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UFRN / CCET / DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

DISCIPLINA: PETROLOGIA SEDIMENTAR (GEO 367)

PROF. DRA. VALÉRIA CENTURION CÓRDOBA


UNIDADE III: ROCHAS CARBONÁTICAS
CONCEITOS DA SEDIMENTAÇÃO CARBONÁTICA

A maioria dos sedimentos carbonáticos encontrados em ambientes modernos são de origem


biológica ou formados sob condições marinhas, sendo os processos biológicos e bioquímicos os
mais relevantes na sedimentação carbonática. Apenas uma notável exceção é feita para a
precipitação direta de CaCO3 pela água do mar, a qual é de difícil comprovação em condições
marinhas normais, somente se tornando importante em ambientes evaporíticos.

A sedimentação carbonática é altamente controlada pela temperatura, salinidade,


profundidade de lâmina d’água e influxo de material siliciclástico.

As temperaturas mais quentes favorecem a proliferação de organismos secretores de CaCO3,


tais como os corais e as algas vermelhas; do mesmo modo, propiciam a formação de grãos
envelopados, como oolitos. Sendo assim, atualmente podemos restringir a ocorrência de
depósitos carbonáticos a uma faixa de 40o de latitute norte e sul em relação à linha do
Equador.
Quanto à profundidade da lâmina d’água, salinidade e influxo de sedimentos siliciclásticos, a maioria
dos organismos bentônicos produtores de sedimentos carbonáticos ocorre na zona fótica, em águas
rasas e com salinidades normais, preferindo locais com baixo influxo de sedimentos siliciclásticos.
A sedimentação carbonática apresenta algumas particularidades em relação à sedimentação
siliciclástica, sendo que a principal delas diz respeito à origem predominantemente biológica da
maioria das partículas carbonáticas. Tal origem induz a considerações importantes sobre o
significado da análise textural dos sedimentos e rochas carbonáticas.

Diferenças texturais entre os sedimentos carbonáticos e os siliciclásticos.


Uma vez formadas as partículas carbonáticas reagem aos processos
físicos de transporte e deposição do mesmo modo que os
sedimentos silcicilásticos.

Areias carbonáticas sob a


influência de correntes,
podem exibir formas de leito e
estratificações cruzadas
diversas em função das
características das correntes.
Um turbidito carbonático, em
condições apropriadas exibirá
a clássica seqüência de
estruturas sedimentares de
Bouma.

Assim, independente da origem do sedimento, a resposta destes aos processos


sedimentares atuantes no sítio deposicional serão similares.
No geral existem três zonas onde os sedimentos
carbonáticos podem ser encontrados:

1) nas regiões de inframaré, plataforma e margem de plataforma;

2) na linha de costa, para onde os sedimentos de plataforma são transportados para formar as
praias e as planícies de marés, e

3) no talude e bacia, para onde os sedimentos de plataforma são carreados por fluxos de
gravidade.
CONSTITUINTES DAS ROCHAS CARBONÁTICAS

1) GRÃOS
1.1 Oolitos

São grãos esféricos formados por envelopes concêntricos em torno de um núcleo qualquer.
Originam-se por ação essencialmente físico-química em condições de águas rasas, mornas e agitadas.

Quanto ao número de envelopes concêntricos, os oolitos podem ser:

- Oolitos superficiais: quando os oolitos


são formados por apenas um único
envelope concêntrico;

- Oolitos verdadeiros: quando os oolitos


apresentam vários envelopes
Quanto ao número de núcleos, os oolitos podem ser:

- Oolitos simples: oolitos que apresentam um único núcleo, podendo ser este um grão aloquímico
ou terrígeno;

- Oolitos compostos: oolitos que possuem vários núcleos e,

- Oolitos com núcleo indiviso: quando a cristalização do oolito inicia-se a partir de um único cristal.
1.2 Oncolitos
São grãos de natureza organo-sedimentar provenientes da alternância em torno de um núcleo
qualquer de camadas resultantes da atividade metabólica de microorganismos, normalmente algas
azuis-verdes ou bactérias, com camadas geradas pelo trapeamento de lama carbonática.

Quanto ao tipo de envelope os oncolitos podem ser:

- Oncolitos maciços ou típicos: quando a estrutura interna dos envoltórios se torna


imperceptível. Os oncolitos são normalmente maiores e mais disformes;
- Oncolitos irregulares: são oncolitos que
possuem envoltórios distintos, crenulados e
de espessuras irregulares e,

- Oncolitos regulares: oncolitos que


possuem envelopes mais finos, com
espessuras regulares. Se assemelham
muito aos oolitos.

Quanto ao número de núcleos os oncolitos também podem ser classificados em oncolitos


simples ou oncolitos compostos.
Principais Diferenças entre oolitos e oncolitos

Oolito Oncolito
Caráter mais espático Caráter mais micrírttico
Estrutura concêntrica e radial Estrutura desde maciça a concêntrica
Maior esfericidade Maior esféricos, ovóides a alongados

Presença de vacúolos que representam os


Ausência de vacúolos esporângios das algas azuis-verdes
1.3 Pelóides

São grãos criptocristalinos de origem incerta. Podem originarem-se da micritização intensa de


grãos aloquímicos, ou então possuírem origem fecal sendo então chamados de péletes fecais.
1.4 Intraclastos

Constituem fragmentos penecontemporâneos de sedimentos carbonáticos litificados ou não


que são erodidos e redepositados

1.5 Agregados

Consistem em várias partículas


carbonáticas aglutinadas in situ por um
cimento criptocristalino ou ligada por
matéria orgânica .
1.6 Bioclastos
São fósseis de esqueletos calcários ou fragmentos destes derivados da quebra de qualquer tipo
de concha ou esqueleto. Podem ser: algas calcárias, ostracodes, moluscos, equinodermas,
foraminíferos bentônicos e plantônicos, corais, briozoários, trilobitas, brachiopodas, etc.
1.7 Extraclastos

Englobam todo o material originado por


erosão nas áreas-fonte e transportados
até o sítio de sedimentação carbonática.
Constituem os grãos siliciclásticos.

C D

500 μm 200 μm
CONSTITUINTES DAS ROCHAS CARBONÁTICAS

2) MATRIZ

Corresponde à fração mais fina (cristais  5 m) e abundante das rochas carbonáticas,
sendo também chamada de lama carbonática.

Descritivamente a matriz pode ser:


1) deposicional ou de preenchimento interno,
2) micrítica ou silte peloidal.
Matriz deposicional micrítica
Matriz deposicional micrítica
recristalizada

Matriz deposicional síltica- Matriz deposicional síltica-


peloidal e birdseyes peloidal
As prováveis origens da lama carbonática são:

1) Abrasão mecânica ou biológica –

Neste processo, fragmentos esqueletais e outras partículas maiores são reduzidas, por ação de
ondas e correntes, a granulometrias bastante finas, ao passo quem na abrasão biológica, a
redução das partículas maiores é realizada por organismos bioerosivos;

2) Precipitação química inorgânica direta –

Este processo, que resulta da evaporação da água do mar, não tem sido comprovado como
volumetricamente importante em sedimentos carbonáticos recentes, e

3) Desintegração de algas calcárias –

Mecanismos aceito como o principal na produção da lama carbonática.

Além destes 3 processos, em águas mais profundas a principal fonte de micrita são os
sedimentos pelágicos constituídos por esqueletos de vários grupos de nanofósseis,
pitonelas, bem como forâminíferos bentônicos e plantônicos.
CONSTITUINTES DAS ROCHAS CARBONÁTICAS

3) CIMENTO
O cimento nas rochas carbonáticas pode ocorrer sob as seguintes formas:

1) Em franja ao redor dos grãos;

2) sintaxial em torno de bioclastos, e/ou

3) preenchendo o espaço integranular, como um mosaico espático de cristalinidade fina a


grossa, mosaico blocoso ou mosaico poiquilotópico.
Alguns
exemplos de
tipos de
cimentos
carbonáticos.
CLASSIFICAÇÕES DAS ROCHAS CARBONÁTICAS

Várias são as classificões das rochas carbonáticas, porém três são


mais comumente utilizadas:

1) Classificação de Grabau
(1903 e 1904) e de
Carozzi (1978) – que se
baseiam em termos
granulométricos.
2) Classificação de Folk (1959) – que se
baseia nos tipos e proporções entre
grãos, matriz e cimentos.
3) Classificação de Dunham (1962) –classificação puramente textural, distingue as
rochas carbonáticas em ‘suportadas por grãos’ e ‘suportadas por matriz’.
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