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Introducgao! ‘CARMEN GOMEZ-GRANELL & IGNACIO VILA passagem da sociedade industrial para a sociedade da informagao representa uma mudanga de paradigma com conseqiiéncias inimagindveis. O desenvolvimento tecnolégico, especialmente o das ecnologias da informagdo, esta gerando mudangas extraordingrias no mundo fm que vivemos. Conceitos como globalizagao, trabalho a distancia, rede, ‘le, estiio cada dia mais presentes e representam desafios futuros para as sociedades tal como as conhecemos hoje. A progressiva substitui¢o dos {lores clissicos — mao-de-obra, energia, materiais, etc. — no ambito da produgiio mercantil pela informagio e pelo conhecimento envolve fend- inenos econdmicos, sociais e culturais recentes que precisam ser aborda- tlos com novas idéias e novos procedimentos. Diante dessa situagao, so muitas as vozes que reivindicam a impor- {incia da educagio para enfrentar tais desafios. Em todo o mundo, a edu (jlo hoje é uma prioridade nos programas de quase todos os partidos politi- (0s, Sejam eles de direita ou de esquerda. De fato, uma das fungdes princi- pais da escola sempre foi a de preparar as novas geragdes para as mudangas "Muitas idéias ¢ reflexdes que aparecem nesta introdugdo sto fruto do debate realiza~ lo pelo grupo encarregado de elaborar sintetizar os conteddos © as propostas do rojeto Educativo da cidade de Barcelona, do qual faziam parte: Ignacio Vila (coordena- dor), Carmen Gémez-Granell, Ramon Casares, Rosa M" Terradellas ¢ Josep M* Pascual. ‘A todos eles, assim como ao imenso grupo de pessoas que participou com suas opinives, seus documentos, seus trabalhos, no longo processo de elaboragio do projeto, gostaria- os de agradecer por sua dedicacio e pela riqueza de suas contribuigbes. 16 Gownz-Graner,Vira & cots. econdmicas ¢ garantir uma melhor insergiio no mundo profissional ¢ no mercado de trabalho. Mas o que devemos perguntar, urgentemente, 6 0 que significa hoje pedir mais educagao. Por um lado, as mudangas produzidas pela chamada sociedade da in- formagio e do conhecimento fazem com que tenhamos de rever o signiti- cado atual de tal conceito, pois em nenhum caso as formas de transmissio de criagdo do conhecim 2nto serao as mesmas de antes. Por outro, as mu- dangas ocorridas no fimb'+o econdmico, cientifico e tecnolégico nao pare cem trazer uma sociedade mais justa e solidéria; pelo contririo, introdu- zem novas formas de desigualdade e de injustiga que podem aumentar a pobreza, a marginalizagdo e a exclusiio. A “educagiio para todos durante toda a vida” pedida pela Unesco est muito longe de ser realidade em um mundo em que se calcula que 20% dos menores entre 6 ¢ 11 anos estio sem escolarizagio, ¢ a receita militar € muito mais alta do que a dedicada & educagio. Mesmo nos pafses com rendas altas, onde se deixam nas mios do mercado questées sociais essenciais, os desequilibrios sociais esto au- mentando. Em poucos anos apareceram fendmenos derivados da confron- taco ¢ da negacao da diferenga, em forma de guerra, xenofobia e violén- cia, demonstrando que existe uma importante crise ética e moral. Por tudo isso, € preciso que deixemos de pensar na educagio exclusivamente a par- tir de parimetros econdmicos e produtivos e promovamos uma concepgio da educagiio que cultive, sobretudo, os valores de uma cidadania democré- tica. E 0 tipo de educagio que a Unesco (1996) definiu como “aprender a ser”, isto é, a formagio de uma cidadania criativa, capaz de transformar a informagaio em conhecimentos que, a partir da diferenga, afirme o respeito © a valorizacdo do “préximo”, para, dessa forma, projetarem juntos um futuro comum de convivéncia ativa e participativa na vida democritica, como lugar privilegiado para consensuar objetivos que conciliem os legiti- mos interesses individuais com os coletivos. Durante anos, a escola e a familia foram as duas instituigdes encarre- gadas, quase que com exclusividade, da educagilo e da formagéio das novas geragGes. Mas hoje isso jd nao é possfvel; a familia esta passando por gran- des transformagées e, muitas vezes, delega sua funciio educativa tradici nal a outros agentes, como a televisdo ou a propria escola. Esta, por sua vez, nao pode enfrentar sozinha todos os desatios apresentados pela nova sociedade da informagao, A crise da escola se agrava, como também au- menta a sensagiio de desvalorizagio social e a solidio de professoras professores. O termo educagiio nio significa somente educagio escolar A Cinapn Como Proto Eouestivo 17 Hoje, a influéncia educativa 6 exercida a partir de varios Ambitos ~ familia, trabalho, associagées, etc, ~ e por meios diversos: televisdo, multimidia, tlc., que, as vezes, se opdem 2s propostas educativas escolares. Se quiser- mos que a escola continue cumprindo a importantfssima fung&o determina- ia pela sociedade de educar as novas geragdes e que se imponha uma pro- funda renovagiio da prépria escola, sera preciso que, por um lado, 0 con- junto do sistema educativo se envolva no tecido social da cidade e que 0 trabalho dos professores seja reconhecido; e por outro lado, é necessério que essa mesma sociedade assuma sua responsabilidade educativa, e que cada um dos agentes s.ja consciente de sua cota de responsabilidade. E, lém disso, € importante também, que a cidade entenda e assuma que a eclucacdo é um elemento estratégico imprescindivel para seu desenvolvi- mento harménico e democritico. A CIDADE, RISCOS E OPORTUNIDADES ‘A cidade tem sido historicamente um lugar de encontro e de civilizagao. Desde sea aparecimento, hi mais de 6 mil anos, a cidade tem estado estreita- mente vinculada ao conceito de cidadania e cultura. Na Antiguidade, a cidade (ra a polis, a civitas, o lugar supremo no qual acontecia a participacio, a vida coletiva, a civilizacao e a cultura, Conforme Fernando Savater (1995): Em JOnia, uns seis séculos antes do infcio de nossa era, surge algo que niio é somente um produto cultural, mas 0 esbogo da civilizagio. E bom distinguir entre civilizagio e culturas. As culturas sao locais, realizam as possibilida- des humanas de uma maneira mais ou menos completa, mas fechada, distin- guem entre eles e um nds coletivo, sto estruturadas a partir daquilo que é irrevogavel ¢ plenamente significativo das diferengas, estabelecem um c6- digo e distinguem entre aquele que pode assumi-lo - porque pertence por nascimento ou adogiio ~ e aquele que esté exclufdo. A cultura, em uma pala vra, € uma maneira de estabelecer limites e faz8-los frutificar. A civilizagio (corjugada no singular diante da pluralidade das culturas) nao territorializa, masdesterritorializa, nfo codifica, mas descodifica. Sua pretensio 6 universalizar, A civilizagiio € 0 esforgo de dar relevancia intelectual a tudo que nés seres hu- ‘manos temos em comum, isto é, dar prioridade para aquilo com que nos parece- ‘mos, apesar— e por meio ~ daquilo que nossas culturas mostram. Fi evidente que uma idéia de civilizagéo como esteja ndissociavelmente unida d de educagio, Sem uma agio educativa cons: ciente nao é possivel gerar o esforco auto-reflexivo que a cultura requer. Por isso, a idéia de cidade também foi historicamente associada a de paidéia. A cidade é, em si mesma, um agente educativo e assim foi entendida pelas diferentes civilizagdes. Um lugar onde as pessoas se retinem para conviver, para aprender, para participar da vida social e politica e para exercer seus direitos de cidadios E 6bvio que a cidade também é um lugar de crise e de conflitos; e tem sido assim a0 longo da hist6ria. Mas sem diivida é agora, na civilizagio atual, que conceito de cidade como espaco piblico passa por sua crise mais profunda, Segundo previsdes da OCDE (Organizagao de Cooperagaio e de Desenvolvimento Econdmico), durante o século XXI, trés quintos da populagéio mundial iver em cidades, 21 das quais sero megacidades com mais de 10 milhdes de habitantes, a maioria das quais - 17 — estaré em paises em vias de desenvolvimento. A exclusio social, a violencia, a frag- mentagio territorial, o desemprego, a poluigdo, a solidi e o individualis- mo esto, progressivamente, se apoderando da cidade, até 0 ponto de que, cada vez siio mais, as vozes autorizadas comegam a falar da “morte da cidade”. A crise da cidade est4 extremamente ligada & perda de sua fungo comunitaria, educativa ou civilizadora. O declive da civilizagao é uma con- seqtiéncia inevitével dessa crise. No entanto, alguns autores (Castells, 1998; Borja, 1991) reivindicam a importincia das cidades e das regides urbanas como auténticos territ6rios de convivéncia diante da homogeneizacio e da perda de identidade provocada pela globalizagtio, Na cidade coexistem di- nimicas ¢ forgas contraditérias ¢ diante das dindmicas desestruturadoras que acentuam a desigualdade e a marginalizagio existem oportunidades econdmicas, sociais ¢ culturais que podem fazer dela um lugar privilegiado para viver. Mas converter a cidade em um lugar simultaneamente de desenvol- vimento e convivéncia é um desafio. Como afirma Roberto Carneiro (1999): restituir urbanidade para a cidade é a condigio para a sua sobrevivéncia e da civilizagio que nela vive. A resolugdo do problema urbano é hoje uma espé- cie de medida do desenvolvimento humano. A refundagio da cidade, a consolidagio de uma nova cidadania com maiores graus de liberdade e de solidariedade é um problema politico da maior importancia; se na cidade em crise coexistem riscos ¢ oportunii des, no resta divida que é imprescindfvel uma aciio politica que impulsio- ne algumas dindmicas € minimize outras, que escolha alguns objetivos ¢ algumas atuagées ¢ desconsidere outros em fungiio de dete Jos valo. ina A do sera o conhee A Cinapt Como Proito Ebucarivo 19 tos, A crise da cidade é, de alguma forma, uma crise educativa, porque é lum crise do modelo de cidade como espago piblico. As cidades do futuro leveriio decidir 0 modelo de vida urbana que desejam para seus cidadiios ‘que passa necessariamente pela educagao. Educar os cidadiios é uma an- {iin aspiragiio baseada na convicgdo de que favorecer a formagao de cida ios conscientes de seus direitos e de suas responsabilidades € tanto uma @xigéncia da vida em sociedade como uma garantia para as liberdades ci dais. pe one A crise da sociedade atual, a crise da cidade, a crise das instituigdes e {crise dos valores democraticos que enfrentamos respondem ao surgimento de novas realidades que envolvem grandes desafios. ; Quais sto esses desafios, cheios de riscos, mas também de oportuni- uues? Que opgdes educativas a cidade deve escolher para transformar os, osstveis riscos em oportunidades? A SOCIEDADE DA INFORMAGAO _ EO FENOMENO DA GLOBALIZACAO A globalizagao foi, sem diivida, o fendmeno predominante do século XX. O termo “globalizacio” se baseia na idéia de que, gragas sobretudo as jiovas tecnologias da comunicago — os computadores, as comunicagdes por satélite, a Internet, ete, —temos um mundo “interconectado” os estados © as nagdes perdem importancia cada dia € mais importante a idéia de “rece”, Como diz Thomas L. Friedman em um recente artigo (1999): “hoje, Junto as ameagas como as oportunidades dependem cada vez mais de com {quem estamos conectados”, Esse sistema é representado com um s6 sim- Holo: “a rede mundial”. © mundo se toma “um” e, dependendo de como sa nova realidade ser abordada, fomentaremos a coestio social ou at yentaremos mais e mais a exclusio. : ‘A passagem de uma sociedade tradicional para uma nova sociedade paseada na informagio ¢ na comunicagio representa uma mudanga de paradigma que provocard transformagGes sociais tio importantes como as feprescntadas pelo aparecimento da imprensa. O aparecimento da Internet @ninfluéncia crescente dos meios de comunicagao audiovisual so as duas foalidades mais tangfveis desse novo paradigma, Nessa sociedade globulizada ¢ interconectada o bem mais consicl mento, mas tm outro tipo de conhecimento, um conheci: 20 Gonnz-Graner,ViLa & cots, mento que, diferente de épocas anteriores, no consistiré tanto no acimulo ena memorizagao dos contetidos, mas na capacidade de selecionar a infor- macdo e transformé-la em conhecimento, As novas tecnologias oferecem tanta quantidade de informagao em tempo real que é absolutamente impos- sivel acumulé-la e processé-la, Entio, 0 que precisamos fazer 6 capacitar 4s pessoas para que saibam buscar, selecionar, classificar e organizar a in- formagio relevante e transformé-la em conhecimento. E provavel que em um futuro niio muito distante essas capacidades sejam imprescindiveis para viver satisfatoriamente e incorporar-se ao mundo do trabalho, Somente um titulo nfo bastard para obter um trabalho e manté-lo, ser4 preciso renovar e habilitar constantemente os conhecimentos necessérios para uma profis- sao. O importante sera formar pessoas para que possam aprender continua- mente. A formagiio das pessoas ao longo da vida seré cada vez mais uma necessidade, e, dessa forma, as iniciativas orientadas nesse sentido aumen- taro. E certo que uma parte dessa formagao esti voltada para a obtencio de titulos ¢ para o desenvolvimento de capacidades para conservar um lu- gar de trabalho ou para se incorporar a ele; entretanto, além disso, essa formagao dard cada vez mais importincia para a capacitacio intelectual da cidadania em quest6es humanisticas, sociais, cientificas ou artisticas, in- centivando a “atitude de aprender” e de entender que o conhecimento é um valor necessdrio ¢ mutante. Diante dessa nova situago, a escola também deverd transformar-se. Os professores terdo de mudar seus métodos, deverio ensinar usando a Internet como grande aliada, nao contra ou & margem da tecnologia. Ao Contrario de muitas pessoas que anunciam seu desaparecimento, nds acro- ditamos que o papel do professor seré mais necessiio do que nunca, por- que ele tera de ensinar os critérios e os valores para aprender e para cons. ttuir 0 conhecimento. As salas de aula da sociedade di a0 exterior, a “rede” serd o lugar de encontro entre a sociedade, a cidade e a escola. Na escola da sociedade digital nao existiré uma relagio de hierar- quia entre aquele que ensina e aquele que aprende, ja que todos ensinare- mos e aprenderemos ao mesmo tempo. Os meios de comunicagao audiovisual, sobretudo a televistio, demons. traram uma capacidade esmagadora pata criar conceitos e moldar a op nido piblica. A busca de audiéncias elevadas levou muitos desses meios a reduzir a imagem que proporcionam da vida social e cidai espetiiculo rentavel. Esta capacidade gerou preven dade que isso supse, devido ao car A categoria de (0, pela ameaga d liber er cada vez mais monopolista da ges = A Cipapn Coo Promo Epuestivo 2 {io da informagio politica © das referéneias altura gue canalizam, © tyeicente papel desses meios na delimitago do que ¢socialmente impor. une também thes outorga ua fungi decisiva na configura da cid ‘como ponto de encontro e de conflito, de debate e de construc: D No entanto, medida que surgem novas geragbes, mais sie ia fon a cultura da imagem € com uma sensibiidade maior em relago & Inistificagfio de determinadas informagoes, € Possve pensar em umaceta fyoluglo, no sentido de assumir mais responsabilidades edueacionais, nio 40 como provedora de materaiselaborados para o consumo infantil 4 pr .educago regular, mes como referents culturais para toda a popu fill, Bi preciso, entio, favorecer as iniciativas que procuram aieleces Hones entre os profissionais da informagio e es do ensino e agrupar a jreocupaeses comuns. Também é neeessirio acabar com os preconceitos se uitos docentes que se recusam a accitar 0 fato de que os grandes meios le comunicagao sio um elemento socializador de grande forga, que das, sor integtados aos contetidos da educagio formal, como, de fato, jé é reco: nendado. 7 naa : 4 fi preciso aprender a conviver com os meios de comunicagio, sobretu io referentes culturais e, portanto, a, de com os baseados na imagem, pois s P Inet o cireito de julgar, de intenpretar por si mesmo o de formar os prs pros pontos de visia € uma exigencia dos processoseducacionas que ni pode tomar-se efetiva se os meios audiovisuas nfo forem consierados Tiles devem ser integrados na escola, nfo s6 como meros eleme as reciais. : Bu sn cocedade fa pre de um mundo submetdo a una nada Lostante da gestdo da informagio e do desenvolvimento do conhecinien 19,0 que se conhece como “sociedad do conhecimento” pretende expres ja orescenteincidénciadessas mudanges na organizagio social ea via ts pessoas. A educagto deve quaificar os eidadios e as cca para que vivann nesse mundo, eve combaer o analfabetismo cientfico ¢ promove dnleresse pelas novas orientagdescientficas, plas itimas linhas de ap cago teenolégi pels recentes mugangas acontecidas no campo coco» hecimento social. A cidade deve consis o ito de con a0, : ce conhecimento para toda a cidadania eens cenologitstornarlo possvel 0 acesso a essa nova sc de do conhecimento, Mas, como alertam alguns autores 22 Gontiz-Graner,Viin & cors, Soas € muitos os povos que podem ficar excluidos se as politicas rias nao forem articuladas. A EXCLUSAO SOCIAL: OS NOVOS POBRES O fenédmeno da globalizagio se baseia, fundamentalmente, na idéia de um mercado global, de uma economia mundial. Hoje, por exemplo, é pos- sivel transferir quantidades fabulosas de dinheiro em questao de. pl de um pais para outro; ¢ muitas empresas e multinacionais mudaram suas fabricas para pafses do Terceiro Mundo, nos quais os saldrios siio mais baixos e as legislagdes de protegiio do meio ambiente nio existem, Para alguns autores, como Marta Haernecker (2000), 0 que realmente esti sen- do globalizado 6 “o modo capitalista de exploracio”, pois essa nova forma de economia mundial esté provocando uma grande acumulagiio de capital has mis de uns poucos ~ grandes bancos e multinacionais que controlam o mercado mundial — 0 aumento da desigualdade em nivel mundial. Em seu livro La trampa de la globalizacién (1998), 0s jornalistas Hans- Peter Martin ¢ Harald Schumann explicam que, nesse momento, 358 mi- lionérios so, em conjunto, tio ricos quanto 2,5 bilhbes de pessoas, isto € quase a metade da populagéo mundial, ou que a quinta parte rica de todos s paises decide sobre 84% do PIB mundial, realiza 84% do comércio mui ‘ dial e possui 85% de todas as poupangas. : Assim, uma das consequéncias mais grave desse processo de globalizagao é a acumulagio de riqueza em poucas mios. A globalizacao do mercado © a auséncia de regularizagaio fazem com que os eades Ba gree anes akinaclonas acumulem enormes capitais, enquanto a ‘Segundo © Relatério das Nagdes Unidas sobre Desenvolvimento Hu- mano, 1,3 bilhes de pessoas (a quinta parte da humanidade) vivem com menos de um délar por dia. Em um recente artigo publicado no Le Monde Diplomatic*, Ignacio Ramonet dizia que em 1960, antes do processo de globaliza vezes mais (0, 0S 20% mais afortunados da populagdo do planeta eram 30 sricos que os 20% mais pobres. Em 1977, no auge da globalizagéo, 8 mais afortunados eram 74 vezes mais ricos que os mais pobres do mun. do, B essa distancia continuou aumentando, tHe *N.R-T, Jornal Franeds, porta-vor dete te critica ao modelo neoliberal, Pe ete A Cipapi Como Proto Epucarwo 23 O mundo esta se dividindo, cada vez mais, entre paises ricos ¢ paises Pobres, mas dentro dos paises denominados “ricos” também esti aparecendo {una crescente dualizagio ¢ um empobrecimento progressivo da classe média. hemos, por exemplo, que os Estados Unidos é um pais rico, muito mais Jieo que muitos pafses europeus, por exemplo, a renda per capita anual nos Vistudos Unidos em 1995 era de 26.000 dlares, o dobro da Espanha. Mas esse {ioscimento é igual para todos? Em um estudo recente realizado nesse pat jorle-americano pelo Instituto de Politica Econdmica ¢ o Centro de Priorida- dos Orgamentétias, as familias norte-americanas sao divididas em cinco gru- Jovem funcaio de sua renda, Entre 0 ano de 1980 ¢ 1990, o grupo mais abasta- do aumento sua renda em 2.929.040 pesetas*, enquanto que a renda média ‘lox grupos correspondentes & classe média aumentou somente em 127.920 Jieselas, ¢.@ renda média do grupo mais pobre aumentou 18.040 pesetas. Toda- Vii, 0 dado mais significativo € 0 seguinte: a renda média de 5% das familias {uals ricas aumentou em 13.900.640 pesetas entre 1970 € 1990. Nos anos 80, 0% das familias mais ricas tinham uma renda maior que 20% das familias uals pobres, mas nos anos 90 essa divistio aumentou em 10,6 vezes. Isso se explica por que os salrios dos trabalhadores nio-qualificados nio {iveram um aumento em termos reais durante o Ultimo perfodo, enquanto que {0 rendimentos de empresérios, diretores, investidores, profissionais e traba- uclores qualificados dispararam durante o mandato do presidente Clinton, A. globulizagio, a decadéncia das indiistrias tradicionais, a fragilidade dos sinci- (alos, a imigragao e a generalizacZo do trabalho precéio ¢ mal pago explica, segundo esses estudos, esse enorme aumento das diferengas entre ricos e po- iyo nos Estados Unidos. Por outro lado, é interessante perceber que quase a Jerya parte (30%) de cidadios hispano-americanos e negros sfio pobres eque a uunile maioria desse 19 que forma o grupo mais rico so brancos naio-latinos. i evidente que a educaco nao € o fator mais importante para reme- iar tuagdo que ameaca se estender para a maioria dos paises capita- Jistas, mas todos sabemos que, desde sempre, a luta contra as desigualda os cle origem social ¢ econémica tem sido um dos objetivos fundamentais iin educagao. Sera que a extensio e a generalizagio da escolaridade obri {dria niio tem como objetivo irrenunciével garantir a igualdade de oportu.- ihdadles e compensaras desigualdades sociais de origem? Lamentavelmente, {1 sociologia da educagiio (Baudelot e Establet, 1980) encarregou-se de ANT Mocda secular espanhota que antevedou 0 euro, adotado como moeda tinica da Comunida 1 2000 24 Gon IRANEL, VILA & COLS, mostrar que a es tmostar que a escola, longe de conseguir seu objetivo, transformou-se em elemento de reproduio ¢ consolidago de tis desigualdades, legiiman do-as mediante 0 chamado fracasso escolar, O fato de pertencer um 1m uma posigao social elevade a s ada, © 0s interes capital cultural que isso supa papicama ea. supde, continua sendo um fator i ‘ ; ‘or importante no éxi- escolar eno aesso a cet prétes culturas e a0 abel Je shave ducal Como dissemos, nfo pode deixar de ser um elemen have na luta contra a exclusao social, mas para i a ciar um grande pacto socal que fomente a conse Embora seja dbvio que & preciso reivinlcar ae BGM Bbatacdo aaacclee ; ‘oda populagéo naquees pases que ainda nfo a implantram, também & Sbvio que a escola socialmenteisolads © sinha munca poderd ser u mento que garanta a igualdade de oportunidades rele ize amen um pojto de cigadaia, um pact socal que se responsbi 2 (Oe pela formagaio do c i ; lie pone conjunto da sociedade poderd con- ‘A luta contra a exclusd clusio e a marginalizaga i Mt ico € uma prioridade funda- mental un dmensto esse do concito de novacidaania que aad Bropondo,¢ sso soment ser coneguido mediante a formagio ea a Sie, entendidas como processo de socializagio: democratizagi dos cin cuits de informapto, formagio ao longo de tol a vida pra todos, aoesso universal compreensto de fendmenos complexose as novas tecnologia focal nto das redes comunitérias de solidariedade, capacidade par Gens ientdades complens ¢nioencluentes, eo, Essessio gts 10S para a construgo de um adani ; tos para a con at nova cidadania social ca tornar realidade a “capacidade de viver juntos” rane 0 sera necessirio propi- cia social dos cidadios, scolarizagio basica para UMA SOCIEDADE MULTICULTURAL ENAO-HOMOGENEA Desde o s a i ws eect oe até 0s nossos dias, 0 processo de modemizagzo de to da urbanizapto e dos processos de cultraliento), Fees oo to/da ube Cl ps de culturalizagao). Esse proces i omogencizador dos costumes, das atitudes e dos valores caminhou ia oo ieee netiesante da igualdade dos direitos da cidadania e da ex- fensto de Politica destinadas a evita o cestimento das desigaldades e a bromover a coesio social. Além das diversas tadigdes quanto ao trata fengas sociais (de género, étnicas, lingifsticas ou religiosas), essa ‘A Cinapt Como Pronto EbucAtIvo \ io foi considerada um valor positivo nas sociedad {ue tanto as atuagBes politicas quanto as dindmicas socials e a educagio ti {ihm de favorecer. No entanto, nas iiltimas décadas, ndio s6 a heterogeneidade de algumas soviedades ocidentais aumentou como se tornou mais visivel, sobretudo quando foi associada & desigualdade, & pobreza e & exclustio. A Hiomogeneizagio cultural, religiosa ou nacional e os aspectos politicos re Jucionados, antes percebidos como positives, apareceram como fendme- ios conflitivos. Assim, a capacidade de criagdo de fortes identidades co. nuns proprias de nossa sociedade se transformou em motivo de conflito e de Jyociagao, de reconsideragio permanente de compromissos ¢ equilfbrios. 0 crescimento dos desequilfbrios entre o Norte e 0 Sul deu especial jeleviincia a essa evolucdo. As sociedades ocidentais logo serao receptoras ile um importante contingente de pessoas que terio de emigrar de suas Nociedades de origem em busca de um futuro melhor. Embora nilo seja fossfvel saber se essa imigragio terd as proporgdes demogréficas das ante ores, nesse caso, o choque cultural e lingtifstico seré superior e introduziri iilveis de heterogeneidade até agora desconhecidos para a nossa sociedade. “Tudo aponta, entio, para 0 fato de que no futuro conviverdio nas cic los prupos e pessoas com identidades inevitavelmente dinfimicas, mas re Jativamente mais heterogéneas. Dito de outra maneira, certas formas de iversidade e de diferenga adquirirao uma maior relevancia, ea reivindica jlo de viver satisfatoriamente a partir da diferenga serd mais legitim Nesse contexto, a homogeneidade no pode continuar sendo con jada como um processo estritamente positivo. Apesar disso, também niio parece realista acreditar que as pessoas ¢ os grupos sociais possuem mar tos de referéncia fixos, identidades culturais tinicas, entendidas como algo hhist6rico, impermesvel ¢ harménico. Na realidade, 0 aumento da diversi (ule dos marcos referenciais em nossa sociedade implica que, diante de uma “identidade simples”, ou de uma s6 dimensdo identificadora das pes: sas, se abra caminho para a percepgdo de uma “identidade maltipla ow modular” para a diversidade o entrecruzamento de diversas dimensoes dentificadoras. Cada vez mais nos reconhecemos ¢ nos diferenciamos incdiante dimensdes tio variadas como o sexo, a lingua, a idade, o territ6 fio ow a filiagdo politica. Da mesma forma, cada grupo também adota for nas miltiplas, de modo que os esteredtipos e os preconceitos, com os «uais costumamos enclausurar-nos, dificultam a compreensio € se transformam {ivos para 08 pardmetros de convivenc de. 26 Gowmz-Granet,ViLa & cous. owe ntizmente,o aumento relative da heterogeneidade muita vezes en meno caracteristico das diltimas déc; aoe as décadas: 0 fato di pobreza adote a forma da exclust izagio social, Nessa , io ou da marginalizagio social pobreza : io social, Nessa ‘uae conforme indica certs tends - existe 0 pergo de que io se identifique, fundamentalme ia ; , nte, com a legitio de pess i ‘7 ‘ m y giao de pessoas iarpnlizadsesocalmentexclfdas ede que adeesa da homogensidade a es mais monstruosas, em forma d aleace ex : , em forma de xenofobia e racismo. Ac est aimportineia de manteraberis ede reforgar todas as pons qe transito rumo a integragao social e A social e a igualdade de di 0 ; reitos, Sntre os quais se encontra odieito de prosperar. A educacio € uma dessas ontes, na medida em que fomenta agua de opotunidadese anger gfonomereaode bao Assim, § preciso que aja uma oferta educatva ampla, mum para toda a cidadania, sufi ampli, : adania, suficientemente clés. tien para tender as grandes diferengasexisentes quanto ao aees0 a0 co nto e suficientemente integrada para ni s para nao se transforma Sis nhs entemen em mais uma forma de maruinalizgao, Em outros termos, deve-se promover uma lar inserida no territério que acolh: i : ‘aa heterogencidad tente e que, ao mesmo te! Eaasequintigen , mpo, impega concentragdes ou desequili relagio a0 grau de heterogenci siledinctilcanenerse r gencidade social exi as regi slag ao rau de existente em suas regides ou ae ' ei deme Seto da molpliedade de identdadse, portant, da existéncia 3s de referencia individuais, compartilhados nalgums , compartilhados hoje com alguma demare : ompattilhado lgumas pes- sows aman com ours, deu especial levine aos valores postulados s valores devem permitir ds pessoas, alé “ ssoas, além de seus tra- i . 8805 V em per , stra Gos de identdade,estabeleerreciprociades soias que comportem sl mos éticos e que facilitem a construed Bib. fen a strugéo de um fut mum de convivéncia. E a edu i ae nt ‘ ‘agdio tem um papel-chave c ilo de uma identidade cidada c é ees d -omum somente é possfvel a pa hecimento das diferengas tasleninitenolidadon Gas €, ao mesmo tempo, da afin mecimento ‘tempo, da afirmagio de alguns res gras que devem impregnaro tecdo social ea agdes coletivas ati Cate deve promoret, por um fo, um conjunto de valores e de S que permitam & populagio, a partir da participagio critica e ativa °NRT.A vanguard em trmos de ds ays Bacon a ea emcjo ao tng do seo 3k ce pu spi dos aes mero cosmic ‘atalunha (estado espanol do os migrat6rios desde o sil da A Cipape Como Proto Epucativo 27 crlar um modelo de sociedade para o futuro ¢ uma maneira de viver juntos Por outro, deve fomentar mecanismos e instrumentos que tornem posstv oreconhecimento do outro, mecanismos que devem servir para comba {er preconceitos e esterestipos e, portanto, promover lagos solidirios "entre os cidadios que sirvam para a miitua cooperago na construgio da qoestio social. Aprender a conviver e, em conseqiléncia, a conciliar in- [oresses individuais e coletivos a partir do didlogo e da participagio sera fundamental em uma sociedade em que a heterogeneidade estar cada vez mais presente. ___Ensinar e aprender a conviver requer o desenvolvimento de progra- nas especiticos, em cujo eixo condutor deve estar a realizagio de praticas puiticipativas e de conhecimento dos outros. Certamente isso implica di- ¥yorsos aspectos. Um deles é o impulso de atuages no seio da cidade, pen- sidas para a infancia e a juventude. A questo no é somente que as crian- {isc 03 adolescentes opinem sobre a cidade, mas que também assumnam Tesponsabilidades como cidadiios em Ambitos que, de uma forma ou de julra, Ihes pertencem e que, como conseqtiéncia, tém de aprender a admi istrar e a melhorar, Outro aspecto € potencializar, com programas espe ficos, 0 encontro de pessoas ¢ grupos, de idades diferentes, de diversos Uipos de populagio, etc, A heterogeneidade existente na cidade € muito furande.e, por isso, um dos objetivos da educagio deve ser utilizé-1a a partir ilo uma perspectiva positiva para, através do conhecimento, eliminar este- {e6tipos e ao mesmo tempo reconhecer necessidades coletivas que costu mam estar muito distantes das individuais. Juntamente com esse tipo de atuagées deve-se promover também uma ‘cultura compartilhada, orientada para a solidariedade internacional, para a pivz c para 0 desenvolvimento. E positive que essa cultura se manifeste {quando as tragédias arrasam os paises mais pobres ou os grupos excluicos socialmente, mas, também, se requer um trabalho permanente em prol des. ses objetivos, para que cada vez mais exista uma relagdo mais estreita e de slaboragiio entre o mundo escolar, as associagdes de cooperagtio ¢ de aj ‘ii miitua, as organizagdes nfio-governamentais e a Administragiio. UMA CIDADE SUSTENTAVEL a sustentabilidade é um dos nos is 1 populagtio mundial, cuja maior parte vive em ci Educar pa importantes, Os 28 Gomnz-Grant, Vita & cons, dades de patses ricos, consome 80% dos recursos naturais. Em termos éti- C0, isso confere a essa parte da populacao e, de maneira concreta as cida- des, a principal responsabilidade na generalizagaio de um modelo de desen- volvimento sustentavel. Em varias conferéncias e f6runs internacionais observou-se que em pou- co menos de dois séculos a humanidade modificou radicalmente o meio am- biente, de forma que os sistemas que mantém a vida no planeta sofreram enor- mes presses, derivadas de um uso unidirecional dos recursos naturais, que Tepercutiu negativamente no meio natural, na perda da biodiversidade, no bu- Taco da camada de oz6nio, etc. Essa utilizagio traz com ela um modelo de desenvolvimento do meio urbano que o degrada permanentemente— poluigio, uniformizagaio da paisagem urbana, concentragfio da pobreza, segregagdo so. cial, etc. ~ e que provoca sérios problemas para a satide e para a qualidade de vida. Reconsiderar a cidade a partir da sustentabilidade significa impulsionar um modelo de desenvolvimento que satisfaga as atuais necessidades de todos 08 cidados, sem que por isso se comprometa a capacidade das geragées futu- ras para satisfazer as suas préprias necessidades. Educar, nesse sentido, envolve dois aspectos. Por um lado, tomar pos- sivel uma mudanga de mentalidade a partir de uma tomada de consciéncia cidada dos problemas que traz 0 modelo atual de desenvolvimento e, por outro, a aprendizagem de uma nova forma de utilizagaio dos recursos que esto ao aleance das pessoas. Do ponto de vista educativo, os dois aspectos estio relacionados. Dificilmente se poderd realizar uma mudanga de men- talidade se, paralelamente, nao se ensina —e se aprende — a utilizar os re- cursos existentes de forma diferente da atual. Ao mesmo tempo, a partir das administragdes competentes, deve ser produzida uma mudanga de ati- tude politica, de modo que suas atuagdes urbanfsticas, de moradia, de pla hejamento territorial, etc., aumentem a complexidade do tecido urbano, promovam sua heterogeneidade social e satisfagam as necessidades dos cidadios, sem que se aumente a pressio meio ambiental Os programas de meio ambiente, entendidos como programas educativos, devem ocupar um lugar importante na prética educativa. Mas niio se trata de deixar a educagao ambiental nas mios da escola, trata-se, sim, de impregnar o tecido social dessas intengdes educativas, de forma que se entenda que certos problemas atuais ~ tanto coletivos quanto indivi duais ~ siio derivados de uma mentalidade pouco critica para com as ima- gens publicitérias ¢ para com os modos de vida uniformes que pretensiosa- mente garantem uma qualidade de vida, 1 imprescindivel que, desde os A Cipapn Como Prosero Epveativo 29 poderes priblicos, se impulsione uma mudanga de atitudes na cidadania, ue somente pode vir de um esforgo redobrado na formagio ¢ na informa da participagio e da co-responsabilizagio cidada, AS TRANSFORMACOES DA FAMILIA 1) O PAPEL DA MULHER Jé dissemos no comego desta introdugdo que na sociedade tradicional ‘\responsabilidade pela edueagio e pela socializagao das novas geragbes evafa, fundamentalmente, sobre a familia e sobre a escola, As duas insti {uigGes recebem intimeras pressbes e demandas contraditorias em relagao 2 tuieagiio, e ambas compartilham uma situagdo de crise que torna necesst Ji) uma nova proposta se nao de sua fungiio, de sua maneira de exercé- Nos tiltimos tempos, a familia passou por importantes transformagées que joderiam ser resumidas na passagem de uma famflia patriarcal, que se ba seava na divistio de papéis entre homens e mulheres, em que os primeiros se encarregavam das tarefas produtivas, e, as segundas, das reprodutivas, fara uma familia democrética (Flaquer, 1999; Brullet, 1998). A famftia jialriarcal garantia a transmissio de certos valores tradicionais pela via da juiloridade. Na familia democrética, os papéis, os interesses e a relagiio entre homem e mulher estZio mudando, assim com a relagio com os filho: \\\ responsabilidades stio negociadas e discutidas, a mulher passa a fazer parte do mercado de trabalho; todavia, simultaneamente, aumenta a distan la entre pais e filhos; a grande familia desaparece, e a famflia se isola da ‘(omunidade; a televisiio ocupa um tempo excessivo na vida das criangas ¢ {ransmite valores duvidosos. Em uma palavra, cresce 0 desconcerto ¢ a Josorientagdo dos pais sobre como devem educar seus filhos, e muitos dos chamados problemas de fracasso escolar, de violencia, de drogadiciio, et pillio muito ligados a crescente desestruturago familiar. mbora a consecugdo de direitos to importantes como 0 do voto ou 0 dha igualdade perante a lei tenha representado um forte golpe para a ideolo: juin ligada ao patriarcado; a incorporagao paritéria das mulheres ao mere Jo de trabalho e & vida publica em geral est4 longe de ser conseguida, Em grande parte isso acontece porque o trabalho denominado de reprodutivo, centrado nas tarefas domésticas, continua principalmente em suas mios. 108 CentraFMOS Na distribuigio do tempo € no Uso qu wot as dificuldades que representa para a maioria dedivagho a familia com o trabalho remunera faze Sem diivida, se mos dele, podemo: das mulheres coneiliat 30) Gomnz-Grannt,Vita & coLs, do, Por outro lado, isso ocorre independentemente da q dos homens e das mulheres; apesar de ter a mesma qualificagio, os homens tm mais possibilidades profissionais que as mulheres. A co-educagio concebida como a pritica da igualdade na escola a nfio foi nem sera suficiente para educar os jovens ¢ as jovens nessa nova realidade se nao existir um referente externo claro, se niio houver um discurso que impregne a sociedade, que inspire as atuagdes realizadas no conjunto da cidade. Nesse sentido, seria necessério im- pulsionar todo um conjunto de atuagdes em diferentes niveis; deve-se mostrar a importancia social do trabalho néio-remunerado das mulheres ea necessidade e a possibilidade de que tal fungio seja responsabilida- de compartilhada de homens e mulheres. E preciso reconsiderar o papel la familia como um lugar decisivo, no qual meninos e meninas apren- dem os papéis, juntamente com os valores ¢ as atitudes atribuidas aos homens e as mulheres. E para isso é preciso reconsiderar 0 conjunto das atividades relacionadas com a organizagio dos hordrios nas cidades, sem uma reorganizagio séria dos hordrios e da distribuigio do tempo, de maneira que os homens ¢ as mulheres possam conciliar sua vida pro- fissional e pessoal, pois, sem isso, sera dificil para as familias recupe- rem 0 tempo e o espago para educar seus filhos. alificago educativa A ESCOLA PODE RESOLVER TUDO? A democratizacao da educagio traz. de maneira inevitével uma certa burocratizagdo e formalizacdo que mantém a instituigfio escolar cada vez mais distante da sociedade e dos interesses dos cidadtios, Os alunos vivem imersos em uma sociedade complexa, as vezes com familias desestruturadas, mergulhados em mensagens televisivas ou cinematogréficas carregadas de violéncia, com constantes mensagens de consumismo, individualismo e competitividade; ¢ tudo isso, que faz parte da sociedade, entra na escola sem que ela tenha suficiente capacidade para anular seus efeitos. E, 0 que & mais grave, com a demanda social latente de que os solucione. A escola deve se encarregar da educagiio para a paz, da no-violéncia, da preserva- ‘gio do meio ambiente, da educagio niio-sexista, contra o racismo, etc, Nao pretendemos dizer, de mancira alguma, que a escola deve renunciat ao en- sino de todos esses valores ¢ limitar-se 4 mera instrugio. Todavia, niio pode nem deve continuar fazendo isso sozinha, tentando ensinar valores A Cipapk Como Promto Epvearivo que estiio em franca ruptura e em desacordo com os “outros valores” que cada vez mais imperam na sociedade: individualismo, falta de solid: de, consumismo, violéncia, etc. 0 esforgo educativo nao pode ser feito unicamente a partir da es cola; a escola nao tem nem pode ter sozinha a responsabilidade pela educagio. Ela n&o pode responder, indiscriminadamente, a todas as de. mnandas que Ihe so feitas, nem tem de ocupar todos os momentos dia vida dos alunos. Ela nao pode ter todos os recursos humanos ¢ mate tinis para se adequar a todas as mudangas sociais e culturais. Devemos eabar com a hipocrisia de uma sociedade que diz que a educagio ¢ ui de seus objetivos prioritérios, mas que nao aposta o suficiente na quali dade do sistema educativo piblico ¢ que exige desse sistema que apre- foe valores nos quais ela mesma parece nao acreditar. A crise da escola lo pode ser resolvida a partir do interior da propria escola. Aspectos como revalorizagio social da prépria instituigéo escolar e dos professo tes, a transformagio de contetidos e métodos para adaptar-se aos novos cendrios da sociedade da informagdo, a capacidade de ser um espago teal de formagao democratica e de igualdade de oportunidades, ctc., nilo podem ser resolvidos sem um esforgo por parte da Administragio; om primeiro lugar, para dotar os centros escolares* dos meios © dos Iecursos necessérios para aumentar sua qualidade; em segundo lugar, para estimular a participagao de outros agentes educativos, em uma pa Javra, da comunidade, pois sem seu envolvimento seré muito dificil que escola possa corrigir seus desequilibrios. Apostar seriamente na educagio exige articular um sistema amplo dle participagao que permita a vinculago dos diferentes agentes educativos que atuam na comunidade ou no territério em um Projeto ‘ducativo de Cidade**, N R\T, Mantém-se a expressio “centros escolares" pelo significado politico e pedagdgico de espa {0 agtegador no tecido urbano que ver sendo contruide para além da designagio “escola”, sobre Ido na tegito de Barcelona **N.RT O Projeto Educativo da Cidade de Barcelona foi sistematizado c apresentulo A poplin £m 1999, sob a coordenagio da prefeitura e com a colaboracio de intimeras entidales,associage ‘organizagies, sindicatos, universidades, etc, podendo-se destacar a Fedleragio das Associa de Moradores de Barcelona, a Federagio dos Movimentos de Renovasio Pesagdgiea da Catalunh Federagiio das Associagdes dle Pais © Alunos, a Camara de Comércio, Inistrin € Navegagioy a Unitlo Geral dos Trabathadores, Dovesse obseivar 0 sentido de unna “esfera publica ampli lomo de novos consenios educativos exercitada na elaboragio deste projet, 82 Gownz-Grant,Vita & cots, A Cipape Como Pronto Eucwnvo 8 DA PEDAGOGIA DA CIDADE PARA A CIDADE COMO PEDAGOGIA: OS PROJETOS EDUCATIVOS DE CIDADE Durante muitos anos a idéia de cidade educadora teve um certo suces- so entre os educadores que a incorporaram, entretanto, é preciso dizer, ela teve mais éxito como uma filosofia ou uma concepgio atraente do que como elemento-chave de suas atividades e de seus programas. Na maioria das vezes a idéia de cidade educadora ficou reduzida & consideragio da cidade como um recurso educativo: passeios, visitas a museus, ou a equi- pamentos de diferentes tipos, atividades diversas envolvendo os cidadios, etc, A idéia que defendemos neste livro e que ja esté sendo aplicada na cidade de Barcelona e em outras em seu ambiente metropolitano bascia-se no fato de que 6 necessério passar definitivamente de uma concepeao fun- camentada na “pedagogia da cidade” a outra baseada na “cidade como pe- dagogia’’, em que cada agente — empresas, museus, meios de comunicagio, familias, associag6es, urbanistas e planejadores — assume sua responsabili- dade educativa no contexto de um projeto conjunto. Um Projeto Educativo de Cidade 6, a partir do nosso ponto de vista, um plano estratégico capaz, portanto, de definir linhas estratégicas e atua- Ges concretas para o futuro a curto e médio prazos de maneira participativa e consensual. Sua realizagao requer, ent, certas condicoes, Capacidade de inovaciio e reflexio Todo projeto educativo deve partir de um bom diagnéstico da realid: de social e educativa da cidade ou do territ6rio, em que sejam definidas as conquistas e as deficiéncias, as principais tendéncias vislumbradas, 0s ris- 605 ¢ as possiveis oportunidades. Isso permitiré propor uma série de “op- ‘ges” que, logicamente, estario regidas por um conjunto de valores —niio é ‘o mesmo optar por uma sociedade integradora, heterogénea e ndio-excludente das minorias do que por uma sociedade homogénea que defende uma tinica forma de identidade — e que, posteriormente, possibilitardo definir as | nnhas estratégicas e as atuagdes que deveriio ser levadas a cabo para alcan- {gar 08 objetivos fixados, Isso envolve um verdadeiro proceso de reflextio ¢ de anélise capaz de clucidar quais sto os desafios que cada sociedade e que cada cidade enfrenta, além de uma grande vontade de inovagaio, de equilibrio entre utopia ¢ realismo Hho momento de propor e realiza e YVelhas formulas conservando aquilo que de mais valioso a cidade jé co \s atuagSes; uma vontade firme de niio repet seguil Participaciio cidada E evidente que qualquer iniciativa destinada a promover um Projeto Fiducativo de Cidade deve contar com o impulso inicial da administragio local. Nao obstante, um projeto dessa natureza deve se transformar, sobre tudo, em um projeto coletivo de toda a cidade. Sem a co-responsabilidade cidada, sem o envolvimento da comunidade, dos diversos agentes cxueativos, sociais e culturais que atuam no territério, sem a participacio de entidades, associagGes, sindicatos, empresirios, universidades, etc., 6 impossfvel dar forma ao projeto e muito menos colocé-lo em pritica. Con- ribuir para mobilizar a capacidade social de reflexdo, criar sinergias e ten: déncias coesivas no ambito cidadiio em torno das probleméticas educativas envolvendo diferentes pessoas e grupos, desde o inicio do proceso, deve ser um objetivo prioritario de qualquer projeto educativo. Consenso ¢ agio Por outro lado, imprescindivel que, além de participar do processo de elaboragio das propostas, as principais entidades e instituigdes da cida dle as negociem e aceitem o compromisso de levé-las & prética. Um Projeto Educativo de Cidade nao pode ser unicamente um processo participativo ¢ reflexivo, Deve ter um componente essencial de compromisso com a agiio, B isso significa que as propostas de atuagiio devem ser consensuadas, selecionadas e priorizadas temporalmente, assim como economicamente avaliadas. Nao hd nada que desencoraje mais a participago dos ci do que ndo ver realizadas, se ndo todas, ao menos algumas das propostas feitas. A ESTRUTURA DO LIVRO E OS AUTORES Embora ao longo da introdugio tenhamos abordado a filosofia geral que 0 inspira, gostariamos de fazer algumas consideragbes finais. sobr 1 do livro © 8 autores que escreveram os diferentes capitulos, estrutu 84 Gonna-Grant,Vita & cous, O livro, que consta de dois volumes, dos quais agora apresentamos 0 primeito, pretende iniciar uma nova reflexio sobre a educagaio: como fazer da educagdo um elemento estratégico para o progresso e para a coesdo social nas cidades, Sabemos que em educagio é muito diffcil dizer e, so- bretudo, fazer coisas novas. Hé quem diga que sabemos quase tudo sobre a “educagio” e que a nica coisa que falta é a yontade politica de levar as idéias para a prética, No entanto, este livro parte de outra perspectiva: pela mio da sociedade do conhecimento ¢ da informagio que estam {rando em um novo paradigma, e isto exige uma revisto radical do concei- to de educagio, do papel da escola e da familia e, principalmente, da in- fluéncia educativa de outros agentes e contextos que atuam no émbito da cida- de, Sem a intengiio de ser exaustivo, este livro se propée a abrir uma via de reflexo no tema da educagio a partir de uma perspectiva bem diferente da habitual. Procuramos mostrar que a escola, instituigao tradicionalmente encar- regada da transmissfio do saber, no poderd sair da crise em que esté imersa se a cidade e a comunidade também ndio assumirem sua responsabilidade educativa. Enecessario que a partir de outros mbitos, como o urbanismo, as associagées, acultura, a ecologia, a antropologia, a economia ou a politica, se reflita sobre 0 sentido da educagdo e sejam feitas propostas para a educagao dos cidadios. Muitos dos autores ¢ das autoras deste livro nao so especialistas em educagio, constituem um universo plural de profissionais ¢ especialistas em diferentes areas do conhecimento, e, dessa forma, tentaremos compreen- der a comunicagao, a pesquisa ou a politica para quem pedimos uma refle- xiio sobre os desafios apresentados hoje em sua especialidade como, a par- tir desses Ambitos, se deveria exercer a influéncia e a responsabilidade educativa na cidade. Assim, sio trabalhos nos quais se faz um esforgo de reflexdio para abrir novas perspectivas, porque embora seus autores ve~ nham de outras disciplinas, todos mostraram em sua atividade profissional interesse pelos temas educativos. Esse 6 0 caso dos trabalhos incluidos neste primeiro volume sobre interculturalidade, cidade sustentavel, o papel da comunidade ou as mudangas teenolégicas e cientificas na sociedade da in- formagiio. Outros autores, como é o caso do professor Eduardo Marti, autor neste volume do capitulo “A escola diante do desafio tecnolégico”, tém uma grande experiéncia na érea educativa, Pedimos a eles que abordassem a pro- blemditica a partir da perspectiva das mudangas e das transformagées que a scola deverd abordar para se adaptar & nova situagzo. Por outro lado, este livro também é um convite A ago. Um convite que essa nova perspectiva da “cidade como pedagogia” se traduza na $ en- pa A Cipabe Como Prosro Ebucanivo 85 lab ragiio de Projetos Educativos de Cidade que permitam as cidades de. sempenhar um papel preponderante na sociedade da globalizagio como garantidora dos direitos e das liberdades das pessoas ¢ da igualdade cle oportunidades. Por isso, 0 primeiro capitulo deste volume se dedica a ex plicar como todas essas reflexes tentaram ser colocadas em pritica na cidade de Barcelona com a elaboragiio de um Projeto Educativo de Cidade, em que participaram intimeras pessoas e instituigdes da cidade para propor ¢ consensuar um amplo conjunto de linhas estratégicas e propostas de aluacio. Confiamos que tanto os trabalhos recolhidos neste primeiro volume quanto os que aparecero no segundo, abordardio tematicas como os meios de comunicagao, a cultura ou a familia, assim como experiéneias coneretas que exemplifiquem a colocagao em pratica de projetos educativos ¢ contr buam para fazer da educago um elemento-chave para o desenvolvimento do conhecimento e da convivéncia, Referén 8 bibliogrétieas AA.VY. (1999) Por una ciudad comprometida con ta educacién, Barcelona, Instituto de Faucacién, Ayuntamiento de Barcelona, vols. 1 e 2. AA.WV. (1999) Proyecto Eiducativo de Ciudad: La educacién, clave para elconocimiento la convivencia. 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