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DICA Nº 10:
Como “sobreviver” aos críticos desinformados?

Então, vamos supor que você sobreviveu reduzir um fenômeno complexo a um conjunto
aos primeiros passos na neuroanatomia e se en- de regras básicas para estudá-lo de maneira efi-
cantou com as neurociências. Prepare-se para ciente. Possivelmente, o exemplo mais clássico
tempos difíceis. Os psicólogos, muitas vezes, se disso, em ciências naturais, é o mecanismo res-
autoproclamam defensores da diversidade. No ponsável pela Teoria da Evolução, que Charles
entanto é justamente em boa parte dos cursos Darwin chamou de Seleção Natural. O conceito
de Psicologia que você verá comentários total- de seleção natural é super básico e simples, no
mente arbitrários, intolerantes e preconceituo- entanto, ele dá conta de explicar a toda a com-
sos em relação à qualquer tentativa de incluir a plexidade da vida, ou, de um jeito mais poético
biologia nas explicações sobre comportamento e citando o próprio Darwin, às “infinitas formas
e cognição. Os principais ataques, traduzindo de beleza”. Ou seja, não é porque todo o proces-
para uma linguagem educada, incluirão as afir- so de evolução das espécies foi “reduzido” a um
mativas: conceito básico, que isso perde o encanto ou
mesmo a profundidade científica. Para o filóso-
1 – A neurociência é reducionista. fo da ciência Daniel Dennett8, o problema está
2 – A neurociência justifica preconceitos. no “extremo reducionismo”, ou seja, quando o
3 – A neurociência despreza o ambiente. cientista reduz um fenômeno complexo (como
4 – A neurociência despreza a subjetividade. a mente humana) não apenas a um conjunto de
sistemas e princípios em si, mas a um conjunto
Com relação à primeira crítica, talvez quem de sistemas e princípios que não conseguem
a argumente tenha uma grande dificuldade de responder às perguntas. No caso da neurociên-
compreender que um determinado fenômeno cia isso não ocorre, porque ela própria reconhe-
complexo pode ser explicado a partir da inte- ce que ainda não tem propriedade suficiente
gração entre diferentes fatores biológicos e so- para explicar todos os processos mentais huma-
ciais. De fato, explicar comportamento apenas nos (não se outorga o grau de detentora de todo
do ponto de vista genético ou ambiental é uma o conhecimento), mas aqueles que ela já conse-
forma simplória e fadada a grandes equívocos. guiu investigar e “reduzir” a reações químicas do
Um determinado comportamento só deve ser organismo, ela tem capacidade de explicar.
compreendido a partir de uma perspectiva que A segunda crítica é, talvez, o reflexo da não-
integre níveis de análise como: -compreensão de todas as demais. Por exemplo,
quando a neurociência demonstra que há dife-
✓ Genético/molecular renças de gênero tanto na morfologia, quanto no
✓ Morfológico/Fisiológico funcionamento cerebral, ela não está, de manei-
✓ Individual ra nenhuma, defendendo que essas diferenças
✓ Familiar justifiquem qualquer tipo de discriminação. Ou
✓ Social seja, ainda que seja um fato que as mulheres, em
✓ Cultural média, apresentem maior substância cinzenta
✓ Histórico (que você já aprendeu que são “corpos de neu-
rônio”) numa região chamada Junção Temporo-
Além disso, há um problema inerente à parietal Direita (que fica bem na junção entre o
maneira como as pessoas tendem a utilizar o córtex temporal e parietal do hemisfério direi-
termo “reducionismo”. Muitas vezes, a ciência to... viu como não é difícil deduzir localização
(inclusive outras além da neurociência) precisa pelo nome?), e que isso lhes confere uma capa-
Dennett, D. C. (1998). A perigosa idéia de Darwin: a evolução e os significados da vida. Rocco.
8

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cidade maior de “Teoria da Mente” (capacida- riáveis ambientais que são necessárias para que
de de inferir estados mentais alheios com base nossas funções cognitivas e comportamentais
em sinais visuais, auditivos e mesmo olfatório, e atinjam sua maturidade e pleno funcionamento.
usar esse conhecimento para prever o compor- Além do texto que já referenciamos, escri-
tamento da pessoa); além de mais substância to pela psicóloga Isabela Sallum, sobre o efeito
branca (que você já aprendeu que são “axônios de uma má condição econômica sobre o desen-
mielinizados”) no lobo frontal, que lhes confere volvimento cerebral, há outros tantos exemplos
uma maior capacidade de controlar os impulsos, que deixam claro como a neurociência se pre-
isso não significa que todas as mulheres serão ocupa exaustivamente com o impacto do am-
excelentes mentalistas, nem super controladas. biente, e mesmo da cultura.
Significa apenas que, em média, as mulheres Por exemplo, o Simon Baron-Cohen (ci-
terão um desempenho superior nessas habili- tado logo acima) desenvolveu um dos instru-
dades, em relação aos homens. Porém, isso não mentos mais utilizados no mundo inteiro para
diz nada sobre “uma mulher específica”. Citando avaliar “teoria da mente”, principalmente (mas
um dos principais neuropsicólogos responsáveis não somente) com o objetivo de discriminar en-
pelo estudo das diferenças de gênero na cogni- tre sujeitos normais e pacientes com transtorno
ção, Simon Baron-Cohen: do espectro autista. Esse instrumento é chama-
do de Reading the Mind in the Eyes Test (Teste da
Quando falo em diferenças na mente Leitura da Mente através dos Olhos), ou simples-
ligadas ao sexo, estou me referindo mente RMET, e consiste em 36 imagens preto-e-
apenas a médias estatísticas. E se há -branco apenas da região dos olhos, com quatro
um ponto a deixar claro desde o início, possibilidades de escolha sobre o que aquela
é este: procurar diferenças entre os se- pessoa da imagem estava pensando ou sentindo
xos não é criar estereótipos. O estudo no momento da fotografia. Ele é um instrumento
das diferenças nos permite descobrir domínio-público, e você pode fazer o download
as diferentes influências sociais e bio- dele no site do Autism Research Centre10.
lógicas sobre o sexo, mas não nos diz Existem estudos de tradução, adaptação e
nada sobre indivíduos. [...] O estereó- validação em várias culturas diferentes (inclusi-
tipo reduz os indivíduos à média, en- ve, no Brasil11), mas em 2010 foi realizada uma
quanto a ciência reconhece que muita pesquisa12 muito interessante, que consistiu em
gente se afasta do que é considerado a aplicar o RMET a sujeitos caucasianos e asiáti-
faixa média do grupo a que pertence. cos, avaliando não apenas o desempenho em
(Baron-Cohen, 2004, p. 239). si, como também o padrão de atividade cerebral
durante a testagem. Descobriram que há uma
Ou seja, ao ver uma moça desconhecida vantagem para a identificação do estado mental
caminhando pela rua, você não tem a menor de pessoas que pertencem à sua própria etnia/
condição de inferir que ela tenha altas habilida- cultura (no caso, japoneses reconheciam me-
des sociais e muita capacidade de controlar os lhor o que fotos de olhares japoneses queriam
impulsos, a menos que faça uma entrevista ou dizer, enquanto que caucasianos reconheciam
uma avaliação completa com ela. melhor o que olhares caucasianos queriam di-
Com relação à terceira crítica, basta res- zer), e essa vantagem poderia ser explicada em
ponder com os conceitos de desenvolvimento função de uma maior ativação do sulco temporal
e plasticidade. O cérebro não é uma estrutura superior posterior.
isolada cujo desenvolvimento é totalmente pré- Se o indivíduo não se convencer diante
-determinado pelos nossos genes. Ao contrário, disso, informe gentilmente que já existe inclusi-
nosso cérebro se desenvolve em resposta às va- ve um ramo específico, chamado “neurociência
9
Baron-Cohen, S. (2004). Diferença essencial. Editora Objetiva.
10
Link: https://www.autismresearchcentre.com/arc_tests
11
Miguel, F. K., Caramanico, R. B., Huss, E. Y., &Zuanazzi, A. C. (2017). Validity of the Reading the Mind in the Eyes Test in a
Brazilian Sample. Paidéia (RibeirãoPreto), 27(66), 16-23.
12
Adams Jr, R. B., Rule, N. O., Franklin Jr, R. G., Wang, E., Stevenson, M. T., Yoshikawa, S., ... &Ambady, N. (2010). Cross-cultu-
ral reading the mind in the eyes: an fMRI investigation. Journal of cognitive neuroscience, 22(1), 97-108.

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cultural”13, que se dedica unicamente a analisar cérebro das pessoas, principalmente de uma
essas diferenças no padrão de atividade cere- menor espessura das regiões corticais envolvi-
bral diante de uma mesma tarefa, mas em cultu- das no controle dos impulsos. Você já viu ante-
ras diferentes. riormente que o córtex (que é uma “substância
A quarta crítica é quase sempre feita por cinza”) é formado por corpos de neurônios. Uma
aqueles (geralmente dualistas) que acham que menor espessura cortical significa uma menor
subjetividade é algo impossível de ser compre- concentração de neurônios, ou que eles estão
endido se focarmos no organismo. No entanto, com seu tamanho reduzido. De qualquer manei-
o ramo de investigação acerca das diferenças ra, isso implica num funcionamento prejudicado
individuais é bastante fértil nas neurociências. e, por serem áreas envolvidas no controle inibi-
Por exemplo, você já deve ter reparado que algu- tório, isso explica a dificuldade desses indivídu-
mas pessoas são mais impulsivas, e outras me- os em “pensar antes de agir”. Esse é apenas um
nos impulsivas. Isso porque a tendência a “agir exemplo sobre como a neurociência considera,
sem pensar” é uma característica que varia de sim, que pessoas diferentes irão responder de
indivíduo para indivíduo. Um estudo recente14 maneira diferenciada às situações cotidianas,
demonstrou que essa diferença pode (também) reflexo da interação entre biologia e ambiente.
ser explicada à luz de diferenças estruturais no

13
Han, S., Northo, G., Vogeley, K., Wexler, B. E., Kitayama, S., &Varnum, M. E. (2013). A cultural neuroscience approach to
the biosocial nature of the human brain. Annual review of psychology, 64, 335-359.
14
Holmes, A. J., Hollinshead, M. O., Roman, J. L., Smoller, J. W., & Buckner, R. L. (2016). Individual dierences in cognitive
control circuit anatomy link sensation seeking, impulsivity, and substance use. JournalofNeuroscience, 36(14), 4038-4049.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar neurociência não é fácil, mas tam- duas fontes diferentes e, logo na sequência,
bém não há razão para se ficar “neurado” com procure responder a questões sobre o assunto,
isso. Pondo em prática essas dicas aqui descri- como se realmente estivesse fazendo uma pro-
tas, você provavelmente amenizará o choque va. Quanto mais perguntas você responder, me-
inicial, desmistificará preconceitos e descobrirá lhor será a qualidade do seu aprendizado. Não
um mundo maravilhoso e instigante que é a neu- se esqueça nunca de corrigir as respostas, para
rociência. perceber onde errou, e qual a resposta certa.
Algumas vezes, precisamos realizar tare- Para estudar a localização das estruturas,
fas no nosso dia a dia que não gostamos, mas tente pegar uma imagem do cérebro com as se-
que precisam ser feitas. Porém, é inegável que tas indicativas, apagar o nome que está escrito
quando consideramos a atividade uma fonte de em cada uma delas, e tentar acertar.
prazer, sentimos maior motivação para concluí- Esta cartilha teve um objetivo bem especí-
-la da maneira mais eficiente possível. Estudar fico: tirar o medo inicial de estudar neurociên-
neurociências não é diferente! Por isso, aliás, cias de modo geral, o que será crucial para sua
que a primeira dica foi sobre a valorização do formação como psicólogo, ou mesmo atuação
cérebro como sede de quem somos. Essa com- na área. Perdendo o medo inicial, você estará
preensão, se introjetada, despertará um inte- preparado para os próximos passos, que serão
resse tão grande pelo assunto, quanto o de al- maravilhosos. Aliás, pensando em estimular
guém prestes a fazer uma viagem internacional você a dar os próximos passos, na sequência
e que quer aprender tudo sobre o país de des- você poderá conferir uma série de referências
tino. comentadas, que esperamos que você busque
Feito isso, uma das maneiras mais eficien- para aprofundar o conhecimento.
tes de aprender neurociência é fazendo exercí- Que a força esteja com você!
cios. Estude cada tema utilizando pelo menos

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REFERÊNCIAS COMENTADAS

Para construir a base necessária ao en- obra uma leitura fundamental a todo aspirante
tendimento dos processos neurológicos e da neuropsicologia.
neuropsicológicos:
Gazzaniga, M. S., Ivry, R. B., & Mangun, G. R. (2006).
Neurociência cognitiva: a biologia da mente. Art-
Cosenza, R. M. (2000). Fundamentos de Neuroana-
med.
tomia . Grupo Gen-Guanabara Koogan.
A fim de compreender o funcionamento de nos- Livro organizado por um dos principais neuro-
cientistas cognitivos da atualidade (Gazzaniga),
so cérebro, é fundamental que conheçamos
esta obra é bastante ampla e rica em imagens
cada uma de suas partes, os sistemas formados
coloridas muito didáticas, contendo capítulos
pelo agrupamento de algumas delas, bem como
tanto de neuroanatomia funcional, quanto vol-
suas funções básicas e formas de interação. Este
tados à compreensão de diferentes comporta-
livro, escrito pelo Professor Ramon Cosenza, um
dos principais nomes das neurociências no Bra- mentos humanos à luz dos estudos do cérebro.
Com certeza é uma das principais referências na
sil, é um dos mais adotados em cursos de gradu-
área para se ler e consultar.
ação de diversas áreas. A abrangência do conte-
údo e a ótima didática fazem com que este seja
Herculano-Houzel, S. (2005). Cérebro Em Transfor-
um exemplar ideal para consultas recorrentes
mação, O. Editora Objetiva.
em momentos de dúvidas. Em psicologia existem muitas teorias sobre de-
senvolvimento humano, mas poucas delas estão
alicerçadas em evidências. Por outro lado, os
Para se apaixonar pelas neurociências: estudos sobre neurociência do desenvolvimen-
to são muitas vezes complexos demais para al-
Damásio, A. R. (2009). O erro de Descartes: emoção, guém que está iniciando na área compreender
razão e o cérebro humano. Editora Companhia das em sua totalidade. Por isso, recomendamos
Letras. fortemente a leitura desse livro, na qual a neu-
Quem nunca ouviu falar no famoso caso de Phi- rocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel
neas Gage? O casal Antonio e Hanna Damásio foi apresenta, de maneira extremamente didática e
responsável por desvendar esse grande enigma confortável, o passo a passo do desenvolvimen-
da neuropsicologia, no trabalho publicado em to humano à luz da neurociência, com um foco
1994. Alguns anos mais tarde, ele decidiu popu- maior na adolescência, utilizando sempre mui-
larizar o feito e escreveu esse livro que se tornou tos exemplos cotidianos curiosos. Vale muito a
um clássico na área desde então. Sua descrição pena a leitura.
quase roteirizada dos relatos do dr. Harlow, que
primeiro atendeu o Phineas Gage após o aciden- Pinker, S. (1998). Como a mente funciona. Editora
te e anotou suas mudanças de comportamento, Companhia das Letras.
numa época em que sequer se conhecia a estru- Não se assuste com o tamanho desse livro, nem
tura do neurônio, conferem um aspecto artísti- com a complexidade da primeira parte, você
co à obra. Além disso, sua descrição do “novo” consegue! Esse possivelmente é um dos livros
Phineas Gage, paciente que o próprio Antonio de divulgação científica mais amplos sobre o
atendeu, bem como do processo de criação e funcionamento da mente, escrito por aquele
aplicação do Iowa Gambling Task (uma das prin- que talvez seja o principal psicólogo da atualida-
cipais tarefas neuropsicológicas empregadas de, o professor Steven Pinker. Inicialmente, ele
para avaliar tomada de decisão) fazem dessa apresentará a chamada “teoria computacional

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da mente”, e na sequência explicará as origens Nesses livros você encontrará uma exce-
evolutivas de diferentes padrões de pensamen- lente introdução à Neuropsicologia:
to e comportamento humano. O livro não apenas
explica “como” a mente funciona, mas também Fuentes, D., Malloy-Diniz, L., Camargos, C. H. P. &
“por que” funcionamos dessa maneira. É eviden- Cosenza, R. (2012) Neuropsicologia: teoria e práti-
te que nesses últimos 20 anos muitos novos es- ca. Porto Alegre: Grupo A.
tudos foram conduzidos, mas praticamente tudo Esse é um dos mais adotados livros-texto na área
que ele coloca na obra ainda é válido. de Neuropsicologia em cursos de graduação.
Trazendo capítulos de importantes clínicos e
Pinker, S. (2002). Tábula rasa: a negação contem- pesquisadores da área de neuropsicologia, o li-
porânea da natureza humana. Editora Companhia vro apresenta os processos neuropsicológicos
das Letras. básicos, as alterações neuropsicológicas em pa-
Outro livro do Steven Pinker, dessa vez tratando tologias psiquiátricas e neurológicas, bem como
de um tema que tem muito a ver com esse e- fundamentos para a prática de avaliação e inter-
-book inclusive: a negação da natureza humana. venções.
É de especial interesse que você preste bastante
atenção quando ele fala sobre o “fantasma da Santos, F. H., Andrade, V., Bueno, O. (2015) Neurop-
máquina”. Vale muito a pena a leitura, pois você sicologia Hoje. Porto Alegre: Grupo A.
abrirá bastante seus horizontes conceituais. Este importante livro inaugurou a tradição de li-
vros de neuropsicologia organizados e escritos
por autores brasileiros. Em sua segunda edição,
Ramachandran, V. S., & Blakeslee, S. (2004). Fan- traz o estado da arte do conhecimento sobre
tasmas no cérebro. Rio de Janeiro: Record. funções cognitivas e perfis neuropsicológicos
Ramachandran é um dos mais famosos neuro- em transtornos mentais.
logistas, responsável por desenvolver um méto-
do bastante eficaz para lidar com a extinção do
“membro fantasma” através de espelhos. Nesse
Se você quiser conhecer mais sobre neu-
livro muito bem escrito e humorado (porque hu-
mor é sempre bom) ele apresenta uma série de ropsicologia clínica você deve procurar
casos clínicos bastante curiosos, como a Síndro- informações na coleção Neuropsicologia
me de Capgras, na qual o paciente nutre a certe- na Prática Clínica. Ela é editada pelos
za de que determinado indivíduo do seu convívio Professores Paulo Mattos (UFRJ) e Le-
social não é ele próprio, mas um impostor que andro Fernandes Malloy-Diniz (UFMG) e
assumiu seu corpo. Livros como este nos fazem
reúne diversos títulos escritos ou orga-
refletir mais sobre como nosso cérebro define
quem somos. nizados por grandes neuropsicólogos e
neurocientistas. A coleção já conta com
Sacks, O. (2016). O homem que confundiu sua mu- os títulos:
lher com um chapéu: e outras histórias clinicas.
Editora Companhia das Letras. Gonçalves, O., Boggio, P. (2016) Neuromodulação
Este é o mais conhecido livro do famoso neurolo- Autorregulatória. São Paulo, Pearson.
gista Oliver Sacks, que infelizmente faleceu em Com o avanço do conhecimento sobre o cére-
2015. Digo “infelizmente” não apenas pela pes- bro, cada vez mais estamos tendo acesso às
soa que ele foi, mas porque agora não seremos tecnologias que podem modificar o padrão de
mais brindados com suas descrições de casos atividade cerebral e modular comportamentos.
clínicos que são quase romances (aliás, alguns Nesse livro, de forma extremamente didática, os
deles chegaram a virar filmes e peças de teatro). autores apresentam exemplos práticos de neu-
Juntamente com o livro do Ramachandran, essa romodulação que auxiliam o indivíduo a regular,
obra reforça que devemos cuidar bem do nosso por si só, sua atividade cerebral.
cérebro, para que possamos ter uma boa saúde
mental.

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Teixeira, A. L., Diniz, B. S. O. e Malloy-Diniz, L. F. dade, um quadro chamado Discalculia do De-


(2017) Psicogeriatria na Prática Clínica. São Paulo: senvolvimento. Flávia Heloisa dos Santos traz,
Pearson. nesse livro, uma explanação aprofundada sobre
O Envelhecimento populacional trouxe também este transtorno de aprendizagem, descrevendo
consequências importantes para as práticas questões importantes para avaliação e interven-
na área da saúde. Os transtornos neuropsiqui- ções. De interesse para Neuropsicólogos, Neuro-
átricos acometem um número substancial de logistas, Psiquiatras, Fonoaudiólogos, Terapeu-
idosos, sendo necessário que profissionais de tas Ocupacionais e profissionais de educação, o
saúde refinem suas práticas de diagnóstico e livro traz uma oportunidade ímpar de atualiza-
tratamento direcionados à população geriátrica. ção sobre o tema.
De interesse para Neuropsicólogos, Psiquiatras,
Neurologistas e Geriatras, no livro há contribui- Julio-Costa, A. Antunes, A. M. (2016) Transtorno do
ções de diversos autores, vindos das mais diver- Espectro Autista na Prática Clínica. São Paulo: Pe-
sas disciplinas da área de saúde. arson.
Os mitos e tabus encontrados por profissio-
Zimmermann, N., Kochhann, R., Gonçalves, H., nais de saúde e educação no tocante ao tema
Fonseca, R. P. (2016) Como Escrever um Laudo Neu- “Autismo” trazem dificuldades importantes na
ropsicológico? São Paulo: Pearson. abordagem clínica do transtorno. A despeito
Escrito por um dos grupos mais experientes em disso, os avanços nos últimos anos na compre-
neuropsicologia clínica no Brasil, esse livro é in- ensão daqueles quadros abarcados sob o con-
dispensável para o neuropsicólogo. O livro apre- ceito de Espectro Autista trazem, a pacientes e
senta de forma didática, com exemplos práticos, familiares, novas oportunidades de tratamento
o caminho das pedras para a elaboração de lau- e maximização funcional. No livro Transtorno do
dos informativos e bem fundamentados, repor- Espectro Autista na Prática Clínica, as autoras
tando os achados de um exame neuropsicológi- apresentam o estado da arte sobre diagnóstico
co. Como elaborar um laudo neuropsicológico? e intervenções com pacientes que apresentam
é indicado tanto para os profissionais que estão esse diagnóstico.
iniciando a carreira, como para aqueles que já
atuam na área.
Antídoto contra as pseudoneurociências:
Serafim, A. P., Sai, F., Marques, N., Achá, M. F. & Oli-
veira, M. Avaliação Neuropsicológica no Contexto Ekuni, R., Zeggio, L., Bueno, O. F. A., editors. Caça-
Forense. São Paulo: Pearson. dores de Neuromitos: o que você sabe sobre seu cé-
Uma das áreas mais importantes da neuropsi- rebro é verdade? São Paulo: Editora Memnon.
cologia é a sua vertente forense. Como avaliar a Com o avanço das neurociências, tudo o que diz
cognição e o comportamento para fins judiciais, respeito a elas passou a exercer grande fascínio
respondendo de forma técnica às perguntas ela- sobre as pessoas. O problema é que, dentre os
boradas pelos profissionais do Direito? Determi- achados cientificamente legítimos, muitas bo-
nar responsabilidade, competências, identificar bagens também passaram a ser divulgadas equi-
prejuízos funcionais decorrentes de práticas la- vocadamente como fruto de pesquisas acerca
borais dentre vários outros temas, muitas vezes do funcionamento do nosso cérebro. Algumas
requer o exame neuropsicológico como ferra- dessas falácias tornaram-se amplamente co-
menta protagonista. Organizado pelos pioneiros nhecidas e são aqui chamadas de neuromitos.
na área de Neuropsicologia Forense no Brasil, o Nesse livro, a verdade sobre eles é revelada de
livro é peça fundamental na formação de todo es- forma acessível e divertida.
pecialista na área.

Santos, F. H. Discalculia do Desenvolvimento. São


Paulo: Pearson.
Crianças com dificuldades no aprendizado da
matemática podem ter, por detrás dessa dificul-

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