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D.W. Winnicott TUDO COMEGA EM CASA Martins Fontes So Paulo 2005 Preficio IX Agradecimentos XI Psicandlise e ciéne rmigas ou parentes? XII PRIMEIRA PARTE Saitdee doenga 1 Oconceito de individuo saud Vivende de modo eriativo 23 Sum: ew son 40 Ovonceitodefalsoself $3 Ovator da depressao 59 Agressdo, culpa e reparagio 69 ar A delingiiéncia como sinal de espera Tipos de psicoterapia 93 Acura 105 SEGUNDA PARTE Afanitia U5 A contribuigto da mite para a sociedade 117 Fontes tilitora Lida Acrianga no grupo familiar 123 Oaprendizado infantil! 137 Aimaturidade doadolescente 145 TERCEIRA PARTE Reflexes sobre asociedade 165 Onentare oinconscleave’ 467, ‘Olaré nosso ponto de partida, A medida que crescemos O preco de desconsiderar a pesquisa psicanalitica 171 (© mundo se tora mais estzanho, mais complexos os padrbes Estefeminismo 183 Demorrere viver, Noo momento intenso Isolado, sem antes nem depois. Apilulaealua 197 ‘Mas uma vida ardendo em cada momento. Discussdo dos objetivosda guerra 215 Os muros de Berlim 229 TS. Euior, “Bast Coker", Four Quartets Aliberdade 237 Algumas reflexes sobre o significado da palavra “democracia” 249 Olugar da monarguia 273 XVM Td comer em casa Como na hipnose, coisas surpreendentes acontecem na psi- jo surpreendente. Vio acontecendo ppasso a passo e, quando ocorrem, ocorrem por seremn aceita- vveis para o paciente, Nao posso fornecer material psicanalitico ‘espetacular. Seria mais facil fornecer exemplos de mudangas ¢s- lares em psiquiatria infantil; mas em psicandlise propria fa o paciente ¢ o analista labutam dia apés dia até 0 srmino do tratamento. Por exemplo, um homem vem para a analise por no poder se casar. Gradualmente ele vai se revelando, ¢ descobre que: 1) tendéncias heterossexuais saudaveis sofriam a interferéncia de 2) identiticagao ferinina como fuga & homossexualidade & 3) tabu do incesta aceito de modo cuidadoso de fo, ele ficava livre para ter qualquer moca, porque n amie’do complexo de Edipo. Gradualment » que constitu fa mo, cuja existénc’ profundos ou mi raizes do self n precoces do amor a impulso primitivo. Resultado cura dos sintomas, mas uma personalidade de base mais larga, ais rca em sentimentos e mas tolerante em rego a0s outros, filkos e em sua capac colhida esposa, Ao mesmo tempo, seu trabalho se desenvolve com mais impulso e originalidade. Acestatistica no poderia mostrar essas mudancas. Primeira Parte Saude e doenga O conceito de individuo saudavel alestra proferida na Royal Medico-Psychological Issociation, Psychotherapy and Social Psychiatry Section, de marco de 1967 Preliminares Usamos as palaveas “norm wudavel” quando nos seferimos a pessoas, ¢ provavelmente sabemos 0 que queremos dizer. De tempos em tempos pode ser proveitoso tentar expli- far 0 que queremos dizer ~ sob 0 risco de dizer 0 Sbvio ou de scobrir que nfio conhecemos a resposta. Seja ki como for, ‘nosso ponto de vista se modifica através das décadas, de modo que uma afirmagio que servia para os anos 40 pode ser quase Jos anos 60. Nao vou comeyar citando outros autores que abordaram 0 assunto. Permitam-me dizer de saida que amaioria de meus con- ceitos deriva dos de Freud, Espero nao incidir no erro de pensar que se pode avaliar um em ou uma mulher sem levar em conta seu lugar na soci dade, A maturidade individual implica movimento em direcao a independéncia, mas nao existe essa coisa chamada déncia”. Seria nocivo para a salide o fato de isolado a ponto de se sentir independente € essa pessoa esta viva, sem: da enfermeira de um sanatério ou da fa No entanto, vou estadar 0 conce’ porque a satide social depende da saiide individual; a socieda- 4 Tudo comesa em casa de nfo passa de uma duplicago maciga de individuos. A so- € ndo pode avangar mais porque a sociedade tem que cuidar de seus membros enfermos. A maturidade associada @ idade Em termos de desenvolvimento, pode-se dizer que a saiide Pode-se dizer que um ambiente satisfatorio ¢ aquele que as varias tendéncias individuais herdadas, de tal forma © desenvolvimento ocorte de acordo com elas. Heranga e trio comega com um alto grau de adaptagdo as necessidades individuais da crianga. Geralmente a mae é capaz de prové-lo, or causa do estado especial em que ela se encontra, o qual de- eocupagzio materna primar crescente necessidade que bebé tem de experimentar reagiies 4 fiustragdo. A mae saudavel pode retardar sua fungio de néo conseguir se adaptar até que o bebé tenha se tornado capaz de dades da mae, Trauma significa quebra de continuidade na exis- s feng de um individuo. E somemte sobre uma continuidade no queo sentido do self, de se sentir real, de ser, poi © estabelecer como uma caracteristica da persona~ 4s imter-relagoes made-bebé Desde o inicio, mesmo quando o bebé est vivendo num do subjetivo, a saide no pode ser descrita em termos ape- individuais. Posteriormente torna-se possivel pensar numa guir claramente entre o eu € o nio-cu, entre 0 ado e os fendmenos da realidade psiquica pes- ¢ tena algo de ambiente interno. Estou me referindo ao processo bidirecional em que acrian- ive num mundo subjetivo e a mae se adapta, c ‘medida que a crianga fica mais velha) de introduzir o principio da realidad, ao mesmo tempo que devolve a crianga a crianga. Meu objetivo aqui, no entanto, nio é estudar a evolugio do meio ambiente. eo cece Tudo comeca As zonas erdgenas Na primeira metade do sé toda avaliagao da satide precisava ser feita em termos do estégio em que se en- contrava o id, de acordo com as predominancias sucessivas das zonas erdgenas, tem validade. A inhas que come- (de trés a seis que pertence ao sexo adulto. a se ajustaa esse pad jo como um fendme- comegando a compreender. Hoje em dia, rapazes e mogas pi ‘guem experimentar a adolescéncia como um per de outros no mesmo estado, ¢ a taref z io novos. possa haver doen , € nao oferecer ajuda le sejam suicidas aos quatorze , eédeles a tarefa de aratados ~ sua propria imaturidade, suas propri vas A pubei mu , suas préprias idéias do que é vida lescentes nos enviar: Nao precisamos encorajar os adolescentes que tém difi- cculdades pessoais € que tendem a ser desafiantes enquanto ainda dependentes; eles realmente nio necessitam de encoraj 0. Lembramos que as fases finais da adolescéncia cons! ‘wer uma idade de aquisig&es excitantes, em termos de aven- turas, de tal modo que a emergéneia de um rapaz ou uma moga da adoleseéncia para os primérdios de wma identificago com ridade ou a maternidade e com a sociecade responsivel € algo bom de se ver. Ninguém poderia dizer que a palavra 8 Tudo comera em casa “satide” & sindnimo da palavra “facil”. Isso ¢ especialmente verdadeiro na area de conflito entre a sociedade e seu contin- gente adolescen Se prosseguirmos, come¢aremos a diferente. Esta segao_ ar uma linguagern nos de impulsos do id e quando a genitalidade plena j4 é uma caracteristica, tendo car durante a idade que prece- em algum lugar, com se se grau de constincia objetal. Eles precisam ser capazes de caval- gar os instintos, em vez de serem esmigalhados por eles. s da aquisigéo da genitalidade plena, a maturi- 1 saiide, assume uma forma especial quando o adoles- que pode se tornar pai. E conve ie um rapaz que gostaria de s wlmente e que desempenhe sua capacidade g: ‘em sta plenitude; ¢ fambém que uma moga que deseja ser igual A mie soja capaz de sonhar heteross ‘orgasmo genital na relagao sexual. O teste €: seré que a experién- cia sexual pode ser acompanhada de um. fi- cctos, a doenga é um incd- modo, ¢as inibigdes podem ser destrutivas ¢ crugis em sua ago. ‘A impoténcia pode machuear mais do que 0 estupro. No entanto, hoje em dia néo nos sentimo com uma avaliagao da satide cm termos das posiges do id. E mais ficil descrever os processos desenvolvimentais em relacao & fun em termos do ego e de sua complexa evolugio, mas mesmo assim o segundo método no pode ser evitado, Temos que ten- tar fazé-lo, 9 sturidade na vida instintiva, existe 0 risco de 10, na personalidade, no carater ou no com- Deve-se ter 0 cuidado de entender a pode operar como uma fiungo par ie 0 Sexo possa parecer estar funcionando bem, a ide por essas coi luo de acordo com o comporta- fendmenos de superficie. Estamos preparados para com a riqueza do que com a pobreza enquanto qualidade lade psiquica pessoal, 0 individuo e a sociedade ‘Se partirmos do principio de que se alcangou um gran ra- a relacdo que ele ou ela mantém com a sociedade — uma cxtensio da familia, Digamos que um homem ou uma mulher saudéveis sejam capazes de alcancar uma certa identificagao a sociedade sem perder muito de seus impulsas in E claro que deve existir alguma perda, no sentido © impulso, mas uma identificacdo extremada com 1 sociedade acompanhada de perda do seff, e da importincia do seff, nio & normal de modo algum. Se fica claro que no nos satisfazemos com a idéia da satide como uma si ia de doenga psiconeurstica a, de distirbios relativos 4 progressdo das posigaes do id em diregdo & genitalidade plena c & organizacao de defesas re- lativas & ansiedade e a relagdes interpessoais — podemos que, em tal context, a satide nao é Facil. A vida de um in idavel & caraeterizada por medos, sent principal é que o homem ou a propria vic ou pela inatividade, ¢ sejam capazes de assumir os aplausos vensuras pelas individuo emer fe em termos das posigdes do id fica do ego. Um exame do is do que & a base da ass ‘com sucesso, por alguém que com o individuo; o que se exige & a capacidade de se ider de perceber como o bebe jome pessoal mbém estou procurando presenta par 1 dria que cons- senvolver emocionalmente. ‘Vou tomar trés exemplos. No caso de um bel , 0 fenémeno da desintegragdo é uma caracteristica, especialmente o medo da desintegracdo ea organizagao patolégica de defesas destinada a dar um alerta, arcanjo sofis venir uma repetig&o da desi tegragiio.) A integragio cesso de tal tipo que certas caracteristicas da vida infantil ree- parecem na psi Na vida adulta, a integracdo é usuftuida com um sentido cada vez mais amplo do termo, que se aproxima da integridade Tudo comega en casa o sonho, pode ser ad: associada pode ser accita, especialmente porque o relaxamen- to esté associado a criatividade, de modo que € a partir do esta- do nifo-integrado que o impulso criativo aparece e reaparece, ‘As defesas organizadas contra a desintegragao roubam uma pre- para o impulso eriativo e impedem, portanto, uma vida ecto). Grande gurd-la, manip Retornando & psiqui uma conexo muito frouxa ente a psique (ou seja lé como se cchame) e 0 corpo suas fungdes. Pode ser até que a psique se f¢ do soma por um periodo considerdvel, ou que esteja projetada. Fm pessoas saudiveis, 0 uso do corpo e de suas fangbes & ‘uma das coisas prazerosas da vida, € isso se aplica de modo es- pecial is criangas e aos adolescentes. Aqui aparece outra vez uit relagdo entre doenga esquizdide e saude. E uma pena que pes- eT a [pessoas que pensam — corto no estudo de Balint, 20 discutir Khan (erm Proton of onan Pere Behavior, 1952) ~que mt prt experi vim ca prnimicade da wovnepaci, pour 8, 'veis tenham que viver em corpos deformados, doen- ou permanecer famintas ou softer grande dor! indo relagdes objetais .¢ examinar 0 estabelecimento de relagées objetais modo que 2 coexisténcia psicossomitica e o tema lo da integrag&o. O proceso maturacional impulsio- "6a relacionar-se com objetos; no entanto, isso s6 pode nte quando o mundo é apresentado ao bebé jo de forma a que o bebé see com um suprimento da experiéncia de onipoténcia, itui o alicerce apropriado para que ele, depois, entre se assunto para a de Na doenga esq io de relagies objetais fracassa: 0 pacie 1 mundo subjetivo ou matogra em se relacionar com qual- objeto fora do self. A onipoténcia ¢ assegurada através de (os. O paciente se retrai, fica fora de contato, estupidifica- wulnerdvel e assim por na grande parte da vida saudavel tema inodalidades de relacionamento objet coms virias com um proceso de “4 Tudo comera em casa “yaivém” entre o relacionamento com objetos externos ¢ inter- nos. Isso é uma questo de pleno usufruto das relagGes interpes- soais, embora os residuos do relacionamento criativo ndo se percam fazendo com que cada aspecio do relacionamento obje- tal seja excitante. ‘A satide aqui inclui a idéia de uma vida excitante & gia da intimidade. Todas essas coisas andam juntas ¢ combi- nam-se, na sensagao do se real, de sere de haver expe- ica interna, enrique- condo-a, dando-Ihe diregiio. A conseqiiéncia é que 0 mundo interno da pessoa sauclivel relaciona-se com o mundo real ou ext © mesmo assim é pessoal e dotado de uma vivacidade propria, Identificagées projetivas e introjetivas acontecem a todo instante. Segue-se que a perda e a ma sorte (e, como eu disse, vel que para aguele que é psicologicamente imaturo ou deforma- do. Deve-se permitir que a saiide assuma seus proy Recapitulagdo Neste momento da discussfio precisamos definir nossos termos de refe mos decidir se vamos restringir 0 1s medida, sio candidatas a viver alegremente a aprovei- da, E hii as que soferam experiéncias traumaticas, pro- e que necessitam car- '5 (ou 0 material para brangas) do estado em que se encontravam no momento io candidatas a levar vidas tempestuosas € eles que perderam a anco- tendéncia 20 desenvolvimento saudivel, e cujas sito rigidamente organizadas, sendo a pripria rigidez entos posteriores. Nao podemos es- a palavra “satide” a esse estado 38 caso parece pel 0 sadio. agarrar-se, ainda que tar fuga em diregiio A sanidade coma doenga; na do & 16; ee _— Tudo comega en caso verdade, a satide tem muito a ganhar quando se mantém em con- tafo com a doenga em todos os seus aspectos, especialmente com aquela doenga denominada esquizbide, e com a dependéncia. Entre o dois exiremos, ou seja, entre o primeiro grupo, dos afortunados, ¢ 0 segundo, dos desafortunados (no que tange a0 suprimento ambiental), hd uma grande quantidade de pes- soas que conseguem esconder, com sucesso, uma ceria neces- sidade de se encamninharem para o colapso, mas que no softer. colapso de fato, a nfo ser que fatores ambientais detonem a si- tuago. Isso pode tomar a forma de uma nova versio de trauma, ‘ou pode ser que um ser humano confiavel tenha aumentado as esperangas: Portanto, perguntamo-nos: qual a amplitude do espectro 1S — que conseguem vencer apesar daquilo que carre- o (genes, desapontamentos precoces ¢ experiéncias que devemos incluir entre os saudiveis? Temos que ‘em conta o fato de que nesse grupo hii muitas pessoas cujo desconforto e cuja ansiedade os impelem a realizagées le muito jonam o maundlo em algumna dren da cié ‘ou da politica, Nao sou obri- de pes me as pessoas uma fachada, um falso self para lidar com o mundo, tendo essa fachada se transformado numa defesa contra o verdadeiro self: (O verdadeiro self foi traumatizado e nto pode mais ser encon- 7 isco de ser novamente ferido.) A organizago de um fa facilmente na sociedade, embora ela pague .embora o falso w 40 coneeito kleiniano de defesa maniaca: onde hi pressdo, que é negada — por processos inconscientes, & ‘os sintomas da depressio aparecem nas formas opos- idade em vez de de © assim por diante) Isso nfo é saitde, emb em ter~ lc descanso, ¢ também mantenha um vinculo alegre com nna medida em que, para as pessoas idosas, a vivacida- imagio dos jovens é com a idade, io quer saber: 0 assunte depresséio — um prego que se pela integragiio. Nao seré possivel ropetir aqui o que te- ito sobre o valor da depress, ou i te A capacidade de se sentir deprimido, sendo que humor nido esta proximo da capacidade de se ssponsé- entir culpado, de sentir arrependimento ¢ de sentir quando as coisas correm bem, No entanto, é verdade que mesmo que terrivel, tem que ser respeitada como cia de integragao pessoal li forgas destrutivas compticadoras na docnga, aquelas worecem, dentro do i lidade a delitios persecutérios, Nio estou smentos fagam parte da sauide. E necessi- no entanto, incluir, num estudo sobre a saide, a seriedade we tem ligagdes com a depressio, relativa a individuos que “resceram no sentido de se tornazem integros. Fi na personal «le dessas pessoas que podemos encontrar riqueza e potencial, B Tuco eameca en Omissoes Procisei omitir 0 assunto especifico da tendéncia anti-so- cial, Isso se relaciona com a privagio, ou seja, com o fim de um bom perfodo que termina numa certa fase do crescimento da crianga em que ela podia conhecer mas nao lidar com os seus resultados. Jo € 0 methor lugar para escrever sobre a agressio. Permitameme dizer, no entanto, que siio justamente os mem- bros doentes de uma comunidade aqueles que so compelidos, ivagdes inconscientes, a ir para a guerra ea executar atos ue, & guisa de dete centio a destruir 0 mundo, um mundo que os aniquilou, a cada um individvalmente, na 0 objetive da vida Finalmente, gostaria de enfoc saudivel & capaz de viver. O que é a vida? Nao pr resposta, mas podemos chegat a um acort xima do SER do que do sexo. Disse Lorelei ‘bom, mas uma pulscira de diamantes dura para se sentir real cizem respeito essencialmente a satide, e s6 se garan- tirmoso ser é que poderemos partir para coisas mais objetivas. Sustento que isso nao & apenas um julgamento de valor, m {que hd um vinculo entre a satide emocional individual ¢ 0 sen- timento de se sentir real. Nao hi diivida de que a grande maioria das pessoas dio como certo que se sentem reais, masa que pre go? Em que medida estardo elas negando um fato, ou seja, que poderia haver o perigo de elas se sentirem irreais, possuidas, ‘ou de ni serem elas mesmas, de sucumbirem para sernpre, dng praderem a orientagdo, de serem desligadas do priprio corpo, I sentirem aniquiladas, de no serem nada ¢ ndo estareim wr nenhum? A saiide nio esta associada & negagdo de yuma. s vidas Vou terminar falando sobre as trés vidas que as pessoas Weis experienciam, 1A vida no em queas telagdes interpes wem.a chave até mesmo para o uso do ambiente ndo- 2. A vida da realidade psiquica pessoal (is vezes cham ma). E aqui que uma pessoa é mais rica do que outra, ¢ 's profunda, e mais interessante quando criativa, Inelui sonhos: 0 que emerge a partir do material dos sonhos), Todos vocés estio familiarizados com essas duas vidas, € «de que ambas podem ser exploradas como comega como um jogo ¢ conduz ao ninio da heranga humana, incluindo as artes, os mitos da bis- ia, a lenta marcha do pensamento filos6fico e os mist matematica, da administragio de grupos ¢ da ‘Onde situar essa terceira vida, a experi 10 que ela possa ser situada na realidade psiquica interna, is ndo é um sonho —& parte da realidade compartilhada. Mas se pode dizer que seja parte dos relacionamentos externos, pois é dominada pelo sonho. Ela é a mais varidvel das trés vidas, -m certas pessoas ansiosase impacientes ela ndo tem praticamen- tc representagdo, enquanto em outras ela & a parte importante Tad comes em ca da existéneia humana, a parte que 0s animais no desenvolve- ram, Essa rea nfo aparece apenas como atividade lidica ou senso de humor; aparece também na forma de toda a cultura acum mos cinco ou dez mil anos. O intelecto bem- dotado pode operar nesta érea. Fla ¢ um subproduto da satide. ‘Tentei trabalhar na localizacio da experigncia cultural; fiz essa formulagio de modo provisério: ela se inicia no espago potencial entre uma crianga ¢ a mnie, quando a experiéncia pro~ duciu na crianga um alto grau de confianca na mae, no fato de ue ela nio vai faltar quando a erianga dela tiver necessidade. Neste ponto, eu me alinho com Fred Plaut’, que usou a pa- chave para a organizagio dessa cidade de se ter experiéneia ct lavras, havendo s ‘quartetos de Beethoven! Isso representa um desenvolvimento do conceito de fend- ‘menos transicionais. Pode-se dizer maito mais a respeito da satide, mas espero tor conseguido transinitir 4 idéia de que considero o ser huma- ro imico. A etologia nfo é tudo. Os seres humanos t&m instin- tos e fungdes animais, e muitas vezes se parece com estes. Talvez os ledes sejam mais nobres; os macacos, mais égeis; as fons About Not Being Abe to Emagine’ eal Poychaogy, vol, 1966, eral of Analy ‘mais graciosas; as cobras, mais sinuosas; os peixes, mais icos, ¢ 08 passaros, mais felizes, por poderem voar. Os se- manos, no entanto, tém uma coisa $6 sua, ¢, quando sto smente saudaveis, tém experiéncias culturais superiores quer animal (exceto talvez as baleias e seus parentes). ‘ovavelmente sera o ser humano qu mundo, ssimn For, talvez possamos morrer na proxima explosdo at6- 1 sabendo que isso nao é saide, mas medo; € uma decor- do fracasso das pessoas ¢ da sociedade saudaveis em dar ie a seus membros doentes, Sumério Espero ter conseguido: 1. Usar 0 conceito de safide como ausé de doenga psi- ra ) pareeria psicossomatica ©) relagdes objetais como exemplos do que se obtém no cendrio como um todo, lar que temos de decidir at8 que ponto incluir, ¢ quando, os que conseguem chegar a satide apesar de desvar 6, Nomear as trés areas onde vive o ser humano, e sugerir que é uma questio de satide o fato de algumas vidas serem n0- taveis e de algumas personalidades serem rieas ecriativas, © que 6 bonus mais importante propiciado pela saiide so algumas experiéneias na area cultural Tudo comera em case ulo de modo criativo dois rascunkos de uma palestra preparada varessive League, 1970 depen vambém seus padrBes sfo uma duplicago dos padres d que a compdem. Dessa forma, a democracia (em um dos signi cados da palavra) é uma indicagao de satide porque ela se ori na, de mod juc é em si mesma um construc- to pelo qual os individuos saudaveis séo responsiveis, ‘do de criatividade de que a vida vale a pena ~ ide ser — ou nao — uma par que é, deve-se ter uma predominancia do fazer-pelo-impul- sobre 0 fazer-reativo, Essas coisas nifo sto apenas uma questo de vou ajo € rearranjo da vida. O processo de erescimen 24 Bee eee cece ac pa em case estabelece os padrdes bisivos, e nas époces iniciais da vida hu- mana se encontram os fatores de maior influéncia. Deve-se pre- sumir que a maioria das pessoas esteja em algum ponto entre 108 dois extremos, ¢ € nesse meio de caminho que temos a opor- tunidade de interferir em nossos padrdes; € nessa ocasido que sentimos que a discuss fica interessante e nfo € um mero exer- io académico (estamos considerando também aquilo que podemos fazer, na qualidade de pais ¢ educadores). ravés da vida de algo qui ade de eriar o mundo. ; se a mie for eapar. de se adap! niio vai perceber o fato de que 0 mundo estava sido concebide de é uma Estou preparado para d sido fe incinha (que se tornow cui ¢ vor’) descabri yorum lado, simp! nder, Sua propria onipote No outro extremo, a erianga conserva a onipoténcia, sob 0 pre- texto de ser criativa e de ter uma visio pessoal de tud Tlustrando o modo simples: se uma mae tem oito ito mies. [sso -orce simplesmente: porque a mic teve atitudes diferentes em relagdo a cada um dos oito, Se ela pur desse ter sido exatamente a mesma com cada um (e eu sei que isso ¢ absurdo, porque ela nido é uma maquina), cada crianga po- deria ter tido sua mae distinta, vista sob olhos individuais, 25 ype través de um processo de crescimento extremamente com geneticamente determinado, e da interagio do ctesci- individual com fatores externos que tendem a ser posi- wente facilitadores —ou entio ndo-adaptadores e produtores {0~, a ctianga toma-se vocé ou eu, descobrindo-se equi- m alguma capacidade para ver tudo de um modo novo, 1 ser crialiva em todos os detalhes do viver. poderia procurar em The Oxford English Dictionary 0 icado da palavra “criatividade”; poderi ido 0 que jé foi escrito a respeito do assu ; @ ento poderia oferecer tudo isso numa bandeja, 1odo que vorés diriam nal!” Pessoalmente, sou incapaz de seguir tal wesse examinado 0 ass as palavras paregam ridiculas. Mas eu acho que isso minha necessidade de deixar claro que "preciso comegar © seja 0 ponto de onde se deve comerar). a quando chegar -xisténcia”. Uma oriacdo pode ser “uma proc mana”, Nao € exato que “criatividade” seja uma palavra de lo aceitével para o erudito, Por “viver criativamente” nao endo dizer que alguém tenha que fiear sendo aniqui- 10 tempo todo, seja por submissio, seja por rea Jiquilo que o mundo impinge. Estou me refetindo ao fato de im ver tudo como se fosse a primeira vez. Uso a palavra ercepgdio”, oposta a “percepeao”. estou 26 Origens da criatividade Talvez eu tenha demonstrado aquile que acredito ser a ori- gem da criatividade. Nesse ponto é nevesséria uma afirmacao itividade € propria do estar vivo ~de tal forma que, a nio ser que a pessoa esteja em estado de repouso, ela esta sempre tentando, de algum modo, alcangar algo, de mancira ‘que, se hovver um objeto no caminho, pode haver um rel: smento, Mas iss0 € ap. a parte da hi refere f idéia de que aleancar, ado, exceto para umn ser que esteja ki para ido quase que sem eérebro pode éncia de um precisa erescer tem menor si ser. Um beb§ que tet ingar um objeto € momentos de obler algo, mesmo que seja da Lua. Mantendo a criatividade 0 individuo que nido tenha sido demasiado distorcido por tuma introducao no mundo defeituosa dispde de muitas oportue idades para fomentar esse atributo tio desejavel. Com toda certeza voeés vio me dizer que muita coisa na vida é rotineira ‘Alguém tem que dar conta do trabalho cotidiano, Nao ¢ facil discutir esse aspecto, pois hi quem veja utilidade nas ocupa- ‘gdes rotineiras. Talvez 0 fato de que no ¢ preciso muita inteli a para limpar um chao propicie o aparecimento de uma cindida da experiéncia imaginativa. Mas hé também a ques- das identificagdes cruzadas, que abordatei posteriormente. le ser que uma mulher limpe 0 cho sem se aborrecer por- :e sente prazer em fazer uma lameira, através de uma identi- em momentos de vida iva, faz lama no jardim e fica pulando nela. A erianga supoe we as macs adoram limpar tudo quanto € chdo, ¢ esta é sua ia para essa idade terrivel. (AS pessoas se refe- endo proprio da idade. Isso faz corn que soe ante bem, acho!) ‘Ou umn homem pode estar to entediado quanto é possivel ser humano que trabalha numa linha de montagem:; mas, iro, também pensa nas methorias que 1 cozinha, ou talvez ele jf esteja vendo 0 fato € que as pessoas ndio deveriam assumir trabalhos que Ba a alimentar sua imaginagao, se disse que € wa dentro de uma rotina real- sa do leressante. Deve-se lembrar, também, que o (ral ito interessante ps leo utiliza p vo, mas que nao permite que ninguém mais use o discerni- nto pessoal Em algum lugar do esquema de coisas pode haver espago ie pessoal, talvez algo de seereto, que & inconfundivelmente vood mesmo. Tente respirar pelo menos — é algo que ninguém pode fazer par voce. Qu talvez voeé seja vocé mesmo quando esereve para um amigo, ou manda cartas pata 0 The Times ou Society, presumivelmente para sesem lidas por alguém antes de serem jogadas no lixo. 28 Tudo comega en Viver criativo e criagdo artistica ‘Ao mencionar o ato de escrever cartas, estou me aproxi- mando de outro assunto que no posso ignorar, Devo deixar clara a diferenga entre o viver criativo ¢ 0 ser artisticamente criativo. No viver criativo, tanto vocé como ew descobrimos que que fazemos fortalece o sentimento de que esta~ ‘que somos nés mesmos. Uma pessoa pode para uma drvore (ndo precisa ser necessatiamente um fazé-lo criat Se vocé alguma vez teve wma fase de- pressiva do tipo esquizdide (e muitos ja tive isso pelo lado negativo. Muitas vezes jé me disseram: “Ha um minha janela, o mente sei que vel para aqueles gue podem aprecila, icas itores, poetas, artistas, escultores, s, Voces concordarie que, sc sno especial. Mas para un wyhum talento especial. Trata-se de uma ne- cessidade uni esquizotica famente uma atividade mental secreta, ¢, portan- to, em certo sentido, feliz. Infelizes somos vor’ ¢ eu que, em certa fase, estamos conscientes da falta daquilo que € essencial a0 ser humano, que é muito mais importante do que comer ou do que a sobrevivéneia fisica. Se tivéssemios tempo, poderia- ‘mos tratar aqui da ansiedade, impulso que subjaz a0 tipo artis cadena 0 viver eriative no casamento Parece haver uma necessidade de discutir 0 fato de que em ‘ow em ambos os parceiros de um casamento ha um senti- to freqiiente de declinio de iniciativa, Uma experiéncia n aparece aqui, ainda que haja uma grande diferenga em 108 de grau na importancia desse sentiment em relagdo a 8 as outtas coisas da vida que poderiam ser ditas, No mo- eto, tenho que partir do postulado de que nem todos os casais fem que podem ser criativos e permanecer casados, Ou um 110 outro integrante do pat se encontra envolvido num pro- cesso que poderia terminar num munclo que foi realmente eria- » pelo outro, Nesse extremo, isso seria mui 1e no se atinge tal extremo na m: vvezes aparega de forma om Caso se ficie, eis ai um modo bem simples © conversar sobre 0 problema, Conheca duas pessoas que es eram ci uma fi bem ande. Nas primeiras vem ficado uma semana juntos, 0 marido disse: “Vou passar velejando.” Respondeu-Ihe a espo: \s de verflo de seu easamento, apés >s amigos: “Esse casamento nio tem futuro!” No entanto, os tiveram um casamento muito bem-sucedide —as previsies ie cram sombrias demais, Uma das coisas mais importantes respeito desse casamento foi que o homem passou uma se- ana velejando, quando teve ocasiao de aperfeigoar sua habi- lade ¢ desfrutar seu divertimento favorito, e a esposa viajou »m sua mala por toda a Europa. Eles tiveram muito para con- versar nos quinze dias restantes e descobriramn que 0 fato de rem fieado longe um do outro durante metade das férias aju- ou-08 muito na relagdo conjugal, ae hi tegen case H4 muitos que nao gostariam disso, Nao ha regra univer- sal para os seres humanos. Mas o exemplo poderia ilustrar qu quando duas pessoas nfo ficam com medo de se deixar uma 4 coutra, tém muito @ ganhar. Se elas tém receio de fazé-Io, podem ‘acabar se entediando mutuamente. O tédio resulta do tampona- mento da vida criativa, que provém do individuo, e no da par- ceria, ainda que um patceiro possa inspirar criatividade. Se observarmos praticamente qualquer familia em ativi- dade, encontraremos um equivalente do arranjo que descrevi pata o casal acima, A esposa toca violino ¢ 0 matido passa uma noite por semana num pub tomando shandy com amigos. Com os seres humanos, hé uma variagio infinita em termos de nor- idade c de satide. Se decidimos conversar sobre as dificul- dades, & certo que acabaremos descrevendo padrdes em que as pessoas acabam se cnvolvendo € que acabam ficando tediosa- mente repetitivos, indicando que ha algo de etrado em algui hu- gar. Existe um elemento compulsivo nisso tudo, ¢ em algum ponto remoto na historia pregressa desse elemento ha med. mas de ma compulsio que tem algo a ver com sua historia, Acho que 56 para as pessoas relativamente felizes quanto a esse aspecto, ou seja, as no guiadas pelas compulsdes, eu poderia falar facil- mente sobre 0 fato de estarem sendo Pode-se falar muito pouco para pessoas que se ineomodam por- que uma relagdo parece sufocd-las, Nao hé conselho til que se possa dar, ¢ uma pessoa nio pode ficar fazendo terapia em todo mundo. Entre os dois extremos — os que sentem poder permanceer criativos no casamento e 08 que sentem 0 casamento actiatividade ~ hi, com eerteza, um tipo fronteitigo; provavel- mente a maioria de nés se encontra nessa fronteira, Somos suficientemente felizes ¢ podemos set criativos, mas percebe- ‘mos que hii inerentemente um tipo de choque entre o impulse pessoal e 0s compromissos concementes a qualquer tipo de re- lagio que tenha caracteristicas confidveis, Ema outras palavras: 31 “dona. 08 falando, uma vez mais, do principio da realidade, e, ralmente, conforme penetramos no assunto, poderiamos rar algum aspecto da tentativa de o individuo aceitar a ade externa sem perda excessiva do impulso pessoal. Esse n dos muitos problemas bisicos peculiares & natureza hu- & nas etapas mais precoces do desenvolvimento emo- de cada um que se estabelece a base de sua capacidade relagdo a esse aspecto. Alguém poderia dizer que freqiientemente falamos de ca- wento bem-sucedido em termos de quantos filhos tiveram, sm termos da amizade que os dois parceiros sito capazes de wstruir. Podemos falar bastante a respeito desse assumto, ¢ sei we vocs nao esperam que eu permanega no facil e no super- icial. Se falarmos sobre sexo, 0 qual afinal de contas deve par um lugar ceniral em qualquer discusstio sobre casamen- poderemos encontrar um grau impressionante de softimento toda parte. Sugiro um bom postulado: nao é comum encon- pessoas casadas que sintam estar vivendo sua vida sexual modo criativo. Muito jé se escreveu sobre isso, ¢ talvez 0 io do ps ‘do que a maioria 1s pessoas, essas dificuldades e o mal-estar que as acompa- lusio de que 1s pessoas se casam e depois disso vivem felizes para sempre; ito menos em sua vida sexwal. Quando duas pessoas si jo- \s€ se amam, pode haver um tempo, até prolongado, em que Jacionamento sexual é uma experiencia criativa para ambos. Isso realmente € saide, ¢ ficamos felizes quando pessoas jovens cexperimentam isso, cle modo quase consciente, em primeira mio, Penso que & um grave erro ficarmos apregoando ao: de que tal estado de coisas se prolonga por um periodo 120 aps o casamento, Alguém disse (receio que um tanto cosamente): “HA dois tipos de casamento: em um, a moga lescobre que casou com o homem ertado a caminho do altar; m cutto, ela descobre isso durante o caminho de volta.” Mas 1h raz para rir. O problema & quando ficamos dando a idéia 32. ‘tudo camega em casa aos jovenis de que 0 casamento é um caso de amor prolongado. Mas eu também odiaria fazer 0 oposto: vender desilusio aos jovens, fazer disso um negécio e cuidar que os jovens saibam de tado e nao tenham ilusdes. Se a pessoa ja foi feliz, pode su- portar a dificuldade. Ea mesma coisa quando dizemos que um bebé nao pode ser desmamado a menos que tenha tido o seio, cou seu equivalente. Nao hi nenhuma desilusae (aceitagio do principio da realidade), exceto com base na ilusio. As pessoas silo possuidas de um terrivel sentido de fracasso quando desco- brem que algo tio importante como a experiéncia sexual esti se tornando cada vez mais uma experiéneia crialiva para apenas ‘um dos integrantes do par. As vezes isso pode funcionar bem, ‘quando 0 sexo comega mal, e gradualmente as duas pessoas adquirem algum tipo de compromisso, ow dio e recebem, de tal modo que acaba ocorrendo alguna experiéncia eriativa em arm: bos 0s lados, E necess: izer que a sexualidade miitua & saudavel € constitui uma grande ajuda, mas se a solugfio para os probl mituo. Procisamos pres ‘errado presumir de uma pessoa & 0 sexo 1a voots os mecanismos mentais de projecdo e introjegdio: entendo com isso a fungio de alguém. “ar corn 08 outros ¢ a de identificé-los consigo pré= di 0s que nao podem usar aso queiram; ¢ ha os que o fazem de um modo tao compulsive que tais mecanismos acon- tecem, a pessoa querendo ow ni. Em term estou me referindo a0 fato de alguém ser capaz de calgar os sapatos de outra pessoa, ¢ a questdes de simpatia © empatia E dbvio que quando duas pessoas vivem juntas, com um vinculo proximo e anunciado publicamente como € o casamen- to, elas tém muita opostunidade de viver uma através da outra Num estado que ainda de saiide, de acorde com as cireuns- ma 33 ias, isso pode ser bem aproveitado, ow ndo. Sé que alguns is acabam se encontrando na incOmoda situagio de ficar ssando papéis um ao outro, enquanto outros casais conse- Muidez e flexibilidade em todos os niveis. E claro que & feniente que a mulher deixe que o homem desempenhe a we mascu 0 fisico do sexo, e vice-versa, No entanto, existe apenas a agdo; ha também a imaginagdo, e, do ponto a da imaginagdo, com certeza no hé parte da vida que possa ser transferida ou assumida pelo outro. Com isso em mente, podemos observar o caso especial da tividade. Nao ha muito de criatividade quando se examina ngdo sexual; quem & mais criativo, pai ou a mie? No a pessoa a dizer. Poderiamos deixar essa ques- «0 de lado, Mas nessa drea de funcionamento real, deve-se bbebé pode ser concebido de modo nao-eriati- m ter sido concebido, sem que tivesse chegado Hwan destino, nal, Que estudo extraordi Noel reais, pois tudo 0 que fazemos pode, ow nio, ser fente, Gostaria de retomar o temaa partir das origens da capa- cidade individual para viver rio, tanto na pega como no dess: Outros dados sobre as origens do viver criative £ aquela velha histéria. Aquilo que somos depende muito do ponto que atingimos em nosso desenvolvimento emocional,, ‘ou da extensio de nossas oportunidades naquela época crescimento que tem a ver com os estgios iniciais da relagao jetal ~ & sobre isso que quero falar. Sei que deveria estar dizendo aqui algo assim: feliz é ague- Je que esti sendo eriativo o tempo todo em sua vida pessoal ¢ Es __ ado omega em on em sua vida com parceiros, filhos, amigos, ete, Néo ha nada que esse territério filos6fico ndo abranja Posso olhar para um relégio e ver apenas a hora; pode ser que eu nfo veja nem isso, apenas note as formas no mostrador; pode ser que eu no veja nada, Por outro lado, pode ser que eu yeja reldgios potencialmente, ¢ entdo permita-me alucinar um rel6gio, assim agindo por ter evidéneias de que um re verdade esta lé para ser visto, de modo que, quando perecbo 0 rel6gio de verdade, jé passei por um proceso complicado que se quando vejo 0 religio, eu o crio, € ‘quando vejo a hora também crio a bora. Tenho minha experien- ciazinha de onipoténcia o tempo todo, antes de transferir essa fungao desconfortivel para Deus, Ha uma certa antildgica aqui. Em algum ponte da I6gica, gica toma forma. Isso & real nao posso eviti-lo. Gos- taria de examinar esse assunto. © bebé torna-se preparado para encontrar um mundo de objetos e idéias, ¢, segundo seu crescimento nesse aspecto, aim he apresentando © mundo. Des 1 de adaptagao durante esses temp. capacita o bebé a experimentar a onipotén ‘mente aquilo que el ea criare vincular isso com o que & real. O resuliado pratico & que cada bebé comega com uma nova criagao do mundo. E no sétimo dia esperamos que ele se satisfaga e descanse. Isso quando as coisas correm razoavel- mente bem, como geralmente acontece, No entanto, se que esié sendo criado precisa ser realizado concretamente, alguém tem que estar ki, Se ninguém estiver la para fazer isso, entio, num extremo, a crianga € autista ~ eriativa no espago ~ ¢ tediosamente submissa em seus relacionamentos (esquizo- frenia infantil), Ea partir dai que se pode it introduzindo, gradualmente, 0 principio da realidade, ¢ a crianga que conhecex a onipoténcia experimenta as limitagdes que o mundo impée, No entanto, por essa época, ela & capaz.de viver vicariamente, de usar os meca- Side edoenga EEE ss 108 de projegao ¢ introjegio, de permitir que outra pessoa 1e7es Seja 0 chefe e de abandonar a onipoténcia. Finalmente, » ser humano individual desiste de ser o volante, ou até mesmo ser a caixa de marhas inteira, e adota a posigdo mais con- cel de ser uma pega na engrenagem. Alguém me ajudaria 1 esorever um hino humanista? Ot tod Ot to stand ‘dea for being the exeator of the world.” O individuo humano que no comega a vida com a expe- ia de ser onipotente nao tem chance de ser uma pega na snagem, mas precisa exacerbar a onipoténcia, © 0 controle; algo assim como tentar vender agdes indeseja- veis de uma companhia inexistente. neus textos, tenho explorad al: algo a que a erianga acabou de se liger. mno que jé pertenceu ao véu do berg, ida uma fila de cabelo da mae. E um primei- }osimbolo e representa a confianga na unido do bebé e da mae cada na experiencia de confiabilidade ¢ capacidade dessa ie de saber o que o bebé precisa através de uma identificagao ele. Eu disse que objeto foi eriado pelo bebé; sabemos : jamais vamos contestar isso, ainda que também saibaraos c estava ld antes de o bebé t2-lo criado (pode inclusive ter 0 criado do mesmo modo que um irmio). E muito mais 0 caso de “Estenda a mao, ¢ ele est /océ usé-lo, gasti-lo”, do que “Pega e Ihe seri dado”. Iss0 ceoinego. Podle ser perdido no processo de introdugaa do bastante 0 ra/AM! Sane parte da engrenagemy/Ah a Se casad se: perder aia de ser 0 crador do 36 =o Tuto conse em casa mundo factual ao mundo do pri mas, no es- tado de satide, conseguimios formas e maneiras de recapturar 0 sentimento de significado proveniente da vida criativa. O sin- toma de uma vida ndo-criativa é o sentimento de que nada tem. significado, 0 sentimento de fatilidade, de que nada importa Agora estamos em condigdes de observar o viver criativo, © @ partir dai utilizar uma teoria consistente. O assunto é em si mesmo complexo, ¢ a teoria nos permite entender algumas das razdes para que assim seja. Podemos observar a vida criativa tanto na generalidade como em seus aspectos part Beeton (Clement Freud, aos de as salsichas e cozinhi-las do jeito que for possivel. O res pode ser 0 mesmo, mas di mais prazer conviver com a cozi criativa, mesmo que ds vezes ocorra um desastre, ou que 0 gosto Fique esquisito, ou alguém suspeite do pior. O que estou t tando dizer é que, para o cozinheiro, as duas experiéneias dite- rem; o escravo que obedece nada tira da experiéneia, a nfo ser ‘© incremento da se da quanto a pessoa a0 que vai surgindo durante ccozinhar. Quando surpteendemos a nésmesmos, estamos sendo criativos e descobrimos que podemos confiar em nossa inespe- idade, Nao deveriamos nos preocupar se aqueles que comem as salsichas nao percebem a coisa surpreendente que hhouve no ato de cozinhar, ou se demonstram nao aprecii-las do ponto de vista gustativo. Acredito que ndo exista nada que ndo possa ser feito de ‘modo etiativo, caso a pessoa seja criativa, ou tenha essa capa- ide. Mas, se alguém passe o tempo todo ameagado pela ex- tingdo da eriatividade, ento tanto a aquiescncia entediante tem que se perpetuar, como também a originalidade tem que ser acumulada até que as salsichas fiquem parecendo algo do outro ndo ou tenham gosto de lata de fixe no ji deixei indicado, acredito que seja verdadeiro 0 mesmo que o individuo tenha um equipamento cria- re, a experiencia pode ser criativa ¢ pode ser sentida cexeitante, no sentido de que sempre ha algo de nove & 0 at, F claro que se a pessoa for muito original e seu desenho pode valer 20 mil libras; mas, para aque~ cdo escravizante e n20- 1 desenhar como Picasso. Para desenhar como Picasso, st fem que ser Picasso ~ tudo 0 mais nfo sera criativo. AS \s que se aferram a modismos so por definigio entedian- © submissas, exceto quando estavam a procura de algo ¢ iam da coragem de um Picasso como apoio para serem ato € que aquilo que criamos jé esta 1a, mas a eriativi- de no modo como conseguimos a pereepedo, através ‘poilo e da apereepgd. Assim, quando atho o religio, W» preciso fazer agora, por exemplo, crio um relégio, mas W? 0 cuidado de néio ficar vendo relégios a néo ser quando que existe um, Por favor, ndo deixe de lado este fragmento Side, pode ser que eu veja relégios onde nao haja nen! ver algo naquela parcde e até mesmo ler as horas no or. Voces poderiam me dizer que é apenas a sombra da ‘va de alguém projetada na parede, tara cerlas pessoas, a possibilidade de serem chamados de de alucinados, faz com que se aferrem a sanidade; aft sca uma objetividade que se poderia denominar realidade partilhada, Ha também os que pretendem estat tio bem que quanto imaginam é real ¢ pode ser compattilhado. Podemos permitir que conviva conosco todo tipo de pe: 1 clo mundo, mas precisamos dos outros para sermos ol Ws, se for 6 caso de gozar e aproveitar nossa propria criativi assumir certos riscos € seguir nossos impulsos com as fe 08 acompankham, 38. ado comega em easa Algumas criangas so obrigadas a crescer numa atmosfe- 1 intensamente criativa, mas que pertence aos pais ou a babi, € no a crianga, Isso as sufoca e elas param de ser. Ou desen- volvem alguna técnica de isolamento. A proviso de oportunidades para que as criangas vivam suas préprias vidas, tanto em casa como na escola, é uma g tao muito ampla, e é um axioma o fato de que as criang: que niio tém dificuldade para sentir que exisiem so justamente as, que sfio faceis de lidar. Sao as que ndo sentem que o principio da realidade as agride de todas as formas. Caso estejamos ligados formalmente a parceiros, podemos ‘nos permitir toda e qualquer qualidade e toda e qualquer quan- tidade (como eu ji disse) de projegdes e introjegdes; uma mulher pode divertir-se com as brincadeiras de seu matido a respeite do trabalho, oa um marido pode divertir-se com as experién- cias de sua esposa com a frigideira. Dessa forma o casamento ~a unitio formal ~ amplia nosso campo para um viver cri Vové pode ser criativo por procurago enquanto esti fazendo uunra tarefa rotineira, que se faz mais rapidamente quando se est seguindo as instrugdes assinaladas no rétulo da gartafa. Gostaria de saber como vocés estio digerindo essas idéias que escrevi ¢ acabei de ler. O primeiro ponto é que eu nao posso fazer com que vooés fiquem eriatives apenas porque falo com voces. Seria melhor que et 0s ouvisse. Caso voces nao tenhiam possutido ou tenham perdido a capacidade de se surpreender em suas experiéncias na vida, ndo vai ser falando que vou poder ajuclé-los em alguma coisa, e também seria dificil ajudi-los atra- Quero esclarecer que uma dlivida filoséfica esta envol Itimo detalhe da experiéneia do viver criativo — isso porque, quando estamos em gozo de nossa sanidade, realmente 86 criamos aquilo que descobrimos. Até mesmo nas artes nio podemos ser criativos no vécuo, a menos que sejamos solistas 39 spicio ou no asilo de nosso préprio autismo. Ser criati- arte ou em filosofia depende muito do estudo de tudo o existe, ¢ 0 estude do ambiente é uma chave para se en= € apreciar qualquer artista. $6 que a abordagem criativa ‘com que o artista se sinta real e significativo, mesmo quan- ‘© que ele fez seja um fracasso do ponto de vista do piblico, 1 que o pliblico continue sendo uma parte necesséitia de squipamento, tanto quanto seus talentos, seu treinamento € ramentas. Portanto, pode-se afirmar que, até 0 ponto em que esteja- vs razoavelmente saudiveis do ponto de vista pessoal, ndo que viver num mundo criado por nosso parceiro de casa- ‘nfo, € nosso parceiro de casamento no tem que viver em yss0 mundo, Cada um de nés tem seu préprio mundo privado, m disso, aprendemos a compartilhar expetiéncias através, so de todos os graus de identificagdes cruzadas. Quando mos criando filhos criativos num mundo de fatos reais, te- os que ser ndo-criativos, aquiescentes e adaptativos; mas, no contornamos o problema e descobrimos que isso no nos identificagio com essas pessoinhas am de nés, se também elas tiverem que adqui- uum viver exiativo, O conceito de falso self Rascunho inacabado de uma pales College, Oxford, para “Crime ~ Um Desafto da Universidade de Oxford, 29 de janeiro de 1964 a proferida no All Souls grupo sobre crime, pois sei que vocés nio sio crimi- tanto, como poderia falar sobre o assunto que es- egando um sermio, jé que, no Final das contas, de uma forma ou outra, ou em alguma medida, um de nés esti dividido num self verdadeiro e num self Na verdade, preciso vincular © normal com o anormal, lacéncia caso eu parega sugerir, durante o . Poetas, fildsofos e videntes sempre se ocuparam da idéia falso self, ea traicao do selftem exemplo tipico do comega inaceitivel, Shakespeare, talvez com o intuito de evitar ser enganado, juntou um punhado de verdades e pass pela boca de um individuo muito chato chamado Pol assim, acho que podemos aceitar o conselho: This above all: to thine own self be true, And it must follow, as the night the day, ‘Thou const not then be false to any man, Vocés poderiam apontar qualquer poeta ee mos- trar que esse é um tema predileto das pessoas que vivem inten- samente sous sentimentes. Também poderiam assinalar que 0 teatro contemporaneo esti procurando pelo que hi de verda- |, bem-sucedi- ‘Vamos partir de um pressuposto: o fema persegue a ado- lescéncia inteira, chegando mesmo a ecoar nos vastos sales das universidades de Oxford e de Cambridge. Deve haver pessoas aqui que esto envolvidas ni precisamos viver com eles ¢ ver se o tempo io pessoal, em vez de uma solugao. . acordhissemos de repente & femes 0 tempo todo a beira do cais, Estou dizendo, de certa forma, que cada pessoa tem um selfeducado ou izado, ¢ também um self pessoal privado, “Isto cima de tudo: verdadeio a eu proprio sef/E ass, ia, Sequese que no seis falso a nents ou sr ss ‘dade. Isso & comum e pode ser consi- aparece na i normal. foods observarem, poderdo ver que essa divisio do self aquisigio saudavel do crescimento pessoal; na doenga, Jo é uma questi de cisto na mente, que pode chegar a n profundidade; a mais profurda é chamada esquiz0- stou falando, portanto, de assuntos comuns, que também 1estdes do mais profundo significado ¢ da mais profunda iterrompido por uma into estava escrevendo isto, fi revista com uma crianga. um menino de dez anos, fll de um colega. Tem um pro- blema urgente. Esta vivendo num & dificil para ele, como para que ele sofrew uma trans ‘escola, depois de um periode em que Estou deixando de lado uma longa série de detalhes iso do caso no contexto desta Soo ado comega em cnsa tou sonhos. Umm deles & especialmente uma imagem dele proprio na ca ‘munido de unva espada, ¢ entdo ele sentou na cama muito ass tado, com a mao na boca, € 0 assassino estava a ponto de cravar- lhe a espada, Voces podem pereeber no son ipo capaz, bbem na escola, entdo ele e seu pai se d30 com 0 corer do ele ym modo meio idiota comega a se recusar a fazer o que Ihe dizem, Odeia 08 professores fiquem se sente verdadeiro. Caso. mas de passar para s posigio de querer ser morto, 0 que o faz se sentir identficado com meninas e no com meninos. ‘Vejam que o menino tem mesmo um problema mui le € capaz de se expressar cl Usando a linguagem que proponho, ele é capaz de empregar um ‘mas, para esse menino, o problema & que ele se sente ameacado, como se fosse ser transformado numa duzindo ums resposta satisfatéria a seu problema, Estou expondo esse caso por achar sane doen. 7 -ssoas de suas relagdes, pessoas essas que vocés saber . has, elogios e distingdes, mas ineais, de uma forma ou de outra, e que, para se 1m reais, precisam ser membros ineémodos na socieda- podem ver essas pessoas fazendo as coisas de um. de um teste de QJ, mas juo se amoldar ¢ tolerar set falso, em alguma medida, a fim de seguir algo em relagio & so a vida vai sendo elaborada depois da fase na qual os izmente nao é eterno, fe ha certas pessoas no limitadas, enquanto outras pessoas se desgastam comp! le em relagio 20 mesmo problema. Naturalmente, caso alguém 4a respeito destas questies e pedir au ht ‘desse assunto, a pessoa que est que sespeitar a integridade do individuo. Entretant pai ou mae de um garoto ou de uma garota, naturalmente espe- ladeiro e o Falso self ndo va ser tra- para um pai € trigico vero filho oua filha precisarem ser anti- sociais ou, de algum modo, o oposto de seciais, numa época cem que eles tém chance de se enriquecer culturalmente. brigado” por polidez, 2 ndo pe que ¢ isso o.que a crianga quer dizer. Em i mentiras, ou Sea, dese adapiar as convengbes até ponte em gu 2 vida seja administravel nem sempre deseja dizer a falar “gu-gu” cedo demais ou esse problema da integtidad brutal. Sem diivida, ha da soviedade & com cerevendo erlangas que v sm de estabelecer e restal le cloge como spec ‘cado psiquiatrico. Cu semelhantes. Se hm esti excessivamente cénscia de seu proprio corago, pi icas. Em contraposigao 0 termo vo, € parece ni terega hubris poderia servir. Mas lo que hipomaniia.) expressa é que a depressio tem valor: no en- ymbém & claro que as pessoas dé mesmas ou dar cabo da p: mas delas so vitimas de acidentes psi radoxo. ‘vendo em aplicar psicoterapia quando, ao mesmo tempo, nilo estio livres eles mesmos da depressao, J4 que o trabalho cons- eto comet em cas A deprssio pertence 4 psicopatologia. Pode ser severa e ie, ¢ durar a vida inteira, mas, nos individuos rel ramente siudiveis, geralmente é um estado de humor passa No final, a depressio, fenémeno comum e quase univer- ia com 0 futo, com a capacidade de sentir culpa *ess0 de maturagdo. A depressio sempre implica forga do ega assim, tende a sumir e a pessoa deprimi 4 se recuperir para a satide mental Agressiio, culpa e reparagdo Palestra proferida na Progr descrever urn temna que se repete ni se reveste da maior importin. da Gio e dest ‘A posigdo depres- Se é um nome adequado outro problema, O que a teoria psic ica evolui o tempo todo, e foi Klein quem se interessou pela idade que reside na fazer com que ela adquirisse um sen ticos, Foi um progresso importante, que ocorreu na década seguinte 4 Primeira Guerra Mundi ue nosso trabalho no poderia ter sick tante acréscimo as afirmagées do proprio Freud desenvolvimento emocional do ser humano, O trabalho de Mela~ nie Klein ampliow o de Freud, sem alterar 0 modo de 0 trabalhar. Poder-se-ia pensar que 0 assunto pertence a0 ensino da ‘técnica psicanalitica. Caso eu esteja avaliando corretamente a situagio, vocés nfo se importaiam com tal fato, Acredito, no 70 Tudo comega em casa entanto, que o tema seja de importaneia vital para todas as pes- soas que pensam, especialmente porque etriquece nosso en- tendimento a respeito do significado do termo “sentimento de culpa”, por juntar sentimento de culpa e desirutividade ativi- dade construtiva. Tudo soa muito simples ¢ Sbvio. Aparecem idéias de des- truir um objeto, @ surge um sentimento de culpa, resuitando entio num trabalho construtivo, No entanto, 0 que vamos ene contrar na prética é muito mais complicado, ¢ importante, ao se tentar uma descrigo abrangente, lembrar do fato de que constitui uma aquisi¢ao no desenvolvimento emocional de um individuo o momento em que essa seqiiéncia simples comeva a fazer sentido, ou tora-se um fato, ou passa a ser significativa E tipico dos psicanalistas o fato de, quando tentam enfren tar um assunto subjetivo como esse, pensar sempre em termos do individua que se desenvolve. Isso significa retomar a épocas muito remotas € tentar determinar o ponto de origem. Com cer- teza, seria possivel pensar na primeira infincia como um esta- do em que o individuo nao é capaz de se sentir culpado, Pode-se aficmar entio que, numa data posterior, sabemos que (caso haja fe) a pessoa pode sentir culpa, ou talvez experimentié-la sem que haja registro na consciéneia. Entre esses dois momentos, existe um perfodo em que a capacidade para © sentimento de culpa esti em processo de estabelecimento, e é a esse periodo ‘que o presente estudo diz respeito, Nio é necessirio fornecer idades ¢ datas, mas eu diria que Ais vezes os pais podem detectar os primérdios de um senti- mento de culpa em seus filhos que ainda nao completaram um ano de idade, apesar de que ninguém pensaria que uma técnica de pl de responsabilidade por impulsos destrutivos oderia se instalar de modo firme antes que a erianga complete cineo anos. Lidando com esse desenvolvimento, descobrimos que a questdo envolve a infancia como um todo, particularmen- te aadolescéncia. E, se falamos em adolescéncia, estamos falan- do em adultos, poi 7 idee devnge porque as pessoas no tém exatamente sua id medida, elas tém todas as idades, ou nenhuma. ‘ne passagem, gostaria de acrescentar que me parece rela- iente facil chegar a destrutividade que existe em nés quan- a esta ligada a raiva perante a frustragio ou o édio em algo que desaprovamos, ou quando € una teacao fren- medo, A dificuldade é cada individuo assumir plena res- ibilidade pela destrutividade, que € pessoal e inerente a felagdo com um objeto sentido como bom —em outras pa- que esti relacionado ao amor. A palavra que surge aqui é “integragio”, pois, se se conce- na pessoa totalmente integrada, ent tal pessoa assume responsabilidade por todas os sentimentos ¢ idéias que neem ao “estar vivo”. Em contrapasigao, ocorre um fra- So de integragio quando precisamos encontrar fora de nds ws coisas que desaprovamos, Paga-se um prego por isso ~ a wa da destrutividade que na verdade nos pertence. Estou falando, portanto, de algo que tem que ocorrer em luo ~ 0 desenvolvimento da capacidade mentos & idéias desse individuo, “saiide” intima- inte relacionada ao grau de integragdo que torna essa ocor- réneia possivel. Uma coisa pode ser dita a respeito da pessoa ilvel: ela no precisa ficar usando o tempo todo a técnica projecdo para lidar com seus impulsos e pensamentos des- 0s. ‘Vocés compreenderdo que estou passando por cima dos estigios mais precoces, aguilo que se pode chamar de aspectos primitives do desenvolvimento emocional. Sera que devo acres- centar que ndo estou me referindo is primeiras semanas ou meses? Um colapso na area do desenvolvimento emocional basico conduz a doenga dos hospitais psiquitricos, ou seja, & esquizofienia, que niio é tema desta palestra. Aqui, suponho que com eada caso os pais forneceram a provisio essencial que ca- pacitou a crianga a iniciar uma existéncia individual. O que estou

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