnóstico dos principais problemas CGTP. No âmbito da concretização
Página 38 VIDA ASSOCIATIVA info

desta Estratégia, considera ainda com vista a melhorar a saúde e a Ponte de Lima e Viana do Castelo
fulcral que as medidas sensibilizem os segurança no local de trabalho. cobrindo uma área total de mais de
empregadores e trabalhadores para A campanha Locais de Trabalho Seguros 1778 km2. Este sistema multimunicipal
esta problemática e criem uma e Saudáveis realça a necessidade da compreende um conjunto de infra-
efectiva cultura de prevenção, tendo avaliação de riscos em conformidade estruturas que permite uma melhor
como base a fiscalização e controlo do com a Estratégia Comunitária para a gestão e controlo dos resíduos urbanos.
cumprimento da lei. Saúde e a Segurança no Trabalho, que Conta com um Aterro Sanitário, um
visa reduzir em um quarto os Ecocentro e um Centro de Tratamento
"Locais de Trabalho Seguros e acidentes de trabalho em toda a UE em Vila Fria, Viana do Castelo; uma
Saudáveis. Bom para si. Bom para as durante o período de 2007 a 2012. Estação de Transferência com
empresas" Ecocentro, em Oliveira, Arcos de
Segundo estatísticas publicadas pelo Valdevez; e um conjunto de 725
Eurostat, na União Europeia (UE) Visita à empresa Resulima Ecopontos espalhados pelos seis
morrem anualmente 5720 pessoas na concelhos. Para além disso, as
sequência de acidentes relacionados No passado dia 6 de Setembro a actividades passam também pela
com o trabalho. Além disso, segundo a delegação da Ordem do distrito de promoção da recolha selectiva e
OIT, morrem ainda anualmente 159 500 Viana do Castelo organizou, tal como valorização dos subprodutos e pela
trabalhadores na UE devido a doenças foi divulgado, uma visita à empresa selagem e requalificação ambiental,
ocupacionais. Resulima, Valorização e Tratamento de aspectos essenciais para atingir os seus
A maior parte destes acidentes e Resíduos Sólidos, SA, sediada na objectivos.
doenças podem ser evitados, sendo freguesia de Chafé, concelho de Viana Nas suas instalações o engenheiro
necessário para a sua prevenção a do Castelo, associada a uma prova de Manuel Cardona, administrador
avaliação de riscos. É esta a karting, no Kartódromo da Amorosa. delegado, fez uma clara exposição da
mensagem da campanha “Locais de A Resulima é a entidade gestora do composição e actividade da empresa,
Trabalho Seguros e Saudáveis. Bom Sistema Multimunicipal do Vale do da sua estrutura, do seu
para si. Bom para as empresas”, que Lima e Baixo Cávado, que tem por enquadramento à escala nacional e
constituiu um dos principais motes do objectivo a valorização e tratamento dos dos objectivos atingidos e dos
8.º Congresso Internacional de Resíduos Sólidos Urbanos produzidos esperados a curto prazo.
Segurança, Higiene e Saúde do naquela região geográfica. Abrange os Após a comunicação houve uma
Trabalho. concelhos de Arcos de Valdevez, breve troca de perguntas e respostas
Lançada pela Agência Europeia para a Barcelos, Esposende, Ponte da Barca, com os engenheiros presentes e daí
Segurança e a Saúde no Trabalho (EU-
OSHA), a campanha conta com a
participação de uma grande variedade
de empresas e organizações em todos
os Estados-membros. Este conjunto de
esforços incide especialmente em
sectores de alto risco como a
construção, os cuidados de saúde e a
agricultura, assim como nas
necessidades das pequenas e médias
empresas, e decorrerá ao longo de
dois anos (2008-09).
De acordo com a legislação comunitária,
todos os empregadores da UE têm o
dever legal de efectuar avaliações de
riscos, que os ajudarão a compreender
melhor as medidas que têm de adoptar
info VIDA ASSOCIATIVA Página 39

Delegação de Vila Real Seguimos para a aldeia de Tresminas


na aldeia de Tresminas na qual visitámos a sua interessante
igreja e onde nos foi servida uma
A Delegação Distrital de Vila Real da excelente refeição. Proporcionado um
Ordem dos Engenheiros realizou, a 12 de momento de descanso e de animado
Julho, uma visita técnica ao Couto convívio, regressados a Vila Pouca de
Mineiro Romano de Tresminas. Aguiar, seguimos para uma visita ao
Partindo dos antigos paços do concelho Castelo de Aguiar, interessante
e após terem sido presenteados com fortaleza medieval no Vale de Vila
literatura alusiva à visita a realizar, bem Pouca de Aguiar, terminando
como a Carta Arqueológica do Concelho assim um dia intenso mas muito
de Vila Pouca de Aguiar, o grupo de agradável.
colegas iniciou a sua visita no autocarro É importante referir, que há cerca de
cedido pela Câmara Municipal, um ano, a delegação distrital fez uma
conduzido por Catarina Chaves, técnica visita técnica ao viaduto de Vila Pouca
superior da empresa municipal Vitaguiar. de Aguiar, tendo mais uma vez como
A visita mereceu de todos os colegas apoiante e organizador incansável o
rasgados elogios, quer pela qualidade da colega engenheiro Virgílio Fernandes,
iniciou-se a visita guiada aos explicação, quer pelo interesse das ao qual agradecemos toda a ajuda
pavilhões em laboração, bem como às soluções adoptadas há cerca de 2000 que tem prestado nas iniciativas desta
proximidades do respectivo aterro anos na exploração de ouro e pela delegação.
sanitário. inegável importância económica e É justo fazer aqui um agradecimento
Dado o interesse que suscitou esta arqueológica deste couto mineiro para público à Câmara Municipal de Vila
visita, bem como a perspectiva de, a toda a região e de todos os outros locais, Pouca de Aguiar, na pessoa do seu
breve prazo, serem preparadas alguns bastante próximos, onde já foi presidente, Domingos Dias, por todo
instalações para valorização explorado ouro e outros metais o apoio que tem dado às nossas
energética de biogás e por se tratar de preciosos. Muito ficou por ver, ficando iniciativas no seu concelho.
matéria muito actual, ficou acordado assim prometida nova incursão para o
agendar-se uma nova visita para que ano de 2009. Luís Pizarro, delegado distrital
os técnicos interessados nestas
questões das energias renováveis
fiquem com informação mais
actualizada nesse domínio.
Seguiu-se a prova de karting que foi
muito animada, com as emoções
naturais que os desportos
motorizados trazem e pelo facto de se
ter conseguido atingir os limites
próximos do recorde da pista do
Kartódromo da Amorosa e à parte de
despistes, sem consequências de
maior, a prova chegou ao fim com a
distribuição de prémios e subida ao
pódio dos vencedores, tendo-se
encerrado esta iniciativa com um
almoço no self-service do kartódromo
que deu azo a uma “cavaqueira”
muito interessante até meio da tarde.
Página 40 ENGENHARIA info
NO MUNDO

Primeira mão biónica incluindo soldados norte-americanos pela contracção das fibras musculares
que perderam membros durante a do corpo. Eles são usados pelo com-
do mundo ganha guerra no Iraque. putador, nas costas da mão, que tem
Ray Edwards, que sofreu uma ampu- duas funções: interpretar esses sinais
prémio de Engenharia tação quádrupla, foi um dos primeiros e controlar a mão", explicou Stuart
beneficiários da mão biónica mais Mead.
O prémio MacRobert – o maior pré- avançada do mundo e em declarações Apesar de outras empresas e organi-
mio britânico de Engenharia – foi atri- à estação televisiva BBC mostrou-se zações, como a Agência Espacial
buído este ano à primeira mão bióni- emocionado: "Foi a primeira vez, em norte-americana e o Departamento de
ca do mundo. A distinção da Real 21 anos, que vi uma mão abrir-se. investigação militar dos EUA – Darpa
Academia de Engenharia, que todos Posso segurar numa caneta e fazer –, terem já desenvolvido próteses
os anos premeia um projecto inova- muitas coisas que antes me eram avançadas de mãos, estas não passa-
dor, foi assim atribuída à mão i-LIMB impossíveis", afirmou. ram de protótipos e, assim, a i-LIMB
– uma prótese avançada que permite Segundo Stuart Mead, administrador é a única disponível no mercado.
maior controlo e mobilidade. da Touch Bionics, a i-LIMB tem ainda Ainda assim este exemplar de alta tec-
Produzida pela empresa escocesa mais uma característica única que é o nologia, ao serviço da saúde, não é
Touch Bionic, a i-LIMB destaca-se polegar que se pode mover num acessível para todos. O custo total de
pelo facto de cada um dos cinco ângulo de 90 graus, tal qual um dedo aplicação do dispositivo ronda os 38
dedos da mão ter um motor próprio e humano. "É a primeira prótese que mil euros, quase o triplo do valor de
poder ser movido autonomamente, simula tanto a forma como a função uma prótese normal. Ainda assim, a
sendo que a bateria dos cinco moto- da mão humana", referiu. empresa escocesa que a produz abriu
res foi concebida para durar um dia e Graças a dois eléctrodos aplicados na já uma delegação nos EUA, país onde
ser recarregada durante a noite. pele, para detecção do impulso eléc- o aparelho tem tido bastante procura.
Esta inovação, segundo os seus trico do músculo, a i-LIMB não exige Portugal não tem ainda representante
inventores, faz com que esta seja a cirurgia. "Os impulsos são gerados da mão biónica.
primeira prótese a funcionar tal qual
uma mão real. Além da tecnologia
que permite a articulação múltipla
dos dedos, a chave do sucesso desta
mão biónica está ainda na sua viabili-
dade comercial – é a única que existe
no mercado – desde que foi lançada,
em Julho do ano passado. Contudo, a
sua génese remonta a 1963 quando,
na Escócia, se deu início ao desenvol-
vimento do projecto no âmbito de um
plano que visava auxiliar crianças víti-
mas de talidomida – uma doença que
se caracteriza pela atrofia e malforma-
ção dos membros.
A prótese foi desenvolvida, usando
uma cobertura de chumbo na extremi-
dade, recorrendo a tecnologias de
Engenharia Electrónica e Mecânica, e
foi produzida com plásticos
ultra-resistentes. O resultado foi um
dispositvo protésico de nova geração
leve, robusto e esteticamente apelati-
vo, quer para os pacientes, quer para
os profissionais de saúde.
A i-LIMB foi já aplicada em cerca de
200 pessoas, a título experimental,
info PERFIL JOVEM Página 41

Edgar Basto

Estágio profissional “Leonardo Da Vinci”


Como surgiu a oportunidade do estágio profissional “Leonardo
Da Vinci” ?
Na busca da minha profissionalização estive sempre atento às
possibilidades e ofertas de estágio. Um dos meus objectivos
profissionais e de vida passou sempre por poder fazer parte da
empresa Mota-Engil. Felizmente tive uma oportunidade com a
possibilidade proporcionada pela Ordem dos Engenheiros –
Região Norte que, com esforço e numa perspectiva de propor-
cionar novos voos a jovens recém-licenciados em Engenharia e
ao abrigo do programa Leonardo Da Vinci, abria a possibilidade
de estágio no grupo Mota-Engil.
Logo que tomei conhecimento concorri e após processo de ção, autonomia e autoconfiança, aumentando o conhecimento
selecção com várias entrevistas fui seleccionado para o referido que eu sentia crescer em cada dia de trabalho.
estágio integrando a sucursal polaca (Mota-Engil Polska), sedia-
da em Cracóvia. O que retirou de mais importante deste estágio?
O estágio foi profícuo e extremamente positivo, já que me
E a Polónia seduzia-o? levou num percurso de aprendizagem pelos departamentos
Cracóvia era para mim um lugar familiar, já que aí tinha feito o comercial, jurídico, controlo de custos, produção e aprovisiona-
programa Erasmus na Universidade Tecnológica de Cracóvia, mento. O mesmo estágio abriu-me outras portas que só uma
orientado pelo Phd. Karol Ryz, onde desenvolvi um trabalho de grande empresa como o grupo Mota-Engil pode proporcionar a
projecto sobre testes de carga numa ponte, acompanhando a um jovem engenheiro em início de carreira.
reconstrução da mesma. Tinha deixado muitos amigos de Durante o meu estágio em Cracóvia tive ainda a possibilidade
Engenharia e de outros cursos que me receberam de novo e de frequentar um curso de língua polaca que me servirá como
onde, portanto, o problema de integração social não se mais-valia para o meu futuro. Consolidei as minhas amizades e
colocou. criei outras novas. Cresci como homem, ao ter a minha autono-
mia, e passei a ter hábitos que até aí não me eram familiares,
Como foi recebido em Cracóvia? tais como gerir o meu pequeno salário, fazer as minhas com-
Após ter resolvido algumas questões de ordem pessoal, como pras, cozinhar e tratar da minha roupa.
por exemplo arranjar alojamento, iniciei o percurso normal de
trabalho exigido pela minha orientadora de estágio – engenhei- Aconselharia um jovem engenheiro a fazer um estágio
ra Carla Ribeiro, – à qual quero aqui expressar o meu agradeci- no estrangeiro?
mento, tanto pelo know-how transmitido, como pela sua atitu- Queria neste meu pequeno texto deixar uma mensagem de
de pessoal. esperança para todos aqueles que como eu quererão partir em
Fui bem recebido pelos membros dos diferentes departamen- busca de mais conhecimento e de novas partilhas, baseadas na
tos onde estive integrado e também por todos com quem con- crença de encontrar uma empresa como a que eu encontrei e
tactei ao longo do estágio. onde, afinal, ainda existe ética, valores humanos e esperança.
Neste momento já faço parte desta “grande família”, ao ter-me
Como foi trabalhar na sucursal polaca do grupo Mota-Engil? sido oferecido e ter aceite um contrato de trabalho com a
Todo o conhecimento adquirido ao longo destes meses obri- Mota-Engil Roménia.
gou, da parte da empresa Mota-Engil Polska, à disponibilização Sempre fui um jovem com conhecimentos de globalização e
de meios, recursos, espaço físico e capital humano que me per- dos meios e desafios que isso me poderia proporcionar. É claro
mitiram estabelecer relações entre o capital teórico recebido na que a separação da família e dos amigos nem sempre é fácil.
universidade e o verdadeiro mundo do trabalho. Viver o período de estágio no limiar da contabilidade financeira
Os meus superiores e orientadores no estágio, ao disponibiliza- também é muito difícil. Porém só vencendo estes obstáculos
rem o seu saber, valorizaram sempre a minha actividade e as terei a possibilidade de me projectar para a vida e aumentar os
minhas soluções, tendo por isso estimulado a minha motiva- meus conhecimentos práticos, teóricos e sociais.
Página 42 LAZER info

Agostinho Peixoto, consultor/especialista em Turismo

A Via Nova Romana –


A Geira na Serra
do Gerês

A Via Nova – História


No conjunto da rede viária do extenso
império romano, o caminho entre
Bracara Augusta (Braga) e Asturica
Augusta (Astorga – Província de
Léon), por Bergidum Flavium de La Sapienza de Roma, numa feliz e Domiciano documentam a abertura
(Ponferrada), constitui um expressão: “Foresta di Migliari”, Assim da via. O granito e o xisto, que
testemunho excepcional de uma se constituiu a Geira Romana na formam o substrato rochoso ao longo
época em que a Europa era um Serra do Gerês. de grande parte do traçado da via,
espaço comum. A construção da Via O traçado da Via Nova foi foram utilizados de forma abundante,
Nova, na segunda metade do século I cuidadosamente planeado por nos pavimentos lajeados, nos muros
d.C., reforçou a malha viária, arquitectos, engenheiros e pelos de suporte, nas obras de arte e nos
permitindo o reordenamento gromatici, os topógrafos que, apesar miliários. Num contexto climático
territorial, a intensa actividade dos utensílios rudimentares, já com alta pluviosidade, com pendores
mineira, com destaque especial para o calculavam com exactidão as significativos, o traçado da Via Nova
ouro, contribuindo a longo prazo para distâncias e os declives. A Via Nova estava sujeito a processos erosivos
a emergência de uma entidade foi construída de tal modo que, intensos, justificando sucessivas
histórica que perdurou ao longo dos apesar de cruzar um espaço obras de manutenção. Os miliários
milénios: a Gallaecia. montanhoso com serras que chegam de Maximino e Máximo apresentam
A Via Nova, em especial o traçado aos dois mil metros, só em alguns um texto muito expressivo, referindo
entre o lugar de Via Cova, Amares, e tramos, pouco extensos, alcança 900 o restauro de pontes e caminhos
Baños de Rio Caldo, Lobios, constitui metros. Os miliários de Tito deteriorados pelo tempo.
um monumento excepcional, um
património científico, cultural,
pedagógico e turístico único. A
possibilidade de percorrer o caminho
romano, ao longo de quilómetros,
quase sem interrupções, os extensos
troços de calçada, a quantidade
invulgar de miliários, as ruínas de
pontes sobre rios caudalosos, as
pedreiras de onde se extraíam os
miliários, a visibilidade da via para a
envolvente e o contexto paisagístico
em que se insere formam um recurso
notável. A quantidade de miliários
concentrados neste tramo da Via
Nova sem paralelo noutras áreas do
Império Romano e a floresta que os
envolve suscitam uma magia
extraordinária, resumida por uma
arqueóloga italiana, da Universidade
info LAZER Página 43

O Cursus Publicus estradas. Os miliários balizavam a via, Existem pelo menos três percursos
A rede viária romana sustentava o assinalando as distâncias aos caput para se fazer: os percursos de média e
funcionamento do Cursus Publicus, viarum, ou seja, aos nós rodoviários. de longa duração e o percurso a
essencial ao bom governo do vasto No caso do tramo da Via Nova entre cavalo.
Império Romano. Os três pilares do Baños de Rio Caldo e Amares os
Cursus Publicus eram as mansiones, as miliários marcavam a distância a A paisagem
mutationes e os miliários. Bracara Augusta. Numa pequena extensão a Via Nova,
As mansiones eram locais de descanso, entre Amares e Lobios, atravessa
onde os viandantes podiam comer, Viajar na geira paisagens muito variadas, desde a
dormir, tomar banho e abastecer-se Percorrer a Via Nova entre Amares e zona urbana de Braga, com uma
para prosseguir a viagem. Lobios é regressar a um tempo elevada densidade construtiva, até à
As mutationes eram estações de muda, perdido, em que os meios de Mata de Albergaria, considerada uma
onde se podia trocar de cavalo. transportes e o ritmo de vida eram reserva integral do Parque Nacional da
Situados à beira da via, estes diferentes. Devido ao bom estado de Peneda-Gerês. O contexto paisagístico
equipamentos asseguravam o correio, conservação é possível caminhar, ao da Via Nova é, pois, excepcional,
a velocidade dos mensageiros, o longo da estrada romana, quase sem permitindo aos viajantes apreciar
trânsito de militares, de funcionários e interrupções, perto de 40 quilómetros, panorâmicas diversificadas, aprender a
de todos os caminhantes que, pelos o que é raro, tanto em Portugal como gostar da Natureza e conhecer a
mais variados motivos, percorriam as em Espanha. estrutura agrária da região.
Página 44 DISCIPLINA info

Acórdão do Conselho Disciplinar da Região Norte


da Ordem dos Engenheiros

Processo CDISN 06/2007

A) RELATÓRIO:
1 – Em 24 de Maio de 2007 deu entrada na Ordem dos Engenheiros – Região Norte uma notificação, proveniente do 3.º
Juízo Criminal do Tribunal Judicial de A, comunicando à Ordem dos Engenheiros a sentença de condenação tirada no processo
n.º B, transitada em julgado em 02-02-2007, na qual a Senhora Engenheira C foi condenada, como autora material, por um
crime de falsificação de documento, na forma consumada, p. p. pelo n.º 2 do artigo 100º e al. f) n.º 1 do artigo 98º do Regime
Jurídico da Urbanização e Edificação – D.L. n.º 555/1999, de 16 de Dezembro, com a redacção introduzida pelo D.L. n.º 177/2001,
de 04/06, em conjugação com o artigo 256º n.º 1 al. b) do Código Penal.
2 – A fls 92 e 93 daquela douta sentença, já transitada em julgado, foi considerado provado que a arguida subscreveu em
03/05/2005 um termo de responsabilidade enquanto responsável pela direcção técnica de uma obra sita na avenida D, concelho
de A, consignando que a dita obra “se encontrava concluída em conformidade com o projecto aprovado e com as condicionantes da
licença de construção”, com base no qual foi emitido, em 06/05/2007, o respectivo alvará de autorização de utilização, sem a
realização de vistoria pelos serviços competentes da Câmara Municipal de A.
3 – Foi ainda considerado provado, naquela sentença judicial, que, em 30/09/2005, numa fiscalização realizada pelos
funcionários competentes da Câmara Municipal de A, estes verificaram que uns anexos existentes no local da obra não tinham
sido demolidos, embora no projecto estivesse prevista essa demolição e no alvará de construção constasse como condicionante
do licenciamento a demolição desses anexos.
4 – A sentença judicial em questão também considerou provado que a arguida, ao fazer as afirmações acima
mencionadas no termo de responsabilidade que subscreveu, bem sabia que produzia falsas declarações relativamente à
conformidade da obra com o projecto aprovado, com as condições da licença ou autorização e com as normas legais e
regulamentares aplicáveis; e actuou livre, voluntária e conscientemente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e
juridicamente censurável.
5 – Ora, não há dúvida que os factos acima referidos, considerados provados na douta sentença proferida, acarretam
responsabilidade disciplinar para a arguida, uma vez que configuram violação do dever deontológico previsto no n.º 1 do artigo
88º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, que obriga os engenheiros, na sua actividade profissional, a pugnar pelo prestígio
da profissão e a adoptar uma conduta irrepreensível, usando sempre de boa fé, lealdade e isenção, bem como, do dever
deontológico previsto no n.º 6 do artigo 88º do referido Estatuto, que obriga os engenheiros a emitir os seus pareceres
profissionais com objectividade e isenção.
6 – Em face do exposto, e uma vez que a violação das normas deontológicas acima citadas teria sido perpetrada pela
arguida culposamente, foi deduzida acusação contra a arguida e esta notificada para apresentar a sua defesa.
7 – Notificada a arguida, esta apresentou, em 23 de Janeiro de 2008, a sua defesa, confessando os factos, tal como o tinha
feito em sede de audiência de julgamento, impugnando apenas a conduta dolosa de que vinha acusada, alegando que agiu de
boa fé em todo o processo de licenciamento, nomeadamente na subscrição do termo de responsabilidade de obra, já que nunca
pretendeu obter qualquer benefício, ainda que legítimo, para si ou para terceiro.
8 – A arguida alega ainda que a obra era essencialmente de conservação e que não conhecia o dono da obra, nem
estabeleceu qualquer contacto com ele, e que lhe foi garantido que os anexos iriam ser demolidos nos dias seguintes, tal como
constava no projecto entregue na Câmara Municipal, tendo sido por essa razão que assinou a declaração.
9 – A arguida alega, ainda, em sua defesa que exerce a profissão de engenheira desde 1976, sempre pautando a sua
actuação com competência diligência e enorme sentido de responsabilidade, nunca tendo sofrido qualquer sanção disciplinar.
10 – A arguida não requereu a produção de qualquer prova na sua defesa, pelo que o Relator do processo dispensou, nos
termos do disposto no n.º 3 do artigo 35º do Regulamento Disciplinar, a notificação da arguida para apresentação de alegações
finais escritas, tendo o processo seguido imediatamente para julgamento.
info DISCIPLINA Página 45

B) FUNDAMENTAÇÃO:
Em face do que acima vem relatado e com base na sentença cuja notificação deu origem ao presente processo disciplinar,
proferida pelo 3.º Juízo Criminal do Tribunal Judicial de A no Processo n.º B e transitada em julgado em 2/2/2007, este
Conselho Disciplinar considerou provados os seguintes factos, com relevo para a decisão do presente processo:
1. Que a arguida subscreveu, em 3/05/2005, um termo de responsabilidade enquanto responsável pela direcção técnica
de uma obra sita na avenida D, concelho de A, consignando que a dita obra “se encontrava concluída em conformidade com o
projecto aprovado e com as condicionantes da licença de construção”, com base no qual foi emitido, em 06/05/2007, o
respectivo alvará de autorização de utilização, sem a realização de vistoria prévia pelos serviços competentes da Câmara
Municipal de A.
2. Que em 30/09/2005, numa fiscalização realizada pelos funcionários competentes da Câmara Municipal de A, estes
verificaram que uns anexos existentes no local da obra não tinham sido demolidos, embora no projecto estivesse prevista essa
demolição e no alvará de construção constasse como condicionante do licenciamento a demolição desses mesmos anexos.
3. Que a arguida, ao fazer as afirmações acima mencionadas no termo de responsabilidade que subscreveu, bem sabia
que produzia falsas declarações relativamente à conformidade da obra com o projecto aprovado, com as condições da licença
ou autorização e com as normas legais e regulamentares aplicáveis.
4. Que a arguida actuou livre, voluntária e conscientemente, bem sabendo que a sua conduta era deontologicamente
proibida e disciplinarmente censurável.
5. Que a arguida exerce a profissão de engenheira desde 1976, nunca tendo sofrido qualquer sanção disciplinar.

C) DECISÃO:
1 – Ao prestar falsas declarações no termo de responsabilidade que subscreveu, e com base no qual foram concedidas as
licenças de utilização, dizendo que a obra “se encontrava concluída em conformidade com o projecto aprovado e com as
condicionantes da licença de construção”, quando na verdade ainda faltava demolir uns anexos cuja demolição tinha sido exigida
como condicionante da licença de construção, a arguida violou efectivamente o dever deontológico previsto no n.º 1 do artigo
88º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, que obriga os engenheiros, na sua actividade profissional, a pugnar pelo prestígio
da profissão e a adoptar uma conduta irrepreensível, usando sempre de boa fé, lealdade e isenção, e o dever deontológico
previsto no n.º 6 do artigo 88º do referido Estatuto, que obriga os engenheiros a emitir os seus pareceres profissionais com
objectividade e isenção.

2 – E a violação das normas deontológicas acima citadas não pode deixar de se considerar culposa, visto que a arguida tinha
a obrigação de conhecer tais normas e sabia ou devia saber que, ao prestar declarações que não correspondiam à verdade no
termo de responsabilidade que subscreveu, estava a desrespeitar aquelas normas deontológicas. Agiu, por isso, com dolo,
praticando, nos termos do disposto no artigo 67º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, uma infracção disciplinar.

3 – Considerando o facto da arguida exercer a profissão desde 1976 sem quaisquer antecedentes de natureza disciplinar, mas
tendo em conta as exigências de prevenção geral e de defesa do interesse público associadas ao exercício da Engenharia,
condena-se a arguida numa pena de Censura Registada, prevista na alínea b) do n.º 1 do Artigo 70º do Estatuto da Ordem dos
Engenheiros, pela prática da infracção disciplinar acima descrita, consistente na violação culposa dos deveres deontológicos
previstos no n.º 1 e n.º 6 do artigo 88º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros.
Página 46 AGENDA info

ENCONTROS, CONGRESSOS E SEMINÁRIOS OE ENCONTRO, CONGRESSOS E SEMINÁRIOS EXTERNOS

22, 23 e 24 de Outubro 4 de Novembro 2008


Local: Vigo, Espanha Local: FEUP (Porto)
Organização: Colégio Regional de Engenharia Civil da Região Organização: Departamento de Engenharia Química (DEQ)
Norte da Ordem dos Engenheiros e Colégio de Caminos, 8.ªS JORNADAS DO DEPARTAMENTO DE
Canales y Puertos da Galiza – Demarcacion de Galícia ENGENHARIA QUÍMICA
IV ENCONTRO NORTE DE PORTUGAL GALIZA Mais informações:
DE ENGENHARIA CIVIL www.fe.up.pt/jornadas

11, 12 e 13 de Fevereiro 2009


Local: Instituto Superior de Engenharia do Porto
Organização: ISEP
JORNADAS LUSO-BRASILEIRAS DE ENSINO E
TECNOLOGIA EM ENGENHARIA
Mais informações: www.isep.ipp.pt/jlbe09

Pin da Ordem dos Engenheiros


– Região Norte à venda na sede
e nas delegações distritais por 5 euros

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