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Interseccionalidade
e
Psicologia Feminista
Conceição Nogueira
Interseccionalidade
e
Psicologia Feminista
2017, Conceição Nogueira
Qualquer parte dessa obra pode ser reproduzida,
desde que citada a fonte. Direitos para essa edição
cedidos à Editora Devires.
Editor Capa
Gilmaro Nogueira Taz Mota
Revisão Textual Diagramação
Clarissa Macedo Vivian Hernandez Alamo
Editora Devires
Av. Ruy Barbosa, 239, sala 104, Centro – Simões
Filho – BA
www.editoradevivres.com.br
Sumário
Prefácio ........................................ 7
Introdução ................................. 16
Os feminismos: ondas e
epistemologias ............................ 21
As ondas no movimento feminista 23
Posicionamentos epistemológicos
feministas .................................. 44
Uma Psicologia Feminista? .......... 53
A psicologia (das mulheres) na
primeira onda ............................. 70
O gênero na segunda onda .......... 77
O Gênero na crise da segunda onda
.................................................. 92
Uma Psicologia feminista
(construcionista social) crítica..........96
O feminismo negro ..................... 113
O gênero e a diversidade na terceira
onda ......................................... 118
A teoria da interseccionalidade ... 136
Questões de metodologia. ........... 154
Como "captar" a complexidade da
interseccionalidade? .................. 154
Interseccionalidade e Pesquisa em
Psicologia .................................. 171
Questões críticas à teoria da
interseccionalidade .................... 184
Conclusão ................................. 192
Referências................................ 202
Nota biográfica .......................... 232
Prefácio
8
texto lusófono uma visão panorâmica so-
bre esta perspectiva, que é originária do
enegrecimento do feminismo, nas pala-
vras de Sueli Carneiro (2003), uma das fe-
ministas que denunciou a branquitude
do movimento (Marcinik e Mattos, 2017).
Esse trabalho inscreve a perspec-
tiva interseccional nas lutas da 3ª onda
do feminismo, em que se começa a ques-
tionar o sujeito do feminismo e a sua uni-
dade conceitual. É precisamente o femi-
nismo negro que permite marcar tal in-
quietação crítica. bell hooks1 (1981) conta
a história do como Betty Friedan
(2013/1963) esqueceu das mulheres ne-
gras quando denunciava o “problema
sem nome” de síndrome tipo depressiva
das jovens de classe médica com forma-
ção superior que se ocupavam das tarefas
10
ceber as origens da teoria da interseccio-
nalidade, os seus usos na investigação
engajada com o feminismo negro, as suas
aplicações na crítica às ciências an-
drocêntricas e brancas e o modo como
podemos contar esta história a partir da
localização estadunidense.
Trata-se de um livro localizado, mas
que mostra como mesmo no Norte há
epistemologias do Sul, como é a da inter-
seccionalidade, de um Sul que não é geo-
gráfico, mas que é resistente. Pensar o gê-
nero com ‘raça’, classe, sexualidades, en-
tre outras matrizes é a nossa luta. Não
deixar que o gênero seja universalizado,
mas, ao estudá-lo, pensá-lo a partir da
sua articulação com outras formas de
opressão. Esta proposta implica repensar
o feminismo de forma radical. E radical
implica ir à raiz – a velha questão de
Marx trazida por Angela Davis, uma das
grandes desta luta, e implica entender as
11
viagens que os conceitos e as teorias rea-
lizam. Conceição Nogueira oferece-nos
um mapa dessas viagens de conceitos
que dialogam e que são pensados de uma
determinada maneira com um determi-
nado objetivo. Assim, trata-se de um
texto que visa entender como a intersec-
cionalidade se tornou um eixo vital do
pensamento contemporâneo, para todos
os feminismos que não acreditem na vi-
são única do que é ser mulher, mas que,
antes, entendam que eixos são chamados
para construir a visão que temos do gê-
nero. Como tal, é um texto que se ocupa
a analisar a visão do feminismo anglo-sa-
xônico, até por ser ele que tem marcado a
Psicologia Feminista. Não menciona as
múltiplas apropriações e encarnações
destes feminismos através do globo e dos
movimentos globais e locais que usam a
interseccionalidade como teoria e mé-
todo, precisamente por querer traçar com
12
cuidado essa localização que aqui não é
tomada como universal, mas como um
ponto de produção destes saberes. Saber
de onde veio e como veio.
Um outro livro seria o que se fez com
a interseccionalidade e como ela é recons-
truída nos saberes decoloniais dos movi-
mentos feministas do Sul. Mas para esse
exercício e para essa reflexão precisamos
de primeiros passos como esses, que nos
ajudem a seguir as perspectivas da inter-
seccionalidade e a inscrevê-las nas histó-
rias da libertação e das lutas que temos
pela frente. Igualmente, essa obra pre-
tende uma problematização da intersec-
cionalidade como uma ferramenta cru-
cial de entendimento das profundas in-
terconexões do gênero nas múltiplas ma-
trizes de privilégio e de opressão.
Trata-se de uma obra útil e impor-
tante no panorama lusófono, e que arti-
cula e apresenta este pensamento num
13
diálogo, trazendo este pensamento e prá-
xis para o debate do feminismo contem-
porâneo. Resultado das suas provas de
agregação (livre-docência) em Portugal,
é um trabalho que inscreve a importante
teoria da interseccionalidade, explica as
suas metodologias e localiza-a nos femi-
nismos contemporâneos. É um trabalho
crítico e reflexivo que toma como ponto
de partida a complexidade das questões
feministas na atualidade e oferece às lei-
toras e leitores uma visão das promessas
da interseccionalidade para a pesquisa
em Psicologia Feminista, estudos de gê-
nero e estudos críticos das sexualidades.
Referências
Carneiro, Sueli. (2003). Mulheres em mo-
vimento. Estudos Avançados, 17(49), 117-132.
hooks, bell (1981). Ain't I a Woman?:
14
Black women and feminism. Londres: Pluto Press.
Friedan, Betty (2013). The Feminine Mis-
tique. Nova Iorque: WW Norton (data original de
publicação: 1963)
Marcinik, Georgia G. e Matos, Amana R.
(in press). Branquitude e racialização do femi-
nismo: um debate sobre privilégios. In João M.
Oliveira e Lígia Amâncio (orgs.). Géneros e Se-
xualidades: Interseções e Tangentes. Lisboa:
ISCTE-IUL (ebook) (p. 159-173).
15
Introdução
19
dade, mas também de chamadas de aten-
ção contínuas para a materialidade das
desigualdades persistentes.
20
Os feminismos3: ondas e
epistemologias
3
De frisar que será sempre feita uma entrada essenci-
almente nos feminismos norte-americanos.
21
feministas, assim como as diferentes teo-
rias e epistemologias feministas.
22
As ondas no movimento
feminista
23
desde logo porque a primeira onda é
pensada essencialmente como sinônimo
de sufrágio, e desta forma os feminismos
iniciais são reduzidos apenas a um tema
– o direito ao voto.
Contudo, é importante frisar que a
história feminista e o debate acadêmico
em torno da mesma são muito mais com-
plexos que estes posicionamentos redu-
tores.
Sempre existiram conflitos na teori-
zação feminista, mas estes serviram mai-
oritariamente para complexificar as teo-
rias e os debates. Na terceira onda, no en-
tanto, existem conflitos que são de ordem
distinta e que apresentam potencial de
divisão (Dean, 2009; McRobbie, 2009),
como veremos adiante.
Apesar de clarificadas as possíveis
dificuldades com o uso desta divisão,
neste texto falarei de ondas, assumindo
24
que esta classificação possibilita que se
percebam as diferentes e diversas posi-
ções que foram sendo trabalhadas ao
longo do tempo (e que coexistem) e que,
em determinados períodos, por razões de
ordem distinta, se encontraram mais fa-
cilmente e se traduziram em movimentos
de pessoas, teorias e ativismos. Não se
pretende, nem esquecer perspectivas mi-
noritárias que coexistiam nestes mesmos
períodos, nem tampouco que as perspec-
tivas que se apresentam como sendo ca-
racterísticas da segunda onda (por exem-
plo) já não são consideradas "ultrapassa-
das "ou "desatualizadas" em termos cien-
tíficos. A concepção das ondas serve ape-
nas para dar uma ideia de fluxo de mas-
sas, pessoas, grupos e de movimento com
um certo grau de coerência em termos
temporais.
Assim, é possível identificar a exis-
25
tência de três ondas no movimento femi-
nista (Dean, 2009; Dietz, 2003; Mann &
Huffman, 2005): a primeira, que se situa
no meio do século XIX e vai até cerca dos
anos 60; a segunda até cerca dos anos 80;
e a terceira onda, a atual, que al-
guns/mas designam por pós-feminismo
(uma posição que assume esta época
como aquela onde o feminismo já não se-
ria necessário). Esta designação induz à
ideia de fim do feminismo, perspectiva
da qual discordo. Pelo contrário, consi-
dero esta terceira onda uma época que
inaugura um grande "local" de debate e
de conflito, que caracteriza o feminismo
atual, uma época "perturbadora", crítica
e por isso crucial. Alguns dos debates
acerca desta onda serão adiante apresen-
tados aquando da ligação entre as ondas
feministas e a psicologia.
Na primeira onda, as preocupações
centrais da história do feminismo dizem
26
essencialmente respeito à emancipação
das mulheres de um estatuto civil depen-
dente e subordinado, e à reivindicação
pela sua incorporação no estado mo-
derno, industrializado, como cidadãs de
pleno direito tal como os homens (Evans,
1994). As principais reivindicações desta
onda foram essencialmente pelos direitos
civis e políticos, pelo acesso ao estatuto
de ‘sujeito jurídico’, pelo direito ao voto,
pelo qual o movimento sufragista se ca-
racterizou, e pela melhoria das condições
materiais de vida das mulheres, pelos di-
reitos sociais e no trabalho4.
Quando se fala de segunda onda re-
fere-se à época que se situa por volta dos
35
mentos políticos e dos acordos instituci-
onais tradicionais.
A terceira onda na teoria feminista
teve origem nos fins dos anos 80, ao
mesmo tempo em que eclodiam as críti-
cas pós-estruturalistas e pós-modernas
às concepções de gênero e de subjetivi-
dade do feminismo hegemônico da
época (Dietz, 2003; Mann & Huffman,
2005), que coincidiram e se sobrepuse-
ram às críticas provenientes do femi-
nismo negro. Estas correntes críticas ti-
nham em comum o compromisso com a
abertura, a diversidade (Araújo, 2007) e a
pluralidade que pareciam faltar ao femi-
nismo da segunda onda (Dean, 2009).
No entanto, a terceira onda não é
consensual nas suas características. É um
significante essencialmente contestável
que pode ser incorporado e utilizado por
acadêmicas e ativistas feministas numa
pluralidade de maneiras diferentes
36
(Dean, 2009; Mann & Huffman, 2005,
Wekker, 2004).
Conforme refere Jonathan Dean
(2009), poucos conceitos e debates dentro
da teoria e da prática feministas têm cau-
sado tanto desconforto quanto a caracte-
rização da história feminista Euro-Ame-
ricana pós-1900 como uma série de três
"ondas" distintas. E esta perturbação tem
sido aumentada pelo conflito que resulta
da definição e clarificação acerca da ter-
ceira onda (Mann & Huffman, 2005).
Esta onda tem sido identificada
como sendo de backlash (Faludi, 2001),
como pós-feminismo (Macedo, 2006), as-
sim como das abordagens feministas
pós-modernas e pós-estruturalistas, mais
ou menos radicais, mas ainda assim femi-
nistas. Frequentemente esta indefinição
está também associada ao que diferentes
autoras denominam como sendo a
"agenda das jovens feministas" (Mann &
37
Huffman, 2005; McRobbie, 2009). Quem
associa a terceira onda a uma época de
backlash11 anti-feminista (Kaplan, 1992;
Macedo, 2006; Wekker, 2004) assume que
as mulheres já não se identificam com as
lutas feministas, e, em alguns casos, po-
dem até pretender retrocessos em termos
de direitos (por exemplo, alguns grupos
argumentam pelas vantagens do retorno
das mulheres a casa). O pós-feminismo
tem sido muito difícil de caracterizar, e
há também diferentes possibilidades de
percepção (Macedo, 2006). De qualquer
modo, parece haver acordo quanto à
ideia que representa assumir e aceitar o
feminismo, mas enquanto projeto que se
cumpriu. Associar a terceira onda femi-
nista a uma geração, a um feminismo
42
vel) e, por isso, não abdique de possibili-
dades de intervenção quer a nível da in-
vestigação na psicologia, quer a nível dos
movimentos sociais e da política.
43
Posicionamentos
epistemológicos feministas
44
vimento feminista. Nessa altura, as preo-
cupações diziam respeito, por um lado,
às reivindicações de algo que era negado
às mulheres e, por outro lado, à necessi-
dade de visibilidade e de uma existência
social e política (Rose, 1986).
As feministas começaram a denun-
ciar essencialmente as lacunas e mesmo
as falsificações e generalizações abusivas
de um saber que identifica a masculini-
dade com o universal (Amâncio, 1994;
Amâncio & Oliveira, 2006; Neves & No-
gueira, 2005; Nogueira, 2001a) e a exclu-
são ou a subordinação das mulheres, seja
como objeto seja como sujeito (Kamuf,
1990, Neves & Nogueira, 2005). Por isso,
as críticas à ciência são unânimes no que
diz respeito ao forte enviesamento an-
drocêntrico, assim como à escolha de de-
senhos e interpretações das próprias ex-
periências que raramente tinham em
conta quer o sexo/gênero feminino, quer
45
a experiência feminina.
No entanto, o acordo relativo ao de-
safio que se devia encetar face ao conhe-
cimento (Keller, 1991) não tem paralelo
no que diz respeito às soluções para o
substituir (Collin, 1991; Harding, 1990;).
Segundo Keller (1991), as críticas femi-
nistas à ciência variam entre posições
mais “brandas” e outras mais “radicais”.
As posições ditas “brandas” ou liberais,
embora admitindo que a maioria dos ci-
entistas são homens, não colocam em
causa a concepção tradicional de ciência
e por isso estão de acordo com os pressu-
postos da ciência moderna. Neste caso, as
feministas estudam dentro da academia,
nos moldes tradicionais de pesquisa,
analisando essencialmente questões que
dizem mais respeito às mulheres. As po-
sições mais radicais (frequentemente
provenientes da teoria crítica), questio-
nam a objetividade e a racionalidade
46
como bases da metodologia científica, e
sugerem que a ciência está imbricada na
política e na ideologia (Ibanez & Íñiguez-
Rueda, 1997).
Para Sandra Harding14 (1986), as crí-
ticas feministas à ciência moderna toma-
ram três formas: o empiricismo femi-
nista, as teorias de standpoint15 feminista
e mais recentemente (depois dos anos 80)
o feminismo pós-modernista. O femi-
nismo empiricista identifica o sexismo e
o androcentrismo como sendo enviesa-
mentos sociais que podem ser corrigidos
49
Os conflitos que estas diferentes po-
sições feministas críticas acarretam, po-
dem ser considerados como benefícios li-
bertadores para a própria ciência, porque
possibilitam o diálogo, a produção com-
plexa de teorias e a possibilidade de po-
sições teóricas negociáveis (Mann &
Huffman, 2005). Por exemplo, a plurali-
dade preconizada pelo pós-modernismo
aliada a um posicionamento realista crí-
tico poderá ser uma solução a valorizar.
No entanto, mesmo esta classificação (da
epistemologia pós-moderna) é colocada
em questão dentro da teorização da ter-
ceira onda. A própria ideia de classificar
e de criar taxonomias de epistemologias
é desafiada e considerada como uma
perspectiva característica, precisamente,
das ideias da segunda onda (Tuin, 2009).
Considero, no entanto, que apesar
da apresentação dos debates que estão no
50
momento a ser levados a cabo serem ne-
cessários, por razões pedagógicas, é par-
ticularmente importante dar uma ideia
de classificação de forma a organizar o
conhecimento. Esta classificação pode
ajudar a clarificar e a discutir caminhos.
Pode ajudar a construir o futuro...
Um futuro em construção poderá apon-
tar outras alternativas...
Concordo com Elizabeth Cole,
quando no seu artigo de 2009 Intersectio-
nality and Research in Psychology, na re-
vista American Psychologist, refere um dos
caminhos para o futuro: a inserção de
uma perspectiva interdisciplinar na
busca de argumentos e teorias que pos-
sam iluminar de forma mais informada
os estudos que se pretendem realizar. As-
sim penso que deveremos caminhar... in-
terdisciplinarmente ou, no limite, trans-
disciplinarmente.
51
Mas este texto fala do passado e do
presente, inseridos nas discussões atuais
da teoria feminista e nas suas repercus-
sões para uma psicologia feminista crí-
tica.
52
Uma Psicologia Feminista16?
60
(Azambuja & Nogueira, 2008a; Azam-
buja, & Nogueira, 2008b; Azambuja &
Nogueira 2007; Neves & Nogueira 2004;
Neves, 2008), aos direitos de pessoas lés-
bicas, gays, bissexuais e transgênero (No-
gueira & Oliveira, 2010; Oliveira, Pena &
Nogueira,2010), às iniciativas para apoio
à saúde das mulheres (Azambuja & No-
gueira, 2010 ; Strey, Nogueira & Azam-
buja, 2010), as questões da sexualidade
feminina (Costa, Nogueira, & Lopez,
2009; Saavedra, Nogueira & Magalhães,
2010), as questões associadas às masculi-
nidades (Ribeiro, Paul & Nogueira, 2007;
Neto, & Nogueira, 2009) e muitas outras
questões que afetam o bem-estar das mu-
lheres e dos homens e que são de impor-
tância fulcral.
Neste papel de defensora de causas,
atuando como ativismo científico (Han-
kivsky et al., 2010), a psicologia feminista
61
tem sido influente no deslocar da psico-
logia tradicional face a uma posição mais
ativista, no sentido da transformação so-
cial.
Apesar da hostilidade ou ambiva-
lência da "disciplina-mãe", a psicologia
feminista teve, e foi influente em algu-
mas esferas. Entre elas podem-se salien-
tar os seguintes aspectos (Worell, 2000):
1) a criação de novas áreas de pesquisa,
novos assuntos e (re)nomear de proble-
mas, sendo o melhor exemplo a questão
da violência contra as mulheres, e a vio-
lência de gênero; 2) o questionar de mé-
todos de pesquisa e de prioridades, por
exemplo, a inclusão de métodos qualita-
tivos e preocupação com investigação as-
sociada às desigualdades e às discrimina-
ções; 3) novas abordagens à prática clí-
nica e terapêutica, onde se pode atual-
62
mente situar o campo das terapias femi-
nistas23; e finalmente, 4) a integração da
problemática da diversidade chamando
a atenção para as diferenças entre as mu-
lheres.
Apesar de existirem um conjunto de
pressupostos que caracterizam a psicolo-
gia feminista, apresentados anterior-
mente, este domínio não está isento de
conflitos ideológicos e desacordos inter-
nos. Dentro da psicologia feminista, pelo
menos três áreas promovem o diá-
65
familiares aos psicólogos/as e à Psicolo-
gia, como é exemplo o trabalho de Michel
Foucault, agora muito citado (Stewart &
Dottolo, 2006). Em contraste com a gera-
ção anterior, principalmente da segunda
onda, as/os jovens pesquisadoras usam
métodos que são familiares na psicologia
de forma muito flexível, às vezes de
forma muito pouco ortodoxa. Estas/es
pesquisadoras/es parecem estar envolvi-
das em algumas tarefas importantes:
conduzem uma investigação que de al-
gum modo se baseia em trabalho de fe-
ministas que as/os precederam, encon-
tram argumentos para justificar métodos
e pesquisa mistos ou mesmo alternativos,
e apelam à interdisciplinaridade. Esta
nova geração parece criar novas fusões e
integrações que acabam por ser diferen-
66
tes do trabalho gerado na geração ante-
rior25.
Pode-se afirmar que apesar da exis-
tência de conflitos internos, e de debates
contínuos, a psicologia feminista conti-
nua a crescer e a mostrar-se frutífera no
levantar de problemas e soluções alterna-
tivas construtivas assim como aborda-
gens inovadoras. As/os psicólogas/os
feministas aspiram à promoção de uma
disciplina aberta à mudança, que valo-
rize e promova a igualdade e a justiça so-
cial entre grupos e indivíduos e que seja
ativa na insistência para o bem-estar quer
69
A psicologia (das mulheres) na
primeira onda
73
pesquisa sobre as diferenças sexuais, ba-
seado na simplicidade da dualidade de
papéis, e assistindo-se à redução dos
temperamentos masculinos e femininos à
posse de traços de personalidade (Hare-
Mustin & Marecek, 1994; Lorenzi-Cioldi,
1994). Assumem-se disposições indivi-
duais consistentes e estáveis, os traços,
sendo as personalidades femininas e
masculinas tomadas a priori para justifi-
car, por exemplo, a desigualdade no
acesso a posições de chefia, suposta-
mente requerendo traços instrumentais,
logo masculinos.
A imagem de uma mulher que difere
do homem pela sua emocionalidade mais
rica e variada, que condiciona o seu com-
portamento quotidiano, sendo igual-
mente tímida, dócil, vaidosa e sem espí-
rito de aventura, torna-se uma espécie de
protótipo de temperamento que vem as-
sim a constituir-se como uma norma,
74
para um grupo.
A nível dos programas de pesquisa
na psicologia passou-se, assim, do estudo
das diferenças entre os sexos com expli-
cações biológicas para, depois dos anos
30, se assumir a assunção da diferença de
personalidade entre homens e mulheres.
Diferenças consideradas estáveis e uni-
versais e de cariz intrapsíquico (Saavedra
& Nogueira, 2006). Deste modo, a psico-
logia continuou a reforçar as diferenças,
acentuando a inferioridade das mulhe-
res, remetendo-as ao lar e à família, onde
as suas características seriam bem adap-
tadas.
Apesar de muitas investigadoras te-
rem realizado um trabalho importante
para refutar as teorias biológicas acerca
das diferenças sexuais e os papéis de gê-
nero (Bohan, 1992), este trabalho não foi
institucionalizado como importante para
a psicologia e acabou por desaparecer
75
das memórias da investigação em psico-
logia com o advento da segunda onda do
feminismo (Unger, 2010).
76
O gênero na segunda onda
77
1990). A procura do conhecimento cientí-
fico supõe-se ser neutra, objetiva, desa-
paixonada e desinteressada (pelo menos
em termos da perspectiva da ciência mo-
derna), procurando proteger os resulta-
dos da pesquisa dos valores sociais dos
pesquisadores e das suas culturas. Se ser
feminista, implica uma clara defesa dos
interesses de um grupo, assumir o femi-
nismo na ciência psicológica seria assu-
mir como que a sua não-neutralidade
(Harding, 1994; Kitzinger, 1991; No-
gueira, 2001a).
Uma onda de interesse face a uma
nova psicologia do gênero (ou das mu-
lheres) começou a consolidar-se essenci-
almente devido ao estabelecimento de
organizações feministas e de revistas ci-
entíficas do domínio.
Como refere Lígia Amâncio:
78
"Nascido no intenso
debate que o feminismo da
segunda onda gerou, o con-
ceito de gênero difundiu-se
rapidamente nas ciências so-
ciais, se considerarmos a cro-
nologia de alguns textos de
referência, como o de Ann
Oakley (1972) para a sociolo-
gia, o de Rhoda Unger (1979)
para a psicologia social e o de
Joan Scott (1988a) para a his-
tória" (2003, p. 687).
83
e “essencialmente” (Nogueira, 2001c) di-
ferentes um do outro.
Alice Eagly (1987) elaborou a sua te-
oria de papel social, sendo a sua tese cen-
tral a ideia de que as diferenças sexuais
são um produto dos papéis sociais que
regulam o comportamento na vida
adulta (em oposição a muitas teorias das
diferenças sexuais baseadas quer em fa-
tores biológicos, quer na socialização in-
fantil precoce). Considerando que as ex-
plicações baseadas nos papéis sociais que
controlam a vida adulta não tinham sido
ainda alvo de qualquer tentativa unifica-
dora, no sentido da organização de uma
teoria distintiva do comportamento se-
xual tipificado, decidiu interpretar as di-
ferenças sexuais no comportamento so-
cial em termos de uma única perspectiva
social-normativa. Os papéis de gênero
são definidos como aquelas expectativas
84
partilhadas acerca das qualidades e com-
portamentos apropriados dos indiví-
duos, em função do seu gênero social-
mente definido. Estes papéis de gênero
induzem quer direta quer indiretamente
as diferenças sexuais estereotipadas. Na
medida em que homens e mulheres não
estão proporcionalmente representados
em papéis sociais específicos, acabam por
adquirir diferentes competências e cren-
ças que, por sua vez, afetam o seu com-
portamento social. Algumas críticas a
esta teoria incidem quer na concepção de
papel de gênero, como uma causa e não
um efeito (Amâncio, 1994) quer sobre al-
gumas questões que deixa por colocar
(Hare-Mustin & Marecek, 1994), tais
como: quais as origens dos papéis de gê-
nero? Como se explica a dominância do
homem e a subordinação da mulher?
Será a dominância masculina o resultado
85
de uma fraca aprendizagem de compe-
tências por parte das mulheres?
Apesar da ênfase na socialização, de-
fendida por Eagly, ter implicado uma
desfocagem do aspecto biológico, a favor
de uma ênfase no condicionamento cul-
tural (Amâncio, 1992), o sistema social
das relações de gênero continuou a não
ser questionado.
Concluindo, se, até os anos 60, du-
rante a primeira onda do feminismo, a
psicologia assumiu como dado adqui-
rido que as mulheres e os homens eram
diferentes, sendo a ausência de diferen-
ças encontradas sistematicamente igno-
radas (Maccoby & Jacklin, 1974; Hare-
Mustin & Marecek, 1990), nos vinte anos
que se seguem o grande debate passa a
ser analisar em que medida as mulheres
são iguais ou diferentes dos homens e o
que suporta essa igualdade ou diferença.
Nesses anos os pressupostos teóricos e as
86
investigações vão dividir-se entre: 1) ar-
gumentação para justificar a igualdade
de características entre os gêneros (exem-
plo: a teoria de Sandra Bem da Androgi-
nia); 2) argumentações para justificar as
diferenças entre os gêneros (exemplo: te-
oria da Alice Eagly dos papéis sexuais);
3) valorização das diferenças entre os gê-
neros (exemplo: teoria do desenvolvi-
mento moral de Carol Gilligan).
Na psicologia, as feministas insisti-
ram no reconhecimento e na afirmação
do sexismo, quer no desenvolvimento de
hipóteses quer nos procedimentos adop-
tados para as validar, na reivindicação de
expansão da área de pesquisa de forma a
incluir um enfoque na experiência das
mulheres, e na necessidade de se estudar
as consequências da dominação mascu-
lina para o desenvolvimento pessoal e
para a interação social.
87
A perspectiva feminista na psicolo-
gia originou o levantamento de novas
questões, a introdução de novos concei-
tos, modelos e problemas, uma ênfase no
significado do gênero em termos do seu
valor como estímulo, como prescrição de
papel e relação de poder. Pode dizer-se
que hoje o seu trabalho (quer teórico quer
empírico) é reconhecido e apreciado.
Como já se referiu, na psicologia
desta época as psicólogas feministas fo-
ram essencialmente de epistemologia
empiricista e o seu programa incidiu so-
bretudo na remoção dos enviesamentos
sexistas e androcêntricos da pesquisa,
mas permitiu ainda assim, que muito fi-
casse por questionar. A psicologia empi-
ricista feminista não desafiou as crenças
acerca dos sujeitos das pesquisas e dos
observadores, os fundamentos do mé-
todo científico, da observação, da análise,
da predição e da generalização. O fato de
88
ter entrado numa lógica empiricista, não
eliminou a marginalidade das mulheres
(afinal um objetivo primordial deste fe-
minismo), e não promoveu o pensa-
mento reflexivo autocrítico necessário
para compreender o sexismo e promover
novas ideias e novos sistemas (Burman,
1990; Wilkinson, 1986). Pelo contrário, a
ciência feminista empiricista continuou a
tomar o homem como a perspectiva ge-
ral, sendo a mulher o “outro” problema-
tizado (Morawski, 1990). Por isso, por
volta dos anos 80 surgem perspectivas
críticas provenientes de epistemologias
pós-modernas (Harding, 1986) e, particu-
larmente na psicologia, a perspectiva do
construcionismo social 30, perspectivas es-
91
O Gênero na crise da segunda
onda
95
Uma Psicologia feminista
(construcionista social) crítica
98
"gênero", sugerida e desenvolvida du-
rante a segunda onda do feminismo, foi
uma tentativa (significativa) de separar o
sexo biológico do social – o gênero (Amâ-
ncio, 1994) e deste modo possibilitar a crí-
tica social (Crawford, 1995). No entanto,
a força cultural do essencialismo acabou
por manter a distinção, dando lugar à
confusão, inconsistência e problemas de
terminologia. Novas diferenças sexuais,
virtualmente idênticas às publicadas dé-
cadas atrás, começaram e são etiquetadas
como diferenças de gênero.
Estas novas diferenças são iguais às
antigas, mas "vestidas" de outro modo,
isto é, continuam a situar-se dentro dos
indivíduos, descontextualizadas social-
mente e rapidamente biologizadas. Ironi-
camente, uma pretensão feminista que
visava teorizar a construção social da
masculinidade e da feminilidade, é agora
a mesma estratégia que a obscurece.
99
A própria noção de "psicologia da
mulher" é essencialista porque sugere
que as mulheres (como grupo unitário)
partilham uma psicologia (um conjunto
de qualidades, traços e capacidades, ina-
tas ou adquiridas) que, presumivel-
mente, lhes condiciona o comportamento
(Hare-Mustin & Marecek, 1990). Outra
consequência importante é que quando
os traços estão localizados nos indiví-
duos a responsabilidade da mudança fica
colocada nas pessoas e não na sociedade
(Bohan, 1997).
Em contraste com uma perspectiva
essencialista, o construcionismo social
assume o gênero como uma construção
social, um sistema de significados que se
constrói e se organiza nas interações, e
que governa o acesso ao poder e aos re-
cursos (Crawford, 1995; Denzin, 1995).
Não é por isso um atributo individual,
100
mas uma forma de dar sentido às transa-
ções: ele não existe nas pessoas, mas sim
nas relações sociais.
Os processos relacionados com o gê-
nero influenciam o comportamento, os
pensamentos e os sentimentos dos indi-
víduos, afetam as interações sociais e aju-
dam a determinar a estrutura das insti-
tuições sociais (Crawford, 1995). Como o
gênero é uma ideologia dentro da qual as
diferentes narrativas são criadas, as dis-
tinções de gênero ocorrem de forma dis-
seminada na sociedade. O discurso do
gênero envolve a construção da masculi-
nidade e da feminilidade como polos
opostos e a essencialização das diferen-
ças daí resultantes.
O construcionismo social (Gergen,
1982, 1994), assim como a filosofia de ten-
dência pós-modernista (Flax, 1990) reco-
nhecem a contradição como parte funda-
101
mental da realidade social, e isso é con-
sistente com a argumentação de que ca-
tegorias importantes como o sexo e o gê-
nero podem funcionar com definições
distintas e em simultâneo numa situação
particular. Diferentes participantes, ou
mesmo e apenas um só indivíduo, po-
dem, no decorrer de uma interação so-
cial, afirmar diferentes perspectivas de
gênero, dependendo dos aspectos salien-
tes das categorias no momento (Hare-
Mustin & Marecek, 1990).
Nesta perspectiva as pessoas desen-
volvem o seu sentido de self, nos e através
dos discursos disponíveis à sua volta
(Burr, 1995; Shotter & Gergen, 1989),
como acontece com o discurso do gênero.
Sendo o conhecimento aquilo que con-
cordamos ser considerado verdade num
determinado contexto de relações sociais,
é precisamente nesse processo de acordo
que é criada a realidade de determinado
102
fenômeno. O gênero não é um fenômeno
que existe dentro dos indivíduos, pronto
a ser descoberto e medido pelos cientis-
tas sociais. Pelo contrário, o gênero é um
acordo que existe nas interações sociais:
é precisamente aquilo que concordamos
que seja (Hare-Mustin & Marecek, 1990;
Unger, 1990). Em maior ou menor grau,
tanto homens como mulheres, acabam
por aceitar as distinções de gênero visí-
veis a nível estrutural e que se estabele-
cem ao nível interpessoal, tornando-se ti-
pificados do ponto de vista do gênero, ao
assumirem para si próprias os traços de
comportamento e papéis normativos
para as pessoas do seu sexo, na sua cul-
tura (Crawford, 1995). Para além desta
internalização de traços, comportamen-
tos e papéis, as mulheres internalizam
também a sua desvalorização e subordi-
nação.
103
O gênero é, deste modo, uma inven-
ção das sociedades humanas, uma "peça
de imaginação" com facetas múltiplas:
construir adultos (homens e mulheres
desde a infância), construir os "arranjos
sociais" que sustêm as diferenças nas
consciências de homens e mulheres (divi-
são das esferas da vida privada/pública,
por exemplo) e a criação de significado,
em resumo, criar as estruturas linguísti-
cas que modelam e disciplinam a nossa
imaginação (Hare-Mustin & Marecek,
1990; 1994).
Como referem Howard e Hollander:
“Através da interação,
negociamos interpretações
particulares; isto é, criamos
significados. Através da lin-
guagem, através da partici-
104
pação nos rituais da intera-
ção social, através do nosso
envolvimento activo com os
símbolos e as realidades ma-
teriais da vida de todos os
dias, nós literalmente cria-
mos aquilo que reconhece-
mos como real. ” (1997, p. 35).
105
modo a percepção que o gênero é sexual-
mente diferenciado e sexualmente defi-
nido.
Assim, o processo contínuo de fazer
gênero, recria a construção desse mesmo
gênero. As mulheres são diferentes, por
virtude de serem mulheres, mas parado-
xalmente, isso não é porque sejam mu-
lheres. As exigências dos contextos soci-
ais constituem os primeiros determinan-
tes do comportamento de forma genderi-
zada (Nogueira, Neves & Barbosa, 2005),
sendo que este processo torna-se tão fa-
miliar que acaba por ser experienciado
como uma parte da maneira de ser: as
pessoas percebem-se como intrinseca-
mente genderizadas porque o gênero
"inunda" completamente as experiências.
As abordagens construcionistas soci-
ais enfrentaram (e ainda enfrentam) no
momento, o debate acerca da assunção
de posições mais próximas do realismo
106
ou, pelo contrário, relativistas e suas im-
plicações para políticas ativistas feminis-
tas (Nogueira, 2001e). Assumir a inexis-
tência de categorias universais impossi-
bilita a defesa da igualdade entre ‘mulhe-
res’ e ‘homens’? Como defender o femi-
nismo face a uma pluralidade de identi-
dades?
Tentando refletir sobre esta proble-
mática relativamente ao gênero, Gill
(1995) oferece a alternativa da reflexivi-
dade, que nos parece ser, de momento,
bastante útil aos propósitos de uma psi-
cologia que não se quer convencional e
de um feminismo que se pretende eman-
cipatório. Uma posição relativista radical
é extremamente problemática para as fe-
ministas e para todos aqueles/as interes-
sados na transformação social, principal-
mente porque nega os compromissos po-
líticos na pesquisa. No entanto, a solução
não passa por renegar o relativismo e
107
abraçar novamente o realismo, acredi-
tando que é possível obter conhecimento
“correto” acerca do mundo social; deve-
se evitar que as escolhas recaiam numa
polarização entre relativismo e realismo.
É possível levar a cabo uma pesquisa
“não neutra” que represente uma espécie
de princípio fundador das perspectivas
construcionistas e discursivas, uma espé-
cie de relativismo "sem vergonha de ser
político", através do qual as feministas
possam fazer das transformações sociais
as preocupações explícitas do seu traba-
lho (Nogueira, 2001a). Para isso será ne-
cessário reinventar um novo vocabulário
de valores, crítico (DeFrancisco &
Palczewski, 2007; Neves & Nogueira,
2005; Prilleltensky & Nelson, 2006) com o
qual se possam fazer intervenções políti-
cas e sem as quais as/os feministas fica-
rão teórica e politicamente paralisadas
perante as desigualdades, a injustiça e a
108
opressão.
Defendo que para o estabelecimento
de uma posição de princípio que repre-
sente um novo vocabulário de valores, é
necessário por um lado, uma articulação
entre as ideias pós-estruturalistas e pós-
modernistas, especialmente construcio-
nistas sociais na psicologia e um projeto
político emancipatório, que envolva
construir uma posição, negociar uma co-
ligação ou assumir categorias, mesmo
que de forma provisória em situações de
alianças necessárias para lutas específi-
cas.
Em síntese, o que é necessário é uma
espécie de relativismo ou ceticismo epis-
temológico que não evite ou faça desapa-
recer a questão dos valores. Os valores
devem ser explicitados e colocados numa
arena onde possam ser discutidos
(Ibáñez & Íñiguez, 1997; Prilleltensky &
109
Nelson, 2006). As perspectivas construci-
onistas sociais e discursivas devem ado-
tar uma reflexividade que enfatize a ne-
cessidade do(a) analista reconhecer os
seus próprios compromissos e de refletir
criticamente sobre eles. Assim, uma polí-
tica de articulação feminista implica tra-
çar ou delinear as dinâmicas do poder de
diferentes discursos de feminilidade, de
investigar as maneiras como a comuni-
dade das mulheres ou homens tem sido
construída em diferentes contextos, de
questionar abertamente a formulação de
discursos dominantes sobre as mulheres,
e evidenciar as alternativas até aí subor-
dinadas (Wetherell, 1995).
"Assumir uma psicolo-
gia feminista, que reconheça
que a produção do conheci-
mento é um processo discur-
sivo e político, que não pre-
tenda “descobrir” as razões
110
para os fenômenos, antes in-
tervir na sua alteração, im-
plica assumir um posiciona-
mento reflexivo, crítico, e de
comprometimento, isto é, a
necessidade de um novo vo-
cabulário de valores" (No-
gueira, 2001a, p. 247).
111
crítica es sobre todo el resul-
tado del continuo cuestiona-
miento de las prácticas de
producción de conocimiento.
Puede ser radical o no, en el
sentido de que puede perma-
necer al margen de cualquier
pretensión de emancipación
social o sentirse plenamente
implicada en ella" (p. 234).
112
O feminismo negro
113
ou tomando procedência sobre as desi-
gualdades criadas pelo gênero. Neste
ponto falo da questão de se assumir o gê-
nero como categoria estável e una versus
diversidade na opressão das mulheres;
questionar se a fonte da subordinação e
opressão das mulheres é essencialmente
o gênero ou se outras localizações das
identidades pessoais (outras categorias
de pertença identitária), podem intervir
no sentido da total desfragmentação
identitária, o que, no limite, inviabilizaria
qualquer projeto coletivo de luta.
A psicologia feminista foi original-
mente desenvolvida por psicólogas bran-
cas da classe média. Ao assumir a ética
da "sororidade" universal, as primeiras
feministas ignoraram as diferentes expe-
riências de vida de mulheres de diferen-
tes contextos étnicos, raciais, nacionais e
multiculturais (Comas-Diaz & Greene
1994). Por isso, algumas facções dentro
114
do feminismo, acreditam que ela (psico-
logia feminista) poderá corresponder
apenas à perspectiva da maioria privile-
giada, onde apenas a categoria gênero
funciona como o maior local/sistema de
relações de poder desiguais (Davis, 1981;
Knapp, 2005). A posição feminista das
mulheres negras (feminismo negro) tem
sido particularmente influente ao trazer à
luz a diversidade entre as mulheres. A in-
sistência do feminismo multicultural na
diversidade das experiências das mulhe-
res despoletou novas áreas de estudo e
de investigação relativas à pluralidade
das identidades sociais e pessoais das
mulheres. Esquecer a influência de ou-
tros sistemas de poder (por exemplo o ra-
cismo), implica negar a sua influência na
construção das identidades femininas.
Como algumas autoras feministas
referem (Bordo, 1993; Hooks, 1984), o
115
discurso da emancipação de gênero pro-
movido pela segunda onda do femi-
nismo esteve sempre centrado nas expe-
riências das mulheres brancas de classe
média alta e marginalizou as experiên-
cias de mulheres africanas, hispânicas,
indianas e das mulheres pobres. Por isso,
nesta segunda onda do feminismo, prin-
cipalmente nos EUA (palco de grande
parte das teorizações e movimentações),
as relações de poder opressivas duplas
(gênero, "raça") ou triplas (gê-
nero/"raça"/classe) que enfrentavam
muitas mulheres americanas naquela al-
tura, não foram tomadas em considera-
ção e foram ignoradas (Azzarito & Solo-
mon, 2005). O movimento levado a cabo
pelas mulheres negras reclamava que
não se poderia falar da homogeneidade
da categoria de mulheres como se elas
partilhassem as mesmas experiências de
vida. O feminismo negro criticou assim a
116
agenda política e certas lutas do femi-
nismo da época que excluíam por com-
pleto as experiências das mulheres ne-
gras (Hooks, 1984).
117
O gênero e a diversidade na
terceira onda
118
a diversidade precisa de lentes mais afi-
nadas e sofisticadas para ser percebida”
(2010, p. 26).
No entanto, a terceira onda não é
uma perspectiva uniforme, como se viu
no ponto de apresentação (breve) das on-
das no feminismo. Inclui uma série de
abordagens diversificadas e analitica-
mente distintas para o(s) feminismo(s).
Pode-se dizer, no entanto, que existem
pontos comuns: o foco sobre a diferença,
a desconstrução e descentralização
(Mann & Huffman, 2005) que vão dar ori-
gem a diferentes posições dentro desta
onda, algumas de compromisso estraté-
gico possível e outras com potencial mais
duvidoso.
Até o momento, quatro grandes
perspectivas resultaram e têm contribu-
ído mais para esse novo discurso da ter-
ceira onda do feminismo: a teoria da in-
119
terseccionalidade, desenvolvida inicial-
mente por mulheres negras associadas
aos movimentos feministas críticos da
"raça"; abordagens feministas pós-mo-
dernistas e pós-estruturalistas, a teoria
pós-colonial feminista, muitas vezes refe-
rida como o feminismo global e a
"agenda da nova geração de jovens femi-
nistas"(Mann & Huffman, 2005).
Os desafios iniciais à segunda onda
do feminismo compartilham o foco na di-
ferença, mas resultaram em dois campos
políticos opostos: um que abraçou uma
política de identidade como a chave para
a libertação e um segundo que assume a
liberdade na resistência à identidade. O
primeiro é melhor ilustrado pelas femi-
nistas negras dos anos 80, cuja identi-
dade política e teoria da interseccionali-
dade da época criticavam a segunda
onda pelo seu alegado essencialismo,
"solipsismo" branco, e por não tratarem
120
adequadamente as opressões simultâ-
neas e múltiplas. O último campo é
exemplificado pelas feministas pós-mo-
dernas e pós-estruturalistas mais radicais
que criticamente questionam a noção de
identidade coerente e assumem a liber-
dade como a resistência à classificação ou
identidade.
Foram as críticas provenientes das
teóricas feministas críticas da "raça", as
primeiras a inaugurar esta terceira onda.
O cerne desta nova direção no feminismo
partiu da crítica da mulher essencialista
da segunda onda, que ignorava ou mini-
mizava as diferenças entre as mulheres,
assim como da ausência em compreen-
der e teorizar sobre as opressões múlti-
plas e simultâneas experienciadas princi-
121
palmente pelas mulheres negras nos Es-
tados Unidos33. Como consequência des-
tas críticas e dos seus novos posiciona-
mentos, a sua teorização foi inicialmente
muito cunhada com as políticas de iden-
tidade, como uma política enraizada na
identidade do grupo social, da sua locali-
zação na estrutura social e, por isso, na
necessidade de políticas especiais34. No
entanto, uma vez que as identidades
eram exclusivas, encarnavam em si mes-
mas o mesmo potencial essencialista, que
132
tas duas autoras pensam que será possí-
vel combinar uma incredibilidade face às
meta-narrativas com o poder social crí-
tico do feminismo, concebendo uma ver-
são de criticismo que seja suficiente-
mente robusta para analisar o sexismo
assim como outros sistemas de opressão.
Referem, por isso, que a teorização deve
ser explicitamente histórica, atenta às es-
pecificidades culturais das diferentes so-
ciedades e períodos, e aos grupos dentro
dessas mesmas sociedades e períodos,
isto é, que localize e situe as categorias
dentro de campos históricos, e evite o pe-
rigo de generalizações falsas. A grande
vantagem deste tipo de teoria reside na
sua utilidade para a prática política femi-
nista contemporânea, já que, nesta pers-
pectiva, esta é cada vez mais uma ques-
tão de alianças, e não uma unidade à
volta da universalidade partilhada de in-
133
teresses ou identidade. Reconhecer a di-
versidade das necessidades e experiên-
cias das mulheres e dos homens significa
não aceitar soluções únicas e universais.
Concluindo, apesar de haver muito
quem pense nesta onda como um para-
digma essencialmente geracional, a no-
ção de terceira onda indicando uma posi-
ção teórica que abre um espaço de relati-
vização do feminismo branco Euro-Ame-
ricano é também atrativa para uma di-
versidade de feministas, que veem nesta
perceptiva uma abertura para um espaço
mais amplo de diálogo transnacional en-
tre movimentos feministas (Wekker,
2004; Dean, 2009). A terceira onda pode
injetar novo vigor e vitalidade crítica
num projeto feminista.
A teoria da interseccionalidade que
será apresentada na terceira parte, é uma
das consequências teóricas desta terceira
onda e será assumida na psicologia com
134
a complexidade e o posicionamento teó-
rico e político que foi assumido. Isto é,
uma visão crítica do gênero (Nogueira,
2001c), que implica sair da obsessão cul-
tural do binarismo das diferenças de sexo
ou das diferenças de gênero (Nogueira,
Neves, & Barbosa, 2005), reafirmar a
complexidade da intersecção múltipla de
pertenças (Nogueira, in press) e afirmar a
necessidade de adoção de um novo voca-
bulário crítico (Nogueira, 2001a; DeFran-
cisco & Palczewsky, 2007). Assume-se,
por isso, um feminismo construcionista,
que sendo crítico, pode comprometer-se
com a política e, consequentemente, com
possibilidades reais de mudança e com
os compromissos (teórico/epistemológi-
cos) que isso possa acarretar (Neves &
Nogueira, 2004; Nogueira, 2001b).
135
A teoria da interseccionalidade
137
ver maior igualdade entre sexos em ter-
mos materiais, com a taxa de empregabi-
lidade a aumentar nas mulheres, será que
esta situação se adequa a todas as mulhe-
res? Mesmo sem falar das desigualdades
a nível mundial entre o Norte e o Sul,
dentro de um mesmo país, desenvolvido
ou menos desenvolvido, a matriz de su-
bordinação/privilégio, atua, de forma di-
ferenciada de modo a permitir benefícios
e dificuldades quer a homens quer a mu-
lheres? Que outras diferenças, resultan-
tes de pertenças grupais distintas, se in-
tersectam para resultar num padrão de
desigualdade mais complexo e por isso,
mais ou menos otimista, quanto aos da-
dos que frequentemente são apresenta-
dos nos relatórios de organismos oficiais
nacionais e internacionais? Será que
ainda é possível falar só, e apenas, de gê-
nero? Será que é ainda lícito, quando se
fala de gênero, não referir sempre, outras
138
pertenças identitárias?
A estas questões pode-se responder
com teorização, mas também com ques-
tões de estratégia política. Nem sempre
as respostas a estas duas grandes maté-
rias são coincidentes do ponto de vista
das questões epistemológicas subjacen-
tes e, por isso, poderemos ter de jogar o
jogo da ambiguidade, muitas vezes da
contradição, sendo que na prática, ape-
nas se faz atualização de um pragma-
tismo político. A política de alianças, con-
siderando categorias negociáveis e provi-
sórias, pode ser a resposta política, e a te-
oria da interseccionalidade uma resposta
teórica.
A oposição binária, homem versus
mulher, deixou de ser o único ponto de
interesse a partir dos anos 80 (Stewart &
McDermott, 2004), e a pesquisa volta-se
da dicotomia de gênero para a reconside-
ração das diferenças e das desigualdades
139
entre as próprias mulheres. Esta aborda-
gem designada por abordagem da “di-
versidade” (Ludvig, 2006) ou perspectiva
tradicional de interseccionalidade (Sa-
muels & Ross-Sheriff, 2008) evitava por
isso a essencialização e surgiu depois da
abordagem da igualdade e da aborda-
gem da diferença, já que ambas se focali-
zavam na dualidade de gênero: a igual-
dade exigindo tratamento igual e direitos
iguais enquanto a abordagem da dife-
rença rejeitava a ordem social masculina
dominante e exigia direitos especiais
para as mulheres (Mann & Huffman,
2005) reclamando políticas de identi-
dade40.
A teoria da interseccionalidade tem
141
(Nash, 2008; Shields, 2008). Pretende exa-
minar como as várias categorias (social e
culturalmente construídas) interagem a
múltiplos níveis para se manifestarem
em termos de desigualdade social. Acre-
dita-se que os modelos clássicos de com-
preensão dos fenômenos de opressão
dentro da sociedade, como os mais co-
muns baseados no sexo/gênero, na
"raça"/etnicidade, na classe, na religião,
na nacionalidade, na orientação sexual
ou na deficiência (as designadas catego-
rias master) não agem de forma indepen-
dente uns dos outros; pelo contrário, es-
sas formas de opressão inter-relacionam-
se criando um sistema de opressão que
reflete a interseção de múltiplas formas
de discriminação (Azzarito & Solomon,
2005; Browne & Misra, 2003; DeFrancisco
& Palczewski, 2007; McCall, 2005; Nash,
2008; Staunaes, 2005).
E se na psicologia feminista um novo
142
vocabulário crítico, representa assumir a
questão da interseccionalidade, as hierar-
quias de poder e as estruturas sociais de
opressão/privilégio como centrais,
pode-se perguntar, como estudar o gê-
nero na psicologia nesta terceira onda do
feminismo? Num período por alguns
considerado de backlash, pós-feminista
ou de teorizações conflituantes e des-
construtivas? Poderá a teoria da intersec-
cionalidade ser uma possibilidade ou até
uma oportunidade para a psicologia fe-
minista da terceira onda? Será que esta
teoria permitirá que mais pesquisadores
considerem "urgente" (Cole, 2009) ter es-
tas ideias em mente e se aventurem por
estes domínios?
Contudo, para melhor se compreen-
der a teoria da interseccionalidade e ten-
tar responder a estas questões, implica
começar por traçar uma breve história.
As críticas das mulheres negras ao
143
essencialismo do feminismo convencio-
nal permitiram instalar a crítica e enfati-
zar que as feministas que pretendem fa-
lar por todas as mulheres não tomam em
atenção a classe, a "raça", a orientação se-
xual etc. (Hooks, 1984; Collins, 2000;
Mahalingam, Balan & Haritatos, 2008). O
feminismo negro criticou assim a agenda
do feminismo liberal da época (protago-
nizado por exemplo por Betty Friedman)
por não se sentirem representadas. A
agenda política e certas lutas do femi-
nismo da época excluíam por completo
as experiências das mulheres negras.
Contudo, é importante esclarecer que
muitas feministas desestabilizaram a no-
ção universal de “mulher” sem expressa-
mente mobilizarem o termo intersecciona-
lidade, argumentando que o ser “mulher”
em si mesmo é um terreno contestado e
fraturado e que a experiência resultante
de "ser mulher" é sempre constituída por
144
sujeitos com interesses diferentes (No-
gueira, 2001a). No fundo, a intersecciona-
lidade deu um nome a um compromisso
teórico e político previamente existente
(Nash, 2008), e dá mais ênfase a uma ma-
triz de opressão/privilégio.
A interseccionalidade tem, assim,
uma longa história, mas foi popularizada
pelo trabalho de Crenshaw (1989; 1991) e
é hoje reconhecida como um paradigma
de pesquisa (Hancock, 2007) que tem por
base uma série de importantes premissas
relacionadas com a simultaneidade das
múltiplas categorias de pertença a vários
níveis (Hankivsky et al. 2010).
Kimberlé Crenshaw (1989; 1991),
uma advogada e acadêmica da área do
direito foi a primeira a usar o termo in-
terseccionalidade nos anos 80 (Berger &
Guidroz, 2009; Bowleg, 2008; Brone &
Misra, 2003; Cole, 2009; Purdie-Vaughns
& Eibach, 2008; Samuels & Ross-Sheriff,
145
2008; Stewart & McDermot, 2004; Taylor,
2009; Valentine, 2007, Warner, 2008).
Como ela referia, a experiência intersec-
cional é maior do que a soma do racismo
e sexismo e qualquer análise que não
tome a interseccionalidade em conta não
consegue de forma correta ter em consi-
deração as formas particulares de subor-
dinação de muitas mulheres, particular-
mente as mulheres negras, que eram o
alvo das suas preocupações. Enfatiza por
isso a "multidimensionalidade" das expe-
riências vividas dos sujeitos marginaliza-
dos, referindo que quem acredita que a
identidade existe em camadas removí-
veis e separadas acaba em generalizações
abusivas.
A teoria da interseccionalidade é
também explicada pela acadêmica femi-
nista crítica da "raça" Adrien Wing, como
sendo a noção de que a identidade é mul-
tiplicativa e não aditiva (DeFrancisco &
146
Palczewski, 2007). Em vez de se perceber
a identidade como acúmulo de pertenças
"mulher+branca+heterossexual", é ne-
cessário analisar a identidade como
sendo conceitualizada do tipo "mulher x
branca x heterossexual", por exemplo.
Todas a facetas da identidade são partes
integrais inter-relacionadas de um todo
complexo, sinergético e infundido que
torna tudo completamente diferente
quando as partes são ignoradas, esqueci-
das ou não nomeadas. A metáfora dos in-
gredientes parece ser considerada útil
para explicar a interseccionalidade. O re-
sultado final de uma receita contém to-
dos os ingredientes, mas nenhum é reco-
nhecível nas suas formas separadas. Os
ingredientes ficam de tal forma fundidos
que não podem ser separados outra vez.
Uma abordagem interseccional permite
fugir à generalização abusiva do deter-
minismo biológico, do essencialismo (a
147
pressuposição de que todos os membros
de uma determinada categoria são iguais
porque possuem uma única qualidade
em comum) assim como aos estereótipos
(DeFrancisco & Palczewsky, 2007).
A teoria da interseccionalidade que
agora surge como sendo dos trunfos mais
importantes no feminismo contemporâ-
neo (McCall, 2005) parece poder permitir
expandir o pensamento acerca do gênero
e dos feminismos ao reafirmar a natureza
"multiplicativa interseccional" e o im-
pacto do contexto, chamando a atenção
para o entrecruzar de opressões e privilé-
gios (Bowleg, 2008; Brone & Misra, 2003;
Cole, 2009; Stewart & McDermot, 2004;
Taylor, 2009; Warner, 2008).
Há quem considere que a sua aplica-
bilidade é cada vez maior não só porque
permite a teorização sobre grupos com
148
opressões múltiplas e simultâneas41 ou
mesmo para todas as pessoas (homens e
mulheres, privilegiados ou oprimidos
em diferentes dimensões) na prática, fa-
zendo parte integrante de uma teoria da
identidade (Staunaes, 2005).
Uma análise interseccional resiste à
essencialização de todas as categorias
(tratando todos os membros de um único
grupo social como o mesmo e supondo
que compartilham as mesmas experiên-
cias) e está atenta às especificidades da
data, do local, das histórias e das locali-
zações. Como refere Yuval-Davis (2006),
"as divisões sociais são construídas pela
interligação em condições históricas es-
pecíficas" (p. 200). Não pretende apenas
somar categorias umas às outras
(Bowleg, 2008). Pelo contrário, aspira a
153
Questões de metodologia.
Como "captar" a complexidade
da interseccionalidade?
154
tas pesquisadoras e pesquisadores femi-
nistas acabaram por favorecer metodolo-
gias que valorizam e possibilitam mais
espontaneamente o estudo da complexi-
dade e rejeitar outras por serem conside-
radas muito simplistas ou reducionistas.
Esta opção pode estar a restringir as pos-
sibilidades do conhecimento que pode
ser produzido sobre interseccionalidade,
se se assumir que diferentes metodolo-
gias produzem diferentes tipos de conhe-
cimento (McCall, 2005).
De forma a alargar essas possibilida-
des, Leslie McCall, no seu texto The Com-
plexity of Intersectionality, publicado na
Signs em 2005,42 apresenta uma perspec-
tiva metodológica inclusiva assumindo e
164
des dentro de um único grupo, única ca-
tegoria ou ambos. É sempre uma análise
multigrupal e o método é sistemicamente
comparativo. O espaço categorial pode
tornar-se muito complicado com adição
de qualquer categoria analítica à analise
porque requer uma investigação de quais
os múltiplos grupos que constituem a ca-
tegoria. Por exemplo, a incorporação do
gênero como uma categoria analítica
nesta análise assume que dois grupos se-
rão sistemicamente comparados, homens
e mulheres. E fala-se apenas numa única
categoria em análise, o que não será a si-
tuação típica de estudos interseccionais.
Esta abordagem implica estudos
grandiosos que em estatística usam efei-
tos de interação, multinível e hierárqui-
cos que introduzem mais complexidade
na interpretação dos resultados.
Concluindo, segundo McCall (2005),
165
parece ser possível abraçar uma aborda-
gem de complexidade de interseccionali-
dade inclusiva. A teoria da intersecciona-
lidade implica um grau tão elevado de
complexidade que poderia anular qual-
quer possibilidade de pesquisa e com
isso a possibilidade de intervenção so-
cial, se não se adotasse uma postura plu-
ral e inclusiva. Esta abordagem inclusiva,
assumindo diferentes posicionamentos
metodológicos, que têm obviamente,
subjacentes diferentes posicionamentos
epistemológicos, pode viabilizar conhe-
cimentos e pistas de intervenção impor-
tantes, mesmo do ponto de vista político.
No entanto, pode haver ocasiões, temas
ou projetos em que a assunção simples
da categoria gênero possa ser útil e neces-
sária. Sendo claros quais os objetivos so-
ciais ou políticos que motivam esse tipo
de pesquisa, pode-se compreender as de-
cisões metodológicas mais simplistas ou
166
reducionistas (do ponto de vista teórico)
que tais análises poderão apresentar. E a
interpretação dos dados ou resultados
será sempre uma tarefa mais complexa
para quem estiver teoricamente infor-
mada pela teoria da interseccionalidade.
Considera-se que as diferentes pes-
quisas (com diferentes metodologias) fe-
ministas deverão poder permitir a
(des)ocultação e (des)construção das ca-
tegorias opressivas, a demonstração da
forma como elas operam em termos de
matrizes de subordinação e de privilégio,
para no seu conjunto se “construir” co-
nhecimento válido e útil que permita al-
cançar e potenciar experiências de vida
com qualidade e sem vivências de desi-
gualdade.
Contudo, os métodos para desenvol-
ver estudos e pesquisas numa perspec-
tiva interseccional ainda estão nas mar-
gens da pesquisa na saúde (Vinz &
167
Dören, 2007; Vissandjee, et al 2007) e na
política, assim como na Psicologia
(Bowleg, 2008; Hankivsky et al. 2010). O
desenvolvimento de metodologia inter-
seccional traz a promessa de abrir novos
espaços intelectuais para o conhecimento
e para a produção e tem potencial para
conduzir a inovação quer teórica quer
metodológica.
Para isso será necessário o desenvol-
vimento e clareza quanto aos métodos de
pesquisa (Hankivsky & Christoffersen,
2008). Mesmo as pesquisadoras que se
identificam claramente com a teoria in-
terseccional têm dificuldades em opera-
cionalizar categorias interseccionais
quando estão a iniciar e a desenvolver
projetos de pesquisa.
Por um número de razões, traduzir a
teoria interseccional na prática metodo-
lógica não é fácil (Hankivsky et al. 2010).
168
Em primeiro lugar, existe desconexão en-
tre a interseccionalidade e a conceptuali-
zação de questões de pesquisa e de de-
signs (Bowleg, 2008). Em segundo lugar,
existe falta de segurança em como,
quando e onde a perspectiva interseccio-
nal deve ser aplicada (Cole, 2009; War-
ner, 2009). Em terceiro lugar, a dificul-
dade em aplicar a interseccionalidade a
estudos empíricos, especialmente nas
áreas dominadas pela pesquisa quantita-
tiva também é importante ser referido
(Warner, 2009). Em quarto lugar, pouco
trabalho tem sido feito para determinar
se todas as possíveis intersecções podem
ser relevantes a todo o momento ou se, e
quando, algumas são mais salientes
(Yuval-Davis, 2006). Em quinto lugar, a
interseccionalidade requer informação
pertinente que frequentemente não
169
existe (Hankivsky et al. 2010)43.
O que é importante e necessário é
um debate e uma vontade de levar esta
perspectiva por diante e ter atenção ex-
plícita a como a interseccionalidade pode
informar os designs de pesquisa, a produ-
ção e o conhecimento (Verloo, 2006).
173
tro tipo. Não será expectável que se in-
clua sempre e em todas as circunstâncias
todas as identidades potenciais. Quando
se utilizam estudos de caso pode ser pos-
sível ter essa situação em consideração,
mas se se pretender usar projetos mais
amplos são necessárias escolhas e ter
consciência clara de quais se escolhe e o
porquê de as escolher (Stewart & McDer-
mott, 2004). Algumas categorias podem
ser particularmente importantes em de-
terminados momentos específicos da his-
tória, num contexto particular ou de um
problema em particular, outras podem
ser quase sempre relevantes e significati-
vas para a maioria das pessoas a maior
parte do tempo (Yuval-Davis, 2006).
Outro problema dentro da mesma
questão diz respeito ao fato de ter de se
refletir antes de qualquer tomada de de-
cisão, devido à existência daquilo que a
autora Valerie Purdie-Vaughns e Richard
174
Eibach referem ser o conceito de invisibi-
lidade interseccional (Purdie-Vaughns &
Eibach, 2008). A existência de pessoas
que pelo fato de ocuparem localizações
subordinadas em múltiplas categorias
identitárias e não terem poder na maioria
dos contextos, tornam-se sujeitos "inexis-
tentes". A maior parte da pesquisa é feita
com sujeitos protótipos dentro de deter-
minada categoria45. Quando as pessoas
são "não-prototípicas" em múltiplos gru-
pos sociais podem tornar-se invisíveis e
esta invisibilidade torna-se exclusão,
com consequente não representação e
marginalização. Não havendo conheci-
mento difundido acerca das suas experi-
ências, elas são imperceptíveis e estão
classe social.
178
representar uma multitude de experiên-
cias. Por exemplo, pode haver situações
em que mulheres de diferentes meios e
proveniências e com diferentes localiza-
ções sejam estereotipadas ou percebidas
como simplesmente e absolutamente
"mulheres". De qualquer modo, antes
que a pesquisa se oriente para o estudo
de categorias master é necessário que
haja evidência empírica de que esse es-
tudo se justifica ou então que se decida
investigar hipoteticamente dessa existên-
cia. Goff, Thomas e Jackson (2008) mos-
traram como a categoria “Black” reflete
maioritariamente as representações
acerca dos homens negros e não das mu-
lheres negras.
É fundamental tratar a identidade
como um processo situado dentro dos
contextos sociais estruturais. Representa
assumir que ter uma visão construcio-
179
nista social facilita o processo de pes-
quisa nesta perspectiva da intersecciona-
lidade. Mais do que ser uma coleção de
traços de personalidade ou de experiên-
cias individuais, a identidade é infor-
mada/moldada/construída por estrutu-
ras institucionais, políticas e societais.
Por isso é tão importante compreender
como as identidades estudadas se relaci-
onam com os sistemas estruturais que as
mantêm (Collins 1990, 1998; Stewart and
McDermott 2004).
Numa perspectiva construcionista
social, a "raça", o gênero e a classe por
exemplo, não são categorias estáticas ou
estáveis; pelo contrário, são construções
que se vão traçando de diferentes manei-
ras nas interações sociais (Valentine,
2007). Perceber a identidade como um
"alvo em mudança", constantemente mu-
tável e sendo negociada através das ex-
180
periências pessoais (Diamond & Butter-
worth, 2008) implica um cuidado na
forma de orientar a pesquisa em muitas
fases e principalmente quando se pre-
tende fazer análise de resultados ou in-
terpretações de estudos de caso ou narra-
tivas.
Por fim é importante referir as deci-
sões relativas aos tipos de metodologias
a utilizar: essencialmente qualitativas ou
quantitativas. Nem todas as metodolo-
gias se adequam de forma equivalente
aos objetivos que se enunciaram relativa-
mente à teoria da interseccionalidade.
Alguns pesquisadores argumentam que
os métodos qualitativos em geral tendem
a ser melhores para avaliar a interseccio-
nalidade que os métodos quantitativos,
já que permitem aceder às complexida-
des da experiência múltipla (Bowleg
2008; Stewart and McDermott 2004).
181
Os métodos qualitativos são absolu-
tamente necessários por várias razões.
Permitem informar acerca da natureza
emergente, particular ou parcial do signi-
ficado, prestam atenção à experiência
subjetiva e de como esta está dependente
da localização social. Por exemplo, os fo-
cus group são métodos particularmente
eficazes para se perceber como as pessoas
criam, reforçam os significados e elabo-
ram as identidades através da interação
(Hurtado & Sinha, 2008). Por seu lado, os
estudos de caso que Valentine (2007) re-
fere, podem ser particularmente úteis já
que podem perceber o movimento cons-
tante que os indivíduos experienciam en-
tre diferentes posições de sujeito em dife-
rentes contextos. Alguns métodos quali-
tativos são boas opções para examinar as
categorias master versus emergentes. O
fato de se receber informações dos/as
próprios/as entrevistados/as, permite
182
resultados não esperados que são produ-
zidos pelos próprios sujeitos e grupos.
Isto é particularmente importante
quando se pretende estudar um grupo
que sofra por exemplo de invisibilidade
interseccional (Purdie-Vaughns & Ei-
bach, 2008).
As abordagens longitudinais por
exemplo, podem ser fundamentais
(Vespa, 2009). O estudo relativo à identi-
dade sexual utilizando esta metodologia
permitiu perceber como as experiências
de gênero e de identidade sexual de um
grande conjunto de mulheres acabou por
assumir uma fluidez da sexualidade fe-
minina, uma identidade oscilante e de-
pendente dos contextos e das localiza-
ções específicas, assumindo que a identi-
dade sexual é afetada pelos contextos in-
terpessoais mais do que algo estável (Di-
amond & Butterworth, 2008).
183
Questões críticas à teoria da
interseccionalidade
189
maioria da teorização considera que a in-
terseccionalidade se refere a todas as pes-
soas. Ao assumir esta última possibili-
dade, então estar-se-á a falar de uma teo-
ria da interseccionalidade que seria uma
teoria generalizada da identidade ao re-
conhecer as maneiras pelas quais as posi-
ções de dominação e subordinação inte-
ragem de modo complexo e cruzado para
constituir as experiências dos sujeitos
"pessoas" situadas em matrizes de subor-
dinação (Collins, 2000), mas também de
privilégios.
Por fim, é importante referir uma
questão que continua sem ser explorada
pelos teóricos da interseccionalidade e
que diz respeito à maneira como o privi-
légio e a opressão podem ser co-constitu-
ídos a nível da subjetividade. Ou seja, en-
quanto a interseccionalidade continuar a
descrever essencialmente algumas mar-
190
ginalizações (o espectro da mulher mar-
ginalizada negra e pobre) por oposição a
alguns privilégios (o homem branco he-
terossexual) deixa de descrever as formas
como se cruzam privilégio e opressão, in-
formando as experiências de cada sujeito.
Ao conceber o privilégio e a opres-
são como complexos, múltiplos e simul-
tâneos, a interseccionalidade poderia ofe-
recer uma concepção mais robusta tanto
da identidade como da opressão.
Concluindo, agora que a interseccio-
nalidade se tornou um projeto intelec-
tual/acadêmico institucionalizado como
ferramenta dominante para se conhecer
as vozes marginalizadas, cabe aos inves-
tigadores e teóricos desta perspectiva in-
terrogar criticamente os seus objetivos
para melhor delinear o futuro teórico, es-
sencialmente o seu poder explicativo as-
sim como o movimento político.
191
Conclusão
194
Uma abordagem crítica e intersecci-
onal do gênero implica um grau elevado
de complexidade em termos de pesquisa
(McCall, 2005). O sexo e o gênero não são
simples variáveis que se incorporam nas
equações, são fatores complexos que re-
querem uma atenção cuidada.
É importante falar de momentos de
emancipação e de libertação assim como
de momentos de contradição e acomoda-
ção. Apesar das estruturas institucionais
e do poder social criarem desigualdades,
essas desigualdades não persistem sem
mudança eternamente. Mesmo diante da
opressão e da subordinação, algumas
pessoas encontram maneiras criativas de
se poderem expressar. Não obstante as
constantes ameaças de violência, as pes-
soas resistem. Em muitos casos os atos de
resistência usam as mesmas estruturas
de gênero que servem à subordinação.
Para muitas pessoas os atos de resistência
195
são fundamentais, mesmo que muitas ve-
zes tenham consequências. Para muitas
outras a acomodação parece ser o padrão
que escolhem para melhor levarem as
suas vidas por diante (DeFrancisco &
Palczewsky, 2007).
Reconhecer a diversidade de gênero
não implica negar diferenças entre ho-
mens e mulheres, nem que o gênero ha-
bita os indivíduos de forma imutável.
Como diz Preciado (2004), “não há dife-
rença sexual, apenas uma multitude de
diferenças, uma transversalidade das re-
lações de poder, uma diversidade de ex-
periências de vida” (p. 25). E se há dife-
rentes posicionamentos para enfrentar
esta complexidade, por que não usá-los
para em conjunto se produzir um saber
sempre questionado, sempre crítico,
sempre alerta das possibilidades de reifi-
cação, seja de categorias ou assunções
que são temporárias ou provisórias e
196
usadas apenas estrategicamente?
Este período de globalização que
tem afetado de forma muito rápida as re-
lações de poder e tem criado mudanças
e clivagens no poder econômico e cultu-
ral não pode ser comparado a qualquer
outro período histórico (Nogueira,
2001b). Há cada vez mais questões para
colocar e o nosso conhecimento está cada
vez mais incompleto e em rápida mu-
dança. Temos de questionar continua-
mente onde estão as localizações da do-
minação. Temos de perguntar onde es-
tão atos de resistência a ocorrer. É neces-
sário mais do que nunca usar a reflexivi-
dade (Nogueira, 2001a). Ela permite que
se esteja atento a valorizar, a criticar e
analisar subjetivamente. Implica perce-
ber o que se estuda e como se estuda (De-
Francisco & Palczewsky, 2007). O que se
faz ao pesquisar, quem se beneficia e
quem se prejudica (Prilleltenski & Fox,
197
1997; Prilleltensky & Nelson, 2002; Ne-
ves & Nogueira, 2005), o que se reifica, o
que se permite que aconteça.
Escrutinar a interseccionalidade
pode permitir quer às feministas quer às
teóricas antirracistas, melhor avaliarem
as potencialidades e os perigos deste tipo
de teorização “inclusiva”. Ambos os pro-
jetos têm de ter em atenção as questões
da diferença na interseccionalidade ao
mesmo tempo em que estrategicamente
mobilizam uma linguagem de comunali-
dade (mesmo que provisória ou tempo-
rária) ao serviço da construção de uma
agenda política e teórica coerente (Nash,
2008).
Reconsiderar a interseccionalidade
permite às ativistas questionar em que
condições se devem organizar em movi-
mentos políticos unitários mais amplos,
como mulheres ou mulheres negras por
exemplo, em que condição ou contexto
198
faz sentido fazer coligações temporárias
e como se organizar para além das dife-
renças.
Faço minhas as palavras de Ibañez
(1996), que refere ser da nossa responsa-
bilidade enquanto psicólogas(os) eleger o
conhecimento que queremos produzir:
um conhecimento de tipo autoritário, ali-
enante, normalizador que passe a fazer
parte dos múltiplos dispositivos de do-
minação ou pelo contrário um conheci-
mento de tipo libertador, emancipador
que traga para a arena as lutas das pes-
soas contra a dominação. Deve-se pro-
mover uma mudança radical. Mas, para
fazer da psicologia uma prática liberta-
dora, é necessário começar a construí-la
em oposição aos pressupostos que fazem
dela uma arma de dominação (como
mostramos em Oliveira, Neves & No-
gueira, 2009). E porque sou adepta da
199
psicologia enquanto projeto emancipa-
dor posso assumir uma psicologia social
crítica, mas também radical (Íñiguez-Ru-
eda (2003).
"La Psicología social
crítica es sobre todo el resul-
tado del continuo cuestiona-
miento de las prácticas de
producción de conocimiento.
Puede ser radical o no, en el
sentido de que puede perma-
necer al margen de cualquier
pretensión de emancipación
social o sentirse plenamente
implicada en ella" (Lupicinio
Íñiguez-Rueda, p. 234).
200
será também uma oportunidade para au-
mentar o conhecimento sobre as experi-
ências vividas de todas as pessoas, enfa-
tizando as normalmente esquecidas, in-
visíveis ou totalmente complexas na sua
interseccionalidade. Produzir um conhe-
cimento válido, numa época marcada
por profundas assimetrias de formas de
vida e profundas e crescentes desigual-
dades, é um objetivo emancipador que
vale a pena procurar atingir.
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