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, ; AFRANI xo & (ME. j ; seoPR QB) pyc OneeA 2 & \ MYSTERIO (3a. EDIGAO - 10,° MILHEIRO) COMPANHIA EDITORA NACIONAL RUA DOS GUSMOES, 26 ——— §1928 —— $. PAULO do durante annos aquella vinganca. vira. tudo. Lera centenas de romances 40 pelo prazer que Ihe pudesse fazer mas pelo desejo de estudar todos os © crime que projectava e de escapar leria de nada matar o velho Sanches anhar tolamente, e fosse cumprir, uma pena, em que se estiolaria o ha entao 25 annos. Era fino, esbel- do. Desde os 15 annos, quando o bo Ihe arruinou o pae de maneira lou a honra de sua familia de um ; UM CRIME BEM FEITO MW . Quando se decidiu ao seu plano, foi examinar a casa €os costumes de Sanches Lobo, Nao teve muita difficul- procedia.a essa operacgo e subia 1° andar. Ahi ficava estudando ne- ide cofre aberto, onde guardava os import A’ meia-noite, pontualmente, fe- a janella,a luz-e ia dormir. paciente e disfar¢adamente a casa, durante ‘edro acabara por saber os dias de sahida io do mez hayia sempre uma cir- elho empregado do banqueiro ia is alligueis de casas e vér uma inda tinha por l4. Ficava namoradeita, 10 ho -sozir 12 O MYSTERIO A casa — melhor se ditia casebre — em que elle mor. va era de sua propriedade: uma casinha de porta e janelle unica coisa que lhe restava de sua grande fortuna antiga, Foi ao quintal e cavou um buraco, perto de uma = torneira. Verificou que nesse buraco, bem profundo, podia ficar enterrada, a quasi um metro de profundidade, uma lata de folha vazia, que elle trouxe de casa. Havia perto chumbo €um magarico: 9 necessario para fazer uma solda, Viu os seus livros e Papeis. Tinha vendido os romances Pequena 2 dariam um attestado de pureza, No havia um papel sus. peito. O guarda-comidas estava vazio. Um ar de mizeria tornava infinitamente triste a pobre casa. Pedro sorriu e dirigiu-se calmamente Para a.casa do velho Sanches, Elle sabia que o velho servidor nao estava na cidade. Restava a tapariga. Mas no momento Preciso, Justamente quando elle se approximava, ella ia sahindo com - 0 namorado. Era no principio de fevereiro. Havia perto uma. bata- - tha de confetti e podia ter-se como infallivel que ella para Ia iria. ‘ : Pedro, assim que’a viu longe, calcou as luvras, abriu calmamente o porto e entrou. Deu volta pela cozinha e, Ta¢as aos tapetes da casa e 4s suas botinas de tennis nado © menor embaraco em chegar, sem fazer nenhum até o gabinete de Sanches Lobo. ee pidamente a porta e appareceu de subito diante © que o senhor quer? — perguntou o ban- lo affectar energia, mas tremulo de medo. iro logar, quero que vocé nao se mova. xer, fago saltar-lhe os miolos. UM CRIME BEM FEITO 13 E exhibia, poderoso argumento, o seu revélver! O velho emcol S encolheu-se, acovardado. Pedro lhe disse, entao: — Ew nao sou um ladr§o, = Que é enta0 0 que deseja aqui? — disse, tartamu- deando, o banqueiro. — Venho buscar de um ladrao parte ao menos do que me pertence e ajustar com elle uma velha conta: eu me chamo Pedro Albergaria. O velho teve um estremecimento profundo. Na physio- nomtia se Ihe pintou uma expresso de horror. Os olhos Gilataram-se, a bocca aberta, arquejava... Mas isso durou apenas um instante, porque uma synco- pe o prostrou. é Estaria morto? Pedro verificou que nao. Esperar, po- rém, que elle voltasse a si seria perder tempo. Foi ao cofre aberto € examinou o que nelle havia: havia muito mais Gnheiro do que elle stuppunha. Quasi ao vir para casa, Sanches recebera duzentos e tantos contos de uma tran- saegao. Ja o Banco estava fechado, e trouxe comsigo a quantia, em notas de 1 :000$000, disposto a leva-la de novo no dia immediato. No cofre estava tambem um saquinho cheio de moedas de ouro. Pedro foi reunindo tudo isso, distribuindo pelos bolsos. Quiz porém, mais alguma coisa: vér se descobria um papel que parecia procurar com espe- cial empenho. Ainda nisso foi feliz. Achou-o, metteu-o no bolso. Fazia tudo com calma, methodicamente. Sd teve uma hesitacao. Foi quando terminou a sua colheita e se encon- trou diante de Sanches Lobo, ainda desmaiado, mas pare- cendo prestes a voltar a si. Pedro resolveu enforca-lo. Tapou-lhe o nariz e a boca — e esperou. O velho estrebuchou um pouco; mas aquie- tou-se rapidamente. Estava morto, bem morto. pecan ane 14 oO MYSTERIO Havia um pequeno telogio sobre nas 11 horas e esmagou-o co Parecia desse modo que 0 4 hora, quando, no emtanto, pouco Passava das 9, Desceu cautelosamente, A. Casa’ era perto da Botatogo. Disfargadamente, verificando que ninguem, tirou os Sapatos de borracha, as luvas de Escossia eo revolver e atirou tudo ao mar, _ gando 4 casa, metteu tudo © que trouxera na lata que dei- ‘xXdra preparada, soldou-a, collocou-a no buraco, que para sso deixara preparado, collocou tambem ahi todos os pe- rechos de solda, puxou a terra para cima do buraco, cal- cando-a bem e sobre ella derramou alguns baldes de agua, encharcand todo © quintalzinho, Ninguem poderia adiy}. a mesa, Ped; fazendo-o a mM o pé, iu. Fechou a casa cuidadosamente e escon- onde, ds vezes, a deixava. Nao » que metteu avidamente na bocca, do de fome. E foi preso: exacta- m 10 e 45 da noite quando entrou na delegacia. le que precisava. im homem que acaba de roubar ia furtar alguns doces para lado, se estava na delegacia © autor de um crime com- a ee nao teria alguem entrado hora que o relogio cahido II NA DELEGACIA Na sala da delegacia, que tresandaya como um brigue hacalhoeiro, i © Porao de um grupo de Tapazes, Sarda. a arbitrariedade Esse nao dizia palavra, succumbido, De quando em quando suspirava levantando os olhos, que eram lindos ¢ Pestanudos. Um dos do 8tupo fez-lhe signal Para que se sentasse, ¢, chegando-se-lhe Perto, segredou-the: — Sera bom que nio fales. Deixa 0 caso commigo €com 0 Julio. Se falas, entornas o caldo, as © louro suspirou, sentido: —— Nao imaginas como soffro, Que vergonha! meu Deus! Quando souberem que andei em viuva-alegre. .. Trouxessem-me a taxi, eu pagava... mas em vinva-ae- gre... : — Ora! A viuva-alegre é 0 caradura da ordem, o loga NA DELEGAGIA 17 commum da seguranga publica, Victor Hugo, e era jistor Hugo! percorria Paris na imperial dos omnibus. a e me preoccupa nao ¢ a “viuva alegre . O que me preoc- cupa és tt, minha donzella triste. © louro baixou os olhos, corando, Albergaria, que se achava perto, vigiado pelo = que o prendera com a boca na botija, ou no flagrante do furto no taboleiro, ouviu as palavras meigas, de enamo- rado, que haviam posto em rosa as faces do rapazola louro e, esquecendo-se, por-instantes, do plano que alli o levara, prestou attengao ao grupo, examinando attentamente a figura galante do que tanto se sentia da conduccao em que o haviam levado 4 presenca da Lei, que, por signal, nao se achava presente. Nao era necessario grande perspicacia para reconhecer “no susceptivel mancebo formosa e delicada moga, que 0 trajo masculino, longe de rebucar, mais denunciava, accen- tuando-lhe as linhas arredondadas do corpo e certas abun- dancias raras no sexo forte, que as passou ao outro, com a costella com que Deus no Paraiso fez artisticamente ¢ mais maliciosamente o corpo... de delicto de todas as encrencas que tém atrapalhado a vida humana. Os pés caberiam juntos na palma das maos do furtador de ‘doces, que os admirava com gulodice de amor e as mios, peque- ninas, e brancas, deviam ser como plumas quando aca- riciassem, Porque estaria ella vestida de homem, entre dois tapa- zes, um indif ferente, como se fosse familiar daquella casa, outro taciturno, visivelmente envergonhado, fumando ci- Sarros sobre cigarros, enchendo a sala de fumo como se a quizesse abrumar para que o nado vissem? dade, tetris procurava penctrar © mysterio taquella trin- » quando o commissari ; ie aes Satlo appareceu esbaforido, a tos- Era um typo caricatural, que parecia um desenho de - 18 Oo MYSTERIO Raul ou de Calixto que se ho ~tidade. : : ~ Calvo, com umas falri pescogo badalhocando, uvesse encarnado ©€M auto. pas €svoacantes, os Perigalhes do uma beicorrg molle, rut npapucados, yentrudo COMO se es. debaixo do collete e tudo isto fin- vassoura, que eram as Pernas, nas 0 gelhas, 4s vezes collavam-se, en- Tas em mastros. Pra como condesse uma abobora cado em dois cabos de Océ que trouxe estes pelintras, nao? que nao. Quem trouxe foi o 402. elle? ua pasta furiosamente, Onde esta café. Disse que vinha ja. r tempo tém aqui este malandr laces do taboleiro de uma tia. 0 encarou o indigitado, que era Alberga- 0; logo atravessado por um accesso de Mas para © que ex seu grandissimo nao sej que diga, legta, que vive do seu trabalho, babando colera, com um Albergaria explicou-se: NA DELEGACIA 19 exa. 0S soffrimentos que tenho curtido: vertigens, uma fraqueza que ja me nao consentia andar... Tomavam-me or ebrio, riam-se de mim, e eu caminhava, caminhava... — Nada de romances! berrou o commissario. Isto aqui nao 6 cinema, entende? Isto é a policia, é a Casa da Lei, 9 Templo da. Ordem, a Columna da Moral... La falar por falar tambem eu sei... Deu um sacalao ds calcas que jhe escorriam pela barriga tremida, e disse, dirigindo-se aos tapazes, como a intimos: — E’ isto. Nao ha vagabundo que nao tenha um ro- mance, uma historia complicada para contar. Pois sim! ‘Commigo é nove! Tenho trinta e seis annos de Policia aqui no duro. Conheco a canalha. Furtou... _ -— Para comer, senhor commissario. Foi a fome. V. s. deve conhecer Joao Valgean, o que roubou pao. — Se conheco! Mas eu aqui nao quero saber de histo- tias: sou a Lei, entende? E, diante da Lei, tanto vale um pao como um collar de perolas, uma cocada pucha como uma carteira. Tudo é furto. Se, em vez de um taboleiro de doces, vocé tivesse encontrado uma caixa de joias, iam- se aS joias... : — Nao, senhor. commissario. — Cale-se. E brattou: 402! — © 402 foi tomar café, senhor commissario, _ — Pois entio vocé mesmo. Qual é o seu numer — Eu sou 0 501, as ordens dev. s. — Pois seu 501, metta este typo no xadrez. Nao foi ~ yore que o ‘prendeu? aoe — Fui eu, sim, senhor commissario. — E o furto? — O furto elle comeu. — Bom. Pois metta-o no xadrez até que chegue o dr. delegado. Albergaria quiz protestar, chegou a fazer um gesto, logo atalhado pelo commissario. Oo MYSTERIO ei e uma mulher irrompeu na sala, desgre- Se iad esbogathados e atirando-se, como louca, esa do commissario, bradou: Senhor doutor, mataram-me o patréo. Mataram-me Opatraol Voltando-se, porém, para o grupo dos rapazes, como e quizesse communicar a todos o horroroso crime, agi- -desesperadamente os bracos, disse: m os olhos no mancebo louro, que de haver sido conduzido em viuva-ale- lesmedidamente a boca e, com o olhar 0 de pavor, soltou um grito, e rolou II A EVASAO Albergaria e a praca 501, que o levava ao xadrez, esta- caram na porta, um momento, ante a scena imprevista, € logo depois acudiram, com os outros assistentes, 4 pobre mulher, que redondamente cahira no chao. O proprio com- missario, tao acostumado ds peripecias mais extraordina- tias, nesta sua longa vida de esbirro, perdeu a compostura de justiceiro, incredulo 4s apparencias impréssionantes, tocado deveras 4 subitaneidade desta, digna do theatro mais inverosimil. 6 — EF assim, quando o Contreiras esta de plantio, isto anda 4s moscas... A mim, sao encrencas sobre encren- cas! Nao me faltava mais nada... este estafermo a dar chiliques na delegacia... Ora da-se!,.. Albergaria abaixdra-se a tomar o pulso da mulher, es- iendida, depois de Ine compér as saias que se arrepanha- ram 4 quéda; disse, alto, com uma convicgio de enten- dido: — E’ um ataque. — Morreu o Neves. Ora esta! — Que Neves? en Morreu o Neves... o ataque! Quero saber é do O MYSTERIO — Nao bate mais... Isto péde ser séri amar a Assistencia. — Qual Assistencia, nem meia Assistencia, re issario, tentando tornar 4 calma, que perdera os d'agua no rosto e hao de vel-a de novo a con borri como aqui entrou... Foi a moringa d’agua, derramou uma pouca no copo, e yolveu a aspergir 0 assoalho e a paciente, ‘sem maior pro- veito. Mais expedicto, Albergaria appellou para o soldado © os Tapazes Presos: sopesaram o corpo, que era forte e carnudo, € o depuseram sobre a mesa de audiencias da delegacia. — Tire isto d’aqui! — indicava ao commissario os li- VFOSs € auitos de inquerito, que atulhavam a mesa, — é pre- ciso que fique a fio comprido, de cabeca baixa... Or uma inversao de papeis, assumira o prisioneiro a iniciativa das operacdes e dava ordens, mesmo ao com- Missario: — Beba agua, sendo a vocé tambem da-Ihe na fra- queza, e a rascada é maior... De facto, as pernas bambas do velho tremiam, da testa the escorriam bagas de suor, que elle limpava triste, com um lengo encardido: \ — Nao nasci para estas scenas... Descomposturas, castigos, enrolar um freguez, bem enrolado, com inquerito Supimpa, € commigo... Nio dou para estes assados, de Ataques e faniquitos. .. > Beba a agua, e aquiete-se, que ella tornar4 a si; tesolutamente poz-se o Albergaria a fazer uma série Para despertar a Tapariga. Mexia-lhe com os asos em todas as direcgdes ; desapertou-lhe 0 ¢ds da Sala ; desabotoou-lhe a gola da blusa, tentando facilitar- the a Tespiracgo, > A EVASAO ‘A’ vista da pelle branca do colo, ee do commissario se atelou, aS —— Scapa Approximou-se; olhou entao para o 10s! secida, morena so entdo viu que era uma mocetona, bem Pi < =e clara, com ligeiro buco no labio crespo, appare ee dida de portugueza do campo, moca arrumadeira, CONT = tantas por ahi. Confirmacio desta suspeita eram umas = recadas de ouro, bem amatello, pendentes das orelhas en trancelim, preso ao pescogo, um coracao de filigrana, < joia popular e tradicional do Minho. O commussario que ficara com os olhos regalados na alvura repleta do colo, entremostrado através da blusa desabotoada, animotu-se, compadecido, como interrogando aos rapazes? — Que se ha de fazer num caso destes? Ofhem que se isto dura, pode mesmo morrer... EB é pena! Albergaria, cansado de todas as praticas que tentara de respiracao artificial, improvisadas no momento, embora as tivesse lido alguma vez, sem attencao, nem esperanca de as poder um dia empregar, exclamou, como a uma fe- liz lembranga: — Nao havera i 2 ‘ nao deve faltar. — ——— Nama delega SS — Aqui nao se usam estes trata les precisam véo curtir no cadre oe ae & _ Teve receio que o homem se estoma no, e com brandura, replicou : — Podia ser... Para um “estrupicio” fallivel... Entao, s6 existe o recur. so da A gasse, 0 commissa- destes, era in- O commissario, aborrecido com o ssistencia ! gencia de uma resolucao: © caso, tornou a ur- — Quinhentos e um! ~~ A’s ordes! — Toque para a Assistencia ! 4 0 MYSTERIO O soldado deu meia volta, entrando pelo co! busca da ligagaéo telephonica, para o pedido d — Se houvesse por ahi um pouco de ether o hea... murmurava Albergaria, fixado na sua c De 0 repetir — abrandot-se a rispidez do com que se poz a abrir as gavetas e os armarios, e a _atabalhoadamente, o que ahi nao guardara. Co: » pellido por uma lembranca, levantou-se € se encar Para a sala vizinha do delegado, a procurar ainda os sos rt § Albergaria notou que o rapaz louro, cujas enunciavam disfarce feminino, e cuja vis- do o espanto, ou o susto, € 0 chilique da baixara a cabeca, a chotar convulsiva- s ameigava-lhe a cabeca, num gesto ‘Ocur MO que - tudo se explica!... Fica combinar com o Julio... Descanga, endireitou-se para o outro rapaz, o Julio, encontro a um armario, pondo-se a fa- ti iriava a telephonista, que the nao dava de meia hora: Central 2-5-5! Remexia 10 as gavetas do delegado. Albergaria, appro- ra 25 IV O CHILIQUE ie afoitamente ao encontro, toma-lhe leva-o ao nariz da rapariga desmaiada. dido ao cheiro maravilhoso de viole- sala. E, fitando o commissario, com isufa na voz: ether, é perfume! amente a cabega : eu a bulir nas perfumarias do dele- ' / ta o corredor, berrou desesperado: ou nao chamas a Assistencia?! | | O CHILIQUE 27 Felizmente! exclamou o commissario. Elle que tome conta da “encrenca”’, {}, chegando ao corredor, chamou: Doutor Lobato, faga favor. A’ porta assomou uma figura casquilha e moga num lindo terno cr de alecrim fanado. Olhou aquella desordem com uma expresso de displicencia preguicosa, um tom de cansaco de quem nao dorme e, vendo sobre a mesa a mn¢e inerte, perguntou com um accento de enfado: — Que foi isso? O commissario explicou. Dizer bem o que fora aquillo nao sabia, Aquella mulher entrara alli, inesperadamente, gritando (0 que ella gritava nao se recordava bem) e, de repente, arregalou os olhos, tremeu e bumba! no chao. — Uma massada! Dera, porém todas as providencias. A As- sistencia deyia estar riscando na porta. — Nilo sei se ella € doida, mas parece. Nao parece, 501? ‘ © soldado contou a mesma historia, a entrada inespe- yada da moga, o tombo no chio, Lobato ouvia, como se achasse tudo aquillo uma ca- cetada, *, . = — Ah! ja me lembro, disse o commissario com um lampejo, Ella invadiu a sala berrando: — mataram o meu irmio! Na&o foi, 501? A praca moveu negativamente a cabeca. Nao. O que elle ouvira fora outta coisa: — Mataram-me © patréo, foi o que ella disse. = Patrio ou irmao, nao sei bem, atalhou o commis- sario, — O que eu ouvi foi ella falar em morte. O delegado approximou-se da rapariga, tomando-the o pulso, ‘Toda gente se chegou para perto. Elle pal; brago da moga, sondou-lhe a testa fria, pousou- palpou o : ; s 1 u-lhe a mo no peito e fitando o commissario que o in : : mente com o olhar, disse: : a OSes 28 O MYSTERIO Aibergaria, Tiso, perguntou: { shor é medico? enhor. ario apressou-se em explicar. Era preso. Rs. sala, quando a moca cahiu desmaiada, Parecia io naquelles assados. Pelo menos tinha presta- do excellentes servicos para conseguir que a mulher tre. cuperasse os sentidos. Hobate poz-se em frente de Albergaria. — Por que esta preso? O tapaz baixou a cabeca, como que envergonhado, sem responder. — O° Xavier! que fez este sujeito? indagou ao com- O velho Xavier veiu contar. Entre elle e¢ Pedro Alber- gatia havia j4 naquelle momento uma ponta de benevolen- Cia e de sympathia. Procurava as palavras com a preoc- eupacao de dar uma explicacko favoravel ao moco, — Pandegas, doutor, pandegas.. O rondante prendeu-o numa farra em que elle comia, sem querer pagar, os doces de uma preia velha. Esses rapazes quando se mettem em trogas... O assassino do banqueiro levantou a cabega. _— Perdao, senhor commissario, eu era incapaz, de uma dessas. Furtei os doces porque estava com fome. Ha S que nao como. ado empertigou-se: ; Fentao é um gatuno, nio é verdade?! ‘Tao novo, a de furtar para comer? baixou novamente a cabeca. O Xavier foi ella, incommodado. Que idiota, aquelle mogo! Elle dar a coisa uma feicio de ‘ninharia, a falar em trocas, alli ao lado, tivesse um ligeiro sor- & 29 O CHILIQUE ‘arras de rapaz, eo tolo a dizer na cara da autoridade em 7a oh xe furtara para matar a fome. — Responda! gritou Lobato, irritantemente, para o max tador de Sanches Lobo. Elle ergueu os olhos, mas nao disse palavra. — 501, ponha esse sujeito no xadrez. Xavier, lavre 0 flagrante. : O commissario accendeu um cigarro. Tudo aquillo the punha os nervos em vibracdo. Olhou Albergaria, que ca- minhava para o xadrez, seguido pelo soldado e uma ruga vincou-lhe a testa. D’aquellas massadas so aconteciam no seu plantao. — E esta Assistencia nao vem?! disse, como para de- sabafar-se, como para ser desagradavel a alguem. Nesse momento o 402 surgia 4 porta. Lancou o olhar espantado pela sala e caminhou para o commissario: — Onde estZo os mogos que eu trouxe? O velho Xavier olhou e reolhou os cantos. Lembrava- Se que, ao entrar alli, tinha visto no banco junto da janella um grupo de rapazes, E, agora, o grupo ja alli néo estava. Aquillo s6 a elle acontecia! EK estourou, num berro para o soldado: aie senhor porque abandonou os presos e foi tomar care ft - Lobato, que, so naquelle momento obse rva NS dura retumbante da mocetona desmaiada voce ; Se — Que foi? : : — Uns presos do 402, que fugiram, Na physionomia do delegado de reprehensao. Ia falar, ia explodir, mas 14 e i tan-tan-tan apressado e barulhento eran oe num do auto-ambulancia da Assistencia, RVEREGE Correram todos a0 parapeito da escad i a. acompanhado do ajudante. Bra oculos, bigode e andd. Havia nel} senhou-se um trago de O medico subia um mogo alto, moreno, le dois signaes ineonfun- 30 O MYSTERIO diveis: uma trunfa de cabellos brancos a berrar extra mente na sua cabelleira de um negro profundo < ‘ mancha vermelha, larga, espraiada do lado esquerdo do rosto, -—— Como vaes Lobato? — Béa noite, Cardoso! — Aqui dowtor, aqui, disse o Xavier, trazendo-o para a sala. Ao dar com a moga sobre a mesa, Cardoso palpou-the immediatamente 0 pulso, — Que foi isto? — Um chilique, um desmaio, responden o velho com- missario. BE’ grave, doutor, é grave? — Nao tem importancia. Uma vertigem. Ja ella vae tespitar francamente. Com uma injeccio e um pouco de ether esta iudo liquidado. E para o ajudante: — Prepare a agulha. {E, como para ganhar tempo, poz-se a tentar a respira- c&o artificial. Lobato, que seguia para a sala da frente, parou deante da escada. Subia-a tuidosamente, um bando de homens. A’ frente, um velho de sapatao, vestido de preto, olhos ater- tados. Dois soldados fechavam o prestito. — Subam mais devagar! gritou elle irritado, para o 8tupo. Nao sabem subir uma escada em termos? O velho estacou deante delle, offegante, sem poder > Que ¢ 14? Diga! ee sua simplicidade de homem do povo, 0 outro sabou num pranto, a exclamar, suffocado pelos solucos. inc Patrao!... ‘o patrao!... mataram-me 0 patrao!... bato ficou sem saber © que aquillo significava. ds wees Soldados tinham ja subido os ultimos degraus 0 CHILIQUE 31 0 delegado para um delles. m o patrao deste homem. os solugos e foi contando enforcaram-no. Esta aqui mei a vizinha para vér. Eu v de Mangaratiba. Ao entrar © patrao morto, morto, dotttor, en- E irrempeu novamente no-choro desabalado. ~— Calese, homem! ralhou Lobato. Deixe-se de chéro. Quem era o seu patrao? — Vossa senhoria niio conhece? O Sanches Lobo, o ri- cago? — QO hangqueiro? — © hbanqueiro, sim senhor, o banqueiro! Lobato empallideceu. Sanches Lobo era uma das figu- ras de maior relevo do Rio. A fama de sua philantropia, 0 sem immenso dinheiro, a historia ruidosa de sua fortuna - emchiam a cidade do rebdo do seu nome. “> — Ona, esta, ora esia! poz-se a repetir. = “enorme complicaséo nao viria dalli! Inqueritos, pesquizas, inquirigdes de testemunhas, o diabo. EK, a re- portagem dos jornaes! e a praga abelhuda dos reporters! * E elle que queria eseapulir cedo aquella noite! — — Ora estal.=. E caminhou para a sala da audiencia, seguido do bando, chamando: .— & Xavier vem cé, ouve isto. © commissario chegou-se pressurosamente. —— Sabes de uma novidade? Mataram o Sanches Lobo. O Xavier arregalou, surprehendido, os olhos. — QO millionario? — O millionario. O commissario levou a mao a cabega, cogando-a naquelle 32 oO MYSTERIO gesto muito seu, ¢ depois, com um rizinho dc a remoer as palavras: — B’ o que eu digo: nao tenho sorte. No planta Contreiras nao acontece nada, nada. No meu ¢ Isto. At Sanches Lobo se lembram de assassinar. E como se naquelle instante a bossa policial acordasse — E como foi? — Enforcado, sew doutor, enforcado! repetiu o velho criado, voltando ao pranto. O medico, de costas para a gente que se movia na sala, applicava a injeccao no braco da rapariga. Attento ao tra balho, nao tinha ouvido uma palavra de tudo aquillo. Escuta Cardoso, ja sabes a novidade? disse-lhe o de- legado, batendo-lhe nos hombros. Mataram o teu tio, 0 Sanches Lobo. Elle virou-se num chofre, aterrado. — Que?! Nesse momento, um grito estrugiu na sala. Era o cria- do do Sanches Lobo, diante do medico, a escoral-o, com os dois olhos esbugalhados num terror. Todo 0 mundo estremeceu, © velho deu um passo 4 frente, fitou novamente o medico e, recuando num tremor de bracos e pernas, poz-se a gritar como um louco, diante de toda a gente, num appello desesperado ao delegado: — — Prenda-o, prenda-o! Devia ter sido esse homem! fo! elle com certeza quem matou o patrao! “ VIRIATO CORREA. Vv DOIDO VARRIDO 03 presentes, impressionados, nao tamto com o " do velho famulo, como, principalmente, com © ; ‘se The estampava no rosto, quedaram estatelados or ‘medico quem os tirou da estupefaccao, di- amente ao velhote, que tremia mas pernas, Os e gee lividos : a boca, estendeu os b oo Scangpgnle yg os a gindo, pretendeu agarrar o medico e té-lo-ia empolgado se _ duas pracas nio o tivessem contido a custo, porque uma es rada, em corpo tio abatido pelos annos, tor- iramente perigoso. seaeuee. urros, espumando, a rosnar phrases nas am nomes de reis e de santos, e, por vezes, » adiantou-se com severo entono ¢ engrossan-— dou, imperativo: 34 O MYSTERIO “— ‘Aauiete-se! Tenha modos! sendo mando metté-tn ein camisola de forca. — A mim... Em camisola! Em éamisola!... A min, um homem ‘gério, de sessenta e dois annos de idade! G nhor!? Sabe com quem estd falando?! FE arrancou impe tuosamente, atremettendo para o delegado, Sabe? Fala ‘com o tenente Bonifacio Paiva Gomide. Sou da Guarda facional, ca em baixo, e, 14 em cima tenho honras de prin porque, ¢ voltando-se para o medico, disse com ar sat , rilhando os dentes: Diga-lhe quem sou, seu 8 ! O senhor bem sabe quem eu sou,.. Camisola A mim! V4, seu assassino, fale! , mal podendo conter o riso, disse para o av. s. Aléxandre Magno, rei da Mace que levara uma pitada de meio grosso que era um abysmo tao negro e encarvoa mina de Cardiff, com a surpresa daquellas tas, fungou tal sorvo que o rapé, entrando d’escanti pela furna nasal, foi-lhe aos gorgomillos, com o que altou uma tosse suffocante que esteve, vai nio vai, a aMapS ij necessatio intervirem energicamente, esmurrando- stas, para que elle explodisse, em espirros ¢ arre- yulcanicos, toda a carga que se lhe atafulhava nas do esophago ou por alli perto, engasgando-o. oe lagrimas copiosas e uma cor apo giu-lhe o caréo. Sentaram-no e 0 medico poz -lo com ealioas de amizade e conselho; diz eixa esse vicio de rapé. Se fosses um um homem como tu... E nao ¢ a primeira vez com essa immundicie. Ja no Municipal, nav (0 “Moysés”, estiveste por um fio com o rapé. ante da autoridade revirou uns olhos langui- DOIDO VARRIDO 35 dos ¢ marejados e disse, com um fio de voz, quasi imper- ceptivel : soe aes ——= Tens razio. Mas eu nao posso viver sem um vicio- sinho. Levaram-me a cerveja, nem passo pela Brahma, como sabes, porque a bebida arrasava-me as entranhas. Prohibiram o cigarro, porque andei ahi, como viste, a mor- rer de tabagismo. Atirei-me 4 cocaina, e quasi dou em doido. © rapé foi o meu ultimo recurso e é isto. Tens ra- 240. Mas 0 culpado foste tu, ou antes — foi esse velho amaldigoado. E levantando-se, enfurecido, com o nariz a escorrer, *bradou para as pragas que continham o famulo energt- meno: — Mettam essa besta no xadrez e, se resistir, cheguem- The, e acenou a bordoada. © velho empinou-se e, em novo accesso de furia, ia ati- rar-se ao delegado, mas um dos policiaes sacou do revdlver e apontou-lh’o 4 cara, dizendo, com firmeza, capaz de jun- tar 4 ameaca o gesto decisivo: _ — Se da mais um passo, sew zinho, eu queimo. Vocé “me ferrou o dente na mao e eu nao sou carne p’ra cachor- ro, Ou vocé fica manso ou chupa uma bala agora mesmo. © © soldado, typo de caboclo atarracado, cara chata, ven- tas abertas e olhos pequeninos, afuzilados, era tido por féra, Ja uma vez, num conflicto, na Lapa, queimara um syrio e deixara um chim, vendedor de pés de moleque em petig&o de miseria, com mais gallos na cabega do que uma capoeira. Mas o velho nao se continha e foi necessario “que o medico, para evitar um crime alli, nas barbas da autoridade, se decidisse a affrontar a colera do desvairado. E fé-lo com sobranceira coragem, pondo-se-lhe na frente e intimando-o em severo tom: _ — Alexandre, Tei da Macedonia, é assim que queres impor 9 teu prestigio aos povos? Olha em volta de ti. Que vés? Todo o teu reino conflagrado, os teus cortezios re- * : o MYSTERIO lentro, morta, ¢ os imimigos 1a indo a tua cabega, que foi ; P andar 4 roda, amanha ott depois, cor vet Se Isso é sério, Alexandre? agers a e, cabisbaixo, como se lhe houve i ‘uma _ valente no toutigo, murmurou: ‘Dens raza0..- razio... Eu nao devo exceder jie rein corre perigo. E por- se a esmurrar a cabe ‘ Calma, Alexandre! Calma... Olha o da a O-outro que 1a esta em Haya, numa casa de ente 4'porta a exigir que saia, se é ho- exandre. Calma... Entao, a rainha?.. fico com uma interrogagao no olhar. A er patavina daquella scena, cha- untou-lhe, em segredo: é pandega? a. DOIDO VARRIDO 37 Sei la! Eu, senao fosse o prestigio do catgo punha-me-ao Fresco, € 0 que digo a v. s. Veja o dr. a abragar o velho, veja! O velho que o chamou de assassino, que berrou que o ptendessem, que fez os horrores que testemunhamos. La esta, veja! La esta o dr. a abraca-lo. Entiio que é isto? E’ ou nao coisa do diabo? " ‘ Effectivamente, o dr. levava o velho para uma das ja- nellas €, passando-lhe um dos bracos pelos hombros, fala- va-lhe em tom amigo. E o velho manso, décil, de cabeca baixa, ouvia-o, suspirando de vez em vez, com arrependi- mento do que fizera. Entao, decidido a decifrar o myste- rio, 0 delegado caminhou resoluto ¢ falou, nado mais como igo, mas como autoridade: — Senhor dr. Cardoso, desculpe-me, mas isto nao pdde continuar. Este velho entrou aqui denunciando um crime e accusou-o de ser o assassino ¢ o senhor tra-lo para a ja- nella e pée-se a conversar com elle, a induzi-lo, talvez, a ee oe bradou o medico, batendo com 0 pé no soa- «Th do do recinto da Justica. Pois tu me julgas capaz attentar contra a vida,de um homem, apesar de ser me- dico, sendo esse homem, de mais a mais, meu tio?! = Nao sei. Aqui ha mysterio e eu nao admitto mys- térios perante a Lei. © velho deu um passo & frente, levantou a cabega e, es- palmando a mao no peito, affirmou, solemne: — Sim, ha um mysterio, ha! Mas eu vou por em campo as minhas forcas para desvenda-lo. Eu commando phalan- ges, entende o senhor? Phalanges! — Mas, quem é vocé, afinal? — Quem sou? ‘Olhou o delegado, como apiedado da sua ignorancia, e, atirando © brago num gesto com que indicou o medico disse, superiormente : : — Pergunte ao meu ministro.,. TonuMeIou estas palavra, vi A PONTA DO FIO... Lobato lembrou-se de consultar o relogio, ¢ na physio~ nomia se lhe estampou a contrariedade, pelo adiantado da hora: Diabos! faziam-lhe perder a sahida do Palace-Thea- tre... ; A esse pensamrento, ehtretanto, resolugdes decididas se- guiram-se: — Xavier! — Doutor delegado... — Mande duas pracas & casa do banqueiro Sanches Lobo, que tomem a porta, e nfo deixem ninguem entrar antes da Justiga... Ndés nada podemos fazer sem 0 medi- co-legista, para o que os autores chamam a levée du ca- davre: 6 0 que o nosso regulamento chamou, sem proprie- dade, inspeccio juridica, Que é que os taes medicos sabem de jurisprudencia ? Presumpgio!... Ordens terminantes, ninguem entra, nem se toca no morto, antes da Justiga. — E este maluco, e toda esta gente? perguntou o com- missario, num gesto circular... Era de facto uma complicagio tudo aquillo, mas o Lo- bato queria ganhar tempo: nao alcangaria mais aberto o Palace Theatre, porém, tinha o seu plano. Hd . 49 O MYSTERIO — Faca recolher o maluco ao xadrez ; examina-se nha, Qs outros, se mo tiverem importancia os q resolva... : — Ba mulher, que esidé em cima de minha mesa? — BP exacto... © esta?!... Que havemos de fazer deste estafermio? Que é do Cardoso? — Esta 8 ds volias com ella... ama. €lictos, Neste momento Cardoso levantava o reposteiro, excla- mando: = O diabo tem fanicos prolongados... Tive de puxar- The a lingua, semi parar, ¢ dei-Ihe duas injeccdes de ether... AY segunda, berrou... Esta acordada! No olhar do delegado passou um clarfo de alegria: — Nio the digo sempre, senhor Xavier, que calma. ¢ ma, e mais calma... Tudo se arranja e se resolve hoje hei de ir & minha diligencia. .. ___ E para despachar 0 Cardoso, foi-Ihe batendo no hombro _ amigavelmente, como a despedil-o : — Pois € isto, meu velho, muito obrigado pelos teus S servicos, esta Assistencia nao falha... faniquito é alli, em dois tempos. Muito obrigado! Péde vocé ir descan- sar, para outra, _ : © caso do meu tio? E’ mesmo verdade que o ma- al- . Ainda > Parece.... € até é accusado de assassino... Pelo Menos has de ser ouvido, — Direi que era bia bisca... emfim, cala-te boca, pdde ue tenha émendado a mio, e deixado alguma coisa 0 Sob _ : que nao queria nem vér,. . Se nao, é 0 diabo, enterro, lucto, missa pezames!... Or de ' y sn a que me succed cada uma! : Ode do, porém, ti €0atb a tscadae rem, tinha Pressa e foi conduzindo o ami- Tandamente obrigando-o a ir se embora: ha dado as ordens, nio sem a gtitaria e os A PONTA DO FIO... 4 improperios, que lhe eram habituaes, quando o delegado sorridente, tornara 20 seu gabinete. — Senhor doutor, nao quer interrogar a mulher?... — Ha tempo, Xavier, amanhi! — Olhe que pode haver alguma providencia a dar... Amanha os jornaes nos caem no pello. .. —_ ‘Tens razio... La se me vae a diligencia.... Chama a rapariga. 0 commissario executou a ordem e, com delicadeza que nao Ihe era habitual, veiu apoiando a moga portugueza, ainda fraca e cambaleante, para o que lhe segurava com uma mao num brago, a outra na cintura, a ampara-la. Pa- rece que lhe dizia, meigamente: — Escapaste de boa... Tambem Lobato teve boa impressao, vendo-a. Mandou-a approximar-se, commodamente sentada numa cadeira de bragos. Paternalmente, perguntou-lhe : — Entao, como te achas? — Louvado o Bom Jesus, sinto-me bem, meu senhor... _— Tens alguma declaracio a fazer, sobre o crime?... ‘Como se recordando agora das peripecias que esquece- ra, a rapatiga poz-se de novo a chorar, com ruido e ex- clamagées : — Verdade, meu senhor, mataram-n’o, mataram-me 0 patrao... Ai que o vi, o meu rico patrao, enforcado! Vendo-lhe o desespero, receiou 0 Xavier nova commo- gf0 e ao dr. Lobato achou bom prevenir : — Senhor doutor... é das taes, nao lhe bulas, que é eior... “ O delegado nao attendeu, dirigindo-se 4 rapariga. — J& sabemos... Tudo contards no teu depoimento, amanha. O que desejo saber € se viste alguem, suspeitas de alguma pessoa, para que se procedam as diligencias urgentes. — Nao vi nada, meu senhor,.. Sahi com o primo, a

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