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INDICE A felicidade do escravo O que € o homem? © que é a mulher? O horizonte feminino O sexo mais belo O universo é masculino A estupider da mulher faz dela uma santa Atos de amestragio io por auto-humilhacio: Um dicionirio As mulheres sio pobres de sentimentos Sexo como recompensa A libido feminina Amestragio por bluff Oragées. comercializadas Amiest Auto-amestragio Criangas como reféns Os vicios das mulheres A mascara da feminilidade Mundo profissional como coutada de caga A mulher “emancipada’ O que € 0 amor? 12 19 27 53 104 122 132 41 147 Bo Este livre é dedicado aqueles de que nele nao sido mencionados: aos poucos homens gue néo se deixam domar eds poucas mulheres que ndo se vendem. E, também, aos felizes sem valor no mercado, por que sdo velhos, feios ou doentes demuais. EY. A FELICIDADE DO ESCRAVO O MG Sport amarelo-limio derrapa. A jovem ao volante consegue dominé-lo a custo, ziguezagueando até parar, Sai e descobre que o pneu dianteiro: da esquerda, esti furado. Sem perda de tempo, ela procura providen- ciar a reparagio: olha para os carros que passam, como se esperasse alguém. A este sinal internacionalmente nhecido de abandono feminino (“mulher fraca de- pende da técnica maseulina™) logo para uma kombi. O inotorista descobre imediatamente o que hd para fazer e diz para a confortar: “Isso a gente faz num instante”. E para confirmar sua decisao, pede A mulher para Ihe dar o macaco, Nao lhe pergunta se cla mesmo podera, trocar o pneu porque sabe —sua aparéncia é a de um mulher de trinta, bem vestida e maquilada — que ela nao pode. Como cla nao consegue encontrar a macaco, ele acaba por ir buscar o seu ¢ traz logo o resto da fer- ramenta. Em cinco minutos © servico fica pronto € 0 g pneu furado, posto direitinho no seu devido lugar, As indios dele estio sujas de dlco. estende um lenco bordado, ele o recusa delicadamente. Para tais ocasiées sempre tem um trapo velho na sua caixa de ferramentas. A mulher agradece-the ¢ mente ¢ desculpa-se, por sua incompeténcia “tipicamen- te feminima”, Se nao fosse ele, disse, ela teria ficado, com certeza, até a noite naquele lugar. Ele nao respon- de, mas depois dela se sen do carro e dé-Ihe, enquanto o vidro da jancla desce, um tiltimo conselho, o de mandar reparar quanto antes a cimara de ar furada, Ela declara que nesse mesmo dia ird dar as necessarias instrugdes a0 borracheiro. E. parte. wanto arruma a ferramenta e, sozinho, volta para o carro, o homem lamenta nao poder lavar as miios. ‘Tambeém os seus sapatos que na troca do pneu se ene terraram na lama, j estio tio limpos como s necessirio para o seu tipo de trabalho: é vendedor. ‘Caso ira alcangar ainda o seu proximo cliente, tera de se : Liga o motor, “Essas mulheres — pensa ele — uma mais burra que a outra pergunta a si pré , a sdrio, o que € que ela teria feito se ele nao ti- vesse chegado logo. Conduz, bem contra o seu habito, a uma velocidade perigosa, a fim de recuperar o atraso. Dali a um pouco cle comeca baixinho a cantarolar. De uma certa forma, sente-se feliz. © quando a jovem Ihe , fecha gentilmente a porta Na mesma situacio, a maioria dos homens tcria agido da mesma maneira, A maioria das mulheres tam- bém. A mulher deixa o homem — pelo simples fato de que ele é um homem e ela, algo muito diferente, quer dizer, uma mulher — deixa-o inescrupulosamente tra- balhar por cla, sempre que a oportunidade se apresenta. Seu espirito empreendcdor nao vai além de esperar a ajuda do homem, j4 que também nao aprendeu mais: id em caso de enguigo no carro encarrega-se o homem da reparagio, O homem, pelo contririo, se dispée a prestar um servico rapido, eficiente ¢ gratuito a uma pessoa pata ele completamente estranha, Arruina a sua roupa, Pée em perigo o resultado de um eventual negdcio, Arris- case, finalmente, conduzindo a uma velocidade exage- vada. E para além da troca do pneu podcria ter reme- diado uma diizia de outros defeitos no carro. E té-lo-i feito, pois, para isso aprendeu, Afinal, por que razio ia mulher de se ocupar com rey Ses desse tipo metade da humanidade, isto é, os homens, pode f z@-lo tio bem ¢ ainda por cima sempre esta pronta a colocar o seu saber A disposicao da outra metade? As mulheres deixam os homens trabalhar por elas, por clas pensar ¢ tomar as responsabilidades, As mu- Iheres exploram os homens. Mas os homens sio fortes, inteligentes, imaginativos. As mulheres, fracas, esttipi- das ¢ sem imaginagao, Entio, por que motivo siio os homens explorados pelas mulheres € nao o contririo? Serdo, na realidade, a forca, a inteligéncia e a ima- ginacao as condicées prévias para o poder ou para a ¢5- cravidae? Dever’ o mundo ser dirigido pelo saber ou, antes, pelos que nfo servem para nada, isto é, as mu- Iheres? E se assim ¢, como é que as mulheres conscguem que as suas vitimas nao se sintam enganadas ¢ humilha- das e se julguem, antes pelo contririo, como grandes senhores que ¢ o que sio menos? Como ¢ que as mu- Iheres dio aos homens ssa sensacio de felicidade, ao trabalhar para elas, essa consciéncia de orgulho ¢ de su- perioridade que sempre os estimulam a prestagio de servicos cada vez maiores? Por que é que as mulheres nao si o desmascaradas? i O QUE E O HOMEM? O que é o homem? O homem ¢ uma pessoa que tabalha. Gom o trabalho:sustenta-se a si préprio, a s mulher e os filhos da sua mulher, A mulher, em con- trapartida, ¢ uma pessoa que nao trabalha ou s6 traba- Iha temporariamente, Durante a maior parte da sua vida, cla nao se sustenta, nem sustenta os [ilhas e muito: menos o maride, A todas as qualidades do homem, das quais a mu- lher se aproveita, chama virtudes masculinas. E a todas aquelas que The nao scrvem, nem, a s ninguém, ela di o nome de qualidades femininas. Por isso, os aspectos externos do homem que fazem sucesso perante sos madseulos, quer di: os que estao sintonizados com a finalidade maxima da ua vida — o trabalho. E devem estar de tal forma di mensionados que, scjam quais forem as tarefas propos tas, cle sempre conseguira realizi-las. J2 Exceto 4 noite, altura em que a maioria péec pi- jama com listas coloridas ¢ até quatro bolsos, os ho- ens andam sempre vestidos com uma espécie de uni- forme, cinza ou marron, feito de material resistente € nas cores que disfarcam a sujeira. Esse uniferme ou “costume”, como é designado, tem no minimo dez bolsos nos quais o homem coloca — para as ter sempre bem 4 mio — tedas as ferramentas de que precisa para o seu trabalho (a roupa da mulher, pelo contrario, ja que a mulher nada faz, nao tem bolsos nenhuns, nem de dia, nem de noite). m reuniGes socials permite-se ao homem que vista trajes na cér mais sensivel como é o preto, pois ai o perigo de se sujarem nao ¢ tao grande, e, além disso, os vestidos [emininos exuberantes de cor ganham maior realee no contraste, Apesar disso, sto bem vistos 3 homens com trajes de sociedade verdes ou verme- Ihos, encontrados ocasionalmente, pois contribuem para dar um aspecto ainda mais masculine aos verdadeiros homens presentes. Também quanto aos demais aspectos externos, o homem adaptou-se 4 sua situagao. Usa o cabelo curto de forma a bastar-lhe um quarto de hora todas as duas ou trés semanas para ir corti-lo. Caracois, ondas ou manchas nao sao desejiveis, s6 0 estorvariam no traba- Iho que tem que ser exercido ao ar livre ou que, pelo menos, o pode manter ao ar livre com uma certa fre- quéncia, E mesmo se os usasse ¢ Ihe ficassem bem nfo aumentariam certamente o seu sucesso perante as mu- lheres, porque as mulheres — ao contririo do que su- cede com os homens em relacio a clas — nunca os jul- gam sob o ponto de vista estético. Os homens que os- tentam temporariamente cortes bem pessoais, chegam normalmente por si préprios a essa conclusio pouco depois ¢ regressam a uma das duas ou trés variantes do B penteado masculino standard, curto ou longo. O mes- mo acontece com os barbudos. $6 hipersensiveis — na maioria dos casos, homens mais ou menos intelectuais que pretendem dar a impressio de robustez espiritual aprescntando uma riqueza desmesurada de barba — usam durante muito tempo uma barba intcira. Gomo isso € uma indicacio importante quanto 4 su tuicto ¢, por conseguinte, quanto ao modo especial do seu aproveitamento possivel, a barba é tolerada pe- las mulheres, nesses casos, como sinal til de reconhe- cimento (mostra a que nivel se deixam esses homens explorar cor idade, ou seja, no trabalho neu- rético de intelectuais). Entretanto, geralmente, o homem usa todas as manhias, durante tés minutos, uma miquina de bar- bear elétrica para obstar ao crescimento da sua ba ¢, para tratar da pele, bastam-lhe agua e sabio, pois ao seu rosto nada mais se exige do que estar impo ¢ sem pinturas, de mado a ser facil o controle por qual- quer pessoa, Falta mencionar as unhas das miaos dos homens: devem ser, tendo em vista o trabalho, tao eurtas quanto possivel. o scr a § explo- Um homem masculo nao usa jéias — a ni alianca de casamento, o que demonstra que j& rado de determinada mancira por determi: mulher, O relégio grande c pesado no scu pulso — impermeivel, inquebravel ¢ indicando a data — é tudo menos um objeto de luxo, Muitas vezes é-Lhe oferecido pela mu- Ther para a qual trabatha. Roupa interior, camisas ¢ meias sio de tal modo uniformes que de homem para homem se distinguem, quando muito, no que se refere ao tamanho, Podem-se comprar em qualquer loja, para poupar tempo, Apenas nto A escolha das pravat o homem uma certa i4 liberdade, mas como nao esta habituado a liberdade, qualquer que seja a forma por esta assumida, deixa a escolha para a mulher — 0 mesmo se passa, de resto, quanto 4s outras pegas de roupa. Por muito se assemellarem no seu aspecto exte rior, um observador de uma estrela desconhecida seri levado a admitir que os homens tém empenho em serem iguais como dois ovos. F muito diferente, no entanto, eira como poem 4 prova a sua masculinidade, ou ja, a sua utilidade possivel para as aspirag6es das mu- lheres. Tém mesmo que ser diferentes: como as mu- theres praticamente nao trabalham, os hamens sao ne- cessirios para tudo. i Existem homens que, ama s oito da manha, tiram da garagem com todo o cuidado o seu carrio, Outros vao para o emprego uma hora mais cedo num carro de classe média, ¢ ha ainda aqueles que, quando ainda {3 noite, com uma pasta debaixo do braco, em que levam um agasalho ¢ o pequeno almego, se dirigem para dnibus, o trem ou o metro que os levam ao canteiro de obras ou 4 fibrica onde trabalham. & um destino cruel o deste grupo de homens, os mais pobres deles todas, pois ainda por cima sao explorados pelas mulhi res menos atraentes, Dado qu ulheres sé se int ressam, quanto aos homens, por dinhcire, e a estes sd interessa a aparéncia delas, as mulheres mis desejaveis do seu meio sio-lhes das pelos homens que mais aham. ¥ completamente indiferente o modo como dete minado homem possa passar o dia, algo tem ele de co- mum com todos 03 outros; passa-o de mancira humi- lhante. E. nfo o faz para si proprio, para conservaciio da sua prépria vida — para isso bastaria um esforco £5: muito menor (de resto os homens dio pouco valor ao luxo), Se humilha para outros e¢ fica infinitamente or- guihoso de o fazer. Na mesa de trabalho, tem as foto- grafias da mulher e dos filhos ¢ mostra-as sempre que se Ihe depara uma oportunidade, Seja o que for que o homem faca quando trabalha — quer tabele nimeros, cure doentes, conduza um dni- bus ou dirija uma firma — a todo 0 momento & parte de um sistema gigantesco e desapiedado estabelecido unica e exclusivamente para a sua maxima exploracao e fica le a esse sistema até o fim da sua vida. Sera interessante tabelar mimeros ¢ comparar so- mas com Outras somas — mas por quanto tempo? Uma vida inteira? Certamente que nao. Talvez seja uma sen- sacao fantastica conduair um Gnibus através da cidade, mas que acontece quando se trata dia apdés dia ¢ ano apés ano do mesmo onibus no mesmo percurso da mes- ima cidade? E é certamente excitante exercer influénci: sobre as muitas pessoas que Wabalham numa firma grande. Mas até que ponto, quando se descobre que se é mais seu prisioneiro do que chefe? Ainda jogamoas hoje os mesmos jogos da nossa in- fancia? Claro que nao. EK mesmo, enquanto criangas, nio tinhamos sempre as mesmas brincadeiras, brinea- vamos até nos apetecer, O homem é, porém, como uma crianga que Uivesse de jogar sempre o mesmo jogo. O motive é evidente: logo que cle ¢ elogiado por uma das suas brincadciras mais do que pelas outras, especializa- se mais tarde nessa ¢ fica condenado a ela uma vida in- teira porque é “habil” para isso ¢ é com isso que pode ganhar mais dinheiro. Se na escola cra bom em matc- mdtica, passara a vida & volta de contas — como conta- dor, matemitico, programador — pois ai reside o seu aximo rendimento. Fara contas, listas de niimeros, 16 mentara maquinas, mas nunca podera dizer: ‘Pronto, estou farto, vou procurar outra coisa.” A mulher que o explora, nado permitira mesmo que cle procure outra coisa, Incitado por essa mulher, talvez suba na hierar- quia dos estatisticos, Em lutas de morte, chegara porven- tura a procurador ou diretor de banco, Mas o prego que paga pelo seu salirio nao seri um tanto ou quanto de- masiado alto? Um homem que altera o seu modo de vida — por- tanto, a sua profissao, ja que viver significa para ele trabalhar — é tido na conta de merecedor de pouca con- fianga. Se muda diversas vezes de emprego, é expulso da sociedade ¢ fica s6, Pois a sociedade sao as mulheres. O medo de tal consequéncia deve ser notivel: se ele nao existisse, seria possivel que um medico (que em Tapaz gostava de brincar com girinos e¢ tubos de andli- sc) passasse a vida inteira a cortar obcessos repugnantes, a analisar excrescéncias humanas de toda a espécic € a dar-se noite e dia com seres humanos cujo aspecto da vontade de fugir 4s outras pessoas? E um pianista que nao era mais que um garoto que gostava de tocar mu- sica, tocaria ele pela milésima vez aquele Nocturno de Chopin? E um politico, que em tempos idos descobrira por acaso, no patio da escola, uma mio cheia de truques para conduzir homens e que os sabia utilizar com su- cesso, pronunciaria ele na idade adulta e durante deze- nas de anos, todas essas frases que nada dizem, no papel de um qualquer partidirio obediente ¢ subalterno, fa- ria ele todas essas caretas ¢ suportaria ele o palavreado terrivel dos seus concorrentes, igualmente subalternos? Ele sonhou uma vez com uma outra vidal E ainda que na sequéncia desse caminho se tornasse Presidente dos Estados Unidos da América, nao tera pago por esse car- go um pouquinho demais? i7 Nao, dificilmente se admite que os homens fagam tudo o que fazem sem o minimo desejo de mudanga. Fa- zem-no porque para tal so amestrados: toda a sua vida nada mais é do que uma desconsolada sequéncia de habilidades de circo, Homem que nao consiga mais exe- cutar essas habi des, que ganhe menos dinheiro, “falhou’’ ¢ perde tudo: a mulher, a familia, o lar, o sen- tido da sua vida — toda e qualquer seguranga. Evidentemente que também se poderia dizer; um homem que ja nao ganhe dinheiro suliciente esta au- tomaticamente livre ¢ poder-se-A alegrar com esse happy- end, Mas o homem nao quer ser livre. Funciona, como veremos ainda, segundo o modelo prazer na falta de li- berdade, Liberdade perpétua seria para ele ainda pior que escravidao perpétua, Ou formulado de outra maneira: o homem procura sempre alguém ou alguma coisa, a quem se possa ofe- Tecer como escravo visto que s6.como escravo é que ele se sente scguro — e a sua escolha recai, na maioria dos casos, sobre a mulher. Mas quem ¢ ou o que é a mulher para que ele se deixe escravizar por ela ¢ que seja pre- cisamente junto dela que ele se sinta seguro, quando ¢ cla que deve essa vida degradante e ¢ por ela que ele € explorado com todos os requinies? 18 O QUE & A MULHER? Dissemos que, ao invés do homem, a mulher é uma pessoa que nfo trabalha, Poderfamos concluir aqui a definigio da mulher — nao ha muito mais a dizer a seu respeito — nfo fosse o conceito de pessoa um conceito demasiado extenso ¢ impreciso para definir simultanea- mente homem ¢ mulher, O ambiente humano permite-nos a escolha entre uma existéncia mais animalesca — portanto, semelhante A dos bichos, inferior — e uma superior, mais espiritual. A mulher escolhe, sem hesitaco, a primeira. Bem-estar do corpa, um ninho e a possibilidade de observar, sem abstaculos, as normas de criacio da sua ninhada, sao ra cla o maximo. Considerase provade, que homens e mulheres hascem com as mesmas disposicoes espirituais, que nao pois, diferencas intelectuais primarias entre os dois sexos. Esta, porém, igualmente provado, que todas as 19 potencialidades que nao sio desenvolyidas se perdem: as mulheres nao usam os seus talentos intelectuais, arruinam voluntariamente a sua capacidade de pensar ¢ apés alguns anos de um trcino cerebral esporidico caem num estigio de estupidez irreversivel. Porque nao usam as mulheres 9 seu cérebro? Nao © usam porque, para se conservarem vivas, nao necessi- tam de aptidoes espirituais. Teoricamente seria possi- vel uma mulher ter menos inteligéncia que, por exem- plo, um chimpanzé e, no entanto, alirmar-se entre os homens. O mais tardar aos doze anos — idade em que a maio- ria das mulheres resolve iniciar a carreira de prostituta, ou seja, a de deixar mais tarde um homem trabalhar para si, pondo-lhe 4 disposigao a sua vagina, a interva- los determinados, como contraprestagao — cessa a mu- lher de desenyolver 0 seu espirito. E certo que conti- nua a instruir-se e adquire os mais variados diplomas — pois o homem cré que uma mulher que aprendeu qualquer coisa de cor também sabe qualquer coisa (um diploma eleva, por conseguinie, o valor de mercado da mulher) = mas, na realidade, é entio que se scparam sempre os caminhos dos sexos. Toda a possibili- dade de entendimento entre homem e mulher é entao afastada para sempre, Por isso um dos erros mais importantes que o ho- mem esta constantemente cometendo quando aprecia a mulher é consideré-la como uma sua igual, quer dizer, como um ser humano que funciona mais ou menos no mesmo plano de sentimentos ¢ inteligéncia que ele. O homem pode observar de fora o comportamento da sua mulher, ouvir o que ela diz, ver com os seus ollios aqui- lo de que ela se ocupa, concluir sobre o que ela pensa a partir de sinais exteriores —, mas em tudo isso ele re- gula-se pela sua propria escala de valores. Ele sabe 0 que 20 diria, pensaria ¢ faria em seu lugar, E ao observar — segundo ‘a sua bitola — o resultado deprimente das observagGes, concluira apenas que tem de haver algo que impede a mulher de fazer o que ele, no seu lugar, teria feito. Porque se considera — € com razio no caso de uma pessoa ser definida como um ser que pensa em abstrato — a medida para todas as coisas. Se, em virtude das suas observac6es, toma conheci- mento de que sua mulher ocupa tantas horas do dia a cozinhar, limpar ¢ layar a louga, nao conclui que essas ocupacdes a satisfazem, porque correspondem de uma forma ideal ds suas necessidades espirituais. Pensa que é justamente isso que a impede de fazer tudo o mais € esforga-se por colocar 4 sua disposigio maquinas de la- var louga automiticas, aspiradores ¢ refeig6es prontas a servir, que a aliviem desses trabalhos estipidos ¢ lhe permitam fazer uma vida igual & que ele sonha para si préprio. Msa ficaré desiludido: em vez da mulher come- gar a viver uma vida espiritual, mais rica, a preacupar- sc com politica, historia ou com a origem do Universo, uullizaré o tempo ganho para fazer bolos, passar a ferro a roupa interior, coser folhinhos ou, se for muito dinamica, para colar decalques de florinhas no vaso sanitirio, Como o homem tem que aereditar, ou melhor, como a mulher Ihe faz crer (qual o homem que da au- téntico valor 4 roupa interior passada a ferro, padroes com flores ou bolos que nao vém da confeitaria?) que tudo isso ¢ necessirio para a vida, ou, pelo menos, faz parte da cultura, cle inventa a maquina automatica de passar a ferro, a massa para bolos pronta a usar ¢ o papel higiénico enfeitado industrialmente. Mas ainda nao é entao que a mulher comega a ler, a preacupar-se com a 21 politica. E a investigacio do Universo continua a dei- xi-la completamente indiferente. O tempo que ela pou- pou vem-lhe mesmo a jeito: poderd finalmente preo- cupar-se consigo prépria. E como se sabe que ¢ totalmen- te alheia a necessidades espirituais, entende-se por isso, como ¢ evidente, a preacupagao com o seu aspecto ex- terior, © homem que ama a mulher e¢ nada deseja tao in- tensamente como a sua felicidade, também a acompanha nesta fase: produz para cla batons 4 prova de beijo, make-up para os olhos & prova de agua, aparelhos para fazer permanentes em casa, blusas de folhinhos que nao necessitam ser passados a ferro, calcinhas para usar € jogar fora. Ao fazé-lo o homem continua a visar o mes- mo objetivo: que tudo isso tenha um fim, que todas as necessidadcs vitais especificas da mulher — que cle cré ser “por natureza, mais delicada ¢ sensivel” — que lhe sao estranhas, por conseguinte “‘superiores™, scjam satis- feitas, ¢ que ela faga, enfim, da sua vida, a tinica coisa que ele acha que tem valor; a vida de um homem Hure. E aguarda. Como a mulher nao se dirige a ele por iniciativa propria, comega a atrai-la ao secu mundo: pro- paga a coeducacio nas escolas para que cla se habitue, desde tenra idade, ao seu estilo de vida. Chama-a para as suas universidades, utilizando todos os pretextos pos- siveis, para a iniciar nos segredos por ele descobertos, na esperanga que ela adquira gosto pelas coisas impor- antes, gracas ao contacto direto com elas. O homem fa- culta-lhe 0 acesso aos cargos honordrios mais clevados. exercidos até agora unicamente por ele (¢ prescinde de tradigdes que lhe sao sagradas) e incita‘a 4 tomada de consciéncia do seu direito politico de voto para que cla possa modificar, segundo as suas concepcoes, 0 sistema de administragio governamental por ele inventado (tal- 22 vez, em matéria de politica, cle espere que da interven- cao dela resulte a paz, j& que lhe atribui carisma_paci- fista). Na sua suposta missao, ele é a tal ponto insistente e€ consequente, que nio se di conta de como se torna ri- diculo. Ridiculo segundo a sua prépria bitola, nao se- gundo a da mulher; esta é ineapaz de ganhar distin- cia e ¢, por conseguinte, completamente destituida de humor. Nao, as mulheres ndo se riem dos homens. No ma- ximo, podem ¢ um dia aborrecerem-se um pouco com eles, As velhas fachadas — governo da casa, tratamento das criangas — com que mascaram a sua reniincia a uma existéncia espiritual, ainda nao esto sulicientemente arruinadas para quem as vé de fora. Ainda justificam, nem que s¢ja pré-forma, a saida prematura das jovens da untversidade ¢ a rentincia a5 profiss6es mais exigen- tes, Mas o que sucedera quando o trabalho doméstico estiver ainda mais automatizado, quando houver jardins de infiincia verdadeiramente bons ¢ suficientes ou quan- do os homens chegarem até a descobrir — o que jé devia ter sucedido ha muito tempo — que para viver mao sa0 precisos filhos? Se o homem se detivesse, uma tinica vez, no meio da sua atividade febril, para fazer balango, seria obri- gado a reconhecer que os scus esforgos no sentido de animar espiritualmente a mulher nao a fizeram avangar um. s6 passo, que é certo a mulher tornar-se de dia para dia mais enfeitada, mais cuidada ¢ “cultivada’’, mas que as exigéncias cada vez maiores que faz da vida sao de ordem material e nado espiritual. Alguma vez, por exemplo, a maneira de pensar dele, que ele ensina nas suas universidades, a induaiu 23 a cla a desenvolver tcorias préprias? Alguma vez cla utilizou para investigagdes proprias os institutos de pes- quisas que ele Ihe franqueou? — Pouco a pouco devia o homem notar que a mulher, pura ¢ simplesmente, nao lé todos aqueles livros maravilhosos que ele poe A sua disposigao nas bibliotecas. Que as suas obras de arte, fantasticas, que Ihe mostra nos museus, a incitam, quan- do muito, 4 imitagio. Que todos os apelos para a eman- cipacio com que ele espera atingi-la através de filmes e pegas teatrais, feitas no seu proprio nivel e na sua pré- pria linguagem, sAo por ela apreciados apenas em fun- Gao do seu valor recreativo, mas nunca — mas nuncal — a levam 4 revolta. & perfeitamente ldgico que o homem, que tem a mulher na conta de seu igual, tendo assim que assistir 4 vida esttipida que ela leva junto de si, acredite que a subjuga, Mas, tanto quanto nos lembramos, nunca a mulher foi obrigada a qualquer submissao 4 vontade do homem. Pelo contrario: foram-lhe concedidas todas as possibilidades para se tornar independente, Se a mu- lher, por conseguinte, durante esse longo periodo, nao se libertou do seu “jugo”’, s6 existe para isso uma expli- cacao: esse jugo nfo existe. O homem ama a sua mulher mas também a des- preza, porque uma pessoa que sai de manha cheia de energia para conquistar novos mundos — o que, evir dentemente, raras vezes consegue, porque tem que ga- nhar a vida — tem de desprezar outra, que nao quer fazer o mesmo. E talvez seja por essa razao que o homem é levado a preocupar-se com o desenvolyimento espiri- tual da mulher: ele envergonha-se por ela e acredita que ela também se envergonha, Cavalheiro como é, gos- taria de a ajudar a sair desse embarago. O que ele nao sabe é que as mulheres desconhecem essa curiosidade, esse orgulho, essa ambicio de fazer at algo, que Ihe parecem a ele evidentes. Se nao participam do mundo dos homens ¢ so porque nao querem: nao sentem necessidade alguma desse mundo. A espécie de independéncia que os homens procuram nao teria para si qualquer valor, elas nao se sentem dependentes, A superioridade espiritual do homem nao as intimida, pois desconhecem o orgulho em matéria espiritual. As mulheres podem escolher, e é nisso que reside a sua infinita superioridade sobre o homem: cada uma delas pode escolher entre a forma de vida de um homem ea de uma criatura de luxo, estirpida e parasita — esco- Them, praticamente todas, a segunda madalidade. O ho- mem nao tem esta possibilidade de escolha. Se as mulheres se sentissem oprimidas pelo homem teriam criado édio ou medo perante eles, o que ¢ nor- mal suceder em relagio aos opressores. Mas as mulheres nao odciam os homens nem tio pouco os recciam, Se os homens as humilhassem com a sua maior sabedoria elas teriam procurado imitd-los — uma vez que tém todos 05 meios 4 sua disposicio, Se as mulheres nfo se sentis- sem livres, ter-se-iam agora, finalmente, libertado dos seus Opressores, nesta constelacao historicamente favo- nivel da sua vida. Na Suiga, um dos estados mais desenyolvidas do mundo, as mulheres ainda nao possuem um direito de voto geral. Ha pouco tempo e em determinado cantao suico pediram ds mulheres para votar sobre a introdu- Gio do direito de voto feminino — a maioria decidiu-se contra, Os homens suigos ficaram atdnitos, pois julga- vam que essa situacio indigna era o resultado da sua tutela centendria, Como se enganam: a mulher sente-se o menos pos- sivel tutelada pelo homem, Uma das muitas verdades deprimentes a respeito das relagdes entre os sexos ¢ sim- 25 plesmente essa: no mundo das mulheres o homem pra- ticamente nao existe. O homem nao é suficientemente importante para a mulher para que ela se revolte contra ele. A sua dependéncia perante cle é apenas material, em certo sentido, “fisica”. E a dependé de um tu- rista em relacao & companhia de cao que © trans- porta, a de um dono de restaurante em relagio & ma- quina de café, de um automével em relagio A gasolina, de um televisor em relagio A eletricidade. ‘Tais depen- déncias nao originam qualquer sofrimento de alma. Ibsen, que incorreu no mesmo erro de outros ho- mens, esforcau-se por escrever com a sua peca “Nora” uma espécie de manifesto de libertacio para todas as mulheres, Mas a estreia da pega em 1880 causou um cho- que apenas entre os homens, Juraram a si proprios Jutar com mais énfase, ainda, por condicdes de vida femininas dignas de seres humanos, A propésito, os esforgos de emancipacio por parte das mulheres esgotaram-se, como ¢ habitual, nunca va- riante da moda: durante algum tempo gostaram de ver- se mascaradas de sufragistas, em trajes tantas vezes ri- dicularizados, Uma impressio profunda, semelhante Aquela, pro- vocou mais tarde nas mulheres a filosofia de Sartre. Para provar que tinham entendido tudo deixaram cres- cer os cabelos até a cintura © passaram a usar calcas compridas ¢ camisolas pretas. © mesmo sucedeu ha pouco tempo com as teorias do chefe comunista Mao-Tse-Tung: durante uns tem- pos esteve em moda o “estilo Mao”, O HORIZONTE FEMININO Podem os homens fazer seja o que for para impres- sionar as mulheres: no mundo delas, eles nao valem nada. No mundo das mulheres sé contam as outras mu- theres, E 6ébvio que uma mulher sente-se feliz quando re- para que um homem se volta na rua para a ver. Se este homem estiver bem vestido ou se guiar um carro espor- tivo bem caro, a alegria é muito m vez com- paravel aquela sensacao experimentada por um acionista, quando 1é um boletim de cotacées da bolsa em alta. Nao tem importincia para a mulher que o homem seja ou niio bem parecido, simpatico ou antipatico, inteligente ou nao. Para o acionista também ¢é indiferente a cor das suas agoes. Mas se, por outro lado, a mulher repara que ou- tra se volta para a ver — o que sucede apenas em casos extremos, pois os padrdes com que as mulheres 27 se medem sao muito mais duros que os dos homens — entio, atinge o ctimulo da sua felicidade, Ela vive para isso: para o reconhecimento, para a admiragio, para 0 “amor” das outras mulheres. No mundo das mulheres existem apenas as outras mulheres: as mulheres com quem se encontram quando vio A igreja, A reunido de pais ¢ ao supermercado, As. mulheres com quem conversam no elevador, 4 porta, nos jardins. As mulheres por quem passam, aparentemente sem Ihes ligar nenhuma importincia, quando andam s compras percorrenda as elegantes artérias comer- ciais ou, 4 noite, nas [estas. Medem-se com o que existe nas swas cabecas, nao nas dos homens; ¢ para um sim- ples elogio da boca de owtra mulher prescindem de bom grado de todas as cortesias desajeitadas dos seus aman- tes que nao podem deixar munca de ser superticiais. Pois os homens nao fazem a minima ideia do mundo em que as mulheres realmente vivem, € nos seus hinos de louvor nao se dio conta de todos os pontos de vista que sao, de fato, importantes, Entio, as mulheres nao querem agradar em nada aos homens? I) preciso nao esquecer que os homens sao asua base material. Mas as necessidades dos homens po- deriam ser satisfeitas com muito menos despesas, j4 que estes, no que respeita 4s mulheres, as consideram pra- ticamente apenas simbolos de sexo ¢ reagem perante @ pintura delas com uma certa estranheza. Bastariam, por exemplo, cabelos compridas, libios pintados, camisolas apertadas, saias curtas, mcias transparentes, saltos altos. Mas essas obras vivas de arte feminina que se encontram nas elegantes artérias comerciais de Paris, Roma ou Nova York estio muito para além dos desejos ¢ da com- preensio dos homens. Colocar uma hoa sombra nas pil- pebras e¢ esbaté-la como mandam as regras exige umya cultura elevada; a escolha de determinado baton, a téc- a4 nica de o aplicar da melhor maneira, com pincel ou diretamente, em camadas ou nao; equilibrar como deve ser as vantagens ¢ inconvenientes das pestanas posticas, , por fim, harmonizar tudo entre si com o vestido, a estola, o casaco, a iluminacio, exigem uma formagio especializada. O homem nao tem interesse nenhum por isso, nao se especializou em nada relacionade com mas- caradas femininas, e, assim, éIhe radicalmente impos- sivel apreciar adequadamente obras de arte ambulantes dessa natureza, Porque para tal ¢ necessirio tempo, di- nheiro ¢ uma limitagao espiritual infinita — condigdes que se encontram exclusivamente nas mulheres, Por outras palavras: uma mulher sé querera im- pressionar um homem ao ponto de ele ficar junto dela ede a alimentar — no sentido mais a nplo, entenda-se. Tudo o que ela investe em si, para além disso, visa as outras mulheres, Para além da sua funcio de sustenta- dor, a mulher nao liga qualquer importincia.ao homem. Quando uma empresa anda em busea de um ele- mento de trabalho de clevada categoria, procurara atrai- lo, tanto tempo quanto for necessdrio, com as mais ali- ciantes promessas, até essa pessoa ceder. A empresa sabe ado o contrato, verd as suas diligéncias bem re- compensadas, Tem sempre a faca € 0 queijo na mao. Com as mulheres passa-se o mesmo: deixam aos seus maridos a liberdade suficiente para que eles, mesmo assim, prefiram a sua companhia 4 rescisio do contrato. Em geral, pode-se comparar muito bem uma mu- Iher com uma firma, Assim como a firma é um sis- tema neutral, para a obten¢ao do maior lucro possivel, assim a mulher esta ligada ao homem que para ela tra- balha, sem amor pessoal, sem malicia e sem ddio, Se ele a abandona, é evidente que se enche de medo, pois a sua existéncia econdmica est:.em jogo. Mas trata-se aqui 29 de um medo racional, tem origens racionais ¢ admite uma compensacio exclusivamente rac 1 — sem sc abrirem precipicios. Por exemplo, a de ela poder fazer um novo contrato com outro homem, Esse medo mio tem, por conseguinte, nada de comum com os sentimen- tos de um homem que, perante a mesma situagao, Se consome em citime, complexo de inferioridade ou com- paixao por si prdéprio. Como um homem sé abandona uma mulber por causa de outra mulher ¢ nunca para ser livre, mio ¢ te para a mulher qualquer motivo para o invejar ou sequer ficar ciumenta. Aos seus olhos, ele nao vai ae lhorar de situacao. A aventura existencial que o seu ma- rido vai viver em virtude de um nove amor para com outra mulher, observa-a ela da perspectiva de um pe- queno empresario que perde o scu melhor empregado. em favor de um concorrente € tem que se dar ao traba- tho de arranjar um substituto util. Desgosto de amor € para uma mulher, na melhor das hipdteses, a sensagao de que se esfuma um bom negdcia. Por isso, ¢ igualmente absurdo que um homem con- sidere a sua mulher fiel so por cla nao o cnganar com outros homens que, aos seus ollos, sio mais atracntes que ele proprio. Porque havia cla de ° fazer enquanto cle trabalha bem para si e lhe proporciona aquela feli- cidade que realmente lhe nteressa? Nada tém de co- mum, fundamentalmente, a fidelidade de um homem com ade uma mulher; as mulheres sao, a0 contririo dos homens, insensiveis ao aspecto exterior do seu compa- nheiro. Se uma mulher paquera o melhor amigo do seu marido, certamente que s6 pretende com isso irritar 2 mulher deste ¢ no o seu marido, pois apenas os sent mentos dessa outra mulher sido importantes para ela (se 30 the interessasse @ homem nao 0 mostraria tao aberta- mente), As novas priticas sexuais em grupo niio passam de uma variante da paquera, ja ulurapassada em certos setores da sociedade, Também aqui sé interessam A mu- ther as outras 1m 0 os homens. A histéria estd cheia de anedotas de reis ¢ principes que se diver- tiam simul mente com varias amantes, E raro apa- recerem historiazinhas picantes ¢ iguais a respeito de potentados femininos. Uma mulher aborrecer-se-ia mor- talmente praticando sexo em grupo sé com homens, Isso foi e sera sempre assim. Se as mulheres reagissemi ao aspecto exterior dos homens, ja hi muito tempo que a publicidade teria ti- rado proveito disso. Como as mulheres — gracas ao di- nheiro que os homens para elas ganham — dispdem de um poder de compra de longe superior ao dos homens (existem a esse respeito cstatisticas concludentes), os fabricantes procurariam obviamente estimular a venda dos seus produtos por meio de fotogratias e “slogans” publicitarios de homens bonitos ¢ fortes com os carac- téres sexuais secundarios bem evidenciados. Mas ver fica-se precisamente o contririo: para onde quer que se olhe, as agéncias de publicidade apresentam lindas jovens cuja missio é tornar tentadora a compra de ex- cursdes, automéveis, detergente em pé, aparelhos de te- levisio ou mobjlias de quarto. Os produtores de filmes s6 agora comecam a des- cobrir que podem apresentar nulheres, em vez dos costumados galas, amantes feios como, por exemplo, Bel- mondo, Walther Matthau ou Dustin Hoffman com o mesmo resultado. Os homens que sob o ponto de vista fisico tem um conceito de valor sobre si préprios muito 0.€ que sd raramente se consideram “belos” — belas, so, a scus ollos, apenas as mulheres — podem identifi- 31 car-se melhor com atores fcios. Desde que os papeis fe- mininos importantes continuem a ser desempenhados por estrelas belas, as mulheres consumirao esses filmes com tanto agrado como aqueles em que aparece Rock Hudson, pois sé lhes interessam yerdadeiramente as mulheres que neles atuam. Esta cireunstincia s6 nfio chegou antes ao conhe- cimento do homem porque ele assiste constantemente 4 difamagao das mulheres umas pelas outras. Se ouve a todo o momento a sua mulher criticar o nariz torto, o peito liso, as pernas em “X” ou as ancas largas de qualquer outra, concluird logicamente que as mulheres nao se podem suportar umas as outras ou que acham as outras totalmente destituidas de graca. Isso é, contudo, uma interpretacio errada: um empresirio que lauvasse constantemente uma firma concorrente perante os seus empregados, seria considerado louco, Certamente, den- tro de pouco tempo, os empregados o abandonariam., Qs politicos tém que representar a mesma espécie de comédia e caluniar-se mutuamente em pttblico, No en- tanto, Nixon preferiria ser desterrado para uma ilha deserta com Fidel Castro ou Kosygin do que com o homem da rua que elogia e do qual recebeu o mandato. Nada o liga ao homem da rua. Se as mulheres tivessem o suficiente, sob o ponto de vista material, de certo prefeririam juntar-se umas 4s outras do que aos homens. De forma alguma por serem todas lésbias, — reparase. O que os homens chamam de disposigao I¢sbica das mulheres tem, pro- vavelmente, pouco a ver com o instinto sexual delas. Nao — os dois sexos nao tém nenhuns interesses comuns. Portanto, que outra coisa senao o dinheiro manteria as mulheres junto dos homens? Elas proprias teriam entre si muito de comum, pois o intclecto feminino ¢ a vida 32 see = emocional feminina estacionaram a um nivel primitivo, ou seja, geral, € nao existem, praticamente, mulheres com inclinagGes individualistas ou aberrantes. Podemos imaginar facilmente que vida animada elas levariam, umas com as outras, — uma vida paradisiaca talvez, se bem que a um nivel horrivelmente baixo. Mas quem se Incomodaria com isso?

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