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conselho do árabe

Ali Taleb, o velho guia que me serviu na última viagem que fiz pelo interior da África, era um homem muito interessante
e original.

Como lhe falasse um dia em comprar um camelo para o transporte das minhas malas, Ali Taleb observou:

— Se um árabe no deserto lhe oferecer um camelo gordo e barato, é preciso agir com prudência: estando só, olhe
para o camelo; se estiver acompanhado, olhe para o árabe!

Fiquei seriamente intrigado com aquele extravagante conselho, cujo sentido não cheguei a penetrar.

Várias semanas passei a meditar sobre o verdadeiro significado daquelas estranhas palavras: “... estando só, olhe para
o camelo; se estiver acompanhado, olhe para o árabe!”

Um dia, afinal, não me contive. Pedi ao velho guia que me explicasse a razão de ser daquele conselho enigmático.

Ali Taleb levou-me para o fundo de sua tenda e contou-me sua história:

— Certa vez, na estrada de El-kali, um árabe me ofereceu um camelo gordo e barato; olhei para o beduíno e notei que
era um homem pobre e andrajoso. Tive pena dele e comprei o animal sem nada mais indagar. Descobri depois o
péssimo negócio que havia feito: o camelo tinha um defeito na perna, era cego de um olho, babava e espantava-se por
qualquer coisa.

Desse dia em diante, jurei pelas barbas do Profeta não mais comprar um camelo sem prévio e minucioso exame. Alguns
meses depois, quando eu me dirigia para o oásis de Ben Amed, encontrei um mercador que se propôs vender-me um
animal em boas condições. Para melhor assegurar-me da precisão do meu juízo, trepei para a sela e fui dar uma
pequena volta pelos arredores.

Quando voltei para o acampamento, fiquei quase louco de raiva: o mercador árabe — que não passava de um vil
bandido — raptara minha mulher e roubara todas as minhas bagagens!

E o velho guia, ao terminar a narrativa de suas desventuras, perguntou-me, ainda, cheio de tristeza:

— Não acha, meu senhor, que é muito prudente o conselho que lhe dei?

Não respondi. Não valia mesmo a pena responder. Muitas vezes, porém, nas pontes de Bajadad ou junto às mesquitas
de Meca, eu repetia aos amigos que partiam a jornadear pelo deserto:

— Estando sozinho olha para o camelo; se estiveres acompanhado olha bem para o árabe!

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