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As Marcas do Novo Nascimento

John Wesley

"O vento assopra onde quer; e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem; nem para onde vai; assim é todo
aquele que é nascido do Espírito". (João 3:8)

1. Assim é todo aquele que é "nascido do Espírito", - isto é, nascido novamente, --


nascido de Deus? O que significa nascer novamente, ou nascer do Espírito? O que implica
em se ser filho, ou uma criança de Deus, ou se ter o Espírito de adoção? Nós sabemos, que
esses privilégios, pela misericórdia livre de Deus, são comumente anexos ao batismo (e
que, por esta razão, é denominado por nosso Senhor, no verso precedente, aquele que é
"nascido da água e do Espírito"); mas nós saberíamos quais são esses privilégios: O que é,
afinal, o novo nascimento?

2. Talvez, não seja necessário dar uma definição disso, já que as Escrituras dão
nenhuma. Mas, como a questão é da mais profunda relevância para o filho do homem;
desde que, "se o homem não nascer novamente", nascer do Espírito, "ele não poderá ver o
reino de Deus"; eu proponho declarar as marcas de uma maneira mais clara, exatamente,
como eu as encontro nas Escrituras.

I.
1. A Primeira delas, e o alicerce de todas as restantes é a Fé. Assim diz Paulo:
"Porque todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus" (Gal. 3:26). E, assim diz
João: "Para eles, deu ele poder" (exousian, right or privilege, deveria ser traduzido melhor)
"para se tornarem filhos de Deus, mesmo para eles que crêem em seu nome; os quais
foram nascidos", quando eles acreditaram, "não do sangue, nem da vontade da carne", nem
por uma geração natural, "nem da vontade do homem", como aquelas crianças adotadas
pelos homens, em quem, nenhuma mudança interior, por meio disso, é forjada, "mas de
Deus", (João 1:12-13). E, novamente, em sua Epístola Geral, (I João 5:1) "Todo aquele
que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama ao que o gerou
também ama ao que dele é nascido".

2. Mas, não é, tão somente, uma fé visionária ou especulativa, que aqui é falada
pelos Apóstolos. Não é apenas a aquiescência dessa proposição, Jesus é o Cristo; nem, de
fato, todas as proposições contidas em nosso credo, ou no Velho ou Novo Testamento. Não
é meramente uma aquiescência de alguma, ou de todas essas coisas críveis, como críveis.
Dizer isso era dizer, (o qual, quem poderia ouvir?) que o diabo nasceu de Deus; que ele tem
essa fé. Ele, tremente, acredita, que Jesus é o Cristo, e que toda as Escrituras, tendo sido
dadas, por inspiração de Deus, são verdadeiras, como Deus é verdadeiro. Não é apenas uma
aquiescência da verdade divina, em cima do testemunho de Deus, ou em cima das
evidências de milagres; porque ele também ouviu as palavras de sua boca, e soube que Ele
era o testemunho fiel e verdadeiro. Ele não pôde receber o testemunho que Ele deu, por Ele
próprio, ou do Pai que o enviou. Ele viu igualmente as poderosas obras que Cristo fez, e,
por isso, acreditou que ele "veio de Deus". Ainda assim, não obstante, essa fé, ele ainda
está "preso aos grilhões da escuridão, até o julgamento do grande dia".

3. Porque tudo isso não é mais do que uma fé morta. A fé cristã verdadeira e viva, a
qual, quem tem, é nascido de Deus, não é apenas uma aquiescência, um ato de
entendimento; mas uma capacidade, que Deus tem forjado em nossos corações; "é a
certeza em Deus de que seus pecados estão perdoados, através dos méritos de Cristo, e você
está reconciliado para o favor de Deus". Isso implica que um homem, primeiro, tem que
renunciar a si mesmo; para que seja "edificado em Cristo"; e, para que seja aceito, por meio
dele, ele rejeita completamente toda a "convicção da carne"; e, "tendo nada a pagar", não
tendo confiado em suas próprias obras, ou retidão de alguma espécie, ele vem até Deus,
como um pecador perdido, miserável; assolando a si mesmo, condenando a si mesmo,
incompleto, impotente; como alguém cuja boca foi terminantemente calada, e que está
completamente "culpado diante de Deus". De tal senso de pecado (comumente chamado
desespero, por aqueles que falam mal das coisas que eles não conhecem), da convicção
plena, como nenhuma palavra pode expressar, de que apenas de Cristo vem a salvação, e do
sincero desejo dessa salvação, deve proceder a fé viva, a confiança Nele, que, através de
sua morte, pagou nosso resgate, e cumpriu a lei, em sua própria vida. Essa fé, por meio da
qual somos nascidos de Deus, não é "apenas a crença em todos os artigos da nossa fé, mas
também a confiança verdadeira da misericórdia de Deus, por meio de nosso Senhor, Jesus
Cristo".

4. O fruto imediato e constante dessa fé, pela qual somos nascidos de Deus, e do
qual não podemos, de modo algum, ser separados; não, nem por uma hora, é o poder sobre
o pecado; -- poder sobre o pecado exterior, de toda a espécie; sobre as palavras e obras
más; porque, onde quer que o sangue de Cristo seja assim aplicado, ele "purga a
consciência das obras mortas"; -- e sobre o pecado interior; porque ele purifica o coração de
todo desejo e temperamento iníquo. Esse fruto da fé, Paulo descreve amplamente, em seu
sexto capítulo, de sua Epístola aos Romanos: "Como podemos nós", diz ele, "dizer que
aquele, que, pela fé, está morto para o pecado, viva ainda algum tempo nele?". "Que, nosso
velho homem estando crucificado com Cristo, o corpo do pecado estaria destruído, e que,
dali em diante, não deveríamos servir mais ao pecado". – "Do mesmo modo, considerem-se
mortos para o pecado, mas vivos para Deus, através de Jesus Cristo, nosso Senhor. Não
permitam, daí, em diante, que o pecado reine", mesmo "em seus corpos mortais". "Porque o
pecado não tem mais domínio sobre vocês". Deus estará agradecido, que vocês, que eram
servos no pecado, agora, sendo livres dele, tornem-se servos da retidão.

5. O mesmo privilégio inestimável dos filhos de Deus, é afirmado por João;


particularmente, com respeito ao ramo anterior, isto é, o poder sobre o pecado externo.
Depois de ter clamado, como alguém atônico, diante das profundezas da bondade de Deus:
"Observe, que tipo de amor Deus tem outorgado sobre nós, para que possamos ser
chamados de Filhos de Deus! Observe que, agora, somos os filhos de Deus: Mas ainda não
aparece o que nós devemos ser; no entanto, nós sabemos que, quando ele aparecer, nós
devemos ser como ele; porque assim como é, o veremos" (I João 3:1). Mas alguns homens
irão dizer: "Verdade: Quem quer que seja nascido de Deus não comete pecado
habitualmente". Habitualmente! De onde vem isso? Eu não li a respeito. Isso não está
escrito no Livro. Deus diz claramente: "Ele não comete pecado"; e tu acrescentas,
habitualmente! Quem tu pensas que és, para retificares as palavras de Deus? Para que
"acrescentes às palavras desse livro?" Toma cuidado, eu imploro a ti, para que Deus não
"acrescente" a ti todos os flagelos que estão escritos nele! Especialmente, quando o
comentário que tu acrescentas é tal, que desdiz completamente o texto: De maneira que, por
meio desse método ardiloso de engodo, as promessas preciosas estão terminantemente
perdidas; por meio desse ardil e subterfúgio de homens, a palavra de Deus é feita sem efeito
algum. Toma cuidado, tu que, assim, tiras das palavras deste livro; que, removendo o
significado e espírito inteiro delas, leves somente o que pode ser, realmente, denominado
letra morta, para que Deus não remova tua parte do livro da vida!

6. Mas vamos deixar que o Apóstolo interprete suas próprias palavras, pelo teor
total de seu discurso. No quinto verso, deste capítulo, ele diz: "E bem sabeis que ele",
Cristo, "se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado". Qual é a
inferência que ele esboça disso? (I João 3:6) "Qualquer que permanece nele não peca;
qualquer que peca não o viu e nem o conhece". Para seu reforço nessa doutrina importante,
ele estabelece como premissa uma precaução altamente necessária: "Filhinhos, ninguém
vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo" (verso7); porque muitos
se esforçarão para persuadir você, de que pode ser injusto que você possa cometer pecado,
e, ainda assim, ser filho de Deus! "Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo.
Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca, desde o princípio". Então, segue,
"Quem quer que nasça de Deus, não comete pecado; porque a sua semente permanece
nele; e não pode pecar; porque é nascido de Deus. Nisso", acrescenta o Apóstolo, "são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo". Por essa marca clara (cometendo ou não
cometendo pecado), é que eles são distinguidos uns dos outros. Para o mesmo efeito são as
palavras em: (I João 5:18) "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca;
mas o que de Deus é gerado, conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca".

7. Um outro fruto dessa fé viva é a paz. Porque, "sendo justificados, pela fé"; tendo
todos nossos pecados apagados, "nós temos paz com Deus, através de nosso Senhor, Jesus
Cristo". (Romanos 5:1). Isso, realmente, o próprio nosso Senhor, uma noite antes de sua
morte, solenemente, legou em herança, para todos seus seguidores: (João 14:27) "Deixo-
vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize". E Novamente: (João 16:33) "Tenho vos dito isso, para que em
mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo!".
Essa é aquela "paz de Deus que excede a todo entendimento"; aquela serenidade da alma, a
qual não é concebida no coração do homem natural, e não é possível, até mesmo, o homem
espiritual proferir. E é a paz, que nem mesmo todos os poderes da terra e do inferno são
capazes de tirar dele. Ondas e tempestades agitam-se sobre ela, mas não a estremecem;
porque ela está fincada na rocha. Ela permanece, nos corações e mentes dos filhos de Deus,
todo o tempo, e em todos os lugares. Mesmo que eles estejam na comodidade ou na dor; na
doença ou na saúde; na abundância ou na privação, eles estão felizes em Deus. Em todas as
ocasiões, eles aprenderam a estar satisfeitos; sim, dando graças a Deus, através de Cristo
Jesus; estando seguro de que "o que quer que aconteça, é o melhor", porque é concernente à
vontade Dele. De modo que, em todas as vicissitudes da vida seus corações "resistem,
acreditando no Senhor".
II.
1. A Segunda marca espiritual daqueles que são nascidos de Deus, é a esperança.
Assim diz Pedro, falando a todos os filhos de Deus que estavam, então, espalhados: (I
Pedro 1:3) "Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua
grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos". A esperança vívida ou viva, diz o Apóstolo; porque há
também a esperança morta: a esperança que não é de Deus, mas do inimigo de Deus e
homem; como, evidentemente, aparece por seus frutos; porque, assim como é o fruto do
orgulho, também é o pai de toda palavra e obra má; visto que todo homem que nele tem
essa paz viva, é "santo como Ele que o chamou é santo": Todo homem que
verdadeiramente disser para seu irmão em Cristo: "Amado, agora nós somos filhos de
Deus, e podemos vê-lo como ele é", "purificou-se, assim como Ele é puro".

2. Essa esperança implica, Primeiro, no testemunho de nosso próprio espírito ou


consciência, de que nós caminhamos "em simplicidade e sinceridade divina", Segundo, no
testemunho do Espírito de Deus, "testemunhando com", ou para "nosso espírito, que nós
somos os filhos de Deus", "e, se filhos, então seus herdeiros; herdeiros de Deus, e co-
herdeiros com Cristo".

3. Vamos observar bem o que nos é aqui ensinado por Deus, no tocante a esse
privilégio glorioso de seus filhos: De quem se trata a testemunha, de que se fala aqui? Não
é do nosso espírito, mas de um outro: do Espírito de Deus: É Ele quem "testemunha, com
nosso espírito". E o que ele testemunha? "Que nós somos filhos de Deus", "e, se filhos,
então, herdeiros; herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Cristo", conforme (Romanos
8:16-17). "Assim sendo, se nós sofremos com ele; se nós negamos a nós mesmos; se nós
tomamos nossa cruz diariamente; se nós suportamos, alegremente, perseguição ou
reprovação, por causa do seu nome, é para que possamos ser glorificados juntos". Mas, em
quem, o Espírito de Deus dá testemunho? Em todos os filhos de Deus. Por esse mesmo
argumento, o Apóstolo prova, nos versos precedentes: "tantos", diz ele, "quantos são
conduzidos pelo Espírito de Deus, estes são os filhos de Deus". "Porque você não recebeu
o espírito da escravidão, novamente, para temer; mas você recebeu o Espírito de Adoção,
por meio do qual clamamos, Aba, Pai!". E segue em: (Romanos 8:14-16) "O mesmo
Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus".

4. A variação da frase, no décimo-quinto verso, merece nossa observação: "Porque


não recebeste o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes
o espírito de adoção de filhos, pelo qual chamamos, aba, Pai". Sim, como os muitos que
são filhos de Deus, têm recebido, na condição de filhos adotados, o mesmo Espírito de
Adoção, por meio do qual, nós clamamos, Aba, Pai: Nós, os Apóstolos, Profetas,
Professores (para que a palavra não seja impropriamente entendida), nós, através de quem
você tem acreditado, os "ministros de Cristo, e administradores dos mistérios de Deus".
Como nós e você temos um só Senhor, assim, um só Espírito: Como nós temos uma fé
única, então, uma esperança única, também. Nós e você somos selados com o "Espírito
único da promessa", a garantia de sua e da nossa herança: O mesmo Espírito sendo
testemunha, com seu e nosso espírito, "que nós somos os filhos de Deus".
5. E, assim, as Escrituras são cumpridas, "Abençoados são aqueles que murmuram,
porque eles serão confortados". Porque é fácil acreditar que, embora aflições precedam esse
testemunho de Deus com nosso espírito; (de fato, devem, em algum grau, enquanto nós
gememos, debaixo do medo e do senso da ira de Deus, permanecendo em nós); ainda
assim, tão logo, algum homem o sente, em si mesmo, "sua aflição transforma-se em
alegria". O que quer que sua dor tenha sido; ainda assim, tão logo, aquela "hora chega, ele
se lembra de não se angustiar mais, porque se alegra" de ser nascido de Deus. Pode ser que
muitos de vocês tenham agora tristeza, porque vocês estão "alienados da comunidade de
Israel"; porque vocês estão cônscios de que vocês não têm esse Espírito; de que vocês estão
"sem esperança, e sem Deus no mundo". Mas, quando o Confortador vier, "então, seus
corações se regozijarão"; sim, "a alegria de vocês será completa", e "essa alegria nenhum
homem poderá tirar de vocês". (João 16:22) "Assim também vós, agora, na verdade, tendes
tristeza; mais outra vez vos verei, e o vosso coração e alegrará, e a vossa alegria, ninguém
vo-la tirará". "Nós nos alegramos em Deus", podemos, sim, dizer, "através de nosso
Senhor Jesus Cristo, por meio de quem nós temos agora recebido a reparação"; "por meio
de quem temos, agora, acesso a essa graça", esse estado de graça, do favor ou reconciliação
com Deus, "por meio da qual nós permanecemos, e nos regozijamos na esperança da glória
de Deus". (Romanos 5:2) "Pelo qual também temos entrada pela fé, temos paz com Deus,
por nosso Senhor Jesus Cristo; pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na
qual estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus". "Sim", diz Pedro,
aqueles que Deus tem "criado novamente, na esperança viva, são mantidos pelo poder de
Deus na salvação: Por meio da qual vocês se regozijam, grandemente, embora agora para o
momento, possa ser que vocês estejam em aflição, através das tentações múltiplas; que a
experimentação da fé de vocês possa ser encontrada na oração, e honra, e glória, no
aparecimento de Jesus Cristo: em quem, embora vocês não vejam, ainda assim, regozijam-
se com inexprimível alegria e glória completa". (Pedro 1:5-8) "Que, mediante a fé, estais
guardados na virtude de Deus, para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo,
em que vós, grandemente, vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que
estejas por um pouco constritados com várias tentações, para que a prova da vossa fé,
muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e
honra, e glória na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual,
não o vendo agora, mas crendo, vos alegrará com gozo inefável e glorioso".
Inexprimível, realmente! Não é para a língua do homem descrever essa alegria no Espírito
Santo. Ela está "escondida no maná, que nenhum homem conhece; salvo aquele que o
recebeu". Mas isso nós sabemos, não apenas permanece, mas transborda, nas profundezas
da aflição. "Será que quando todo o conforto terreno falhar, as consolações de Deus serão
pequenas?". De modo algum! Quando os sofrimentos abundarem, as consolações de seu
Espírito serão ainda mais abundantes; de tal maneira que os filhos de Deus "rirão diante da
destruição, quando ela vier". Diante da necessidade, do inferno, e da ameaça; sabendo que
Ele que "tem a chave da morte e inferno", e que irá, brevemente, "lançá-los no abismo
insondável"; ouvindo, mesmo agora, sua voz, vinda dos céus, dizendo, em (Apocalipse
21:3,4) "E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os
homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e
será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte,
nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas".
III.
1. A Terceira marca bíblica daqueles que são nascidos de Deus, e a maior de todas
é o amor; como em (Romanos 5:5) "E a esperança não traz confusão, porquanto o amor
de Deus está derramado no coração deles, pelo Espírito Santo que lhes foi dado". E, em
(Gal. 4:6) "Porque eles são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho, em seus corações,
clamando, Aba, Pai". Por esse Espírito, olhando, continuamente, para Deus, como o Pai
reconciliador e amável, eles clamam a ele pelo seu pão diário, e todas as coisas necessárias;
seja para suas almas ou corpos. Eles, continuamente, despejam o coração deles, diante de
Deus, sabendo (I João 5:15) "que ele os ouve em tudo o que pedem; sabendo que alcançam
as petições que lhe fazem". O prazer deles está em Deus. Ele é a alegria em seus corações;
"escudo" e "grande galardão" deles. O desejo de suas almas é em direção a ele; "carne e
bebida para fazer sua vontade"; e (Salmos 63:5) eles estão "satisfeitos como com tutano e
gordura, enquanto as suas bocas louvam com alegres lábios".

2. E, nesse sentido, também, (I João 5:1) "todo aquele que crê que Jesus é o Cristo
é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é
nascido". Seu espírito regozija-se em Deus, seu Salvador. Ele "ama o Senhor Jesus Cristo
com sinceridade". Ele está, então, "junto com o Senhor", como sendo um só espírito. Sua
alma prende-se à dele, e O escolhe, como, completamente, adorável, o principal entre dez
mil. Ele sabe e sente o que isso significa: (Cantares 2:16) "O meu amado é meu, e eu sou
dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios". E (Salmos 45:2) "Tu és mais formoso do
que os filho dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso, Deus te abençoou
para sempre".

3. O fruto necessário desse amor de Deus é o amor ao próximo; de todas as almas


que Deus tenha feito; sem excluir nossos inimigos; sem excluir aqueles que estão, agora,
"despeitosamente usando e nos perseguindo"; um amor, por meio do qual, nós amamos
todos os homens, como a nós mesmos; como amamos nossas próprias almas. Não somente
isto, mas também, nosso Senhor expressou isso, ainda mais fortemente, nos ensinando a
"amar o outro, como Ele nos amou". Assim sendo, o mandamento escrito nos corações de
todos aqueles que amam a Deus, é nenhum outro do que esse: "Como eu tenho amado você,
então, ame a seu próximo". Agora em (I João 3:16) "observamos o amor de Deus, em qual
ele deu a sua vida por nós, e que nós devemos", então, como o Apóstolo, justamente, infere
"dar a nossa vida pelos irmãos". Se nós nos sentimos prontos para fazer isso, então, nós,
verdadeiramente, amamos o próximo. Então, (I João 3:14) "nós sabemos o que passamos
da morte para a vida, porque amamos", assim, "os irmãos". E, (I João 4:13) "Nisso,
conhecemos" que nós somos nascidos de Deus, que "habitamos nele, e ele em nós, porque
ele nos deu de seu" amável "Espírito". Porque (I João 4:7) "o amor é de Deus; e todo
aquele que", assim, "ama, é nascido de Deus, e conhece a Deus".

4. Mas alguns podem possivelmente perguntar: Mas o Apóstolo não diz que "Esse é
o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos?" (I João 5:3). Sim. E, esse é o
amor ao nosso próximo também, no mesmo sentido como é o amor de Deus. Mas o que
você pode deduzir disso? Que manter os mandamentos externos é tudo o que está implícito,
em amar a Deus, com todo seu coração, com toda sua mente, e alma, e forças, e em amar
seu próximo como a si mesmo? Que o amor de Deus não é uma afeição da alma, mas,
meramente uma tarefa exterior? E que o amor ao nosso próximo não é uma disposição do
coração, mas, meramente, o curso das obras exteriores? Para mencionar uma interpretação,
tão grosseira, das palavras do Apóstolo, é confutá-lo suficientemente. O significado claro e
incontestável do texto é que esse é o sinal ou a prova do amor de Deus, de que devemos
manter o primeiro e grande mandamento, para podermos manter todo o restante deles.
Porque o amor verdadeiro, uma vez, esparramado, em nossos corações, irá nos constranger
a procedermos dessa forma; já que, quem quer que ame a Deus, com todo seu coração, não
pode deixar de servi-lo com todas as suas forças.

5. O Segundo fruto, então, do amor de Deus (tanto quanto ele pode ser distinguido
disso), é a obediência universal a ele que amamos, e em conformidade com sua vontade;
obediência a todos os mandos de Deus, interno e externo; obediência do coração e da vida;
em todo temperamento, e em toda forma de conversação. E um dos temperamentos, que
mais, obviamente, implica nisso é ser "zeloso das boas obras"; fazer o bem ao faminto e
sedento de todas as maneira possíveis, a todos os homens; o regozijar-se em "dar e se dar a
eles", por todo filho do homem; não buscando recompensa no mundo, mas apenas na
ressurreição do justo.

IV.

1. Dessa forma, eu coloquei claramente aquelas marcas do novo nascimento, como


eu as encontrei nas Escrituras. Assim, o próprio Deus responde aquela questão importante:
O que significa ser nascido de Deus? Tal que, se o apelo for feito aos profetas de Deus, é
respondido: "todo aquele que é nascido do Espírito". Isto é, no julgamento do Espírito de
Deus, para que seja filho ou criança de Deus: É, então, acreditar em Deus, através de
Cristo, já que "não comete pecado", e se alegra todo o tempo, e em todas os lugares, com
aquela "paz de Deus, o qual excede todo entendimento". É, então, esperar em Deus, através
do Filho de seu amor, já que tem, não apenas, o "testemunho da consciência boa", mas
também, do Espírito de Deus, "sendo testemunha com seu próprio espírito de que você é
filho de Deus"; por esse motivo, não pode deixar de brotar a alegria Nele, através de quem
você "recebeu a redenção". É, então, amar a Deus, que tem, assim, amado você, como você
nunca amou alguma outra criatura. De modo que você é constrangido a amar todos os
homens como a si mesmo; com um amor que não apenas queima em seu coração, mas arde
em todas as suas ações e conversas, fazendo com que toda a sua vida seja uma "tarefa de
amor", na obediência contínua desses mandamentos: "seja misericordioso, como Deus é
misericordioso"; "seja santo, como eu, o Senhor, sou santo"; "seja perfeito, como seu Pai,
que está nos céus, é perfeito".

2. Quem, então, são vocês que são, assim, nascidos de Deus? Vocês "conhecem as
coisas que são dadas a vocês de Deus". Vocês conhecem bem que são os filhos de Deus, e
"podem assegurar seus corações diante dele". E cada um de vocês, que tem observado essas
palavras, não pode deixar de sentir, e conhecer da verdade, se, nesse momento (responda a
Deus, e não ao homem!), você é assim um filho de Deus, ou não. A questão não é, o que
você foi feito no batismo; (sem usar sofisma); mas, o que você é agora? O Espírito de
adoção está em seu coração? Ao seu próprio coração esse apelo deve ser feito. Eu não
pergunto, se você era nascido da água e do Espírito; mas se você é agora o templo do
Espírito Santo que habita você? Eu reconheço que você esteja "circuncidado com a
circuncisão de Cristo"; (como Paulo enfaticamente denomina o batismo); mas o Espírito de
Cristo da glória agora descansam sobre você? Ou "sua circuncisão transformou-se em
incircuncisão?".

3. Não diga, então, em seu coração: "Eu estive, uma vez, batizado, entretanto, eu sou
agora um filho de Deus". Ai de mim, esta conseqüência, de modo algum, será mantida.
Quantos são os que são batizados, glutões, e beberrões; os que são batizados, mentirosos e
praguejadores; os que são batizados, caluniadores e maledicentes; os batizados, devassos,
ladrões, e extorsores? O que vocês pensam? Esses são agora filhos de Deus?
Verdadeiramente, eu digo a vocês, quem quer que vocês sejam, aos quais algumas dessas
características precedentes pertencem: "Vocês são como o pai de vocês, o diabo, e as obras
que seu pai, vocês fazem". A vocês, eu clamo, em nome Dele, a quem vocês têm
novamente crucificado, e em suas palavras, para seus predecessores circuncidados: "Vocês
raça de víboras, como pretendem escapar da condenação do inferno?".

4. Como de fato, exceto se vocês forem nascidos de novo! Já que vocês estão agora
mortos nas transgressões e pecados, vocês não podem nascer de novo; não existe um novo
nascimento, mas, no batismo, vocês são selados, debaixo da condenação, para consigná-los
ao inferno, sem ajuda, sem esperança. Talvez, alguns possam pensar que isso seja justo e
certo. No zelo deles para com o Senhor dos hospedeiros, vocês podem dizer: "Sim,
destruam os pecadores, os Amalecitas! Deixe esses Gibeonitas serem completamente
destruídos! Eles não merecem menos!". Não; nem eu, nem você. Meu e seu deserto, assim
como o deles, é o inferno; e isso é meramente misericórdia, liberdade; desmerecida
misericórdia é que nós não estejamos agora no fogo inextinguível. Vocês podem dizer:
"Mas nós somos lavados"; nós fomos nascidos novamente "da água e do Espírito". Dessa
mesma forma, eram eles: Isso, entretanto, não quer dizer nada, afinal, mas que vocês
podem ser agora mesmo como eles. Vocês não sabem que "quem é o mais altamente
estimado dos homens é abominação para Deus?" Venham adiante, "santos do mundo",
vocês que são homens honrados, e vejam quem irá atirar a primeira pedra neles, nesses
miseráveis não adequados para viver sobre a terra; nessas prostitutas, adúlteros, e
assassinos comuns. Mas, aprendam, primeiro, o que isto significa em: (I João 3:15)
"Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem
permanente nele a vida eterna". Em (Mateus 5:28) "Eu, porém, vos digo que qualquer que
atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela". Em
(Tiago 4:4) "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade
contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de
Deus".

5. "Verdadeiramente, verdadeiramente, eu digo a vocês, que vocês", também,


"devem nascer novamente". "A menos que vocês", também, "nasçam novamente, não verão
o reino de Deus". Não confie mais no apoio de pessoas que não se deve confiar, que vocês
foram nascidos novamente no batismo. Quem pode negar que vocês foram feitos filhos de
Deus e, então, herdeiros do reino dos céus? Mas, não obstante isso, vocês são agora filhos
do diabo. Conseqüentemente, vocês devem nascer de novo. E não permitam que Satanás
coloque, em seus corações, contestar a palavra, quando ela é clara. Vocês ouviram quais
são as marcas dos filhos de Deus: Todos vocês que não a têm em suas almas, batizados ou
não, precisam recebê-las, ou, sem dúvida, irão perecer eternamente. E, se vocês foram
batizados, vocês apenas devem esperar isso: que aqueles que foram feitos filhos de Deus
pelo batismo, mas que agora são filhos do diabo, possam novamente receber o "poder de se
tornar filhos de Deus"; que eles possam receber novamente o que eles perderam, o mesmo
"Espírito de adoção, clamando em seus corações, Aba, Pai!" Amém, Senhor Jesus! Possa
cada um que preparou seu coração novamente buscar a tua face, e receber novamente
aquele "Espírito de adoção", e clamar alto: "Aba, Pai!". Permita que ele agora novamente
tenha o poder, então, de acreditar em teu nome, para que se torne filho de Deus; para saber
e sentir que ele tem "a redenção em teu sangue; e, até mesmo o perdão dos pecados"; e que
ele "não pode cometer pecado, porque ele é nascido de Deus". Permita que ele agora seja
"recriado na esperança viva", de modo a "purificar a si mesmo como tu és puro!", e "porque
ele é filho", deixe o Espírito do amor e da glória descansar sobre ele, limpando-o "de toda
impureza da carne e espírito", e ensinando-o a "aperfeiçoar a santidade, no temor de
Deus!".

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