Diz-se popularmente que “religião não se discute”. Mas, podemos perguntar:
quem fala assim e a que religião pertence? Pois parece haver certa conivência em admitir que a maioria sempre tem razão. E, em se tratando da religião praticada pela maioria dos brasileiros recomenda-se, para não se incorrer em sacrilégio, não questionar nada que de bom façam a ela. Nesse sentido, merecem reflexão certas práticas políticas de fundo eleitoreiro-turístico que têm atentado contra os sentimentos e os direitos de muitos cearenses, no tocante à igualdade religiosa. Recentemente tivemos a construção da imagem de São Francisco, em Canindé, com financiamento e propaganda do governo estadual; em Fortaleza, a construção, pela prefeitura, da imagem de Nossa Senhora da Assunção, em praça pública da Barra do Ceará; e, nas comemorações último “13 de maio” a prefeita inaugurou, na Pio IX, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, financiada pelo contribuinte. Meus respeitos aos católicos cearenses por esses eventos de devoção. Porém, deve-se lembrar que não cabe ao poder público financiar culto religioso qualquer, nem reservar pedaços exclusivos das praças públicas para entronização de imagens cultuais de determinada religião. O avanço exclusivista dos santuários, grutas e imagens das santidades do catolicismo nas sedes dos órgãos públicos municipais, estaduais e federais, em nosso estado ilustra, mais que a religiosidade intensa de seu povo, um atentado à igualdade religiosa. Não são poucas as escolas públicas que têm santuários católicos. Não basta o ensino religioso? E por que outras confissões religiosas não ousam instalar seus oratórios e erguer suas imagens nas praças, escolas e repartições públicas? Há algo errado em nossa igualdade religiosa! É livre a prática pública da religiosidade, de qualquer vertente. O que deve ser evitado é o usufruto privilegiado de determinada religião sobre os espaços públicos e sobre as verbas públicas oriundas de todos os cidadãos. A exploração eleitoreira da massa de fiéis representa, não apenas um retrocesso em termos ecumênicos, mas um pecado à democracia.
(*) Professor da UECE e membro do NERPO (Núcleo de Estudos Religião, Cultura e
Capítulo 9 - A Democracia Liberal em Face Das Ideologias Dissolventes - A Maçonaria Cearense Frente À Aliança Nacional Libertadora e Ao Integralismo em 1935. Marcos José Diniz Silva