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329
“Não é, pois, no momento da morte nem na proximidade da morte que se tora preciso pensar
nela. É durante toda a vida.”
330
“Uma vida dominada pelo pensamento da morte, e uma morte que não é o horror físico ou
moral da agonia, mas a antivida, o vazio da vida, incitando a razão a não se lhe apegar: eis
porque existe uma relação estreita entre bem viver e bem morrer.”
331
“É preciso ficar em todos os momentos da vida no estado em que as artes moriendi da Idade
Média querem colocar o moribundo: in hora mortis nostrae, como diz a segunda parte da Ave
Maria”.
334
“[...] se bastasse na hora da morte fazer alguns atos cristãos para merecer o Céu, concluir-se-ia
que Jesus Cristo teria falado falsamente. É preciso uma longa preparação, quer dizer, é
necessário nada menos que a vida toda para se preparar ao estado que convém a uma boa
morte e onde os pretensiosos esperam chegar de um só golpe, no momento em que ela se
anuncia.”
343
Houve a passagem, como aponta Ariès, de uma religião medieval, cujo prevalecimento nas
mentalidades era do sobrenatural e uma religião moderna, onde a moral, por sua vez,
prevaleceu.
344
“A morte foi então substituída pela mortalidade em geral, quer dizer, o sentimento da morte,
outrora concentrado na realidade histórica de sua hora, ficava de ali por diante diluído na
massa inteira da vida e perdia assim sua intensidade.”
355
No fim do século XVII, os testadores começam a renunciar decisões sobre seus próprios
funerais, confiando-se nas decisões do executor testamenteiro. Isso pode resultar de dois
sentidos colocados pelo autor: pode se tratar de desinteresse, “não se deram outras instruções
e que se recusa dar mais atenção ao destino de seus despojos terrestres” ou de confiança: “o
abandono ao executor testamenteiro mudará de sentido no final do século XVIII [...] passará
de uma vontade de desprendimento a um testemunho de confiança afetuosa.”