Você está na página 1de 18
A incidéncia da norma juridica e€ 0 fato juridico MaxcsLo pa Cosra Pixto Neves Professor auxiliar da Faculdade de Dire!- to de Recife (Universidade Federal de Pernambuco). SUMARIO 1. A estrutura da norma Juridica 2, A incidéncia da norma juridica 3. © suporte tactico 4. 0 fato juridieo 4.1. Conceito e composigéo do fato juridico 4.2, Classificagiio dos fatos juridicos 4.2.1. Conforme as suas inter-relagées (SCHREIER) @) Fatos juridicos parciais ou dependentes © fatos furidicos totais ou independentes %) Fatos juridicos compativeis ¢ incompati- vels 4.2.2, Conforme os elementos constitutivos do su- Porte féctico 4.2.3. Conforme os efeltos Bibliogratia 1. A estrutura da norma juridica ‘A norma juridica tem a estrutura de um juizo. Aos juizos entitativos (ou enunciativos), cuja proposigao (1) € composta de dois termos, 0 sujeito e 0 pre- dicado, unidos pelo verbo ser (a cépula), exprimindo que algo é, tem sido (1) “A proposicéo 6 0 enunciade de um julzo” (LOUIS LIARD. Logica. Trad. de GO- DOFREDO RANGEL, 9 ed., Sio Paulo, Companhia Editora Nacional, 1979, p. 27) “La envoltura verbal del juicio se Nama proposicién” (EDUARDO GARCIA MAY- NEZ, Logica del Jutcio Juridico. México, Fondo de Cultura Econémica, 1955, p. 14). R. inf, legisl. Brositia o, 21 n, 84 out./i B4 267 ou sera de certa maneira (*), contrapéem-se os juizos imputativos (ou pres- critivos, ou atributivos) — dentre os quais se inclui o juizo juridico —, cuja fungiio é prescrever condutas aos destinatdrios do ordenamento normative, En- quanto os juizos enunciativos indicam relagSes de causalidade, os juizos nor- mativos apontam relagées de imputabilidade (*). Portanto, a pretensio de verdade é propria dos juizos enuneiativos, ao passo que a pretensio de vali- dade identifica 0s ju{zos normativos (*). Discute-se qual a estrutura relacional do juizo implicado na norma juridi- ca (5). Considerando a norma juridica geral (abstrata), Hans KELSEN carac- terizou-a logicamente como juizo hipotético. Para ele, s6 a norma priméria, que imputa a uma conduta ilicita uma sangao, apresenta um auténtico valor ontolégico. Conforme a teoria pura do direito, a norma secundéria — regula- dora da conduta licita — “resulta seguramente supérflua em uma exposigio estrita do direito”, estando contida na norma priméria, “que é a Unica norma juridica genuina”’(8). Na norma juridica estaria implicado apenas um jufzo hipottio, dado que » norma secundaria seria apenas uma varidvel nominal. Afastando-se, neste particular, do pensamento de Kezsen, escreve Lounival. Vtanova: “Como reduziu a norma proposigao priméria (norma sancionadora), deixou de perceber, cremos, que havia, na estrutura formal da proposi¢ao juri- dica integral, uma disjungao de duas implicagées, isto ¢, duas estruturas Nipo- téticas relacionadas disjuntioamente” (1). Coube & teoria egolégica, considerando 0 fenémeno juridico em sua inte- sridade, isto 6 tendo em vista ambas as possibilidades da conduta humana juridicizada, restabelecer a norma juridica em sua completude, atribuindo-lhe Mestrutura de um juizo disjuntive, Segundo Cantos Coss, la’ norma jurfdica completa, que en cuanto concepto adecuado al objeto ha de ser itiva para referirse a la posibilidad de posibilidades y no sélo a la posibilidad que se da, (2) Ct. ABELARDO TORRE, Introduccion al Derecho. 7* ed. Buenos Aires, Editorial Perrot, 1978, p. 142. (3) Sobre as diferengas entre o principio da causalidade e o principio da imputacko, y, HANS KELSEN, Teoria Pura do Direito. Trad. port. de JOAO BAPTISTA MA- CHADO. 5* ed., Coimbra, Arménio Amado, 1974, pp. 137-130. (4) V. EDUARDO GARCIA MAYNEZ. Légica det Juicio Juridico, ob. elt, pp. 58-81; LOURIVAL VILANOVA. As Estruturas Légicas ¢ 0 Sistema do Direito Positivo. 840 Paulo, R.T. — EDUC, 1977, pp. 99 © 100. (5) V. ABELARDO TORRE, op. cit,, pp. 144-146; ENRIQUE R. AFTALION, FERNAN- DO GARCIA OLANO e JOSE VILANOVA. Introduccién al Derecho. 11* ed., Bue~ nos Aires, Cooperadora de Derecho y Clencias Sociales, 1980, pp. 100-105. (6) HANS KELSEN. Teoria General de! Derecho y del Estado, Trad. esp. de EDUARDO GARCIA MAYNEZ. México, UNAM, 1979, p. 71. Neste mesmo sentido, manifesta-se este jurista, in Compendio de Teoria General del Estado. Tred. esp, de Lutz Reca- séns Siches e JUSTINO DE AZCARATE. 2* ed, México, Editors Necional, 1980, DP. 82 © 124-127; Teorfa General del Estado. Trad. esp. de LUIS LEGAZ LACAM- ‘BRA, 16* ed., México, Editora Nacional, 1979, pp. 66-65, “No habria asi en la norma secundaria ningtin nuevo objeto de conocimiento juridico” (APTALION, OLANO © VILANOVA, op. cit., p. 1038). CD Op. cit, p. 90. 268 R. Inf. tegis!. Brasilio a, 21 n. 84 out./der. 1984 tiene dos miembros, a los que proponemos Hamarlos endonorma (conceptua- cién de la prestacién) y perinorma (conceptuacién de la sancién), no sélo para terminar con el caos de las designaciones de normas primaria y secundaria que los diferentes autores usan con sentido opuesto, sino para subrayar que se trata de ura norma tnica y no de dos normas, punto indispensable para entender el concepto de la norma jurfdica como un juicio disyuntivo. (...) Si la conducta esté conforme con el primer miembro de la norma (la endo- norma), la conducta es monovalente: siempre es Hcita; si est conforme con el segundo miembro (In perinorma), la conducta es bivalente: primero es ilicita y después deviene licita” (*). © jufzo disjuntivo é um juizo complexo, sendo composto de dois juizos hipotéticos, cuja conexio proposicional & expressa pela conjungao ou. Isto infe- te-se da maneira como o préprio Cossio formula literalmente a estrutura da norma juridica: “Dada una situacién coexistencial como el hecho inicial de una totalidad sucesiva (H), debe ser Ia prestacién de alguien (P) como alguien obligado (Ao), ante alguien titular (At); 0 dado el entuerto como no pres- taciéa (no-P), debe ser la sancién del responsable ($) impuesta por un fun- cionario obligado a ello (Fo) gracias a la pretensién de la Comunidad (pC)” (°). Lounivan Vizaxova, embora concordando com a disjuntividade do juizo implicado na norma juridica, conforme Cossio, nio adota a terminologia do justilésofo argentino, denominando a endonorma de norma primdria e a peri- norma de norma secunddria, em sentido inverso do da teoria kelseniana, Jus- tifica a sua terminologia, salientando “nio ser possivel considerar a norma que néo sanciona como supérflua” e explicando que “as denominagdes adjetivas ‘priméria’ e ‘secundéria’ ndo exprimem relagdes de ordem temporal ou causal, mas de antecedente Iégico para conseqiiente légico” (1°). Preferimos a terminologia da teoria egolégica, tendo em vista que as expres- sées norma priméria e norma secunddria conduzem a entender tratar-se de duas normas, enquanto as expressGes endonorma e perinorma melhor designam os seus objetos, isto é, melhor indicam as partes (membros) interdependentes de uma mesma norma. Embora a norma juridica geral (abstrata) tenha sempre a estrutura de um juizo disjuntivo, a norma juridica individual pode apresentar a forma de um juizo categérico. Disto bem se aperoebeu KersEn: “Apenas as normas individuais podem ser categéricas, no sentido de que prescrevem, antorizam ou positivamente permitem uma dada (8) La Teorta Egoldgica del Derecho y el Concepto Juridico de Libertad. 2* ed., Buenos Aires, Abeledo-Perrot, 1964, pp. 661-662. Enfatiza o jurista argentino: “La norma Juridica mienta 1a libertad de la conducta en Ja totalided de sus posibilidades, pues considera 10 que ocurriere como deber y también lo que ocurriendo, no ocurriere como deber (es decir, lo que ocurriere como transgresién), captando asi plenamente el hecho de Ja libertad, que consiste en ser posibilidad” (op. cit, p. 938). (9) Op. cit., p, 686. (10) Op. cit, pp. 64-65. A terminologia do jurista pernambuoano coincide com a de FRITZ SCHREIER (cf. Conceptos y Formas Fundamentates de! Derecho, Trad. esp. de EDUARDO GARCIA MAYNEZ. México, Editora Nacional, 1975, pp. 154 e 240-241). R. Inf, legisl, Brosilia ©. 21 n, 84 out./dex. 1984 269 conduta de determinado individuo sem a vincular a determinedo pres- suposto”. Contudo, ele adverte que “as normas individuais também podem ser hipotéticas, quer dizer, fixar apenas como condicionalmente da a especificada conduta de um determinado individuo” (**). Vale salientar que, apenas antes de sua concretizagio mediante 0 fend- meno da incidéneia, a norma juridica geral apresenta a estrutura de um juizo disjuntivo, compondo-se de dois juizos hipotéticos interconexos. Com a inci- déncia da endonorma ou da perinorma, a norma juridiea geral, coneretizando- se, assume a estrutura de um juizo categérico. Nao é outro 0 ponto de vista de Garcta MAYNEZ: “Aun cuando parezca paradéjico, antes de la realizacién de sus supuestos toda norma es hipotética y, cuando aquéllos se producen, deviene categérica” (72). Tanto a endonorma como a perinorma compéem-se, sob o prisma légico, de um suposto (ou pressuposto, ou antecedente, ou hipdtese e neice is ou descritor) e de uma disposigéo (ou preceito, ou conseqiiéncia, ou prescri- tor), unidos pela copula imputativa (deve ser). O suposto da endonorma pode referir-se a fatos que nao a conduta (humana), embora a disposigio, seja endo- nonmética on perinormética, dirija-se sempre A conduta (humana), Dai salientar KELSEN: “Na verdade, a conseqiiéncia nao é imputada apenas a uma con- duta humana, ou — expresso na terminologia usual — a conseqiiéncia nio é somente imputada a uma pessoa, mas também a fatos ou cir- cunstincias exteriores. Mas & sempre e apenas a conduta humana que é imputada” (*°). Todavia, ha de ressaltar-se que o suposto da perinorma descreve, necessa- riamente, uma conduta (humana) ilicita, seja comissiva ou omissiva, Dado o fendmeno da consecutividade normativa, muito bem analisado por Cantos Cossto (**), é possivel que a endonorma de uma norma coincida, con- corde ou se superponha com a perinorma de outra. Isto ocorre, por exemplo, entre a perinorma que imputa uma sangio pelo inadimplemento de uma obsri- gasio tributdria e a cndonorma que impée ao fiscal de tributos a expedi lo auto de infracio. 2. A incidéncia da norma juridica © suposto da norma juridica descreve hipoteticamente os fatos naturais ou sécio-culturais que, ocorrendo concretamente, irradiam os efeitos que a dis- posigdo prescreve abstratamente. Gi) Teoria Pura do Diretto, ed, cit., pp. 154-155. No mesmo sentido, ¥. JOB SOUTO MAIOR BORGES. Lancamento Tributério, Rio de Janeiro, Forense, 1981, p. 111. (42) Introducetén at Estudio del Derecho. 31% ed., México, Porriia, 1980, p. 14. (48) Teoria Pura do Direito, ed. cit., p. 152, A respeito, afirma ainda este sutor: “En este sentido, hechos que no representan un comportamiento humano pueden entrar en el contenido de una norma de derecho” (Teorla General del Derecho y del Estado, ed. cit, pp. 3. 4). (14) Cf, op. cit., pp. 663-673, 270 R, Inf. legitl. Brosilic a, 21 n. 84 out./dex. 1984 A concretizagio dos fatos previstos no suposto constitui o fendmeno da incidéneia da norma juridica, 0 qual faz surgir, necessariamente, o fato juridico, No suposto esta representado abstratamente 0 suporte fctico, que, ao realizar- se, conduz infalivelmente a incidéncia da norma juridica. A norma incidente, qqualificando-o juridicamente, transforma-o em fato jurfdico. “A regra juridica”™ — afirma Ponts pe Mimanpa ~ “é objetiva e incide nos fatos; 0 suporte factico toma-se fato juridico” (5), E esclarece: “se aquilo que a regra juridica prevé se compée, no mundo dos fatos, incide ela, qualificando como fato juridico aquilo que foi previsto ¢ se compds” (1"), Daf denominar-se, procedentemente, de hipdtese de incidéncia (2°) 0 suposto juridico. A incidéncia da endonorma antecede, légica e cronologicamente, A inci- déncia da perinorma. A perinorma incide quando descumpridos os deveres juridicos decorrentes da incidéncia da endonorma. A incidéncia caracterizase pela infalibilidade ¢ pela inesgotabilidade. A infalibilidade (1*) decorre do fato de que, composto o suporte factico, a norma juridica incide necessariamente, imputando determinada (s) condu- ta (s) a um ou mais membros da comunidade juridica. No caso de normas juridicas ndo-cogentes, embora a sua incidéncia esteja condicionada A yontade do destinatério (39), nao se pode negar a infalibilidade da mesma. Na hipétese, por exemplo, de normas dispositivas, o macleo do suporte factico é integrado pelo fato da nio-manifestagio de vontade em sentido diverso do que estatui a norma. Ocorrendo esta manifestagio, o suporte fdotico é insuficiente, nio incidindo a norma. Nao acontecendo esta manifestag3o, 0 suporte factico torna- se suficiente, dando-se a incidéncia da norma (2°). ‘A infalibilidade da incidéncia importa que cla independe da observancia ou aplicagao da nonna (2). Malgrado a eficdcia (sentido kelseniano) — que se realiza mediante a observancia e a aplicagio das normas incidentes — cons- titua ideal de toda ordem juridica, em muitos casos, seja por inexistir obser- (45) Tratado de Direito Privado, Rio de Janeiro, Borsol, t. V (1956), § 699, n? 2, p. 225. (18) Incidéneia e Aplicacéo da Lel. Revista da Ordem dos Advogados de Pernambuco. @. 1, n. 1. Recife, 1956. p. $2. Dentro desta orientac&o, escreve MARCOS BER- NARDES DE MELLO: “A incidéncia é, assim, o efeito da norma juridica de trans- formar em fato juridico a parte do seu suporte féctico que o direito considerou relevante para ingressar no mundo juridico” (Contribuigdo @ Teoria do Fato Jurt- dico, Maceié, 1980, p. 33). (1D Expressiio que fol adotada pela grande maioria dos tributaristes brasileiros, des- tacando-se GERALDO ATALIBA, com o seu valioso trabalho Hipdtese de'Inct- déncia Tributéria, Sio Paulo, R.T., 1973, G8) Ct. PONTES DE MIRANDA, Tratado de Direito Privado. Rio de Jane!ro, Borsol, t. 1 954), § 5%, n° 1, p. 16. 19) Cf. MARCOS BERNARDES DE MELLO, Contribuigdo 4 Teoria do Fato Juridico. ‘Macel6, 1980, p. 36. (20) Neste sentido, v. PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro, Borsol, t. 3 (1954), § 250, n? 3, p, 10, @) Sobre & distincio entre observancla e aplicagfio, v. HANS KELSEN, Teoria Pura do Direito, ed. cit., p. 327; JOSE SOUTO MAIOR BORGES. Lancamento Tribu- tério, ed. cit,, pp. 92-94. R. Inf, legial. Brasilia a, 21 n. 84 out./dex, 1984 a7 vaneia ou aplicagao, seja por n&o haver coincidéncia entre incidéncia e apli- cagéo, a norma incidente torna-se ineficaz (néo é cumprida espontinea ou coativamente). A incidéncia é inesgotivel, isto &, toda vez que 0 suporte fictico realiza-se, 1a norma juridica incide, Mesmo quando a norma juridice se refira a uma tinica situagdo, estard caracterizada a inesgotabilidade da incidéncia, significando que, “sempre que o seu suporte fdctico se torrar concreto e suficiente, ela inci- diré” (#2). Néo basta que a lei exista para que possa incidir. A incidéncia da norma juridica pressupde a sua vigéncia. Embora existente, a norma jutfdica, nao estando em vigor — como, por exemplo, a lei no perfodo da vacatio legis e as normas constitucionais suspensas durante o estado de sitio (arts. 156 e 157 da Constituigéo federal) —, néo incidird. Dai conceituar-se a vigéncia como a possibilidade de a norma incidir. “Estar em vigor a lei” — salienta Pontes pe Mmanpa — “no significa que a lei jf incida, Significa, apenas, que a lei incidir” (#8). Em suma, a vigénela JP Uincidiildade da’ norma yuridico, pode A incidéncia s6 é possivel dentro do ambito de validez da norma, O am- bito de validez, conforme Kexsen (*), abrange quatro esferas: a espacial, a temporal, a pessoal e a material (%). A norma nao incide fora de qualquer destas esferas de validade, Uma Sei municipal sé incide nos limites territoriais do Municipio, As normas revogadas, ou cujo prazo de validez tenha-se esgotado, nao mais incidem. O Estatuto dos Pnciond ioe Piblicos Federais nao incide em relagio aos empregados da Unido. As normas de direito civil reguladoras do contrato de prestagao de servigo no incidem sobre as relagées tral tas. ‘Assim sendo, constata-se que o Ambito de validez (Kexsen) da norma jurfdica confunde-se com o seu ambito de incidéncia (Pontes pz Minanpa). O efeito imediato da incidéncia da norma juridica é a juridicizagio do suporte fActico, isto é a constituigio do fato juridico. Carece de rigor cienti- fico a distingao entre normas juridicas juridicizantes, desjuridicizantes e peé- juridicizantes (ou pré-excludentes de juridicidade) (**). Para que um deter- minado fato juridico seja desjuridicizado, é imprescindivel a constituigio de um outro fato jurfdico que tenha o efeito de expulsé-lo do “mundo” juridico. Ou seja, a desjuridicizagéo de um fato juridico esté condicionada a ocorréncia (22) MARCOS BERNARDES DE MELLO, op. cit,, p. 37. (23) Incidéncia ¢ aplicagdo da iei, in rev. e vol. cits., p. 52. A respelto, v. JOS SOUTO MAIOR, BORGES, Le! Complementar Tributdria, Sig Paulo, R.T. — EDUC, 1975, pp. 39-40; MARCOS BERNARDES DE MELLO, op. cit. pp. 37-39. (24) Cf. Teoria General del Derecho y del Estado, ed. cit., pp. 49-51; Teorta Pura do Direito, ed. clt., pp. 82-35. (25) Sobre a classificacko das normas juridicss desde o ponto de vista dos seus diversos fAmbitos de validade, v. LUIS RECASENS SICHES. Introduceién al Estudio del Derecho, 5* ed., México, Editorial Porrie, 1979, pp. 179-181; EDUARDO GARCIA MAYNEZ. Introduccién’ at Estudio del Derecho, ed. clt., pp. 80-88; ABELARDO TORRE, op. cit., pp. 147-148 € 160-181, (28) Disting6o formulada por PONTES DE MIRANDA (cf. Tratado de Direlto Privado, oa. elt, t 1, pp. 28 € 16) e adotada por MARCOS BERNARDES DE MELLO (cf, op. cit., pp. 46-48). 272 R. inf, a. 21 n. 84 out./der. 1984 de uma situacao factica hipoteticamente prevista na norma juridica, Sé com a incidéncia da norma sobre esta situagao féctica (: Suporte factico), juridicizan- do-a (= transformando-a em fato juridico), é que haveré a expulsio de um fato juridico do sistema. Por isso, 0 exemplo dado por Mancos BERNARDES DE MELLO, apontando o art. 1.151 do Cédigo Civil como norma juridica desjuri- dicizante (*"), 6 falho, No caso, se houve ingratidao do donatirio, o contrato de doagdo é revo- gavel pelo doador. Para que o negécio juridico da doacdo seja desjuridicizado, € indispensdvel que se realize um determinado suporte factico, composto dos seguintes elementos: 1) ingratidio do donatario; 2) manifestagio de vontade revogatéria do doador, Desta maneira, com a incidéncia do mencionado arti 1.151 sobre este suporte factico, constitui-se o fato juridico de revogacao doagio. Também a pré-exclusio da juridicidade de um suporte féctico esté condi- cionada a juridicizacio de um outro suporte fdctico. Aqui igualmente, o exemplo do prof. Marcos BERNARDES DE Mrz20, 20 indicar o art. 160 do Cédigo Civil como espécie de norma pré-excludente de juridicidade (78), mostra-se falho. Na hipétese, a legitima defesa, o estado de necessidade eo exercicio regular de um direito sio os suportes fdcticos sobre os quais incide o art. 160, transfor- mando-se em fatos juridicos excludentes da incidéncia do art. 159, ou seja, fatos juridicos que impedem a constituigio do ato ilicito. Na realidade, portanto, é completamente falso contraporem-se as normas juridicas cuja incidéncia provoca a juridicizagso do suporte factico Aquelas ‘cuja incidéncia importa a Jespanidicizayao de um fato jidico ou a pré-exclusio de juridicidade de um suporte féctico. A incidéncia da norma juridica tera sempre 0 efeito imediato de juridicizar um suporte factico qualquer. O fato juridico dai resultante é que poder ser desjuridicizante de outros fatos juridicos ou pré-excludente da juridicizagio de outros suportes fcticos, como também penas invalidante ou deseficacizante de outros fatus juridicos. Nenhuma dessas conseqiiencias realizar-se-4 sem a intermediagio de um fato juridico. 3. O suporte féctico O suporte factico é o fato (ou conjunto de fatos) natural ou sécio-cultural ao qual as normas de direito (positive) atribuem efeitos juridicos. Constitui- se dos dados-de-fato previstos abstratamente 1m hipétese de incidéncia norma- tiva. Sua realizagdo concreta implica a incidéncia da norma juridica, que o trans- forma em fato juridico. Apresenta-se, pois, como o substrato do fato juridico, embora nele possam estar inclufdos fatos jé juridicizados (28) @1) Ct. op. cit, p. a7. (28) Cf. op. eft, pp. 47-48. (@%) Cf, PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privago, t. 1, ed. cit, § 13, n? 4, pp. 34-35. © Prof. MARCOS BERNARDES DE MELLO (op. cit,, p. 26), baseado hos ensinamentos de PONTES DE MIRANDA, distingue o suporte ffctieo hipoté- tico € 0 suporte Tactico concreto. Para manter’o rigor terminolégico, empregaremos & expressSo suporte factico apenas nesta wltima acepeo. O que ele denomins. suporte factico hipotético identifica-se com o conceito de Aipétese de incidéncia (ou suposto, ou antecedente, ou pressuposto, ou descritor) . 1. Inf, lepisl. Brass a. 21 n, 84 out./dex, 1984 273 O suporte factico, seja um fato natural ou sécio-cultural, nao entra no “mundo” juridico com sua estrutura ¢ contetido origindrios, como bem enfatiza PonTes DE Miranpa: “Nao entra, sempre, todo ele. As mais das vezes, despe-se de aparéncias, de circunstancias, de que o direito abstraiu; e outras vezes sc veste de aparéncias, de formalismo, ou se reveste de certas circuns- tancias, fisicamente estranhas a ele, para poder entrar no mundo jurfdico” (*°). Daf ressaltar Kant, Encisow que, “nas regras juridicas, nao é uma situagio de fato em si dada que ¢ conceitualmente fixada e tornada objeto de enunciados cognitives, mas, antes, as situagbes da vida que sao demarcadas ¢ por assim dizer recriadas (...) como pressupostos de certas conseqiiéncias juridicas” (*). Numa linguagem metaférica, pode-se afirmar que a norma incidente “purifica” © suporte factico, elevando-o A categoria dos fatos juridicos. O suporte factico pode ser simples ou complexo, conforme seja composto de um imico fato ou de um grupo de fatos. Em regra, o suporte factico é complexo {#), rele sobrelevando-se 0 nicleo. O miicleo (ou cerne) ¢ a parte do suporte factico de cuja composigio depende a prépria “existéncia” do fato juridico (8), Distinguem-se, pois, 0s elementos que integram o nticleo (com- pletantes) e os elementos que apenas o complementam (complementares) (8), Enquanto os primeiros referem-se a “existéncia” do fato juridico, os segun- dos produzem conseqiiéncias tio-s6 quanto & validade ou & eficécia do mesmo. Para que a norma juridica incida, é imprescindivel a suficiéncia do suporte factico: o suporte factico insuficiente nao se transforma em fato juri- dico. Quando se trata de suporte factieo simples, o problema se resume A verifi- cacao da ocorréncia do fato normativamente previsto. Em se tratando de suporte factico complexo, cabe constatar se todos os seus elementos nucleares se compu- seram (%8), Quando a vontade é elemento relevante (atos juridicos lato sensu), 0 suporte fdctico pode ser eficiente ou deficiente. Ao passo que a insuficiérrcia do suporte factico implica a “inexisténcia” do fato jnridico, a deficiéncia importa- The tao-somente a invalidade ou a ineficdcia. O suporte factico é deficiente por lhe faltar qualquer dos seus elementos complementares (**). (30) Tratado..., I, ed. cit,, § 7 m° 1, p. 20. Neste mesmo sentido, v. LOURIVAL VILA- NOVA, op. cit, pp. 46-47. (1) Introdugo ao Pensamento Juridico, Trad. port. de J. BAPTISTA MACHADO. 3* ed., Lisboa, Fundagio Calouste Gulbenkian, 1977, p. 20. (82) Cf, PONTES DE MIRANDA, Tratado...., I, ed. clt., § 8, n® 5, p. 25. (38) Cf, PONTES DE MIRANDA, Tratado. .., I, ed. clt., § 13, n® 2, pp. 93-34; MARCOS: BERNARDES DE MELLO, op. cit, p. 28. (4) Cf. PONTES DE MIRANDA, Tratado..., III, ed, clt., p. 12; MARCOS BERNAR- DES DE MELLO, op. elt., p. 29. (35) Ct. PONTES DE MIRANDA, Tratado, BERNARDES, op. cit, pp. 42-44. (86) Of, PONTES DE MIRANDA. Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro, Borsol, t. 4 (1954), § 356, n° 1, pp. 3-4; MARCOS BERNARDES DE MELLO, op. cit., pp. 4-48, I, ed. clt., § 9° © $ 10%, n? 6; MARCOS 274 R. Inf. legisl. Brosilia @, 27 nm, 84 out./dex. 1984 4. O Fato Juridico 4.1 Conceito ¢ composigao do fato juridico Quando qualificado pela norma juridica incidente, 0 suporte fiietico trans- forma-se em fato juridico, “Fato Juridico” — define Pontes Dz Minanpa — “é © suporte factico que o direito reputou pertencer a0 mundo juridico” (27). Conforme afirmamos anteriormente, quando convertido em fato juridico, © suporte féctico perde sua estrutura e seu contetdo origindrio. Nem todas as propriedades do fato natural ou sécio-cultural previsto na hipétese de inci- déncia tém relevancia juridica. Como salienta Lountvar Vitanova, “o que determina quais propriedades entram, quais nao entram, 6 0 ato-de-valoragio que preside & feitura da hipétese da norma” (**). Dai declarar PoNTES Dr Muranpa que “o fato juridico é 0 que fica do suporte factico suficiente, quando a regra juridica incide e porque incide” (3). Por outro lado, .a norma juridica incidente acrescenta novas propriedades ao suporte factico. Vale salientar, igualmente, que nem sempre o desaparecimento ou a trans- formagao do suporte factico implica a extingio ou a modificagio do fato juri- dico e vice-versa. “La extinciért de la situacién de hecho natural” — afirma Scumern — “no significa necesariamente Ja desaparicién del hecho juridico. Por otra parte, el hecho natural puede perdurar ain cuando el juridico hay sido aniquilado” (#). O exemplo dado pelo jurista austriaco é bastante escla- recedor: “El fallecimiento real del ausente, verbigracia, es juridicamente irrelevante mientras no existe una declaracién de muerte” (*"), Assim como se devem distinguir 0 suporte factico e 0 fato juridico, hé de evitar.se também a confusio entre fato juridico ¢ suposto juridico (hipétese de incidéncia). Sem rigor conceitual e terminolégico, Frrrz Scrmuzen indenti- ficou 0 fato juridico e o suposte juridico, discorrendo: “Por lo que toca, en primer término, a la palabra hecho juridico, hay que advertir que consideramos como sinénimos los vocables hecho jurfdico y supuesto juridico. La expresién hecho juridico es induda- blemente equivoca, ya que también se usa para designar un hecho real, temporalmente focallzado. No creemos, sirt embargo, que estas dos significaciones puedan ser confundidas y, en consecuencia, preferi- mos emplear la expresién consagrada por Ia terminologia juridica tradicional, pero en el sentido de supuesto o hipétesis juridica” (42). Em realidade, porém, como observa Gancia Maynez (*), 0 fato furidico, enquanto conceito ontoldgico-juridico fundamental, é 0 correlato, no plano GD Tratado..., 1, $7, n? 1, p. 20. (8) Op. cit, p. 46. «30) Tratado..., I, #23, n° 1, p. 71. (40) Conceptos y Formas Fundamentales del Derecho. Trad. esp. de EDUARDO GAR- CfA MAYNEZ. México, Editora Nacional, 1975, p. 177. AD Op. cit, pp. 148-147, 42) Op. cit, p. 145. (43) Cf. Logica del Concepto Juridico, México, Fondo de Cultura Econémica, 1959, p. 175. R. Inf. legisl. Brovilie a, 21 9, 84 out./dex, 1984 "a5 da conduta, do suposto juridico, o qual se inclui entre os conceitos légico-juri- dicos fundamentais, Enquanto o suposto é elemento da norma juridica abstrata, “o fato jurfdico nao é parte sua, senio realizagfio da hipdtese que a norma abstratamente formula” (*). Do exposto, infere-se que 0 fato juridico niio é um objeto puramente tdeal, tampouco um objeto simplesmente rea?. O fato juridico é composto do suporte fActico, que é 0 seu substrato, mais @ sentido ou significado que a este atribui a norma juridieca incidente. O suporte factico é o seu componente real, existencial; a norma juridica incidente confere-lhe 0 componente ideal (o sentido ou significado juridico). Mesmo quando 0 suporte factico 6 composto de outro fato juridico, este incor- pora ao novo fato jurfdico o seu substrato real. Diante de tudo isto, constata-se que nio foi bem formulada por ScHRetER a chamada lei da causalidade juridica: “No hay consecuencias de derecho sin supuesto juridico” (45). Conforme sustenta Garcia MAxnez, “lo que produce las consecuencias de derecho no es el supuesto de Ja norma, sino su re¢ y aquéllas no fungen como elementos de un juicio, sino de una relacién juridica” (**). © suposto juridice e a disposigio normativa apenas prevéem abstrata- mente os fatos e efeitos juridicos, respectivamente. Os efeitos juridicos s6é 880 produzidos quando, incidindo a norma juridica sobre o suporte factico, constitui-se o fato juridico. Portanto, com rigor conceitual e terminolégico, pro- pomos a seguinte formulacéo da denominada lei da causalidade juridica: “Nao ha efeito juridico sem fato jurfdico” (*7). 4.2 Classificagdo dos fatos juridicos 4.2.1 Conforme as suas inter-relagdes (Scuneten) a) Fatos juridicos iais ou dependentes e fatos juridicos totais ou independentes " Segundo Frrrz Scuneren (**), ao fato juridico que é condigao necesséria e suficiente da conseqiiéncia de direito, ou seja, que produz por si s6, indepen- dentemente de qualquer outro fato juridico, os efeitos juridicos previstos na disposigfo normativa, d4-se a denominagio de fato juridico total ou indepen- dente; ao fato juridico eujos efeitos juridicos sé se irradiam quando da exis- téncia de um ou mais outros fatos juridicos, da-se a de fato juridico parcial (4) GARCIA MAYNEZ. Filosofia del Derecho, México, Porria, 1974, p. 348. Refutando diretamente Schreier, escreve este autor: “El hecho juridico no es supuesto de las nomas atributivas y prescriptivas, sino reallzacién de la hipdtesls que cade una de ellas formula” (Légica del Concepto Juridico, ed. cit., p. 176). (45) Op. cit., p. 146. (46) Légica del Concepto Juridico, ed, cit. p. 166. “No terreno juridico, regre juridica suporte factico devem concorrer como causas do fato juridico, ou das relagdes Juridicas” (PONTES DE MIRANDA, Tratado..., I, § 23, n? 2, p. 77). (KD Sobre @ causalidade juridiea, v. PONTES DE MIRANDA, Tvatado..., 1, # 6, pp. 18-19, (48) Cf. op, cit, pp. 147-148, 276 R. Inf, legisl, Brovilio o, 21. 0. 84 out./der, 1984 ou dependente, Os fatos juridicos parciais podem ser absoluta’ ou relativamente dependentes: “Absolutamente dependientes son los hechos juridicos que por si mismos to engendran ninguna consecuencia, es decir, aquellos: que s6lo producen consecuencias de derecho cuando forman parte de un hecho juridico total. (...) Relativamente dependientes son los hechos juridicos que pueden producir por si determinadas consecuencias de derecho, pero no otras, que solamente engendran cuando se aotay nuevos hechos juridicos relativa 0 absolutamente dependien- tes” (4°), Criticando a classificago do jurista austriaco, Garcia MAynez sustenta que “los amados por él absolutamente dependientes en rigor no son hechos juridicos, ya que no pueden, por si, esto es, independientes de los demas que fungen ‘como elementos del hecho juridico total, producir efectos juridicos” (5). Entre- tanto, ha situagdes em que a norma juridica incide sobre 0 seu suporte fActico, transformando-o em fato juridico, mas este no produz imediatamente os efeitos previstos na disposigao normativa, os quais sé se irradiario quando da ocor- réncia_de um fato juridico futuro (1), Exemplificando: os efeitos furidicos especificos do testamento estio condicionados A morte do testador, nem por isso pode negar-se que 0 ato de testamento seja_um fato juridico. Portanto, malgrado a definiggo de Scunern ter sido mal formulada, podendo levar a equivocos, néo se confurtdem os fatos juridicos absolutamente dependentes e os simples elementos do suporte factico de um fato juridico. Com base na classificaco acima considerada, Scuneier distinguiu a fusiio unilateral e reciproca dos fatos juridicos: “En el caso de la fusién unilateral, la consecuencia del hecho juridico fundante puede producise ain’ cuando el supuesto juridico fundado no se realice, (...) Entre los hechos juridicos reciprocamente i se encuentran aquellos relativamente a los cuales la conse- cuencia del hecho juridico fundante se halla condicionada por la reali- zacién del hecho juridico fundado. La relacién de fusién es, pues, reversible, porque cada hecho parcial ... es, al mismo tiempo, fun. dante e fundado. Ocurre esto en el caso de los hechos absolutamente dependientes” (5). Contudo, também em se tratando de fatos juridicos relativamente depen- dentes, encontram-se casos nos quais hd relagio de fusao reciproca, sendo necesshrio, nestas hipéteses, que o fato juridico seja “qualificado em uma forma especifica” (5). (49) FRITZ SCHREIER, op. elt, pp. 149-150. (50) Filosofia det Derecho, ed. cit., pp. 353-354. (51) Nestas hipéteses. segundo a terminologia de PONTES DE MIRANDA (cf. Trata- do..., I, ¥ 5°, n° 2, pp. 16-17), ha a eficdcia da regra juridica ou nomolégica, mas ainda no hi a eficécia furidica. (2) Op. cit, pp. 151-153. (63) FRITZ SCHREIER, op. cit, p, 153. R. Inf, legisl, Brasilia @. 21 n, 84 out./dex, 1984 27 B) Fatos juridicos compattoeis e incompativeis Os fatos juridicos compativeis somam suas conseqiiéncias ou, ao constitui- rem um fato jurfdico total, produzem unitariamente novos efeitos. Como bem define Gancia MAynez, expressando 0 pensamento de Scunezer, “un hecho ju- ridico es incompatible con otro si, al enlazarse con él, aniquila sus efectos” (*), O exemplo mais sensfvel desta categoria esta constituido pela condigao reso- Jutéria: “sua realizagio produz o efeito de aniquilar o fato juridico sujeito & tal condigao” (5). Scemern classifica os fatos juridicos incompativeis em duas espécies; os absoluta e os relativamente incompativeis. “En primer lugar” — afirma ele —, “tenemos hechos juridicos absolutamente incompatibles (negativos), que no pueden desempeiiar mAs funcién, al encontrarse con otros hechos de determinada especie, que la de aniquiiar a estos iltimos. Co} Ejemplos: desistimiento, revocacién, renuncia, rescisién, En segundo lugar, hay hechos jurfdicos relativamente incompatibles, que tienen significacién juridica propia, ya sea como hechos juridicos dependientes o independientes; pero que, al encontrarse con otros hechos juridicos de determinada especie, los aniquilan, La muerte de un hombre, por ejemplo, es supuesto juridico del derecho hereditario, pero al mismo tiempo destruye determinados hechos juridicos. Asi, por ejemplo, la pena desaparece con la muerte del condenado” (). Salienta ScHReten que a distingdo entre fusio unilateral e reciproca também 6 aplicdvel aos fatos juridicos incompativeis. “Existe fusién reciproca” — discorre ele — “cuando la incompati- bilidad es reversible, es decir, cuando los hechos juridicos se destruy reciprocamente, de tal suerte que todas las consecuencias juridicas existentes desaparecen. (...) También existe la posibilidad de una fusién unilateral, la cual ocurre cuando la consecuencia juridica del hecho fundante resulta aniquilada, en tanto que el hecho juridico fun- dado tiene una nueva consecuencia de derecho, Es claro que esta figu- ra sblo es posible cuando el hecho fundado es relativamente incompa- tible, porque a un hecho juridico absolutamente incompatible no se le puede imputar ninguna consecuencia de derecho” (*). Retificando o mestre austriaco, é de afirmar-se que, em se tratando de fusio unilateral, o fato fundado jamais sera absolutamente incompat{vel, porque, em caso contritio, ele néo produziria nenhum outro efeito que o de aniquilar o fato fundante. (54) Introduccién al Estudio dei Derecho, ed. cit., p. 179. (85) FRITZ SCHREIER, op. cit., p. 176. ($6) Op. cit, p. 178. v., a respeito, GARCIA MAYNEZ, Filosofia del Derecho, ed. clt., ‘PP. 366-356, @D Op, eit, pp. 178-170. 278 R, Inf. legis}. Bravitio o, 21 9, 84 out./dex, 1984

Você também pode gostar