Em recente estudo publicado pela organização internacional e-Parliament, o
Brasil aparece ao lado de Estados Unidos, Canadá e Argentina, no topo da escala das nações mais democráticas em termos eleitorais. Os quatro níveis da escala agregam os países a partir de critérios como vigência de princípios democráticos, liberdade de candidaturas, liberdade de expressão, condições de apuração, condições de registros eleitorais. Considero uma vitória brasileira na caminhada rumo à democracia plena. Contudo, além de nos parabenizarmos pelo comportamento eleitoral, e aos órgãos eleitorais pela competência que é exemplo para o mundo; é preciso atentar para outros aspectos da vida democrática. Ainda consideramos as eleições como o ponto final do processo político, elegendo muitos políticos despreparados. E, pior, não implementamos mecanismos sistemáticos e eficazes para a fiscalização, julgamento e cassação de mandatos legislativos e executivos. Não controlamos verbas, salários e gastos do Legislativo. Não exigimos prestação pública de contas. Também não se faz uso de referendos e plebiscitos para solucionar questões vitais de interesse público, que dariam maior legitimação às leis e qualificação ao eleitorado. Os orçamentos do Executivo, nos três níveis, são um emaranhado de terminologias codificadas onde as cifras se transfiguram confundindo os não iniciados no varejo do jogo político. Nota-se, além da desconfiança histórica dos governantes à participação popular, a permanência de uma atávica recusa à transparência nas práticas políticas. Enfim, embora tenhamos formalmente desenvolvido um moderno, gigantesco e eficiente sistema eleitoral, ainda somos reféns de graves carências educacionais que se refletem na qualidade da nossa participação política. Permanecemos a reboque das iniciativas da imprensa, do Judiciário ou do Parlamento, para a fiscalização e renovação dos costumes políticos em nosso país; muito pouco fazendo pelo desenvolvimento de instituições da sociedade civil capazes de colocar o Estado e a classe política sob controle da sociedade organizada.
Capítulo 9 - A Democracia Liberal em Face Das Ideologias Dissolventes - A Maçonaria Cearense Frente À Aliança Nacional Libertadora e Ao Integralismo em 1935. Marcos José Diniz Silva