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TELEVISÃO: UM “FAST FOOD” ENVENENADO PARA A ALMA - Parte I: A televisão em si mesma

(e seu uso)
Marcelo Andrade oferece um muito abrangente e certeiro estudo sobre os malefícios da televisão, do
qual publicamos hoje a primeira parte. A seguir: A televisão e o homem - corpo e alma; Televisão,
sociedade e ideologia; e finalmente, uma Análise detalhada dos diversos gêneros da televisão, assim
como uma Apertada análise de alguns outros instrumentos modernos. O corpo de Referências
bibliográficas virá igualmente publicado no final.

TELEVISÃO:

UM “FAST FOOD” ENVENENADO PARA A ALMA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.. 5 PARTE 1– A TELEVISÃO EM SI MESMA (E O SEU USO) 6 1.1 - O APARELHO


TELEVISOR.. 7 1.2 - A TELEVISÃO E O SEU USO.. 7 1.3 - CARACTERÍSTICAS DA
PROGRAMAÇÃO EM GERAL. 9 1.4 – TELEVISÃO, IMAGEM, SOM E TEXTO.. 12 1.5 - IMAGEM...
12 1.6 - SOM E MÚSICA.. 16 1.6.1 - SONS E “EFEITOS SONOROS”. 16 1.6.2 - AS “PARADAS DE
SUCESSO”. 18 1.6.3 - OS “JINGLES”. 19 1.6.4 - TELEVISÃO E ROCK.. 20 1.7 - TEXTO.. 22 1.7.1 - A
NARRATIVA NA TELEVISÃO.. 22 1.7.2 - SENSACIONALISMO.. 27 1.7.3 - TELEVISÃO E O
SILOGISMO.. 29 1.7.4 - A TELEVISÃO E O TRIVIUM... 31 1.8 - TEORIA DA COMUNICAÇÃO, A
TELEVISÃO E O MEIO.. 32 1.8.1 - TEORIA DA COMUNICAÇÃO. 32 1.8.2 - TELEVISÃO, A
COMUNICAÇÃO, O MEIO E O FIM... 33 1.9 - MENSAGEM SUBLIMINAR.. 36 1.10 - REALIDADE E
TELEVISÃO.. 39 1.10.1 COR, “CLOSE”, VELOCIDADE, FRAGMENTAÇÃO E FLUXO. 39 1.10.2 -
IRREALIDADE DOS CENÁRIOS TELEVISIVOS.. 40 1.10.3 - DETURPAÇÃO DO REAL E A
CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA REALIDADE 42 1.10.4 - INTERMEDIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA.. 45
1.10.5 DETURPAÇÃO EM CONCRETO.. 46 3.12.2 - REFERÊNCIAS.. 108

Os insensatos desprezam

a sabedoria e a doutrina.

(Pv 1,7)

INTRODUÇÃO
Muito se estuda sobre a televisão, sob os mais variados ângulos. Há análises dela como mídia de
massa, relações com o poder, “marketing”, aspectos sociológicos etc. Pesquisa-se, também, sua
relação com a saúde, especialmente com a obesidade e o seu liame com a violência. Obviamente, há
um grande estudo, “de dentro”, ou seja, de pessoas que trabalham para e pela televisão, necessário
para abastecer e manter sua vasta programação e sua razão de ser. Porém, apesar do vastíssimo
material que se encontra sobre a televisão, não são muito populares os estudos feitos contra ela. Há
pouca bibliografia especificamente sobre isto, mesmo em outras línguas. Encontra-se facilmente algo
contra determinados programas (ou gênero deles), mas não contra a televisão em si mesma, contra
ela como meio. Isto é algo suspeito, já que a televisão é um equipamento poderoso e presente na
maioria esmagadora dos lares e em muitos locais públicos, em todo o mundo. Segundo dados do
IBGE, 96,9% dos domicílios do Brasil possuíam ao menos um aparelho televisor no ano de 2011.[1] No
mundo desenvolvido, a porcentagem é similar. Nosso trabalho estará focado mais no ataque ao meio
que ao conteúdo, ainda que nos anexos, abordemos certas classes de programas. Mas, há sentido em
atacar a televisão como meio, já que este seria normalmente imparcial? Não haveria sentido em atacar
apenas o conteúdo televisivo em espécie? Não. A tecnologia, em muitíssimos casos, é portadora de
uma mentalidade intrínseca a ela, pouco importando o seu uso concreto. Destaca Mander (1978) que a
própria natureza do fato televisivo estaria assim condicionando definitivamente os conteúdos em
função do meio, tornando impossível outro uso da televisão, que não o atual. A tecnologia da televisão,
a programação, o seu jeito de ser, foram forjados de tal modo que o meio e o conteúdo estão
intimamente ligados. Uma analogia proposta por Mander (1978) são os armamentos. Não se usam
armas de guerra para a paz, para evitar mortes, mas para matar. É verdade que um país pode e deve
se defender de uma agressão injusta mas, mesmo assim, as armas serão usadas para o combate e
para a destruição de vidas. E pouco importa o armamento em espécie - se é uma granada ou se é um
fuzil, os dois têm a mesma finalidade - variando apenas o grau de letalidade. Assim, se fôssemos
contrários aos armamentos de guerra, não precisaríamos atacar espécie por espécie, bastaria o
enfrentamento do gênero. Entendemos a televisão, atualmente, de modo similar, como portadora de
uma mentalidade própria. Na realidade, como detentora de uma ideologia, independentemente de seu
conteúdo programático. Desta forma, é possível um ataque à televisão como meio. Com base neste
objetivo, nasceu este modesto trabalho. Ele é dividido em quatro partes para melhor didática: a análise
da televisão em si mesma (e o seu uso), os efeitos que ela causa no homem (corpo e alma), a
influência dela na sociedade e sua ideologia (mais a conclusão) e os “anexos” nos quais analisaremos
algumas classes de programas (e alguns outros instrumentos modernos). É bem verdade que as
partes se cruzam, de modo que um tópico ou uma análise pode repercutir em todas as divisões.
PARTE 1– A TELEVISÃO EM SI MESMA (E O SEU USO) 1.1 - O APARELHO TELEVISOR A
definição encontrada na Wikipedia é esta: A Televisão (do grego tele - distante e do latim visione -
visão) é um sistema eletrônico de reprodução de imagens e som de forma instantânea. Funciona a
partir da análise e conversão da luz e do som em ondas eletromagnéticas e de sua reconversão em
um aparelho — o televisor — que às vezes recebe erroneamente também o mesmo nome do sistema
ou pode ainda ser chamado de aparelho de televisão. As câmeras e microfones captam as
informações visuais e sonoras, que são em seguida convertidas de forma a poderem ser difundidas
por meio eletromagnético ou elétrico, via cabos; o televisor ou aparelho de televisão capta as ondas
eletromagnéticas e através de seus componentes internos as converte novamente em imagem e som.
[2]

1.2 - A TELEVISÃO E O SEU USO


Uma emissora ou estação de televisão é uma organização, companhia ou empresa que transmite
conteúdo através da televisão aberta. Uma transmissão televisiva pode ser realizada via sinais
analógicos ou via sinais digitais, tanto por meio de cabos quanto por meio aéreo. O conteúdo de um
programa de televisão pode ser: Factual: telejornais, documentários, reality shows, programas de
auditório, entrevistas etc. Ficcional: seriados, telenovelas, minisséries, telefilmes, desenhos animados
etc. Alguns autores acrescentam um terceiro tipo: lúdico. Normalmente, as emissoras possuem uma
grade de programas bastante variada[3]. Muitos canais (podem ser mais de cem, se somarmos os
ditos “pagos”) podem ser sintonizados. Como cada emissora tem sua grade de programação própria: o
que marca o uso da televisão é a abundância de programas desconexos, assistidos em sequências
ilógicas. Assim, assiste-se a um telejornal, depois a um filme, depois a uma partida de futebol, depois a
uma novela e assim por diante. Tudo isto recheado por publicidade, que igualmente não possui liame
lógico entre si. O que se vê é algo extremamente resumido em suas partes, fragmentado, superficial e
misturado. Somando-se a isto uma mudança frequente de canais feita pelos telespectadores[4]temos,
como resultado do produto televisivo, um amálgama feito como um corpo justaposto, cujas partes
tornam-se indistintas. Esse é o uso próprio da televisão feito pelo telespectador. Trata-se de uma das
atividades mais difundidas no mundo. Na Europa se gastam quatro horas por dia, nos Estados Unidos,
cinco horas por dia[5] e no Brasil, segundo o IBGE, seriam mais de três horas por dia. Segundo Dorr
(1986), citado por Nascimento (2006, p.39), aos 65 anos de idade, as pessoas teriam passado nove
anos na frente do televisor. É a terceira atividade mais realizada pelo homem, depois do trabalho e do
sono. A massificação da televisão começou nos anos 50 do séc. XX, nos Estados Unidos. No Brasil, o
processo se deu a partir dos anos 60. É a mídia dominante dos últimos 50 anos.

1.3 - CARACTERÍSTICAS DA
PROGRAMAÇÃO EM GERAL
Sobre a programação em geral, podemos dizer que ela possui onze características principais:
informação visual, imediatismo, alcance, índice de audiência, envolvimento, instantaneidade,
superficialidade, fragmentação, mudança rápida, repetição e fluxo informativo. De acordo com
Paternostro (1999, p. 64-65), são sete as características do telejornal, as quais podemos estender
facilmente para a televisão em geral: Informação Visual, Imediatismo, Alcance, Índice de Audiência,
Envolvimento, Instantaneidade e Superficialidade. 1) Informação Visual: transmite mensagens através
de uma linguagem que independe do conhecimento de um idioma ou da escrita por parte do
receptor(...). 2) Imediatismo: transmite informação contemporânea quando mostra o fato no momento
exato em que ele ocorre através da imagem – o signo mais acessível à compreensão humana. A TV
tem hoje uma agilidade muito grande, porque o aparato técnico para uma transmissão está muito
simplificado. Pequenas emissoras já possuem unidades móveis de jornalismo para reportagens ‘ao
vivo’ que são instaladas com rapidez e velocidade. Os satélites mostram fatos do outro lado do mundo.
3) Alcance: a TV é um veículo abrangente e de grande alcance. Ela não distingue classe social ou
econômica, atinge a todos. O jornalismo na TV tem, portanto, que considerar como vai tratar uma
notícia, já que ela pode ser ‘vista’ e ‘ouvida’ de várias maneiras diferentes. 4) Índice de Audiência: a
medição do interesse do espectador orienta a programação e cria condições de sustentação comercial.
O índice de audiência interfere de modo direto, a ponto de a emissora se posicionar dentro de padrões
(trilhos) que são os resultados de aceitação por parte do público-telespectador. 5) Envolvimento: a TV
exerce fascínio sobre o telespectador, pois consegue transportá-lo para ‘dentro’ de suas histórias. 6)
Instantaneidade: a informação da TV requer ‘hora certa’ para ser vista e ouvida – a mensagem é
momentânea, instantânea. Ela é ‘captada’ de uma só vez, no exato momento em que é emitida. Não
tem como ‘voltar atrás e ver de novo’, ao contrário de jornal ou revista. 7) Superficialidade: o timing, o
ritmo da TV proporciona uma natureza superficial às suas mensagens. Os custos das transmissões, os
compromissos comerciais e a briga pela audiência impedem o aprofundamento e a análise da notícia
no telejornal diário (...). Para se desenvolver um tema e/ou uma tese são necessárias muitas páginas
no caso de meio impresso. No caso de uma exposição oral, seriam necessárias horas e mais horas.
Ora, as emissoras não disponibilizariam tanto tempo para algum tema, pois isto afugentaria a
audiência, daí a necessidade de se abordar os temas de modo raso. Podemos acrescentar mais
quatro características às sete supra elencadas: a fragmentação, a mudança rápida, a repetição e o
fluxo. 8) Fragmentação. Coelho (1987, p. 32) sustenta: Basicamente, através da multiplicação não de
informações, mas de trechos de informações, apresentadas como que soltas no espaço, sem reais
antecedentes (a não ser a eventual repetição anterior de informações análogas à em tela, mas que
não são sua causa e sem consequências). E essas "informações" não revelam aquilo que lhes está
por trás, mas servem exatamente para ocultar o que representam; servem para interpor-se entre o
receptor e o fato, e não para abreviar o caminho entre ambos. (grifo nosso). E ainda Duarte[6] (2004,
p. 74), citado por Leal (2006, p. 5): O surgimento do controle remoto delegou ao telespectador a tarefa
de seleção e ordenação de fragmentos de programas que ele próprio optava para ver. A montagem
desse verdadeiro quebra-cabeça (...) fez com que a própria televisão passasse a oferecer
programas tão fragmentados que produzissem eles próprios o efeito de sentido do zapping. Com
essa excessiva fragmentação, há uma exclusão de temas centrais: os produtos televisivos se
constroem como fluxos resistentes ao significado, combinando a fragmentação temática com a
incessante rotação dos mesmos elementos, de forma, pelo menos aparentemente, aleatória.(grifo
nosso). 9) Mudança rápida (ou velocidade). De acordo com Setzer (2009): Como o telespectador está
normalmente num estado de consciência de sonolência, ou semi-hipnótico, as emissoras enfrentam
um grande problema: como impedir que ele passe desse estado para o sono profundo? (Algumas
pessoas tem uma proteção natural e adormecem logo depois de ligarem a TV, independente do
programa – aliás, isso mostra que o estado normal de sonolência não depende do programa.) Os
diretores de imagem usam justamente o truque de mudarem a imagem constantemente para
chamarem, pelo menos um pouco, a atenção do telespectador. (grifo nosso). Estas “mudanças
rápidas” podem ocorrer dentro dos programas, que toda hora devem mudar os “quadros”, alterar os
ângulos, cambiar constantemente os focos nos apresentadores e nos atores, etc. As mudanças se
operam também mediante a alternância dos programas. Não existe um que dura o dia todo, por
exemplo. E ainda, subsistem nas interrupções abruptas provocas pelos intervalos comerciais. 10)
Repetição (ou circularidade). É sempre “mais do mesmo”. Todo dia há sempre os mesmos programas
nos mesmos horários[7]. Quando não, as “atrações” são hebdomadárias. Outro item que reforça a
repetição são as reprises que ocorrem com frequência, seja de novela, seja de filmes etc. A
programação que se repete – todos os dias haverá as novelas, os mesmos telejornais e todas as
semanas os programas se distribuem de maneira fixa pelos dias certos na grade de programação das
emissoras – introduz uma temporalidade particular marcada, inexoravelmente, por novos começos. A
matriz cultural do tempo organizado pela televisão é dependente da lógica da repetição e do
fragmento. Instaura-se, portanto, um tempo ritual que é, também, rotina. (BARBOSA, 2007, p. 14).
(grifo nosso). 11) Fluxo constante. A televisão não para, há uma sequência ininterrupta de programas,
publicidades, avisos etc. Em nenhum momento ela se desliga ou congela a imagem de propósito.
Williams (2005) caracteriza a televisão como “fluxo” ininterrupto de imagens, um ritmo a partir do qual
seus produtos seriam elaborados e no qual estariam integrados. Estas onze características são a
essência da programação televisiva, sem as quais a televisão não seria o que é. Em especial, a
superficialidade, a fragmentação, a mudança rápida, a repetição e o fluxo constante são nefastos para
o telespectador e serão abordados neste trabalho em vários tópicos.

1.4 – TELEVISÃO, IMAGEM, SOM E TEXTO


Na televisão existem a imagem, o som e o texto, que são percebidos nos primeiros segundos ao
ligar o aparelho. Nosso sentido mais elevado é a visão. Na análise de S. Tomás, a vista está livre da
modificação do órgão e do objeto, é o mais espiritual dos sentidos, o mais perfeito e o mais
universal[8]. Depois vem a audição, e estes dois sentidos são os que fazem a vida intelectual. Por isso,
as imagens e os sons são muito importantes. Eles são os elementos mais graves que “entrarão” em
nossas almas. Segundo Platão e Fiorin (1996): "Um texto é uma ocorrência linguística, escrita ou
falada de qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal. É uma
unidade de linguagem em uso.”[9] O texto, na televisão, combinará a imagem e o som e com eles
formará as três “potências” da televisão. Segundo Duarte[10] (2002, p.2): Os textos televisivos
constroem-se a partir de diferentes linguagens sonoras e visuais. Trata-se de textos complexos que
articulam o verbal, o musical, a diferentes sistemas de significação visuais; cenários, iluminações,
cores, vestuário, gestos, expressões faciais etc. O texto fará a “síntese” entre a imagem e o som
(BARBOSA, 2007). Na televisão, como veremos nos tópicos seguintes, os três elementos têm as
mesmas características da fragmentação, da repetição, da mudança rápida, da superficialidade e do
fluxo.

1.5 - IMAGEM[11]
Imagem é o que procede de outro de maneira a se lhe assemelhar na espécie. Assim um ovo não é
imagem de outro ovo.[12] Já um desenho de um ovo é a sua imagem. E imagem não implica
igualdade. É possível “ler” imagens. O Papa S. Gregório Magno escreveu: “(...) A razão pela qual se
usam as representações nas igrejas é a de que aqueles que são iletrados possam ler nas paredes o
que não podem ler nos livros (...)[13] Esta afirmação do papa é muito citada e discutida. De fato a
imagem encerrará uma mensagem. Quanto mais elaborada ela é, mais rica será a mensagem ou
ensinamento. Mas, mesmo que a as imagens sejam pobres e não mostrem nenhum conteúdo, ainda
assim serão importantes. Podemos dizer que a estruturação das imagens em movimento pode ser feita
de três formas: por montagem, por colagem ou por bricolagem. Na estruturação por montagem, cujo
melhor exemplo é o cinema, a construção das imagens segue um liame lógico, na qual a sequência de
imagens é necessariamente hierárquica, em razão de um enredo, de uma narrativa ou estória que se
quer contar e/ou mostrar, tendo como finalidade uma obra terminada. Ou seja, o filme resultante deste
trabalho terá unidade, com começo meio e fim, permitindo a quem assistiu entendê-lo e interpretá-lo.
Como um livro que se lê. Assim, por exemplo, uma cena de duelo com esgrima na qual o derrotado foi
morto, seguirá necessariamente uma cena sem o derrotado vivo. Na colagem, o mecanismo de
estruturação das imagens é feito mediante a justaposição destas, sem ter em mente uma obra final,
com começo meio e fim. Tais emendas de imagens seguem propósitos estranhos a um enredo e/ou a
uma estória. Não se tem a ideia de fim, tampouco de obra acabada. Inexistem hierarquia e lógica na
sucessão das imagens. Um exemplo por analogia: uma criança que colou fotos aleatórias numa
cartolina. Na bricolagem, a estruturação de imagens é justaposta, sem lógica ou hierarquia como na
colagem, mas resulta em uma obra acabada, divergindo da colagem e se aproximando da montagem
neste ponto. Exemplo por analogia: uma colcha de retalhos, na qual a união dos retalhos não segue
liame lógico nenhum, mas que se ultimou numa colcha, num produto final uno e útil.[14] Na televisão, a
estruturação se opera por colagem, por suas características de mudanças rápidas, fragmentação,
repetição e fluxo. Assim, um telejornal mostrará notícias sem liame nenhum, com blocos interrompidos
por publicidades, que também não respeitarão sequência lógica nenhuma. E findo o telejornal, por
exemplo, pode advir um programa de “talk shows” cujas “entrevistas” não terão ligação nenhuma. A
justaposição de informativos, programas musicais, concursos, programas dramáticos etc., engrenados
todos eles em cadeia pelos blocos publicitários, propicia o transvasamento, a identificação e o
amálgama, mais do que o contraste ou a surpresa crítica. (ERAUSQUIN et. al, 1983, p. 69-70)
Machado (2005, p. 110) analisando os telejornais afirma: “... uma colagem de depoimentos e fontes
numa sequência sintagmática, mas essa colagem jamais chega a constituir um discurso
suficientemente unitário, lógico ou organizado a ponto de ser considerado ‘legível’ como alguma coisa
‘verdadeira’ ou ‘falsa’”. (grifo nosso). E Leal (2006, p.2) ao comentar o telejornal fala em recortes: “em
seus aspectos “mecânicos”, o que na tevê seria operacionalizado, entre outros, pelo cinegrafista, ao
recortar o real em imagens. [Acredita-se], portanto, [em] um real dado, estável, pré-estabelecido
[como] um material a ser recortado (...)” Ao fim e ao cabo, inexiste na televisão a figura de “obra
acabada” com começo meio e fim. Na realidade, nada termina e tudo se perde num fluxo de imagens
(WILLIAMS, 2005) “sem pé nem cabeça”, agravada por uma velocidade exagerada. Nós vivemos num
mundo obcecado por imagens, mas curiosamente pobre no poder de analisá-las. Talvez porque o
esforço para interpretá-las seja mínimo. Pio XI[15], discorrendo sobre o cinema, ensina: (...) O poder
do cinema provém de que ele fala por meio da imagem, que a inteligência recebe com alegria e
sem esforço, mesmo se tratando de uma alma rude e primitiva, desprovida de capacidade ou ao
menos do desejo de fazer esforço para a abstração e a dedução que acompanha o raciocínio. Para a
leitura e audição, sempre se requer atenção e um esforço mental que, no espetáculo cinematográfico,
é substituído pelo prazer continuado, resultante da sucessão de figuras concretas. No cinema falado,
este poder atua ainda com maior força, porque a interpretação dos fatos se torna muito fácil e a música
ajunta um novo encanto à ação dramática. (...) (grifo nosso) No mesmo sentido, Setzer (2009) comenta
que as imagens não requerem esforço intelectual por parte do espectador: Comparemos com a leitura
(em relação à imagem). Quando uma pessoa lê, ela é forçada a prestar atenção no que está lendo,
pois caso contrário perde o fio da meada. Quando se lê um romance, é necessário imaginar os
personagens, o ambiente em que a ação se passa, etc.; quando se lê algo filosófico ou científico, é
necessário associar conceitos constantemente. Em ambos os casos, o pensamento está muito ativo.
Mas na TV, as imagens já vêm prontas; por outro lado, é impossível acompanhá-las conscientemente,
pensando-se no que elas significam, associando-se ideias ou lembranças a elas, etc., pois, como
justificaremos adiante, elas necessariamente sucedem-se com muita rapidez. Com isso, não se
consegue nem prestar atenção durante um tempo razoável, nem criticar calmamente o que está sendo
transmitido e compará-lo com nosso conhecimento prévio como o permite um livro – na velocidade
individual de cada leitor. Em razão das imagens serem de fácil apreensão, elas são mais sedutoras
que textos e jogos, por exemplo. Muanis (2005) afirma: Como se vê, desde o início a televisão opera
algum afastamento do lúdico, dos jogos e das brincadeiras. Por ser imagem a televisão fala à
compreensão mais elementar do interlocutor, a de interpretar o que está vendo. A competição com a
imagem, portanto, é bastante difícil, já que suas narrativas são extremamente sedutoras, trabalhadas
pela forma, pela riqueza de informação, pela beleza e pela facilidade de absorção. E o principal na
televisão é a imagem: Nas salas de redação utiliza-se de forma ordinária a definição de que tevê é
imagem. Um assunto de interesse público, como, por exemplo, uma mudança no sistema de ensino,
que vai afetar a vida de milhares de pessoas, mas que não oferece imagens de apelo que prendam a
atenção do telespectador, pode simplesmente deixar de ser divulgado por um telejornal se, em virtude
do pouco tempo do noticiário, houver algo menos importante, mas com uma dose de adrenalina maior,
como cenas de uma perseguição policial, por exemplo.. (...) a tevê se tornou refém da imagem,
independentemente de sua importância no contexto social ou político. É a tevê se alimentando e sendo
alimentada pela "ditadura da imagem" (VIEIRA BARBOSA, 2005, P.66) As imagens sempre foram
veículos para ideologizar as pessoas, dada a sua importância e capacidade de influência. Fugiria ao
escopo deste trabalho, avançar no tema, mas a título de exemplo: Lênin, na época da Revolução
Russa de 1917, já afirmava: “De todas as artes, o cinema é para nós a mais importante. Deve ser e
será o principal instrumento cultural do proletariado”; orientação que foi seguida atentamente pelos
principais líderes de regimes socialistas, como Josef Stálin, Mao Tsé-tung e Fidel Castro. (PEREIRA,
2005, p.2)[16] Como o objeto da visão são as cores[17]estas são importantíssimas, assim se utiliza
muito na televisão a manipulação delas com o intuito de embutir uma ideologia sorrateiramente.
Segundo Guimarães (2003, p. 29), as cores servem para hierarquizar, direcionar, destacar, etc. Desta
forma, quando a televisão quer por em destaque um tema, usa uma cor, quando quer depreciar um
fato usa outra e assim por diante. O azul, por exemplo, é muito usado para dados positivos e o
vermelho para coisas negativas. Tudo isto mostra que as imagens são muito poderosas e o seu
manuseio inadequado pode conduzir o telespectador para pensamentos inadequados ou até mesmo
para a ausência deles. E é isto que a televisão faz.

1.6 - SOM E MÚSICA

1.6.1 - SONS E “EFEITOS SONOROS”


O som não está adstrito à música na televisão. A televisão cria muitos sons com o objetivo de gerar
certo comportamento e/ou expectativa para o telespectador, assim, um conjunto de sons “x”, por
exemplo, está vinculado a uma determinada programação. Quando o telespectador ouve tais sons, já
se prepara para determinada “atração” televisiva. Similar ao som do telefone: quando este aparelho
“toca”, sabe-se que há alguém do outro lado da “linha” que quer falar. O espectador está sendo
continuamente alertado. Durante todo o tempo o espectador recebe sinais, mais ou menos sutis, a
depender, sobre aquilo que vai acontecer, sobre aquilo que teria acontecido, sobre o próprio veículo
televisivo, e, até, sobre aquilo que deverá fazer ou desejar para que possa fruir, ao máximo, o prazer
que a programação lhe oferece. O espectador é o consumidor, sem dúvida, porém acaba sendo,
também, o grande produto desta máquina refinada. (SÁ in NOVAES et al, 1999, p. 138) Isto é bem
diferente dos sons da natureza. Assim, reconhece-se de imediato um cantar de um pássaro, mas isto
não gera uma ação ou uma expectativa em quem ouviu o canto. A televisão cria, então, situações
artificiais, treinando os telespectadores para reagir ante determinados sons. São as “chamadas”. Isto é
parecido com o que se faz com cães treinados, nos quais determinados gestos ou sons emitidos pelo
dono e/ou treinador geram ações por parte do cachorro. Estes sons, estas “chamadas”, são diferentes
umas das outras e se alternam, de modo que o som do anúncio de um telejornal será diferente de uma
“chamada” de um “talk show” que o seguirá, reforçando a característica da fragmentação e da
mudança rápida. Isto somado ao fato destes sons serem pobres e muito curtos, muitos distantes de
belas melodias, reforça um quadro de pobreza cultural que a televisão espelha. Os “efeitos sonoros”
são sons criados ou editados artificialmente para enfatizar os programas televisivos, o cinema, os
jogos eletrônicos etc. Podem emular risos, aplausos, choros etc., são explorados para atrair a atenção
do telespectador ou buscar sua adesão ou concordância. Deste modo, por exemplo, para mostrar que
uma piada tola, que algum apresentador contou, teria sido engraçada, ouvem-se risos (o efeito sonoro)
ao fundo. Mais uma vez é um mecanismo artificial que pode levar o telespectador a uma compreensão
falsa ou a um sentimento forçado. Assim como as imagens, o resultado final é uma colagem de sons,
jingles, músicas que, no final, não segue lógica nenhuma, totalmente desarmônico.

1.6.2 - AS “PARADAS DE SUCESSO”


A televisão fomenta, para não dizer cria, muitos “hits” ou “paradas de sucesso”. Cuida-se de músicas
sentimentais que povoam as rádios, atormentado os ouvidos nos mais variados locais e sendo
repetidas ad nauseam. Tornam-se “sucessos musicais”, cuja notoriedade é inversamente proporcional
à qualidade. Estas “canções” seguem uma mesma lógica e natureza, sempre abusando do ritmo e
possuindo uma mesma estrutura temporal periódica ou cíclica (STEFAN SCHADLER, citado por
MARCONDES FILHO, 1988, p.72) Para Marcondes Filho (1988, p. 73): As canções trabalham com
temas populares (amor, prazeres, vida), isto é, fantasias que, por serem mais comuns, são chamadas
modais (o termo vem da estatística e quer dizer o mais frequente). Além disso, os grandes sucessos
de público geralmente têm melodias de estrutura simples e esquemas repetitivos de fácil
memorização. Esta é uma exigência para que uma canção se torne altamente popularizada: a rejeição
de uma estrutura complexa que, apesar de mais rica e artisticamente mais nobre, dificulta a aprovação
da massa de consumidores porque não se enquadra em sua cultura musical, normalmente pouco
sofisticada. Estas músicas ou “discos” devem atender a uma mentalidade mercadológica, pois a fama
proporcionada pela veiculação na televisão gerará enorme venda, quer em formato físico quer em
formato eletrônico. Há uma perfeita interação entre a televisão e as empresas de selo musical. E é
claro que os cantores ficarão famosos, engrossando o coro das “celebridades”. Deles se esperam as
mesmas músicas e os mesmos “comportamentos” dos “famosos”. Para aumentar ainda mais a renda
da televisão e das empresas de selo musical haverá, em breves intervalos de tempo, a alternância dos
“sucessos musicais”. Tudo à custa da indução ao consumismo e o que é pior, do empobrecimento
musical e da tortura nos ouvidos.

1.6.3 - OS “JINGLES”
A fragmentação está para a imagem assim como os “jingles” estão para a música. A INTERCOM –
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, no XXIV Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, em Campo Grande-MS, definiu o “jingle” como sendo a “mensagem
publicitária em forma de música, geralmente simples e cativante, fácil de cantarolar e recordar, criada e
composta para a propaganda de uma determinada marca, produto ou serviço”[18] A música, como
uma arte nobilíssima, busca a elevação do homem. Já esses “jingles” procuram “grudar” na cabeça
das pessoas a lembrança de algum produto, seja um eletrodoméstico, seja um produto televisivo, etc.
Não passam de um “chiclete de orelha” que custa para ser desgrudado. Neste sentido, Sampaio[19]
(2003, p.72), citado por Monteiro (2008, p. 2): A grande vantagem do jingle é que, por ser música,
acaba tendo um expressivo poder de “recall”, pois é aquilo que a sabedoria popular chama “chiclete de
orelha”. As pessoas ouvem e não esquecem. Assobiam ou cantam, mas guardam o tema consigo. O
jingle é algo que fica, como provam as peças veiculadas durante um período e tiradas do ar, mas que
muitos e muitos anos depois ainda são lembradas pelos consumidores. E Sacks[20] (2007, p.51)
citado por Monteiro (2008, p. 5 ). A música entrou e subverteu uma parte do cérebro [...] Um jingle
publicitário ou a música-tema de um filme ou programa de televisão podem desencadear esse
processo para muitas pessoas. Isso não é coincidência, pois a indústria da música cria-os justamente
para “fisgar” os ouvintes, para “pegar” e “não sair mais da cabeça”, introduzir-se à força pelos ouvidos
ou pela mente. Trata-se de um mau procedimento, pois obriga as pessoas a se lembrarem de coisas
sem importância. E mais, o “jingle” é desleal, pois tenta conquistar a mente não com raciocínio, mas
com subterfúgios e ardis. Há, ainda, um ataque à gramática nos “jingles”, com o uso de linguagem
coloquial, com “slogans” e até com erros mais grosseiros. Todo texto publicitário é coloquial. Ele pode
ser mais ou menos jovem, pode conter gírias ou não, mas, mesmo falando com consumidores sérios,
como executivos ou senhores da terceira idade, a abordagem a ser utilizada deve ser sempre leve,
informal, coloquial. Nós partimos do princípio de que já temos alguma intimidade com o consumidor.
[...] Por isso, sempre que se escreve em publicidade, é necessário falar a língua do consumidor, usar
seus adjetivos, externar suas emoções, ver o mundo por seus olhos, refletir sua ideologia.
(FIGUEIREDO[21], 2005, p. 41, citado por SANTOS e HEINIG, 2012, p.7) O “jingle”, portanto, é o
oposto da retórica, que prima pela boa gramática, pela lealdade no convencimento de ideias, via
raciocínio, e pela elegância.

1.6.4 - TELEVISÃO E ROCK[22]


Não é coincidência que a massificação da televisão tenha ocorrido em paralelo com a do rock. Há
uma grande afinidade entre eles. Um apoia o outro. Toda forma musical tem três elementos: melodia,
harmonia e ritmo. Nas melhores músicas, estes três elementos estão dispostos de forma hierárquica
nesta sequência: a) A melodia é a sucessão de sons cuja escrita linear constitui uma forma, é o arranjo
particular das notas musicais. é o tema de uma sinfonia, de uma cantiga popular que diferencia uma
peça musical de outra (LABOUCHE , 2002, p.4). b) A harmonia é o conjunto de princípios sobre os
quais se baseia o emprego de sons simultâneos, a combinação das partes instrumentais ou das vozes;
é a ciência, a teoria dos acordes e da simultaneidade dos sons. A harmonia é arte de juntar, de
combinar sons, em função de uma linha melódica (LABOUCHE, 2002, p.5). c) O ritmo dá uma
estrutura à melodia. A frase melódica se desenvolveu segundo a cadência imposta pelo compositor. A
natureza que nos cerca está cheia de ritmos: as estações, as batidas do coração, o galope dos
cavalos, o canto dos pássaros, as ondas do mar (LABOUCHE, 2002, p. 6). Pois bem, interpretando a
televisão sob o ângulo da música, temos na televisão o primado do ritmo, no qual a sucessão de
eventos e programas segue mais rápida do que deveria. Tudo é veloz, há um abuso do ritmo, que se
revela o elemento mais importante dentro desta análise. “Há a prevalência do ritmo (na televisão)
sobre outros elementos narrativos” (BARBOSA, 2007, p. 17) Não existe harmonia na televisão, pois
ela, como já exposto no tópico 1.3, faz combinações desconexas com os programas exibidos, ou seja,
ela é “desafinada”. A melodia, que seria como o conteúdo dos programas se revela pobre, superficial,
de baixo nível. A televisão subverteu a lógica dos três elementos da forma musical. A estrutura do rock
é similar a da televisão: “O ritmo é o elemento mais importante no rock, ninguém pode negar. De fato,
não se pode conceber a “música rock” sem o ritmo, que pode ser classificado de tirânico”
(LABOUCHE, 2002, p.17). “A harmonia no rock consiste e se limita ao uso de acordes essencialmente
dissonantes ou empobrecidos, em número restrito e repetidos constantemente” (LABOUCHE, 2002,
p.18). “A melodia, esse elemento essencial da arte musical não é importante no rock. Aqui a rainha da
música não passa de uma miserável” (LABOUCHE 2002, p.19). Por que na televisão e no rock há uma
“obsessão” pelo ritmo? Porque tanto num quanto no outro há um materialismo vil. Os ritmos são
constantes na natureza, assim existem as estações do ano, o ciclo do dia, o vai e vem das ondas etc.
São elementos integrantes do mundo material. A melodia se refere a construções espirituais, a
elementos metafísicos. O correto seria o ritmo servir à melodia, assim como o corpo serve à alma. Ao
inverter esta lógica, o rock e a televisão se revelam muito mundanos, sujeitando o espiritual ao
material. Quanto mais selvagem é o povo, menos melódica é a sua música. Entre os selvagens só se
conhecia o ritmo e era comumente associado a danças imorais e a transes. Como o rock hoje em dia.
Pior do que a televisão e o rock é a fusão dos dois. E isto existe. .O videoclipe ou teledisco, na sua
versão mais comum, é caracterizado por uma montagem fragmentada e acelerada, com planos
(imagens) curtos, justapostos e misturados, narrativa não linear, multiplicidade visual, riqueza de
referências culturais e forte carga emocional nas imagens apresentadas[23], tudo isto ao som da
música do estilo rock. Cuida-se de algo extremamente irracional. E o que é o rock para audição, é o
videoclipe para a visão. Se quisermos “ver” o rock basta assistir ao videoclipe, se quisermos “ouvir” o
videoclipe basta escutar o rock. O cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI disse certa vez: "O
rock é uma expressão básica das paixões que, em grandes plateias, pode assumir características de
culto ou até de adoração, contrários ao cristianismo." Isto se aplica bem ao videoclipe, como um culto
pagão, ilógico, despertador de baixas paixões e obcecado por um ritmo literalmente alucinante. Ver
anexo 4.5: videoclipe.

1.7 - TEXTO

1.7.1 - A NARRATIVA NA TELEVISÃO


Narrativa é originária do latim e quer dizer conhecer, transmitir informações. É um meio de se contar
uma história, seja ela real ou ficcional. Existe a narrativa de aventura, literária etc. Gérad Genette
define narrativo como uma representação de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos,
reais ou fictícios, por meio da linguagem, e mais particularmente da linguagem escrita.
Convencionalmente, o enredo da narração pode ser assim estruturado: a) exposição (apresentação
das personagens e/ou do cenário e/ou da época), b) desenvolvimento (desenrolar dos fatos
apresentando complicação e clímax) c) desfecho (arremate da trama).[24] A narrativa na televisão é
sui generis dada suas particularidades, marcada por um fluxo interminável de informações, combinado
por uma fragmentação, por mudanças rápidas de programas e situações etc. A televisão, em virtude do
sensacionalismo reinante em vários programas, exagera o “clímax”, há uma sucessão artificial deles. A
exposição e o desfecho acabam por servir a ele, pervertendo a lógica narrativa. Veja-se, por exemplo,
o que ocorre com a estruturação narrativa de novelas, minisséries que, pela fragmentação em blocos,
são obrigadas a múltiplos clímax para garantir com o suspense a permanência do espectador até o
próximo bloco, depois dos comerciais. (DUARTE 2002, p. 7) A noção de tempo é pervertida na
narrativa televisiva: A lógica narrativa da programação da TV é construída por essas sequências de
“agoras”. Após um programa um novo agora introduz um outro. E, assim, numa sequência interminável
que se repete no outro dia. As emissões cerimoniais, nesse jogo, introduzem a ideia de instante. Não é
um novo agora que marca a emissão, mas um corte abrupto interrompendo de maneira arbitrária o
tempo, o agora. Mas ambos, instante e agora, são tempos narrados. (BARBOSA, 2007, p.17) E a
narrativa televisiva volta-se para a imagem: A narrativa da TV destaca a imagem. Mais do que o mundo
das coisas contadas está em cena o mundo das coisas vistas. A luz que permite a construção
imagética reproduz pessoas em presença, lugares conhecidos ou desconhecidos, caleidoscópio de
imagens múltiplas (BARBOSA, 2007, p.15) Há um “tudo misturado, ao mesmo tempo, e agora”. E
pouco importa a natureza do programa, se é ficcional ou factual. Barbosa (2007, p.12) afirma: A
narrativa da televisão – seja ela de que gênero for – produz a transição entre a experiência que
precede a construção do texto e a que lhe é posterior (a do público) e só ganha sentido quando passa
a figurar nesse novo mundo. Introduz uma espécie de suspensão do tempo – o presente do
telespectador – por um passado que agora está na tela e é apresentado como presente vivido,
instaurando “o mundo das coisas contadas” (RICOUER[25], 1995, p. 115-116). Neste sentido, não há
diferença entre narrativa ficcional ou não ficcional. Daí também o embaralhamento de
significações que o público produz em relação aos gêneros televisuais, misturando ficcional e factual.
[grifo nosso). Uma telenovela é por definição uma ficção, frequentemente há esta advertência nos
“créditos”, aliás. Porém, as pessoas ao comentaram sobre o capítulo “da noite anterior”, fazem-no
como se a novela fosse factual. Assim, é comum ouvir frases como: “tal comportamento não é
compatível com a vida real”, “no dia-a-dia não é assim”, “a novela mente” etc. Isto só é possível porque
a televisão confunde, de propósito, a narrativa ficcional e a real. Assim, conforme o interesse das
emissoras e/ou dos produtores será dito que tal programa se baseia na realidade ou não. A
manipulação ideológica desta forma é mais fácil. Pouco importa, também, de qual gênero narrativo se
trata, se é drama, comédia etc. O que vale é o fluxo e o ritmo, segundo Barbosa (2007, p.4): O ritmo e
a composição das cenas televisivas são governados pela ideia de fluxo: um contínuo de imagens que
não faz distinção dos programas constitui, para Williams (op. cit.), a forma televisão. Para Barbero
(2001)[26], o fluxo televisivo produz a metáfora mais real da substituição dos grandes relatos pela
equivalência de todos os discursos (informação, drama, publicidade, dados financeiros, etc), pela inter-
penetrabilidade de todos os gêneros e pela transformação do efêmero em chave de produção e em
proposta do gozo estético da TV. Ainda Barbosa (2007, p.11) afirmando que a televisão abusa das
sensações: A narrativa da televisão se constrói apelando ao sensório. Valores próprios de um
imaginário governado pelo afeto, pela afetação e pelas sensações são colocados diante do público. O
sensorial é o discurso dominante: um mundo que se constitui sob a forma de imagens e uma época
marcada pelas imagens do mundo Caldas (2008, p. 30) endossa que a televisão perverteu a narrativa
ao comentar: Com a televisão, temos um monólogo controlável e uma representação do real (ângulo
da câmera, seleção das imagens etc) que nos é imposta. Em “A comunicação do grotesco”, Sodré
afirma que o veículo impõe ao receptor a sua maneira especialíssima de ver o real” (1971:61). O
código televisivo nos limitaria a uma experiência de consumidor-dominado, aspecto este que Edgar
Morin, autor com certa influência na obra de Sodré, já destacara quando analisara a cultura de massa.
Para Sodré, ao ligarmos a televisão, já estaríamos fazendo parte de uma teleorganização, cujo uso do
código compete ao emissor. A tevê, aí, é forma social, e o meio técnico serve para manter essa relação
imagem/receptor Na narrativa televisiva não há argumentos nem linearidade nem fim nem começo.
Sodré (2001) comenta: E. Verón chamou de indiciário. A socialização com gestos, nas flexões, nos
sinais. Tudo isso que compõe o universo oral e que vem para a mídia eletrônica. No indiciário, não há
linearidade discursiva, não há argumentação, não há princípio nem fim. Há, sim, a estética das
aparências. Isso tudo é incompatível com o que nós entendemos como discurso crítico, como
argumentação. A televisão entra aí. Entra nesse regime de visibilidade pública, pontuada pelo
indiciário. A televisão é o grande médium indiciário. Ela não precisa, não aposta na argumentação
crítica, não aposta nos conteúdos Kaplan[27] (1987, p.63) diferencia o cinema da televisão, citado por
Trevisan (2011, p.46): enquanto isso é familiar dos gêneros clássicos de Hollywood, existe uma
diferença importante que novamente sugere uma deslizada para dentro do pós-modernismo. Na
maioria dos gêneros de Hollywood mencionados, o mistério é resolvido no final; nós estamos dando
explicações para o que é mostrado, para que o espectador deixe o cinema seguro de que está vivendo
num mundo racional. Este não é o caso da maioria dos vídeos descritos: nós nunca sabemos por que
certas coisas acontecem, ou até precisamente o que está acontecendo. Nós somos forçados a existir
num universo não racional, onde por acaso não podemos esperar qualquer desfecho do tipo comum. O
enredo de uma narrativa é uma sucessão de eventos conduzidos forçosamente pela relação de causa
de efeito, com começo, meio e fim, resultando num todo uno. Vimos por todos os exemplos
supracitados que a televisão não segue esta ótica. A narrativa da televisão é ilógica e sem enredo, na
realidade. Todo enredo envolve narrativa, mas nem toda narrativa envolve o enredo.[28] Ao proceder
assim, a televisão lembra a ideologia nominalista, na qual inexiste o liame de causa e efeito. Existem
só os fatos. As narrativas factuais, fundadas na existência real de acontecimentos são ditas “cheias”,
porque seria impossível esgotar todas as visões possíveis do acontecido, cada testemunha poderia
dizer um detalhe, um aspecto diferente, mas complementar ao de outra testemunha. O resultado final
seria uno, com um relato fortalecendo e complementando o outro. As narrativas ficcionais são ditas
“vazias”, pois não se pode acrescentar nada mais ao relato, pois o fato a que ele se refere inexistiu, foi
o resultado da criação de um escritor. Num caso de um evento mentiroso inventado e/ou combinado
por duas pessoas, por exemplo, seria comum a contradição, pois como o acontecimento imaginário
não existiu, a invencionice produziria testemunhos díspares. Cada parte ao querer enriquecer o
pseudoevento diria uma irrealidade diferente da outra parte. Um relato destrói o outro, anulando-se. A
mentira produz a contradição, a verdade produz a unidade. Ao misturar a ficção com a não ficção,
combinado com outras características, a televisão cria o relato factual “vazio”. Neste caso, embora, os
acontecimentos tenham existido, ao passar pelo filtro modificador da televisão, ele se torna como se
fosse uma ficção. Permitindo a contradição e a confusão. A mídia cria diariamente a sua própria
narrativa e a apresenta aos telespectadores (...) como se essa narrativa fosse a própria história do
mundo. Os telespectadores, embalados pelo “estado hipnótico” diante da tela de televisão, acreditam
que aquilo que veem é o mundo em estado “natural”, é “o” próprio mundo (ARBEX 2001, p.103).

1.7.2 - SENSACIONALISMO
As narrativas na televisão, muito comumente, são sensacionalistas. O sensacionalismo, a busca pelo
espetáculo, se transformou em pedra angular de diversos programas televisivos. A onda popularesca,
que mescla reportagens sobre aberrações com entrevistas que desnudam por completo a intimidade
alheia, ocupa, agora, o horário nobre da televisão brasileira. (VIEIRA BARBOSA, 2005, p. 67). No
mesmo sentido escrevem CASALI et al. e VIEIRA BARBOSA, entre outros. Para Amaral (2011, p. 21),
a técnica sensacionalista serve a determinados propósitos midiáticos: O sensacionalismo tem servido
para caracterizar inúmeras estratégias da mídia em geral, como superposição do interesse público; a
exploração do interesse humano; a simplificação; a deformação; a banalização da violência, da
sexualidade e do consumo; a ridicularização das pessoas humildes; o mau gosto; a ocultação de fatos
políticos relevantes; a fragmentação e descontextualização do fato; o denuncismo; os prejulgamentos
e a invasão de privacidade tanto de pessoas pobres quanto de celebridades. Segundo Pedroso (1994,
p. 47-48), o discurso sensacionalista tem as seguintes características: a) variedade na apresentação
gráfica; b) exploração de estereótipos sociais; c) valorização da emoção em detrimento da informação;
d) exploração do caráter extraordinário e vulgar dos acontecimentos; e) adequação ideológica às
condições culturais, políticas e econômicas; das classes sociais; f) exploração exacerbada do caráter
singular dos acontecimentos; g) destaque do aspecto insignificante e duvidoso dos acontecimentos; h)
omissão de aspectos dos acontecimentos; i) acréscimo de aspectos dos acontecimentos; j) discurso
repetitivo, motivador, despolitizador e avaliativo; k) discurso informativo de jornais em fase de
consolidação econômica e empresarial; l) modelo informativo que torna difusos os limites entre o real e
o imaginário. Ou seja, é um discurso totalmente apelativo e forçado. Segundo Marcondes Filho (1986)
[29], citado por Angrimani (1995, p.15), o sensacionalismo é feito pelo trinômio: escândalo-sexo-
sangue. Cuida-se, então, de atrair a audiência pelos motivos mais baixos possíveis. (a imprensa
sensacionalista) não se presta a informar, muito menos a formar. Presta-se básica e fundamentalmente
satisfazer as necessidades instintivas do público, por meio de formas sádica, caluniadora e
ridicularizadora das pessoas. (MARCONDES FILHO, 1986, citado por ANGRIMANI, 1995, p. 15) De
acordo com Vieira Barbosa (2005), o sensacionalismo tem raiz na imagem, pois quando mais
escabrosa for uma cena, mais atrativa ela será. E há todo um exagero na construção das imagens e,
se for o caso, nos cenários gráficos. Para Casali et al. (2008, p. 1): “A atenção do telespectador
brasileiro tem sido mantida muito mais por shows de luzes, sons, cores, choros e súplicas do que pela
relevância do conteúdo narrado na televisão”. Outra característica da narrativa sensacionalista é a
“onisciência” (PEDROSO, 1994, p. 45). Ao anunciar uma determinada manchete, a televisão, por meio
de um apresentador, dá a entender que conhece todos os aspectos do fato a ser relatado e se arvora
em senhora máxima dos eventos, detendo o poder de realçar, diminuir, exagerar etc. (de acordo com
as características supracitadas) os acontecimentos conforme lhe apetece. Como se fosse dona
absoluta da realidade. E pouco importa se, realmente, os fatos são “espetaculares”, o que interessa é
a versão fabricada que se fez dos acontecimentos da vida para captar a atenção dos telespectadores.
“O jornalismo sensacionalista extrai do fato, da notícia, a sua carga emotiva e apelativa e a enaltece.
Fabrica uma nova notícia que a partir daí passa a se vender por si mesma.” (MARCONDES FILHO,
1986, citado por ANGRIMANI 1995, p. 15) “Sensacionalismo é tornar sensacional um fato jornalístico
que, em outras circunstâncias editoriais, não mereceria esse tratamento. Como o adjetivo indica, trata-
se de sensacionalizar aquilo que não é”. (ANGRIMANI, 1995, p. 16). Ou seja, cuida-se de uma farsa
completa. As notícias, por meio da televisão, tornaram-se um engodo. Outro absurdo é fazer as
“manchetes” mais importantes que o conteúdo, característica esta generalizada em praticamente todos
os programas televisivos.
1.7.3 - TELEVISÃO E O SILOGISMO
A televisão tem uma estrutura antissilogística. O silogismo, que é a forma de pensar humana,
compreende a premissa maior, a premissa menor e a conclusão. Um exemplo clássico: todo homem é
mortal, Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal. Há nesta estrutura um encadeamento lógico, na
qual a conclusão se depreende das premissas. Como as características do conteúdo televisivo
englobam a fragmentação, a repetição, a superficialidade etc, dos temas abordados, cuida-se do
oposto do fundamento do silogismo. A televisão tem conteúdo circular, próprio dos sofismas. Sfez
(1994, p.13) criou o neologismo “Tautismo”, que explica bem a natureza ilógica da televisão:
neologismo formado pela contração da palavra ‘tautologia’ (o ‘repito, logo provo’ tão atuante na mídia)
e o ‘autismo’ (o sistema de comunicação torna-me surdo-mudo, isolado dos outros, quase autista) (...)
O tautismo é, pois, aquilo pelo qual uma nova realidade chega a nós, sem distância entre o sujeito e o
objeto. Mas é também uma grade que permite interrogar campos, aparentemente heteróclitos, mas
atingidos pela mesma doença tautística. Interrogando esses campos, ele revela o seu jogo de
espelhos e pouco a pouco os unifica. Ora, é justamente aí que a origem epistêmica esfuma-se e o
tautismo torna-se a forma simbólica da comunicação. Seu poder desdobra-se nas práticas e,
retomando esses elementos constitutivos (tecnologia como imperativo e tecnologias do espírito),
confere-lhes um segundo vigor. Passando por esses canais, o tautismo desempenha seu papel em
várias frentes ao mesmo tempo: produção, distribuição, formação permanente, educação, gadgets
culturais, publicidade, relações públicas, relações na empresa, marketing, televisão, rádio etc.,
chegando a influenciar a própria imprensa escrita, a produção cinematográfica e a produção dos
editores de romances e de ensaios. Na televisão são utilizadas várias falácias, como, por exemplo, do
Argumentum ad novitatem (apelo à novidade, as coisas são boas porque são novas), do apelo à
multidão, do apelo à emoção, etc. Algumas das formas mais fortes de “argumento”, na televisão, são: a
estatística, o número, a quantidade e o “opinionismo” Isto leva o telespectador a pensar sempre em
termos quantitativos e não em termos qualitativos. Mander (1978, p. 327): na televisão, a quantidade é
mais fácil que qualidade. O maior será sempre o melhor. Nesta linha: o melhor cantor seria o
maisouvido, um determinado carro por ter sido o mais vendido, seria o melhor etc. Exagera-se a
importância das pesquisas de opinião, nas quais se infere o que o maior número de pessoas “acha” de
determinado assunto e isto será a verdade definitiva. Ora, a verdade independe da estatística, da
opinião etc. ela se impõe por si mesma e a razão do homem é capaz de compreendê-la. O homem
moderno perdeu a capacidade de raciocinar e a televisão contribuiu com isto.

1.7.4 - A TELEVISÃO E O TRIVIUM


O trivium[30] é formado pelas artes liberais da gramática, da lógica e da retórica. Por meio dele,
estudam-se a natureza e a função da linguagem. Segundo Hugo de São Vítor, no Didascálicon[31]: “A
gramática é a ciência de falar sem erro. A dialética (ou lógica) é a disputa aguda que distingue o
verdadeiro do falso. A retórica é a disciplina para persuadir sobre tudo o que for conveniente.” Ou seja,
a gramática nos dá a regra no falar, a lógica nos dá o raciocínio e a retórica, a eficácia, a elegância no
falar. A longa decadência intelectual que o mundo conhece, que já dura séculos, é proporcional à
eversão do ensino do trivium. A linguagem televisiva é opoente per diametrum do trivium. Ela não é
cultora da gramática, além do que foi dito no tópico dos “jingles” acrescentamos Houaiss (1990, p.22):
A primeira condição para escrever é ter lido muito. E continuar a ler para descobrir as virtudes que se
pode tirar dos outros e incorporar a si próprio. A verdade é que a grande maioria dos repórteres com
quem se vai dialogar são de uma pobreza vocabular espantosa. Nos cursos de Comunicação, eles
ouviram muito mais do que leram. Um curso sério é muito mais um direcionamento de leitura do que
um débito para com a palavra oral.[32] A definição de lógica para S. Tomás é: “arte diretiva dos atos
próprios da razão para que o homem alcance a ciência, de maneira ordenada, facilmente e sem
erro”[33] Confrontando esta definição com a televisão, podemos dizer que não há lógica na televisão,
pois ela é um instrumento per si ilógico. A estruturação, na forma de colagem, da imagem, do som e do
texto, como já foi desenvolvido nos tópicos anteriores demonstra que a natureza da televisão passa ao
largo da lógica. A retórica é formada pelo logos, pelo pathos e pelo ethos. O primeiro requer que o
emissor prove a veracidade do que é dito. O segundo requer que o emissor ponha os ouvintes numa
disposição favorável ao seu propósito. O terceiro requer que o emissor inspire boa reputação, bom
caráter e moral.[34]Vemos que a televisão não respeita essa estrutura, já que o logos é falseado na
televisão, quando ela subverte a realidade, levando à confusão do factual com a ficção. Em relação ao
pathos, a televisão exagera na emoção e apela ao sensacionalismo. Em relação ao ethos, a televisão
usa ardis, como a mensagem subliminar, para provar seu discurso, não há lealdade. Outra coisa que
fere a retórica é que a televisão usa sempre uma linguagem familiar, nivelando as pessoas. O correto é
tratar as pessoas de modo desigual, em razão de cargo, idade, etc., assim deve-se tratar um pai
diferente de um amigo. Na televisão são todos “amigos” e o pronome usado é sempre “você”,
provocando uma perversão na dignidade dos tratamentos.

1.8 - TEORIA DA COMUNICAÇÃO, A


TELEVISÃO E O MEIO

1.8.1 - TEORIA DA COMUNICAÇÃO.


Na teoria da comunicação, alguns elementos são fundamentais: a) Emissor: quem emite a
mensagem. Pode ser uma pessoa, um grupo, uma empresa, uma instituição etc. b) Receptor: a quem
se destina a mensagem. Pode ser uma pessoa, um grupo etc. c) Código: é o modo pela qual a
mensagem é feita. Ele é formado por um conjunto de sinais, organizados de acordo com determinadas
regras. Pode ser a língua, oral ou escrita, gestos, código Morse, sons etc. d) Canal: é o meio no qual a
mensagem circula. Pode ser a voz, o papel etc. e) Mensagem: é o objeto da comunicação, é
constituída pelo conteúdo das informações transmitidas. f) Referente: o contexto, a situação à qual a
mensagem se refere.

1.8.2 - TELEVISÃO, A COMUNICAÇÃO, O MEIO E O FIM


A televisão implodiu as relações saudáveis entre os elementos da comunicação. A mensagem, que é
o objeto de toda a comunicação, se perde. O objeto da televisão, em vez de ser algo que se comunica,
torna-se ela mesma. “A televisão fala menos do mundo exterior e mais de si mesma, num processo de
auto referencialidade. Sobrevive dizendo ao telespectador “eu estou aqui, eu sou eu e eu sou você”
(Eco, citado por Sodré, 2006, p.20) Sodré (2001, p.21) reforça que a televisão subverteu a lógica
narrativa: O essencial dela (TV) é o código, a sua própria forma, essa aderência sensorial a que ela
convida as pessoas. Ora, sendo por tanto prioritariamente forma, sendo sensorialidade, sendo estética,
os conteúdos são minimizados, como que exterminados, são liquidados pela pregnância desse
envelope, desse invólucro que é a televisão. Habermas, citado por Inês Sampaio (2004, p. 51-52): O
comportamento do público, sob coação do “don’t talk back”, assume uma outra configuração. Os
programas que as novas mídias emitem, se comparadas com comunicações impressas, cortam de um
modo peculiar as reações do receptor. Eles cativam o público, enquanto ouvinte e espectador, mas, ao
mesmo tempo, tiram-lhe a distância da emancipação, ou seja, a chance de poder dizer e contradizer O
discurso da televisão tem formato de um diálogo, mas sem dar a possibilidade ao telespectador de
falar, ou seja, é uma contradição. Ela propõe uma conversa na qual só ela pode falar. Não deixa de ser
um controle: “a forma de poder exercido pela tevê decorre de sua absoluta abstração com respeito à
situação concreta e real da comunicação humana. Nesta abstração baseia-se o controle social do
diálogo” (SODRÉ, 1977, p.22, citado por CALDAS, 2008, p.30). A televisão pode ser apresentada
como uma incomunicação, termo já usado por alguns estudiosos. Baudrillard, citado por Moreira
(1979) afirma que: o que caracteriza os meios de comunicação de massa, é que são
antimediadores, intransitivos, que fabricam a não comunicação, se aceita definir comunicação
como um intercâmbio, como o espaço recíproco de uma palavra e de uma resposta, portanto de uma
responsabilidade, e não uma responsabilidade psicológica ou moral, mas uma correlação pessoal
entre um e outro no intercâmbio. O que acontece na esfera dos media, é que se fala de tal maneira
que nunca se pode responder [grifo nosso]. Outros autores que usam a expressão “incomunicação”
são Baitello Júnior et. Al. (Os Meios da Incomunicação, 2005) e Fausto Neto (1976) E para Marcondes
Filho (2004), citado por Ferreira (2010, p.6): “a sociedade da comunicação é uma sociedade em que a
comunicação real vai ficando cada vez mais rara, remota, difícil e vive-se na ilusão da comunicação,
na encenação de uma comunicação que, de fato, jamais se realiza em sua plenitude.” O meio e o
conteúdo, em razão da natureza física da televisão, estão mais ligados, do que poderia parecer à
primeira vista. Uma certa programação foi construída para a televisão e vice-versa. Toda ação humana
é dividida em finalidade, meios e execução.[35] O primeiro, em importância, é a finalidade:
compreende-se, por exemplo, que se deva escrever um texto. Segue-se a análise sobre qual meio
seria melhor, se é a máquina de escrever ou um editor de texto no computador: opta-se pela segunda
opção, por exemplo. E finalmente se executa a ação. A televisão viola a relação da finalidade com o
meio. Normalmente, as pessoas dizem que vão assistir à televisão e não a um programa específico.
Há uma confusão entre “meio e fim”. Marshall McLuhan[36], um dos autores mais citados pelos
estudiosos de televisão e mídia em geral, cunhou uma expressão que se tornou famosa. Segundo ele,
na televisão: “o meio é a mensagem”. Esta pequena frase diz muito sobre a televisão, porque ao invés
dela ser um canal pelo qual se teria acesso a determinado conteúdo, ela seria o próprio “produto final”.
As pessoas assistem à televisão e não a um programa na televisão. Segundo Williams (2005) existe a
impossibilidade de análise individual do produto, separado da programação. Ele estaria
intrinsecamente ligado à dinamização do canal, onde, por mais fragmentada que seja a programação -
que é eivada de publicidades, “chamadas”, diversidade de gêneros etc. - faria parte de uma mesma
unidade não acabada e com limites pouco marcados dado o fluxo contínuo de imagens, sons e texto
que nunca se encerram. Desta forma, as pessoas gostam de assistir às novelas “em abstrato” e não a
uma “em concreto”. Pouco importa quais são os atores ou o tema, o que importa é que seja uma
novela. Ramalhete (2013) menciona a relação estabelecida por Marshall McLuhan entre a televisão e o
cubismo. Essa escola de arte moderna pretende, de modo delirante, a apreensão “totalinstantânea” de
alguma coisa. Assim, se há a pintura cubista de uma pessoa, as costas estarão do lado de uma orelha
que estará do lado do pé, por exemplo. A televisão, ao apresentar as imagens e informações de modo
desconexo, ilógico e fragmentado, possui o mesmo mecanismo. Também em relação ao tempo, no
qual a televisão pretende o domínio completo, ao querer mostrar tudo quase que instantaneamente,
funcionaria essa comparação. Cubismo e televisão formam uma combinação perfeita e horrível.
Barbero, citado por Marcondes Filho (1988, p. 41), diz que não tem sentido analisar a TV apenas a
partir do texto, do conteúdo falado, do enredo de seus programas. A fascinação vem da forma
espetacular e não do que se transmite oralmente. Como exemplo, temos os telejornais. Neles, as
notícias são apresentadas de modo rápido e em sequências sem liame nenhum. Assim, fala-se sobre
crise no Oriente Médio, depois, anuncia-se o aumento do preço do pão e finalmente, noticiam-se os
resultados de competições desportivas. Na realidade, tanto faz a notícia, pouco se aprende, o que
interessa é o meio, o assistir a um telejornal num determinado canal, ouvir sua “música” - na realidade
um conjunto de sons ilógicos - e ver o apresentador preferido. O meio é a mensagem. O que vale é o
“espetáculo da notícia” e não a notícia em si mesma. Se o telespectador mudar de canal e assistir às
mesmas notícias em outro telejornal, não ficará satisfeito. Ele está ligado ilogicamente a um
determinado canal. Ver anexo 4.4 : Telejornal. É interessante observar, na linha da confusão entre
meio e finalidade, que muitos dispositivos eletrônicos modernos seduzem de tal forma, que as pessoas
realizam a compra deles não tendo em vista o que se vai fazer com eles (finalidade), mas pelo
aparelho em si mesmo (meio). Televisores de “LCD” e “LED” e mais recentemente “3D” estão entre os
mais sedutores. Quanto mais funções tiverem, melhor será. Ainda que sejam inúteis para
determinados usuários. Abandona-se a economicidade e a ordenação à finalidade por completo.
1.9 - MENSAGEM SUBLIMINAR
Subliminar é qualquer estímulo abaixo do limiar da consciência que produz efeito na atividade
psíquica (CALAZANS 2006 ,p. 39). Ou seja, a pessoa não percebe ou não sabe que viu ou ouviu uma
determinada imagem, mas essa gera alguma consequência na sua mente. A técnica subliminar é
conhecida desde os anos 50 (CALAZANS, 2006) quando foram feitas algumas pesquisas inaugurais e
importantes. A televisão está infestada deste tipo de técnica como, por exemplo, os anúncios não
endereçados ao consumo consciente. Eles são como pílulas subliminares para o subconsciente, cm o
fito de exercer um feitiço hipnótico (McLUHAN 1979, citado por CALAZANS, 2006) Segundo Wilson
Key (1993)[37], citado por Machado, Magron e Silva (2002) podem ser seis as categorias das
mensagens subliminares: a) inversão de figura / fundo: As percepções visuais e auditivas podem ser
divididas em figura e fundo. Inconscientemente os homens distinguem a figura do fundo, e focalizam
somente a figura, enquanto o subconsciente assimila e guarda o fundo na memória. b) método de
embutir imagens: Os anúncios feitos com adição de imagens sobrepostas são caríssimos, pois são
muito trabalhosos e devem ser feitos de modo que as imagens não fiquem explícitas. Eles aparecem
como se um artista tivesse escondido engenhosamente figuras obscenas ou consideradas tabus
dentro de um anúncio. Essas propagandas são feitas para serem vistas rapidamente, e não para
serem estudadas pelos leitores. Quando vemos uma imagem cheia de enxertos, na maioria das vezes
não os percebemos conscientemente, pois eles estão muito bem escondidos. Porém nosso
inconsciente capta essas imagens, e por mais rápido que viremos a folha, elas já ficaram gravadas na
memória. As imagens com enxertos são construídas colocando cuidadosamente desenhos, pinturas ou
fotos dentro de outra imagem, de modo que quando vemos essa imagem não percebemos
conscientemente esses enxertos. São pintadas várias coisas, geralmente remetendo a assuntos tabus,
como sexo, homossexualidade etc. c) duplo sentido: O duplo sentido é uma técnica subliminar muito
utilizada por ser dificilmente detectado. Em algumas propagandas os publicitários escrevem uma frase,
que associada ao desenho, pode possuir diversos sentidos e interpretações. d) projeção
taquicoscópica: O taquicoscópio foi projetado pelo doutor Hal Becker, e patenteado em 1962. Esse
instrumento é um projetor de flashes usado em uma tela de cinema ou mesa de luz para exibir
imagens e palavras em alta velocidade. A velocidade é tão alta (1 segundo / 3000), que o que for
projetado só é percebido pelo nosso inconsciente. e) luz de baixa intensidade e som de baixo volume:
Essa técnica da luz é utilizada para sombrear partes de uma figura, de modo que ela passe a
apresentar palavras ou frases escondidas. Com um pouco de treino para a investigação perceptiva
relaxada, qualquer pessoa pode perceber conscientemente dúzias de palavras SEX enxertadas em
algumas ilustrações. A técnica do som em baixo volume é utilizada em algumas lojas para evitar
roubos. Ao mesmo tempo em que tocam músicas, mensagens são emitidas em baixo volume, com
frases dizendo: “Não roubo”, “Eu sou honesto”, “Não sou ladrão”. Essas frases são percebidas
inconscientemente, e influenciam o comportamento das pessoas, que acabam não furtando nenhum
objeto ou mercadoria. Hal Becker, patenteador do taquicoscópio de alta velocidade, também fabrica e
vende processadores que inserem mensagens subliminares em trilhas sonoras. Ele explica que os
sinais audíveis e subliminares são mixados, e que o estímulo subliminar aproxima-se tanto das
mudanças de volume na música audível que seria impossível provar que a mensagem contém
informação subliminar f) luz e som de fundo: A luz e o som de fundo são amplamente utilizados nas
produções de filmes. Se bem elaborados e aplicados, criam efeitos de emoção em quem assiste as
cenas. Um som de rua, por exemplo, para ser aplicado num filme deve ser todo montado. São usadas
gravações de barulhos de carros, crianças, pássaros, apitos, sirenes, todas mixadas. O resultado final
é uma ilusão precisa da realidade. Se for bem construída, esta ilusão é mais satisfatória
emocionalmente do que o seria a realidade de fato, mas ela permanece subliminar. Numa cena as
músicas são acrescentadas para dar um fundo dramático, criar suspense ou expectativa. Os silêncios
também fazem parte do som inserido. Sons e silêncios são alternados, de modo a criar efeitos
diferentes nos expectadores. Às vezes, a cena nem é tão forte, mas devido à música triste,
melancólica, desperta lágrimas nos espectadores. Ainda para Key, os efeitos do estímulo subliminar
são sentidos nos seres humanos, no mínimo em dez áreas: Sonhos, Memória, Percepção consciente,
Reação emocional, Comportamento intuitivo, Limites de percepção, Comportamento verbal, Níveis de
adaptação ou valores de julgamento, Comportamento aquisitivo, Psicopatologia. A conclusão do autor
é de que: Os seres humanos podem ser programados por aqueles que controlam a mídia para terem
determinadas perspectivas culturais (ou conceitos) ou trabalharem com determinados grupos de
percepção. O comportamento do grupo é mensurável e previsível em termos de probabilidades
estatísticas..[38]

1.10 - REALIDADE E TELEVISÃO

1.10.1 COR, “CLOSE”, VELOCIDADE, FRAGMENTAÇÃO


E FLUXO.
A imagem da TV analógica é extremamente grosseira; no sistema NTSC (e que vale para o PAL-M do
Brasil) cada linha exibe cerca de 640 pontos, havendo 480 linhas efetivas. A imagem digital é melhor e
chega a ser 1080X1920 linhas. Mesmo assim, são imagens muito pobres. As cores não são fidedignas.
Todas elas são formadas por apenas três cores básicas. De acordo com o Wikipédia[39]: RGB é a
abreviatura do sistema de cores aditivas formado por Vermelho (Red), Verde (Green) e Azul (Blue). O
propósito principal do sistema RGB é a reprodução de cores em dispositivos eletrônicos como
monitores de TV e computador, "datashows", scanners e câmeras digitais, assim como na fotografia
tradicional. Como as imagens formadas não são boas, surge a necessidade de fazer sempre “close”
nos personagens e/ou focar em exagero o que se quer mostrar. Isto é absolutamente artificial e cria
uma “intimidade” que inexiste com atores, personagens, apresentadores, etc. Para Eco (1979, 343): a
presença agressiva de rostos que nos falam em primeiro plano, em nossa casa, cria a ilusão de uma
relação de cordialidade, que, com efeito, não existe”. E na natureza não é assim, nem sempre vemos
as coisas de maneira próxima. . Duarte (2002, p.4) comenta: Um outro aspecto decorrente das
tecnologias empregadas nesse processo comunicativo advém do fato de os aparelhos televisivos
funcionarem com baixa resolução; em razão disso a televisão vê-se impelida a optar por uma forma de
captação de imagens que evite a profundidade de campo, visto que, com essa técnica, elas perderiam
a nitidez, o que a obriga a operar preferencialmente com enquadramentos em planos médios ou
fechados Como muito bem notou Setzer (2009): “É interessante notar que, se um telespectador
aproxima-se da tela, ele não vê a imagem mais nítida, pois começa a ver os pontos. Isso contraria a
experiência que temos com a visão de objetos no mundo real.” As mudanças que vemos na natureza
não são abruptas, mesmo quando há velocidade envolvida. Por exemplo, quando observamos um
pássaro voando: a ave voa tendo como fundo uma paisagem quase fixa que muda aos poucos. Na
televisão tudo muda rápido: quer uma paisagem de fundo quer um pássaro voando. Ela impõe uma
velocidade que não existe no mundo real. Não vemos fragmentação na natureza, uma árvore viva se
apresenta inteira e não aos pedaços. Tampouco temos um fluxo constante, pois se pode repousar a
vista numa paisagem, por exemplo.

1.10.2 - IRREALIDADE DOS CENÁRIOS TELEVISIVOS


Os cenários[40] que fazem parte de vários programas televisivos[41] são irreais, não guardam
relação de analogia com o mundo natural nem com os ambientes que nos cercam, sejam internos:
salas, quartos, cozinhas etc., sejam externos: ruas, fachadas de casas, exterior de edifícios etc. Um
cenário de uma peça de teatro comum, por exemplo, se procura reproduzir a natureza, as casas, as
ruas, os interiores de moradias, os móveis etc. Na televisão, pelo contrário, evolui-se de um cenário
mais parecido com o teatro para um cenário virtual, sem liame com a realidade. Neste sentido,
mostram Adam et al. (2003, p. 157): “Em todos os cenários analisados, obervamos que a grande
maioria das figuras é abstrata e estilizada, não havendo um compromisso com a representação da
realidade” E Leopoldseder, citado por Cardoso, (2002, p.37) observa: “Nós não tratamos com
elementos de uma realidade atual, mas com uma nova realidade sinteticamente gerada” A construção
destes cenários virtuais conta com o uso de técnicas computadorizadas e visam somente aparecer na
televisão: “este cenário não se encontra instalado em nenhum palco ou estúdio, ocupa tão somente o
espaço na tela da televisão” (CARDOSO, 2002, p.34. Os materiais usados são distintos dos usuais e
comuns: “não é construído em madeira, ferro, tecido ou qualquer outro material de nosso mundo físico”
(CARDOSO 2002, p.34) Trata-se de elementos voltados para a irrealidade: “Podemos observar que os
programas que se encontram hoje no ar trazem cenários futuristas com superfícies lisas, metalizadas,
extremamente limpas”(CARDOSO, 2002, p. 35) O telespectador frente a eles é iludido: “Ao observar
um homem em um espaço virtual, o telespectador, neste momento, está sendo induzido a uma espécie
de ilusão”. (CARDOSO, 2002, p. 37)

1.10.3 - DETURPAÇÃO DO REAL E A CONSTRUÇÃO DE


UMA NOVA REALIDADE
A televisão mostra imagens da realidade e não a realidade. É muito importante levar isso em conta:
quando a televisão reproduz uma cena, um acontecimento da vida, isto é uma imagem, não é a cena.
Assim por exemplo, se alguém diz que viu um “atropelamento na TV”, não viu realmente. O que se viu
foi uma representação ou uma imagem deste atropelamento. O único modo de alguém ter visto esta
cena seria mediante a presença física próxima do acontecimento. Tanto é verdade que, quando se vê
atores nas ruas, eles parecem diferentes de quando “estão” na televisão. Normalmente, na vida real,
eles são mais baixos, velhos e mais “feios” que nos vídeos. A televisão sempre “embeleza” os atores
com excessos de maquiagem e ângulos favoráveis, criando uma aparência artificial. Ainda que a
televisão tenha mostrado com nitidez, isto não deixa de ser uma representação ou imagem do
ocorrido. Não existe identidade, pode existir, no máximo, semelhança. Ora, não é porque a televisão
apresenta uma imagem familiar imediatamente reconhecível da realidade que se pode considerar
como equivalentes a imagem que ela propõe e a realidade (Toussaint, 1999, p.11) E a representação
oferecida pela televisão será sempre distorcida porque ela mostrará a cena com o filtro das
características da reprodução televisiva, em razão da imagem, do som e da narrativa já
comprometidas. Para Arbex (2001): “A televisão (...) não é mera “observadora” ou “repórter”: tem o
poder de interferir nos acontecimentos.” O que a televisão mostra, na realidade, é um simulacro da
realidade. Mesmo nos programas ditos factuais. Há dois efeitos desta representação da realidade: a)
distorção do real. b) construção de uma nova realidade. Isto leva o telespectador a uma confusão entre
o real e a imagem do real. Faz tomar o mapa pelo território. Ou ainda, faz dar mais valor à
representação que o representado, neste sentido último, conforme Novaes (1999, p. 9) e Fragoso
(2000, p.6) E Sfez (1994, p. 13) nota que ele “passa a tomar a realidade representada como realidade
diretamente expressa, confusão primordial e fonte de todo delírio.” Muitos estudiosos, com as
particularidades de suas análises afirmam a mesma coisa. Moniz afirma: a televisão cria um
ambiente simulativo. Ela cria uma outra realidade e amplia sua própria realidade, onde o indivíduo
imerge. Então não é apenas a questão do efeito de conteúdo que está em jogo. O que está em jogo ali
é uma administração do tempo do sujeito, administração das consciências, a criação de uma vida
vicária, substitutiva.[grifo nosso]. A televisão cria um novo espaço e tempo para Bucci e Kehl (2004,
p.31) : A televisão não mostra lugares, não trás lugares de longe para muito perto- a televisão é um
lugar em si. Do mesmo modo, ela não supera os abismos de tempo entre os continentes com suas
transmissões na velocidade da luz: ela encerra um outro tempo. Setzer (2009) sustenta: Uma palavra
sobre a irrealidade da imagem e da fala da TV. Esta, como o cinema, permite que se transmitam
imagens e falas mudando em curtos períodos tanto o espaço como o tempo. Em outras palavras, se
uma cena de curta duração transmite algo relativo a uma certa localidade e um certo tempo, a próxima
cena pode transmitir algo que se passa em outra localidade totalmente diversa, e no passado ou no
futuro em relação à cena anterior. Compare-se com o teatro: nele, cada cena dura um tempo
relativamente longo, e se passa na velocidade humana normal. Dessa maneira, o espectador de uma
peça de teatro pode, em cada cena, identificar-se com ela, acompanhar o que está ocorrendo, colocar-
se na pele de cada personagem. Em outras palavras, o telespectador é colocado numa situação
totalmente irreal – o que é também o caso do cinema. Talvez por isso seja muito comum sair-se de
uma sala cinematográfica e levar-se alguns momentos para se 'baixar novamente à Terra', isto é,
passar-se a vivenciar o mundo real tal qual ele é. Quem sabe por isso o cinema e, hoje, a TV, quando
transmitem filmes ou novelas, sejam considerados 'fábricas de sonhos'. Realmente, o espectador é
colocado mentalmente num mundo que não é o real e pode observar toda sorte de situações
que conflitam com as 'leis' da natureza. No entanto, no sonho as imagens são criadas pelo próprio
sujeito. [grifos nossos]. Mander (1978, p.51), no seu primeiro argumento contra a televisão, diz: Ao
passarmos a viver em ambientes completamente artificiais, rompeu-se o nosso contacto direto com o
planeta, alterando-se o nosso conhecimento do mesmo. Desligados, como astronautas flutuando no
espaço, não podemos agora distinguir o alto do baixo ou a verdade da ficção. Estas condições
favorecem a implantação de realidades arbitrárias. televisão é neste contexto um exemplo recente, um
exemplo grave, uma vez que acelera grandemente o problema.[tradução nossa] Barbero, citado por
Marcondes Filho (1988, p. 37): “A notícia tornou-se mais verdadeira que a própria verdade, a imagem,
mais real do que a realidade” “O telejornalismo cria, portanto, uma outra natureza, uma segunda
natureza, que impõe a milhões de lares no país, como se fosse essa a verdade e não aquela do
mundo real”.(MARCONDES FILHO, 1988, p. 56) Fuerbach, embora tenha vivido no século XIX, tem
palavras podem ser aplicadas hoje em dia: Nosso tempo, sem dúvida, prefere a imagem à coisa, a
cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser. O que é sagrado não passa de
ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta, e
o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado.
(Essência do Cristianismo, 1842) Para Ferreira, citado por Marcondes Filho (2009, p. 343):
Filosoficamente, temos aqui um momento importante que marcará o paradigma pós-moderno: a
imagem não representa mais o real, mas o supera. A codificação da imagem por signos é substituída
pelos simulacros. Enquanto nos antigos regimes de produção as imagens procuram captar ou
representar o real, na TV temos simulacros que simulam a presença do real por meio da saturação,
exagero, estilização e síntese. Por assim dizer a imagem televisiva vai além do real, tornando-se tão
fascinante que o real não mais é tomado por si, mas a partir de simulações feitas anteriormente dele.
Segundo Schmidt, citado por Marcondes Filho (1988, p. 30), analisando o uso social da televisão como
meio de informação e de documentação, afirma que ela se transformou na, sociedade contemporânea,
numa espécie de corporificação do próprio princípio da realidade. Para Fragoso (2000, p.5): No caso
da televisão, o aparente realismo das imagens em movimento produzidas com câmera se associa à
possibilidade de transmissão ao vivo, produzindo uma ilusão ainda mais intensa de que o mundo
esteja sendo representado 'como realmente é'. E para Eco (1979, p. 335): Singular situação de quem
se apresta para um contato com o real bruto, e assimila ao contrário, um real humanizado, filtrado e
feito argumento. (...) Fácil veículo de fáceis sugestões, a TV é também encarada como estímulo de
uma falsa participação, de um falso sentido do imediato, de um falso sentido de dramaticidade. Todas
estas análises demonstram que a televisão pretende perverter a realidade.

1.10.4 - INTERMEDIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA


Dentro da lógica de deturpação da realidade, a televisão também media ou substitui as experiências.
Assim, por exemplo, em um programa de viagens que mostra o apresentador em Veneza, o
telespectador, por causa da turvação da realidade que a televisão produz, acha que “conheceu”
Veneza, que “percorreu” os canais, que já teve a “experiência” da visita, ainda que virtual. Ora isto não
é verdade: Primeiro porque, como já foi dito, que o que foi visto é uma imagem ou representação e não
o fato em si. Segundo porque a televisão é incapaz de explorar os sentidos do tato e do olfato. Desta
forma, não se sentiu o clima do local, tampouco, perceberam-se os aromas. Para Marcondes Filho
(1988, P. 30): O telespectador torna-se casa vez mais consumidor de experiências estranhas e de
comunicação, as quais aparecem como integrantes complexas – pois interessantes – do seu horizonte
perceptivo (Williams, 1986). Ele se torna consumidor de ambientes, os quais ele não poderia
experimentar de outro modo diferente da comunicação. E ainda, Reyher, citado por Marcondes Filho
(1988, p. 42), diz que “vivem-se as emoções dos outros, vê-se ar puro em vez de respirá-lo, imaginam-
se gostos, em vez de experimentá-los”. A televisão, ao intermediar as experiências, altera as noções
tradicionais: Intromissão de eventos distantes na consciência cotidiana, num processo mediante o qual
são alteradas as noções tradicionais de familiaridade e experiência, que são redimensionadas pelo
acesso dos agentes a elementos referenciais presentes nesse plano global de comunicação (INÊS
SAMPAIO, 2004, p.38) Outro exemplo disso são os desenhos animados. Em muitos desenhos
animados são mostrados animais que conversam, espaçonaves em planetas longínquos. Ora, tudo
isto não existe. Imagine-se a confusão na cabeça de uma criança. As brincadeiras normais das
crianças envolvem elementos da realidade: carros, cavalos, aviões etc. A criança usa os brinquedos e
completa a realidade com sua imaginação, assim ela brinca com um carro e o faz pular vários metros.
Há uma harmonia saudável entre a realidade e a imaginação. Na televisão, a criança só terá o irreal, o
delirante. Sem falar que a linguagem e o tema encontrados nos desenhos são sempre pobres, quando
não totalmente impróprios. E depois os bordões comuns (e ridículos) dos desenhos povoarão a mente
das crianças, podendo fazê-las repetir sem parar as mesmas frases. Ver o anexo 4.2: Desenhos
animados.

1.10.5 DETURPAÇÃO EM CONCRETO


Nos tópicos anteriores, vimos que a construção de uma nova realidade faz parte da natureza da
televisão e se opera em abstrato para todos os programas, independendo da vontade da maioria dos
operadores da televisão, ela é “automática”. Neste tópico, explora-se, na televisão, a deturpação da
realidade mediante ação deliberada para nublar a veracidade dos fatos, servindo a propósitos
específicos, para situações concretas. Niceto Blázquez[42] (1999, p. 501-5), citado por Frazão (2007,
p.7) detalhou alguns padrões utilizados pela grande imprensa – especialmente a televisão – para
alterar, omitir ou rejeitar a veracidade dos fatos, os quais seguem resumidos abaixo: • Via da citação:
onde a notícia é passada omitindo detalhes nos quais poderia ser percebida a notícia como um todo e
não cortada; • Via da reconstrução: na qual a notícia é construída novamente pelo profissional que a
manuseia, da forma como este deseja informar os fatos ou como a empresa jornalística em questão
assim preferir; • Via do comentário: a opinião do jornalista (apresentador, comentarista, articulista) é
levada em consideração, sobre o fato exposto; • Via da ocultação: na qual um fato de grande
relevância é exposto apenas com uma versão dos fatos; • Via de mudança: a qual discute que o
silêncio e a mudança têm seus efeitos comparados á censura; • Via do silêncio: também chamada
“desertização audiovisual” ocorre quando o silêncio, ou seja, a omissão dos fatos se dá
intencionalmente, seja por interesses ideológicos, funcionais, dogmáticos ou políticos. Para Arbex
(2001, p. 103): A mídia cria diariamente a sua própria narrativa e a apresenta aos telespectadores (...)
como se essa narrativa fosse a própria história do mundo. Os telespectadores, embalados pelo “estado
hipnótico” diante da tela de televisão, acreditam que aquilo que veem é o mundo em estado “natural”, é
“o” próprio mundo. Mas até mesmo a deturpação da imagem, por seu turno, pode ser feita facilmente,
pois as câmaras permitem uma adulteração completa por meio de ângulos e “closes”. Assim, por
exemplo, uma manifestação que se queira mostrar como “poderosa”, deve ter muita gente. Ora, se na
realidade não houve muitas pessoas presentes, a televisão pode fazer um “close” e/ou aproximação de
forma a não se perceber espaços vazios.

[1] IBGE, disponível em


<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/000000101357092120125722205306
59.pdf>. Acesso: 30 ago 2013.
[2] TELEVISÃO. In: WIKIPEDIA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Televisão>. Acesso em: 20 set.
2013.
[3] Basta consultar as “grades de programação” de emissoras na internet. Em muitas delas se contam
mais de 24 “atrações” por dia.
[4] “Hoineff resgata a pesquisa publicada em setembro de 1988 pela revista Channels, de Nova York.
De acordo com ela, 48,5% dos telespectadores (portadores de controle remoto) mudam de canal
durante um programa, embora 48% achem menos agradável assistir à TV dessa forma. Outros 14,3%
entendem que é divertido mudar constantemente de canal. Mais alguns dados referentes à pesquisa:
entre os telespectadores que adotam a postura de mudar de canal durante um programa, 29,4%
justificam essa atitude dizendo que o programa estava aborrecido. Outros 28,4% afirmam mudar de
canal para “ter certeza de que não estão perdendo um programa melhor”2. Já 22,7% mudam de canal
para evitar os comerciais. Dados mais atuais reforçam essa tendência dos telespectadores. Segundo
pesquisa feita pelo Ibope Mídia, de 1993 a 2001, o número de casas com TV com controle remoto
aumentou de 30% para 88%. Já um levantamento feito pela MTV mostra que 73% do seu público
muda de canal até durante o programa favorito”. (Revista Comunicação & Educação • Ano XI •
Número 1 • jan/abr 2006 -Roseane Andrelo). Disponível em
www.revistas.usp.br/comueduc/article/download. Acesso em 5 set. 2013.
[5] LIMA,Thaís Pinheiro. Correlação entre o hábito de assistir televisão e o risco de desenvolver
diabetes. 2011. Disponível em: < http://cientifico.cardiol.br/cardiosource2/diabetes/int_artigo13.asp?
cod=325> Acesso em: 2 set. 2013
[6] DUARTE, Elizabeth Bastos. Televisão: ensaios metodológicos. Porto Alegre: Sulina, 2004.
[7] Basta consultar a “grade de programação” das emissoras.
[8] I, Q.78,a.3,Rep.
[9] TEXTO. In: WIKIPEDIA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Texto>. Acesso em: 20 set. 2013.
[10] DUARTE, Elizabeth Bastos.
[11] Quando falamos sobre imagens, estamos nos referindo somente às que são relativas à visão.
Assim, estão excluídas imagens relativas ao gosto, aos sons etc.
[12] I. Q.35, a.1, Rep.
[13] Carta a Sereno, IX, 105.
[14] É melhor se ater antes aos conceitos do que as palavras que os definem, pois pode haver
diferença na nomenclatura usada pelos autores. Esta classificação foi baseada, com algumas
adaptações, em Leange Severo Alves, 1983, p.379. Disponível em
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/7371/6516>. Acesso em 2 set. 2013.
[15] Vigilanti Cura. Disponível em:
http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_29061936_vigilanti-
cura_po.html
[16] PEREIRA, Wagner. O Poder das Imagens: Cinema e Propaganda Política nos Governos de de
Hitler e Roosevelt(1933 - 1945). 2005. O autor escreveu um livro sobre este tema e uma pequena
resenha sobre ele está disponível em:
http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S23.1602.pdf
[17] Segundo S. Tomás.
[18] http://www.intercom.org.br
[19] SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z: como usar a propaganda para construir marcas e
empresas de sucesso. 3ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
[20] SACKS, Oliver. Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro. (MOTTA, Laura
Texeira, tradução). São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
[21] FIGUEIREDO, Celso. Redação publicitária: sedução pela palavra. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2005
[22] Para saber mais, além de Labouche (2002), ver: <http://www.montfort.org.br/o-rock-pode-ser-
usado-para-a-evangelizacao/> e <http://www.montfort.org.br/old/index.php?
artigo=rock&lang=bra&secao=cadernos&subsecao=arte>
[23] VIDEOCLIPE. In: WIKIPEDIA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Videoclipe>. Acesso em: 20
set. 2013.
[24] Foge ao objetivo deste trabalho esmiuçar todas as características da narrativa e sua relação com
o “discurso”, por isso nosso estudo é resumido. O esquema foi feito com base no livro O Trivium de
Irmã Miriam Joseph, p. 265, São Paulo: Realizações Editora. 2011. É fundamentado em Aristóteles.
[25] RICOEUR, Paul Tempo e Narrativa. Vol. I, II e III Campinas: Papirus, 1994-1995.
[26] BARBERO, Jesus-Martin e REY, German. Os exercícios do ver. Hegemonia audiovisual e ficção
televisiva. São Paulo: Editora SENAC, 2001.
[27] KAPLAN, E. Ann escreveu um livro sobre o tema: Rocking around the clock: Music Television,
postmodernism and Consumer Culture. London: Methuen, 1987. E também organizou outro livro que
inclui a mesma temática: O mal-estar no pós-modernismo – teorias, práticas. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editora, 1993.
[28] Segundo Aristóteles, p. 264 do livro O trivium.
[29] Marcondes Filho, O capital da Notícia, 1986
[30] Junto com o quadrivium (aritmética, astronomia, geometria e música) formavam as antigas “sete
artes liberais”.
[31] P. 13 livro do trivium
[32] HOAISS, Antonio. Imprensa, junho de 1990.
[33] S. Tomás. I Post. Anal., lec.1, n.2-3.
[34] P. 261 livro trivium
[35] S. Tomás, I,q108,a6
[36] Interessante observar que este autor escreveu um livro sobre o trivium, mas não era contra a
televisão globalmente.
[37] Wilson Key é autor do livro A era da manipulação.1993. Scritta Editorial.
[38] Há várias provas do uso de mensagem subliminar na televisão. Foge ao escopo deste trabalho
relacioná-las. Mas, a título de exemplo, citamos o caso da empresa Disney, que, em 1999 de forma
discreta, reconheceu uma imagem subliminar em um de seus desenhos. Um outro exemplo ocorreu
em 1997, envolvendo crianças japonesas que assistiam a determinado desenho animado, estilo
“mangá”, no qual, em uma fase, foram emitidas mais de 50 imagens muito coloridas (que seriam as
mensagens subliminares) em apenas 5 segundos, o que fez ocasionar um “curto circuito” no cérebro
das crianças gerando ataques epiléticos. Centenas delas tiveram de ser internadas.
[39] RGB. In: WIKIPEDIA. Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/rgb>. Acesso em 21 set. 2013.
[40] A definição dada pelo Wikipedia é: “Um cenário, a cena em grego: skené, ou a decoração em
francês: décor 1 , é composto de elementos físicos e/ou virtuais que definem o espaço cênico, bem
como todos os objetos no seu interior, como cores, texturas, estilos, mobiliário e pequenos objetos,
todos com a finalidade de caracterizar a personagem, e tendo como base os perfis psicológico e
econômico determinados na sinopse ou em um briefing”.
[41] Programas de auditório, “talk show”, telejornais etc.
[42] BLÁZQUEZ, Niceto. Ética e meios de comunicação. São Paulo: Paulinas, 1999

Para citar este texto:

"TELEVISÃO: UM “FAST FOOD” ENVENENADO PARA A ALMA - Parte I: A


televisão em si mesma (e seu uso)"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/cronicas/televisao-um-fast-food-
envenenado-para-a-alma-parte-i-a-televisao-em-si-mesma-e-seu-uso/
Online, 26/01/2019 às 18:30:08h
Um fast food envenenado para a alma - Parte 2: A televisão e o homem - corpo e alma
A televisão briga com a inteligência, amolece a vontade e enxerta paixões na sensibilidade. E também
o corpo sente os efeitos do uso constante da televisão. Leia também a primeira parte deste estudo.

2.1 - TELEVISÃO, O CORPO E A SAÚDE

2.1.1 - TELEVISÃO E O CORPO


É interessante observar que a televisão “fala” ao corpo. O corpo de alguma forma sente os efeitos
do uso constante da televisão. De acordo com Barbosa (2007, p. 4-5): "É a lógica de fluxo que faz
também com que todos os sentidos humanos sejam como que aprisionados pela televisão. Como
mostrou Derrick de Kerckhov (1997) - a partir de um experimento realizado diante de emissões, no
qual procurava exprimir o que gostava ou não em imagens sucessivas que mudavam a cada 15
segundos, experiência gravada e que indicou que todas as alterações foram percebidas no corpo do
pesquisador submetido ao experimento -, a televisão fala, em primeiro lugar, ao corpo e não à
mente. Na sua avaliação, a tela do vídeo impacta diretamente o sistema nervoso e as emoções dos
telespectadores. Portanto, para Kerckhov o regime de processamento da informação da televisão se
realiza na tela." Sodré (2001, p.19) sustenta que: “A televisão não se dirige à mente das pessoas. Ela
se dirige ao corpo do indivíduo”. “O que importa é esse espraiamento sensorial estético da mídia,
espraiando a vida da gente, fazendo que a gente habite, more dentro dessa prótese chamada
médium” (Sodré 2001, p.21) Mander, no seu terceiro argumento contra a televisão (1978, p.155): "A
tecnologia televisiva desencadeia respostas neurofisiológicas nos seus espectadores. Pode criar
doenças e decerto gera confusão e submissão a um mundo externo de imagens. Em termos globais,
os efeitos observados traduzem o condicionamento necessário ao controle autocrático" (tradução
nossa). Setzer (2009, p. 3) com muita propriedade, descreve a interação do telespectador com o
aparelho televisor, por isso reproduziremos seu texto:"Uma observação fenomenológica do
telespectador revela o seguinte. Ele está fisicamente estático (a menos de casos muito excepcionais,
como programas de ginástica). O ambiente é mantido em penumbra, isto é, com pouca luz. Dos seus
órgãos de sentidos, apenas a visão e a audição estão sendo incentivados, e de maneira
extremamente parcial: a tela encontra-se parada, portanto a distância é sempre a mesma, não
exigindo acomodação de profundidade (variação do cristalino e convergência dos eixos dos olhos). A
luminosidade varia muito pouco, de modo que a pupila também quase não muda de abertura.

Normalmente, os olhos não param de se mover, tateando o objeto sendo observado. A figura acima foi
copiada do livro de Patzlaf (2000, p. 18). Ela mostra, à direita, o movimento de um olho de uma pessoa
vendo a foto à esquerda durante alguns minutos; cada traço mostra um movimento do olho. Note-se
como a imagem é "tateada", com maior frequência nos olhos, na boca e na risca do cabelo, que
realmente chama a atenção. Em uma pessoa vendo TV os olhos praticamente ficam parados, como se
a pessoa estivesse em um estado de desatenção. No caso das telas grandes, esse efeito é diminuído,
pois o olho deve mover-se pelos vários trechos da tela. Aliás, essa é uma diferença fundamental da TV
para o cinema, pois nesse a tela grande exige que o olho, e até mesmo a cabeça, movimentem-se, o
que ajuda a diminuir o estado de sonolência descrito a seguir.Como o telespectador está fisicamente
estático, não faz ação física nenhuma. Antigamente, era necessário levantar-se para mudar de canal;
agora, com os controles remotos, nem mesmo esse pequeno esforço é exigido. Não há também
necessidade de se fazer um esforço mental para prestar atenção. De fato, o pensamento consciente
está praticamente abafado. Esse é um ponto absolutamente crucial do efeito do aparelho de TV sobre
o telespectador, e por isso vou alongar-me sobre ele. Estudos neurofisiológicos mostraram que,
poucos minutos, à vezes somente ½ minuto, de assistir TV já colocam normalmente as ondas
cerebrais, como medidas por eletroencefalograma, em um estado semelhante ao de sonolência (isto é,
de desatenção) ou semi-hipnótico (Krugman 1971, Emery e Emery 1976, Kubey e Csikszentmihalyi
1990). Normalmente, no telespectador existe predominância de ondas teta, lentas, do EEG, de 4 a 7
Hz. Uma pessoa no escuro, ou com olhos fechados, apresenta a mesma predominância de ondas
lentas. Em estado de alerta, passam a predominar as ondas beta de 12 a 30 Hz. Essa predominância
das ondas lentas cerebrais indica estado de desatenção, de sonolência. O estado de sonolência e a
inatividade mental são tão acentuados, que o gasto de energia de uma pessoa vendo TV é menor do
que uma pessoa deitada sem dormir, como foi constatado por Klesges, Shelton e Klesges (1993).
Basta olhar para um telespectador e ver-se-á que a expressão de seu rosto não é de alguém que está
prestando atenção ao que está observando. Ao contrário, a expressão é de olhar amortecido (olhar de
"peixe morto"), faces e boca em geral também sem demonstrar praticamente nada, enfim, tem-se a
impressão de "cara de bobo". Isso é mais nítido em crianças, que tem um rosto mais maleável do que
o adulto. Enfim, certamente não é a expressão de alguém observando atentamente o que se passa ao
seu redor ou em reflexão profunda. Pode-se fazer uma experiência muito simples para constatar que o
telespectador normalmente não está absorvendo o que está sendo transmitido. Basta perguntar a uma
pessoa que acabou de assistir um noticiário quais notícias ela lembra, obviamente sem contar antes
que ela será sujeita a esse teste. Emery e Emery (1976) relatam que, em San Francisco, uma enquete
feita por telefone mostrou que mais da metade das pessoas não se lembrava de nenhuma notícia
sequer! O prof. Anderson Paulino, da Baixada Fluminense, hoje diretor de escola pública nessa região,
testou esse fato em uma de suas palestras: de 15 manchetes de um noticiário que ele projetou numa
TV a partir de uma gravação, nenhuma pessoa conseguiu lembrar de 3, e apenas algumas lembraram
de 2 – por sinal, as 2 notícias mais violentas (comunicação pessoal).”

2.1.2 - TELEVISÃO E OBESIDADE


Há vários estudos realizados demonstrando correlação entre obesidade e televisão: World Health
Organization (2003), MH Proctor et al (2003) “Framingham Children’s Study”, Sónia Livingstone (2006)
“Does TV advertising make children fat?”, Hancox, Milne e Poulton (2004),Magalhães (2007). No
Brasil, por exemplo, temos Borges et. al. (2007) e Nascimento (2006, p. 113) que, em seu trabalho,
chegou à seguinte conclusão: "A partir dos estudos realizados, foi possível constatar que a televisão,
enquanto meio de comunicação de massa, pode ser considerado um fator ambiental associado à
ocorrência de sobrepeso e obesidade. Através dela, a população, sobretudo de crianças e
adolescentes, é exposta a maciça veiculação de propaganda de alimentos que, do ponto de vista
nutricional, não contribuem para uma dieta saudável e equilibrada. Estas propagandas possuem
elementos de caráter persuasivo que vão desde a intensa estimulação sensorial dos indivíduos,
através de técnicas gráficas de alta tecnologia, até a manipulação de sentimentos e ideias em
determinadas situações, favorecendo a identificação do consumidor com o produto promovido".
Setzer(2009) sustenta: "devido à inatividade física e mental, consome menos energia do que uma
pessoa deitada sem dormir. Só isso já contribuiria para o aumento de peso, pois em média cada
pessoa vê mais de 4 horas de TV por dia. Some-se a essa inatividade o fato de o telespectador estar
comendo salgadinhos, docinhos e refrigerantes, induzido pela propaganda transmitida, sem qualquer
valor nutritivo mas que contribuem decisivamente para o ganho de peso, e tem-se uma fórmula para
esse ganho. Cria-se ainda um círculo vicioso: pessoas com excesso de peso tendem a fazer menos
exercício físico, pois este exige mais esforço devido à carga adicional de peso, e com isso engordam
mais, fazendo ainda menos exercício". A televisão impõe uma triste contradição: “vende” o ideal do
corpo perfeito em sua programação e “entrega” ao telespectador a obesidade em decorrência de seu
uso prolongado.

2.1.3 - OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE FÍSICA E


MENTAL
Muitíssimos estudos apontam liame entre distúrbios físicos e/ou mentais e a televisão, além da
obesidade. Em especial, em crianças e jovens. Hacocx et. al. (2004) apontam que muito tempo na
televisão causa efeitos duradouros na saúde, como colesterol alto, tabagismo e baixa capacidade
cardio-respiratória.[1] BMC – Public Health associa o uso da televisão com problemas relativos ao
sono e diabetes.[2] Thompson e Christakis (2005) apresentaram estudos relacionando problemas com
sono e televisão para crianças.[3] Piazzi (2008, p.43), sem mais explicações ou referências, diz que: “
há fortes suspeitas de que uma criança exposta à TV antes dos 4 anos de idade desenvolva uma
forma branda de deficiência mental” Waldman et. al. (2006) em seu estudo relacionaram a televisão
com autismo[4] Landhuis et. al. (2007) [5] mostraram haver relação entre assistir muita televisão na
infância e déficit de atenção(DDA) na adolescência. No mesmo sentido, Johnson (2007) mostrando
que assistir muita televisão até os 14 anos gera déficit de atenção (DDA) e dificuldades no
aprendizado.[6] Há vários outros estudos demonstrando relação da televisão com distúrbios
psicológicos ligados ao desenvolvimento cognitivo das crianças, incluindo a compreensão da leitura,
habilidade matemática, memorização de números, resolução de problemas e vocabulário.[7]

2.2 - TELEVISÃO HIPNÓTICA


Se nós entendermos a hipnose como um conjunto de técnicas psicológicas e fisiológicas usadas
para a modificação gradual da atenção, então a televisão é hipnótica. Muitos autores entendem da
mesma maneira, exemplos: Arbex (2001), Barbosa, (2007), Mander (1978), Setzer (2009). Mander
(1978, p.158), para exemplificar, colheu gravações informais de cerca de 2.000 entrevistas e
descrições escritas a respeito da televisão. As 15 frases usadas com maior frequência foram: 1)”Eu me
sinto hipnotizado quando assisto à televisão”. 2) "A televisão suga minha energia". 3) "Sinto como se
passasse por uma lavagem cerebral". 4) "Sinto-me como um vegetal quando estou diante do tubo da
TV". 5) "A televisão me deixa fora de órbita". 6) "A televisão é um vício e eu estou viciado". 7) "Meus
filhos se parecem com zumbis quando assistem à TV". 8) "A TV está destruindo minha mente". 9)
"Meus filhos parecem sonâmbulos por causa dela". 10) "A televisão está tornando as pessoas
estúpidas". 11) "A televisão transforma minha mente em uma bagunça". 12) " Se a TV está ligada, não
posso desviar meus olhos dela". 13) "Sinto-me hipnotizado por ela". 14) "A TV está colonizando meu
cérebro". 15) "Como posso manter meus filhos distantes da TV e voltar a viver?". Todas estas frases
que, aliás, são bens comuns, retratam que a televisão atrai a atenção de modo hipnótico.

2.3 - OS SENTIDOS INTERNOS E A SUA


RELAÇÃO COM A TELEVISÃO
2.3.1 - OS SENTIDOS INTERNOS
Os cinco sentidos externos[8] do homem captam as informações do mundo exterior e registram nos
sentidos internos, que serão a base para o trabalho intelectual. São quatro os sentidos internos,
segundo S. Tomás[9]: sentido comum, imaginação, memória e cogitativa. a) Sentido comum. Por meio
do sentido comum, o homem percebe a realidade de modo unificado. Ele recebe as imagens obtidas
pelos sentidos exteriores compara-as e julga-as. S. Tomás ensina que o olho não distingue o branco
do doce, quem faz esta distinção é o sentido comum. b) Imaginação Não basta receber as
informações, é necessário retê-las. O ser sensitivo precisa percebê-las enquanto estiverem ausentes
também. Esta é a função da imaginação, que abstrai as impressões para que sejam usadas no futuro.
De acordo com S. Tomas é o “tesouro das formas recebidas pelo sentido”. c) Memória A fim de que as
imagens não se percam é necessário existir um “arquivo” onde possam ser armazenadas, este
“arquivo” é a memória. d) Cogitativa A cogitativa compara as informações armazenadas e pode criar
novas situações. Ela prepara as imagens particulares fazendo-as mais perfeitas de conteúdo em
potência para que sejam transformadas em ato (universal) pelo intelecto. O intelecto vai até os
sentidos internos e abstrai ou extrai a sua essência (quididade). O intelecto humano, unido ao corpo,
tem como objeto próprio a quididade ou a natureza existente na coisa corpórea, que ele abstrai do
imaginário.

2.3.2 - A TELEVISÃO E OS SENTIDOS INTERNOS


A televisão turva os sentidos internos, bombardeando com muitas imagens desconexas a visão e com
muitos sons desarmônicos a audição. Quando estas informações chegam ao sentido comum, este terá
dificuldade para unificar e julgar. Quando vemos uma árvore e um som de um pássaro não temos
problema em defini-los. Porém, se víssemos uma árvore borrada, sem contornos, teríamos dificuldade
em julgar o que é. A finalidade da visão é a percepção da realidade, quando esta é corrompida pela
televisão, o que a vista percebe pode ser algo confuso. A televisão, por assim dizer, borra os sentidos.
Em relação à imaginação, como a sucessão de eventos na televisão é rápida, não há tempo de
retenção de todas as imagens, não se conhece em ato muitas coisas simultâneas[10] . E mais, o que
pode ser retido, são imagens aleatórias ou sem importância e não as que se quereria escolher. Disse
Santa Teresa que “a imaginação é a louca da casa”, ora, a televisão vai ajudar a enlouquecer mais
ainda. Segundo ensinamento de S. Antonio Maria Claret[11]: "Procura sempre tê-la ocupada (a
imaginação) em pensamentos úteis e proveitosos, cuidando com toda a diligência evitar os maus
pensamentos; porque se os deixares entrar uma vez, não poderás depois lançá-los fora tão
facilmente". A televisão fará o contrário: povoará a mente com maus pensamentos. Sabe-se que a
memória é mais eficaz quando se estuda relacionando temas conexos. A televisão, por sua natureza,
não produz imagens conexas, contribuindo assim para a desmemória. E mais, a sucessão rápida das
imagens também provoca a amnésia, neste sentido ver Arbex (2001). Com os três sentidos internos
prejudicados, a cogitativarestará naturalmente comprometida. Não haverá perfeição de conteúdo, por
causa da “mistura” deles obtida ao assistir à televisão. Os sentidos internos precisam subordinar sua
atividade ao império da razão e da vontade[12], a mortificação dos pensamentos inúteis é a
mortificação dos pensamentos maus[13]. Isto é uma exigência para o progresso espiritual, é mister dar
mais lugar ao trabalho da inteligência e da reflexão, e menos às faculdades sensíveis. Como fazer isto
com a televisão, que é uma fonte de imagens perigosas ou inúteis? Um exemplo disso é o intervalo
comercial. Nele, várias publicidades se seguem sem nexo e podem instigar o telespectador a comprar
determinado produto de que não necessita. Estas imagens de bens de consumo, somados aos
“jingles” podem povoar o imaginário por muito tempo, fazendo o telespectador perder tempo em
pensamentos do tipo “compro ou não compro”.
2.4 - AS POTÊNCIAS DA ALMA E A
TELEVISÃO
O estudo das potências da alma em S. Tomás está na parte I, Q77 até Q83. Trata-se de algo
profundo. Dependendo do ângulo que se estude ou se “olha”, o número das potências pode variar (ver
Q78, a1). Porém, tendo em vista o nosso estudo, interessam-nos as seguintes potências: o intelecto,
inteligência ou “potências intelectivas” (I, Q 79), a vontade (I, Q. 82) e a sensibilidade (I, Q.81). Esta é a
tríade principal. A potência da inteligência será abordada no tópico: “o trabalho intelectual e a
televisão”, a sensibilidade, que se subdivide em concupiscível e irascível, será abordada no tópico
“televisão e concupiscência” e a vontade no tópico de mesmo nome. Interessante observar que a
função da linguagem é tripla, visando comunicar pensamento, volição e emoção.[14] A linguagem, ao
comunicar pensamento, visa atingir a inteligência, ao comunicar a volição, visa atingir à vontade e ao
comunicar emoção visa à sensibilidade. As peças se encaixam harmoniosamente. Quando a
linguagem é de alto nível e respeita o trivium, a alma se rejubila. Todas as potências dela foram
instigadas para o bem. Por exemplo, um sermão de São João Crisóstomo. Ele arrebata, o voo é alto.
Um pensamento elevado do sermão faz a inteligência compreender uma verdade, com a volição,
exorta o ouvinte a seguir a verdade, e com a correta emoção (que envolve a retórica) leva o ouvinte a
amar a verdade. A televisão briga com a inteligência, amolece a vontade e enxerta paixões na
sensibilidade, como veremos nos tópicos seguintes. Conduz para a baixeza. A linguagem na televisão
é o oposto dos sermões dos santos. Crisóstomo significa “boca de ouro”, a televisão é a “boca da
inópia”. Ela vai despertar as paixões e as emoções sem razão. Pio XI, na encíclica Vigilante Cura, já
alertava que as produções inadequadas excitam as paixões inferiores[15] As paixões são movimentos
impetuosos do apetite sensitivo para o bem sensível com repercussão mais ou menos forte sobre o
organismo.[16] Um exemplo disso são transmissões ao vivo de futebol. Aliás, o amor a este desporto
no Brasil se aproxima de algo patológico. As narrações dos jogos na televisão são dramáticas,
principalmente nas finais. Se o time perde o jogo, para o torcedor parece ser o “fim do mundo”. A
paixão estimulada neste caso é o desespero que é causado pela impossibilidade da aquisição do bem
amado - no caso do futebol, a vitória em algum campeonato. Isto leva a alma a um estado
desnecessário e ruim. Pode causar choro, revolta, etc. Ver tópico 3.1.3.

2.5 - O TRABALHO INTELECTUAL E A


TELEVISÃO
De acordo com Hugo de São Vítor: "Duas coisas principalmente concorrem para a aquisição da
ciência, a leitura e a meditação"[17] Por leitura, entende-se tanto a leitura de um livro quanto a assistir
a aulas[18]. A televisão não compreende nem a leitura nem a meditação. A meditação exclui a
velocidade. Requer vagar, pensar e repensar. E a meditação ajuda a memória[19]. Mais uma razão
pela qual a televisão destrói a memória. O que os medievais pensavam a respeito de estudo é
confirmado por pesquisadores atuais. É uma sequência de aula e/ou leitura, seguido de meditação
e/ou estudo repetido que produzirá a ciência e o saber. E segundo S. Tomás[20], quando a potência
intelectiva apreende alguma coisa este ato é a inteligência. Quando ordena o que ela aprendeu para
conhecer ou operar alguma coisa, é a intenção, quando persiste na investigação, é a reflexão. Quando
se examina o que se refletiu em razão de princípios certos, é a sabedoria. O modo de ser da televisão
combate tudo isto. A apreensão quase simultânea de várias imagens e/ou falas é mortal para o
intelecto. "O "saber" supõe o uso da reflexão e do julgamento, a televisão, devido à sucessão rápida e
ininterrupta de imagens luminosas não concede tempo para a reflexão nem para o julgamento; ela só
pode engendrar crenças sem fundamento razoável, ou pior, julgamentos temerários para o bem ou
para o mal". (TURGEON, J.P. - La télévision, p.20, citado por MIRANDA[21]) Segundo Peixoto (1996,
p. 180): "A televisão contrapõe-se radicalmente à contemplação. Em primeiro lugar porque na TV a
imagem passa por frações de segundo, sem exigir do observador a distância que convencionalmente
requer um quadro ou uma paisagem. Assistimos à TV com uma atenção dispersa, sem concentração,
apenas deixando que aquele fluxo ininterrupto nos atravesse". Existe uma hierarquia no saber. Há
coisas que tem mais importância que outras. Assim, o saber teológico e o catecismo estão em primeiro
lugar; a filosofia, que estuda as causas primeiras, em segundo posto, assim por diante. É próprio do
sábio ordenar, segundo Aristóteles. As futilidades da vida não estão em lugar nenhum, pois nem
deveriam ser conhecidas. A televisão dá mais importância às frivolidades e às inutilidades que os
temas mais elevados (se é que são abordados). Nela, há uma inversão tanto qualitativa, do que se
deve saber, quanto quantitativa, do quanto se deve saber de determinado assunto. Enquanto a
hierarquia do saber é como um arco ogival que aponta para o alto, a televisão é um arco invertido que
aponta para baixo. Segundo Bertrand (1999, p.115), os meios de comunicação “sofrem de uma falta
de hierarquia. Eles deveriam diferenciar melhor as notícias recreativas e importantes, e privilegiar
aquelas que podem afetar a vida de um grupo social, da sociedade de um país a humanidade”. De
acordo com S. Tomás[22], raciocinar é ir de um objeto conhecido a outro, em vista de conhecer a
verdade inteligível. A televisão leva nada a lugar nenhum. De acordo com Barbosa (2007, p. 4-5): "É a
lógica de fluxo que faz também com que todos os sentidos humanos sejam como que aprisionados
pela televisão. Como mostrou Derrick de Kerckhov (1997) - a partir de um experimento realizado
diante de emissões, no qual procurava exprimir o que gostava ou não em imagens sucessivas que
mudavam a cada 15 segundos, experiência gravada e que indicou que todas as alterações foram
percebidas no corpo do pesquisador submetido ao experimento -, a televisão fala, em primeiro lugar,
ao corpo e não à mente. Na sua avaliação, a tela do vídeo impacta diretamente o sistema nervoso e
as emoções dos telespectadores. Portanto, para Kerckhov o regime de processamento da informação
da televisão se realiza na tela. A segunda conclusão do autor, a partir de seu experimento, é que a
televisão é hipnoticamente envolvente. Qualquer alteração na tela atrai a atenção. Essa fixação não
permite a volta do pensamento, a reflexão. A imagem fica numa espécie de zona de sombra encoberta
do consciente. Portanto, cognitivamente a televisão foi construindo uma linguagem que
desobriga, no momento da emissão, a reflexão" (grifo nosso) Depreende-se do texto, então, que a
televisão não atende à mente e tenta introduzir ideias sem passar pela reflexão. Isto é extremamente
perigoso, pois treina as pessoas, como um cachorro. Ao abrir uma torneira deixando passar com muita
força a água, pouco dela ficará retida na palma da mão. Segundo Alain Ehrenberg, citado por Tacussel
(2001, p.84), a televisão é uma: “torneira de imagens” Assim é o cérebro, muita informação fará com
que pouca coisa seja retida. Muitos já perceberam e já é quase um chavão que vivemos numa época
de muita informação e pouco conhecimento.

2.6. TELEVISÃO E CONCUPISCÊNCIA

2.6.1 SENSIBILIDADE E CONCUPISCÊNCIA EM GERAL


A sensibilidade se subdivide em concupiscível e irascível. A paixão pode afetar a potência do
concupiscível gerando a concupiscência da carne e dos olhos. “Porque tudo o que há no mundo é
concupiscência da carne, e concupiscência dos olhos, e soberba da vida”. (1 Jo 2, 16). As duas
concupiscências serão comentadas, em parte, nos tópicos abaixo. E a soberba da vida é o amor
desordenado da nossa própria excelência, de tudo o que possa enfatizá-la, não importa quão difícil ou
duro isso possa vir a ser. É muito comum este vício nas “celebridades” (ver item 3.1.1). A paixão não
afeta o irascível? Sim. Mas, no caso da televisão não será importante, porque as paixões da faculdade
do irascível têm como objeto o bem ou o mal tomados como árduos. E a televisão “amolece”, leva à
preguiça e não instiga à ação.
2.6.2 CONCUPISCÊNCIA DA CARNE
A concupiscência da carne é o amor desordenado dos prazeres dos sentidos.[23] A vista é por ele
infeccionada, visto ser pelos olhos que começa a sorver o veneno do amor sensual.[24] A “vista excita
os desejos dos insensatos” (Sb 15, 5) “Não lances os olhos daqui e dali pelas ruas da cidade, não
vagueies pelos caminhos” (Eclo 9, 7). Ora, o que faz ao assistir a televisão é oposto do que é dito,
deixa-se os olhos vaguear. A audição é por ele infectada, quando por meio de conversas perigosas e
cantos eivados de moleza acendem as chamas no amor impuro.[25] A televisão aguça esta
concupiscência, pois com muita frequência municiará os olhos e os ouvidos com imagens e sons
perigosos. Neste sentido, o que Pio XI fala sobre o cinema, serve bem para a televisão: (...) Se nos
entreatos (dos filmes) se acrescentam danças e variedades, as paixões recebem excitações das mais
perigosas, que avultam vertiginosamente.”[26] Pio XII[27], na carta encíclica MIRANDA PRORSUS
(sobre o cinema, televisão e rádio): "Quem poderá dizer quantas ruínas de almas, especialmente
juvenis, provocam tais imagens, que pensamentos impuros e que sentimentos podem despertar, e
quanto contribuem para a corrupção do povo, com grave prejuízo até da prosperidade da nação?"
"Não useis, porém, a liberdade para dar ocasião à carne." (Gl 6,13)

2.6.3 TELEVISÃO E PORNOGRAFIA


A televisão é infestada de pornografia em todas as suas formas[28], formando um quadro trágico para
a moral, a decência e a modéstia. O Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais (1989) [29]
definiu a pornografia (item 9): (...) Entende-se por pornografia, neste contexto, a violação, por meio do
uso de técnicas audio-visuais, do direito à privacidade do corpo humano em sua natureza masculina e
feminina, violação que reduz a pessoa humana e o corpo humano a um objeto anônimo destinado a
uma má utilização com a intenção de obter gratificação concupiscente.E no item 11 adverte: É
evidente que um dos efeitos da pornografia é o pecado. A participação voluntária na produção e na
difusão destes produtos nocivos deve ser considerada como um sério mal moral. Além disso, esta
produção e difusão não poderiam ter lugar, se não existisse uma demanda. Assim pois, os que fazem
uso destes produtos não só se prejudicam a si mesmos, mas também contribuem para a promoção de
um comércio nefasto. O que pensar das atrizes de televisão que se mostram indevidamente? E não há
a desculpa de ser uma simulação de um ato. Pois, a mera exposição do corpo já é em si mesma uma
indecência. Diferente da simulação de um assassinato, por exemplo, no qual não houve o crime. Só
por esta razão, a televisão deveria ser apartada dos olhos, como cumprimento do 6º e do 9º
mandamentos.

2.6.4 CONCUSPICÊNCIA DOS OLHOS - CURIOSIDADE


Uma das concupiscências dos olhos é a curiosidade doentia. A curiosidade é desejo imoderado de
ver, ouvir, conhecer o que se passa no mundo.[30]. Este ver está distante da finalidade da visão, que é
a realidade, volta-se apenas para ver e ver em si mesmo, sem objetivo último nenhum. O meio se
torna o fim. Ora, a televisão atende a esta imoderação. Por meio dela, acaba-se sabendo das notícias
mais inúteis, das fofocas mais abjetas e das informações mais irrelevantes possíveis. A televisão tanto
instiga como busca saciar esta vã curiosidade que só prejudica a alma. Sobre esta curiosidade,
Bossuet escreveu: Porquanto, tudo isso não mais é mais que uma intemperança, uma doença, um
desregramento do espírito, um entibiamento do coração, um miserável cativeiro, que não nos deixa
tempo de pensar em nós, enfim uma fonte de erros[31] S. Pedro Alcântara ensina que a curiosidade
impede a devoção: Impede o vício da curiosidade, assim dos sentidos como do entendimento, o que é
querer ouvir e ver e saber muitas coisas e desejar coisas polidas, curiosas e bem lavradas, porque
tudo isto ocupa o tempo, embaraça os sentidos, inquieta a alma e a derrama em muitas partes e assim
impede a devoção.[32] E o papa Francisco: O espírito de curiosidade nos afasta do espírito de
sabedoria, porque ele só está interessado nos detalhes, notícias, pequenas notícias todos os dias. E o
espírito de curiosidade não é um bom espírito: é o espírito de dispersão, de afastamento de Deus, o
espírito de falar muito. E Jesus também vai nos dizer algo interessante: esse espírito de curiosidade,
que é mundano, nos leva à confusão.[33] A televisão leva o homem a evagatio mentis. Isto acontece
quando o homem perde interesse na finalidade das coisas, dos atos e quer apenas vagar em
divertimentos, em futilidades etc. que não o levam a lugar nenhum. E isto é facílimo na televisão, já
que esta não tem propriamente um norte. Sodré (2001) fala em “espraiamento sensorial”, que é
justamente isto, além de o corpo se esparramar no sofá, a mente se esparrama nas imagens da
televisão. Um exemplo mais agressivo desta evagatio, é a busca frenética de programação por meio
das mudanças de canais (“zapping”). Segundo S. Tomás, a evagatio inclui a curiosidade e é uma das
filhas da acídia. É uma verdadeira “dissipação do espírito”, e a acídia é uma tristeza da alma[34]. . A
televisão, leva portanto, à tristeza. Um exemplo desta curiosidade doentia na televisão é o “reality
show”, que parece ser o apogeu da abjeção em matéria de programa televisivo. Nele, os participantes
devem fazer algumas provas ou simplesmente conviver numa mesma casa. Há muitos impropérios no
linguajar, relações indevidas, acusações etc. Quanto mais grotesco o quadro maior a audiência.
Evidentemente, o interesse do telespectador por este tipo de programa é a vã curiosidade, na qual ele
quer saber o que o participante “a” disse para o participante “b”, o que fizeram, o que deixarem de
fazer etc. Ora, tais conhecimentos são absolutamente dispensáveis para a vida. Ver o anexo 4.3:
“Reality shows”.

2.7 - VONTADE
A vontade é, no homem, a faculdade mestra, que governa as demais faculdades.[35]. Porém, ela
depende do que a inteligência compreendeu, pois será impossível querer algo que não se conhece. A
televisão, como vimos, ataca a intelecção, deste modo ataca a vontade indiretamente, já que se
quererá algo já viciado provocado por um mau entendimento. Outra razão para o enfraquecimento da
vontade é a concupiscência. Já dizia S. Agostinho : "A concupiscência tomou seus membros, excitou
e deleitou sua vontade no mal”. Além disto, Tanquerey enumera alguns obstáculos[36], de ordem
interior e de ordem exterior, que impedem o homem de tornar a vontade dócil para servir a Deus.
Dentre os primeiros, destacamos dois: Irreflexão. Não pensar antes de uma ação, seguir o impulso do
momento, a paixão, a rotina. Ora, a televisão como já foi explicado é uma atividade per si irreflexiva,
que instiga a paixão, logo será meio ótimo para obstar a vontade de fazer o bem. Negligência. A
preguiça, a falta de energia que atrofia as forças da vontade. Isso é justamente o que a televisão causa
nas pessoas, a preguiça, a má vontade. Além do que já foi dito, a televisão produz passividade
massiva (Mander 1978, p.349) e suga a vontade das pessoas (Mander 1978, p.158). Dois obstáculos
de ordem exterior: Respeito Humano[37]. Torna-nos escravos dos outros, temerosos de críticas e
zombarias. Em muitos casos, a televisão obriga as pessoas ao seu próprio juízo. Quem não assiste à
televisão é visto como alguém “extraterrestre” e quem não se harmoniza com as opiniões e as análises
da televisão está “por fora”. Maus exemplos. Como o homem tem necessidade de modelos sociais, os
maus exemplos arrastam as pessoas para o erro. A televisão é mestra nos maus exemplos, quer em
função de sua própria natureza que é anti-intelectual e cultora de falsas ideologias quer pelos
“modelos” que promove, (ver tópico 3.1.1 , o seguinte). Segundo S. Tomás, o objeto da vontade é bem
universal[38], a televisão leva a vontade a desejar coisas fúteis, quando não imorais. Ou ainda a
adesão um “mal universal”, dado o alcance da televisão que generaliza as coisas erradas.

[1] Disponível em <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0140673604166750> Acesso em


28 set. 2013.
[2] Disponível em <http://www.biomedcentral.com/bmcpublichealth> Acesso em 28 set. 2013.
[3] Disponível em <http://pediatrics.aappublications.org/content/116/4/851.full> Acesso em 28 set.
2013.
[4]Disponível em <http://enfrentandooautismo.blogspot.com.br/2012/04/relacao-autismo-x-ver-muita-tv-
na.html> Acesso em 28 set. 2013.
[5] Disponível em <http://moon.ouhsc.edu/dthompso/cdm/ebhc2007/articles/childhood%20tv
%20viewing.pdf.> Acesso em 28 set. 2013
[6]Disponível em:< http://www.columbia.edu/cu/news/07/05/teenTV.html> Acesso em 28 set. 2013
[7] Anderson, Huston, Schmitt, Linebarger, & Wright, 2001; Christakis, Zimmerman, DiGiuseppe, &
McCarty, 2004; Foster & Watkins, 2010; Greenfield, Camaioni, Ercolani, Weiss, Lauber, & Perucchini ,
1984; Linebarger & Piotrowski, 2009; Linebarger & Walker, 2005; Rice, 1984; Rice, Huston, Truglio, &
Wright, 1990; Rice & Woodsmall, 1988; Subrahmanyam & Greenfield, 1994; Wright et al., 2001;
Zimmermann & Christakis, 2005; Zimmermann & Christakis, 2007
[8] Visão, audição, olfato, tato e paladar.
[9] I, Q78, a4. Um bom estudo baseado no Aquinate: O processo do conhecimento humano em Tomás
de Aquino, Marcos Roberto Nunes Costa.
[10] I, q86, a.2. res. 3
[11] Caminho Reto, p. 279, tópico: mortificação da imaginação.
[12]Tanquerey Compendio de Teologia Ascética e Mística. Item 780
[13] Ibidem, item 780.
[14] Livro do Trivium, p. 31
[15] Vigilante Cura, tópico 14.
[16] Tanquerey, Item 785.
[17] Didascalicon, Hugo de São Vitor, L1, C1
[18] Interessante observar que a palavra inglesa “lecture” significa “palestra”, mas a sua raiz tem
origem na palavra “ler”.
[19] Conforme Aristóteles, repetido por S. Tomás.
[20] I, Q. 79, a.10, sol.3.
[21] http://www.montfort.org.br/old/index.php?secao=veritas&subsecao=politica&artigo=tv&lang=bra
[22] I, Q.79,a.8,rep.
[23] Tanquerey, item 193
[24] Ibidem item 195
[25] Ibidem item 195
[26] Vigilante Cura tópico 19
[27] Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-
xii_enc_08091957_miranda-prorsus_po.html
[28] Segundo a revista Veja (26/07/1995), no Brasil: “A cada 131 minutos, um termo chulo; a cada 113
minutos, uma cena de nudez; a cada 145 minutos, uma cena que simula o ato sexual. Durante uma
semana a criança poderá assistir 95 cenas de nudez, 8 palavras chulas, 90 diálogos maliciosos e 74
atos sexuais”. E a mesma revista em outra reportagem: uma criança de 5 anos que fique na frente do
aparelho duas horas por dia, ao fim de uma no terá sido exposta aa 1.168 piadas sobre sexo, 7.446
cenas de nudez e mais 12.600 estampidos de tiros” (04/07/1990). O artigo citado é de 1995. Calcule-
se o quanto terá crescido a frequência de exposição da pornografia na televisão nos últimos anos!
[29] PORNOGRAFIA E VIOLÊNCIA NAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS UMA RESPOSTA PASTORAl
http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/
rc_pc_pccs_doc_07051989_pornography_po.html
[30] Tanquerey, Item 199
[31] Ibidem. Item 199
[32] P. 119, Tratado da Oração e da Meditação. Petrópolis: Vozes, 2008
[33] Discurso de 14 de novembro de 2013. Disponível em:
http://pt.radiovaticana.va/news/2013/11/14/o_esp%C3%ADrito_de_curiosidade_afasta-
nos_da_sabedoria_e_da_paz_de_deus_%E2%80%93/por-746533 Acesso em 18 nov. 2013.
[34] II-II, q.35, a.4
[35] Tamquerey item 811.
[36] Ibidem, item 812.
[37] Este termo aqui é empregado em sentido estrito, como usado nos manuais de teologia e não em
um sentido “moderno”.
[38] l, lI, q. 2, a. 8:
Para citar este texto:

"Um fast food envenenado para a alma - Parte 2: A televisão e o homem -


corpo e alma"
MONTFORT Associação Cultural
http://www.montfort.org.br/bra/veritas/cronicas/um-fast-food-envenenado-para-a-
alma-parte-2-a-televisao-e-o-homem-corpo-e-alma/
Online, 26/01/2019 às 18:30:40h

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