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A perspetiva indutivista sobre o método científico

Como conhecemos o mundo? Como chegamos às leis e às teorias científicas?

 A ciência começa com a observação cuidadosa e com o registo sistemático dos resultados
da observação:

 a observação permite alcançar coleções de registos particulares.

 Por indução, a partir dos dados da observação, alcançam-se as leis: sucessivas inferências
indutivas permitem progredir dos dados da observação até às leis e das leis menos gerais até
às leis mais gerais.

 o conhecimento das leis gerais permite fazer previsões exatas.

 A perspetiva indutivista do método científico e da ciência assenta em duas ideias


principais:

1. a ciência começa com a observação e impossível conhecer o mundo sem o


observar.
2. a inferência indutiva é a única forma de inferência capaz de produzir
conhecimento genuinamente novo sobre o mundo.

Teorias ciêntíficas: propostas de resolução para os enigmas da natureza e do universo

Indutivismo clássico
 Descoberta (processos inventivos e creativos) – as inferências indutivas permitem alcançar
conclusões gerais a partir do conhecimento de casos particulares. Os ciêntistas ocupam-se
dos diversos aspetos do enigma por muito tempo, ensaiando e falhando tentativas de
solução.

Justificação (dependem de processos mentais- racionais e analíticos) – as inferências


indutivas permitem extrair conclusões dos resultados dos ensaios experimentais e determinar
se esses resultados constituem a evidência empírica necessária para se considerar que uma lei

ou uma teoria foi provada. A teoria é submetida a TESTES, lógicos e empíricos, que
determinam o seu valor.

Objeções à perspetiva indutivista- problema da indução


 ENTIDADES INOBSERVAVEIS

 As teorias científicas mais avançadas e explicativas são, quase todas, teorias que
pretendem explicar fenómenos e entidades inobserváveis.

 Mesmo as teorias que pretendem explicar fenómenos observáveis, para explicarem


esses fenómenos, referem-se a fenómenos e entidades inobserváveis:
 por indução, partindo de premissas relativas a casos particulares observados, é
impossível chegar a uma conclusão que explique esses casos referindo fenómenos ou
entidades inobserváveis.

 se é verdade que muitas teorias científicas são acerca de fenómenos e de


entidades inobserváveis, então pelo menos essas teorias não foram descobertas
indutivamente.

 COMEÇAMOS POR PROBLEMAS

 toda a observação está impregnada de teoria.


 a observação é sempre posterior à teoria.
 não existe a observação pura, ou puramente sensorial, pressuposta pelo
indutivismo.
 segundo Popper, a investigação científica tem origem em problemas.

Teses do indutivismo
 a ciência começa com a observação e é impossível conhecer o mundo sem o observar.

 segundo Popper, “nunca começamos por observações, mas sempre por problemas: por
problemas práticos ou por uma teoria que deparou com dificuldades – quer dizer, uma teoria
que criou, e frustrou, determinadas expectativas”.

 a inferência indutiva é a única forma de inferência capaz de produzir conhecimento


genuinamente novo sobre o mundo.

 por indução, partindo de premissas relativas a casos particulares observados, é impossível


chegar a uma conclusão que explique esses casos referindo fenómenos ou entidades
inobserváveis.

A confirmação experimental das hipóteses


 A TESE DA CONFIRMABILIDADE- Uma teoria é científica se for empiricamente
verificável, ou seja, se o seu valor pode na prática ser determinado a partir da
observação.

 A indução não tem um papel relevante na descoberta científica, mas a justificação


das leis e das teorias científicas depende das inferências indutivas.

 A ciência empírica recorre ao método experimental para testar as leis e as teorias


científicas:

 as experiências científicas consistem em testar consequências experimentais


logicamente deduzidas da hipótese.

 a hipótese é confirmada se as suas consequências experimentais forem verificadas


em todos os ensaios experimentais realizados.

 as hipóteses científicas podem ser experimentalmente confirmadas, mas nunca


podem ser experimentalmente verificadas.
 As hipóteses científicas não podem ser verificadas porque são proposições universais:

 a verificação de uma proposição universal implicaria a verificação de todos os


casos particulares incluídos na proposição universal, e isso é impossível.

 podemos verificar que “este corpo pesado, quando suspenso no ar, cai
perpendicularmente ao chão”, mas não podemos verificar que “todos os corpos
pesados, quando suspensos no ar, caem perpendicularmente ao chão”, pois isso
implicaria observar todos os corpos.

 A repetição de ensaios experimentais bem-sucedidos aumenta a probabilidade de a


hipótese ser verdadeira, mas nunca dá uma prova conclusiva da veracidade da hipótese.

 Os testes empíricos usados na justificação de uma hipótese científica apenas podem dar-
lhe um certo grau de confirmação experimental.

Objeções à tese da confirmabilidade


 Não é possível encontrar uma fórmula que, em cada caso, determine quantos ensaios
experimentais bem-sucedidos são necessários para obter uma confirmação da hipótese.

 Segundo Popper, o problema da indução é insuperável:

 se as inferências indutivas não podem ser justificadas, então também não podem ser
usadas para justificar as teorias científicas.

 a justificação científica depende exclusivamente de procedimentos dedutivos – os testes


lógicos e os testes empíricos a que as teorias científicas são submetidas dependem apenas de
inferências dedutivas.

 Popper resolveu o problema da indução, no domínio da justificação científica, afastando-o


ou dissolvendo-o.

O lugar da indução na ciência


Será que a indução desempenha um papel central na construção das leis e das teorias
científicas?
A perspetiva falsificacionista de Popper
 Popper defendeu que a conceção indutivista da ciência é errada e apresentou uma
perspetiva falsificacionista da ciência, segundo a qual o objetivo dos testes experimentais
é falsificar as hipóteses avançadas pelos cientistas.

 para compreender o papel da falsificação de teorias no método científico e a sua


importância para o progresso da ciência, é preciso compreender o que é uma proposição
falsificável.

Proposições falsificáveis
 Uma proposição é falsificável – ou empiricamente refutável – se, e apenas se,
podemos conceber um estado de coisas que a refuta e que, se for verificado, mostra que
ela é falsa.

 Para mostrar que uma proposição é falsa, é suficiente uma única observação que a
contradiga.

Todos os corpos metálicos flutuam na água.

 Para que a proposição seja falsificável, é suficiente que possamos conceber ou


imaginar um estado de coisas que a refute – não temos de observar um estado de coisas
que efetivamente a falsifique.

Quando suspensas no ar, todas as pedras caem.

 Uma proposição é falsificável – ou empiricamente refutável – se, e apenas se,


podemos conceber um estado de coisas que a refuta e que, se for verificado, mostra que
ela é falsa.

 Para mostrar que uma proposição é falsa, é suficiente uma única observação que a
contradiga.

Todos os corpos metálicos flutuam na água.

 Para que a proposição seja falsificável, é suficiente que possamos conceber ou


imaginar um estado de coisas que a refute – não temos de observar um estado de coisas
que efetivamente a falsifique.

Quando suspensas no ar, todas as pedras caem.

Proposições não falsificáveis


 Uma proposição não é falsificável – ou é empiricamente irrefutável – se não pudermos
conceber um estado de coisas que a refute.
 As proposições particulares são empiricamente irrefutáveis.

Alguns corpos metálicos afundam-se na água.

Algumas pedras flutuam no ar.

 As proposições tautológicas são empiricamente irrefutáveis.

Se protestarmos, o governo cederá ou não cederá.

 As proposições imprecisas são empiricamente irrefutáveis.

Se acreditarmos em nós, o governo cederá.

 As proposições empiricamente irrefutáveis, ao contrário das proposições falsificáveis,


não excluem estados de coisas e, por essa razão, não são informativas.

 Algumas proposições não falsificáveis podem ser tornadas falsificáveis.

Se acreditarmos em nós, o governo cederá.

 Para tornar esta proposição falsificável, é necessário descrever “acreditar em si” em


termos observacionais e tornar mais precisa a noção de “o governo ceder”.

Se todos fizermos greve por duas semanas, o governo aceitará o aumento salarial que os
sindicatos propuseram e manterá o atual código do trabalho.

 As proposições falsificáveis excluem estados de coisas e, por essa razão, são


informativas.

Graus de falsificabilidade
 As proposições podem ter graus de falsificabilidade diferentes.

Se formos firmes no nosso protesto, o governo não poderá ignorar-nos.

Se fizermos greve, o governo cederá.

Se todos fizermos greve, o governo aceitará as principais exigências dos sindicatos.

Se todos fizermos greve por duas semanas, o governo aceitará o aumento salarial
proposto pelos sindicatos e manterá o atual código do trabalho

 Quanto mais falsificável é uma proposição, quanto mais estados de coisas exclui, tanto
mais informativa e ousada é essa proposição.

Uma teoria que resiste às tentativas de falsificação torna-se numa teoria verosimil,
corrobada; apesar de esta poder sempre vir a ser derrubada, daí o carácter conjetural do
método ciêntífico.

O problema da demarcação
O que distingue as teorias científicas das teorias não científicas ou pseudo-científicas?

 Segundo Popper, as teorias científicas distinguem-se das teorias não científicas ou


pseudo-científicas pelo facto de serem falsificáveis, ou seja, a falsificabilidade é o critério
de demarcação da ciência.

 As teorias imunes à refutação empírica são teorias não científicas ou pseudo-


científicas.

 A falsificabilidade é uma condição necessária, mas não suficiente, das teorias


científicas.

 O critério da falsificabilidade só se aplica às teorias das ciências empíricas, ou seja, às


teorias que fazem afirmações sobre o modo como o mundo funciona (as teorias da
Geometria, uma ciência formal, não têm de cumprir este critério).

O método científico
 Segundo Popper, a ciência começa por problemas:

 perante um problema, os cientistas avançam uma teoria.

 seguidamente, submetem a teoria a testes lógicos e empíricos (criticam a teoria).

 Para testar empiricamente a teoria, realizam-se experiências e aplicações práticas cuja


finalidade é verificar as consequências empíricas logicamente deduzidas da teoria.

 Se essas consequências não se verificam, então, dedutivamente, infere-se que a teoria


avançada é falsa e que tem de ser modificada, ou abandonada e substituída por outra.

 Para verificar que a teoria é falsa, é suficiente uma única falsificação das suas
consequências empíricas.

 Se as consequências empíricas se verificam, apenas é possível inferir que, até ao


momento, a teoria não foi falsificada e que, na medida em que sobreviveu a testes
empíricos severos, a teoria foi corroborada pelos testes.

 Nenhum conjunto de verificações bem-sucedidas das consequências empíricas da


teoria a pode confirmar, nem sugerir que é provavelmente verdadeira.

 Um teste que falsifica uma teoria é mais informativo do que repetidos ensaios
experimentais bem-sucedidos.

 Os cientistas devem empenhar-se em submeter as teorias a testes empíricos severos,


orientados para a falsificação da teoria, em vez de repetirem ensaios experimentais
orientados para a confirmação da teoria.

A ciência é uma sequencia de conjeturas que resistem ao teste da crítica e da falsificação


aproximam-se da verdade.

As teorias são conjeturas, nunca se provam definitivamente.

Uma teoria científica é sempreconjetural e provisória, sendo válida, apenas, até ser
refutada (falsificada).
Objeções à perspetiva falsificacionista de Popper
A história da ciência – uma história de confiança nas teorias e de perseverança

 os cientistas procuram salvar as teorias quando elas enfrentam uma refutação


empírica.

 o progresso da ciência deve-se também à perseverança dos cientistas, que os leva a


prosseguirem a investigação e a desenvolverem a teoria, apesar das dificuldades que
encontram, nomeadamente, insucessos na obtenção dos resultados empíricos
pretendidos.

Falsificações inconclusivas

 as teorias científicas são conjuntos articulados de proposições universais.

 um insucesso empírico pode ser atribuído quer ao teste, quer a uma das proposições
acessórias da teoria e, por isso, nenhuma teoria científica pode ser conclusivamente
falsificada por uma única observação ou por uma única experiência.

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