Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
18 - As Marcas Do Novo Nascimento
18 - As Marcas Do Novo Nascimento
John Wesley
"O vento assopra onde quer; e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem; nem para onde vai; assim é todo
aquele que é nascido do Espírito". (João 3:8)
2. Talvez, não seja necessário dar uma definição disso, já que as Escrituras dão
nenhuma. Mas, como a questão é da mais profunda relevância para o filho do homem;
desde que, "se o homem não nascer novamente", nascer do Espírito, "ele não poderá ver o
reino de Deus"; eu proponho declarar as marcas de uma maneira mais clara, exatamente,
como eu as encontro nas Escrituras.
I.
1. A Primeira delas, e o alicerce de todas as restantes é a Fé. Assim diz Paulo:
"Porque todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus" (Gal. 3:26). E, assim diz
João: "Para eles, deu ele poder" (exousian, right or privilege, deveria ser traduzido melhor)
"para se tornarem filhos de Deus, mesmo para eles que crêem em seu nome; os quais
foram nascidos", quando eles acreditaram, "não do sangue, nem da vontade da carne", nem
por uma geração natural, "nem da vontade do homem", como aquelas crianças adotadas
pelos homens, em quem, nenhuma mudança interior, por meio disso, é forjada, "mas de
Deus", (João 1:12-13). E, novamente, em sua Epístola Geral, (I João 5:1) "Todo aquele
que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus, e todo aquele que ama ao que o gerou
também ama ao que dele é nascido".
2. Mas, não é, tão somente, uma fé visionária ou especulativa, que aqui é falada
pelos Apóstolos. Não é apenas a aquiescência dessa proposição, Jesus é o Cristo; nem, de
fato, todas as proposições contidas em nosso credo, ou no Velho ou Novo Testamento. Não
é meramente uma aquiescência de alguma, ou de todas essas coisas críveis, como críveis.
Dizer isso era dizer, (o qual, quem poderia ouvir?) que o diabo nasceu de Deus; que ele tem
essa fé. Ele, tremente, acredita, que Jesus é o Cristo, e que toda as Escrituras, tendo sido
dadas, por inspiração de Deus, são verdadeiras, como Deus é verdadeiro. Não é apenas uma
aquiescência da verdade divina, em cima do testemunho de Deus, ou em cima das
evidências de milagres; porque ele também ouviu as palavras de sua boca, e soube que Ele
era o testemunho fiel e verdadeiro. Ele não pôde receber o testemunho que Ele deu, por Ele
próprio, ou do Pai que o enviou. Ele viu igualmente as poderosas obras que Cristo fez, e,
por isso, acreditou que ele "veio de Deus". Ainda assim, não obstante, essa fé, ele ainda
está "preso aos grilhões da escuridão, até o julgamento do grande dia".
3. Porque tudo isso não é mais do que uma fé morta. A fé cristã verdadeira e viva, a
qual, quem tem, é nascido de Deus, não é apenas uma aquiescência, um ato de
entendimento; mas uma capacidade, que Deus tem forjado em nossos corações; "é a
certeza em Deus de que seus pecados estão perdoados, através dos méritos de Cristo, e você
está reconciliado para o favor de Deus". Isso implica que um homem, primeiro, tem que
renunciar a si mesmo; para que seja "edificado em Cristo"; e, para que seja aceito, por meio
dele, ele rejeita completamente toda a "convicção da carne"; e, "tendo nada a pagar", não
tendo confiado em suas próprias obras, ou retidão de alguma espécie, ele vem até Deus,
como um pecador perdido, miserável; assolando a si mesmo, condenando a si mesmo,
incompleto, impotente; como alguém cuja boca foi terminantemente calada, e que está
completamente "culpado diante de Deus". De tal senso de pecado (comumente chamado
desespero, por aqueles que falam mal das coisas que eles não conhecem), da convicção
plena, como nenhuma palavra pode expressar, de que apenas de Cristo vem a salvação, e do
sincero desejo dessa salvação, deve proceder a fé viva, a confiança Nele, que, através de
sua morte, pagou nosso resgate, e cumpriu a lei, em sua própria vida. Essa fé, por meio da
qual somos nascidos de Deus, não é "apenas a crença em todos os artigos da nossa fé, mas
também a confiança verdadeira da misericórdia de Deus, por meio de nosso Senhor, Jesus
Cristo".
4. O fruto imediato e constante dessa fé, pela qual somos nascidos de Deus, e do
qual não podemos, de modo algum, ser separados; não, nem por uma hora, é o poder sobre
o pecado; -- poder sobre o pecado exterior, de toda a espécie; sobre as palavras e obras
más; porque, onde quer que o sangue de Cristo seja assim aplicado, ele "purga a
consciência das obras mortas"; -- e sobre o pecado interior; porque ele purifica o coração de
todo desejo e temperamento iníquo. Esse fruto da fé, Paulo descreve amplamente, em seu
sexto capítulo, de sua Epístola aos Romanos: "Como podemos nós", diz ele, "dizer que
aquele, que, pela fé, está morto para o pecado, viva ainda algum tempo nele?". "Que, nosso
velho homem estando crucificado com Cristo, o corpo do pecado estaria destruído, e que,
dali em diante, não deveríamos servir mais ao pecado". – "Do mesmo modo, considerem-se
mortos para o pecado, mas vivos para Deus, através de Jesus Cristo, nosso Senhor. Não
permitam, daí, em diante, que o pecado reine", mesmo "em seus corpos mortais". "Porque o
pecado não tem mais domínio sobre vocês". Deus estará agradecido, que vocês, que eram
servos no pecado, agora, sendo livres dele, tornem-se servos da retidão.
6. Mas vamos deixar que o Apóstolo interprete suas próprias palavras, pelo teor
total de seu discurso. No quinto verso, deste capítulo, ele diz: "E bem sabeis que ele",
Cristo, "se manifestou para tirar os nossos pecados; e nele não há pecado". Qual é a
inferência que ele esboça disso? (I João 3:6) "Qualquer que permanece nele não peca;
qualquer que peca não o viu e nem o conhece". Para seu reforço nessa doutrina importante,
ele estabelece como premissa uma precaução altamente necessária: "Filhinhos, ninguém
vos engane. Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo" (verso7); porque muitos
se esforçarão para persuadir você, de que pode ser injusto que você possa cometer pecado,
e, ainda assim, ser filho de Deus! "Quem pratica justiça é justo, assim como ele é justo.
Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca, desde o princípio". Então, segue,
"Quem quer que nasça de Deus, não comete pecado; porque a sua semente permanece
nele; e não pode pecar; porque é nascido de Deus. Nisso", acrescenta o Apóstolo, "são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo". Por essa marca clara (cometendo ou não
cometendo pecado), é que eles são distinguidos uns dos outros. Para o mesmo efeito são as
palavras em: (I João 5:18) "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca;
mas o que de Deus é gerado, conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca".
7. Um outro fruto dessa fé viva é a paz. Porque, "sendo justificados, pela fé"; tendo
todos nossos pecados apagados, "nós temos paz com Deus, através de nosso Senhor, Jesus
Cristo". (Romanos 5:1). Isso, realmente, o próprio nosso Senhor, uma noite antes de sua
morte, solenemente, legou em herança, para todos seus seguidores: (João 14:27) "Deixo-
vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize". E Novamente: (João 16:33) "Tenho vos dito isso, para que em
mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo!".
Essa é aquela "paz de Deus que excede a todo entendimento"; aquela serenidade da alma, a
qual não é concebida no coração do homem natural, e não é possível, até mesmo, o homem
espiritual proferir. E é a paz, que nem mesmo todos os poderes da terra e do inferno são
capazes de tirar dele. Ondas e tempestades agitam-se sobre ela, mas não a estremecem;
porque ela está fincada na rocha. Ela permanece, nos corações e mentes dos filhos de Deus,
todo o tempo, e em todos os lugares. Mesmo que eles estejam na comodidade ou na dor; na
doença ou na saúde; na abundância ou na privação, eles estão felizes em Deus. Em todas as
ocasiões, eles aprenderam a estar satisfeitos; sim, dando graças a Deus, através de Cristo
Jesus; estando seguro de que "o que quer que aconteça, é o melhor", porque é concernente à
vontade Dele. De modo que, em todas as vicissitudes da vida seus corações "resistem,
acreditando no Senhor".
II.
1. A Segunda marca espiritual daqueles que são nascidos de Deus, é a esperança.
Assim diz Pedro, falando a todos os filhos de Deus que estavam, então, espalhados: (I
Pedro 1:3) "Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua
grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de
Jesus Cristo dentre os mortos". A esperança vívida ou viva, diz o Apóstolo; porque há
também a esperança morta: a esperança que não é de Deus, mas do inimigo de Deus e
homem; como, evidentemente, aparece por seus frutos; porque, assim como é o fruto do
orgulho, também é o pai de toda palavra e obra má; visto que todo homem que nele tem
essa paz viva, é "santo como Ele que o chamou é santo": Todo homem que
verdadeiramente disser para seu irmão em Cristo: "Amado, agora nós somos filhos de
Deus, e podemos vê-lo como ele é", "purificou-se, assim como Ele é puro".
3. Vamos observar bem o que nos é aqui ensinado por Deus, no tocante a esse
privilégio glorioso de seus filhos: De quem se trata a testemunha, de que se fala aqui? Não
é do nosso espírito, mas de um outro: do Espírito de Deus: É Ele quem "testemunha, com
nosso espírito". E o que ele testemunha? "Que nós somos filhos de Deus", "e, se filhos,
então, herdeiros; herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Cristo", conforme (Romanos
8:16-17). "Assim sendo, se nós sofremos com ele; se nós negamos a nós mesmos; se nós
tomamos nossa cruz diariamente; se nós suportamos, alegremente, perseguição ou
reprovação, por causa do seu nome, é para que possamos ser glorificados juntos". Mas, em
quem, o Espírito de Deus dá testemunho? Em todos os filhos de Deus. Por esse mesmo
argumento, o Apóstolo prova, nos versos precedentes: "tantos", diz ele, "quantos são
conduzidos pelo Espírito de Deus, estes são os filhos de Deus". "Porque você não recebeu
o espírito da escravidão, novamente, para temer; mas você recebeu o Espírito de Adoção,
por meio do qual clamamos, Aba, Pai!". E segue em: (Romanos 8:14-16) "O mesmo
Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus".
2. E, nesse sentido, também, (I João 5:1) "todo aquele que crê que Jesus é o Cristo
é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é
nascido". Seu espírito regozija-se em Deus, seu Salvador. Ele "ama o Senhor Jesus Cristo
com sinceridade". Ele está, então, "junto com o Senhor", como sendo um só espírito. Sua
alma prende-se à dele, e O escolhe, como, completamente, adorável, o principal entre dez
mil. Ele sabe e sente o que isso significa: (Cantares 2:16) "O meu amado é meu, e eu sou
dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios". E (Salmos 45:2) "Tu és mais formoso do
que os filho dos homens; a graça se derramou em teus lábios; por isso, Deus te abençoou
para sempre".
4. Mas alguns podem possivelmente perguntar: Mas o Apóstolo não diz que "Esse é
o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos?" (I João 5:3). Sim. E, esse é o
amor ao nosso próximo também, no mesmo sentido como é o amor de Deus. Mas o que
você pode deduzir disso? Que manter os mandamentos externos é tudo o que está implícito,
em amar a Deus, com todo seu coração, com toda sua mente, e alma, e forças, e em amar
seu próximo como a si mesmo? Que o amor de Deus não é uma afeição da alma, mas,
meramente uma tarefa exterior? E que o amor ao nosso próximo não é uma disposição do
coração, mas, meramente, o curso das obras exteriores? Para mencionar uma interpretação,
tão grosseira, das palavras do Apóstolo, é confutá-lo suficientemente. O significado claro e
incontestável do texto é que esse é o sinal ou a prova do amor de Deus, de que devemos
manter o primeiro e grande mandamento, para podermos manter todo o restante deles.
Porque o amor verdadeiro, uma vez, esparramado, em nossos corações, irá nos constranger
a procedermos dessa forma; já que, quem quer que ame a Deus, com todo seu coração, não
pode deixar de servi-lo com todas as suas forças.
5. O Segundo fruto, então, do amor de Deus (tanto quanto ele pode ser distinguido
disso), é a obediência universal a ele que amamos, e em conformidade com sua vontade;
obediência a todos os mandos de Deus, interno e externo; obediência do coração e da vida;
em todo temperamento, e em toda forma de conversação. E um dos temperamentos, que
mais, obviamente, implica nisso é ser "zeloso das boas obras"; fazer o bem ao faminto e
sedento de todas as maneira possíveis, a todos os homens; o regozijar-se em "dar e se dar a
eles", por todo filho do homem; não buscando recompensa no mundo, mas apenas na
ressurreição do justo.
IV.
2. Quem, então, são vocês que são, assim, nascidos de Deus? Vocês "conhecem as
coisas que são dadas a vocês de Deus". Vocês conhecem bem que são os filhos de Deus, e
"podem assegurar seus corações diante dele". E cada um de vocês, que tem observado essas
palavras, não pode deixar de sentir, e conhecer da verdade, se, nesse momento (responda a
Deus, e não ao homem!), você é assim um filho de Deus, ou não. A questão não é, o que
você foi feito no batismo; (sem usar sofisma); mas, o que você é agora? O Espírito de
adoção está em seu coração? Ao seu próprio coração esse apelo deve ser feito. Eu não
pergunto, se você era nascido da água e do Espírito; mas se você é agora o templo do
Espírito Santo que habita você? Eu reconheço que você esteja "circuncidado com a
circuncisão de Cristo"; (como Paulo enfaticamente denomina o batismo); mas o Espírito de
Cristo da glória agora descansam sobre você? Ou "sua circuncisão transformou-se em
incircuncisão?".
3. Não diga, então, em seu coração: "Eu estive, uma vez, batizado, entretanto, eu sou
agora um filho de Deus". Ai de mim, esta conseqüência, de modo algum, será mantida.
Quantos são os que são batizados, glutões, e beberrões; os que são batizados, mentirosos e
praguejadores; os que são batizados, caluniadores e maledicentes; os batizados, devassos,
ladrões, e extorsores? O que vocês pensam? Esses são agora filhos de Deus?
Verdadeiramente, eu digo a vocês, quem quer que vocês sejam, aos quais algumas dessas
características precedentes pertencem: "Vocês são como o pai de vocês, o diabo, e as obras
que seu pai, vocês fazem". A vocês, eu clamo, em nome Dele, a quem vocês têm
novamente crucificado, e em suas palavras, para seus predecessores circuncidados: "Vocês
raça de víboras, como pretendem escapar da condenação do inferno?".
4. Como de fato, exceto se vocês forem nascidos de novo! Já que vocês estão agora
mortos nas transgressões e pecados, vocês não podem nascer de novo; não existe um novo
nascimento, mas, no batismo, vocês são selados, debaixo da condenação, para consigná-los
ao inferno, sem ajuda, sem esperança. Talvez, alguns possam pensar que isso seja justo e
certo. No zelo deles para com o Senhor dos hospedeiros, vocês podem dizer: "Sim,
destruam os pecadores, os Amalecitas! Deixe esses Gibeonitas serem completamente
destruídos! Eles não merecem menos!". Não; nem eu, nem você. Meu e seu deserto, assim
como o deles, é o inferno; e isso é meramente misericórdia, liberdade; desmerecida
misericórdia é que nós não estejamos agora no fogo inextinguível. Vocês podem dizer:
"Mas nós somos lavados"; nós fomos nascidos novamente "da água e do Espírito". Dessa
mesma forma, eram eles: Isso, entretanto, não quer dizer nada, afinal, mas que vocês
podem ser agora mesmo como eles. Vocês não sabem que "quem é o mais altamente
estimado dos homens é abominação para Deus?" Venham adiante, "santos do mundo",
vocês que são homens honrados, e vejam quem irá atirar a primeira pedra neles, nesses
miseráveis não adequados para viver sobre a terra; nessas prostitutas, adúlteros, e
assassinos comuns. Mas, aprendam, primeiro, o que isto significa em: (I João 3:15)
"Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem
permanente nele a vida eterna". Em (Mateus 5:28) "Eu, porém, vos digo que qualquer que
atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela". Em
(Tiago 4:4) "Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade
contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de
Deus".
O texto pode ser usado livremente para propósitos pessoais ou escolares, ou colocados
em Web sites. Qualquer uso para propósito comercial é estritamente proibido, sem permissão
expressa do Wesley Center, em Northwest Nazarene University, Nampa, ID 83686. Contato:
webadmin@wesley.nnc.edu