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ARREPENDIMENTO: O que a Bíblia

ensina?
Dr. Curtis Hutson

Não há dúvida de que todos os homens, a partir de Adão, têm precisado arrepender-se,
a fim de poderem ter um correto relacionamento com Deus. A importância do
arrependimento é demonstrada no fato de que os homens de todas as eras bíblicas o têm
pregado.

João Batista pregou arrependimento em Marcos 1:15, quando disse: “O tempo está
cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho”.

O Apóstolo João pregou a necessidade do mesmo, em Apocalipse 2:5, quando exortou a


igreja de Éfeso: “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras
obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te
arrependeres”.

O próprio Senhor Jesus Cristo enfatizou sua importância, quando disse, em Lucas 13:3:
“...antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis”.

O problema não é pregar o arrependimento, mas dar uma errônea interpretação da


palavra. Através dos séculos, “arrepender-se” tem significado uma coisa muito diferente
do que foi dito por João Batista, pelo Apóstolo Paulo e pelo próprio Senhor Jesus
Cristo. Se vocês observarem [as palavras] “arrepender-se” ou “arrependimento” no
dicionário moderno, irão encontrar definições como: “ficar triste ou sentir-se culpado”,
“ficar de consciência pesada”, ou “desviar-se do pecado”. Ao usar estas definições, as
pessoas têm pregado reforma em vez de arrependimento. Se vocês observarem como a
palavra grega foi traduzida na Bíblia King James e usada por Jesus, Paulo, João e
outros, no Novo Testamento, irão descobrir que a palavra “metanoeo” significa pensar
de maneira diferente, isto é, mudar a mente.
Nesta mensagem sobre o arrependimento, quero discutir três coisas. Primeiro, as
errôneas ideias sobre o arrependimento; segundo, os fatos sobre o arrependimento e,
finalmente, fé e arrependimento.

Primeiro, vejamos algumas

Ideias Erradas Sobre O Arrependimento

Supomos que existam muitas ideias errôneas sobre o arrependimento, mas aqui
trataremos da mais popular dentre elas. Talvez a ideia errônea mais popular seja a de
que o arrependimento é o abandono do pecado. Temos ouvido alguns pregadores bem
conhecidos dizendo: “Quem quiser ser salvo, arrependa-se e abandone os seus
pecados”. Se abandonar os pecados significa deixar de pecar, então as pessoas só serão
salvas se deixarem de pecar. E é impossível que alguém já tenha sido salvo, visto como
não existe pessoa alguma que tenha deixado de pecar.

Recentemente, pedi a uma grande congregação que se houvesse alguém ali presente
que não tivesse pecado na semana que passou, levantasse a mão; nenhuma mão foi
erguida. Não conheço pessoa alguma que tenha passado pelo menos um dia sem pecar.
Claro que vocês não vão cometer assassinato, adultério ou roubar um banco; porém,
mesmo assim, vão pecar. Romanos 14:23 diz: “...tudo o que não é de fé é pecado”. Em
Tiago 4:17, lemos: “Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado”.

Quando eu era um garoto, lembro-me de ter escutado um pregador orando: “Senhor,


perdoa-nos os pecados de omissão e também os de comissão”. Existe o tal pecado de
omissão. A Bíblia diz isso no Livro de Tiago [conforme o verso supracitado].

A Primeira Epístola de João foi escrita para os crentes e lemos na 1 João 1:10: “Se
dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
Aqui, o pronome “nós” se refere aos cristãos, aos crentes. Então, qualquer crente que
afirme que não pecou está fazendo Deus mentiroso.

Há sete anos, li o livro de um professor de uma universidade fundamentalista. No


capítulo a respeito da salvação, ele escreveu: “Abandone o seu pecado e Deus lhe dará
um novo coração”. Ele mostrava o arrependimento como “deixar de pecar”. Escrevei
àquele irmão amado, expressando minha preocupação, por saber que tal ensino frustra o
incrédulo, fazendo-o pensar que a salvação é algo inatingível, visto como ele não
consegue viver uma vida sem pecado. Este escritor respondeu que havia se arrependido
e abandonado os seus pecados. Quando perguntei se ele havia deixado de pecar, após ter
sido salvo, ele precisou responder honestamente à pergunta, admitindo que havia
pecado, após ter sido salvo. Então, ele concordou em mudar a declaração feita em seu
livro. [N.T- É bem mais fácil pregar do que viver conforme a pregação].

Se arrependimento significa abandono do pecado e abandonar o pecado significa


deixar de pecar, então a pessoa precisa viver uma vida sem pecado, para ser salva. E se
este for o caso, então ninguém pode ser salvo, visto como não existe pessoa alguma que
seja perfeita. Ninguém precisa melhorar para ser salvo. A pessoa é salva para se tornar
melhor e ninguém se torna melhor, antes de confiar em Cristo. Quando nEle confiamos
como nosso Salvador, recebemos uma nova natureza [N.T. - conforme a 2 Coríntios
5:17]. Na 2 Pedro 1:4, lemos: “... Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas,
para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da
corrupção, que pela concupiscência há no mundo”. Com esta nova natureza vêm novos
desejos e novo poder para transformar esses desejos em realidade.

Em Filipenses 2:13, lemos: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade”. É a presença de Deus no crente que lhe dá tanto o
desejo como o poder de viver uma vida melhor. E ninguém pode ser habitado por Cristo
na Pessoa do Espírito Santo, antes de ser salvo.

A vida cristã não é uma imitação de Cristo [N.T. - Conforme o livro “Imitação de
Cristo”, do místico católico Thomas de Kempis]. É Cristo vivendo Sua vida em nós,
quando a Ele nos submetemos. É isso que Paulo quer dizer em Gálatas 2:20: “Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que
agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si
mesmo por mim”.

Alguns anos atrás, após ter concluído minha pregação num culto matinal de domingo,
várias pessoas confiaram em Cristo como Salvador, inclusive uma senhora com cinco
filhos. Observei um homem sentado num banco, o qual não havia respondido ao apelo.
Após o culto, fui falar com ele, enquanto muitos membros da igreja estavam
cumprimentando aquela senhora, seus cinco filhos e outras pessoas, que haviam
confiado em Cristo, naquela manhã.

...
Quando conversei com ele, trocando palavras durante alguns minutos, ele finalmente
explicou: “Para ser honesto, tenho medo de não conseguir viver de acordo.”

Imagino que aquele homem tinha a ideia de que, para ser salvo, ele precisaria prometer
a Deus que não iria mais pecar, achando que “arrepender-se é abandonar o pecado”. Por
isso, eu fui claro ao perguntar: “O que o senhor entende por viver de acordo?” Ele
respondeu: “Bem, eu sei que, provavelmente, vou pecar”. Portanto, eu falei: “Ora, se ser
salvo é prometer a Jesus que o senhor não vai mais pecar, então eu jamais poderia ter
sido salvo, porque não consigo viver uma vida sem pecado”. Prossegui, explicando que,
para ser salvo, alguém precisa simplesmente confiar em Cristo como Salvador. Abri a
Bíblia em João 3:36 e li: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que
não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”. Depois,
apontando verso, indaguei: “Este verso diz que aquele que crê no Filho - e vive de
acordo - tem a vida eterna?” Ele respondeu: “Oh, não!” Ora o verso diz: “Aquele que
crê no Filho tem a vida eterna”. Completei: “Então, aquele que crê no Filho tem a vida
eterna; portanto, a pessoa precisa apenas confiar no Filho, conforme a Bíblia diz: ‘crer
no Filho’ para ter a vida eterna?”. “Bem”, ele respondeu: “Suponho que devemos fazer
o que a Bíblia diz - crer no Filho.” Concluí: “Então, o senhor deseja confiar em Jesus
Cristo, como Salvador, agora mesmo?” Com um sorriso no rosto, ele respondeu: “Claro
que eu quero!”. Em seguida, ele foi se juntar à esposa e aos cinco filhos. Então, os
membros da igreja vieram apertar-lhe a mão, regozijando-se com ele, por ter confiado
em Cristo como Salvador.

Algumas semanas depois, recebi o telefonema de um pastor, a algumas milhas de


Atlanta, Geórgia, informando que um homem, sua esposa e cinco filhos haviam se
juntado à igreja para o batismo e lhe contaram que haviam sido salvos na Forest Hills
Baptist Church, em Decatur, Geórgia. Ele disse: “Dr. Hutson, acho que o senhor
gostaria de saber disso”. Claro que me alegrei, ao saber que eles haviam se juntado a
uma [boa] igreja próxima do lugar onde moravam. Aquela família progrediu na fé,
tornando-se obreira na igreja. Mais tarde, o casal comprou o seu próprio ônibus e
começou a levar uma porção de crianças para ouvir o Evangelho.

Imagino que existam muitas pessoas que gostariam de ser salvas, mas a elas foi
apresentada a errônea ideia de que arrependimento significa abandono do pecado,
convencendo-se de que não podem ser salvas. Oh, se pudéssemos simplesmente tornar a
salvação clara, explicando-lhes que ninguém é salvo por fazer alguma coisa, mas por
confiar no que Cristo já fez. Ele morreu há 2.000 anos pelos nossos pecados, tendo pago
totalmente a dívida do pecado e a Bíblia diz: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna”.
Agora, por favor, não me interpretem mal. Não quero tratar o pecado levianamente,
mas apenas evitar que um incrédulo pense que a salvação é inatingível.

A segunda ideia errônea é a de que arrependimento significa tristeza pelo pecado. A


Bíblia diz na 2 Coríntios 7:10: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento
para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte”.
Embora a tristeza segundo Deus opere o arrependimento, isto não é o mesmo que o
arrependimento, conforme é ensinado. Temo que sejamos culpados de ensinar os outros
a partir da nossa experiência, em vez de buscar o ensino da Bíblia. Devemos nos
lembrar que a Bíblia é o princípio e não a experiência humana. Temos ouvido
pregadores notáveis contando sua experiência de salvação, descrevendo o seu lamento e
tristeza e como se sentiam miseráveis e humilhados, antes de serem salvos. Quando
fazem isso, eles sugerem que o incrédulo deve sentir uma certa tristeza, antes de ser
salvo. Se este fosse o caso, quanta tristeza deveria um homem sentir e quanto
exatamente precisaria chorar e gemer diante de Deus, antes que Deus quisesse salvá-lo!
Este tipo de ensino sugere a falsa ideia de que, basicamente, Deus não está querendo
que os pecadores sejam salvos [N.T. -contrariando a 1 Timóteo 2:4]. E, enquanto não
enternecerem o coração divino com as suas lágrimas, Deus nunca os aceitará nem lhes
concederá o perdão dos pecados {*}.

A verdade é que Deus está mais desejoso e pronto a salvar do que os homens possam
confiar que Ele o faça. A verdade é que Deus continua fazendo tudo que pode para
salvar os homens. Há 2.000 anos, Ele colocou todos os nossos pecados sobre o Seu
Filho Jesus Cristo e, em seguida, Ele pagou a dívida que era contra nós, para que, após a
morte, não tenhamos coisa alguma a ser paga. É exatamente isto que a Bíblia diz em
João 3:16 e [N.T. - e em Colossenses 1:14 e 2:14].

Em matéria de salvação, nenhuma quantidade de choro ou tristeza vai convencer o


nosso Deus a fazer tudo que Ele já fez. Quando Jesus estava na cruz e exclamou: “Está
consumado!”(João 19:30), o preço de nossa salvação foi totalmente pago. Nada pode ser
acrescentado ou subtraído disto. Não precisamos chorar ou implorar que Deus faça algo
mais, pois Ele já o fez. Só precisamos confiar nEle!

O problema não é que Deus seja inflexível ou inatingível, mas que o homem sempre
falha. O grande evangelista D. L. Moody insistia em que o inquiridor não deveria buscar
a tristeza, mas buscar o Salvador. A morte e o sangue derramado por Cristo na cruz são
suficientes para o perdão dos pecados. Efésios 1:7 diz: “Em quem temos a redenção
pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça...”. Observem
que o perdão dos pecados é através do Seu sangue. Não é pela morte de Cristo mais
tristeza; não é pela morte de Cristo, mais lágrimas; não é pela morte de Cristo mais
clamor! Não, não e não! A Palavra de Deus deixa claro que a salvação está embasada
exclusivamente na morte de Cristo e na fé e confiança do crente nEle. Atos 16:31 diz
claramente: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”. Basta crer. Aqui não é dito:
creia e chore; creia e ore; creia e se lamente; creia e se entristeça pelos seus pecados;
mas é dito: CREIA! E somente CREIA!

Alegro-me, quando vejo alguém preocupado com os seus pecados, mas devemos ter
muito cuidado ao apresentar o plano de salvação, e não insistir que a pessoa tenha um
certo grau de tristeza pelos seus pecados, antes de ser salva. Tristeza não é
arrependimento e essa exigência para a salvação não se encontra na Bíblia.

Outra ideia falsa sobre o arrependimento é a reforma. Quase todas as religiões do


mundo ensinam que o homem precisa fazer alguma coisa, ou se tornar alguém, para ser
salvo. Uns dizem que você precisa se juntar a uma igreja, pois, se não pertencer a um
grupo especial, não pode ser salvo. Outros ensinam que você deve ser batizado de uma
certa maneira ou por um certo pregador. Outros ensinam que você precisa se comportar
de uma determinada maneira. Eles dizem: “Se você não se emendar, vai para o
inferno!”Outros ensinam que você precisa tomar algumas resoluções ou fazer
promessas, para ser salvo, e que se você não cumprir essas promessas estará perdido!

Ah! Se todos pudessem entender o meridiano plano da salvação! Isso poderia


esclarecer muita confusão!

A salvação é um dom e nada podemos fazer para ganhá-la. Tudo que se pode fazer a
respeito de um dom é recebê-lo. João 1:12 diz: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-
lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome”.

Meu amado antecessor, o Dr. John Rice, costumava dizer: “Se você quiser ir para o
inferno, terá de pagar passagem; mas se quiser ir para o céu, isto é de graça”. Claro que
ele estava certo. Em Romanos 6:23, lemos: “Porque o salário do pecado é a morte, mas
o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”. A salvação é
um dom gratuito.

A reforma pode até ser uma boa coisa, mas quando se faz da reforma ou do
arrependimento uma exigência de salvação, então eles se tornam malignos. A salvação
vem de Deus e não do homem: “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1:13). A expressão “não
nasceram do sangue, nem da vontade da carne” significa que nada que o homem possa
fazer para ganhar a salvação, inclusive a reforma, tem valor algum para a sua salvação,
mas somente o que Deus faz. O comportamento bom ou mau nada tem a ver com a
salvação. Tito 3:5-6 diz: “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas
segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do
Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso
Salvador”.

Em Efésios 2:8-9, lemos: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”.

É impossível misturar a graça com as obras. A salvação é exclusivamente pela graça.


Graça e obras não podem ser combinadas. Vejamos Romanos 11:6: “Mas se é por graça,
já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras,
já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra”.

A reforma, como instrumento de salvação, é absolutamente fútil e arrependimento não


é reforma. A reforma é um esforço da parte do indivíduo para estabelecer a sua própria
justiça e a Bíblia ensina claramente que não somos salvos pela nossa própria justiça,
mas pela justiça a nós imputada por Deus, conforme Romanos 10:1-4: “Irmãos, o bom
desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. Porque lhes dou
testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. Porquanto, não
conhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se
sujeitaram à justiça de Deus. Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que
crê”.

Se pudéssemos mudar e estabelecer a nossa própria justiça, isto não seria suficiente,
pois, conforme Isaías 64:6: “... todos nós somos como o imundo, e todas as nossas
justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas
iniqüidades como um vento nos arrebatam”.

O melhor que podemos fazer é como “trapo da imundícia” diante do nosso Deus
Santo. A única justiça que Ele aceita é a que nos foi imputada, no momento em que
confiamos em Cristo como Salvador.

Que bendita promessa encontramos em Romanos 4:5: “Mas, àquele que não pratica,
mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça”.
Minha esperança está edificada exclusivamente no sangue e na justiça de Jesus Cristo.
Não ouso confiar em coisa alguma, por mais doce que seja, mas somente em o nome de
Jesus.

Ou, como diz o hino 366 do Cantor Cristão:

Em nada ponho a minha fé, senão na graça de Jesus,

No sacrifício remidor, no sangue do bom Redentor.

A minha fé e o meu amor estão firmados no Senhor, estão firmados no Senhor.

Arrependimento não é reforma.

Ninguém irá para o inferno se colocar a sua total confiança em Jesus Cristo, porém
muitos cairão no tormento eterno, se confiarem na própria justiça e na reforma. Vamos
ler Mateus 7:22-23:“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos
nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não
fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-
vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”.

As pessoas aqui mencionadas são as que confiam em suas próprias obras, em sua
própria justiça para a salvação, em vez de confiarem exclusivamente na obra de Jesus
Cristo.

Uma quarta ideia falsa sobre o arrependimento é que é penitência. O Dr. Harry
Ironside disse:

“A penitência não é arrependimento. Ela é um esforço tentando fazer expiação por um


mal cometido. Isto, o homem jamais pode fazer, e Deus, em Sua Palavra, nunca
estabeleceu, como condição para a salvação, que o homem primeiro se punisse a si
mesmo de tal modo que consertasse o mal que cometeu contra Deus ou seus
companheiros. .... Ao contrário, a chamada é para o arrependimento [mudança de
mente] e entre este e a penitência existe uma enorme diferença.
A penitência é um sacramento da Igreja Católica Romana, envolvendo a confissão dos
pecados e uma submissão à penalidade imposta, seguida pela absolvição dada por um
sacerdote. Existe, sim, uma penalidade para o pecado, mas somente Deus pode decretar
a penalidade, que é a morte, conforme Romanos 6:23”.

Ezequiel 18:4 diz: “Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim
também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá”. Em Tiago 1:15,
lemos: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado,
sendo consumado, gera a morte”.

A penalidade de Deus para o pecado é a morte, a qual é descrita na Bíblia como a


segunda morte, o lago de fogo, conforme Apocalipse 20:14: “E a morte e o inferno
foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte”.Não existe quantidade alguma
de penitência que pague pelos nossos pecados. A Bíblia ensina que Cristo já pagou por
todos os nossos pecados, há 2.000 anos. A 1 Pedro 3:18 diz: “Porque também Cristo
padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus;
mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito”. Nossos pecados foram
pagos, definitivamente, por Jesus Cristo, na cruz do Calvário. Na 1 Pedro 2:24, lemos:
“Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que,
mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes
sarados”.

Deus decretou a penalidade por nossos pecados, antes mesmo que Adão e Eva tivessem
cometido o primeiro pecado no Jardim. Em Gálatas 2:17, lemos: “Pois, se nós, que
procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores,
é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma”. Toda a penalidade
imposta por Deus pelo pecado, antes mesmo da queda do homem, foi totalmente paga
por Jesus Cristo, há 2.000 anos. O que nos resta fazer é aceitar o que Ele fez e confiar
totalmente nEle para a salvação.

Por que complicar o assunto e confundir os incrédulos na maneira como são salvos?
Em Atos 16:31, lemos sobre o que Paulo respondeu ao carcereiro de Filipos: “Crê no
Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”. Arrependimento não é penitência.

Fatos Sobre O Arrependimento

Existe uma enorme diferença entre o que os homens pensam e o que a Bíblia realmente
diz sobre o arrependimento. Vejamos alguns fatos sobre “arrepender-se”, conforme
encontrados, tanto no Velho como no Novo Testamento. A palavra “arrepender-se” é
encontrada 45 vezes na BKJ; “arrependimento”, 26 vezes; “arrependido”, 32 vezes;
“arrepende-te”, uma vez; “arrepende-se”, cinco vezes; “arrependendo-se”, uma vez,
“arrependidos”, uma vez, num total de 111 vezes, tanto no VT como no NT. A palavra
em suas várias formas aparece 46 vezes no VT e 65 vezes no NT. Das 46 vezes em que
ela aparece no VT, 28 vezes ela trata de Deus arrependendo-se, não o homem.

Por exemplo, em Êxodo 32:14, a Bíblia diz: “Então o SENHOR arrependeu-se do mal
que dissera que havia de fazer ao seu povo”. Além disso, para as 28 vezes em que Deus
se arrepende no VT, existem 9 passagens que afirmam as coisas sobre as quais Deus não
se arrependeu. Das 46 vezes em que a palavra “arrependimento” aparece no VT, apenas
9 falam do homem se arrependendo, e 37 vezes, de Deus não se arrependendo ou nos
falando de coisas sobre as quais Deus não se arrependeu, nem vai se arrepender.

Então, no caso de “arrepender-se” significar “dar as costas ao pecado”, temos um


problema. Temos Deus abandonando o pecado, o que é inconsistente com o ensino da
Bíblia, porque Deus é incapaz de pecar e, portanto, não tem pecados aos quais dar as
costas. Mas, se “arrependimento” significa “mudança de mente” [ou de ideia] a respeito
de algumas coisas, então é consistente. Temos Deus mudando sua mente sobre algumas
coisas e temos 9 casos no VT, nos quais Deus afirma que não mudará a Sua mente.
Agora, isto faz sentido. Existem muitas coisas sobre as quais eu jamais mudaria a minha
mente. Por exemplo, não me “arrependo”, e jamais mudaria a minha mente sobre o fato
de que a Bíblia é Palavra de Deus. Não me “arrependerei” ou mudarei minha mente
sobre o nascimento virginal de Jesus, o Filho de Deus. Não mudarei minha mente sobre
o fato de que a salvação é pela graça, através da fé. Existem outros assuntos importantes
sobre os quais não me “arrependerei” ou mudarei minha mente.

Por outro lado, existem algumas coisas sobre as quais eu me “arrependeria” ou mudaria
a minha mente. Posso planejar uma determinada atividade para a próxima semana, mas
antes que chegue o dia, poderei mudar a mente [ou mudar de ideia], para fazer outras
coisas. Claro que minha esposa diz que eu mudo de mente muitas vezes e ela tem razão.
Eu tenho dito que minha está limpa [de culpa sobre um determinado assunto], mas isso
é verdade porque a mudo frequentemente. Ora, se eu posso mudar minha mente sobre
certas coisas e não sobre outras, certamente Deus pode fazer o mesmo.

Algumas vezes, no VT, a palavra transporta a ideia de sentir tristeza ou lamentar-se.


Algumas vezes onde ela é usada, alguém é ordenado a se arrepender do que é errado e
seguir o que é certo. Outras vezes, a palavra fala de [alguém] se arrepender da decisão
de fazer o que é certo e decidir fazer o que é errado. Mas a própria palavra, usada
algumas vezes em conexão com o pecado, não tem a significação de abandonar o
pecado, seu significado é sempre o de uma mudança de mente. Outras vezes, no VT, ela
significa voltar atrás na palavra dada por alguém. Em Números 23:19, a Bíblia diz:
“Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa;
porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”
Já mencionamos muito antes que “arrependimento” em suas várias formas é
encontrado 65 vezes no NT. Dessas 65, 58 vezes ela é traduzida das palavras gregas
“metanoia” e “metanoeo”. Conforme o dicionário grego do NT, “metanoia” é o
substantivo de “metanoeo”, sendo que ambas significam a mesma coisa: “mudança da
mente”. A definição da Concordância Strong de “metanoeo” é “pensar diferentemente”,
ou então, “desconsiderar”. Estas duas palavras gregas são sempre usadas com respeito à
salvação. Nenhuma outra palavra grega é traduzida como “arrepender-se”, ou
“arrependimento”, referindo-se à salvação.

O problema e a confusão não residem em pregar o arrependimento, ou dizer que


arrependimento é uma mudança de mente, a qual conduz a uma mudança de ação. O
problema é dar uma definição errônea à palavra.

Ensinar que o homem deve abandonar os seus pecados, ou mudar suas ações, para ser
salvo, é uma contradição ao claro ensino da Palavra de Deus de que o homem é salvo
exclusivamente pela fé em Cristo. Embora ouçamos muitas vezes a expressão
“Arrependa-se dos seus pecados”, esta frase não está na Bíblia. Do que o
arrependimento (ou mudança da mente) trata é sempre determinado pelo contexto. Por
exemplo, em Atos 17:30, lemos: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da
ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam”.

Aquelas pessoas precisavam mudar a mente a respeito de Deus: “Porquanto [Ele] tem
determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que
destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos”. (Atos 17:31).
Em Lucas 13:5, Jesus disse aos judeus: “... Se não vos arrependerdes, todos de igual
modo perecereis”.

O contexto deste verso mostra que os judeus precisavam arrepender-se, ou mudar suas
mentes, com respeito ao castigo e ao pecado. Cristo estava falando a pessoas boas, as
quais acreditavam que as outras sofriam por causa dos seus pecados e concluíram que
aqueles galileus, cujo sangue Pilatos havia misturado aos sacrifícios, e aqueles sobre os
quais a Torre de Siloé caiu, tendo sofrido mortes horríveis, eram grandes pecadores.
Jesus contradisse o pensamento das pessoas que se autojustificavam, e afirmou que elas
precisavam se arrepender, ou mudar suas mentes, e se considerarem também pecadoras,
ou então iriam perecer por causa de sua justiça própria. Não é preciso conhecer a língua
grega nesta passagem, para ver que, nesta passagem, a palavra “arrepender-se” não
significa ficar triste ou se afastar do pecado.
Finalmente, permitam-me dar uma palavra sobre

Fé e Arrependimento.

Não há muito tempo, preguei um sermão simples sobre a salvação e convidei os


pecadores a confiar em Cristo como Salvador. Mais de 100 pessoas confiaram em
Cristo, naquele culto matinal de domingo. Após o culto, um cristão de renome falou:
“Gostei do seu sermão, mas o senhor não falou sobre arrependimento. O senhor deveria
ter dito àquelas pessoas que elas precisavam se arrepender” Provavelmente, ele parece
achar que o fato de eu ter dito àquelas pessoas para confiar em Cristo não fora
suficiente. A não ser que se use a palavra “arrepender-se”, quando se apresenta o plano
da salvação, alguns pregadores cometem a tolice de acusar o pregador de estar pregando
um evangelho de facilidade. De algum modo, eles têm a ideia de que pregar apenas
“crer em Jesus Cristo para ser salvo” não é suficiente.

Em um artigo no jornal “The Sword of the Lord”, o Dr. John Rice disse:

“Algumas vezes o próprio pregador não entende o plano da salvação. Ele pensa que a
salvação é um processo. Primeiro, existe um período de convicção; depois, um período
de arrependimento e, em seguida um ato de fé.”

Ele prossegue, explicando que, quando alguém confia em Cristo como Salvador, ele
também se arrepende. O Dr. Rice está absolutamente correto. Fé e arrependimento são a
mesma coisa, não sendo decisões separadas. Não se pode confiar em Cristo como
Salvador sem se arrepender ou mudar a mente. O exato fato de alguém confiar em
Cristo demonstra que ele mudou sua mente com relação ao pecado, à salvação e a Deus.

Se um livro da Bíblia tivesse de ser considerado como “o livro da salvação”, este seria o
Evangelho de João. Ele é impresso e distribuído mais do que qualquer outro livro da
Bíblia. [N.T. - a tradutora, em 1983, quando expunha a sua linha de cosméticos num
congresso nacional de cosmetologia, distribuiu 3.000 exemplares do Evangelho de João,
dez vezes mais do que a propaganda escrita dos seus produtos e, mesmo assim, teve um
sucesso de vendas extraordinário, tendo sido considerada a empresária mais original do
evento]. O propósito do ensino apresentado neste livro é dado em João 20:31, referindo-
se aos milagres do Senhor Jesus Cristo: “Estes, porém, foram escritos para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome”.

Conforme esse verso, todo o propósito do Evangelho de João é que os homens


conheçam Jesus Cristo, para que, crendo, tenham a vida eterna em Seu nome. Contudo,
as palavras “arrepender-se” ou “arrependimento” não se encontram neste evangelho.
Por outro lado, a palavra “crer” aparece 90 vezes, nos 21 capítulos do mesmo.

O livro de Romanos foi escrito para mostrar como os homens são justificados. Neste
livro, a palavra “arrependimento” é encontrada apenas duas vezes e, somente em um
caso, ela se refere à salvação. Romanos 11:29 diz: “Porque os dons e a vocação de Deus
são sem arrependimento”. Se tomarmos “arrependimento” com a significação de
“abandonar o pecado”, não faz sentido algum. Mas, quando Deus vocaciona um homem
para pregar, Ele jamais muda a Sua mente sobre isto.

Enquanto a palavra “arrependimento” é encontrada apenas duas vezes no Livro de


Romanos, a fé é encontrada 39 vezes. Romanos 3:28 diz: “Concluímos, pois, que o
homem é justificado pela fé sem as obras da lei”.

Romanos 5:1 declara: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus,
por nosso Senhor Jesus Cristo”.

Visto como a palavra “arrependimento” não é encontrada no Evangelho de João e


somente duas vezes no Livro de Romanos, devemos concluir que nenhum destes dois
livros nos ensina como ser salvos e justificados? A conclusão é que o arrependimento
está incluído nas palavras “crer” e “fé”, as quais aparecem muitas vezes nestes dois
livros.

O capítulo 3 de João contém o coração do evangelho. Nele encontramos o


maravilhoso verso: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João
3:16). Este verso é usado na conversa entre Jesus e Nicodemos. No verso 7, Jesus diz a
Nicodemos: “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo”.
Quando Nicodemos pergunta: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?” (verso 4), Jesus responde,
conforme os versos 14-16 (este já citado): “E, como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Em parte nenhuma deste capítulo Jesus usa a palavra “arrependimento” ou “arrepender-


se”. Ele diz apenas que Nicodemos creia, encerrando, incisivamente, o diálogo com o
verso 36: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho
não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”. A palavra “crer” nestes versos
significa: confiar, depender e descansar em... Nada poderia ser mais claro. Cristo
morreu pelos nossos pecados e do que precisamos é depender dEle para a nossa
salvação. Sua admoestação está no verso 36. “Aquele que crê no Filho tem a vida
eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele
permanece.” (Jo 3:36 ACF)

Não existe promessa alguma na Bíblia para os que confiam parcialmente em Cristo. A
promessa é para quem nEle crê totalmente. Não podemos confiar 90% em Jesus e 10%
em algo mais. Devemos confiar exclusiva e absolutamente apenas nEle e em nada mais
para a salvação. Visto como Jesus não usou as palavras “arrependimento” nem
“arrepender-se”, quando ensinou a Nicodemos como ser salvo, devemos chegar a uma
destas três conclusões:

Primeira, o arrependimento não é necessário à salvação.

Segunda, Jesus não ensinou a Nicodemos como ser salvo.

Terceira, o arrependimento é necessário à salvação, estando incluso na palavra “crer”, a


qual Jesus usou, constantemente, neste capítulo. A conclusão correta, sem dúvida, é a
terceira, isto é, que a palavra “arrependimento” está inserida na palavra “crer”. Crer
somente em Jesus Cristo e confiar no Seu sacrifício vicário é tudo de que um homem
precisa para ser salvo. E ninguém pode confiar em Cristo, sem antes se arrepender.

Dr. Curtis Hutson - ”Repentance: What Does The Bible Teach?”

Traduzido e comentado por Mary Schultze, em 25/05/2001.


www.maryschultze.com

{* Nota de http://SolaScriptura-TT.org: Gostei muito deste artigo, concordo com quase


tudo dele. Mas discordo muito deste parágrafo do autor. 2 Coríntios 7:10 diz que “... a
tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação ...”. Portanto, não
importam as zombarias e argumentos de C. Hutson, há um certo tipo de tristeza,
chamada de tristeza segundo Deus, que opera arrependimento para salvação, portanto o
verdadeiro arrependimento (mudança da mente, que é uma faceta da fé necessária à
salvação), sempre tem esse tipo de tristeza. Hélio.}

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