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1001 Ok
1001 Ok
Informativo 1001-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
▪ O caráter nacional da magistratura impede diferenciação remuneratória entre magistrados federais e estaduais;
logo, o teto remuneratório da magistratura federal não pode ser superior que o da magistratura estadual.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
▪ O art. 5º, parágrafo único da Lei 10.101/2000 afirma que o direito dos trabalhadores das empresas estatais à
participação nos lucros e resultados observará as diretrizes específicas fixadas pelo Poder Executivo.
DIREITO CIVIL
EIRELI
▪ É constitucional a exigência de que o capital social da EIRELI não seja inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
vigente no País (art. 980-A do Código Civil).
PENHORA
▪ É inconstitucional a interpretação que permite o bloqueio, a penhora e/ou o sequestro de verbas estaduais, ao
fundamento de que os valores em questão constituem créditos devidos pelo estado a empresas que sejam rés em
ações trabalhistas.
JUIZADOS ESPECIAIS
▪ São constitucionais o art. 60 da Lei 9.099/95 e o art. 2º da Lei 10.259/2001, que preveem a possibilidade de infrações
penais de menor potencial ofensivo não serem julgadas pelo Juizado Especial em casos de conexão ou continência.
EXECUÇÃO PENAL
▪ O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da execução
penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal, desde que ocorra a apuração do ilícito com as
garantias constitucionais.
DIREITO DO TRABALHO
COMPETÊNCIA
▪ Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ação na qual entidade sindical discute recolhimento de
contribuição sindical envolvendo servidores públicos estatutários.
DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
O caráter nacional da magistratura impede diferenciação remuneratória entre magistrados
federais e estaduais; logo, o teto remuneratório da magistratura federal não pode ser superior
que o da magistratura estadual
Teto remuneratório
A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o valor máximo que os agentes
públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de evitar que alguns agentes públicos
recebessem os chamados “supersalários”, que são incompatíveis com o serviço público.
Além de um teto geral (nacional), o dispositivo constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos
Estados e Municípios (chamados de subtetos).
O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que, atualmente, está em R$
39.293,32 (bruto), conforme prevê a Lei nº 13.752/2018.
Exceções:
Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88, tais como
13º salário, 1/3 constitucional de férias etc.;
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art. 40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos (STF RE 612975/MT). Ex.: se
determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio integral como
Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria considerado
especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do limite previsto no art. 37,
XI da CF/88, se considerarmos seus ganhos globais.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto?
SIM. A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
Dessa forma, na prática, o teto passou a vigorar no Brasil a partir da EC nº 41/2003, que foi publicada em
31/12/2003. Isso porque, como vimos acima, essa Emenda afirmou expressamente que, enquanto não
houvesse lei regulamentando o inciso XI, o valor do teto seria a remuneração do Ministro do STF na época.
O primeiro valor do teto remuneratório foi de R$ 19.115,19, remuneração do Ministro do STF naquele
momento.
Veja a redação do inciso XI e do § 12 do art. 37, na redação dada pela EC nº 41/2003:
Art. 37 (...)
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais
agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não
poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal,
aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos
Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores
Públicos;
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao
Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei
Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos
Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios
dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.
ADI
Em 2007, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou ADI contra essa diferenciação alegando
que a instituição de subteto remuneratório para a magistratura estadual em valor inferior ao da
magistratura federal viola diversos dispositivos da Constituição Federal.
Em suma:
Não é possível o estabelecimento de subteto remuneratório para a magistratura estadual inferior ao
teto remuneratório da magistratura federal.
A correta interpretação do art. 37, XI e § 12, da Constituição Federal exclui a submissão dos membros
da magistratura estadual ao subteto de remuneração.
STF. Plenário. ADI 3854/DF e ADI 4014/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 4/12/2020 (Info 1001).
Resumindo o teto
Sei que a redação do inciso XI do art. 37 é muito grande e um pouco confusa:
Por isso, a partir da sua interpretação, podemos construir a seguinte tabela:
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço
público federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço
público federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a
Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público,
lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção.
Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter
perpétuo.
STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020 (Info 1001).
O caput do art. 137 da Lei nº 8.112/90 é válido, sendo compatível com a Constituição Federal.
(...)
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional;
XI - corrupção;
Assim, a norma proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público de servidor que for demitido ou
destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação
irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção.
Esse art. 5º, XLVII, da CF/88 é uma garantia relacionada com sanções penais. Apesar disso, a doutrina
destaca que é possível estendê-la para as sanções administrativas, considerando que existe um vínculo
entre as duas esferas. Tanto a sanção penal como a sanção administrativa são esferas do poder
sancionatório estatal.
Conforme explicou o Min. Gilmar Mendes, o direito espanhol foi o pioneiro em estabelecer essa
relação/comunicação entre as garantias penais e administrativas.
No âmbito jurisprudencial, essa relação já foi reconhecida pelo STJ:
Consoante precisas lições de eminentes doutrinadores e processualistas modernos, à atividade
sancionatória ou disciplinar da Administração Pública se aplicam os princípios, garantias e normas que
regem o Processo Penal comum, em respeito aos valores de proteção e defesa das liberdades individuais
e da dignidade da pessoa humana, que se plasmaram no campo daquela disciplina.
STJ. 5ª Turma. RMS 24.559/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 03/12/2009.
É certo que essa transposição dos princípios e garantias penais para o direito administrativo sancionador
exige adaptações, já que a extensão, à seara administrativa, de todo o rigoroso regime de procedimento
e punição que envolve a restrição à liberdade de locomoção não se demonstra factível tampouco exigível.
Um critério razoável para a delimitação constitucional da atividade punitiva está na impossibilidade da
imposição de sanções administrativas mais graves que as penas aplicadas pela prática de crimes, já que o
ilícito administrativo é um minus (algo menor) em relação às infrações penais.
É nesse sentido que se conclui que a norma constante do art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88 se aplica às sanções
administrativas para impedir a imposição de pena administrativa perpétua.
Em suma:
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público
federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública,
improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e
dilapidação do patrimônio nacional e corrupção.
Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo.
STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020 (Info 1001).
SERVIDORES PÚBLICOS
O art. 5º, parágrafo único da Lei 10.101/2000 afirma que o direito dos trabalhadores das
empresas estatais à participação nos lucros e resultados observará as diretrizes específicas
fixadas pelo Poder Executivo
Lei nº 10.101/2000
A Lei nº 10.101/2000 regulamentou esse direito:
Art. 1º Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como
instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade, nos
termos do art. 7º, inciso XI, da Constituição.
As regras da Lei nº 10.101/2000 podem ser aplicadas também aos trabalhadores de empresas estatais
(empresas públicas e sociedades de economia mista)?
Veja o que diz o art. 5º da Lei:
Art. 5º A participação de que trata o art. 1º desta Lei, relativamente aos trabalhadores em
empresas estatais, observará diretrizes específicas fixadas pelo Poder Executivo.
Parágrafo único. Consideram-se empresas estatais as empresas públicas, sociedades de economia
mista, suas subsidiárias e controladas e demais empresas em que a União, direta ou
indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.
ADI
A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC) ajuizou ADI contra a previsão do art. 5º
da Lei nº 10.101/2000 afirmando que a norma teria conferido caráter facultativo ao pagamento da PLR
aos trabalhadores de empresas estatais. Segundo a CNTC, a PLR é um direito social com caráter
obrigatório.
Dessa forma, a Confederação requer na ADI a declaração de inconstitucionalidade do art. 5º da Lei nº
10.101/2000.
DIREITO CIVIL
EIRELI
É constitucional a exigência de que o capital social da EIRELI não seja inferior
a 100 vezes o maior salário-mínimo vigente no País (art. 980-A do Código Civil)
EIRELI
A EIRELI é uma forma de pessoa jurídica composta por uma só pessoa física.
Trata-se de uma forma de pessoa jurídica unipessoal autônoma e que apresenta, portanto, personalidade
jurídica e patrimônio distintos daquele titularizado pela pessoa física que explora a atividade em questão.
Consiste em uma técnica de limitação dos riscos empresariais em benefício dos empreendedores
individuais.
A EIRELI foi criada pela Lei nº 12.441/2011, que acrescentou o art. 980-A ao Código Civil.
Antes da EIRELI, se João quisesse abrir uma loja no centro da cidade para vender vestuário, ele teria duas
opções:
1ª) explorar essa atividade econômica como empresário individual;
2ª) encontrar um outro indivíduo para ser seu sócio e constituir uma sociedade empresária.
A desvantagem de explorar como empresário individual era o fato de que João iria responder com seus
bens pessoais e de forma ilimitada por todas as dívidas que contraísse na atividade econômica.
Tal situação fazia com que muitas pessoas arranjassem um “laranja” para figurar como sócio em uma
sociedade limitada, normalmente com capital social de 1%. Obviamente que tal realidade não era simples
nem correta, servindo como desestímulo à livre iniciativa.
Com a previsão legal do art. 980-A, João poderá, sozinho, constituir uma EIRELI para desempenhar sua
atividade empresarial, com a vantagem de que, na EIRELI, a responsabilidade de João pelas dívidas será
limitada ao valor do capital social.
Obs: em 2019, ou seja, após a criação da EIRELI, foi editada a Lei nº 13.874/2019, que acrescentou dois
parágrafos ao art. 1.052 do Código Civil prevendo a possibilidade de a sociedade limitada ser composta
por um único sócio:
Art. 1.052. (...)
Requisitos
Os requisitos para a constituição da EIRELI são os seguintes:
a) Uma única pessoa natural, que é o titular da totalidade do capital social;
b) O capital social deve estar devidamente integralizado;
c) O capital social não pode ser inferior a 100 (cem) vezes o salário-mínimo;
d) A pessoa natural que constituir EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa dessa
modalidade. Assim, para evitar fraudes, ninguém pode ser titular de duas empresas individuais de
responsabilidade limitada.
ADI
Como se viu acima, o caput do art. 980-A do CC afirma que o capital social da EIRELI não pode ser inferior
a 100 vezes o maior salário-mínimo vigente no país.
Ainda em 2011, o então Partido Popular Socialista ajuizou ADI contra essa limitação de 100 salários-mínimos.
Segundo argumentou o autor, essa previsão violaria:
• o art. 7º, IV, da Constituição Federal, que veda a vinculação do salário mínimo para qualquer fim; e
• o princípio da livre iniciativa, previsto no caput do art. 170 do texto constitucional.
Essa proibição, contudo, não é absoluta e deve ser analisada segundo os objetivos da norma.
O dispositivo constitucional possui duas finalidades:
• em primeiro lugar, trata-se de evitar que o valor do salário mínimo possa ser utilizado como indexador
econômico, estimulando a espiral inflacionária a cada novo reajuste periódico, o que, na prática, acabaria
anulando o ganho real do trabalhador, na medida em que os preços seriam aumentados em idêntica
proporção.
• em segundo lugar, trata-se de impedir que critérios estranhos àqueles previstos no inciso IV, do art. 7º
– isto é, moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social
do trabalhador e de sua família – possam interferir nos debates relativos à fixação do salário mínimo e, na
prática, dificultar seu reajuste periódico.
Ao fim e ao cabo, a proibição cuida de assegurar que a vinculação não possa representar empecilho à
fixação e ao devido reajuste nos termos em que determina o art. 7º, IV, da Constituição Federal. É uma
forma de assegurar eficácia e a autoridade à norma constitucional.
Essa forma de ler a proibição do inciso IV do art. 7º do texto constitucional deixa claro que não é toda e
qualquer referência ao salário mínimo que será ofensiva à Constituição. Há casos tais em que a menção é
meramente referencial e, por conseguinte, escapa ao alcance do parâmetro constitucional mencionado.
Não existe, no art. 980-A do CC qualquer forma de vinculação que possa interferir ou prejudicar os
reajustes periódicos do salário mínimo. Ou seja, nada está a indicar que a disposição impugnada esteja,
de fato, compreendida no alcance e no escopo da vedação imposta pelo art. 7º, IV, da Constituição.
A utilização, no caso, é meramente referencial, da mesma forma de tantas outras que se encontram na
nossa legislação em vigor. O valor do salário mínimo serve tão somente como parâmetro para
determinação do capital social a ser integralizado na abertura da EIRELI.
É a mesma situação do art. 3º, I, da Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) ou dos arts. 202 e 258 do
CPC/2015.
Em suma:
A exigência de integralização do capital social por empresas individuais de responsabilidade limitada
(EIRELI), no montante previsto no art. 980-A do Código Civil, com redação dada pelo art. 2º da Lei nº
12.441/2011, não viola a regra constitucional que veda a vinculação do salário-mínimo para qualquer
fim e também não configura impedimento ao livre exercício da atividade empresarial.
STF. Plenário. ADI 4637, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020 (Info 1001).
PENHORA
É inconstitucional a interpretação que permite o bloqueio, a penhora e/ou o sequestro de
verbas estaduais, ao fundamento de que os valores em questão constituem créditos devidos
pelo Estado a empresas que sejam rés em ações trabalhistas
Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento
de valores devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham
créditos a receber da administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e
X, da CF/88, e do princípio da separação de poderes (art. 2º da CF/88).
STF. Plenário. ADPF 485/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).
ADPF
O Governador do Estado ajuizou ADPF contra esse conjunto de decisões judiciais alegando que elas
impõem medidas de constrição sobre verbas públicas e que isso compromete a execução de políticas
públicas, além de afrontar a separação dos poderes e as regras orçamentárias.
Em suma:
Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento de
valores devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham créditos a receber
da administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e X, da CF/88, e do princípio
da separação de poderes (art. 2º da CF/88).
STF. Plenário. ADPF 485/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
Não possui repercussão geral recurso extraordinário que verse sobre lei estadual
posteriormente revogada e que foi objeto de acordo entre os interessados
Como a matéria é muito específica (dispositivos de uma lei estadual) e como não existem mais situações
semelhantes a serem resolvidas (em razão do acordo), o STF entendeu que não estava mais presente o
requisito da repercussão geral e, por isso, negou seguimento ao recurso extraordinário, nos termos do art.
323-B do Regimento Interno:
Art. 323-B. O relator poderá propor, por meio eletrônico, a revisão do reconhecimento da
repercussão geral quando o mérito do tema ainda não tiver sido julgado. (Incluído pela Emenda
Regimental n. 54, de 1º de julho de 2020)
Em suma:
Não possui repercussão geral a discussão acerca da constitucionalidade da progressão funcional prevista
na Lei 6.110/1994 do Estado do Maranhão.
STF. Plenário. RE 523086/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).
Importante!!!
Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes
previstos na Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de
suspensão do prazo prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato
cominada ao crime, a despeito de o processo permanecer suspenso.
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312.
STF. Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020
(Repercussão Geral – Tema 438) (Info 1001).
No mesmo sentido: Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo
máximo da pena cominada.
A oitiva de testemunhas pode ser considerada prova urgente para os fins do art. 366 do CPP?
Sim, desde que as circunstâncias do caso concreto revelem a possibilidade concreta de perecimento. Ex:
a testemunha possui idade avançada e se encontra enferma, com possibilidade concreta de morte.
Existe um argumento no sentido de que se as testemunhas forem policiais, deverá ser autorizada a sua
oitiva como prova antecipada, considerando que os policiais lidam diariamente com inúmeras
ocorrências e, se houvesse o decurso do tempo, eles poderiam esquecer dos fatos. Esse argumento é
aceito pela jurisprudência? A oitiva das testemunhas que são policiais é considerada como prova
urgente para os fins do art. 366 do CPP?
SIM. É a posição do STJ.
O fato de o agente de segurança pública atuar constantemente no combate à criminalidade faz com que
ele presencie crimes diariamente. Em virtude disso, os detalhes de cada uma das ocorrências acabam se
perdendo em sua memória. Essa peculiaridade justifica que os policiais sejam ouvidos como produção
antecipada da prova testemunhal, pois além da proximidade temporal com a ocorrência dos fatos
proporcionar uma maior fidelidade das declarações, possibilita ainda o registro oficial da versão dos fatos
vivenciados por ele, o que terá grande relevância para a garantia da ampla defesa do acusado, caso a
defesa técnica repute necessária a repetição do seu depoimento por ocasião da retomada do curso da
ação penal.
Nesse sentido: STJ. 6ª Turma. RHC 128.325/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 08/09/2020.
O STF não tem uma posição consolidada sobre o tema, havendo decisões em ambos os sentidos. Exemplos:
• não admitindo: STF. 2ª Turma. HC 130038/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/11/2015;
• admitindo: STF. 2ª Turma. HC 135386, Rel. Ricardo Lewandowski, Relator(a) p/ Acórdão: Gilmar Mendes,
julgado em 13/12/2016.
Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na
Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de suspensão do prazo
prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o
processo permanecer suspenso.
STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 438)
(Info 1001).
Se, passados os 12 anos, ele não for localizado, o prazo prescricional volta a correr (o que é bom para João).
Depois de 12 anos contados do dia em que o prazo prescricional voltou a tramitar, o juiz deverá declarar
a prescrição da pretensão punitiva.
Em suma, neste exemplo, para que ocorra a prescrição, deverão ser passados 24 anos: 12 anos em que o prazo
prescricional ficará suspenso e mais 12 anos que correspondem ao prazo para que a prescrição ocorra.
Não é permitido que o legislador ordinário crie hipóteses de imprescritibilidade não previstas no texto
constitucional. A imprescritibilidade é opção somente da CF.
Assim, ressalvados os crimes de racismo e as ações de grupos armados contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático, a regra é a prescritibilidade.
Diante disso, é compatível com a Constituição a interpretação conjunta do art. 366 do CPP com o art. 109,
caput, do Código Penal, limitando o prazo de suspensão da prescrição ao tempo de prescrição do máximo
da pena em abstrato prevista para o delito.
De um lado, a própria lógica da prescrição é que as pretensões sejam exercidas em prazo previamente
delimitado no tempo. Ela visa trazer segurança jurídica. Caso essa limitação não exista, o que se tem, ao
fim, é a imprescritibilidade. De outro, o legislador ordinário não está autorizado a criar outras hipóteses
de imprescritibilidade penal.
Além disso, regular o prazo de suspensão da prescrição com o tempo de prescrição da pena máxima em
abstrato cominada ao delito mostra-se condizente com o princípio da proporcionalidade e com a própria
noção de individualização da pena.
Considerando que a prescrição voltará a correr, é possível que o processo também volte a tramitar?
NÃO. Isso contraria o próprio sentido da alteração promovida no art. 366 pela Lei nº 9.271/96. Por ser a
citação por edital uma ficção jurídica, pretendeu-se com a alteração legislativa obstar que alguém fosse
processado e julgado sem que se tivesse a certeza de que tomara conhecimento do processo, em prejuízo
à ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal.
Além de não prestigiar as garantias inerentes ao devido processo legal, a retomada do processo coloca o
réu em situação mais gravosa do que a suspensão do processo e da prescrição ad aeternum. Igualmente,
não está em harmonia com diplomas internacionais, que, à luz da cláusula de abertura prevista no texto
constitucional, têm força normativa interna e natureza supralegal.
JUIZADOS ESPECIAIS
São constitucionais o art. 60 da Lei 9.099/95 e o art. 2º da Lei 10.259/2001, que preveem a
possibilidade de infrações penais de menor potencial ofensivo não serem julgadas pelo Juizado
Especial em casos de conexão ou continência
Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das
infrações penais de menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações
sejam julgadas por outro juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela
conexão ou continência, observados, quanto àqueles, os institutos despenalizadores, quando
cabíveis.
STF. Plenário. ADI 5264/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).
O que acontece se o indivíduo praticar uma infração de menor potencial ofensivo em conexão (ou
continência) com outro crime cuja pena seja superior a 2 anos? Ex: o agente, no mesmo contexto fático,
comete homicídio contra uma das vítimas e lesão corporal leve contra a outra.
Havia polêmica na doutrina sobre o tema.
Uma primeira corrente defendia a ideia de que deveria haver o desmembramento: o Tribunal do Júri
julgaria o homicídio e o Juizado apreciaria a lesão corporal leve.
Outra posição era no sentido de que ambos os crimes deveriam ser apreciados conjuntamente, pelo juízo
competente para o processo do júri, tendo em vista a conexão prevista no art. 79 do CPP:
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
LEI Nº 9.099/95
Antes da Lei nº 13.313/2006 Depois da Lei nº 13.313/2006
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por
Juízes togados ou togados e leigos, tem juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a competência para a conciliação, o julgamento e a
execução das infrações penais de menor potencial execução das infrações penais de menor potencial
ofensivo. ofensivo, respeitadas as regras de conexão e
continência.
Não havia parágrafo único. Parágrafo único. Na reunião de processos, perante
o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes
da aplicação das regras de conexão e continência,
observar-se-ão os institutos da transação penal e
da composição dos danos civis.
LEI Nº 10.259/2001
Antes da Lei nº 13.313/2006 Depois da Lei nº 13.313/2006
Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal
Criminal processar e julgar os feitos de Criminal processar e julgar os feitos de
competência da Justiça Federal relativos às competência da Justiça Federal relativos às
infrações de menor potencial ofensivo. infrações de menor potencial ofensivo,
respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de Parágrafo único. Na reunião de processos, perante
menor potencial ofensivo, para os efeitos desta o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da
Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não aplicação das regras de conexão e continência,
superior a dois anos, ou multa. observar-se-ão os institutos da transação penal e
da composição dos danos civis.
ADI
A Procuradoria-Geral da República não concordou com a escolha feita pelo legislador e ajuizou ADI contra
essa mudança operada pela Lei nº 13.313/2006.
Segundo alegou a PGR, o art. 98, I, da CF/88 determinou que as infrações de menor potencial ofensivo
deveriam ser, obrigatoriamente, julgadas pelo Juizado Especial criminal:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, competentes para a conciliação, o julgamento e
a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial
ofensivo ou togados e leigos, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de
primeiro grau;
(...)
Desse modo, a Lei nº 13.313/2006, ao estabelecer hipóteses na quais a infração de menor potencial
ofensivo não será julgada pelo Juizado (conexão e continência), teria violado o art. 98, I, da CF/88.
Essa tese foi acolhida pelo STF? O pedido formulado na ADI foi acolhido?
NÃO. O STF, por unanimidade, julgou improcedente o pedido formulado na ADI e declarou a
constitucionalidade das alterações promovidas pela Lei 13.313/2006.
Art. 98, I, da CF/88 não afirmou que apenas os Juizados Especiais criminais poderão julgar infrações de
menor potencial ofensivo
O art. 98, I, da Constituição Federal garantiu aos processos nos quais julgadas infrações penais de menor
potencial ofensivo a observância de peculiaridades procedimentais e a incidência de institutos
despenalizadores. Entretanto, não há, na norma constitucional, determinação de exclusividade dos
Juizados Especiais Criminais para o julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo.
A especialização dos Juizados Especiais Criminais tem como objetivo tornar o procedimento célere e
informal, bem como possibilitar a realização de transação penal e a composição dos danos, não sendo
definida a competência jurisdicional em razão do direito material tutelado.
Há no §2º do art. 77 e no parágrafo único do art. 66 da Lei nº 9.099/95 outras duas causas modificativas
da competência dos Juizados Especiais para o Juízo comum, a saber, a complexidade ou circunstâncias da
causa que dificultem a formulação oral da peça acusatória e o réu não ser encontrado para a citação
pessoal. Fosse absoluta a competência do Juizado Especial Criminal em razão da matéria, aquelas
previsões legais, não impugnadas por esta ação direta, ofenderiam o princípio do juiz natural, pois
permitiriam o julgamento por órgão materialmente incompetente:
Art. 77 (...)
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o
Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do
parágrafo único do art. 66 desta Lei.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças
existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.
Nesse sentido, os institutos despenalizadores dos juizados constituem garantias individuais do acusado e
devem ser asseguradas, independente do juízo em que tramitarem as infrações penais.
Assim, se praticada infração penal de menor potencial ofensivo em concurso com outra infração penal
comum e deslocada a competência para a Justiça comum ou Tribunal do Júri, não há óbice, senão
determinação constitucional, à aplicação dos institutos despenalizadores da transação penal e da
composição civil dos danos quanto à infração de menor potencial ofensivo, em respeito ao devido
processo legal.
Ademais, não se deve somar à pena máxima da infração de menor potencial ofensivo com a da infração
conexa (de maior gravidade) para excluir a incidência da fase consensual e ser invocada como fator
impeditivo da transação penal ou composição civil dos danos.
Em suma:
Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações
penais de menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por
outro juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados,
quanto àqueles, os institutos despenalizadores, quando cabíveis.
STF. Plenário. ADI 5264/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/12/2020 (Info 1001).
EXECUÇÃO PENAL
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no
curso da execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal, desde que
ocorra a apuração do ilícito com as garantias constitucionais
Importante!!!
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no
curso da execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do
conhecimento, desde que a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa, podendo a instrução em sede executiva ser
suprida por sentença criminal condenatória que verse sobre a materialidade, a autoria e as
circunstâncias do crime correspondente à falta grave.
STF. Plenário. RE 776823, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 758) (Info 1001).
Faltas disciplinares
Caso o indivíduo descumpra alguma das normas de disciplina impostas, dizemos que ele praticou uma
falta disciplinar. As faltas disciplinares classificam-se em: leves, médias e graves.
• Faltas leves e médias: são definidas pela legislação local (estadual), que deverá prever ainda as punições
aplicáveis.
• Faltas graves: estão previstas nos arts. 50 a 52 da LEP.
Para que o reeducando seja punido administrativamente com a sanção disciplinar da falta grave, é
necessário que, antes disso, ele já tenha sido condenado judicialmente pela prática do crime doloso? Em
outras palavras, para que se puna administrativamente a falta grave, exige-se prévia sentença judicial
condenatória?
NÃO. Para que o reeducando seja punido administrativamente com a sanção disciplinar da falta grave NÃO
é necessário que, antes disso, ele seja condenado judicialmente pela prática do crime doloso. Esse é o
entendimento consolidado no STJ:
Súmula 526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como
crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória
no processo penal instaurado para apuração do fato.
E o STF?
O STF decidiu de maneira semelhante:
• O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal, desde que a apuração do ilícito
disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
• Essa apuração pode ocorrer mediante processo administrativo disciplinar ou por intermédio de
audiência de justificação feita no juízo da execução penal;
• A instrução em sede executiva (processo administrativo ou audiência de justificação) pode ser suprida
por sentença criminal condenatória que verse sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime
correspondente à falta grave, ainda que essa sentença não tenha transitado em julgado.
Não há razão para se condicionar o reconhecimento de falta grave no curso de execução penal, consistente
na prática de crime doloso, ao trânsito em julgado de condenação criminal no juízo de conhecimento.
Enquanto no processo de conhecimento somente o trânsito em julgado da condenação criminal pode
superar a presunção de não culpabilidade para se iniciar o cumprimento de pena, a decisão do juízo da
execução, proferida após apuração de falta grave efetuada de modo válido, diante da dinamicidade da
fase executiva e da necessidade de se assegurar a ordem no estabelecimento prisional, é apta a ensejar a
imposição da sanção disciplinar, sem prejuízo, por certo, do direito recursal do apenado, inclusive, na
busca de provimento de natureza suspensiva.
Exigir o trânsito em julgado do processo de conhecimento para a imposição de falta grave no juízo da
execução penal seria como vincular a competência desempenhada por este àquela a ser exercida pelo
juízo do conhecimento. Essa independência, contudo, é expressa de modo nítido na cisão de
competências: o juízo natural destinado à definição das sanções de natureza penal decorrentes da prática
do fato criminoso em si, submetido à esfera de atribuições do órgão jurisdicional com competência sobre
o processo criminal de conhecimento, é diverso daquele a quem compete a fixação das sanções
disciplinares resultantes da prática de falta grave no curso da execução penal, providência a cargo do juízo
da execução, nos termos dos arts. 48, parágrafo único, e 118, I, da Lei de Execução Penal:
Art. 48. (...)
Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da execução para os fins dos
artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e 2º desta Lei.
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a
transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
A apuração da falta grave demanda a observância dos princípios constitucionais do devido processo legal,
do contraditório e da ampla defesa.
A apuração de faltas dessa natureza não pode ocorrer sem que se observem os princípios constitucionais
do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, normas de caráter transversal que irradiam
seus efeitos por todas as esferas apuratórias e sancionatórias de ilícitos.
Por outro lado, inexiste óbice ao aproveitamento de sentença proferida no processo penal de
conhecimento, após regular instrução criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, pelo
juízo da execução penal para o reconhecimento de falta grave. Esse título, diversamente dos autos de
prisão em flagrante, de inquérito policial ou das petições iniciais dos processos criminais, supre a exigência
de instrução perante autoridade administrativa ou judicial no âmbito executivo, autorizando a
consequente aplicação das sanções disciplinares pela autoridade judiciária competente para decidir
questões relativas à execução penal.
DIREITO DO TRABALHO
COMPETÊNCIA
Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ação na qual entidade sindical discute
recolhimento de contribuição sindical envolvendo servidores públicos estatutários
Esse novo inciso I do art. 114 falou, portanto, que compete à Justiça do Trabalho julgar as ações oriundas
da relação de trabalho, inclusive, envolvendo a administração pública.
Como se utilizou a expressão ampla “relação de trabalho” (e não relação de emprego), alguns
doutrinadores passaram a defender a ideia de que, com a EC 45/2004, a Justiça do Trabalho teria passado
a julgar também as ações propostas por servidores estatutários contra a Fazenda Pública.
Essa tese foi acolhida pelo STF? Esse inciso I do art. 114 abrange lides envolvendo a Administração
Pública e os seus servidores públicos estatutários? Ex: se um servidor público federal estatutário
vinculado ao Ministério da Saúde deseja propor ação contra a União cobrando determinada
gratificação, esta demanda será julgada pela Justiça do Trabalho?
NÃO.
O STF conferiu uma interpretação restritiva ao inciso I do art. 114 da CF/88 e afirmou que a Justiça do
Trabalho não possui competência para julgar demandas propostas por servidores públicos estatutários
contra a Administração Pública.
Assim, no exemplo acima, a competência para julgar esta ação do servidor público seria da Justiça Federal
comum (art. 109, I, da CF/88).
Veja a ementa do leading case:
(...) O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o
Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária.
STF. Plenário. ADI 3395 MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 05/04/2006.
Por outro lado, caso a ação seja proposta por um servidor público celetista (empregado público) contra a
Administração Pública (ex: um carteiro ajuíza ação contra os Correios cobrando verba rescisória), a
competência será da Justiça do Trabalho, com fulcro no art. 114, I, da CF/88). Nesse sentido:
(...) A Primeira Seção desta Corte, em harmonia com as decisões recentes do STF, tem adotado o
entendimento de que a competência para processar e julgar os litígios instaurados entre os agentes
públicos e os entes estatais a que servem depende da natureza jurídica do vínculo entre as partes, cabendo
à justiça trabalhista o exame das relações fundadas na CLT e à justiça comum, federal ou estadual, aquelas
sujeitas a regime estatutário ou jurídico-administrativo. (...)
STJ. 1ª Seção. CC 129.447/RN, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/09/2015.
(...) A Emenda Constitucional n. 45/2004, que deu nova redação ao art. 114 da Carta Magna, aumentou
de maneira expressiva a competência da Justiça Laboral. Entretanto, na Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 3395-6, o Supremo Tribunal Federal - STF suspendeu em parte a eficácia do inciso
I do art. 114 da Constituição da República, que atribuía à Justiça do Trabalho competência para processar
e julgar ações envolvendo entidades de Direito Público e seus respectivos servidores.
IV - Se o vínculo estabelecido entre o Poder Público e o servidor for estatutário, a competência será da
justiça comum (estadual ou federal). Em se tratando de vínculo trabalhista, a competência caberá à justiça
laboral. (...)
STJ. 1ª Seção. AgInt no CC 156.229/SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 28/04/2020.
Se você reparar bem, a decisão do STF foi proferida em 2006, em uma medida cautelar (MC) na ação direta
de inconstitucionalidade (ADI) nº 3395.
Em 2020, o STF concluiu o julgamento desta ADI e confirmou a medida cautelar:
A interpretação adequadamente constitucional da expressão “relação do trabalho” deve excluir os
vínculos de natureza jurídico-estatutária, em razão do que a competência da Justiça do Trabalho não
alcança as ações judiciais entre o Poder Público e seus servidores.
STF. Plenário. ADI 3395, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 984 – clipping).
O INCISO III DEVE SER INTERPRETADO EM CONJUNTO COM O INCISO I DO ART. 114 DA CF/88
Imagine a seguinte situação hipotética:
A Confederação Nacional dos Servidores Públicos do Brasil ajuizou ação contra o Estado-membro pedindo
para que ele seja obrigado a recolher a contribuição sindical dos servidores públicos estatutários e
repassá-la à entidade sindical.
A ação foi proposta na Justiça do Trabalho sob o argumento de que, após a Emenda Constitucional nº
45/2004 (Reforma do Judiciário), compete à Justiça do Trabalho processar e julgar demanda relativa ao
recolhimento e repasse de contribuições sindicais, ainda que de servidores públicos submetidos à relação
jurídica de função pública, nos termos do art. 114, III, da CF/88:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
(...)
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e
entre sindicatos e empregadores; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45/2004)
O art. 114, III, da Constituição Federal deve ser interpretado em conjunto com o art. 114, I, de modo a
excluir da competência da Justiça do Trabalho as causas instauradas entre o Poder Público e os servidores
a ele vinculados por típica relação estatutária ou de caráter jurídico-administrativo.
No julgamento da ADI 3395, o STF afastou toda e qualquer interpretação dada ao art. 114, I, da CF/88 que
inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas instauradas entre o Poder Público
e os servidores a ele vinculados por típica relação estatutária ou de caráter jurídico-administrativo.
Assim, embora com a promulgação da EC 45/2004 tenha sido incluído nas atribuições jurisdicionais da
Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar controvérsias pertinentes à representação de
entidades sindicais, entre sindicatos e empregados e ações entre sindicatos e empregadores, o art. 114,
III, da CF/88 não pode ser interpretado de forma isolada, ao ser aplicado a demandas que digam respeito
à contribuição sindical de servidores estatutários.
O referido dispositivo, ao contrário, deve ser compreendido à luz da interpretação dada pelo STF ao art.
114, I, da CF/88 e aos limites estabelecidos quanto à ampliação da competência da Justiça do Trabalho,
que não inclui as relações dos servidores públicos.
EXERCÍCIOS
5) Não é cabível o ajuizamento de ADPF contra inúmeras decisões judiciais que violem preceito
fundamental da Constituição Federal. ( )
6) Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento de valores
devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham créditos a receber da
administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e X, da CF/88, e do princípio da
separação de poderes (art. 2º da CF/88). ( )
7) Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na
Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de suspensão do prazo
prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o
processo permanecer suspenso. ( )
8) Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações
penais de menor potencial ofensivo, razão pela qual não se permite que essas infrações sejam julgadas
por outro juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência. ( )
9) O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde
que a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e
da ampla defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória
que verse sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave. ( )
10) Compete à Justiça comum processar e julgar demandas em que se discute o recolhimento e o repasse de
contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo regime estatutário. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. C 5. E 6. C 7. C 8. E 9. C 10. C