Você está na página 1de 7
ANA CAROLINA BIANCHI ROCHA CUEVAS MARQUES GIOVANNA MARIA MAGALHAES SOUTO MAIR RENATA DO NASCIMENTO RODRIGUES ORGANIZADORAS EDITORA LTDA. © Todos os direitos Rua Jaguaribe, 57) CEP 0124-003 Sao Paulo, SP ~ Brasil Fone (11) 2167-1101 swwveltrcom.br Setembro, 2017 Produgdo Grifica¢ Editorasio Eletrénice: LINOTEC Projeto de Capa: FABIO GIGLIO Impressio: ORGRAFIC GRAFICA E EDITORA LTDA. ~ EPP ‘Versio impressa: LTr 5788.7 — ISBN: 978-85-361-9270-3, Versio digital: LTr 9199.6 — ISBN: 978-85-361-9342-7 Dados Internacionais de Catalogacao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SE, Brasil) “Retalhos ‘historicos do direitodd trabalho'/.Ana Carolina Bianchi Cuevas Marques, Giovanna Maria Magalhaes Souto Maior, Renata do Nascimento Rodrigues, organizadoras. — Sao Paitlo : LTr, 2017. Loria q AGES Varios autores. Bibliografia Tian € ak 1. Direito do trabalho - Histéria 2, Relagdes trabalhistas 3. Trabalho - Historia X. Marques, Ana Carolina Bianchi Rocha Cuevas. I, Maior, Giovanna Maria Magalhtes Souto. Ul. Rodrigues, Renata do Nascimento, 17-04315 CDU-34:331(091) Indice para catdlogo sistematico: 1, Direito do trabalho : Historia 34:331(091) 2. Trabalho : Direito : Historia 34:331(091) ORDEM E Progress E RETROCESso TR 0?! CoNsOLIDACAO INDUSTRIAL ‘ABALHISTA NO REGIME MIILITAR No Brasil, assim como nos demais paises de ca- pitalismo tardio, coexistiam frageis democracias e ex. periéncias de desenvolvimento que avancavam nos pa- droes capitalistas de industrializacao e consumo, mas mio na distribuigdo de renda e frutos do trabalho. Ocorre que no inicio dos anos 60, durante uma ctise ciclica da economia, gerando inflacdo e reducao do ritmo de crescimento econdmico, havia o aumento da organizacao e participacao social, especialmente os trabalhadores e suas organizacdes, reivindicando refor- mas estruturais de base e mais espaco nas esferas de poder democratico, Jango, até hoje uma figura controversa a se enten- der, foi formado no desenvolvimentismo de Vargas € do PTB. E, se ndo negava a tradicao conciliatoria entre classes e blocos de poder e a pratica de cooptacao, nao ra um legitimo representante da burguesia. Ao contra- Tio, tinha fortes vinculos com as questdes democratica, social e trabalhista, e com os trabalhadores, ainda que com contradicées. Mas, certamente, tentava caminhar Para avancos democraticos ¢ sociais, com participagao, direitos (vide Estatuto do trabalhador rural) ¢ politi cas publicas, inclusive inovando na cultura ena acio cstatal ao tentar fiscalizar e fazer cumprit as normas ‘rabalhistas, por exemplo, que careciam de eficécls POP conta da no inspecdo do trabalho, mas tambel™ Pat seus instrumentos conciliatérios instituidos, sobrit™ do em uma sociedade desigual e de baixa intensi democratica. Ora, sem total controle Ceriam, as classes dominantes a a Rolpe de Estado sem precedentes até entao no pal sobre que arranjos prevale- m Jam aos militares mu ip Nao Sie Especialista em Direito © Advogadas Populares. pela Universi abalho do Trabel ‘conomia| ‘specialista em Es Bruno de Oliveira Prégnolatto* que fosse o primeiro golpe de Estado da nagao, mas pela primeira vez os militares assumiam o poder e nao simplesmente intervinham para garantir a ordem civil (Fernandes, 2014), num golpe dentro do golpe. Sob um discurso de anticomunismo, de segutan- a nacional, e de necessidade de desenvolvimento e modernizacdo do pais, o governo militar ¢ a burguesia nacional se associaram ao capital estrangeiro, mais pre- cisamente a0 governo norte americano e as empresas multinacionais, em busca de seguranca, investimentos € tecnologias. ‘A preocupacio com a participacao social e suas reivindicagées era tanta que do pronto 0 governo mi- litar ressuscita 0 uso da Lei Monstro, isto é, a Lei da Seguranca Nacional de 1935 para cassar, reprimir, per- seguir e neutralizar, sendo eliminar, os oposicionistas ao regime ditatorial; embora a nao ruptura com toda a estrutura da legislagao sindical corporativa e vinculada a intervencao do Estado ja era suficiente para um gra de estrago. Nao bastasse, proibiram as greves e impedi ram a negociagao coletiva, G.) um dos limites do sindicalismo brasileiro da época, que se lancou com vigor numa pauta politica de reformas comandadas por um seg- mento da classe dominante brasileira compro- metido coma proposta de conciliagao de classes €, por isso mesmo, incapaz de tomar a frente de um processo de resistencia popular efetiva a violagao da constitucionalidade e & ditadura. ‘A facilidade com que a ditadura wtilizou-se dos recursos da legislacao sindical para reprimir os lade de Sto Paulo, Advogado. Integrante da RENAP — Rede Nacional de Advogados do Trabalho e Sindicalismo pelo CESIT-UNICAMP 188 Retalhos Histéricos do Direito do Trabalho movimentos esclarece um outro limite: 0 im- Posto por uma estrutura oficial que se procu- rou adequar aos interesses dos trabalhadores, mas contra a qual lutou-se pouco, Porém, nada disso deve impedir a avaliagdo da importancia € representatividade das lutas travadas pelos trabalhadores no inicio dos anos de 1960. Uma importancia percebida pelos que articularam 0 golpe e instalaram a ditadura justamente para encerré-las. (Matos, 2009, p. 100). Para Marcelo Badaré Matos, os instrumentos para Tepressio e perseguigao aos sindicalistas oposicionistas 20 golpe ja estavam na CLT, na medida que permitia a intervengao do Ministério do Trabalho nas entidades sindicais. Ele relata a intervencao quase imediata em 433 entidades (383 sindicatos, 45 federagdes e 4 confe- deracdes), a cassagao de direitos politicos e instauragao de inquéritos policiais militares em face dos principais dirigentes, restando aos que escapavam a clandestini- dade ou exilio. A repressio aos sindicatos mostrava bem 0 cardter da ditadura que se instalava, A articu- lacao de militares com empresatios ligados a0 ‘grande capital nacional e estrangeito, apoiada pelos latifundiarios € politicos conservadores, 1 deu-se em torno da contengao dos avangos dos movimentos organizados de trabalhadores no campo e na cidade. Por outro lado, a crise econdmica, que s6 fazia crescer desde o fim do governo JK, seria combatida pela ditadura com uma receita cujo principal remédio era o arro- cho salarial. Para tanto, controlar os sindicatos era fundamental. (Matos, 2009, p. 101). Em 1965 0 governo militar edita a Lei n. 4.725 = lei do arrocho, congelando os salarios. E quando se descongela, se faz com reajustes sempre abaixo da infla- ‘20, beneficiando os empresérios com a reducdo didria do custo da mao de obra, Entre as chamadas ‘leis do arrocho' estavam: a proibicdo do direito de greve; o controle dos in- dices de reajuste salarial (unificados em torno de um tinico percentual anual relative a média da inflacao divulgada para os dois anos ante- riores; o fim da estabilidade aos dez anos de servico (trocada pelo FGTS) e o desmonte do sistema previdencirio baseado nos Institutos de Aposentadoria e Pensio (IAPs), substituidos pelo INPS, (Matos, 2009, p. 106) © fim da estabilidade no emprego em trocg FGTS em 1966, alids, € questdo crucial para se en der a fragilidade e inseguranca do mercado de tral brasileiro que ainda se consolidava. Assim, hé uma formacao na relacao de emprego que se estende aos i atuais, sendo este o primeiro direito trabalhista, fi na CLI, a ser retirado dos trabalhadores, ampliando ¢ rotatividade da mao de obra. Matos chama o primeiro periodo dessa ditad entre 1964 a 1967, de “a fase dos interventores qual ha o amordacamento dos sindicatos e a persegui- ‘0 dos principais dirigentes, esvaziando e desorgani. zando a base social do sindicalismo combativo, sendy fomentado por sindicatos assistencialistas, patrimonia. listas e dependentes do imposto sindical, conformadas pelos interventores. Mas nao a ponto de eliminar a me- méria das lntas anteriores € nem todos os sindicalisas combativos. Contudo, para neutralizarem e disciplinarem os trabalhadores para a modernizagao industrial em cur so, mas sem Ihes deixar almejar poder, ainda fizeram questao de retomar a organizacao sindical anterior, es- pecialmente o art. 530 original da CLT, restringindo ¢ imterferindo na representagao e organizacao sindical. Aqui cabe um paréntese para observar que em seu segundo governo Vargas altera a legislacio sindical, permitindo liberdade e pluralidade, em contraposicdo a seu primeiro mandato e a Dutra, que havia revogado pelo Decreto-lei n. 8,987 ~ A a alteragao de José Linka- tes feita pelo Decreto n. 8.740/1946, para promover & liberdade sindical. Pois bem, o governo militar resgala © controle e a legislacao anterior. Aproveitando a pausa, cumpre registrar que 0 1 gime militar foi o periodo de maior intervencio na le- Sislacdo trabalhista, nao valendo aqui enumerar todas as leis e decretos, etc, mas compreender o sentido desst Politica. Nao obstante, vale citar que além do fim da estabilidade no emprego, outras leis flexibilizadorss da relacdo de emprego foram posteriormente editadss. Em 1974 ¢ promulgada a lei do trabalho temporirio € em 1977 a lei do estagio, ambas jé na esteita de lexi bilizacdo do direito trabalhista, Enfim, de um lado vinha a ordem e disciplina pelas Proibicoes ¢ repressées, enquanto de outro pela inseBU- Fanca econdmica, Como novidade se agrega agora uma Preocupacao normativae institucional com a segurancd fsauide no trabalho, inclusive criando a FUNDACEN- TRO nessa época, com vistas a garantir a normalidade da atividade produtiva para a economia, isto é, paTa maquinas nao pararem por falta de trabalhador pat ©Peri-la ou por estarem danificadas. Obviamente € P+

Você também pode gostar