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60 A CRISE DE INSEGURANCA E A RESPOSTA DAS POLICIAS MILITARES Klinger Sobreira de Almeida, Cel PM Conferéncia proferida no “Ciclo de Palestras para Oficiais Superiores”, promovido pela Policia Militar de Pernambuco, em Recife, a 08 Nov 1984. SUMARIO . INTRODUGAO: A Crise de Inseguranga a. Constatagéo b. Como Reverté-ta? ce. Esperar ou Agir: Eis 0 Dilema?!... RESPOSTA A CRISE a. Operacionalidade: Nossa Palavra-chave periéncia Mineira Gio cadtica 2) A reversio do quadro 3) Sintese das medidas adotadas c. A Busca de um Elevado Grau de Operacionalidade 1) Consideracées preliminares 2) Pressupostos basicos para a elevacio da operacionalidade 3) Duas regras salulares visando a elevacio da operacio- nalidade 4) Orientagées tatico/operacionais para as grandes metrépoles 3. CONCLUSAO 1. INTRODUGAO: A Crise de Inseguranga a. Constatagao Nunca a palavra “Seguranga” esteve tio em voga. Nao a “Seguranga” naquele sentido macro que caracterizou uma politica de governo no decurso do processo revolucionario de marco de 1964, ou seja, a Seguranga Nacional com as suas duas faces: Interna e Externa, ou mesmo representada no binémio “Seguranca e Desenvolvimento”. Refiro-me A “Seguranga” no scu sentido estrito, porém néo menos importante. Reportome & “Seguranca do individuo”, & “Seguranca da comunidade”. Reporto-me & Seguranga no seu enlace comunitério; Seguranga da familia, Seguranca da propriedade, Seguranca dos valores culturais ¢ morais da sociedade Sim, Esta é a Seguranca que, hodiernamente, estd em voga. & a seguranca no seu sentido essencial, bem subjetivo mas também objetivo, que diz respeito ao individuo, a sua familia, a0 seu micleo comunitario. £ a verdadeira dimensio subjetiva do conceito de Seguranga Publica: “valor geral, comum e vital a todas as comunidades” (1). Esta Seguranga esta tio em voga porque vive uma crise sem prece- dentes. E uma crise nacional. Uma crise que assola, principalmente, as grandes urbes, esses estudrios que cresceram desordenados na yoragem de uma descontrolada migragao interna, uma inconseqiiente explosio demografica, uma insensata avalanche de miséria social com os seus subprodutos — fome, desemprego, prostituigdo, yadiagem, mendicincia, toxico, analfabetismo, infincia abandonada, etc. — a nos rondar, a inserir-se no conteddo da criminalidade violenta. Esta seguranca est tao em voga porque a inseguranga 6 0 estado coletivo da populagao. Inseguranga que é medo, temor, pavor do trombadinha, do arrombador, do assaltante, do estuprador, do traficante de téxicos. Ninguém esté tranqiiilo nas grandes cidades, A imprensa, esse canal de anseios populares, brada em unissono, consagrando, expressdes e cunhando terminologias caracteristicas como “criminalidade assume dimensdes de terrorismo social”, “populagdo est4 encurralada”, “criminalidade, problema vital”, “impera o pavor coletivo”, “populagio arma-se contra o crime”, “terror coletivo”, “tecido social gangrenado”, etc... Ha poucos dias, os jornais publicavam dados do Instituto Gallup, verdadeiro retrato da crise, Eis alguns topicos sugestivos, 61 “OQ Brasil é um dos paises mais violentos do mundo, apresentando a média de 3,4 familias assaltadas em cada 10 nos tltimos cinco anos, contra 2 familias em cada 10 na Europa e nos Estados Unidos e uma em cada 10 na Asia no mesmo periodo. Entre 21 paises pesquisades, 0 Brasil sé 6 superado pela Colombia, pais em que 49% das familias j4 foram assaltadas nos tltimos cinco anos.” “No Brasil, 19% da populagio urbana ja teve a residéncia assaltada nos Ullimos cinco anos © 11% nos ultimos 12 meses. Nas Capitais dos Estados, no entanto, estes mimeros sobem para 22% nos tllimos cinco anos € 13% de agosto de 1983 a agosto de 1984.” “Entre as regides brasileiras, o Nordeste registrou o maior nimero de assaltos nos Ultimos cinco anos, 36%, seguido do Sudeste com 35%...” “As Capitais dos Estados lideram o indice de violéncia: 46% da popula idades disseram ter sofrido assalto pessoal ou contra membros da familia nos tiltimos cinco anos.” b. Como Reverté-la? Campeia atualmente a “Inseguranca Publica” em algumas das grandes metrdpoles brasileiras. & cero que as duas principais — Rio e Sao Paulo sligio mais avancado, Aquele estagio em que a populagio vive tomada de pavor: arma-se, vai cursar academias de tiro, anda desconfiada cautelosa, transforma sua casa numa cidadela de barreiras perimetrais intransponiveis, coloca alarmas, treina ees, contrata vigias, e muito mais. Em outras, a inseguranga avanga, espraia-se, mas nao atingiu a indices alarmantes. Poucas estio realmente seguras vivendo aquele decantado estagio de tranqiiilidade publica, definide em nosso Manual Basico de Policlamento Ostensivo como sendo o “estagio em que a comunidade se encontra num clima de convivéncia harmoniosa ¢ pacifica, representando assim uma situagao de bem-estar social” — esto num Diante do quadro existente, impde-sc uma reversio da situagao. Onde a inseguranga instalou-se, ha de se adotar medidas que fagam retornar o “clima de Seguranga”, a menos que accilemos conviver com o panico que, certamente, advird com o caos. Onde a Seguranca Pablica esmacce para dar lugar a inseguranca, também ha de se adolar medidas que invertam a tendéncia. De qualquer forma, duas sao as linhas de atuagao. A primeira diz respeilo as causas de tudo isto, Sao sobejamente conhecidas. Eliminando-as, desaparecerféo os efeitos. Contudo, nao vamos, aqui, cair no bizantinismo e discuti-las, pois o foro mais conyeniente ¢ outro, é © foro do poder politico que as discute ha dezenas de anos, mas nao se resolve, ao contrario sé as agrava. Esperamos que, pelo menos, daqui a outras dezenas de anos estejam clididas, ou que algum caminho seja_ encontrado. A segunda linha diz respeito a atuagio nos efeitos. & desenvolvida pelos orgaos institucionais que compdem o majestoso edificio de um hipotético “Sistema de Defesa Social”, Que sistema seria este? — Exisiem os organismos policiais que preyinem e reprimem a criminalidade; os orgios da justiga eriminal que acusam, defendem e julgam (linistérie Pablico, defeasores criminais e juizes criminais); os componentes de um organismo prisional (penitenciaristas, administradores de presidio ¢ juizes de exeeugio penal); os drgios de defesa do menor (juizados, curadores, instituigdes publicas de amparo, etc...). Todos estes érgdos atuam nos efeitos. Nao tém condigé de eliminar © crime ou a violéncia urbana. Entretanto, podem conté-la a niveis razodveis © suportiveis, através de uma aluacio eficiente € eficaz. O ideal seria uma Policia de manutencio da ordem publica que agisse de forma a deixar espagos minimos para a agio do delingiiente, e quando esta ocorresse, prontamente seria reprimida com a sua prisio; em seguida, uma policia judiciéria habil a atuar e investigar sem tergiversar; paralelamente, um Ministério Publico atuante, fisealizador, dinamico ¢ impulsionador da justica criminal; por sua vez, esta julgando rapido, de plano, sem maiores delongas; no coroamento, a execugio penal a funcionar, scgregando e recuperando. Ao lado de tudo isto, um dique de contencio da fabrica de marginais: instituig6es de amparo ao menor e recuperacdo do infante delingiiente. Todavia, entre o ideal e o real vai uma grande distancia, Primei- ramente, ressalta-se a existéncia do conjunto de érgios de defesa social, mas a inexisténcia de um sistema dentro daquela concepgaio de partes, clementos constitutivos que caminham direcionados, interagindo, continua e permanentemente, constituindo um todo sinérgico que visa a um so fim. Na verdade, cada érgio tem sua estrutura compartimentada, as vezes ana- cronica e¢ emperrada, sua politica e seus fins auténomos, Outras vezes, digladiam-se em revalidades inécuas. PM y PC, PC v MP, PC y JC, MP v JC ou SP. Coesos ou no, o importante é assinalar que os érgios de dofesa social, por mais bem estrulurados, eficientes e eficazes que sejam, jamais terao condigdes de erradiear © crime, de suprimi-lo como fendmeno porquanto atuam, preponderante e principalmente nos efeitos. Em contrapartida, podem (e tém este papel) conter a criminalidade violenta a niveis tolerdveis, restabelecendo, portanto, o clima de seguranca publica, ou seja, a relativa idade publica. 63 Esperar ou Agir: Eis 0 dilema?!. Deniro de um hipotético sistema de Defesa Social, a Policia Militar comporia o Subsistema de Seguranga Publica ao lado da Policia Civil, esta com fungie de policia judicidria. Contudo, caso examinemos o nosso mosaico de defesa social, veremos, antes da interacio, a dispersfo, e, neste quadro, a Policia Civil desacreditada e com profundos rangos de corrupc¢ao, além da incompatibilidade crénica em relacio & Policia Militar; um Ministério Ptblieo apatico e com pouca forca institucional face ao nosso defasado e ultrapassado conceito de policia judieiaria; uma Justica Criminal morosa, capenga ¢ impotente aos desatios da realidade; um Subsistema prisional falido; um Subsistema de amparo ¢ correcto do menor, no caos, E quanto a nossa Policia Militar, ou As nossas Policias Militares? Seriam organizacdes perfeitas? Seriam as unicas puras de um impuro Sistema? — Claro que néo!... Como instituigses humanas, inseridas no mesmo tecido, as Policias Militares padecem de males e imperfeigdes, Algumas mais, oulras menos. Porém, com rela s demais instiluigdes, clas levam uma vantagem que as mantém mais integras, inteirigas, mais eficientes num plano superior: tém elas como base institucional a hierarquia e a disciplina. E isto é basilar para torna-las mais confidveis, mais estruturadas, mais invulneraveis as corrosées do submundo do crime, da anarquia, da contes- tagio. Talvez, por causa disso tém sido do alacadas, tio vilipendiadas por alguns segmentos da nagio. Nao obstante, permanecem incdlumes. Contudo, além dessas divagagdes, existem realidades que nos dizem respeito porque nés temos um papel social, As Policias Militares consti- tuem-se na “policia de manutengao da ordem publica”, vanguarda na defesa do individuo e da comunidade. Portanto, se existe uma crise de inseguranga, quem mais aparece nas falhas, quem ¢ mais cobrada: a Policia Militar (ou as Policias Militares). 0 povo, nfo se interessando em indagar sobre causas da criminalidade, lembra-se € de quem tem o dever dirclo de defendé-lo, ayullando-se, assim, 0 papel da érgao policial, mormente da Policia Militar. Ao povo, nio interessa cogilar 0 papel dos érgios mais remotos: ministerio piblico, justica criminal, etc Vejamos a propésito, alguns clamores veiculados pela principal imprensa do paii “OQ municipio de S40 Paulo esta mesmo sem policia... A ousadia da omissio policial talvez decorra do fato de nestes Ullimos 20 anos de regime forte ele ter sido transformado em instrumento desse regime, deixando de servir & sociedade para servir aos poderosos 64 do momento, que colocaram a corporacdo policial acima da sociedade” (Crénica editorial do Jornal o Estado de Sao Paulo — A Policia ciedade — p. 14, 19Jun84). “Ha hoje no Rio lugares onde os moradores quase que prefeririam a “protegio” que Ihes & yendida por quadrilhas aquela que os policiais Ihes oferecem — e nao por simpatia pelos bandidos, mas por nio existir, a sens olhos, grande diferenca entre uns € outros” (Editorial “Uma Policia Eficiente”, 0 Globo, p. 4 13Jan80). “Cabe a policia uma funcdo essencial no estado democratico, E sua a funcdo de garantir a ordem na sociedade, para isto adestran- do-se ¢ dando a sociedade seguranga e tranqitilidade” (Editorial “Pontos a Esclarecer”, J.B, — 30Mar83), “Nada pode haver de mais deletério, para uma sociedade, do que a onda de suspeicao que agora se acumula em torno das nossas forcas policiais, atingidas quase diariamente por ocorréncias em que seus membros, de defensores da lei, surgem transformados em transgressores da lei” (Editorial “Dignidade a Recuperar? — J.B. 10Jul79) “A yioléncia urbana, que tem desafiado juristas, politicos, adminis- tradores, crimindlogos e outros especialistas, continua tema do momento. O setor mais criticado é sem dtivida, 0 do chamado policiamento ostensivo...” (Edilorial “Policia pelo voto” Estado de Minas — 050ut83). “A Policia Militar esta vindo para as ruas, Nao quer dizer que, se ela fizer agao de presenga permanente, o crime ira desaparecer de cireulagio. Mas reduziré a estatistica de criminalidade. 0 policia- mento nao climina o crime, mas da ao marginal o sentimento de risco” (Editorial “Primeiros Sinais” — J.B. — 05Mar80). “A pergunta mais cerebral que pode ocorrer & populacao carioca, em meio & sua indignagéo e ao seu panico diante dos novos atos de violéncia criminosa no Rio, & a seguinte: por que a uma situagdo de criminalidade sistematica nfo corresponde, sob a atual adminis- tragao estadual, uma reacao de policiamento sistemdtico? (Editorial “Contra-ofensiva urgente” — 0 Globo — p. 4, 1.°Jun84). “... a policia perdeu o que o povo chama, genericamente, de “moral”. Perdeu a sua capacidade de impacto sobre 0 mundo do crime” (Editorial “Logica da Violéncia” — J.B. 05Jun84) , “A sensagio de inseguranca individual e coletiva voltou a dominar as grandes cidades brasileiras, principalmente o Rio de Janeiro. Ha duas policias e uma unica certeza: nenhuma delas nos socorre e ambas, ao contrério, nos ameacam direla ou indiretamente. A 65 Policia Militar € declaradamente inepta para enfrentar o problema da violém sriminalidade urbanas.” (Editorial “Terror Coletivo” — J.B. 02Nov80). “Policia omite-se os crimes aumentam”, “Medo e violéncia em $40 Paulo” (Reportagem de Renato Lombardi, Jornal do Estado de Sio Paulo, p. 20, 300ut83). “Em matéria de Seauranca Publica sé existe uma prioridade acima de qualquer diivida: a de garantir ao cidadio comum — porque membro da sociedade, contribuinte e ser humano — © direito de viver protegido em sua integridade fisica e¢ moral, Viver com seguranga na rua ow dentro de casa, de dia ou de noite, trabalhando ou se diverlindo, onde quer enfim que esteja existinde em estado de ordem ¢ civil (Editorial “Investimento em Seguranga”, © Globo, p. 13, 14Mai83). Face ao panorama de inseguranga (ou caminhada para a inseguranga), gerada pela criminalidade violenta, omissio da Policia Militar? a licito uma postura de inéreia ou Seria licito dizer que sozinhos ndo resolyemos? Que a Policia Civil nao autua? Que a justiga solta? Que as causas fogem ao nosso controle? Infelizmente, a postura da inércia ja predominou em alguns segmentos da PMMG, como vémolo em outras Corporagdes atualmente. £ comum opservar até Comandantes dizerem: A Policia Civil é corrupta, ndo trabalha, porque vamos trabalhar Nao adianta prender, a justica sola... Assim, A guisa, de escorar em exemplos negatives, espalham-se o desinimo e © pessimismo. A Policia Mililar cai na rotina da omissio ¢, omitindo-se, é a primeira a ser notada porque o seu papel, a fungio da policia de manu tencio da ordem ptibliea, repito, & a de vanguardeira ma defesa do cidadio ¢ da comunidade contra a criminalidade violenta que apavora, atemoriza © intranqiiliza, Entio, vem o clamor pitblico. Esquecem-se os outros érgios da “Defesa Social”, a organizagio detentora da forca é a responsivel pela inseguranca, ¢ no ha como fugir da responsabilidade. Entio, a resposta ao dilema nao comporta duvidas. A Policia Militar, nao importa se os outros sio omissos. Ela deve AGIR para cumprir o seu papel social. E se nao o fizer, estara coneorrendo para o seu enfraquecimento como instituigio. 2, RESPOSTA A CRISE a. Operacionalidade: Nossa Palavra-Chave Produtividade é a palavra-chave de uma empresa que fabrica, que manufatura visando ao lucro. A produgio de determinado bem é a sua atividade-fim, Numa idéia de grandeza, essa produgio pode ser aquém da 66 possibilidade da fabrica, pode ser normal, ou em nivel timo. Assim, pode haver uma produtividade em nivel baixo, normal ou dlimo. Porém, a produtividade esta associada & idéia intrinseca de qualidade. Se houver apenas quantidade, dissociada da qualidade nio ha de se cogitar de produtividade. Feitas as consideragdes acima, facamos, para nos, uma analogia entre os lermos: produgio-operacao; produtividade-operacionalidade. As Policias Militares descnvolvem a manutengao da ordem publica. © conjunto das ages, predominantemente de Policiamento Ostensivo, cons- Uitai as Operacdes de Manutencio da Ordem Publica. O que a manufatura chama de produgéo, nés denominamos operagdes. Agora, indagariamos: Nossas operacoes zindo efeitos salutares? estio boas? Est3o produ- No quadro do policiamento ostensive, existe © consagrado prin- cipio do objetivo: “O Policiamento Ostensivo visa A tranqiiilidade pdblic pelo desencadeamento de agdes ¢ opcracdes, isoladas ou integradas, com propositos particulares definidos”. (3) Da mesma forma que a inddstria aplica variaveis para medir sua produtividade, as Policias Militares preocupam-se com a OPERACIONALI- DADE. 0 lermo, substantive designative de qualidade, significa qualidade do que @ operacional. Expressa um conceito de grandeza buscado no resultado das operagées policiais-militares. (4) Assim, exemplificando, tomemos uma hipotética cidade mineira de RIO MANSO, onde esti instalado o também hipotético 37. BPM: a estatistica da eriminalidade revela clevada incidéncia de crimes contra a vida, patriménio ¢ costumes; os jornais relatam, diariamente, assaltos, estupros, arrombamentos, ete... 0 povo estranha que, embora os “modus operandi” sejam repetitives e alguns marginais conhecidos, o 372: BPM nao reaja, permitindo a instalagio na cidade, de um yerdadeiro payor coletive, © Comandante da Unidade, entrevisiado, sempre mostra que o policiamento ostensivo est’ na rua, mas que a sua tropa é impolente face a expansiio das causas: desemprego, miséria, etc... Revela ainda que nfo adianta prender pois no ha lugar nos presidios, o Delegado nao autua, o juiz solta ¢ oulras “lengas-lengas”... Em suma, o 37.° BPM niio inova, nfo interessa dar respostas, nao reformula titicas. Simples- mente. convive com a “Taseguranca Piblica”, Estamos af, diante de um caso tipico de baixa operacionalidade do 37° BPM. Poderiamos, portanto, para fixar pardmetros de linguagem, estabelecer trés niveis de operacio- nalidade: BAIXA — NORMAL — ELEVADA 67 E a nossa meta @ a elevada operacionalidade, porquanto & este o nivel que nos satisfaz, que nos permile conter a criminalidade # miveis toleraveis, que nos coloca em paz com a comunidade, ou que enseja a esia viver um clima de Scguranga Public b. A Experiéncia Mineira 1) Consideragdes preliminares: situacdo cadlica A PMMG sempre fez, tradicionalmente, a Seguranga Publica no interior mineiro. Quanto 4 Gapilal do Estado, por forga de uma concepgao guerreira iniciada nos primérdios da segunda década deste séeulo, fomos abandonando as lides policiais como se se tratassem de fungdes menos nobres. Nossos Batalhées foram se aquartclando para o exercicio de técnicas e tatieas de uma hipotétiea guerra convencional. Em contrapar- tida, forgas policiais-civis, mascidas acanhadas e sob 0 estimulo da propri: Policia Militar, cresceram e agigantaram-se, ocupando todo o espaco da Capital. Na década de 60, a Policia Militar encolhia-se alé mesmo no interior, pois a Guarda Civil e¢ 0 Corpo de Fiscais de Transito vinham, paulatinamente, chegando as grandes cidades do interior com uma nova mentalidade e postura policial que se contrapunham aos métodos anacro- nicas de nossos antigos destacamentos policiais. ‘A Corporagio tentou reagir, eriando Diretoria de Policiamento, transformando um “Batalhio de Infantaria” em “Batalhdo de Policiamento Ostensivo”, cstruturando um “Esquadrio de Patrulha Volante”, etc... Mas 0 esforco, em que pese heretleo, obtinha resultados ténues, pois a Policia Civil estava’ bem aferrada nos espagos que, histérica e ingenuamente, cedéramos. Veio, entio, 0 Decreto-Lei salvador de nossa secular instituic¢ao —o 1072 — que decretou a extincio de trés Corporagdes: Guarda Civil, Corpo de Fiseais de Transito e Policia Rodovidria Estadual. A Policia Militar cria Unidade de Policia Rodovidria, Batalhio de Radiopatrulha, Batalhdo de TrAnsito, e parte cuférica para assumir a exclusividade do planejamento e¢ execug%o do policiamento ostensivo. Os anos de 71 a 74 foram anos de um louvivel esforco de pioneirismo. Ficou conhecido como a cra dos P38 que, coordenados diretamente pela antiga Dirctoria de Policiamento Militar, eram os ver- dadeiros comandantes operacionais fas Unidades de Policiamento. Porém, ao esforco desordenado seguiu-se a queda natural. Nao obstante os arranjos organizacionais, a reestruturagio segundo o modelo da TGPM, a operacio- nalidade da Corporacio, que atingira bons patamares, foi caindo, caindo, caindo... Uma avaliagio no 2° Semestre de 1978 chegara a assustar 0 Cmt Geral da época, forgando-o 2 adotar algumas medidas de dinamizagio operacional. Em yerdade, 1978 chegou ao fim com um quadro assustador em termos de Seguranga Piblica. Na Policia Militar o Seguinte Quadro a) a Policia Militar sustentaya-se na RMBH apenas num Batalhdo de Radiopatrutha que, carente de concepgao operacional, esforcava-se desordenadamente ¢ sem controle; b) © cidadao nao via o patrulheiro PM, pois, além do lanca- mento ter chegado a 80% do efetivo ulilizdvel, o pouco que ia as ruas abandonava os setores por falta de fisealizagao; ©) os oficiais aquartelaram-se sob a égide dos Comandantes; as seis horas e meia de expediente eram sagradas; no interior do quartel, todos em uniforme de expediente, dando-se a impressio de um Deparla- mento Administratiyo; Fora da Policia Mililar: a) a cidade era barbarizada pelos marginais de toda a espécie; b) a cidade clamava pela agdo dos organismos ypoliciais, mas os ouvidos dos Cmt e oficiais eram moucos; c) a imprensa, expressando os anscios populares, preconizava a volla da Guarda-Civil. 2) A Reversio do Quadro Lembro-me bem daquela época e da preocupagdo do entao Cmt Geral. Fui convocado do Cmdo de uma Unidade do Interior para assumir a Chefia da PM3. Avaliada a siluacdo, chegou-se a conclusio de que algumas medidas tinham que ser efetivadas com urgencia: — Conscientizar 0 Corpo de Oficiais, a comegar dos Cmt, sobre a missio da Policia Militar, decorrente de seu papel social; — Reorganizar as Unidades e Subunidades de Policia da Capital, estabelecendo-se nova articulagio c¢ definindo um conceito de operacio. Surgiu, entio, o primeiro impacto: as “Diretrizes Provisérias Para a Dinamizagio das Operagées”. Documento simples que estabelecia coisas obvias: obrigava o CPC a exercer pleno controle das operacoes: exigia ® indice minimo de 55% do efelivo existente para langamento diério por UOp; preconizava a reducio do tempo de transmissio de ocorréncia do COPOM; impunha o uso de uniforme operacional para o CPG e UOp subordinadas; eslubelecia a supervisao das operagdes pelo Gmt e seu estado-maior, Além disso, chamava a ateagao dos Cmt para detalhes inerenies 4 sua fungao como: “& um dever indelegavel do Comandante comparecer pessoalmente as areas, subdreas, setores e subsetores de responsabilidade. Ver 69 “inloco” o desempenho de sua tropa Conversar com o homem no local de servigo. Dialogar com os destinalirios de nossa prestacao de servico”. “Ao Soldado, ao homem que executa, € salutar ver que o seu comandante nfo passa as noites apenas a dormir, ao contrario, vive as operagdes de sua tropa, comparece aos locais de operagio durante o dia ou nas madrugadas friorentas. O mesmo é valido com relagio aos Oficiais do Estado-Maior” . Esses ¢ outros parimetros objetivos o documento fixay + © impacto esperado produziu-se. Primeiro a ira contra os redatores do documento, dentre os quais modestamente me incluo. Depois, 4 aceitagao, com re- sisténcia, 6 claro. O certo & que Tenentes Coronéis, Majores, Capities e Tenentes acostumados ao mero expediente administrativo dos dias iteis (2, sairem as ruas, viverem os problemas da area, prestarem antincio de ‘a 6° feira), foram obrigados a colocarem cinto e revélver diariemente, supervisio nas madrugadas, aos feriados, sabados ¢ domingos. Como decorréncia da mesma diretri z, extinguiu-se o Batalhio de Radiopatrulha — as areas de responsabilidade foram redimensionadas, os processos, modalidades e tipos de policiamento — excelo transito € montado — integraram-se. Assim, tivemos, de 79 a 80, uma primeira etapa de conscientizaga Nao foi fa © acalmar melindres feridos, baixou um ato no Boletim Geral, suspendendo as Diretrizes geraioras da mudanga, medida esta apenas de cunho psi- coldgico, porque o citado documento ji tinha surtido todos os seus efeitos a Policia Militar passou a enxergar seu papel. . Tanto assim que um noyo Cmt Geral, para aplaear iras de forma irretornavel e inapagavel. 1981 comega uma nova marcha. © conceito de operacio é aperfeicoado, as conquistas sio impulsionadas. A operacionalidade das UOp/CPC passa 2 dos meios Bfetivo x transporte x comunicagio — a preocupacao com 0 tempo de espera do cidadao, implantagdo do computador. A anilise do resultado das ope ser avaliada objetivamente. De um lado, a combinagio des ou seja, a preocupagio didria com a reducio da eriminalidade violenta contra a vida, patriménio e costumes. Ao lado de tudo isto, a evolugdo das concep¢ ticas, desaguando no atual conceilo de operagdo, descnvolvido ¢ aperfeigoado sucessivamente, © cujas linhas gerais transerevemos: 70 a. Conceito de Operagdo 1) 0 policiamento ostensivo, agio caracteristica e basica da ma- nutengio da ordem pitiblica, é como uma malha protetora distendida por toda a RMBH, tendo por objetivo a trangililidade publica. a) De acordo com esta concepcio, hi uma distensio inieial e basica da malha, num dispositive elistica que visa a: (@) Criar junto a populagio um clima psicolégico de seguranga, pela presenga préxima do policial-militar, eonhecido pela comunidade a que serve e identificado com esta; (2) Constituir-se num primeiro esforgo, caracterizado pela predomi- nincia das atuagdes preventivas, buscando antecipa’ A eclosio do delito; (3) Dar resposta veloz ¢ eficaz aos problemas de Seguranga Publica aflorados (atuagao repressiva) . b) A malha distender-se-a com vistas A ocupag&éo dos espacos varios de seguranga. G) As 4 (quatro) areas de responsabilidade das UOp/CPC, na Capital, serio divididas cada uma em cinco Subéreas, aglutinando bairros e vilas, de responsabilidade de uma Cia. PM; (2) A area dos 13 (treze) municipios restantes da RMBH, de responsabilidade de um BPM, constituira de uma Subirea no munictpio de Contagem, © mais irés Subéreas aglulinando outros municipios exeeto o municipio de Ribeirao das Neves (Sede dos Presidios) que configurara uma Subdrea, as demais serio subdivididas em setores de responsabilidade de um Pel PM; estes, quando englobarem mais de um municipio e distritos, compor-se-io de Dst e Sub Dst. ©) As Cia com responsabilidade de Subérea, na Capital, integrara (1) os seguintes tipos de policiamento: — Ostensivo Geral; — Transito: (2) os seguintes processos de policiamento: ~— motorizado (radiopatrulhamento basico); —a pé. a |) Nas demais cidades da RMBH a integracio de que trata o subitem anterior, far-se-4 até o nivel Dst PM, incluindo policiamento de guarda de Presidios ¢ Cadeias Publicas. e) Para melhor reforgo da tessitura inicial da malha e conseqiiente atingimento dos objetivos, observar-se-a0 os seguintes critérios: (1) Nos locais de risco intenso, serio instalados PPO orientados pela dupla fungao social; ecentripeta e centrifuga, alocando-se uma RP basica, se for 0 nso; (2) © conjunto de locais de risco intenso, contiguos, formara um Poligono Vermelho, para ocupacdo por saluracio. 2) Escalonamento de esforgos sucessivos: a) Primeiro esforgo de recobrimento da malha (1) Cada UOp com responsabilidade de area disporé de uma forca de manobra do Cmt, no valor Cia, composta de 2 (dois) Pelotées Radio- Motorizados (Patrulhamento Tatico-Mével) e¢ 2 (dois) Pelotées de tropa espec (2) Verificado pontos de ruptura da malha, através de continuado estudo de siluagio, 0 Comando da UOp desenvolveré o primeiro esforgo de recobrimento, acionando taticamente a sua forga de manobra em: - saturagio de locais de riseo e PV; — Operacio Presenga como dissuasor psicolégico; — Batidas Policiais. b) Segundo esforgo de recobrimento. (1) BPCha, RPMont, BPTran, Cia PGd e Cia PFem serao consi- deradas forgas de manobra do CPC (Unidades Talico-Méveis) ; (2) Apesar do duplo esforgo da UOp/area (distensio da malha ¢ primeiro esforgo de recobrimento), detectadas movas rupluras da malha protetora e impotente em meios a Unidade responsivel, 0 CPC, lastreado em estudo de situagio, manobraré suas forgas tilicas de forma (a) Saturar locais de risco continuado com patrulhamento montado, patrulhamento 2 pé, policiamento com caes e policiamento feminino: (b) Operagécs especificas de transito (Blitz, fumigena, ete...). (3) Nesta fase, definem-se os seguintes empregos de tropa sob a responsabilidade das Unidades do CPC e aquelas colocadas em operacio- nalidade empenhada: 72 (a) Policiamentos especiais de Mineirinho, Mineirio e outros: (b) Reforco pela Area-meio em policiamentos especiais e/ou extra- ordinarios, bem como esquema ordinério nos PV; (c) Policiamento de Guarda, na Capital, dos Palacios dos Poderes Pablicos e Presidios; (4) Policiamento de transito dos Centros Comerciais, Corredores de trafego e eventos especiais ¢/ou extraordinérios. c) Terceiro esfor¢o de recobrimento (recobrimento final) 1) 0 recebimento final malha protetora, dando-lhe uma_ tessi- zoavelmente invulnerdvel, far-se-4 em atengdo aos aspectos peculiares da criminalidade hodierna: sofisticada, organizada, avancada em tecnologia, ousada, tresloucada, veloz © sem fronteiras. 2) Este estigio consistira no emprego das seguintes titicas: (a) Radiopatrulhamento especial, ou seja, rondas taticas em toda regiio metropolitana; com liberdade de area e grande poder de repressao a delingiientes de alta periculosidade, e missdo especifica de preven repressio a: oe —- assallo & mao armada, mormente quando forem agentes motorizados; — extorsio mediante seqiiestro; — trifico de entorpecente. (b) radiopatrulhamento aéreo, com utilizngio de helicdpteros e 0. especifica di —auxiliar captura de delingiientes, apés pratiea delituosa; — auxiliar no controle do trafego em horirios criticos. (c) Caes rastreadores para a captura de delingiientes; (d) Operagdes conjugando todos os meios, de grande envergadura, visando a: — efetuar grandes batidas policiais em logradouros de homizio de delingiientes contumazes; — reprimir rebelides de presidios; — prevenir e/ou reprimir distirbios. (5) 3) Sintesc das medidas adotadas. Em verdade, de 1979 a 1984, na RMBH assistiu-se A reversdo de Situagio. Saimos de um estagio de “Inseguranga Publica” para um_ estigio de “Seguranga Publica”, Medias adotadas: conscientizacio da Ofici alidade; culagio de Unidades e fragdes (redistribuigio de areas, ‘alizadas, subareas criagio do BPChq; —definigio de uma concepgio operacional para Regifio Metro- politana; —criagio da Policia Feminina; —criagio das Rondas Taticas Metropolitanas; computadorizagio do COPOM: — observancia relativa do prineipio de responsabilidade territorial; — integragao relativa dos tipos, processos e modalidades de poli- ciamento; — implantagdo do radiopatrulhamento moto no policiamento osten- sivo geral; aproveitamento racional dos recursos humanos da Area-meio (ahinos CFO, CFS e CFG nos policiamentos especiais) ; —ayaliacio continua do desempenho operacional com énfase ao 4) Efeitos das medidas adotadas. © povo sentiu a presenga ostensiva da Policia Militar; — © indice de violéncia decresceu; — Os preconizadores da Guarda Civil silenciaram; A Policia Militar readquiriu credibilidade; — 0 policial-mililar mineiro valorizou-se, inclusive em termos de vencimentos; — A imprensa tornou-se compreensiva, somou-se aos nossos esforgos. c. A Busca de um Elevado Grau de Operacionalidade 1) Consideragées preliminares Vimos a experiéncia da RMBH. Consistiu num esforgo prolongado de quase 6 (seis) anos, Deslanchou-se apés vencer obsticulos iniciais, dentre os quais o mais aspero foi a “resisténcia a mudancas”; os pscudo profissionais nfo queriam abandonar suas comodidades para uma integragdo total & profissfio, que exigir-lhes-ia dedicagao e¢ devotamento pleno a ali- vidade de manutencao da ordem pdblica. Essa experiéncia, valida e gratificante para quem a viveu, pode exaurirse caso nao receba novos impulses, Isto se explica porque a criminalidade atual, nao ¢ a mesma de anos airs: a criminalidade ¢ mutavel, dinamica, velox e evolutiva. Também a policia de manutengao da ordem ptblicea nao pode ser estatiea, om apenas dormir nos loiros das vitérias aleangadas em delerminado momento. A policia de manutengio da ordem publica deve ser criativa, inovadora e ousada, Nio deve contentar-se, na prevengio e repressio & criminalidade violenta, com a boa operacionalidade. Esta tende a baixar, pois a faixa normal tende ao imobilismo. A busca de clevada operacionalidade deve ser a preocupagao constanle. Outro fator a considerar sio as peculiaridades de cada regiio. Q que é vilido para Belo Horizonte, com sua cultura, scu “modus-vivendi”, pode nao sé-lo para Recife, e v! ersa, Assim, impGe-se a quem comanda a virtude da intelig¢ncia para nfo querer apenas copiar e imitar modelos. & preciso, a par de uma agudissima visio operacional, a capacidade para criar novas taticas e concepgdes. Aliemos, pois, ao formular nossas concep¢des, ao estabelecer mossas decisdes, a experié¢ncia alheia com a nossa capacidade criativa e inovadora. Assim, as regras a seguir expostas nio sao dogmaticas, ao contrario, sao meras contribuigdes sujeitas & discussio, pois nfo alimentam a pretensio de uma validade incontestivel. Se ontem foram validas, hoje, podem nao sé-lo, se alhures o foram, aqui podem ser inécuas. 2) Pressupostos basicos para a clevagio da operacionalidade: a) Compreensio do papel da instituigio pelos seus componentes. Toda instituicio humana foi eriada e sobrevive em razio de um papel social, isto é, sua finalidade. Ora, as Policias Militares foram insti- tuidas para a manutengio da ordem ptiblica nos Estados-Membros. E a ordem publica, fluindo do ordenamento juridico, quer dizer “relacionamento social harmonioso, convivéncia pacifica’. Mantéla, quer dizer preserva-la, assegura-la, ter capacidade de restauré-la quando houver ruptura. 7 Se a Policia Militar é omissa em determinada regiao, 0 corolario natural sera o avancgo dos atos ilicitos, instalando-se o indesejivel clima de insegurancga publica, Entéo, a instituigio mio cumpre o seu papel social, e vem a cobranga, e alé mesmo a ameaga de substitui-la por outra organizacio. “O cidadio assallado na rua, no seu automodvel ou em casa, debalde chama um Soldado da PM. Apesar de inimigo potencial do policial civil, o militar esta de acordo com ele num ponto: nio é de ninguém a tarefa de reprimir o crime cometido nem de preyeni-lo pela vigilancia ostensiva” (Editorial “Terror Coletivo” — JB 02Nov80). ‘A Corporagao policial que esta a servico do povo precisa compreender de uma vez por todas que antes de mais nada, seus integrantes sio servidores pablicos. Recebem salirios para servir © piblieo. $io funcionérios pagos pelos contribuintes para zelar pela ordem publica ¢ a seguranga dos cidaddos” (Informe J B “Dever” — 160ut79). “O fendmeno da violencia urbana esta a exigir mais acao. Urge, neste instante, agio pronta e eficaz de um organismo — a Policia — que existe, enquanto paga pelo povo, para Ihe dar protegio, ¢ nio explicagées que so fazem aumentar a desconfianga que sobre cla ja recai.” (Lara Rezende, Acilio — “Violéncia € Impunidade” — J B 05Mar80). “Ninguém mais discule a crescente inoperancia da policia...” (Editorial “Caso de Governo” — JB). E indiscutivel, pois que a primeira regra a ser apreendida impoe uma conscientizacio global de toda a Corporacio Policial Militar. Ha de se fer uma compreensio coletiva ¢ unissona: nosso papel é desenvolver agdes que visem a trangiiilidade publica; se nao o fizermos, falhamos, estamos ocupando o lugar de outra instituigdo que poderia jazé-lo. b) Ostentar credibilidade publica. Havendo a conscientizagio interna, deu-se um grande passo, mas nfo basta. A organizacio deve ter uma boa imagem perante o piblico. © povo precisa acreditar na sua organizacdo. Algumas policias-militares eslio aié Irabalhando bem, porém todo o esforgo converge para o vacuo da incompreensio publica, pois a Corporagao, vitimada por uma série de condutas erréneas de seus componentes, perdeu a CREDIBILIDADE PUBLICA. Portanto, se nfo ha credibilidade publica, 0 passo seguinte 6 recuperida, é rebuscar a dignidade perdida, o que nao se faz com sonhos c fantasias, mas com trabalho arduo e honesto, buscando-se o pleno cumprimento da missaio. 76 c) Vontade coletiva voltada para a missio Em cada um — do Cmt ao Soldado — a realizacio individual deve situar-se no campo da atividade-fim. Este é 0 campo nobre. Todos querem e clamam por “fazer policia”. Nenhuma fuga, nenhum subterftgio. Recentemente, viajando por uma Capital brasileira, um tenenle que me acompanhou deixava transparecer sua frustragio por ter sido preterido na escolha do ajudante de ordens do prefeito da Capital. Conversando com 0 jovem oficial, aperccbi que o nobre para a oficialidade daquela Corporaggo era trabalhar nos gabinetes, a atividade operacional era con- siderada castigo. Por sinal, a cidade vivia uma crise de Tnseguranga. Assim, se houve o deslocamento de valores na Corporacao, deve ocorrer um realinhamento. Q nobre, o gratificante para todos sera a atividade-fim (o impedir 0 delito, 0 prender o bandido, 0 dar tranqiiilidade publica). a) Coesao interna da instituigao Corporacso policisl-militar que se retelin, que eontesia os Chefes publicamente, que faz “greve”, que adota comando paralelo, teve eshoroada a sua base institucional: Hierarquia e disciplina. Nessa situacio, perdeu as condigdes para clevar a operacionalidade, sé The resta o caminho do abismo, da autodestruicio. Portanto, ao lado dos trés pressupostos, a instituicdo que quiser partir para a elevacio do seu grau de operacionalidade, aferira, pretimi- narmente, sua coesio interna, fazendo os realinhamentos necessirios, mesmo que dramiticos. e) Razoavel grau de entendimento e¢ colaboragao com a Policia Judiciaria Nossa acio encontra seqiiéncia, via de regra, na Policia Judiciéria Esta, caracterizada per preconceitos incompreensiveis, tudo faz para manter a desarmonia, com evidentes prejuizos para a comunidade. A Policia Militar, Corporagio amadurecida, tudo deve fazer para estabelecer o bom entendimento, o que muito ajudaré na cficdcia das agées policiais, 3) Duas regras salutares visando a elevagio do grau de opera- cionalidade. a) Instruir o homem e¢ colocé-lo na rua Parece simples mas nfo é. A funcio principal do homem fardado é patrulhar (atividade dindmica de observacio, reconhecimento, repress&o, elc...). O patrulheiro, dizem os manuais americanos, é 0 “representante ambulante do governo”. Sua funcao de presenca, sua capacidade de agir 77 “diminuiu o espago dos marginais” e “inibe a vontade de delingiiir”. Uma das reclamacées mais constantes, quando a inscguranga floresce, ¢ sobre a auséncia do policiamento ostensivo: Eis alguns pequenos tdépicos de censura ou aplauso: “Tera o pais de admitir a absurda hipdtese de ver as Forgas Armadas serem lancadas agora no espaco social da lei, sé porque a policia é incapaz de ocupé-lo?” (Editorial “Caso de Governo” —1@. “A Policia Militar esta vindo para as ruas... O policiamento nao elimina o erime, mas dA ao marginal o sentimento de risco... a presenga policial encoraja a resisténcia ao erime, por eliminar a sensacio de inseguranga”. (Editorial “Primeiros Sinais” — J B 05Marg0) . Na realidade, constitui um mal as organizagdes pesadas, buroeraticas, aquarteladas. Os batalhdes devem ter estrutura leve, evitando-se a tendéncia perigosa de abarrotar o aquartclamento de policiais-militares. O lugar do patrulheiro é na rua, b) Supervisio cerrada pelos Comandantes em todos os escaldes (Cmdo Intermedidrio, Batalhao, Cia e Pelotao) e¢ Oficiais dos estados- -maiores. © Soldado daqui nfo € diferente do carioca ou do paulista. Todos sio homens brasileiros com suas virtudes e defeitos. Se o Cmt e os oficiais nao vao & rua, nfo adianta esperar a iluséo de que as pracas fiquem na rua. Sem fiscalizacdo, sem a presenca do oficial, a radiopa- trulha buscard o seu “ninho”, o patrulheiro & pé desviaré per outras rotas. A Supervisio cerrada, que nio visa {io-somente a deicegio de mas 0 apoio moral a tropa, garantira a presenga cfetiva do mento ostensivo, além de ensejar a visio “in-loco” do teatro operacional. 4) Orientagdes tatico Operacionais (Sugestoes) a) Estabelecimento de um conceito de operacao dinamieco com base na idéia abstrata de que o policiamento ostensivo @ como uma malha protetora distendida no espago geogrifico de responsabilidade. Normalmente, a accitagéo dessa idéia implica numa: — divisio da regiio em Areas, subareas, setores e¢ subsetores de responsabilidade; — selegio eriteriosa de locais de risco e “poligonos vyermeiho”, com a conseqiiente ocupagaio por saturagio; adogio do principio de responsabilidade territorial de forma relativa, com a conseqiiente integracio de tipos, processos e modalidades de policiamento ostensivo, a nivel Cia/Subirea descentralizada, € especia- lizagao em nivel de fracdes menores; 78 —ocupacio dos espacos densamente povoados, mas varios de seguranca por Cin/Subarea e/ou Postos de Policismento Ostensivo por Setores, com possibilidades de evolugio a Pelotdo, consistindo na identi- ficagio da policia com o bairro (o povo conheee o seu Soldado, a sua radiopatrulha, o Capitio e os Tenentes convivem com a comunidade) é a aplicagao da teoria de ocupagio dos espagos vasios de seguranga; —admissao de possibilidade de sucessivas rupturas da malha protetora com o conseqiiente escalonamenta de esforgos de recolhimento, © que implica em: dispor o Cmt BPMArea de uma forga de manobra para o primeira recobrimento da malha (Operagio Presenga, Batidas Policiais) nos pontos de proyavel ou iminente ruptura; . dispor o Comando Intermediario de tropas especializadas em nivel Batalhio on Cia para fazer face aos esforcos seguintes de recobri- mento (1, 2 ou 3): descentralizagao na execugio do policiamento ostensive e cen- tralizagao no controle e coordenacao, através de um Gentro de Operacdes do Comando Intermediario b) Consagracio do principio da intensificagio da repressio con- travencional para prevenir o crime violento A Lei das Contravencées Penais, embora repudiada pela Poli Judiciaria indolente, é 0 principal instrumento de policiamento ostensivo para prevenir o crime violento. Algumas figuras contravencionais sto altamente salutares para a sociedade. Por exemplo: os Arts. 19, 21, 24, 25, 27, 28, 42, 62, ete... a Quanto ao porte ilegal de arma, é¢ importante relembrar a recente ecampanha feita pelo Jornal “O GLOBO”, intitulada ‘aga sas) Armas”, visando buscar solugao para o problema da violéncia no Rio de Jan Reportemo-nos a alguns tépicos de pronunciamentos sugestivos: “Os casos de crimes que acontecem impulsionados pelo porte de arma sao muitos. Para alguns especialistas, nao é o fato de andar com um revéiver que faz © homem cometer violéncia. Mas eabe a pergunta: o desfecho de um desentendimento nfo sera bem menos dristico — para nfo pedir cordial — se as pessoas estiverem desarmadas inclusive de espirito?” (Globo — 07Mar§3). “Também no campo repressivo seria eficaz a transformacio do porte de arma em crime, quando o autuado fosse juridicamente vadio, ou ja tivesse sido condenado antes por delitos contra o patriménio ou contra a vida” (Moraes Filho, Antonio Evaristo de — Receitas para baixar a febre — Ponto de Vista — Revista Veja — 18Jan84). “Além das causas acima analisadas, exitem outros fatores que também contribuem para a complexa génese da violéncia e da cri- minalidade no Brasil. Um deles é a falta de fiscalizacdo real sobre uso de t6xicos e 0 porte de armas de fogo...” (Abranches, Carlos A. Dushee, Artigo “Crime e violéncia: outras causas” — J B). “Desarmar a cidade é a palavra de ordem que se impée Haveri menos mortes se sonegarmos o instrumento da morte, Ni nos faltam efetivos policiais para um esforgo sistematico nesse sentido, através da intensificagao do policiamento e das “batidas” — em busca de armas e nao de cidadaos sem carteira assinada — nas muil s conhecidas pela periculosidade e a concentracio de marginais” (editorial “Caca as armas” — 0 Globo — 06Mar&3). ‘io A experiéncia mineira, no seu periodo Aureo, consagrou-se, dentre outras medidas, pela intensifieacdo da repressio ao porte ilegal de arma de fogo. ¢) Atendimento velox ao piblico (Solicitante do servico policial) © individuo quando pede a presenga de uma radiopatrulha é porque algo de grave esti acontecendo a ele ou ao seu redor. Pode ser uma briga, a presenca de um marginal, o epilogo de um assalto, etc... Frustrante e decepcionante ser-lhe-4 verificar que a RP dificilmente chega em tempo habil. © principal objetivo da PMMG em investir vultosamente na compu- tadorizacao do COPOM foi no sentido de dar rapidez e velocidade ao alendimento do piblico, diminuindo o tempo de espera do solicitante d) Capacidade de reagio sistemé determinados alvos ca as agées sislemilicas contra Alguns “modus operandi” proliferam, repetem-se, iterativamente, causam clamor pttblieo, mas o aparelho policial permanece numa inércia que © leva ao deserédito. Nesse caso, havendo uma sistematizagio de aio delingitencial, o aparelho policial deve “bolar” uma tatica que a faga cessar, Vou citar alguns exemplos de Belo Horizonte. 1) O Centro Comercial da Afonso Pena, area de convergéncia maci¢a da populagio, tornou-se paleo da agio dos “trombadas” e “trom- badinhas”, Dezenas de furtos diariamente. 0 clamor putblico comegou a ensaiar-se, a populagio intrangilila, © comércio inquicto. O que fez a Po- licia Militar ha quatro anos? Saturou o Centro Comercial de policiais: Soldados a pé em todas as esquimas, obseryadores de binéculos no alto dos edificios, patrulhas a cavalo, patrulhas motorizadas, homens de P2 para apontar ¢ folografar, Em sama: os trombadas foram todos presos, fi- chados, fotografados, escafederam-se. A populacéo aplaudiu-nos, a PMMG ficou como exemplo de eficiéncia. 80 2°) Os carros de cigarro da ERIL (distribuidora Souza Cruz) eram assaltados todas as semanas. 42 semanas, 42 assallos. A Policia Civil des- dobrava-se em investigacdes e nada conseguia. Nossa malha estava furada. A imprensa comecava a ridicularizar ou a suspeitar do organismo policial. O que fazer? Estudou-se minuciosamente 0 “modus operandi” e as carac- teristicas dos assaltantes. Feito isto, partin-se para o esforgo total: nos 54 carros de distribuigdo de cigarros, esconderam-se debaixo dos pacotes, dois policiais-militares: eram 108 PM.(s) selecionados. A operagio repe- tiu-se por cinco dias; no quinto, o assalto, a abertura do cofre, o tiroteio e a prisio de trés assaltantes, um deles ferido. Acabaram-se os assallos a ERIL. 3.2) Os assaltos a Onibus, uma praga do Rio e Sao Paulo, foram chegando de mansinho em BH: Out 83 — 7 assaltos; Noy 18, Dez 37. A PM aperta o cereo, o indice cai para menos de 10. Porém, margo 84 sobe para mais de 50 por més, ¢ o ascenso continua em abril e maio. O panico comega a instalar-se. tio, € hora da deciséo. Reunides com Sindicatos de patrées e¢ empregados; congregacao de esforcos. Monta-se um Plano Especial para opera 6nibus: duragio 15 dias: Resultado dezenas de prisdes de assaltantes, fim dos assaltos a énibus em Belo Horizonte. Agora, yejamos, em contrapartida interessante comentério sobre o problema no Rio de Janeiro: “Por nao haver quem os desestimule, os assaltantes comecam a adotar os hébitos regulares dos funcionarios ptblicos. Fica-se sa- bendo, por exemplo, que as linhas de dnibus 511 e¢ 512 (Urea- -Leblon) sao assaltadas sistematicamente, numa média de dois assal- tos por dia. Isto é, os assaltantes j4 abandonam como inutil ° que constituia o prineipio bisico dos assaltos: 0 elemento sur- presa. E, se abandonam, é porque os seus atos nfo provocam con- seqiiéneias. Descoberto um bom filo de roubo, ele é explorado até o fim, como se se tratasse de uma vaca leiteira ou de uma trangitila granja no interior”, “Se o Onibus 511 6 assaltado sistematicamente duas vezes por dia, ia seria mais do que tempo de que isto resullasse na prisiio dos responsaveis por esses assaltos. Mas nao resulta. E o Onibus 5il 6 apenas um detalhe num quadro muilissimo mais amplo. Se a policia, identifieado um foco de criminalidade, yoasse sobre cle com a determinagéo de extirpé-lo, é provavel que as nossas an- gastias nfo fossem hoje tio grandes. Mas a policia — sem abran- ger nessa designagio a todos os policiais, 0 que seria injusto — nko voa. Tergiversa”. (Editorial “Tccido Gangrenado” — JB — 03 Jul 84). 81 e) Criar tropa especial para prevencdo e repressio & criminalidade violenta Em Belo Horizonte, possuimos a ROTAM (Rondas Titicas Metro- politanas), criadas em 04 fev 81. Tropa de elite, bem armada, adestrada, atua com certa liberdade de manobra na RMBH. Empenha-se somente em assaltos, toxicos e estupros. Quando vai a uma ocorréncia, enccta o ras- treamento e sé o larga com a prisdo dos marginais. Opera carros tipo ve- rancio ¢ motocicletas Honda CB-400. Constituem o 4.” esforgo, oposta da “policia de bairre”, mas resolveu o nosso problema de conten¢io da cri- minalidade violenta’ que acarreta traumas e grande temor seguido do cla- mor coletivo. f) Adogiio do radiopatrulhamento com motos na periferia Nas periferias dos grandes centros, com o afugentamento dos assal- tantes ¢ arrombadores, dos locais de risco, estéo surgindo os chamados “arrocho” nas pessoas da classe pobre. Ocorre normalmente em locais mos e escuros. Comegamos a adotar o sistema de radiopatrulhamento com motocicletas do préprio transite. O ideal, no entanto, seria que cada BPM/Area fosse dotado de um pelotio de motos (125 a 250 cc) para se radiopatrulhamento enlagado nos PPO, dentro do quadro de disten- io inicial da malha protetora. 3. CONCLUSAO Seguranca versus inseguranga. Impulsionada pela expansio ¢ aprofundamento das causas da cri- minalidade, a inseguranca tende a implantar-sc nas grandes urbes, ou ja se instalou em algumas, acarretando um estado psicolégico de inquictagio e pavor nas populagdes. Seguranca @ aspiragio incoercivel da moderna comunidade. As pesquisas de opini&o publica mostram que o anseio de seguranga supera outras necessidades basicas como educacdo, satide, energia, dgua, etc... O problema vem-se tornando dramiatico As Policias Militares, inseridas no contexto de um abstrato sistema de Defesa Social, tem o dever de dar respostas 4 comunidade, buscando preservar ou restaurar o clima de Seguranca. Esse é um dever inaliendvel imposto pela propria razdo da existéncia da instituigao, Entretanto, como dar a resposta reside o grande dilema da organi- zacio policial que atua apenas nos efeitos, nao tem agéo direta nas causas da criminalidade violenta, fator gerador do clima de inseguranga. 82 Mas as Policias Militares vém descobrindo a maneira de fazé-lo. Nao se thes importa a inéreia dos outros, a omissio dos que deviam aluar nas causas e minimizar os efeitos. Elas se reorganizam, rearticulam-se, criam e inovam na busca incessante de elevacdo do seu grau de opera- cionalidade. Sim. Operacionalidade ndo tfo-somente a palavra chave, 6 a pa- layra de ordem das Policias Militares. A elas nao salisfaz uma operaci nalidade normal. £ preciso superar ébices, suprir falhas de outros érgios, caminhar na turbuléncia social e atingir, a cada dia, os mais clevados pa- tamares em termos de operacionalidade. Assim, estaremos cumprindo a missao. Viveremos em paz com a comunidade. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1 — ALMEIDA, Klinger Sobreira de, Seguranga Ptiblica, um Conceito Polé- mico — Arligo de Conferéncia. 2— ALMEIDA, Klinger Sobreira de, Coletanea de Notas de Aula, sob o ti- tulo Planos e Ordens — Curso Superior de Policia. Belo Horizonte, 1984. 3 — Jornal do Brasil, 1. Caderno, pag. 04, 02 Noy 84. 4 — Manual Basico de Poli Policias Militares. 5 — SOARES, Waldir. Palestra sobre 0 conceito de “OPERACIONALIDADE” 2" Jornada de Policiamento Ostensivo. Belo Horizonte, Set 79. amento Ostensivo, editado pela Inspetoria das 83

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