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Curso de Especialização em Ensino de Geografia

Pós-Graduação Lato Sensu

Geografia Urbana e Geografia Agrária

Prof. Dr. Fernando Pinto Ribeiro

Colaborador: Prof. Dr. Antonio Sergio da Silva

Unidade I – Geografia Urbana


APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR

Prof. Dr. Fernando Pinto Ribeiro

Possui graduação em Geografia pela Universidade Federal de Santa


Catarina, Mestrado em Desenvolvimento Regional e Urbano pela mesma instituição
e Doutorado em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade de São Paulo,
com realização de estágio sanduíche no Instituto de Urbanismo de Grenoble, na
França. Atua especificamente na linha de políticas públicas, organização territorial,
urbanização latinoamericana, estadunidense e europeia, teorias urbanística e
ambiental. Atuou como estagiário do Instituto de Planejamento Urbano de
Florianópolis (IPUF) e desempenhou atividades junto ao Laboratório Cidade e
Sociedade do departamento de Geociência da UFSC. Suas pesquisas em
Planejamento Urbano e Regional buscaram analisar os processos espaciais
concernentes à estruturação interurbana, especificamente a partir da atuação do
mercado imobiliário de alta renda e da expansão de aglomerados informais de baixa
renda. Em outro espectro, analisou teorias do urbanismo e do planejamento urbano
e sua relação com os padrões de urbanização e de configuração do uso do solo,
enfocando o caso norte-americano. Nesta trajetória, adquiriu especial interesse
pelas abordagens em urbanidade e mobilidade urbana. No período mais recente,
enfoca a cidade contemporânea sob a influência do mercado imobiliário e sua
apropriação do discurso ambiental. Realiza orientação em trabalhos de conclusão de
curso para a UNIP-EaD no curso de Licenciatura em Geografia, leciona no mesmo
curso em várias disciplinas..
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................6

1. O URBANO E AS SUAS FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS.....7

2. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO............................................................8
2.1 Produtores do espaço urbano.............................................................8
2.2 Processos espaciais em torno da urbanização.................................9

2.2.1 Metrópoles.......................................................................................9

2.2.2 Megacidade e Conurbação...........................................................10

2.2.3 Megalópole.....................................................................................11

3. HIERARQUIA URBANA............................................................................14

3.1 Rede urbana, transporte e economia................................................15

3.2 Cidades Globais..................................................................................15

4. ANÁLISE SOBRE O URBANISMO: A CIDADE À LUZ DA


RAZÃO CIENTÍFICA..................................................................................17

4.1 A gênese do urbanismo.....................................................................17

4.2 As principais correntes do planejamento urbano...........................18


4.2.1 O City Beautiful.............................................................................20

4.2.2 As Cidades-Jardins ou Garden


Cities.........................................21
4.2.3 O Urbanismo Modernista.............................................................21

4.2.4 O Novo Urbanismo Americano (New Urbanism).......................22

5. A CIDADE NEOLIBERAL..........................................................................23

6. O ESPAÇO URBANO BRASILEIRO.........................................................26

6.1 Período 1940-1980...............................................................................26

6.2 Período pós-80: As tendências atuais das cidades.........................27

6.3 Explorando mais a cidade da fragmentação social e o


fenômeno da Segregação Socioespacial..........................................29

7. PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL...........................................32

7.1 Histórico...............................................................................................32

7.2 Planos de Embelezamento.................................................................32


7.3 Planejamento Tecnocrático................................................................33
7.4 O Estatuto das Cidades e o Plano Diretor Participativo..................36

7.5 A falta de Planejamento e suas consequências..............................37


.
REFERÊNCIAS...............................................................................................38

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Metrópole Paulista...........................................................................9

Figura 2: Processo de conurbação entre as cidades de Canoas e


Gravataí, no Rio Grande do
Sul.....................................................11

Figura 3: Megalópole Boswash nos Estados


Unidos..................................12

Figura 4: Megalópole Brasileira em formação entre São Paulo e


Rio de
Janeiro.................................................................................13

Figura 5: Mapa da Hierarquia Urbana no Brasil..........................................15

Figura 6: Ocupação irregular em torno da represa de


Guarapiranga.......28

Figura 7: Distrito financeiro de São Paulo na Marginal


Pinheiros.............29
Figura 8: Segregação Socioespacial no Rio de
Janeiro.............................31
Figura 9: Plano de Pereira Passos para o Rio de
Janeiro..........................33
Figura 10: Plano de Avenidas de São
Paulo................................................34
Figura 11: Plano Agache para o Rio de
Janeiro..........................................34
Figura 12: Linha do tempo do planejamento urbano no Brasil.................35
INTRODUÇÃO

Este livro aborda a dupla dimensão do espaço geográfico: compreender o


fenômeno do espaço urbano e do espaço rural. Trata-se de delinear os significados
intrínsecos à formação do espaço, aqui entendido como natureza em constante
processo de transformação mobilizada nas ações humanas. Uma natureza física
recriada em tecido social, cujas marcas serão determinadas pelo fator histórico,
pelas temporalidades, pela cronologia do desenvolvimento tecnológico e de
ordenamento das sociedades e da economia.

O espaço rural e o espaço urbano são os componentes estruturantes do que


se define, portanto, como espaço geográfico. A materialização destes espaços só
pode ocorrer, no entanto, quando o fator produtivo é exercido na esteira de
transformações da natureza em objetos com significado econômico. É possível
afirmar, seguindo esta argumentação, de que no atual estágio do desenvolvimento
capitalista boa parte do espaço é dotado de função produtiva, sendo, neste sentido,
urbano ou rural. O espaço rural pode ser compreendido pela organização dispersa
dos objetos humanos, por estruturas sociais e por uma divisão do trabalho menos
complexas. Ademais, é um espaço cujos fluxos produtivos e sociais tendem a ser
mais lentos, pois em boa medida são dependentes de fatores naturais. Já o espaço
urbano é posterior ao rural, uma vez que dependerá da fixação do homem na terra e
de gradativos processos de aglomeração humana que pressupõem estruturas
sociais mais complexas voltadas não somente à produção da terra, mas de
mecanismos de controle destes aglomerados (política), fatores de proteção
(exércitos, força militar), fatores de reorganização e do pensamento (ciência), etc. Do
mesmo modo, este engrena um novo tipo de cultura que imprime um novo homem: o
homem urbano, cada vez mais distante e desvinculado dos ritmos da natureza,
porém mais próximo e ciente dos seus funcionamentos.

Evidente que estes elementos devem ser analisados segundo o transcorrer


da história, segundo o desenvolvimento das forças produtivas e do conhecimento. A
história constrói o que se chama de relação cidade-campo ou campo-cidade,
enquanto objeto central de investigação da Geografia desde sua formulação teórico-
epistemológica. Tal relação é, no presente estágio do capitalismo, de
interdependência, em que o campo fornece os subsídios (ou parte deles) para a
manutenção de vida dos habitantes da cidade, porém cuja produção somente pode
ser exercida segundo uma tecnologia e métodos criados na/pela cidade, espaço que
sustenta economicamente a produção rural.

Neste sentido, o objetivo deste livro é trazer uma abordagem analítica sobre o
espaço rural (Geografia Rural) e o espaço urbano (Geografia Urbana), como forma
de estabelecer e delinear as formulações teóricas, os processos espaciais e
históricos e as tendências atuais que se articulam em ambos os espaços.

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1. O URBANO E AS SUAS FORMULAÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS

Nos estudos sobre a cidade torna-se necessário compreender o sentido do


termo urbano como um fundamento elementar para se entender a construção das
cidades e do homem atual. A população global é cada vez mais urbana, e isto se
traduz na construção de uma própria cultura que se faz no interior da cidade e altera,
inclusive, o espaço rural. A barreira invisível que separa um espaço urbano e outro
rural nem sempre é claro, uma vez que a compreensão do URBANO reside sob um
fenômeno abstrato e geral, não palpável, medido sob um conjunto de relações
que se exercem dentro de uma CIDADE, um fenômeno geográfico absolutamente
concreto, palpável, a materialidade de uma natureza em transformação.

Neste ponto, portanto, é importante diferenciar o que é cidade e urbano. A


história deste, por exemplo, diz respeito sobre a evolução das relações econômicas
e sociais que se exercem na cidade, do modo de vida que ali se estabelece, das
lutas, conflitos e das matrizes culturais que se desenrolam entre os citadinos. Como
estes se sociabilizam, exercem a divisão do trabalho, ou se organizam politicamente
elucida uma expressão urbana do espaço vivido que é desempenhado nas cidades.
Estas, ao contrário, são compreendidas a partir da leitura da materialidade espacial,
a história da fixação do homem no espaço e a dispersão da propriedade, do
transporte, da moradia e da área onde se exerce o comércio (mercados). Da mesma
forma, trata-se de verificar o ordenamento das vias de circulação, da formação do
espaço político, do espaço privado e público, da formação de uma centralidade e de
uma periferia, de uma área residencial, comercial, industrial e de lazer.

De um modo geral, o espaço urbano expressa concentração de pessoas,


fenômeno condicionado pela existência de atividades comerciais e de gestão
econômica e política de uma sociedade. Delas se somam as infraestruturas de
transporte e comunicação, responsáveis por acelerar ainda mais o processo
concentrador que leva a consolidação da cidade. Em outra perspectiva conceitual, o
espaço urbano nada mais é do que:

o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos


definem áreas, como: o centro da cidade, local de concentração de
atividades comerciais, de serviço e de gestão; áreas industriais e
áreas residenciais, distintas em termos de forma e conteúdo social;
Áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura
expansão. Este conjunto de usos da terra é a organização espacial
da cidade ou simplesmente o espaço urbano fragmentado. Eis o que
é espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante
social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria
sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente,
materializada nas formas espaciais (CORREA, 1995, p. 5)

7
2. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

O processo de URBANIZAÇÃO pressupõe essencialmente no


crescimento da população que vive e exerce atividades econômicas no interior
de cidades em relação àquelas que vivem no campo. Mas não somente isso, a
urbanização significa na ampliação ou dispersão das formas espaciais e
valores socioculturais criados e pensados na cidade. O maior exemplo é a
tendência ao progresso tecnológico vivenciado pela humanidade a partir de centros
de pesquisa e universidades localizados no espaço urbano, da mesma forma
financiados por um Estado cujos órgãos de governança se situam na cidade. Esta
modernidade que se espalha por inúmeros campos do conhecimento repercute no
espaço rural, tornando-o não mais um meio simbolicamente isolado do espaço
urbano, mas sim um espaço que se molda segundo o que é construído na cidade a
partir das técnicas, tais como máquinas, defensivos, insumos, ou bem o próprio
fortalecimento de valores baseado na troca e no consumo, ambos fundados na
cidade. O campo moderno, regido pela alta produtividade e pelo sistema intensivo
de produção é, decerto, urbano e dependente do que se produz na cidade, mas
somente naquelas regiões em que a modernidade influi, como o mundo capitalista
mais desenvolvido e capitalizado. Por muito tempo o campo foi a base para a
manutenção da vida urbana ao fornecer os meios de subsistência para a
sobrevivência da população urbana, porém, passadas diversas fases de revoluções
nas técnicas, sobretudo as revoluções industriais e o que se denomina “revolução
verde”, o campo passou a depender da cidade como o fornecedor dos subsídios
para uma nova escala de produção visando atender ao crescimento demográfico no
século XX.

Este crescimento urbano é um fator marcante desse século e demarca o


século XX como o período de consolidação do domínio do homem sobre a natureza.
Significou, estritamente, no século da explosão demográfica mundial, cujos efeitos
ambientais impõe novos dilemas à civilização. O processo de urbanização,
principalmente nos países em desenvolvimento, é uma das mais agressivas formas
de relacionamento entre o homem e o meio ambiente. As cidades antigas eram
menores, mais harmônicas e, mesmo quando erguidas em locais ambientalmente
inadequados, agrediam menos o meio ambiente.

2.1 Produtores do espaço urbano

Esta Urbanização é o resultado de relações sociais conduzidas segundo


motivações intrínsecas a determinados GRUPOS SOCIAIS sob um dado contexto
histórico. A produção do espaço urbano significa não somente a materialização de
cidades no espaço, mas na formação de um tecido social sustentado por um
PROCESSO CIVILIZATÓRIO, formado na esteira de uma organização de grupos
humanos com interesses distintos sob um mesmo espaço, mas que passam a se
organizar internamente de modo a estabelecer normas de convívio que fundam a
sociedades ditas civilizadas. Igualmente, trata-se de produzir o espaço da criação de
ideias, da formulação de uma cultura de grupo, de sua moradia e trabalho.

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No Capitalismo, a produção do espaço urbano é tendencialmente conflituosa
pois responde aos interesses de classe e imprime no território as marcas da
competição de mercado. Por exemplo, dois produtores centrais do espaço urbano
são promotores imobiliários e proprietários fundiários, segundo contribuição de
Roberto Lobato Corrêa (1995). Ambos produtores comandam a expansão da área
construída porque detém o poder econômico que controla o acesso ao espaço,
restando àqueles grupos desfavorecidos ocupar os espaços marginais. Assim como
eles temos o Estado, em seus projetos de planejamento e infraestrutura, outro
central produtor do espaço urbano.

Neste sentido, o espaço urbano seria um todo fragmentado em função de


propósitos distintos que cada grupo social imprime na produção da cidade. Além de
fragmentado e articulado, o espaço urbano seria reflexo das relações sociais,
tornando-se, portanto, numa sociedade capitalista, desigual e segregado.

2.2 Processos espaciais em torno da urbanização

2.2.1. Metrópoles

A partir da revolução industrial, o processo de crescimento das cidades se


acelerou por duas razões: a necessidade de mão-de-obra nas indústrias e a redução
do número de trabalhadores no campo. A industrialização promoveu de modo
simultâneo os dois eventos, um de atração pela cidade, outro de expulsão do
campo. Antes da revolução industrial não havia nenhum país onde a população
urbana predominasse. No começo deste século, apenas a Grã-Bretanha possuía a
maior parte de sua população vivendo em cidades. Pode-se afirmar que o Século XX
é o século da urbanização, pois nele se acentuou o predomínio da cidade sobre o
campo. Expandem-se então as METRÓPOLES, como uma categoria de análise
urbana que busca detectar cidades com exacerbado dimensionamento.
Conceitualmente, uma metrópole constitui uma área urbana formada por uma ou
mais cidades ligadas entre si fisicamente ou através de fluxos de pessoas e
serviços, e que assumem importante posição na rede urbana, da qual fazem parte.

Figura 2: Metrópole Paulista

Fonte: Cidadedesaopaulo.com

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Além das dimensões físicas e populacionais, o conceito de metrópole inclui
a influência econômica, jurídica, administrativa, cultural e política dos centros
urbanos. As metrópoles, cidades grandes, com imensa densidade populacional, são
conhecidas desde a antiguidade, mas somente no século XX tomaram as
proporções que conhecemos hoje. Do mesmo modo que muitas atividades
econômicas superam as suas escalas econômicas de produção, as cidades que
crescem desmesuradamente acabam por exceder o denominado "tamanho ideal" e,
a partir daí, passam a impor problemas econômicos de escala a grande parte dos
estabelecimentos industriais ou comerciais ali instalados. Esses problemas
econômicos se fazem refletir nos custos de produção, na saturação dos sistemas de
abastecimento d'água, no elevado tempo de viagem imposto aos trabalhadores, nos
problemas de abastecimento causados por dificuldades no trânsito, nas restrições
para resolver o problema dos rejeitos, e assim por diante. No momento em que a
cidade entra numa curva de perda das vantagens inicialmente oferecidas pelo
processo industrial, o lógico seria iniciar a descentralização das atividades,
buscando outras localidades mais vantajosas. Mas isso ocorre em grau muito
reduzido de desaceleração, com uma cidade que cresce e assiste à degradação de
seu meio ambiente e de sua qualidade de vida. A descentralização só tem ocorrido
muitos e muitos anos depois do completo inchaço demográfico e da considerável
destruição do meio ambiente nos grandes centros urbanos.

2.2.2. Megacidade e Conurbação

O processo de urbanização raramente é induzido por alguma política


governamental de forma ordenada. Ele se processa de modo descontrolado,
forçando as cidades a abrigarem um número de pessoas superior à sua capacidade,
o que dá origem a habitações subnormais, aos "sem-teto", à violência, à poluição e
às periferias desassistidas que existem mesmo nas cidades mais ricas do mundo.
Revela-se então um conceito que busca inscrever este tipo de cidade que cresce
desmesuradamente por razões diversas. Muito autores a denominam de
MEGACIDADE, um aglomerado urbano formado por um conjunto de cidades
conurbadas, cuja população supere 10 milhões ou mais de habitantes.
Megacidades se formam, em geral, da expansão acelerada de núcleos menores até
a consequente junção ou unificação da malha urbana, processo denominado de
CONURBAÇÃO. O novo núcleo urbano unificado, agora maior, se integra dentro
uma região urbana em constante intercâmbio de fluxos (pessoas, mercadorias,
informações) com outros núcleos.

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Figura 2: Processo de conurbação entre as cidades de Canoas e Gravataí, no
Rio Grande do Sul.

Fonte: Imagem Google Maps

Então, toda megacidade é uma metrópole, mas nem toda metrópole é


uma megacidade, porque uma metrópole não necessariamente precisa absorver 10
milhões de habitantes, mas um número muito mais reduzido do que este. Sua
essência se encontra não somente na grandeza, mas no seu grau de influência
política, econômica e cultural dentro de uma rede urbana consolidada, tendo em
vista os inúmeros exemplos de cidades médias que polarizam uma região integrada
entre outros núcleos menores e exerce um papel de influência sobre os mesmos. Já
para o conceito de megacidade o que importa é a dimensão demográfica, um fator
que leva incondicionalmente a elevação de seu grau de importância dentro da região
em que está inserida. Assim, qualquer megacidade é, de fato, uma metrópole. Para
exemplificar, as principais metrópoles brasileiras apontam para São Paulo, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília. Em outros países, os exemplos
mais conhecidos são Tóquio, Nova Iorque, Cidade do México, Paris e Londres.
Dentre todas essas cidades citadas, apenas algumas são megacidades, como São
Paulo, Cidade do México, Tóquio, Nova Iorque e Londres.

2.2.3. Megalópole

O crescimento gerador de metrópoles e megacidades é condicionado em


larga escala por relações baseadas no fenômeno técnico e na informação. Ao longo
do século XX, o desenvolvimento territorial baseado na difusão das técnicas
informacionais e de transportes deu impulso ao crescimento, e, igualmente, à
formação de um eixo de integração urbana entre as diversas metrópoles. Estas

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partilham de um intercâmbio constante de fluxos diversos que envolvem pessoas,
mercadorias e informações, ao ponto de torná-las um espaço unificado de alta
urbanização, não obstante ocorram espaços de produção agropecuária entre elas,
por exemplo. Este espaço constitui uma MEGALÓPOLE, ou o que alguns autores
denominam de cidade-região.

A urbanização sem fronteiras aparentes une no espaço conurbado


metrópoles que outrora eram facilmente delimitáveis, e diversas
regiões se tornam espaços inteiramente urbanizados, dando origem
a uma nova entidade socioespacial que vem sendo denominada de
cidade-região. A partir dos processos socioespaciais
contemporâneos, e de novos sentidos da produção do espaço
urbano, começa a se evidenciar esta nova unidade de análise
socioespacial, em gestação a partir do processo de extensão do
tecido urbano das grandes metrópoles industrializadas
(MAGALHÃES, 2008, p. 9)

Em outras palavras, uma Megalópole é, dessa forma, expressão de uma rede


urbana de grande adensamento demográfico polarizada por grandes metrópoles
conurbadas. As cidades dessa rede apresentam forte integração econômica e as
áreas agrícolas são altamente influenciadas pelo meio urbano, em geral de
produção intensiva com alta mecanização. Tais relações entre cidades formam uma
rede urbana interligada, cuja importância se realiza de acordo com o grau de
especialização das atividades econômicas e pelo grau de influência que exercem
sobre outras. Megalópoles são, portanto, o grau mais elevado de desenvolvimento
urbano e apresentam uma escala regional.

Figura 3: Megalópole Boswash nos Estados Unidos

Fonte: Imagem Google Maps

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Figura 4: Megalópole Brasileira em formação entre São Paulo e Rio de Janeiro

Fonte: Imagem Google Maps

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3. HIERARQUIA URBANA

Entre cidades, metrópoles e megalópoles, há uma divisão territorial do


trabalho que define funções específicas a um determinado núcleo urbano. Forma-se,
neste sentido, uma rede urbana composta por pontos (cidades) e linhas (fluxos) que
formam uma teia de relações organizada segundo diferentes níveis de importância
de uma cidade em relação à outra. Importância dada por sua função na DIVISÃO
TERRITORIAL DO TRABALHO. Assim, cada cidade possui um HIERARQUIA, um
grau maior ou menor de importância, definido por seu grau de influência sobre
outras. Tal importância é definida segundo diferentes aspectos:

a) dinamismo, concentração e diversidade de atividades econômicas;

b) concentração demográfica;

c) oferta de equipamentos públicos;

d) oferta de mão de obra qualificada e de tecnologia;

e) instituições políticas em geral.

No Brasil há uma hierarquia definida oficialmente pelo IBGE, constituída pelas


seguintes categorias:

- Metrópole Global: Articula a economia global através de inúmeras redes de todos


os tipos e que centraliza funções superiores direcionais, produtivas e administrativas
de empresas com atuação planetária. Articula e centraliza também o controle da
mídia e a capacidade simbólica de criar e difundir mensagens.

- Metrópole Nacional: Comanda a vida econômica e social da nação e concentra


todos os tipos de funções. Por isso, ocupa o mais alto nível hierárquico de um país.

- Metrópole Regional: Comanda a vida econômica e social de uma região e


concentra todos os tipos de atividades que atuam neste espaço. Ocupa o mais alto
nível hierárquico de uma região.

- Centro Regional: Cidade de médias dimensões que centraliza as atividades


econômicas de pequeno e médio portes e fluxos de consumidores de bens e
serviços da região que a circunda.

- Centro Sub-regional 1: Cidade de porte pequeno diretamente vinculada aos


fluxos do Centro Regional

- Centro Sub-regional 2: Núcleo urbano cujos eixos de influência se encontram no


Centro Regional e no Centro Sub-Regional 1.

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3.1 Rede urbana, transporte e economia

A Hierarquia Urbana se expressa espacialmente através de uma REDE


URBANA, ou um conjunto de cidades (pontos) que se interligam ou se relacionam
entre si por meio dos mais diversos fluxos (linhas), como o de pessoas, capitais e
informações. Uma Rede urbana pressupõe, portanto, uma HIERARQUIA, em que
cada cidade apresenta um nível de importância e influência através do seu papel
exercido na divisão territorial do trabalho e da produção. Há na Rede Urbana
relações de comando e dependência entre centros urbanos, segundo os elementos
de importância que foram elencados acima, tais como especialização econômica,
dimensão demográfica, oferta de equipamento públicos e infraestrutura de
transporte, mão-de-obra qualificada e produção de tecnologia. Em outras palavras,
não é possível compreender a economia e a rede de transportes sem que a noção
de Rede urbana seja devidamente compreendida, uma vez que a economia é
composta por uma gama de cadeias produtivas que ligam as áreas de produção,
distribuição e consumo.

Figura 5: Mapa da Hierarquia Urbana no Brasil

Fonte: Slideshare.net

3.2 Cidades Globais

Na grande rede global de cidades, [e importante destacar àquelas do topo da


hierarquia, apresentas como metrópoles globais ou, mais recorrentes conhecidas
como CIDADES GLOBAIS. Estas cidades são expressões espaciais de uma nova

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ordem global que se estabelece desde a década de 1990, quando prevalecerá a
integração dos mercados mundiais através das tecnologias de informação. Estas
cidades constituem os pontos de irradiação dos fluxos internacionais que se
direcionam por cada país e integram uma estrutura de comando econômico em
âmbito mundial. Convém mencionar que não necessariamente precisam ter um
número elevado de habitantes, mas, em geral, apresentam esta função porque,

abrigam um número significativo de sedes de grandes empresas


transnacionais, têm bolsas de valores de importância internacional,
têm uma economia majoritariamente de serviços, oferecem centros
de convenções, modernos aeroportos, rede hoteleira de primeira
linha, e por isso tudo recebem significativo fluxo de capital financeiro,
de homens de negócios e de mercadorias (FERREIRA, 2003, p. 2).

A era da globalização é a era das cidades, pois elas ampliam sua importância
e crescem de acordo com as condições gerais de produção no capitalismo global.
Nesta fase, a produção se internacionaliza e ratifica o surgimento de Cidades
Globais como aquelas que exercem o maior grau de influência econômica e são as
sedes das grandes corporações industriais e financeiras. Os três principais
exemplos são Nova Iorque (EUA), Londres (Inglaterra) e Tóquio (Japão).

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4. ANÁLISE SOBRE O URBANISMO: A CIDADE À LUZ DA RAZÃO
CIENTÍFICA

4.1 A gênese do urbanismo

O início do século XIX já anunciava novos tempos numa sociedade


plenamente marcada pelo domínio da máquina. A consolidação do meio técnico e a
dispersão da produção em larga escala apontaram traços essenciais no
desenvolvimento das cidades em que a primeira Revolução Industrial havia eclodido.
Tais traços demarcaram o domínio da privatização da terra, da moradia, dos meios
de produção e do espaço como um todo. Como resultado das profundas mudanças
na economia mundial, o avanço das forças produtivas e a modernização durante o
século XIX, não somente trouxeram o incremento da urbanização e a emergência de
um novo arquétipo de cidade, mas constituíram o fenômeno urbano.

O conhecimento científico e a industrialização da produção criaram e


recriaram novos ambientes e destruíram antigas formas, assim como a descomunal
explosão demográfica intensificou o crescimento das cidades e as lutas em seu
interior. A evolução das tecnologias de comunicação, o fortalecimento dos Estados
Nacionais, a estruturação de movimentos sociais e de classe, e a consolidação do
capitalismo industrial representaram, dentre outros processos, uma fase de
modernização cujo palco principal foi a cidade (BERMAN, 1986).

No que se refere ao plano infraestrutural da cidade, outros problemas


surgiram em resposta ao crescimento acelerado dos espaços urbanos. De acordo
com Blainey (2004), entre 1750 e 1850, a população da Europa deu um salto em
mais de 80% e as cidades cresceram e tornaram-se tão grandes quanto às maiores
da China. Embora podemos considerar este crescimento como resultado de um
avanço das técnicas na área da saúde, o ambiente fabril dos espaços urbanos gerou
áreas predominantemente insalubres, sujas, onde a grande massa de trabalhadores
se amontoava em pequenas casas.

Em pouco tempo a cidade industrial, berço da modernidade, passou a ser alvo


primordial de reflexão e de problematização. A consciência acerca da realidade
urbana da época e o enfrentamento dos graves problemas sociais instigaram a
intelectualidade a debater sobre as características da rápida urbanização. A cidade
passou a ser objeto de disciplina, e o método racional e científico adquiriu papel
primordial na definição de caminhos para a pacificação das camadas sociais mais
pobres. Os conjuntos de saberes e práticas desenvolvidas no final do século XVIII e
início do XIX, em que a cidade era o objeto de atenção e de intervenção,
estabeleceram as bases para a fundação do urbanismo enquanto disciplina de
estudo da cidade. O intuito era de requalificar os espaços e racionalizar as relações
entre os proprietários e o proletariado, consolidando a noção de uma ordem social
vinculada à reforma do meio urbano.

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Portanto, o urbanismo moderno se autonomizou enquanto campo do
conhecimento científico e compôs um amplo projeto intelectual, político e ideológico
para a edificação de uma nova ordem nas cidades. Reuniu saberes e práticas
racionais de intervenção e outras propostas pontuais no século XIX que
delinearemos a seguir. As escolas do Urbanismo analisadas neste ponto compõem
um ideário de forte significação nas cidades Europeias e Norte-Americanas, vindo a
influenciar a vida de milhões de pessoas durante o século XX e que suscitaram o
aparecimento de outras correntes na procura da ressignificação urbana.

4.2 As principais correntes do planejamento urbano

Muitas correntes do urbanismo surgiram no decorrer daquele período.


Embora com formações e enfoques diferentes, a maioria partiu do princípio que a
industrialização havia gerado uma desordem social que deveria ser reparada
(MONTE-MÓR, 2007).

Na verdade, no decorrer do século XIX ainda se desenvolviam os


pensamentos que iriam embasar a prática urbanística, em que Choay (1994)
denomina de fase pré-urbanista. Nesta fase o urbanismo foi se consolidando nas
mãos de economistas, políticos e outros profissionais, ainda de maneira reflexiva,
sem a existência de confirmações de hipóteses, sistemas descritivos e investigações
incidentes sobre a cidade.

Nesta época pré-urbanista começaram a se desenhar duas vertentes de


pensamento bem definidas. Por um lado, a disciplina emerge com o viés científico
de investigação e problematização do urbano, através da transformação do cenário
de insalubridade e pobreza para outro de reconstrução dos bairros, ruas e
quarteirões, visando sua higienização. Por outro lado, também foi alvo de outras
influências calcadas em princípios e dimensões artísticas, em que o vislumbramento
de costumes urbanos passados adquiriu relevância para os projetos. Ao contrário do
enfoque puramente higienista de reconstrução de uma nova cidade, arejada,
ventilada e limpa, tais projetos consistiam em amplos modelos pautados em
princípios artísticos dos séculos anteriores.

Esta dualidade entre a ciência e arte marcou a passagem do pensamento


para a prática em urbanismo numa relação de forças. Kohlsdorf (1985) esclarece
como se estruturaram estas duas correntes urbanísticas significativamente opostas:

As duas atitudes originaram-se da observação da Revolução


Industrial a partir de duas posições extremas: de forma a aceitá-la
como a chave dos tempos modernos onde todas as contradições
estariam resolvidas, ou de forma a negá-la, por ser responsável pelo
desaparecimento de um mundo melhor (KOHLSDORF, 1985, p. 23)

Ambos princípios dominaram o discurso urbanístico no período pós –


Revolução industrial e opuseram-se em olhares, atitudes e procedimentos. Como
exposto por Kohlsdorf, ao PROGRESSISMO ou RACIONALISMO implicava a
adequação da cidade à nova fase de progresso e modernização, abrindo caminho
para uma onda de otimismo com os avanços tecnológicos e econômicos. Tais

18
avanços pautados no aval científico e acadêmico seriam responsáveis por uma
futura superação das contradições urbanas, onde logo a humanidade encontraria
seu caminho de harmonia e qualidade de vida. Por outro lado, para o
CULTURALISMO tal período expressou a perda dos valores tradicionais das cidades
antigas, e, em contraposição, achavam que a nova fase representava a
degeneração da qualidade urbana. A definição primaz da corrente culturalista é a
nostalgia ao passado, de maneira a resgatar os padrões socioculturais das cidades
pré-revolução industrial.

Kohlsdorf (1985) e Choay (1994) categorizam o pensamento progressista e


culturalista, mediante seus objetivos mais elementares.

Para os urbanistas progressistas, a cidade deveria estabelecer uma


classificação rígida na definição de funções para os bairros, visando fazer desses
espaços locais úteis para circulação do capital industrial e comercial. A organização
urbana levava em consideração a utilidade que determinada área tinha para os
objetivos de rentabilidade econômica e, neste aspecto a circulação intraurbana
adquire papel fundamental, visto que as ruas e avenidas permitiriam melhores
condições de locomoção e mobilidade. Em consequência, as intervenções tinham
uma forte preocupação em realizar obras viárias e de saneamento, criando espaços
descontínuos e abertos, altamente artificializados, e geometrizados (Choay, 1994).
Esta geometrização estava em função de um modelo estético tão importante quanto
a utilidade, em que os progressistas idealizavam trazer para a cidade um espetáculo
cotidiano. Kohlsdorf explica que o espaço era organizado pela predominância do
fundo sobre a figura, com a consequente separação entre volumes, grandes
distâncias e longas perspectivas. Segundo Choay (1994, p. 09), “a cidade
progressista recusa qualquer herança artística do passado, para submeter-se
exclusivamente às leis de uma geometria ‘natural’”.

Em suma, os principais ícones progressistas exprimiam a universalidade da


razão e a fé no progresso da civilização, em que o passado é praticamente
esquecido e o presente torna-se irredutível para a estruturação do mundo moderno.
Estas perspectivas visavam à ampla reforma do habitat urbano a partir da
reconstrução de bairros e quarteirões, assim como pela construção de áreas verdes
abertas e todo um sistema de infraestrutura. As mudanças nos padrões de uso e
ocupação do solo focavam primordialmente se distanciar dos modelos de cidade até
então vivenciados, antes e durante o processo de Revolução industrial.

No que toca ao culturalismo, ao contrário do enfrentamento otimista e voltado


ao presente, predominaram o sentimento de pessimismo e os devaneios da cidade
passada. Esta preocupação é traduzida através da perda gradativa dos encontros e
das relações humanas nas ruas e bairros. Neste sentido, o homem adquiriu um
papel mais importante no culturalismo do que no progressismo, devido ao caráter
intermutável e insubstituível do ser humano na formação de grupos e comunidades.
Como expressa Kohlsdorf (1985, p.30), “o culturalismo caracteriza a cidade a partir
da noção de cultura, onde a arte é o principal elemento de integração social”.

Assim, a cidade deveria oferecer os espaços para integração e aproximação


das pessoas no seu cotidiano, principalmente na viabilização de locais para lazer e
cultura. A rua e a praça eram elementos fundamentais na formação de um ambiente
urbano que estimulasse o encontro e as relações interpessoais, além do que, o

19
traçado das ruas deveria respeitar as formas de relevo e a orientação dos ventos.
Em consequência predominavam as formas curvilíneas e tortuosas, de geometria
orgânica e natural.

Esta concepção organicista de cidade significou uma formação pautada de


acordo com as necessidades funcionais dos seres humanos, em que o espaço é
produzido de maneira artesanal, sem protótipos e padronizações. A ênfase dada as
cidade antigas, fez do culturalismo um movimento descolado do presente e fechado
nos ditames históricos, em função da fuga de uma cidade não aceita. Também por
esta razão, o movimento culturalista é colocado como não-científico. (KOHLSDORF,
1985).

Portanto, estas duas correntes foram predominantes no campo teórico do


urbanismo, em sua fase de germinação e consolidação. A transição de um pré-
urbanismo para o urbanismo se processa especialmente no momento em que a
disciplina se estrutura como um campo de especialização sobre a cidade, restrita
apenas a profissionais (na época, apenas arquitetos e engenheiros). No interior dos
próprios centros acadêmicos, o desenvolvimento de métodos descritivos,
classificatórios e quantitativos, voltados pra um viés puramente prático, trouxe
identidade e consolidou efetivamente a disciplina. Carlos Sartor (1999) explicita que
a principal pretensão do urbanismo era de reunir os saberes elaborados e as
práticas pontuais do século XIX.

O processo de autonomização do campo implicou na organização de


um método próprio de trabalho, cujo enfoque foi a totalidade da
cidade e que, também, repercutiu na tensão entre princípios de
natureza científica, técnica e artística (SARTOR, 1999, p.40)

Esta repercussão da tensão entre os princípios técnicos e artísticos significou o


predomínio das ideologias que constituíram a fase pré-urbanística, o progressismo e
o culturalismo. Apesar da definição dos métodos, a ausência da pesquisa em
urbanismo cedeu lugar a ressignificação das duas matrizes, cujo embate continuou a
dominar o debate acadêmico. Nos diferentes países da Europa as duas vertentes
passaram a se desenvolver, influenciando decisivamente em muitos projetos de
reconstrução de cidades e bairros, tendo em urbanistas como Camillo Sitte (1843-
1903), Ebenezer Howard (1850-1928), Charles-Édouard Jeanneret, mais conhecido
como Le Corbusier (1887-1965), algumas das principais influências.

4.2.1. O City Beautiful

O Movimento denominado de City Beautiful adquiriu grande destaque no


início do século XX. De inclinação progressista, esta escola teve como principal
planejador o arquiteto Daniel Hudson Burnham (1846-1912), cuja meta era promover
o embelezamento e construir uma cidade monumental como forma de criar um
ambiente moral e cívico para os habitantes. De acordo com Hall (1988), o marco
inicial deste movimento se deu no Columbian Exposition de Chicago, em 1893,

20
quando o objetivo primordial do planejador norte-americano era superar os focos
geradores de “doenças, depravação moral e descontentamento da população”
(HALL, 1988, p, 208). Para isso, o City Beautiful conduziu obras de embelezamento
e de infraestruturas em grandes escalas, colocando a questão do incrementalismo
estético e do preservacionismo arquitetônico como aspectos fundamentais.

4.2.2 As Cidades-Jardins ou Garden Cities

O declínio do City Beautiful cedeu espaço para a emergência e o


fortalecimento das Cidades-Jardins de Ebenezer Howard, certamente, a principal
corrente até os anos 40.

Diferente de intervenções sobre cidades já existentes, o ideal de Howard


dependia de novas áreas onde se pudessem delinear com liberdade uma cidade
completamente nova. Com base no próprio autor, em sua obra “Garden Cities of
Tomorrow” de 1899, um primeiro aspecto importante a se ressaltar desta obra é de
que os locais de vivência do ser humano não se restringiam apenas ao ambiente
urbano ou rural, e sim que existiria uma terceira via, uma cidade-campo, em que
ambos ambientes poderiam ser combinados de modo integrado. Howard acreditava
que nem campo e nem cidade poderiam, isoladamente, realizar completamente o
ideal de uma vida perfeita com a natureza. Por exemplo, da mesma maneira que a
cidade oferece suas vantagens de progresso, emprego, tecnologia e locais de
diversão, retorna com seus preços altos, horas excessivas de trabalho e poluição. Já
o campo inspira belas paisagens, ar fresco, horas a menos de trabalho e preços
baixos, mas, em compensação, devolve baixos salários e poucas fontes de diversão
e trabalho. Segundo Howard (2002, p. 110), “cidade e campo devem estar casados,
e dessa feliz união brotaria uma nova esperança, uma nova vida, uma nova
civilização”.

4.2.3 O Urbanismo Modernista

A definição de urbanismo trazida no Congresso Internacional de Arquitetura


Moderna (CIAM) de 1933 foi, essencialmente, uma continuação das ideias que já
predominavam na Europa e nos Estados Unidos até a década de 20, decretando a
predominância do ideário progressista. Isto significa dizer que seus planos, embora
contrastassem pontualmente em princípios e regras com as correntes anteriores,
seguiram a crença nas grandes construções e nos aparatos tecnológicos como os
caminhos para a realização de um mundo melhor. Seguiu principalmente a
tendência das Cidades-Jardins, numa perspectiva de priorização de um espaço
funcionalista, altamente classificado e geometrizado, fundamentalmente assentado
sob uma mente criadora de uma nova cidade e um novo tempo que estava se
descortinando.

21
O CIAM fundou-se nos princípios de Charles-Édouard Jeanneret, mais
conhecido como Le Corbusier, um dos urbanistas mais influentes do século XX. Le
Corbusier sustentou, desde suas primeiras experiências na cidade de Paris, que a
cidade contemporânea deveria adequar-se aos avanços da modernidade. Adepto
dos traços geometricamente calculados, acreditou fielmente que os projetos
urbanísticos seriam os responsáveis por uma nova civilização, aquela da máquina e
do ser contemporâneo. As novas técnicas e o avanço da ciência já haviam
produzido um novo homem, e para este o planejamento e o design urbanos
deveriam ser dirigidos.

A rua não era apropriada para o pedestre. A chave do planejamento


modernista era eliminar o excesso populacional dos centros das cidades. Le
Corbusier vislumbrou a demolição total dos centros, e, em seu lugar, idealizou
terrenos abertos, atravessados por grandes avenidas. (HALL, 1988). Estas eram
desenhadas em traçado reto e padronizado, e Le Corbusier oferecia especial
atenção a elas: “A rua moderna deve ser uma obra prima de engenharia civil e não
mais um trabalho de cavouqueiros”. A rua fazia parte de uma estrutura funcionalista
necessária para a satisfação de quatro demandas principais do ser humano: o
morar, o trabalhar, o circular e o cultivar o corpo e o espírito. A cidade deveria
oferecer os locais apropriados para atender estas necessidades, mediante a
dispersão de zonas residenciais, comerciais, industriais, dentre outras.

4.2.4 O Novo Urbanismo Americano (New Urbanism)

Este modelo tem sido descrito como o mais influente movimento em


arquitetura e planejamento urbano nos Estados Unidos e na Europa desde o
movimento modernista. Nestes últimos 30 anos, período em que surge e evolui
como um movimento consolidado de planejadores, promulgando mudanças de modo
a confrontar os problemas trazidos pelo urbanismo modernista e a formação dos
grandes subúrbios nos Estados Unidos. A ideia primordial é pautada essencialmente
na priorização do homem em oposição ao carro, na utilização de usos mistos em
detrimento da separação de funções, na densificação das atividades e das formas
urbanas e no predomínio do público sobre o privado. Mediante uma cidade mais
compacta e mista, os projetos almejam diminuir os gastos de energia despendidos
na mobilidade urbana, favorecendo os encontros de pessoas e o senso de
comunidade.

22
5. A CIDADE NEOLIBERAL

Nas abordagens sobre planejamento urbano e organização do território, a


cidade neoliberal torna-se objeto incessante de investigação, na medida em que
responde na escala espacial às rápidas modificações impostas pelo capitalismo
global. É difícil estabelecer limites para a plena compreensão de um espaço que se
transforma freneticamente, ao ritmo dos impulsos da economia global. Será assim
nos centros urbanos de médio a grande porte, localizados em países centrais e
periféricos, sob uma influência que não escolhe territórios específicos, mas gera
consequências totalmente distintas.

Mais precisamente, isto significa que a cidade será território da globalização,


e os nexos principais que a caracterizam serão, fundamentalmente: a) o acirramento
das competições empresariais e a busca por investimentos privados; b)
reconfiguração do papel do Estado, que passa de agente controlador do espaço
para tornar-se um empreendedor urbano, parceiro da iniciativa privada; c)
privatização de espaço públicos e aumento crescente do domínio de terras urbanas;
d) modernização do território em detrimento do aumento da pobreza.

Estes elementos compõem os nexos estruturais da cidade atual e se


manifestam em intensidades distintas, de acordo com a função exercida por
determinada cidade na divisão internacional do trabalho. De acordo com Harvey
(2006), exemplificando o caso norte-americano, um componente fundamental que
anuncia a transição entre a cidade de base social-democrata, tecnocrática e
keynesiana, para àquela de cunho neoliberal, serão as implicações relativas ao
modo de governança. Isto significou modificações no modelo de gestão, em que o
Estado assume uma coalizão com a iniciativa privada na busca de estratégias
inovadoras e empreendedoras a fim de assegurar a atração de capitais e de impedir
a redução de investimentos oriundos da crise econômica que assolou os Estados
Unidos na década de 70.

Tanto aqui, como na Europa, as saídas encontradas para a crise resultaram


num processo de reestruturação da produção industrial, cada vez mais informatizada
e tecnificada, permeada por relações de trabalho flexíveis, contratos temporários,
diminuição dos encargos trabalhistas, transferência de plantas industriais para os
países subdesenvolvidos e de capitais para o setor financeiro. Logo, essa
reestruturação produtiva será avalizada pelo Estado nas práticas de flexibilização e
liberação da economia, abertura de mercados, investimento em infraestruturas,
desonerações e isenções fiscais, doação de terrenos, ampliação do crédito para o
consumo, etc.

A conjuntura de crise associada às rápidas transformações tecnológicas e a


crescente fluidez adquirida pelo capital reafirmaram o papel dos mercados e da
ideologia neoliberal como princípios de desenvolvimento urbano local. Nas cidades
capitalistas centrais, é válido ressaltar que o planejamento centralizado e de
abrangência metropolitana, cede espaço para outro de natureza mais pontual, cujo
enfoque passa a ser o lugar. Em outras palavras, a cidade se gesta na construção
de locais específicos e adequados à exigência do mercado global, de modo a

23
viabilizar as vantagens comparativas para a atração de capitais: oferta de locais para
eventos, de centros de consumo e lazer, de infraestruturas que a insiram no circuito
dos grandes investimentos, etc.

A proliferação de grandes projetos urbanos, como Battery Park em Nova


York, London Docklands em Londres, ou Potsdamer Platz em Berlim, constituem
obras que reconfiguram o espaço para as exigências do capital transnacionalizado.
Os autores planejamento estratégico, no que tange os princípios formulados para
Barcelona por Borja e Castells (1997) adotam o protagonismo econômico e social
dos governos locais, responsáveis por promover, dentre uma de suas variantes, a
cidade no exterior com base na venda de imagens e desígnios urbanos. As
atribuições dos governos locais, segundo a cartilha do planejamento estratégico,
residem: na promoção da cidade no exterior, desenvolvendo uma forte imagem base
na abrangência de Infraestrutura e serviços; na formação de um ambiente cívico de
patriotismo, um senso de pertencimento, de desejo de participação e de otimismo
sobre o futuro da cidade; na inovação política a fim de gerar mecanismos de
cooperação social e participação cidadã; na criação de um ambiente de coexistência
pacífica, garantindo segurança, equipamento, serviços e espaços públicos.

Estes aspectos implicam, portanto, no acirramento de práticas competitivas,


uma lógica em que nas diversas instâncias governamentais e individuais busca-se
prevalecer enquanto um agente econômico. Apenas para nos atermos à escala
urbana, a engrenagem competitiva de mercado predomina nas ações do poder
público local e dos empresários, em que o primeiro adota um modelo de gestão
pautado no chamado planejamento estratégico, oferecendo os equipamentos
urbanos e as condições técnicas, materiais e humanas necessárias para a ação do
segundo.

Especificamente no Brasil o paradigma neoliberal pode ser entendido através


de duas leituras principais: a primeira enfoca as implicações macroeconômicas
impostas ao país, cujas resultantes terão forte impacto sobre o território, sobretudo
na expansão de polos de pobreza. Não se pretende aqui detalhar as determinações
espaciais dos impactos da política econômica, senão apenas reforçar as
determinantes negativas na área da habitação e do emprego, que, entre os finais
dos anos 80 e meados dos anos 90, colaboraram para ampliar o número de
assentamentos ilegais e precários, assim como induziram no aumento da
criminalidade urbana. O entendimento do fenômeno da expansão de condomínio
fechados aponta na direção destas transformações, inclusive com a contribuição de
muitas pesquisas relativas a esta questão. A segunda leitura diz respeito à influência
do ideário na esfera do planejamento, a partir da promoção do marketing urbano, da
recuperação de bairros decadentes e na aplicação maciça de infraestrutura em
setores pontuais da cidade, de forma a atrair investimentos. Corresponde ao que já
se processa na Europa e nos Estados Unidos, com a apropriação de instrumentos
estratégicos de gestão, como as parcerias público-privadas. Vejamos que, no Brasil,
os modelos de gestão e planejamento neoliberais incutem discursos retóricos, mas
que funcionam de maneira eficaz como instrumentos de marketing. Se não é a
cidade-global, é a cidade-modelo ou a cidade-sustentável. O Rio, por exemplo,
preparou um aparato socioinstitucional que a concebe como a cidade-símbolo do
Brasil para receber os capitais de grandes eventos. Em São Paulo, a região da
Marginal Pinheiros se tornou a aposta do poder público para a edificação de um
centro financeiro de alcance global, recebendo, segundo Nobre e Bomfim (2002), no

24
decorrer das últimas três décadas, a maior parte das obras e investimentos públicos
realizados pelos governos estadual e municipal. Em Florianópolis, a estratégia
político-empresarial da municipalidade está em explorar o universo dos polos
tecnológicos e informacionais, como o projeto Sapiens Park, e, da mesma forma,
busca impulsionar o turismo de luxo.

Estas duas leituras expressam os elementos constitutivos dos espaços


urbanos no Brasil, sintetizados na dinamização de dois fluxos que se contrapõe: o
fluxo de riquezas, caracterizado pela concentração de capitais em eixos específicos
da cidade, verdadeiros centros de luxo, tecnologia e modernização; e o fluxo de
pobreza, assinalado na produção de externalidades geradas pela modernização
seletiva, cujos elementos elucidativos podem ser, por exemplo, a precariedade da
urbanização, a falta de moradias e terras voltadas para o interesse social,
valorização exacerbada da terra urbana, gentrificação. Rigorosamente, a
compreensão socioespacial e temporal da globalização na cidade brasileira aponta
na direção de uma ruptura que demarca espaços e atores sociais que recebem as
benesses da globalização, em detrimentos de outros que sofrem seus efeitos mais
negativos.

25
6. O ESPAÇO URBANO BRASILEIRO

A urbanização do Brasil segue uma ORDEM, regida pela estrutura social


construída na época colonial por meio da propriedade desigual da terra, das
relações de trabalho escravo e da economia agroexportadora. Esta Ordem define
um MODELO de cidade tipicamente brasileiro, cujos elementos principais podem ser
definidos pelo(a):

a) rápido crescimento, em intervalo de poucas décadas em que a população


urbana ultrapassará a rural;

b) Orientação litoral-interior, com a densidade demográfica relativamente


reduzindo-se à medida que se desloca das zonas costeiras com Mata Atlântica
para os sertões da Caatinga, da Amazônia, Cerrado e Matas Subtropicais;

c) Produção de agentes privados, proprietários fundiários, promotores imobiliários e


especuladores, migrantes em busca de melhores condições de vida. Há clara
participação do Estado na produção da cidade brasileira, ele impôs as
infraestruturas e normas de controle, porém, estas nem sempre estarão em
compasso com o ritmo de crescimento, o que o torna um crescimento mais
orgânico do que àquele regido por um ordenamento jurídico e de planejamento
como decorreu nos países mais ricos. No Brasil, primeiro se OCUPOU para
depois urbanizar (levar a infraestrutura urbana), nos países desenvolvidos
primeiro se URBANIZOU para depois realizar a ocupação dos espaços.

d) Falta de coesão, coerência e integração entre os espaços internos das cidades,


como resultado dos outros elementos mencionados, como a incapacidade de
gerir um crescimento acelerado das ocupações ou ainda mitigar os efeitos das
altas desigualdades internas de renda, fator que acabou por definir os espaços
formais em constante tensão com os espaços informais/ilegais impressos pelas
favelas. De outro modo, trata-se de compreender uma cidade pautada por
FRAGMENTOS, divisões entre espaços legais e ilegais, de formalidades e
clandestinidades, de riqueza e pobreza, dentre outros.

6.1 Período 1940-1980

O processo brasileiro de urbanização teve como principal apoio o êxodo rural,


mas não por excesso de gente no campo; formou-se uma superpopulação relativa,
uma vez que a modernização agropecuária, somada à permanência da
concentração fundiária, gerou excedente de força de trabalho que seria direcionado
às cidades. Os migrantes acertaram na sua opção, sua decisão econômica pode ser
considerada racional.

(...) A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, a extensão do


assalariamento, o acesso por ônibus à terra distante e barata da

26
periferia, a industrialização dos materiais básicos de construção,
somados à crise do aluguel e às frágeis políticas habitacionais do
Estado, tornaram o trinômio loteamento popular/casa
própria/autoconstrução a forma predominante de assentamento
residencial da classe trabalhadora. (MAUTNER, 2004, p. 247-248).

O processo de uma nova tendência de urbanização no Brasil é o da


intensificação da transformação das áreas anteriormente caracterizadas como meio
rural em meio urbano, pois a mecanização da agricultura e a expansão do
agronegócio no campo liberam mão de obra da agricultura familiar de subsistência
para exercer atividades do setor terciário – comércio e serviços no próprio município.
Assim, o que era caracterizado como meio rural, por haver predomínio de pessoas
exercendo atividades primárias, passa a ser caracterizado como meio urbano. Trata-
se de um processo diferente daquele predominante nas décadas de 1960 e 1970,
quando o êxodo rural era o fator principal do crescimento urbano. A chegada dos
“novos habitantes” originários das áreas rurais (do Nordeste, Minas Gerais,
paranaenses, entre outros) que não tinham acesso aos imóveis situados em áreas
centrais e mais valorizadas pela especulação imobiliária, fez com que estes se
posicionassem na periferia, abrindo loteamentos clandestinos, em desacordo com as
normas legais municipais de uso do solo. “Quanto mais distantes, melhor: o truque
era deixar espaços vazios entre os novos loteamentos e a área já urbanizada. Dessa
forma, o poder público acreditava que, ao asfaltar as vias de acesso e expandir a
rede de água, luz, esgoto, transporte, os terrenos vazios seriam valorizados”

A dinâmica territorial vai ganhando força e uma nova urbanização se estrutura


com o aumento do consumo e da qualidade da mão-de-obra (os empregos
necessitavam de pessoas mais qualificadas), além do que as cidades passavam a
ganhar novas funções, tornando a divisão territorial do trabalho mais complexa.
Nesse cenário emergem diversas cidades com mais de 20, 100 e 500 mil habitantes,
paralelamente ao crescimento das regiões metropolitanas. As grandes
desigualdades regionais e locais nesse processo refletem ao que muitos
pesquisadores vêm denominando de macrocefalia urbana, ou seja, poucas cidades
de grandes dimensões e muitas de pouca participação na produção de riquezas
para o país.

6.2 Período pós-80: As tendências atuais das cidades

Entre 1940 e 1980 o crescimento urbano levará o que Milton Santos


denomina de processo de METROPOLIZAÇÃO. Desde a década de 1980, as
metrópoles passam a responder diretamente, de forma negativa, as rápidas
transformações sofridas nas décadas posteriores. Evidentemente que os dilemas
urbanos no Brasil não começaram na década de 1980, mas é certo que, desde
então, os desafios que a cidade brasileira enfrenta são bem mais prementes. É
possível afirmar que os antigos problemas se agravam de maneira particular a partir
daquela década, assim como novos elementos surgem a fim de tecer um espaço
conflituoso em vários aspectos associados à qualidade de vida das pessoas. Esse
agravamento das condições de vida na cidade se expressa, fundamentalmente, no
fenômeno da auto-segregação do espaço. A auto-segregação se aprofunda e revela

27
um padrão intra-urbano altamente regressivo do ponto de vista ambiental, social e
econômico, segundo alguns aspectos determinantes.

Ela se intensifica, à começar, pelo aumento da pobreza e da informalidade


detectadas ao longo dos anos 80, verificadas pelo aumento dos processos de
autoconstrução nas periferias ou de ocupação de edifícios não utilizados nas áreas
centrais, bem como no aumento de populações miseráveis sem residência fixa.
Decerto, a ocupação das periferias condiciona a uma expansão horizontal do espaço
construído notadamente insustentável do ponto de vista ambiental, visto que passam
a ocupar novas áreas verdes, despender uma grande quantidade de energia no
trajeto moradia-trabalho-moradia e a pressionar o ambiente de entorno a partir da
geração de resíduos poluentes. Mesmo considerada uma forma cristalizada na
história da cidade brasileira, observa-se, segundo alguns autores, a expansão brutal
da favela a partir da década de 1980. Segundo Maricato (1996), nos anos 80 e 90 a
população moradora em favelas cresceu mais do que a própria população urbana,
sendo que, em 1991, quase 3,5% da população brasileira residia em favelas, um
aumento de quase 70% com relação ao começo da década de 1980, quando àquele
número girava em torno de 1,9%. Ao ler Mike Davis (2006), que demonstra uma
série de dados sobre a pobreza urbana nas cidades do terceiro-mundo, é possível
afirmar que a globalização neoliberal não somente reforçou, mas institui a morfologia
espacial da favela como forma urbana predominante.

Figura 6: Ocupação irregular em torno da represa de Guarapiranga

Fonte: Cidadedesaopaulo.com

Convém afirmar também que este processo de acirramento das competições


se conjuga aos modelos de reestruturação empresarial e produtiva dos capitais
transnacionais que atuam no país, segundo relações de trabalho flexibilizadas de
acordo com oscilações do mercado, bem como através da mecanização do
processo produtivo. Embora sustente um modelo de modernização da indústria, o
resultado mais aparente residiu na precarização das condições de trabalho, com a
diminuição do nível de emprego formal em detrimentos daqueles de caráter informal.
Mike Davis afirma que o impacto geral na base econômica e nos empregos urbanos
através da liberalização encontra forte “correlação entre a expansão do setor

28
informal e o encolhimento do emprego no setor público e do proletariado formal”
(DAVIS, 2006, p. 180).

Figura 7: Distrito financeiro de São Paulo na Marginal Pinheiros.

Fonte: Cidadedesaopaulo.com

O avanço do privatismo perpassa, neste sentido, na voracidade do agente


imobiliário em seu contínuo consumo de espaço para investimentos e/ou
especulação. Tais investimentos correspondem a empreendimentos residenciais
verticais geralmente situados às margens de centros decadentes e
empreendimentos residenciais horizontais localizados nas franjas urbanas
(KOVARICK, 1994). A incorporação de terras por parte do mercado se amplia com o
aumento gradativo da liquidez para a compra de bens urbanizáveis medida pelo
incremento das classes médias e altas. Tal voracidade na procura por terras
estrutura um padrão espacial conduzido pela valorização continuada dos terrenos,
em que populações de baixa renda e boa parte das classes médias não estarão
incluídas. Dentro deste modelo de estruturação, o espaço urbano representa em si
um espaço político, onde a crescente dominação implicará em vantagens
econômicas.

Em suma, estes fatores servem apenas como demonstração de que a


racionalidade que comanda as ações dos principais produtores do espaço incute
uma série de desafios para a sustentabilidade da cidade brasileira. Sua legibilidade
do ponto de vista ambiental reside, por exemplo, num modelo de cidade
horizontalizada que prioriza o modal rodoviário, na ausência de infraestruturas
básicas de saneamento ou na ocupação em áreas ambientalmente frágeis. Pelo
ponto de vista social ganha relevo os índices de pobreza, o aumento da violência, a
deterioração do patrimônio e dos serviços públicos, a erosão da cidadania, a
derrocada da civilidade e da integração social, o culto ao exclusivismo, dentre
outros.

6.3 Explorando mais a cidade da fragmentação social e o fenômeno


da Segregação Socioespacial.

29
No Brasil a cidade se evidencia reproduzindo o abismo social que o
caracteriza. Aliás, cada cidade repercute no território as barreiras intrínsecas ao
tecido social em que está inserida. É observável, por exemplo, que na França pós-
colonial a chegada de imigrantes da região do Magreb contribuiu para um modelo de
segregação muito distinto do que ocorre no Brasil, caracterizado pelas barreiras
culturais e étnicas. Nas cidades francesas e alemãs, por exemplo, é relativamente
evidente a formação não somente de bairros de populações árabes ou turcas, mas
também um circuito econômico interno que os mantém com base na cooperação
mútua entre indivíduos que tiveram dificuldade de se integrar as sociedades
europeias. Os diferentes estratos sociais dessas sociedades não se evidenciam
espacialmente da mesma forma quanto os parâmetros étnico-culturais, tendo em
vista as décadas de políticas de bem-estar social e a formação de uma consolidada
classe média nesses países. Da mesma forma podemos observar nos Estados
Unidos e na África do Sul, cidades onde o tecido urbano se fragmenta com base no
componente racial. No Brasil, o aspecto social e da renda é determinante como
elementos de segregação.

A fragmentação, portanto, se protagoniza na formação de territórios de


dominação e exclusão, onde ao homem é imposto um espaço altamente restritivo e
rígido, subordinado aos desejos privados de agentes imobiliários. No período atual,
a cidade pode se fragmentar entre o que é público e privado, entre o que é regular
(inserido na dinâmica da urbanização) e irregular (áreas ilegais juridicamente), ou,
ainda, entre espaços de concentração de riqueza (infraestrutura, empregos,
investimentos, etc.), e de pobreza. Nisto reside o sentido da fragmentação urbana,
cujas divisões resguardam a matriz dos conflitos sociais e das lutas por espaço nas
cidades brasileiras e latino-americanas.

No que toca a dicotomia entre público e privado é preciso considerar que as


primeiras são terras que não possuem valor de troca e sua função visa atender as
demandas coletivas, seja para políticas habitacionais, provisão de infraestruturas e
outros serviços, lazer, etc. A segunda é àquela incorporada no mercado formal,
regulada e legitimada pelo poder público. A ampliação da sociedade de livre
mercado e do consumo consolida o predomínio da esfera privada, onde espaços são
concebidos como cenários de criação de desejos, imagens publicitárias que
ressaltam a exclusividade e a negação à cidade real.

Segundo Villaça (1999, p. 328), o significado da dominação que estrutura o


espaço e define o processo de fragmentação reside na “apropriação diferenciada
dos frutos, das vantagens e dos recursos do espaço urbano. Dentre essas
vantagens, a mais decisiva é a otimização dos gastos de tempo despendido nos
deslocamentos dos seres humanos, [...].”’

Esta ideia reafirma o papel que a forma e a estrutura urbana possuem na


manutenção e reprodução da desigualdade. Neste ponto se coloca a função
exercida pelo poder público na consolidação de espaços fragmentados, principiando
pelo histórico viés tecnocrático e elitista dos planos urbanos como instrumentos de
legitimação do mercado de terras voltadas para investimentos.

30
Figura 8: Segregação Socioespacial no Rio de Janeiro

Fonte: Rocinha.org

31
7. PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL

7.1 Histórico

Quando tratamos da história recente do planejamento urbano no Brasil,


seguindo um roteiro historiográfico inspirado em Vera Resende e em Flávio Villaça,
é possível efetuar uma periodização da história do planejamento urbano no Brasil,
subdividindo-a em três grandes fases:

a) 1875 a 1930, caracterizada pelos planos de melhoramentos e


embelezamento;

b) 1930 a 1990, período representado por investimentos em obras de


infraestrutura, e também caracterizado pelo predomínio dos planos diretores e
pelo discurso de planejamento;

c) A partir de 1990 até os dias atuais, representada pelo fortalecimento do


planejamento estratégico e para o movimento de reforma urbana e instituição
dos instrumentos do Estatuto das Cidades.

7.2 Planos de Embelezamento

A primeira fase, ou fase de melhoramentos e embelezamentos remonta ao


auge da aplicação urbanística no Brasil, quando grandes parcelas das cidades foram
arrasadas para dar lugar a grandes obras de urbanização. “Foi sob a égide dos
planos de embelezamento que surgiu o planejamento urbano brasileiro. (VILLAÇA,
1999, p. 193). Planos influenciados pela tradição europeia, e consistiam
basicamente no alargamento de vias, destruição de ocupações de baixa renda nas
áreas mais centrais, implementação de infraestrutura, especialmente de
saneamento, jardins e praças (VILLAÇA, 1999; LEME, 1999). Leme (1999)
acrescenta a criação de uma legislação urbanística nesses planos, bem como a
reforma e reurbanização das áreas portuárias. Além disso, geralmente se limitavam
a intervenções pontuais em áreas específicas, na maioria das vezes o Centro da
cidade.

Grande parte desses planos previam abertura de novas avenidas que


passavam a conectar importantes partes da cidade, em caminhos abertos ao passo
da destruição de áreas consideradas insalubres, compostas pelos chamados
“cortiços”. O principal representante desse período foi o Engenheiro Saturnino de
Brito, que realizou planos de saneamento para várias cidades brasileiras. Em
algumas delas, os planos também incluíam diretrizes para a expansão urbana, como
foi o caso em Vitória (1896), Santos e Recife (1909-1915).

Outro plano representativo é o de Pereira Passos para o Rio de Janeiro. Ao


tornar-se prefeito, adotou uma nova versão desse plano de melhoramentos,

32
publicada em 1903, e que previa uma série de obras para o embelezamento da
cidade. Passos queria aplicar ao Rio de Janeiro uma gama de reformas
estruturantes a cidade do Rio de Janeiro, assim como o Barão de Hausmann já
havia aplicado a cidade de Paris. Significou num plano de avenidas, dentre as
principais destacam-se a criação da Avenida Central (atual Av. Rio Branco), da
Avenida Beira Mar, conectando a Avenida Rio Branco até o fim da Praia de
Botafogo, e da Avenida Mem de Sá, ligando a Lapa à Tijuca e a São Cristóvão
(LEME, 1999, p. 24).

Villaça (1999) argumenta que, neste período, os planos eram discutidos


abertamente antes de serem implementados, e, ao contrário do que aconteceria no
futuro, os planos eram efetivamente implementados. Segundo ele, isso era possível
porque o caráter hegemônico da classe dominante era tão acentuado que lhe era
possível impor o conjunto de soluções que lhe parecesse mais adequado, sem se
preocupar em encontrar subterfúgios para ocultar suas verdadeiras intenções.

Figura 9: Plano de Pereira Passos para o Rio de Janeiro

Fonte: Multirio.gov.br

7.3 Planejamento Tecnocrático

A segunda fase do planejamento no Brasil expõe a inclusão do restante da


cidade e um viés mais abrangente do que se propunham os planos de
embelezamento. Da mesma forma, inaugura com força uma postura altamente
tecnocrática e impositiva dos planos. Será buscado uma articulação entre o Centro e
os bairros, e destes entre si, através de sistemas de vias e de transportes (LEME,
1999, p. 25). As vias não são pensadas apenas em termos de embelezamento, mas
também em termos de transporte (VILLAÇA, 1999). Segundo Leme (1999), é a partir

33
desta data que começam a serem feitos os zoneamentos, bem como a legislação
urbanística de controle do uso e ocupação do solo.

Um dos principais representantes desse novo tipo de plano é o Plano de


Avenidas de Prestes Maia para São Paulo, elaborado em 1930. Apesar do nome,
segundo Villaça (1999) o plano tratava sobre vários aspectos do sistema urbano, tais
como as estradas de ferro e o metrô, a legislação urbanística, o embelezamento
urbano e a habitação. Entretanto, o destaque foi mesmo o plano de avenidas, que
possuíam um caráter monumental. Segundo Leme (1999), o conjunto de novas vias
radiais e perimetrais transformou a cidade concentrada e baseada na locomoção por
transporte coletivo (ônibus e bondes) em uma cidade mais dispersa e dependente
do tráfego de automóveis.

Figura 10: Plano de Avenidas de São Paulo

Fonte: Vitruvius.com

Outro representante dessa fase é o Plano de Alfred Agache, para o Rio de


Janeiro, um plano que marca uma transição dos planos de embelezamento para os
“superplanos” que viriam a ser desenvolvidos nas décadas de 60 e 70.

Entre os temas tratados no plano de Agache estão a remodelação imobiliária, o


abastecimento de água, a coleta de esgoto, o combate a inundações e a limpeza
pública (VILLAÇA, 1999).

Figura 11: Plano Agache para o Rio de Janeiro

34
Fonte: Urbanidades.com

Logo, o ritmo frenético de urbanização do país começa a enfraquecer a


própria viabilidade de novos planos com maior abrangência nas cidades brasileiras.
A formação da periferia e as implicações do aumento demográfico por toda cidade
levam o planejamento a incorporar outros aspectos que não somente os físico-
territoriais, como os econômicos e sociais. Segundo Villaça (1999), quanto mais
complexos e abrangentes tornavam-se os planos, mais crescia a variedade de
problemas sociais nos quais se envolviam e com isso mais se afastavam dos
interesses reais da classe dominante e, portanto, das suas possibilidades de
aplicação (VILLAÇA, 1999, p. 214).

A organicidade do crescimento urbano trazido pela especulação imobiliária e


pelo rodoviarismo prevalecerá diante da ineficiência de um Estado burocrático,
centralizado em planos elaborados por um conjunto restrito de técnicos incapazes
de alterar uma ordem urbana que se estabeleceu no Brasil. Como resposta aos
maus resultados provenientes da não aplicação dos superplanos como o Agache e o
Doxiadis, que acabavam sendo relegados às prateleiras, passaram a ser elaborados
planos que abriam mão dos diagnósticos técnicos extensos e, até mesmo, dos
mapas espacializando as propostas.

Nos anos de 1970, os planos passam da complexidade, do


rebuscamento técnico e da sofisticação intelectual para o plano
singelo, simples – na verdade, simplório – feito pelos próprios
técnicos municipais, quase sem mapas, sem diagnósticos técnicos
ou com diagnósticos reduzidos se confrontados com os de dez anos
antes. (VILLAÇA, 1999, p. 221).

Esses planos apenas enumeravam um certo conjunto de objetivos e diretrizes


genéricas e, assim, acabavam ocultando os conflitos inerentes à diversidade de
interesses relativos ao espaço urbano. A Figura 12 apresenta uma linha do tempo
sobre o planejamento urbano no Brasil.

Figura 12: Linha do tempo do planejamento urbano no Brasil

O Planejamento Urbano no Brasil: Uma linha do Tempo

Aprofundamento dos Movimento de


Redemocratização Problemas Urbanos Reforma Urbana

Reforma Passos Brasília


Reforma
Plano Agache - Rio Constitucional
Plano Prestes Maia -SP
Estatuto das
Cidades

Planos de Embelezamento

Influência urbanista modernista Crise do PD Participativo


modernismo
Funcionalismo Função Social da
Cidade para a produção A cidade na mão Cidade e da
do Estado - tecnocratismo Propriedade

35
Fonte: Elaboração do Autor

7.4 O Estatuto das Cidades e o Plano Diretor Participativo

Já implícito a uma terceira fase do planejamento no Brasil, o processo de


reforma urbana e o Estatuto das Cidades rompem com a perspectiva tecnocrática e
abrem espaço para a democratização em torno da elaboração do plano. Da mesma
forma, são instituídos instrumentos que respondem ao processo de urbanização do
país, de modo que o planejamento urbano adquire um papel de indutor do
crescimento e de combate à especulação imobiliária, em lugar de seu histórico viés
autoritário.

O Estatuto das Cidades foi o resultado de uma longa batalha travada por
variados segmentos organizados da sociedade brasileira, com o objetivo de
reordenar o espaço urbano e equiparar todo o processo decisório na política
municipal. Seu aparecimento tem forte vínculo com as crescentes desregulações na
organização territorial municipal ocorrentes na década de oitenta, um período em
que as cidades brasileiras, principalmente as metrópoles, viam-se cada vez mais
contraídas pela pobreza e pelas desigualdades. Tais circunstâncias desfavoráveis
ajudaram a formar um vasto movimento organizado, de abrangência nacional, para
incluir no novo texto constitucional da época instrumentos que viabilizassem novos
direcionamentos para política urbana. Isso resultou, pela primeira vez na história do
país, numa grande vitória para as camadas populares, já que fora incluído um
capítulo específico para a política urbana prevendo novos meios de garantia da
função social da cidade e da propriedade, bem como da democratização da gestão
urbana (Artigos 182 e 183).

Desde 1988, percorreram-se 13 anos de negociações e elaborações em torno


de um novo projeto complementar aos artigos constitucionais. Apenas em 2001
publicou-se a lei que regulamentaria os Artigos 182 e 183 da constituição de 1988,
de número 10.257 ou Estatuto das Cidades. A partir de 10 de outubro desse mesmo
ano os municípios brasileiros dispunham de um novo meio de renovação no campo
do planejamento e da gestão das cidades, tendo como base novas diretrizes em prol
de uma cidade justa, acessível e democrática. A aplicação do Estatuto se realiza a
partir da elaboração por parte dos municípios de um PLANO DIRETOR, uma lei que
passa a reger e induzir o crescimento urbano e a controlar o uso e a ocupação
do solo.

Basicamente, veremos que o Estatuto possibilita uma nova concepção para


que os municípios construam seu plano diretor com vista a um ordenamento
sustentável do ponto de vista socioespacial, econômico e ambiental, articulando as
diferentes formas de uso e ocupação da terra urbana a fim de evitar ou amenizar
parâmetros de segregação, de desigualdades e de adensamento. Também
determina a participação democrática na construção e no auxílio da gestão urbana,
uma postura inovadora e estratégica que insere a comunidade nos assuntos que

36
dizem respeito à realidade urbana, ao mesmo tempo em que diminui o poder
decisório de técnicos e do governo municipal.

7.5 A falta de planejamento e suas consequências

A dinâmica de transformação das cidades, é geralmente marcada, pela falta


de infraestrutura e serviços que atendam a maior parcela da população,
caracterizando uma forma caótica de ocupação. O processo acelerado de
urbanização, por sua vez, associado à especulação imobiliária, privilegia e valoriza
algumas áreas, em detrimento de outras.

Em decorrência da dificuldade de acesso às habitações regulares e situadas


em áreas providas com satisfatórias condições ocupacionais, as pessoas carentes
de recursos financeiros, passam a ocupar lugares periféricos da cidade ou áreas que
oferecem riscos como encostas, beira de córregos, lugares insalubres. Outros ainda,
constroem habitações em núcleos favelados, ocupam cortiços que são habitações
compartilhadas, entre outras definidas como habitações subnormais. O termo
passou a ser utilizado para designar um conjunto constituído por no mínimo 51
unidades habitacionais ocupando ou tendo ocupado até período recente, terreno de
propriedade alheia (pública ou particular),de maneira desordenada. De acordo com o
IBGE, os aglomerados subnormais podem ser classificados em: loteamento irregular
e loteamento clandestino. Ocorrem ainda, áreas invadidas e os loteamentos
regulares e clandestinos regularizados.

Observamos dessa forma que há uma nítida segregação espacial urbana, o


maior problema é o crescimento dessas ocupações em direção às áreas de
mananciais e de riscos ambientais e sociais. As situações descritas, extrapolam a
região Sudeste e ocorrem em todo o país.

O crescimento urbano tornou-se desordenado devido à aceleração das


atividades secundárias e terciárias , que atraíram para as cidades grande
contingente de pessoas originárias do campo.

37
REFERÊNCIAS

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