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CARLOS ANTÔNIO DOS SANTOS

Organizador

PRODUÇÃO E MANEJO DE CULTURAS AGRÍCOLAS DE


IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

Maringá – Paraná
2019
2019 Uniedusul Editora

Copyright da Uniedusul Editora


Editor Chefe: Profº Me. Welington Junior Jorge
Diagramação e Edição de Arte: André Oliveira Vaz
Revisão: Os autores

Conselho Editorial
Alexandra Fante Nishiyama – Faculdade Maringá
Aline Rodrigues Alves Rocha – Pesquisadora
Ana Lúcia da Silva – UEM
André Dias Martins – Faculdade Cidade Verde
Brenda Zarelli Gatti – Pesquisadora
Carlos Antonio dos Santos – Pesquisador
Cleverson Gonçalves dos Santos – UTFPR
Constanza Pujals – Uningá
Delton Aparecido Felipe – UEM
Fabio Branches Xavier – Uningá
Fábio Oliveira Vaz – Unifatecie
Gilmara Belmiro da Silva – UNESPAR
João Paulo Baliscei – UEM
Kelly Jackelini Jorge – UNIOESTE
Larissa Ciupa – Uningá
Lourival Domingos Zamuner – UNINGÁ
Marcio Antonio Jorge da Silva – UEL
Márcio de Oliveira – UFAM
Pâmela Vicentini Faeti – UNIR/RM
Ricardo Bortolo Vieira – UFPR
Rodrigo Gaspar de Almeida – Pesquisador
Sâmilo Takara – UNIR/RM

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos
autores.

Permitido fazer download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem de
nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
www.uniedusul.com.br
APRESENTAÇÃO

A idealização desta obra “Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância


Econômica” surgiu da necessidade de se compilar os novos desdobramentos resultantes da pesquisa na
área de Agronomia (Produção Vegetal). Dessa forma, devido à abrangência desse campo de atuação,
foram selecionados trabalhos com abordagens inovadoras e que, ao mesmo tempo, atendessem a
estes diferentes segmentos. A consolidação da obra não seria possível sem os esforços conjuntos de
profissionais vinculados a 9 diferentes instituições de ensino, pesquisa, e extensão, que se empenharam
em apresentar, em sua melhor forma, os avanços alcançados pelos seus respectivos grupos de trabalho.
Os trabalhos aqui divulgados vão ao encontro das demandas vigentes da agricultura brasileira
que, mesmo grandiosa e reconhecida mundialmente, também apresenta deficiências, entraves e
desafios que necessitam ser superados por meio do desenvolvimento e adoção de novas tecnologias
e práticas agrícolas. Portanto, o aperfeiçoamento desses sistemas produtivos se faz necessário com
a busca de uma agricultura de excelência, que seja mais eficiente, rentável, inovadora, e que também
seja capaz de manter-se sustentável e com menor impacto possível.
Diante disso, esta obra foi estruturada em 8 capítulos que permeiam assuntos agronômicos
como fitossanidade, propagação vegetal, fertilidade do solo, erosão, desenvolvimento sustentável
e segurança dos alimentos. No capítulo I, são apresentados os novos desafios e perspectivas para o
manejo do declínio na goiabeira, uma doença complexa e limitante ao cultivo dessa espécie. Enquanto
que no Capítulo II, é tratado de três grandes patologias que acometem a cultura da soja, um dos
principais produtos do agronegócio brasileiro na atualidade.
Os capítulos III e IV trazem informações sobre a propagação vegetativa de plantas com ênfase
em reguladores vegetais e uso da estaquia. No Capítulo V, são apresentados resultados e benefícios
da calagem no plantio de espécies arbóreas. Em seguida, nos capítulos VI e VII, são levantados
questionamentos acerca de processos erosivos em áreas de produção de café e sobre desenvolvimento
sustentável. Finalmente, no Capítulo VIII, são expostas informações sobre diretrizes para ensaios
toxicológicos.
Os autores e organizador desta obra têm a expectativa de ter cooperado com informações
importantes para o desenvolvimento da área de produção vegetal. Os resultados desses trabalhos
estão agora à disposição dos leitores que desejarem se atualizar quanto aos novos desdobramentos e
perspectivas da produção agrícola brasileira.

O organizador
SOBRE O ORGANIZADOR

Carlos Antônio dos Santos: Engenheiro-agrônomo formado pela Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ; Especialista em Educação Profissional e Tecnológica
pela Faculdade de Educação São Luís, Jaboticabal, SP; Mestre em Fitotecnia (Produção Vegetal)
pela UFRRJ. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Produção Vegetal, atuando
principalmente nos seguintes temas: Olericultura, Cultivos Orgânicos, Manejo de Doenças de Plantas,
Tomaticultura e Produção de Brássicas. E-mail para contato: carlosantoniokds@gmail.com
SUMÁRIO

CAPÍTULO I.......................................................................................................................................7
O DECLÍNIO DA GOIABEIRA: DESAFIOS E NOVAS PERSPECTIVAS PARA O MANEJO
Arêssa de Oliveira Correia
Márcia Varela da Silva
Patricia Alvarez Cabanez
Fabio Ramos Alves
Adilson Vidal Costa
Vagner Tebaldi de Queiroz
André da Silva Xavier
Dilson da Cunha Costa

CAPÍTULO II...................................................................................................................................18
INCIDÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE PATOLOGIAS DE SOJA (GLYCINE MAX (L.)
MERRILL) EM PARAGOMINAS-PA
Marcela Oliveira Mattos
Gustavo Antonio Ruffeil Alves
Luciana da Silva Borges
Luana Keslley Nascimento Casais
Núbia de Fátima Alves dos Santos
Marcio Roberto da Silva Melo
Luis de Souza Freitas
Jade Cristynne Franco Bezerra

CAPÍTULO III..................................................................................................................................28
REGULADORES VEGETAIS UTILIZADOS NA PROPAGAÇÃO POR ESTAQUIA
Patricia Alvarez Cabanez
Ruimário Inácio Coelho
José Augusto Teixeira do Amaral

CAPÍTULO IV..................................................................................................................................34
PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DA JABUTICABEIRA POR ESTACAS
Patricia Alvarez Cabanez
Ruimário Inácio Coelho
José Augusto Teixeira do Amaral

CAPÍTULO V....................................................................................................................................44
INFLUÊNCIA DA CALAGEM NO PLANTIO DE ESPÉCIES ARBÓREAS
Alessandra de Lima Machado
Thamara Peixoto Mendonça
Jorge Jacob Neto
CAPÍTULO VI..................................................................................................................................55
LEVANTAMENTO DA PERDA DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA DOS CULTIVOS DE CAFÉ
DO MUNICÍPIO DE CASTELO, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Caio Henrique Ungarato Fiorese
Herbert Torres
Jander Abrita de Carvalho
Paloma Osório Carvalho
Isabelly Marvila Leonardo Ribeiro
Jefferson Gonçalves Batista
Gabriel Gonçalves Batista
Antônio Marcos da Silva Batista

CAPÍTULO VII................................................................................................................................65
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA ATUALIDADE
Diego da Silva

CAPÍTULO VIII...............................................................................................................................73
DIRETRIZES PARA ENSAIOS TOXICOLÓGICOS IN VIVO: UMA REVISÃO
Luane Aparecida do Amaral
Rodrigo Juliano Oliveira
Elisvânia Freitas dos Santos
CAPÍTULO I

O DECLÍNIO DA GOIABEIRA: DESAFIOS E NOVAS


PERSPECTIVAS PARA O MANEJO

Arêssa de Oliveira Correia Fluensulfone, nematicidas biológicos à base de


UFES fungos e resistência genética. Alguns resultados
de pesquisas recentes desenvolvidos ‘in vitro’ e
Márcia Varela da Silva
em campo para o manejo do declínio da goiabeira
INCAPER
com enfoque no emprego de novas moléculas
Patricia Alvarez Cabanez como os triazóis, Fluensulsfone, e agentes de
UFES controle biológico e controle genético (porta-
enxerto resistente), serão apresentados nessa
Fabio Ramos Alves revisão.
UFES
PALAVRAS-CHAVE: Biodiesel; fungo;
Adilson Vidal Costa
crescimento micelial; esporulação.
UFES

Vagner Tebaldi de Queiroz


UFES ABSTRACT: Guava decline is a complex
disease that causes root rhythm enlargement
André da Silva Xavier due to the synergistic action between the
UFES  fungus Fusarium solani and the nematode
Dilson da Cunha Costa Meloidogyne enteroilobii. Generally, the most
EMBRAPA widely used method for the management of
fungi and nematodes is the use of fungicides and
nematicides, the products are often expensive
RESUMO: O declínio da goiabeira é uma doença and have the potential to pollute the environment.
complexa causada por Meloidogyne enteroilobii Alternative management measures have been
que predispõe as raízes ao ataque de Fusarium researched around the world, such as the use
solani, o que culmina, como resultado dessa of triazoles, high fungitoxity-derived biodiesel
interação singergística, em intensa podridão processing products, low-toxicity nematicidal
radicular e, consequentemente, em morte das molecules such as Fluensulfone, fungal-based
plantas. Geralmente, o método mais amplamente biological nematicides and genetic resistance.
utilizado para o manejo de fungos e nematoides Some results from recent “in vitro” and in field
é pelo emprego de fungicidas e nematicidas, research on the management of guava decline
produtos muitas vezes caros e com potencial de focusing on the use of new molecules such as
poluir o ambiente, por isso, em todo o mundo, triazoles, Fluensulfone, and biological control
têm-se pesquisado medidas alternativas de and genetic control agents (resistant rootstock),
manejo, como a utilização de triazóis, produtos will be presented in this review.
derivados de processamento do biodiesel que
apresentam elevada fungitoxidade, moléculas KEYWORDS: Biodiesel; fungus; mycelial
nematicidas com baixa toxicidade, como o growth; sporulation.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 7


1. INTRODUÇÃO

A goiabeira (Psidium guajava L.) é uma planta pertencente à família Myrtaceae, originária das
regiões tropicais americanas e está amplamente distribuída em todo o mundo. Apresenta excelentes
condições para exploração em escala comercial, em função de seus frutos atingirem bons preços no
mercado e serem muito apreciados pelas suas características tanto para o consumo de mesa como para
a fabricação de produtos industrializados (POMMER et al., 2013).

A área de produção de goiaba registrada no Brasil em 2017 foi de aproximadamente 78.981,870


ha, com produção anual de 460.515 toneladas de frutas, sendo o rendimento médio de 20.294 kg/ha.
O setor de exportação de frutas frescas no ano de 2017 arrecadou 319.627,357 milhões de reais na
produção de goiaba (IBGE, 2019).

O declínio da goiabeira se instalou no Brasil há alguns anos e tem sido responsável pela
erradicação de inúmeros pomares (GOMES et al., 2011). Segundo os autores, os sintomas do declínio
são atribuídos à ação sinergética entre Meloidogyne enterolobii Yang and Eisenback, 1983, e Fusarium
solani (Mart.) Sacc., sendo que o parasitismo inicial do nematoide predispõe as plantas à degeneração
radicular subsequente pelo fungo, tornando assim o manejo da doença complexo.

Essa doença, até o momento, já foi responsável pela erradicação de mais de 5.000 ha de
pomares de goiabeira em âmbito nacional, o que resultou em perda econômica aos produtores de
aproximadamente US$ 70 milhões de dólares (GOMES et al. 2011; GOMES et al., 2012; POMMER
et al., 2013; IBGE, 2019).

Várias medidas de manejo do declínio da goiabeira têm sido pesquisadas, porém sem resultados
satisfatórios, como por exemplo, a utilização de nematicidas convencionais, plantas resistentes,
microrganismos antagonistas, rizobacterias e adição de materiais orgânicos ao solo (CARNEIRO et
al., 2011; ALMEIDA et al., 2011; CRUZ, 2014).

O método mais utilizado para o manejo de fungos e nematoides a através da aplicação de


fungicidas e nematicidas, produtos geralmente caros e danosos à saúde do homem e animais (JESUS
JUNIOR; ZAMBOLIM, 2007). Por isso, faz-se necessário a busca por alternativas que evitem a
resistência dos fitopatógenos aos produtos químicos registrados pelos órgãos governamentais, como a
descoberta e a implementação de novas moléculas com ação fungicida/nematicida tóxicas aos fungos
e, com baixo impacto ambiental, e o controle biológico e a resistência genética (ZAMBOLIM, 2008a,
CORREIA, 2014; ALVES, 2016).

2. DECLÍNIO DA GOIABEIRA

A gravidade do declínio da goiabeira e sua podridão radicular associada desencadeou uma


investigação sobre a possibilidade de outro patógeno de solo, além do nematoide M. enterolobii, estar
envolvidos neste patossistema. Gomes et al. (2011), chegaram à conclusão que o chamado “declínio
da goiabeira” constitui doença complexa devido ao efeito sinergístico de M. enterolobii e F. solani,
mostrando que o nematoide, devido ao parasitismo inicial, predispõe as plantas à intensa degeneração

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo I 8


radicular subsequente pelo fungo. Em estudo posterior, Gomes (2012), demonstrou que F. solani é o
agente que define a extensão dos danos causados ao sistema radicular das plantas.

Após a penetração de M. enterolobii, começam a ocorrer modificações bioquímicas e


fisiológicas no sistema radicular e, a partir de então, provavelmente começam a serem produzidas
substâncias atrativas benéficas ao desenvolvimento de F. solani nas raízes. Posteriormente, os sintomas
do declínio da goiabeira começam a surgir, são eles: clorose, necrose das bordas foliares, forte
bronzeamento das folhas, murcha e queda de folhas; deficiência nutricional, galhas e apodrecimento
radiculares (Figura 1) e, alguns meses após a manifestação dos primeiros sintomas, desfolhamento
generalizado (AMORIM et al, 2011).

A C

B D C

Figura 1. Sintomas do declínio da goiabeira. (A e B) Sistema radicular infectado por M. enterolobii e F. sola-
ni. (C e D) Bronzeamento do limbo foliar de P. guajava. Fotos: Fábio Ramos Alves.

Além disso, os frutos atingem sua maturidade fisiológica prematuramente com tamanho
reduzido e abaixo do padrão de comercialização (MOREIRA; HENRIQUE NETO, 2001).

Os sintomas de degeneração do sistema radicular têm início com o escurecimento das raízes
mais novas, que progridem para as mais velhas. No final do processo, as raízes atacadas apresentam
coloração marrom escura ou totalmente negra. Os sintomas de escurecimento são acompanhados
pelo processo de decomposição, com morte rápida do tecido atacado, devido à produção de toxinas e
enzimas (AMORIM et al., 2011), o que culmina com a morte das plantas no campo (Figura 2).

Figura 2. Plantas com sintomas do declínio da goiabeira sendo arrancadas e destruídas em um campo de cul-
tivo comercial em Pedro Canário, ES. Foto: Fábio Ramos Alves.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo I 9


2.1 Fusarium solani (Mart.) Sacc.

Fusarium solani foi descrito por Snyder e Hansen em 1941 como um fitopatógeno pertencente
à família Tuberculariaceae (Hyphomycetes). O fungo apresenta variação em sua morfologia, fisiologia
e patogenicidade. A tradicional classificação e identificação de espécies no gênero Fusarium é baseada
em características morfológicas, tais como: morfologia da colônia de cultura monospórica de isolados
em meios de cultura específicos, pigmentação e taxa de crescimento, especificidade de hospedeiros e
perfil de metabólitos secundários. Portanto, podem ser parasitos facultativos, principalmente em solos,
e são responsáveis por
​​ doenças como o tombamento de várias espécies de plantas e apodrecimento de
raízes, caules, frutas e legumes (LESLIE; SUMMERELL, 2006; LUGINBUHL, 2010).

O fungo possui hifas extensas, felpudas e septadas que formam micélio que variam entre as
cores rosa, roxo, amarelo a branco-acinzentado, variando de esparso a denso. O fungo possui ainda
dois tipos de esporos assexuados, denominado de microconídios e macroconídios (AMORIM et al.,
2011).

Em condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento F. solani produz estruturas de resistência


chamadas clamidósporos, que são constituídos por uma única célula que condensa seu citoplasma
devido ao acúmulo de reservas nutritivas, formando-se nas hifas de maneira intercalar ou terminal
(MICHEREFF et al., 2005).

Fusarium solani é comum em ambientes agrícolas devido às diversas espécies botânicas às


quais se associa. No entanto, também possui origem nativa em diferentes ambientes com presença de
vegetais (LESLIE; SUMMERELL, 2006).

2.2 Meloidogyne enterolibii Yang & Einsenback

No Brasil, o nematoide Meloidogyne enterolobii Yang & Einsenback (sin. Meloidogyne


mayaguensis Rammah & Hirschmann) foi relatado pela primeira vez causando danos severos em
plantios comerciais de goiabeira (Psidium guajava L.) em Petrolina-PE, Curaçá e Maniçoba, no
estado da Bahia (CARNEIRO et al., 2001; MARQUES et al., 2012). Posteriormente, foi registrado
causando danos em pomares comerciais de goiabeira, em diversas regiões do País, como: Rio de
Janeiro, Ceará, Piauí, Paraná, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Maranhão (LIMA et al., 2003;
TORRES et al., 2005; SILVA et al., 2006; CARNEIRO et al., 2006; ASMUS et al., 2007; LIMA et
al., 2007; SILVA et al., 2008). Até então não se sabia que era a interação entre o nematoide e F. solani
que provocam o declínio da goiabeira

2.3 Desafios no manejo do declínio da goiabeira

Cruz (2014), afirma que muitas tentativas de manejo do declínio da goiabeira não têm se
mostrado eficientes e destaca que talvez esse insucesso de manejo se deva ao fato da comunidade
científica desconhecer, até poucos anos atrás, que o declínio da goiabeira não é causado simplesmente
pelo parasitismo de M. enterolobii sobre as plantas, mas que se trata uma doença complexa na qual

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o parasitismo desse nematoide predispõe a planta à podridão radicular causada pelo fungo Fusarium
solani (GOMES et al., 2008; AMORIM et al., 2011).

Esse novo conhecimento muda o foco do manejo, pois a partir dessa descoberta o alvo passa
a ser não apenas o nematoide, mas também o fungo. Isso ressalta a importância de se estudar a
eficiência do manejo não apenas contra M. enterolobii, mas também contra F. solani (CRUZ, 2014).

2.4 Controle químico

As doenças de plantas sempre foram motivo de grande preocupação em todo o mundo por
reduzirem a produção de alimentos. Inúmeras culturas dependem do controle químico para que
sua produtividade e qualidade sejam mantidas. Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas
para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que o controle químico, principalmente com o uso
de fungicidas, é importante e imprescindível para a produção mundial de alimentos, pois, além da
função de manutenção do potencial produtivo das culturas também contribuem para a germinação e
o vigor das sementes e para o prolongamento de vida dos frutos em pós-colheita (JESUS JUNIOR;
ZAMBOLIM, 2007).

Poucos são os defensivos agrícolas registrados para a cultura da goiabeira, tanto inseticidas
quanto fungicidas e nematicidas. Em contrapartida há uma grande quantidade de doenças e pragas
que atingem a cultura. Isso reforça a necessidade de se buscar novas moléculas, como os triazóis e o
princípio ativo Fluensulfone com ação nematicida (PHILLION et al., 1999).

2.4.1 Triazóis

Os triazóis são anéis de cinco membros contendo três átomos de nitrogênio. Existem dois
tipos de anéis triazólicos: os 1,2,3-triazóis e os 1,2,4-triazóis (Figura 3).

Figura 3. Estrutura básica do triazol 1,2,3-triazol e 1,2,4-triazol. Fonte: Bortolotto, (2009).

Estes compostos são de origem sintética e não há indicações de que estes heterocíclicos
possam ser encontrados na natureza. Os triazóis são fungicidas orgânicos, na maioria de ação
sistêmica acropetal, formados pela adição de diferentes radicais à sua molécula. Apresentam elevada
fugitoxidade, rápida penetração e translocação nos tecidos vegetais (ZAMBOLIM, 2008b).

Os triazóis mais modernos atuam na inibição da biossíntese do ergosterol, que é o principal

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lipídio da membrana plasmática de fungos, cujo precursor é o lanosterol (Figura 4).

Figura 4. Fórmula estrutural das moléculas de lanosterol e ergosterol. Fonte: ZAMBOLIM, 2008b.

A ausência desta camada de proteção celular dos fungos, leva ao colapso da célula fúngica
(micélio) e à interrupção do crescimento micelial (corpo fúngico). Com a inibição da biossíntese
do ergosterol, o funcionamento da enzima demetilase a nível do carbono 14 (C14) é interrompida
totalmente, não havendo a síntese de ergosterol (ZAMBOLIM, 2008b).

Deste modo, as células fúngicas, ao entrarem em contato com fungicidas do grupo dos
triazóis, promovem o acúmulo de esteróis como o 4,4-dimetil e o 4α-metil, ambos com radical
1,4α-metil, promovendo a inativação do processo de demetilação do lanosterol até compostos
intermediários, precursores do ergosterol. Esse processo deve-se à ocupação pelo fungicida de sítios
ativos destinados à ligação da enzima 14α-demetilase ao citocromo P-450, catalizador da reação de
oxidação de 1,4α-metil até 1,4α-hidroximetil, primeiro passo no processo de demetilação (Figura 5)
(RICHARDSON; WARNOCK, 1993; ZAMBOLIM, 2008b).

DEMETILAÇÃO

Figura 5. Modelo esquemático da demetilação do C-14 no ciclo do ergosterol a partir da molécula de lanoste-
rol. Fonte: ZAMBOLIM, 2008b.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo I 12


Portanto, na ausência dos esteróis ocorre a desorganização da estrutura celular, ocasionando o
rompimento da membrana e o extravasamento de solutos iônicos. Com isso, há prejuízo na captação
dos nutrientes, o que se traduz na inibição do crescimento fúngico, originando alterações morfológicas
que resultam em necrose e morte celular (ZAMBOLIM, 2008b; RICHARDSON; WARNOCK, 2012).

Correia (2014), avaliaram a atividade fungicida de novos triazóis derivados do glicerol, sobre
o crescimento micelial e número de esporos de F. solani. Para isso, foram sintetizadas dezessete novos
triazóis (T1 a T17) pertencentes ao grupo químico dos triazóis. Os testes foram realizados empregando-
se as concentrações de 1, 10, 100, 500 e 1.000 ppm. O triazol T12 a 1000 ppm mostrou-se como o
mais promissor por inibir totalmente o crescimento micelial, assim como eliminar completamente
os esporos de Fusarium solani. Vale ainda destacar o efeito de outros triazóis nas duas maiores
concentrações que também apresentaram efeito satisfatório em ambas as características avaliadas,
são eles: T9, T10, T11, T12, T14, T15, T16 e T17, pois demonstraram possuir efeito fungistático para
F. solani.

2.4.2 Fluensulfone + Controle biológico

O Fluensulfone, ou MCW-2, (5-cloro-2- (3,4,4-trifluorobut-3-f enilsulfonil) -1,3-tiazole) é um


membro do grupo tioéter fluoroalquilo. Esse ingrediente ativo tem ação nematicida, além da baixa
toxicidade para os organismos não-alvo (PHILLION et al., 2009).

Alguns autores já demonstraram que o Fluensulfone tem efeito sobre Meloidogyne javanica
(KEARN et al., 2014), M. incognita e M. arenaria (CSINOS et al., 2010), Pratylenchus jaehni e
Tylenchulus semipenetrans em citros (SILVA; BENETTI, 2015) e P. zeae em cana-de-açúcar
(NOVARETTI et al., 2015).

Entre os agentes bio-controladores de nematoides de plantas, os fungos e as bactérias são os


organismos que apresentam o maior número de características desejáveis (FREITAS et al., 2009;
ALVES; FREITAS, 2014; ALVES; SOUZA, 2015).

Os fungos mais utilizados em pesquisas científicas, considerados bio-controladores de


fitonematoides são Trichoderma sp. e Pochonia sp. (ALVES; FREITAS, 2014). O primeiro compreende
fungos de vida livre, que se reproduzem assexuadamente, presentes com mais frequência em solos
de regiões de clima temperado e tropical (EAPEN et al., 2005; FERREIRA et al., 2008). O segundo
é um parasita facultativo de ovos e fêmeas de Meloidogyne spp. e de Heterodera avenae amplamente
distribuído em todo o mundo (KERRY et al., 1982). Uma das vantagens desses antagonistas é a
produção de clamidósporos, estruturas de resistência e sobrevivência preferencialmente utilizadas
como inóculo, podendo ser adicionados ao solo em suspensão aquosa sem fonte adicional de nutrientes
(GIARETTA et al., 2011). 

De maneira geral, o modo de ação de Trichoderma spp. é por parasitismo, antibiose e


competição, sendo que esses organismos atuam na proteção preventiva das plantas, na restauração
da comunidade microbiana e na recuperação da estrutura de solos debilitados pela prática agrícola
intensiva. Além disso, o antagonista libera metabólitos secundários que estimulam o crescimento das

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo I 13


plantas (SPIEGEL; CHET, 1998; EAPEN et al., 2005).

Segundo Baños et al. (2010), a ação de agentes biológicos reduz gradativamente a população
de Meloidogyne spp. com o passar do tempo. Borges et al. (2013), concluíram que Trichoderma sp.,
aplicado ao solo, exerceu efeito significativo na redução populacional de Meloidogyne sp., impedindo
que juvenis do nematoide penetrassem nas radicelas e fêmeas estabelecessem a formação de células
gigantes em raízes de feijoeiro.

São diversos os produtos biológicos já registrados e comercializados em diversas partes


do mundo, entre os quais, Antagon WP® (T. harzianum DSM 14944), Binab® (T. harzianum e T.
polysporum), Bio Fit® (T. harzianum e T. virens), Bioderma® H (T. harzianum), BioFungo® WP, (T.
harzianum ATCC 52443) e Quality WG® (Trichoderma sp.) (BETTIOL et al., 2012).

No Brasil, merece destaque o produto Trichodermil® (T. harzianum - cepas ESALQ-1306 e


ESALQ-1303), embora existam outros bionematicidas registrados e/ou comercializados à base de
Trichoderma spp. como, Quality WG® (T. asperellum), Biotrich® (Trichoderma sp.), TrichodermaxEC
(T. harzianum, Trichodel® (Trichoderma sp.), Trichonat EF® (Trichoderma sp.), Trichoplus JCO®
(Mix de isolados de Trichoderma spp. e T. harzianum).

O fungo P. chlamydosporia também é considerado promissor no controle biológico por


parasitar ovos e fêmeas de Meloidogyne spp. (EAPEN et al., 2008). Uma característica de extrema
importância desse fungo é sua inocuidade para os seres humanos e animais, não prejudicando o meio
ambiente e outros organismos benéficos presentes no solo, além disso, é facilmente cultivado “in
vitro” (ZINGER, 2015).

No Brasil, existem dois produtos à base de P. chlamydosporia, são eles: Rizotec® e Rizomax®
(BETTIOL et al., 2014). Esses produtos são indicados, principalmente, para culturas de característica
perene, a exemplo da cultura do café, acerola, laranja, uva, banana, goiaba, entre outras.

Alves (2016) conduziram experimentos ‘in vitro’ para: a) selecionar a dosagem de Fluensulfone
capaz de causar mortalidade de Meloidogyne enterolobii; b) verificar o efeito da Fluensulfone sobre
Pochonia chlamydosporia e Trichoderma harzianum e c) avaliar o efeito de P. chlamydosporia e
T. harzianum em doses puras e em associação com Fluensulfone na mortalidade de M. enterolobii.
A autora relatou que o Fluensulfone na dose de 2L/ha não teve efeito sobre os fungos. As doses
associadas e puras dos tratamentos tiveram efeito significativo na mortalidade do nematoide. Um
experimento de campo também foi realizado em um pomar de goiaba com ocorrência de declínio. Os
seguintes tratamentos foram testados: Fluensulfone (2L/ha); P. chlamydosporia; P. chlamydosporia
+ Fluensulfone; T. harzianum; T. harzianum + Fluensulfone; Carbofurano e a testemunha. Todos os
tratamentos reduziram a população de M.enterolobii, uma vez que a eficiência relativa foi superior
a 80%. O fluensulfone utilizado isoladamente ou em combinação com nematicidas biológicos
proporcionou aumento na produtividade de goiaba.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo I 14


2.5. Controle genético

O uso de porta-enxertos resistentes pode ser um método promissor para controlar M. enterolobii,
desde que seja compatível com genótipos de goiabeira. Essa compatibilidade deve ser avaliada
em relação ao sucesso do enxerto e, posteriormente, deve-se considerar também o crescimento e
desenvolvimento dessas plantas no campo (ROBAINAI et al., 2015).

O híbrido resultante do cruzamento entre P. guajava x P. guineense resultou na ausência ou


galhas reduzidas no sistema radicular e fator de reprodução do nematoide próximo a zero cinco anos
após o transplantio em áreas com ocorrência natural do declínio da goiabeira. A compatibilidade
vegetativa como porta-enxerto de ‘Paluma’ e ‘Pedro Sato‘ permitiu a produção de 40 t/ha de frutos
na terceira colheita comparada com as 4,5 t/ha de frutos de ‘Paluma’ cultivada sem o porta-enxerto
híbrido (SANTOS et al., 2016). Segundo os autores, essa é a melhor opção para enfrentar a crise
provocada pela devastação dos pomares de goiabeira e que esforços deverão ser efetuados para a sua
disponibilização aos produtores, considerando os aspectos exigidos pela legislação brasileira.

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Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo I 17


CAPÍTULO II
INCIDÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE
PATOLOGIAS DE SOJA (GLYCINE MAX (L.) MERRILL)
EM PARAGOMINAS-PA

Marcela Oliveira Mattos estimador de densidade de Kernel, presente na


Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) extensão Spatial Analyst do software ArcGis
Gustavo Antonio Ruffeil Alves (versão10.2). A partir da densidade de Kernel,
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) foram criados nove mapas, que correspondem às
regiões de concentração da ocorrência das três
Luciana da Silva Borges doenças nas três safras estudadas. Ao analisar
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) a distribuição da antracnose nas três safras
Luana Keslley Nascimento Casais percebe-se que a mesma se encontra amplamente
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) distribuída e maior concentrada nas regiões
próximas às rodovias e a cidade. Ao observar
Núbia de Fátima Alves dos Santos a distribuição da soja louca II, nota-se elevado
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) grau de ocorrência da doença no município,
Marcio Roberto da Silva Melo levemente menor ao visto com a antracnose, e
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) esta mantém-se próxima às rodovias e percebe-
se também que esta é situada predominantemente
Luis de Souza Freitas
em propriedades vizinhas, assim como a anterior.
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Em relação à mela, comparando-se com as demais
Jade Cristynne Franco Bezerra doenças estudadas, a mesma ocorreu de forma
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) mais reduzida no município, mas seguiu o padrão
de localização. De forma geral, a maior ou menor
ocorrência, assim como o modo como as três
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo patologias estudadas encontram-se distribuídas, é
verificar a incidência e distribuição espacial da dependente de vários fatores, não sendo possível
ocorrência da antracnose, soja louca II e mela na atribuir apenas a uma causa.
cultura da soja nas safras 2014/2015, 2015/2016
e 2016/2017 em Paragominas – PA. O estudo
PALAVRAS-CHAVE: Densidade.
foi realizado no município de Paragominas,
Fitopatógenos. Incidência. Mapa de Kernel.
localizado na mesorregião sudeste do estado do
Pará. Os dados utilizados neste trabalho foram
fornecidos pela Agência de Defesa Agropecuária ABSTRACT: The objective of this work was
do Estado do Pará e são resultantes do programa to verify the incidence and spatial distribution
de defesa e inspeções da soja realizadas por fiscais of the occurrence of anthracnose, mad
agropecuários nos plantios da cultura no município. soybean II and mela in the soybean crop in the
Neste estudo, foram selecionadas três doenças de 2014/2015, 2015/2016 and 2016/2017 seasons
importância econômica que constam na ficha de in Paragominas - PA. The study was carried
inspeção do órgão de defesa, são elas: antracnose out in the municipality of Paragominas, located
(Colletotrichum truncatum), mela (Rhizoctonia in the southeastern mesoregion of the state of
solani) e soja louca II (Aphelenchoides besseyi). Pará. The data used in this study were provided
Para o agrupamento dos dados foi utilizado o by the Agricultural Defense Agency of the State

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 18


of Pará, result of a soybean defense and inspection program conducted by agricultural inspectors
in crops in the municipality. In this study, three diseases of economic importance were selected.
These are: anthracnose (Colletotrichum truncatum), mela (Rhizoctonia solani) and mad soybean II
(Aphelenchoides besseyi). For the data grouping, we used the Kernel density estimator, present in the
Spatial Analyst extension of ArcGis software (version 10.2). From the Kernel density, nine maps were
created, which correspond to the concentration regions of the occurrence of the three diseases in the
three harvests studied. When analyzing the distribution of the anthracnose in the three harvests it is
perceived that it is widely distributed and concentrated in the regions near the highways and the city.
When observing the distribution of mad soybean II, a high degree of disease occurrence is observed
in the municipality, slightly lower than that seen with the anthracnose, and this one stays close to the
highways and it is also perceived that this is located predominantly in neighboring properties, as well
as the previous one. In relation to mela, when compared to the other diseases studied, but followed
the pattern of localization. In general, the greater or lesser occurrence, as well as the way the three
pathologies studied are distributed, is dependent on several factors, and it is not possible to attribute
only one cause.

KEYWORDS: Density. Phytopathogens. Incidence. Map of Kernel.

1. INTRODUÇÃO

A soja (Glycine max (L.) Merrill) é uma commodity agrícola de importância comercial
extremamente relevante. Esta é uma excelente fonte de proteína e óleo, podendo ser cultivada em
quase todas as regiões do mundo, justificando investimentos em tecnologias que visem o aumento da
produção e a redução dos fatores adversos à cultura (GEHLEN, 2001).

Entre os principais fatores que limitam a obtenção de altos rendimentos da agricultura estão
as pragas, seres nocivos aos vegetais, nos quais se incluem os agentes causais de doenças (fungos,
bactérias, vírus e nematoides), insetos e ácaros e plantas invasoras (SINCLAIR; HARTMAN, 2008).

Estima-se que doenças, insetos e ervas daninhas em conjunto interferem anualmente na


produção entre 31 e 42% de todas as culturas produzidas no mundo. Tem sido estimado que a média
de 36,5% das perdas totais, 14,1% são causados por doenças, 10,2% por insetos, e 12,2% por ervas
daninhas. Considerando-se que 14,1% das lavouras estão perdidas para doenças de plantas por si só,
a perda total da safra mundial anual de doenças de plantas é cerca de US$ 220 bilhões (AGRIOS,
2005).

Mais de 40 doenças causadas por fungos, bactérias, nematoides e vírus já foram identificadas
no Brasil. Esse número continua aumentando com a expansão da soja para novas áreas, como
consequência da monocultura e com a introdução de novas doenças (HENNING et al., 2014). As
doenças geralmente são mais severas sob as condições tropicais e subtropicais, em que a temperatura
é mais elevada e as chuvas são normalmente mais intensas e frequentes. A importância econômica
de cada doença varia de ano para ano e de região para região, dependendo das condições climáticas
de cada safra (YORINORI, 1997). Dentre os grandes produtores mundiais, o Brasil apresenta a
maior capacidade de multiplicar a atual produção, tanto pelo aumento da produtividade, quanto pelo
potencial de expansão da área cultivada (VENCATO, 2010).

Tendo em vista a importância econômica da cultura e dos prejuízos causados por

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 19


fitopatógenos, estudos voltados ao levantamento de doenças de relevância econômica para cada
região são fundamentais para o desenvolvimento do agronegócio da soja, servindo como base para
estudos posteriores envolvendo a seleção de cultivares resistente, mapeamento de áreas infestadas e
viabilização de métodos de controle adequados a cada área.

Este trabalho teve como objetivo verificar a incidência e distribuição espacial da ocorrência
da antracnose, soja louca II e mela na cultura da soja nas safras 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017
em Paragominas – PA.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Caracterizações da área

O estudo foi realizado no município de Paragominas, localizado na mesorregião sudeste do


estado do Pará entre as longitudes 49° 30’ W, 46° 18’ W e latitudes 02° 30’ S, 03° 48’ S, a 320 km de
Belém (Figura 1), com uma área de 19.342,254 km² (IBGE, 2008).

Figura 1 – Mapa de localização do município de Paragominas – PA onde foi realizado o estudo.


Fonte: Autores.

Os solos predominantes pertencem ao grande grupo Latossolo Amarelo, que são solos
profundos, bem drenados e quimicamente pobres, com textura variando de média a muito argilosa
(WATRIN; ROCHA, 1991).

O clima é do tipo mesotérmico e úmido. A temperatura média anual é de 25º C e a umidade


relativa do ar gira em torno de 85%. O regime pluviométrico é de 2.250 mm a 2.500 mm anuais, mas
o período de dezembro a junho concentra o maior volume (80%) de precipitação: 1.700 mm a 1.800
mm/ano (PARÁ, 2008).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 20


2.2 Dados utilizados

Os dados utilizados neste trabalho foram fornecidos pela Agência de Defesa Agropecuária do
Estado do Pará (ADEPARÁ) e são resultantes do programa de defesa e inspeções da soja realizadas
por fiscais agropecuários nos plantios da cultura no município.

As inspeções são realizadas em todas as propriedades do município que possuem plantios de


soja. São analisadas plantas num raio de 50 metros, em seguida são obtidas as coordenadas geográficas,
um ponto por variedade em cada plantio, com auxílio de GPS.

Neste estudo, foram selecionadas três doenças de importância econômica que constam na ficha
de inspeção do órgão de defesa, são elas: antracnose (Colletotrichum truncatum), mela (Rhizoctonia
solani) e soja louca II (Aphelenchoides besseyi).

As análises correspondem às safras de 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017. Foram selecionadas


as propriedades que se repetem ao longo dos três anos. O número de propriedades que serão utilizadas
são 152 em cada safra.

2.3 Metodologia utilizada na confecção dos mapas

Para o agrupamento dos dados foi utilizado o estimador de densidade de Kernel, assim como
descrito por Bonat e Dallazuana (2007), presente na extensão Spatial Analyst do software ArcGis
(versão 10.2). O estimador de densidade de Kernel desenha uma vizinhança circular ao redor de cada
ponto da amostra, correspondendo ao raio de influência, e então é aplicada uma função matemática
de 1, na posição do ponto, a 0, na fronteira da vizinhança. O valor para a célula é a soma dos valores
Kernel sobrepostos, e divididos pela área de cada raio de pesquisa (SILVERMAN, 1986).

A partir da densidade de Kernel, foram criados nove mapas, que correspondem às regiões de
concentração da ocorrência das três doenças nas três safras estudadas. As ocorrências foram classificadas
com níveis de densidade que variam de acordo com a cor e tonalidade sendo representados: vermelho
indica densidade muito alta; laranja densidade alta; amarela densidade média e azul significa a não
ocorrência.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O grau de incidência das doenças estudadas nas três safras é demonstrado na (Tabela 1). A
doença de maior incidência registrada nos três anos foi a antracnose, seguido de soja louca II e, em
menor quantidade, a mela.

Tabela 1: Incidência (%) de patologias de soja em Paragominas-PA.


Ano Safra
Doença
2014/2015 2015/2016 2016/2017
Antracnose 73 62 66
Soja louca II 68 55 63
Mela 15 16 12
Fonte: Os autores.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 21


Ao analisar o mapa de densidade da ocorrência da antracnose na safra 2014/2015 (Figura
2A), percebe-se que a extensão “muito alta” compreendida na cor vermelha concentrou-se na região
próxima às rodovias, uma vez que o número de propriedades é maior às margens da mesma. No
entanto, nas extensões alta e média, representadas pelas cores laranja e amarela, ficaram distribuídas
por todo o município, sem que houvesse elevado agrupamento de pontos.

Quando se observa o segundo mapa (Figura 2B), que compreende à safra 2015/2016, nota-se
elevação na quantidade de casos correspondentes à extensão vermelha e redução da quantidade de
casos de média e alta extensão. O mapa correspondente à safra 2016/2017 (Figura 2C), por sua vez,
manteve padrão de distribuição semelhante ao primeiro (Figura 2A). É possível verificar ainda que
em ambos os três anos esta concentração não diferiu representativamente entre as safras, mantendo o
padrão de distribuição e número de ocorrência da doença elevado.

Figura 2 – Mapa de densidade da antracnose nas três safras em Paragominas-PA.

A B

Fonte: Os autores.

Ao realizar a análise de distribuição da doença nas três safras percebe-se que a mesma se
encontra amplamente distribuída no município. Essa elevada incidência da antracnose pode estar
relacionada a vários fatores tanto bióticos quanto abióticos. Meyer e Klepker (2007), afirmaram
que as maiores reduções de produtividade da soja atribuídas à antracnose têm ocorrido quando a
cultura passa por algumas situações de estresse, provocando debilidades fisiológicas nas plantas e
favorecendo a expressão da doença. Segundos os mesmos autores os fatores de estresse mais comuns
são excesso ou falta de chuvas, baixa fertilidade de solo, ocorrência de doenças radiculares e ataque

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 22


de pragas, principalmente percevejos sugadores.

Basseto et al. (2007) afirmaram que, de forma geral, o fornecimento equilibrado de potássio
à planta, diminui a incidência de doenças em razão do aumento da resistência à penetração e
desenvolvimento de alguns patógenos.

Para Agrios (2005) a frequência e a intensidade da antracnose são significativamente


influenciadas pelo grau de desvio de cada condição ambiental do ponto no qual o progresso da doença
é máximo. Segundo Chongo e Bernier (2000), a temperatura, a duração do período de molhamento e
a concentração de inóculo afetam a infecção e o desenvolvimento da antracnose em várias culturas.

Outro fator que exerce influência sobre a incidência desta patologia é as condições desfavoráveis
à germinação e emergência da semente, especialmente a deficiência hídrica, tornam mais lento esse
processo, expondo esta por mais tempo a fungos do solo, que podem causar a sua deterioração ou
a morte da plântula (EMBRAPA SOJA, 2008). Segundo Sousa (2016), em estudos sobre sementes
de soja, foi observado um aumento considerável na ocorrência da doença quando as sementes eram
oriundas de lavouras que sofreram atraso na colheita, devido a chuvas, apresentando cerca de 50%
de infecção.

Além dos fatores já citados, a alta intensidade da doença nas lavouras do município pode
estar atribuída ao excesso de população de plantas, ao cultivo contínuo da soja, estreitamento nas
entrelinhas (35-43 cm), uso de sementes infectadas, infestação e dano por percevejo (YORINORI,
1997).

Analisando-se a distribuição da soja louca II na safra 2014/2015 (Figura 3A), observa- se um


elevado grau de ocorrência da doença no município, levemente menor ao visto com a antracnose.
Quanto a extensão muito alta, em vermelho, mantém-se próxima às rodovias e destaca-se também que
esta é situada predominantemente em propriedades vizinhas, enquanto que as extensões alta e média,
estão localizadas em pontos distantes, com maior ocorrência da extensão média, na cor amarela.

A Figura 3B exibe a ocorrência da Soja Louca II na safra 2015/2016, a mesma apresentou


leve aumento da faixa vermelha e laranja em relação à safra anterior. Em relação à safra 2016/2017
(Figura 3C), nota-se redução nas extensões alta e média quando comparado as duas safras anteriores.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 23


Figura 3 – Mapa de densidade da Soja Louca II nas três safras em Paragominas-PA.

A B

Fonte: Os autores.

Devido ao possível agente causal da doença ter sido descoberto recentemente e a necessidade de
mais estudos para corroborar os resultados, têm-se ainda poucas informações a respeito de condições
favoráveis e desfavoráveis à sua ocorrência, bem como falta informações sobre medidas para a
prevenção e controle da mesma. No entanto, Souza (2016), falando sobre nematóides, afirmou que
seu deslocamento no solo é bastante limitado e, portanto, sua disseminação é altamente dependente
do homem, por meio de material contaminado, trânsito de máquinas de áreas afetadas para áreas
sadias, etc.

É possível inferir que o maior fluxo de pessoas, a proximidade das propriedades, o trânsito de
carros e maquinários nas regiões de maior concentração da doença pode ter influenciado na propagação
do patógeno. Além disso, o compartilhamento de máquinas e implementos agrícolas pelos produtores,
sem a devida limpeza, é também meio de disseminação de pragas e doenças, assim como descrito
por Lee et al. (2003) avaliando as possibilidades de dispersão de nematóides em campos de produção
de soja e algodão, em que verificaram a presença elevada do patógeno em partículas de solo aderido
às partes dos implementos e pneus do trator. Somado a isso, a proximidade entre as propriedades, a
falta de barreiras entre as mesmas, as enxurradas e as tempestades de poeira, que passam por áreas
infestadas e podem carregar os fitonematóides, exercem influência sobre a sua dispersão (SILVA,
2005).

A concentração de Mela na safra 2014/2015 é demonstrada na Figura 4A. Percebe-se que, em

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 24


comparação às outras doenças estudadas, a mesma ocorreu de forma mais reduzida no município,
mas seguiu o padrão de localização, nas duas primeiras safras, das doenças analisadas anteriormente,
que compreende às propriedades próximas às rodovias e ao centro da cidade.

Figura 4 – Mapa de densidade da Mela nas três safras em Paragominas-PA.

A B

Fonte: Os autores.

Ao comparar a ocorrência da mela na safra 2015/2016 (Figura 4B) com a safra anterior, nota-
se que a mesma se concentrou predominantemente nas propriedades próximas às rodovias e a cidade.
Compreendendo apenas a extensão vermelha, assim como visto no mapa anterior. A doença na safra
2016/2017 (Figura 4C), diferiu visivelmente das demais concentrações de ocorrência da doença,
estando, a mesma, distribuída por todo o município, sem que houvesse algum padrão, demonstrando
que a ocorrência ou não de uma doença não está ligada a um número limitado de fatores, mas a um
sistema complexo de interações entre esses vários fatores.

Condição de clima chuvoso, a frequência e distribuição das chuvas durante o ciclo da


cultura são fatores determinantes para o desenvolvimento da doença (YANG et al., 1990). Apesar
das condições aparentemente favoráveis à sua ocorrência, o estudo mostra que a mesma não está
amplamente distribuída, ou as condições ambientais na maioria das propriedades não permitiu que a
doença se expressasse.

Segundo dados sobre pluviosidade coletados em estação localizada em Paragominas no período


correspondente aos meses de janeiro a maio durante as safras 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017,
registrou-se pluviosidade de 1230,4 mm, 1037,8 mm e 1905,4 mm, respectivamente (EMBRAPA,
2017). A maior pluviosidade registrada coincide com o ano em que a doença apresentou distribuição
mais descentralizada. No entanto, não é possível atribuir esse comportamento espacial da mela ao

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 25


maior índice pluviométrico, uma vez que, a estação não representa o município todo e também não
foi realizado nenhum estudo, mas pode ter sido um dos fatores responsáveis já que a doença se
desenvolve melhor em condições de alta umidade.

De forma geral, a maior ou menor ocorrência, assim como o modo como as três patologias
estudadas encontram-se distribuídas, é dependente de vários fatores, não sendo possível atribuir
apenas a uma causa. Desse modo, estudos voltados para a identificação das causas em campo, bem
como, em um espaço temporal maior é de suma importância para que se possa trabalhar em medidas
integradas de prevenção e controle.

5. CONCLUSÃO

As propriedades com maior concentração das doenças foram as que se encontram próximas às
rodovias e a cidade. A antracnose mostrou-se amplamente distribuída no município, seguido por soja
louca II. A mela, em concentração menor, seguiu o mesmo padrão de distribuição nas duas primeiras
safras, no entanto, no último ano estudado apresentou-se dispersa. Contudo, ainda são escassas
literaturas sobre a epidemiologia das doenças de soja com ocorrência na região. Sendo assim, são
necessários mais estudos a respeito da interação hospedeiro x patógeno x ambiente x homem, para
que possamos determinar os fatores que influenciam na distribuição espacial das doenças.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 26


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Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo II 27


CAPÍTULO III

REGULADORES VEGETAIS UTILIZADOS NA


PROPAGAÇÃO POR ESTAQUIA

Patricia Alvarez Cabanez endógeno adequado, especialmente entre


UFES auxinas, giberelinas e citocininas, equilibrando os
promotores e inibidores no processo de iniciação
Ruimário Inácio Coelho radicular. Essa concentração é variável de acordo
UFES
com a espécie vegetal e com a concentração
José Augusto Teixeira do Amaral presente no tecido vegetal, sendo que uma
UFES concentração acima do ideal pode ocasionar
inibição do enraizamento. Para a aplicação de
auxinas o tempo de imersão e a concentração
dependem do tipo de estaca e, assim, estacas
RESUMO: Na estaquia ocorre indução lenhosas e semilenhosas permanecem na solução
de enraizamento adventício em segmentos por um maior tempo comparado às estacas
destacados da planta mãe que, em condições herbáceas.
favoráveis, origina uma nova planta. A estaquia
como método de propagação associada a uma PALAVRAS-CHAVE: auxina, estaca,
ou mais técnicas auxiliares, como a nebulização propagação assexuada.
intermitente, aplicação de fitorreguladores,
anelamento, estiolamento, dobra dos ramos, entre
outras, pode proporcionar melhores resultados e ABSTRACT: In the cuttings there is induction
tornar viável a propagação de muitas espécies. of adventitious rooting in detached segments
Através da estaquia é possível a obtenção de muitas of the mother plant which, under favorable
plantas a partir de uma única planta. Os fatores conditions, gives rise to a new plant. Cutting as
associados a rizogênese adventícia em estacas a method of propagation associated with one or
de espécies vegetais são de origem endógenas more auxiliary techniques, such as intermittent
e exógenas. Os principais reguladores vegetais misting, application of phytoregulators, girdling,
usados para promover o enraizamento de estacas crimping, bending, among others, can provide
são as auxinas. As auxinas são fitormônios muito better results and make the propagation of many
importantes para o enraizamento, possivelmente species viable. Through cutting is possible to
por estimularem a síntese de etileno, favorecendo obtain many plants from a single plant. The
assim a emissão de raízes. Essas substâncias factors associated with adventitious rhizogenesis
são utilizadas para aumentar a porcentagem de in cuttings of plant species are endogenous and
enraizamento, acelerar a formação das raízes, exogenous. The main plant regulators used to
aumentar o número e qualidade das raízes e promote cut rooting are auxins. Auxins are very
uniformizar o enraizamento. A citocinina é usada important phytohormones for rooting, possibly
para estimular a formação de gemas adventícias because they stimulate ethylene synthesis, thus
e atua como reguladora da divisão celular e da favoring the emission of roots. These substances
diferenciação de certos tecidos de plantas. Outros are used to increase rooting percentage,
reguladores vegetais e compostos auxiliares accelerate root formation, increase root number
podem influenciar a organogênese. Para ocorrer and quality, and even out rooting. Cytokine is
o enraizamento deve-se ter um balanço hormonal used to stimulate the formation of adventitious

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 28


buds and acts as a regulator of cell division and differentiation of certain plant tissues. Other plant
regulators and auxiliary compounds may influence organogenesis. Rooting must have an appropriate
endogenous hormonal balance, especially between auxins, gibberellins and cytokines, balancing the
promoters and inhibitors in the root initiation process. This concentration varies according to the plant
species and the concentration present in the plant tissue, and a higher than ideal concentration may
cause rooting inhibition. For auxin application the immersion time and concentration depend on the
type of cuttings and thus woody and semi-cuttings remain in the solution for a longer time compared
to herbaceous cuttings.

KEYWORDS: auxin, stake, asexual spread.

1. INTRODUÇÃO

Na estaquia ocorre indução de enraizamento adventício em segmentos destacados da planta


mãe que, em condições favoráveis, origina uma nova planta (FACHINELLO et al., 2005). As estacas
utilizadas na propagação assexuada podem ser obtidas de caules, caules modificados (rizomas,
tubérculos e bulbos), folhas ou raízes (PEREIRA, 2003).

A estaquia como método de propagação associada a uma ou mais técnicas auxiliares, como
a nebulização intermitente, aplicação de fitorreguladores, anelamento, estiolamento, dobra dos
ramos, entre outras, pode proporcionar melhores resultados e tornar viável a propagação de muitas
espécies. Através da estaquia é possível a obtenção de muitas plantas a partir de uma única planta
(FACHINELLO et al., 2005).

Os fatores associados a rizogênese adventícia em estacas de espécies vegetais são de origem


endógenas e exógenas; portanto, a indução e formação de raízes adventícias apresentam grande
variabilidade entre as espécies, ocorrendo com grande facilidade em algumas e com muita dificuldades
em outras (DANNER et al., 2006; HARTMANN et al., 2011).

As auxinas são os principais reguladores vegetais usados para promover o enraizamento,


acelerar a formação das raízes, aumentar o número e qualidade das raízes e uniformizar o enraizamento
em estacas empregadas na propagação das plantas, sendo que estacas de algumas espécies só emitem
raízes adventícias quando submetidas ao tratamento com reguladores vegetais (OLIVEIRA et al.,
2001). A resposta ao tratamento com reguladores vegetais está associada a diversos fatores que
podem variar com a espécie, tipos de estaca, época de obtenção das estacas, concentração e tempo de
tratamento, entre outros (HARTMANN et al., 1990; PEREIRA, 2003).

2. FORMAÇÃO DE CALOS E RAÍZES ADVENTÍCIAS

A estaca apresenta uma ou mais gemas e uma porção de tecido diferenciado sem a presença de
raízes. A lesão do tecido de células do xilema e do floema na base da estaca oriunda do traumatismo
ocorrido pelo corte será seguida da cicatrização, que consistirá na formação de uma capa de suberina,
promovendo a redução da desidratação na área lesionada. Geralmente, nessa área ocorre a formação
do calo (FACHINELLO et al., 2005), constituído por uma massa irregular de células parenquimáticas
em vários estádios de lignificação através do processo de desdiferenciação, fase que antecede a

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo III 29


formação das raízes (HARTMANN et al., 1990).

Os calos surgem devido à atividade do câmbio e do felogênio em que as células do câmbio


vascular proliferam e se diferenciam originando uma nova raiz (MESSINA; TESTOLINI, 1984).
Normalmente, a formação do calo ocorre pela divisão das células do cambio e do floema, mas pode
ser originado também das células do periciclo, córtex e medula (RODRIGUES; ONO, 1996), e a
sua formação representa o início do processo da atividade morfogenética do tecido. As células que
se tornam meristemáticas dividem-se formando os primórdios radiculares e, posteriormente, células
adjacentes ao câmbio e ao floema iniciam a formação de raízes adventícias. Possivelmente, estacas
com formação de calos respondem mais facilmente à aplicação de fitorreguladores para propiciar o
enraizamento do que estacas sem formação de calo (FACHINELLO et al., 2005).

A formação de raízes adventícias é um processo de desenvolvimento marcado por uma


sequência de eventos histológicos. Cada estádio de desenvolvimento possui diferentes requerimentos
por substâncias de crescimento, como auxinas, citocininas e ácido giberélico (HARTMANN et al.,
2011). A formação das raízes adventícias ocorre em duas fases, geralmente em sequência: iniciação,
caracterizada pela divisão celular, e diferenciação das células do primórdio radicular, resultando no
crescimento da raiz. O local de emissão das raízes adventícias é muito variável de acordo com a
espécie e tipo de estaca (FACHINELLO et al., 2005).

O desenvolvimento das plantas, incluindo a indução e crescimento das raízes, naturalmente


é controlado por hormônios vegetais (substâncias orgânicas naturais), sintetizados em pequenas
concentrações e que agem em diferentes locais nas plantas. Análogos dessas substâncias podem ser
produzidos artificialmente, recebendo a denominação de reguladores vegetais, como por exemplo
auxinas e citocininas encontradas no comércio (FRANKENBERGER; ARSHAD, 1995; TAIZ;
ZEIGER, 2013).

3. REGULADORES VEGETAIS

Os principais reguladores vegetais usados para promover o enraizamento de estacas são as


auxinas. As auxinas são fitormônios muito importantes para o enraizamento, possivelmente por
estimularem a síntese de etileno, favorecendo assim a emissão de raízes (NORBERTO et al., 2001).
Essa substância estimula as células do periciclo a se dividirem formando o primórdio radicial,
crescendo a raiz lateral através do córtex e da epiderme da raiz (TAIZ; ZEIGER, 2013). Assim, as
auxinas são utilizadas para aumentar a porcentagem de enraizamento, acelerar a formação das raízes,
aumentar o número e qualidade das raízes e uniformizar o enraizamento (OLIVEIRA et al., 2001).

A citocinina é usada para estimular a formação de gemas adventícias (HARTMANN et al., 2011)
e atua como reguladora da divisão celular e da diferenciação de certos tecidos de plantas, atuando no
aumento do tamanho do meristema apical da raiz, indicando que pode desempenhar papel importante
na regulação da proliferação de células iniciais e da vascularização da raiz (FRANKENBERGER;
ARSHAD, 1995; TAIZ; ZEIGER, 2013). Outros reguladores vegetais e compostos auxiliares podem
influenciar a organogênese, mas não consistentemente o bastante para merecer o uso comercial na
propagação por estaquia (HARTMANN et al., 2011).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo III 30


A auxina endógena ou exógena é indispensável para a iniciação de raízes adventícias em
segmentos caulinares (HAISSIG, 1972). É produzida no caule e armazenada nos cloroplastos e no
citoplasma das células (DAVIES, 1995). Após a aplicação da auxina nos segmentos do caule ocorre o
transporte polar que causa um rápido acúmulo da substância na porção basal e, após algum tempo, a
auxina acumulada nesse local poderá causar a formação de uma dilatação decorrente da multiplicação
de células (calo), formando novos centros meristemáticos ou ativando meristemas existentes, que
induzem a ativação do câmbio (HARTMANN et al., 2011).

Para ocorrer o enraizamento deve-se ter um balanço hormonal endógeno adequado,


especialmente entre auxinas, giberelinas e citocininas, equilibrando os promotores e inibidores no
processo de iniciação radicular. Essa concentração é variável de acordo com a espécie vegetal e com
a concentração presente no tecido vegetal (FACHINELLO et al., 2005; HARTMANN et al., 2011),
sendo que uma concentração acima do ideal pode ocasionar inibição do enraizamento (ALVARENGA;
CARVALHO, 1983).

As auxinas sintéticas mais utilizadas para a formação do sistema radicular são o ácido
indolacético (AIA), o ácido naftalenoacético (ANA) e o ácido indol-3-butírico (AIB). As auxinas
são sintetizadas nas gemas apicais e folhas novas, sendo translocadas para a base da planta por um
mecanismo de transporte polar. Os ápices radiculares também produzem auxinas mas não ocorre
acúmulo nas raízes devido ao alto teor de substâncias inativadoras de auxinas nessa parte da planta
(FACHINELLO et al., 2005).

O AIA é a auxina natural que ocorre nas plantas. Ela induz a atividade meristemática pela
diferenciação das células na região da endoderme e periciclo adjacente ao floema (GORTER, 1968;
THORPE; PATEL, 1984). O ANA é utilizado no enraizamento de estacas, sendo mais ativo e mais
fitotóxico que o AIB e o AIA (HARTMANN et al., 2011).

O AIB é uma das auxinas mais utilizadas no enraizamento de estacas. A concentração ótima
para o enraizamento é variável entre as espécies e concentrações acima do ideal pode promover efeito
inibitório do enraizamento (CARPENTER; CORNELL, 1992). O AIB apresenta uma degradação
mais lenta na planta comparado ao ANA, acelera o poder de cicatrização do corte, a emissão e
aumento do comprimento de raízes (THORPE; PATEL, 1984; SOUZA, 1995), é menos tóxico que
os demais reguladores de crescimento (HARTMANN et al., 2011), não é tóxico para a maioria das
plantas mesmo quando utilizado em altas concentrações, é bastante efetivo para um grande número
de espécies vegetais e relativamente estável, sendo pouco suscetível à ação dos sistemas de enzimas
de degradação de auxinas (PIRES; BIASI, 2003).

O uso de substâncias reguladoras do crescimento no enraizamento de estacas foi estudado


em diferentes espécies da família Myrtaceae e esses estudos demonstraram que há enraizamento
adequado utilizando-se diferentes concentrações de auxinas (NACHTIGAL; FACHINELLO, 1995;
SCARPARE FILHO et al., 1999; FRANZON, 2004; PEREIRA et al., 2005; COLOMBO et al., 2008;
LANA et al., 2008; LOPES, 2009; LATTUADA et al., 2011). Hartmann et al. (1990) afirma que pode-
se realizar a aplicação das auxinas em baixas ou em altas concentrações.

Para a aplicação de auxinas o tempo de imersão e a concentração dependem do tipo de estaca

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo III 31


e, assim, estacas lenhosas e semilenhosas permanecem na solução por um maior tempo comparado às
estacas herbáceas (PEREIRA, 2003).

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Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo III 33


CAPÍTULO IV

PROPAGAÇÃO VEGETATIVA DA JABUTICABEIRA


POR ESTACAS

Patricia Alvarez Cabanez


estacas, o potencial genético da espécie ou
UFES
genótipo, condições fisiológicas e nutricionais
da planta-matriz, presença de indutores e
Ruimário Inácio Coelho inibidores de enraizamento, presença de gemas e/
UFES
ou folhas, água, temperatura e substrato. Devem
José Augusto Teixeira do Amaral ser realizados mais estudos com a jabuticabeira
UFES com a propagação assexuada através da estaquia,
de modo a viabilizar a produção de mudas com
qualidade em escala comercial.
RESUMO: A jabuticabeira (Plinia spp.) é PALAVRAS-CHAVE: propagação assexuada,
uma espécie frutífera originária do centro-sul frutífera, mudas.
do Brasil, sendo encontrada desde o extremo
sul até o extremo norte do país. A propagação
da jabuticabeira por via assexuada se reveste
de grande importância para a obtenção de ABSTRACT: The jabuticaba tree (Plinia
mudas, pois além da redução da fase juvenil spp.) Is a fruit species originating from south-
em comparação a via sexual, também apresenta central Brazil, being found from the extreme
algumas vantagens como a manutenção das south to the extreme north of the country. The
características genéticas das plantas-matrizes, propagation of jabuticaba tree by the asexual
elevando a produtividade e com frutos de melhor way is of great importance for obtaining
qualidade. Na propagação da jabuticabeira seedlings, because besides the reduction of the
pode-se utilizar a enxertia, mergulhia aérea juvenile phase compared to the sexual way, also
ou alporquia, micropropagação e estaquia. A presents some advantages as the maintenance of
estaquia é um dos métodos de propagação mais the genetic characteristics of the mother plants,
utilizados para as espécies frutíferas em que increasing the productivity and with better
ocorre indução de enraizamento adventício em quality fruits. In the propagation of jabuticaba
segmentos destacados da planta mãe que, em tree can be used grafting, aerial or dipping layer,
condições favoráveis, origina uma nova planta. micropropagation and cutting. Cutting is one
Estacas caulinares são de fácil obtenção e há uma of the most widely used propagation methods
maior disponibilidade de material, possibilitando for fruit species in which there is induction of
a ocorrência de resultados satisfatórios. Estacas adventitious rooting in detached segments of the
de jabuticabeira têm demonstrado grande mother plant which, under favorable conditions,
dificuldade de enraizamento. O baixo percentual gives rise to a new plant. Stem cuttings are easily
de enraizamento dos propágulos vegetativos, obtained and there is a greater availability of
para algumas espécies, pode estar correlacionado material, allowing the occurrence of satisfactory
a uma série de fatores intrínsecos ao material results. Jabuticabeira cuttings have shown great
vegetal ou extrínsecos, como a idade do tecido, o difficulty in rooting. The low rooting percentage
tipo e a época de coleta das estacas, a concentração of vegetative propagules, for some species, may
de fitormônios, as condições de cultivo das be correlated to a series of factors intrinsic to the

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 34


plant material or extrinsic, such as tissue age, type and time of cuttings collection, phytohormones
concentration, cutting conditions, genetic potential of the species or genotype, physiological and
nutritional conditions of the parent plant, presence of rooting inducers and inhibitors, presence of buds
and / or leaves, water, temperature and substrate. Further studies with jabuticaba tree with asexual
propagation through cutting should be carried out in order to enable the production of seedlings with
quality on a commercial scale.

KEYWORDS: asexual spread, fruitful, seedlings.

1. INTRODUÇÃO

A jabuticabeira (Plinia spp.) é uma espécie frutífera originária do centro-sul do Brasil, sendo
encontrada desde o extremo sul até o extremo norte do país (MANICA, 2000). O nome jabuticaba
tem origem na palavra “iapoti’kaba”, do tupi, que significa fruta em botão (MENDONÇA, 2000).
Pertence à família Myrtaceae, da qual também fazem parte as frutíferas: guabiroba, goiaba, cambuí,
araçá, grumixama, cambucá, pitanga e pêssego-do-mato (DONADIO, 2000).

Há nove espécies conhecidas de jabuticabeira e, dentre elas, destacam-se Plinia trunciflora


Berg (jabuticaba de cabinho), P. cauliflora (DC) Berg (jabuticaba paulista ou jabuticaba-açu)
e P. jaboticaba (Vell.) Berg (jabuticaba Sabará), sendo esta última a espécie mais conhecida e
comercializada no Brasil (MATTOS, 1983).

A jabuticabeira é uma árvore que apresenta como características: grande variação na altura,
podendo alcançar até 15 metros; a planta adulta possui uma copa muito densa; a floração ocorre no
tronco e nos galhos; o fruto geralmente possui tamanho reduzido, forma arredondada e cor escura, com
polpa esbranquiçada; as sementes são pequenas e arredondadas (LORENZI et al., 2006; DANNER et
al., 2007); as folhas são opostas e lanceoladas; e as flores são brancas (MATTOS, 1983).

Os frutos apresentam elevado valor nutritivo, altos teores de vitaminas do complexo


B (principalmente B2 e niacina) e sais minerais como ferro, cálcio e fósforo (DONADIO, 1983;
MATTOS, 1983). Devido às propriedades organolépticas essa frutífera apresenta grande potencial de
comercialização (MAGALHÃES et al., 1996), sendo apreciada para consumo in natura ou processada
na forma de doces, bebidas, geleias e sorvetes (DANNER et al., 2006).

A propagação por sementes é a principal forma de propagação da jabuticabeira e, nesse


caso, há um longo período juvenil podendo se estender até 14 anos (ANDRADE; MARTINS, 2003;
HARTMANN et al., 2011). O longo período de juvenilidade, caracterizado pela ausência da capacidade
de florescer e frutificar, se constitui no grande limitador para expansão de pomares comerciais com
as espécies de jabuticabeira, ficando assim o seu cultivo praticamente restrito à pomares domésticos.

Neste sentido, o desenvolvimento de métodos de propagação para a jabuticabeira por via


assexuada se reveste de grande importância para a obtenção de mudas, pois além da redução da
fase juvenil em comparação a via sexual, também apresenta algumas vantagens como a manutenção
das características genéticas das plantas-matrizes, elevando a produtividade e com frutos de melhor
qualidade (DANNER et al., 2006; HARTMANN et al., 2011).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo IV 35


A estaquia é um dos métodos de propagação mais utilizados para produção de mudas de
espécies frutíferas em que ocorre a indução e formação de raízes adventícias em segmentos destacados
da planta matriz dando origem a uma nova planta (FACHINELLO et al., 2005; SASSO et al., 2010).
Para algumas espécies esse tipo de propagação propicia a formação de mudas com boa qualidade e
em menor tempo, sendo um método simples e de fácil execução.

2. MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO

De acordo com Vilanova (1959) a propagação assexuada consiste na produção de plantas


através de suas partes vegetativas (caules, raízes e folhas). Esse tipo de propagação consiste num
processo de multiplicação baseado na regeneração da planta-matriz, que ocorre pelos mecanismos de
divisão e diferenciação celular baseada no princípio da totipotência (todas as células vegetais contêm
informação genética necessária para a regeneração de plantas a partir de qualquer órgão vegetal) e da
desdiferenciação (capacidade previamente desenvolvida de as células desdiferenciarem para retornar
à condição meristemática e desenvolver um novo ponto de crescimento). Assim, são formados
clones, garantindo a manutenção das características de interesse. As mudas formadas pela propagação
assexuada produzem em menor tempo do que aquelas propagadas sexuadamente (HARTMANN et
al., 2011).

Na propagação da jabuticabeira pode-se utilizar a enxertia, mergulhia aérea ou alporquia,


micropropagação e estaquia como métodos de multiplicação via assexuada.

2.1 ESTAQUIA

A estaquia é um dos métodos de propagação mais utilizados para as espécies frutíferas (SASSO
et al., 2010) em que ocorre indução de enraizamento adventício em segmentos destacados da planta
mãe que, em condições favoráveis, origina uma nova planta (FACHINELLO et al., 2005).

As estacas utilizadas na propagação assexuada podem ser obtidas de caules, caules modificados
(rizomas, tubérculos e bulbos), folhas ou raízes. Estacas caulinares são de fácil obtenção e há uma
maior disponibilidade de material, possibilitando a ocorrência de resultados satisfatórios (PEREIRA,
2003).

Segundo Fachinello et al. (2005) a estaquia vem sendo amplamente utilizada na fruticultura
para a produção comercial de mudas com qualidade e em menor tempo, pois garante a manutenção das
características varietais como uniformidade, produção, qualidade do fruto, precocidade e sanidade.

A estaquia como método de propagação associada a uma ou mais técnicas auxiliares, como
a nebulização intermitente, aplicação de fitorreguladores, anelamento, estiolamento, dobra dos
ramos, entre outras, pode proporcionar melhores resultados e tornar viável a propagação de muitas
espécies. Através da estaquia é possível a obtenção de muitas plantas a partir de uma única planta
matriz, em curto espaço de tempo. Além do mais, é uma técnica de baixo custo e de fácil obtenção
(FACHINELLO et al., 2005).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo IV 36


Estacas de jabuticabeira têm demonstrado grande dificuldade de enraizamento, conforme
observado por vários autores (LEONEL et al., 1991; DUARTE et al., 1997; SCARPARE FILHO et
al., 1999; CASAGRANDE JUNIOR et al., 2000; SCARPARE et al., 2002; PEREIRA et al., 2005;
SASSO, 2009; SASSO et al., 2010). O baixo percentual de enraizamento dos propágulos vegetativos,
para algumas espécies, pode estar correlacionado a uma série de fatores intrínsecos ao material
vegetal ou extrínsecos, como a idade do tecido, o tipo e a época de coleta das estacas, a concentração
de fitormônios, as condições de cultivo das estacas (DANNER et al., 2006), o potencial genético da
espécie ou genótipo, condições fisiológicas e nutricionais da planta-matriz, presença de indutores e
inibidores de enraizamento, presença de gemas e/ou folhas, água, temperatura e substrato (SMALLEY
et al., 1991; MESÉN et al., 1997; RIECKERMANN et al., 1999; HARTMANN et al., 2011).

As estacas devem ser obtidas de ramos terminais com maturação recente, de plantas sadias e
vigorosas, visto que esses fatores são muito importantes para o enraizamento. Também se deve utilizar
plantas que não apresentam deficiência de nutrientes ou atacadas por pragas e doenças, danificadas
por geada ou seca e aquelas que não estejam em floração ou frutificação (HARTMANN et al., 1990).
O uso de estacas apicais para a obtenção de mudas vem sendo utilizado com sucesso para muitas
frutíferas da família Myrtaceae. O uso dessas estacas promove menor dano à planta matriz do que
aquelas estacas que apresentam diâmetro de 1,5 a 2,0 cm com 40 cm de comprimento (MENDONÇA,
2000).

Para obter sucesso na propagação por estaquia devem ser considerados vários aspectos,
dentre eles destaca-se: realizar a coleta de ramos nas primeiras horas do dia, acondicioná-los em
sacolas de polietileno e pulverizá-los com água, em local sombreado e arejado até o momento da
produção das estacas; realizar tratamento auxínico, quando necessário; atentar para o tipo de estaca
empregada; considerar a concentração e o tempo de aplicação do regulador vegetal empregado; e local
recomendado, com umidade elevada e temperatura variando entre 10°C e 32 ºC (ONO; RODRIGUES,
1996).

O enraizamento é influenciado pelas condições de crescimento, idade e características internas


da planta-matriz como conteúdo de água, teor de reservas e de nutrientes e o nível hormonal no
momento da coleta das estacas (OLIVEIRA et al., 2001). As folhas são responsáveis pela produção
de carboidratos, compostos nitrogenados e várias substâncias sinérgicas da auxina e, por isso,
observam-se açúcares e nitrogênio solúvel e insolúvel consideravelmente alto na base das estacas
(VAN OVERBEEK et al., 1946; MIDDLETON et al., 1980; PAVLINOVA et al., 2002; VEYRES
et al., 2008; STENVALL et al., 2009). Alguns autores observaram que a presença das folhas nas
estacas propicia o enraizamento mesmo sendo em baixos percentuais (PIO et al., 2004; PACHECO;
FRANCO, 2008; NIENOW et al., 2010; HARTMANN et al., 2011).

Os carboidratos fornecem energia e carbono para a iniciação de raízes adventícias e, portanto,


são considerados cofatores do enraizamento (HAISSIG, 1974; TORRES, 2003). Os carboidratos
produzidos nas folhas são utilizados pela auxina que requer uma fonte de carbono para a biossíntese de
ácidos nucleicos e proteínas para a formação das raízes (FACHINELLO et al., 2005). Obtém-se uma
maior porcentagem de enraizamento quando há maior concentração de carboidratos não estruturais
antes e durante o enraizamento (VEIERSKOV; ANDERSEN, 1976; STRÖMQUIST; ELIASSON,

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo IV 37


1979; REUVENI; RAVIV, 1980; CHAMPAGNOL, 1981).

As estacas podem ser herbáceas, semilenhosas e lenhosas quando se considera a consistência


e o grau de lignificação dos tecidos. A escolha do tipo de estaca a ser utilizada tem grande importância
para espécies que apresentam dificuldades para formação de raízes adventícias (OLIVEIRA et al.,
2001). As estacas herbáceas são aquelas obtidas no período de crescimento vegetativo (tecidos com
alta atividade meristemática e baixo grau de lignificação) ou aquelas com folhas e tecidos ainda não
lignificados; as estacas semilenhosas são aquelas obtidas no final do verão e início do outono, com
folhas e mais lignificadas que as herbáceas ou aquelas obtidas de ramos não-lignificados oriundos
de plantas lenhosas; as estacas lenhosas são aquelas obtidas no inverno e são altamente lignificadas.
A escolha pelo tipo de estaca a ser utilizada depende da espécie, facilidade de enraizamento e
infraestrutura (FACHINELLO et al., 2005).

As estacas podem ser apicais, medianas ou basais, levando-se em consideração a posição


ocupada no ramo de origem. Há diferenças na composição química da base ao ápice dos ramos e,
portanto, ocorrem variações na formação de raízes para estacas coletadas em diferentes partes dos
ramos da planta-matriz (OLIVEIRA et al., 2001).

A anatomia dos ramos da espécie ou genótipo pode afetar o percentual de enraizamento das
estacas. Sasso (2009) afirma que é provável que a jabuticabeira apresente anatomia semelhante à
Quercus macrocarpa. Essa espécie apresenta menor proporção de células do parênquima (menos
lignificadas) do que células do esclerênquima (mais lignificadas) e, por isso, há uma maior dificuldade
de enraizamento dessas duas espécies. Assim, pode-se obter um maior enraizamento de jabuticabeira
quando se realiza o revigoramento das estacas (XAVIER; COMÉRCIO, 1996; SASSO, 2009).

Em plantas perenes, estacas coletadas de ramos jovens podem enraizar com maior facilidade
do que estacas coletadas de ramos maduros da mesma planta (THORPE; PATEL, 1984; HARTMANN
et al., 2011). Segundo Fachinello et al. (2005) estacas provenientes de material vegetativo juvenil
apresentam maior facilidade para a rizogênese adventícia, principalmente espécies que apresentam
dificuldades de enraizamento. Material vegetativo mais maduro apresenta maior concentração de
inibidores e menor de cofatores. Assim, recomenda-se a coleta de brotações jovens em plantas adultas,
pois mesmo estas não caracterizando uma verdadeira condição de juvenilidade têm maior facilidade
de enraizamento (FACHINELLO et al., 2005).

Verger et al. (2001); Gratieri-Sossella et al. (2008) afirmam que as técnicas de manutenção
ou de restauração do estado juvenil são importantes para o sucesso da propagação vegetativa. Uma
menor mortalidade é obtida quando utiliza-se miniestacas retiradas de materiais jovens em associação
ao AIB.

O menor percentual de enraizamento de estacas oriundas de plantas adultas pode ocorrer


devido à diminuição da capacidade de formar raízes com o aumento da idade, visto que ramos
maduros tendem a ter menor concentração de auxina em virtude da maior idade ontogenética.
Ocorre um acúmulo de inibidores de enraizamento e um aumento dos níveis fenólicos à medida
que o tecido se torna mais velho, além da barreira anatômica de tecido lignificado entre o floema e
o córtex (XAVIER et al., 2009). No estádio juvenil das plantas observa-se uma maior intensidade de

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo IV 38


cofatores do enraizamento e, por isso, maior enraizamento (HEUSER, 1976). O rejuvenescimento é
importante, principalmente, para a propagação vegetativa nas espécies que não enraízam ou que o
fazem em baixas porcentagens (SANTOS, 2009).

A época de coleta das estacas influencia no enraizamento. Estudos demonstram que há períodos
em que a porcentagem de enraizamento é alta e, em outros, esse percentual é baixo ou nulo. Isso ocorre
em função das temperaturas, precipitações e condições em que essas estacas são coletadas. Fachinello
et al. (2005) afirmam que estacas coletadas no período de crescimento vegetativo, ou seja, primavera/
verão apresentaram maior capacidade de enraizamento devido às suas estruturas herbáceas. Dutra
et al. (2002) observaram que estacas de pessegueiro retiradas na primavera e verão apresentaram os
maiores percentuais de enraizamento.

Zietemann; Roberto (2007), trabalhando com estacas de goiabeira, observaram que a coleta
de estacas herbáceas no meio do período de verão é mais indicada para a produção de mudas dessa
espécie.

O enraizamento das estacas pode sofrer interferências devido à capacidade de biossíntese


hormonal entre os sistemas caulinar e radicular da espécie, associadas ao transporte basípeto das
auxinas (GOLDSMITH, 1977) e ao acrópeto das citocininas (VAN STADEN; DAVEY, 1979).

Um equilíbrio adequado nas concentrações da auxina, citocinina e giberelina na estaca


é de fundamental importância para ocorrer o enraizamento (TAM et al., 2000; CATO, 2006).
Possivelmente, há um desequilíbrio desses fitorreguladores na jabuticabeira e, por isso, há dificuldades
no enraizamento (TAM et al., 2000).

Também, baixas concentrações endógenas da auxina podem prejudicar o enraizamento e isso


ocorre quando a auxina permanece na sua forma conjugada, ou seja, inativa (LEE; STARRATT,
1986; EPSTEIN et al., 1993; NORMANLY; BARTEL, 1999).

Pode ocorrer intensa oxidação de compostos fenólicos na região do corte da estaca prejudicando
a formação de raízes, isto devido à liberação ou formação de exsudatos tóxicos no tecido da estaca
(CASAGRANDE JUNIOR et al., 1999; CAMPOS et al., 2005; FERRIANI et al., 2008). Os diferentes
tipos de fenóis nos tecidos em contato com o oxigênio iniciam reações de oxidação, cujos produtos
resultantes são tóxicos ao tecido (FACHINELLO et al., 2005). Para reduzir e/ou evitar essa oxidação
pode-se utilizar algumas substâncias como o ácido cítrico, ácido ascórbico e a polivinilpirolidona
(SATO et al., 2001; FACHINELLO et al., 2005).

Também pode-se realizar a lavagem das estacas em água, pois ocorre a lixiviação de alguns
compostos fenólicos, evitando assim as oxidações (CAMPOS et al., 2005).

Dentre os fatores externos que atuam no enraizamento das estacas tem-se a água, a temperatura
e o substrato. Pode-se realizar o controle da transpiração através da retirada das folhas basais. A
água é fundamental para o enraizamento, visto que as estacas recém colocadas para o enraizamento
no substrato não possuem raízes e, dessa forma, não têm como absorver água eficientemente para
compensar a transpiração e o crescimento de novas brotações (PREECE; READ, 1993; PEREIRA,
2003). A nebulização artificial mantém elevada a umidade relativa do ar no ambiente, reduzindo a

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo IV 39


temperatura da folha, mantendo uma película sobre a mesma, permitindo a realização do estaqueamento
em ambientes de maior luminosidade, não reduzindo a eficiência fotossintética (COSTA JUNIOR,
2000; FACHINELLO et al., 2005).

A temperatura deve ser mantida entre 10ºC (noturna) e 32ºC (diurna), sendo isso possível
equilibrando sombreamento com a nebulização intermitente na casa de vegetação. Temperaturas
elevadas favorecem a divisão celular para o enraizamento; entretanto, podem estimular uma maior
transpiração, induzindo o murchamento da estaca. Deve-se evitar que as estacas fiquem murchas pois
para que ocorra a divisão celular é necessário que as células se mantenham túrgidas (FACHINELLO et
al., 2005). O sistema de nebulização é empregado para controlar a perda hídrica das estacas, favorecer
a hidratação do substrato e controlar a temperatura. Recomenda-se que os tubetes com as estacas
sejam colocados nas estufas com irrigação do tipo nebulização ou microaspersão intermitente para
que a umidade interna da estufa fique acima de 80% (OLIVEIRA et al., 2001).

O substrato utilizado na produção de mudas por estaquia além de servir como suporte às
plantas também deve fornecer nutrientes e propiciar alguma retenção ou reserva de água para as
plantas, ter porosidade para permitir a entrada de oxigênio e saída de gás carbônico e etileno oriundos
da respiração das raízes. O desenvolvimento do sistema radicular depende das características físicas
e químicas do substrato, devendo o mesmo ser livre de patógenos e pragas (SOUZA, 1983; KÄMPF,
1999; OLIVEIRA, 2000; SOUZA, 2002).

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Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo IV 43


CAPÍTULO V

INFLUÊNCIA DA CALAGEM NO PLANTIO DE


ESPÉCIES ARBÓREAS

Alessandra de Lima Machado mangium Wild., Acacia auriculiformis A. Cunn.


UFRRJ ex Benth; Mimosa artemisiana, fraxinifolium
Schott; Guazuma ulmifolia Lan., Anadenanthera
Thamara Peixoto Mendonça macrocarpa (Benth.) Brenan, Inga edulis
UFRRJ Martius e Schinus terebinthifolia Raddi. Mimosa
artemisiana Heringer e Paula, Astronium
Jorge Jacob Neto fraxinifolium Schott; Guazuma ulmifolia Lan.,
UFRRJ Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan e
Inga edulis Martius.

RESUMO: Neste capitulo foram discutidas a


necessidade de desenvolver pesquisas referentes
aos requerimentos nutricionais das espécies PALAVRAS-CHAVE: Alumínio, nutrição,
arbóreas, visto que as explorações de espécies calcário, árvore.
de alto valor econômico são crescentes, além
dos indispensáveis benefícios ecológicos, dos
reflorestamentos, do plantio em área urbana, ABSTRACT: This chapter discussed the need to
muito em voga nos dias de hoje. Existe uma develop research on the nutritional requirements of
grande variabilidade genética entre as plantas e tree species, as the exploitation of species of high
diversidade de condições edáficas, nas regiões economic value is increasing, in addition to the
tropicais; sendo que as informações disponíveis indispensable ecological benefits, reforestation,
sobre o comportamento dessas espécies no que diz planting in urban areas, very popular in the
respeito à nutrição mineral ainda são escassos. A present days. There is a great genetic variability
resposta correta a adição de calagem só pode ser among plants and diversity of edaphic conditions
dada se considerada uma determinada espécie, suas in the tropical regions, the available information
condições de plantio e características químicas do about the behavior of these species with regard
solo. Conhecer o potencial genético das espécies to mineral nutrition is still scarce. The correct
cultivadas e ocupantes de ecossistemas naturais answer to liming addition can only be given
pode gerar benefícios futuros e dar base a ações if considered a particular species, its planting
de exploração e preservação da biodiversidade. conditions and soil chemical characteristics.
Foram encontradas respostas da adição de Knowing the genetic potential of cultivated
calagem para as espécies Delonix regia, Bauhinia species and occupants of natural ecosystems can
variegata, Schinus terebinthifolius, Senna generate future benefits and underpin biodiversity
multijuga, Stenolobium stans, Anadenanthera exploration and preservation. Liming addition
falcata, Cedrela fissilis, Swietenia macrophylla responses were found for Delonix regia, Bauhinia
King, Tabebuia serratifolia, Tectona grandis variegata, Schinus terebinthifolius, Senna
L.f., Toona ciliata M. Roem var. australis, multijuga, Stenolobium stans, Anadenanthera
e não responderam as espécies Anacardium falcata, Cedrela fissilis, Swietenia macrophylla
othonianum, Anadenanthera macrocarpa, Acacia King, Tabebuia serratifolia, Tectona grandis L.f.,

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 44


Toona ciliata M. Roem var. australis, and did not respond to the species Anacardium othonianum,
Anadenanthera macrocarpa, Acacia mangium Wild., Acacia auriculiformis A. Cunn. ex Benth;
Mimosa artemisiana, fraxinifolium Schott; Guazuma ulmifolia Lan., Anadenanthera macrocarpa
(Benth.) Brenan, Inga edulis Martius e Schinus terebinthifolia Raddi. Mimosa artemisiana Heringer
e Paula, Astronium fraxinifolium Schott; Guazuma ulmifolia Lan., Anadenanthera macrocarpa
(Benth.) Brenan e Inga edulis Martius

KEYWORDS: Aluminum, nutrition, limestone, tree.

1. INTRODUÇÃO

O Brasil apresenta características privilegiadas para o desenvolvimento dos plantios de


espécies arbóreas, seja para produção comercial ou para formações e recomposições florestais. O
plantio dessas espécies permite a ocupação de solos considerados até então inadequados para a
agricultura convencional, contribuindo assim para um sistema conservacionista. Além disso, têm-se
ainda uma crescente demanda por produtos florestais, resultando em substanciais aumentos das áreas
de florestas plantadas (IBA, 2015).

Ao longo de seu ciclo de vida, as árvores podem fornecer mais de um tipo de produto. Esses
produtos são frutos, sementes, óleos, madeira e outros, atendendo as indústrias madeireira, de
construção, têxtil, alimentícia, farmacêutica e cosmética. Ademais, a comercialização dos créditos de
carbono que as árvores poderão gerar em algumas décadas, é um mercado que tem ganhado destaque.
A exploração dos produtos florestais tem sido feita através de monocultivos (cultivo de uma única
espécie vegetal) ou em sistemas consorciados com espécies agrícolas – sistemas agrossilviculturais
ou sistemas agroflorestais. Outra forma de produção é realizada pela integração lavoura-pecuária-
floresta (sistema agrossilvipastoril), que propiciam o aumento produtividade e rentabilidade geral
da agropecuária. Esses sistemas diversificados de produção apresentam potencial para melhorar a
sustentabilidade econômica por aumentar as fontes de renda da propriedade agrícola. Recentemente
ganhou destaque o plantio e nos espaços urbanos, gerando beleza e conforto térmico para a população.

Contudo, existe uma carência de informações sobre os apectos ligados ao manejo da fertilidade
do solo e das exigências nutricionais das espécies arbóreas nativas e exóticas, cultivadas no Brasil.
Esta carência pode ser associada ao periodo vegetativo da planta, geralmente longo, e também a falta
de identificação genotípica das especies e portanto da reproducibilidade dos resultados. O ciclo de
vida longo contribui para que a maioria dos resultados de pesquisa seja associada à fase jovem, de
plantulas. A caracterização genotipica para as espécies árboreas pode ser dificil devido às formas
reprodutivas, principalmente se a reprodução for sexuada. E como se trata muitas vezes de plantas
não muito estudadas com relação ao processo reprodutivo, os pesquisadores tem usado a alternativa
de trabalhar com material genetico da mesma planta matriz, o que de certa forma garante pelo menos
50% de sua carga genetipica daquela planta nos estudos.

A acidez do solo é associada a elevadas concentrações de Al3+ (alumínio trivalente) - que é


sua forma mais tóxica é um dos mais importantes fatores que limitam a produção vegetal em regiões
tropicais (FOY et al., 1978). A calagem é uma prática antiga empregada na agricultura como forma
de elevar o pH e aumentar o teor de bases trocáveis nas camadas aráveis dos solos (ROSSIELO e

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 45


JACOB NETO, 2006). A correção pela aplicação de calcário promove maior desenvolvimento do
sistema radicular das plantas e, consequentemente, melhora a absorção de água e nutrientes. Mesmo
em espécies conhecidamente resistentes ou tolerantes a estresses ambientais, como a toxicidade do
Al, a correção e adubação do solo podem promover ganhos no seu desenvolvimento e produção
(HARIDASAN, 1986 e 2008).

O conhecimento das exigências nutricionais das espécies arbóreas permite a identificação


e correção das deficiências de fertilidade do solo, com destaque para áreas degradadas, na medida
correta para o desenvolvimento das espécies. A indicação adequada do uso da calagem é de grande
importância ecológica e econômica em plantios de espécies arbóreas, independente da finalidade do
plantio (SARCINELLI et al., 2004; SOUZA et al., 2010).

O objetivo deste trabalho de revisão foi discutir sobre a toxicidade do alumínio e a necessidade
de calagem em plantios de espécies arbóreas, utilizadas nas últimas décadas em território brasileiro,
para fins de reflorestamento e de produção de produtos florestais de importância econômica, agrícola
e urbana.

1. CALAGEM NOS PLANTIOS DE ESPÉCIES ARBÓREAS

No desenvolvimento deste trabalho é utilizado como recorte espacial os solos no território


brasileiro. Utilizam-se os termos “plantio de espécies arbóreas” e “plantios florestais”, comumente
encontrados na literatura. Assume-se esta diferenciação em função das áreas, bem como das estruturas
e objetivos dos plantios. Por entender que as árvores podem ser plantadas tanto de forma isolada (em
sistemas viários), como em pequenos grupos (quebra-ventos, cercas-vivas, pequenos pomares) ou em
formações florestais, o termo “plantio de espécies arbóreas” torna-se mais abrangente. Entendem-se
como “plantios florestais” aqueles realizados com objetivos de formação ou recuperação florestal.

Em decorrência de pressões antrópicas e pela variedade de funções que desempenha, é


importante distinguir o solo em relação à atividade exercida sobre ele, sem, contudo desprezar as
características de sua gênese, formação e classificação. Dessa forma, são adotadas três denominações:
solos agrícolas, solos florestais e solos urbanos (ROVEDDER et al., 2013). Por solos agrícolas entende-
se a terra utilizada para a produção de alimentos, fibras e commodities do agronegócio, incluindo todas
as terras cultivadas, caracterizadas pelo delineamento de áreas cultivadas ou em descanso, podendo
também compreender áreas alagadas (IBGE, 2013). Solo florestal é aquele que se desenvolveu e
permanece sob floresta (ROVEDDER et al., 2013). Solos urbanos são os solos que se encontram
no meio urbano, sujeitos as ações antrópicas, excluindo-se os solos florestais e agrícolas em áreas
urbanas (PEDRON et al, 2004) (grifo nosso). Essa diferenciação se faz necessária para avaliações
de condições de plantio, neste caso, de espécies arbóreas. O solo pode apresentar grande diversidade
em curtas distâncias com diferentes padrões de disponibilidade de nutrientes, devido a isso é um dos
melhores fatores de estratificação de ambientes naturais (RESENDE et al., 2002). Características
físicas e químicas do solo estão entre os principais fatores que condicionam o desenvolvimento da
vegetação, o que explica a ocorrência natural de distintas fisionomias florestais, mesmo quando há
homogeneidade em relação aos demais fatores ambientais (FURTINI NETO et al., 1999b). Em solos

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 46


que sofreram alterações antrópicas – solos agrícolas e urbanos - essas diferenças são intensificadas
ou agravadas. Considerando-se que as áreas destinadas a plantios de espécies arbóreas são, em sua
grande maioria, antropizadas, há de se prever a possibilidade de condições adversas, difíceis para o
crescimento vegetal.

Os fatores relacionados à acidez dos solos (pH, saturação por bases, acidez potencial e
solubilidade de nutrientes) são os que mais interferem na produtividade agrícola (SANCHEZ e
SALINAS, 1983). A maior parte dos solos brasileiros apresentam características ácidas. Solos ácidos
possuem valor de pH em torno de 5,5, ou inferior, e ocorrem majoritariamente em regiões tropicais e
subtropicais, onde a acidificação é um processo natural. Constituem aproximadamente 30% da área
total do planeta e 50% das terras aráveis (SADE et al., 2016). São caracterizados por deficiência em
nutrientes e toxicidade por metais, como manganês (Mn) e alumínio (Al). Sendo que, a toxicidade
por Al é o principal fator que limita o crescimento das plantas nesses solos (KOCHIAN et al., 2004;
GUPTA et al., 2013; BOSE et al., 2015). Tóxico para a maioria das espécies vegetais há uma série
de sintomas causados por
​​ toxicidade do Al associados a mudanças no sistema radicular, afentando o
desenvolvimento normal das plantas (ROSSIELLO e JACOB NETO, 2006; KOPITTKE et al., 2015).

A calagem é realizada com 3 objetivos: elevação do pH, neutralização do Al3+ e/ou fornecimento
de Ca2+ e Mg2+. Considerar cada um destes objetivos (fatores) isoladamente talvez não seja a maneira
mais correta de análise, a não ser em caso de severa deficiência de Ca+2 ou Mg+2. O conhecimento das
necessidades nutricionais das espécies arbóreas é ainda bastante limitado, bem como de suas respostas
a diferenças ambientais. Salvo para os casos de florestas plantadas (monocultivos) de Eucalyptus spp. e
Pinus spp., para os quais há inúmeras pesquisas nutricionais e de melhoramento vegetal (FERREIRA,
1984; NOVAIS et al., 1986; BINKLEY, 1989; BARROS et al., 1990; SANTANA et al., 2002; STAPE
et al., 2006; GUIMARÃES et al., 2015). Além disso, a resposta de uma mesma espécie às condições
químicas do solo pode ser diferente devido a variações intraespecíficas (KAGEYAMA et al, 2003).
Assim, toda análise feita decorre de resultados experimentais que servem como referência, mas são
bastante generalistas se considerada a diversidade vegetal.

Muitas são as espécies utilizadas em plantios com objetivos de recomposição florestal, onde são
realizados plantios mistos (duas ou mais espécies por área de plantio). Mesmo que haja recomendação
técnica para adubação e calagem para cada espécie pode ser improvável a viabilidade de atendimento
às necessidades específicas de cada planta. Assim, as recomendações de calagem, quando ocorrem,
são generalistas. No caso dos plantios florestais mistos são plantadas simultaneamente, em uma
mesma área, espécies de diferentes grupos sucessionais. Furtini Neto et al. (1999a, 2000) avaliam que
as espécies florestais nativas apresentam grande variabilidade de respostas quanto à acidez do solo,
saturação por bases e concentração de Al3+. De maneira geral, as espécies pioneiras e secundárias são
mais responsivas à calagem e mais exigentes em relação à fertilidade do solo (FURTINI NETO et al.,
1999 a,b).

Mesmo para o cultivo de espécies lenhosas e semilenhosas, de grande importância econômica,


como é o caso de goiabeiras e cetros, ainda são poucas as informações sobre calagem nas fases de
implantação, formação e produção dos pomares (NATALE et al., 2012).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 47


No entanto, dada a crescente valorização e demanda do plantio de espécies arbóreas, pesquisas
têm sido realizadas com o objetivo de encontrar respostas relativas às exigências nutricionais e de
fertilidade dos solos para espécies de interesse econômico e ecológico. A seguir, são apresentados
resultados de alguns desses trabalhos.

A espécie Schinus terebinthifolia Raddi - conhecida popularmente como aroeira, aroeira-


pimenteira, pimenta-rosa - é típica de vegetação de manguezais e restingas, ocorrendo em todo
ambiente litorâneo de domínio da Mata Atlântica. Até recentemente, sua exploração se restringia
à coleta manual de seus frutos, chamados de pimenta-rosa, em populações naturais, principalmente
em áreas de restinga (LENZI e ORTH, 2004). Atualmente, iniciativas técnico-cientificas têm
sido implantadas para a sustentabilidade da produção de aroeira, principalmente para a produção
comercial de frutos (GOMES et al., 2013; NEVES et al., 2016). A espécie é também utilizada em
reflorestamentos, arborização urbana, indústria farmacêutica e de cosmética (SILVA- LUZ e PIRANI,
2015). Scheer et al. (2017) avaliaram o crescimento inicial de mudas de S. terebinthifolius em área
degradada, os autores relataram o melhor desenvolvimento das plantas quando da aplicação de 250
g/cova de calcário dolomítico. Os resultados das pesquisas de Mezzavilla (2016), Mezzavilla e Jacob
Neto (2017) também revelaram que essa espécie respondeu positivamente à adição de calcário ao
substrato de crescimento. Machado et al. (2018) recomendam o uso da calagem para o cultivo de S.
terebinthifolius em reflorestamentos e em solos urbanos.

Furtini Neto et al. (1999) investigaram os fatores limitantes ao crescimento inicial das espécies
nativas, utilizadas para produção de madeira e reflorestamento, Senna multijuga, Stenolobium stans,
Anadenanthera falcata e Cedrela fissilis, cultivadas em solo ácido, sem aplicação de calcário. Os
autores concluíram que a saturação por Al foi o fator que mais limitou o desenvolvimento dessas
espécies. Machado (2015) constatou que a calagem favoreceu o crescimento inicial de Bauhinia
variegata L. – espécie exótica utilizada na indústria e no paisagismo, possivelmente devido à
neutralização do Al.

Acacia mangium Wild. e Acacia auriculiformis A. Cunn. ex Benth. são espécies exóticas
cultivadas no Brasil para produção de celulose, madeira, controle de erosão, quebra-vento e
sombreamento. Silva et al. (2011), avaliaram o desenvolvimento inicial da A. mangium e da A.
auriculiformis em função da aplicação de calcário na cova de plantio. Os autores constataram que
não houve efeito significativo da aplicação de calcário nas doses avaliadas (50, 100 e 200 g/cova).
De maneira semelhante, as espécies nativas Mimosa artemisiana Heringer e Paula, Astronium
fraxinifolium Schott; Guazuma ulmifolia Lan.; Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan e Inga
edulis Martius também não responderam à aplicação de calcário na cova de plantio (SILVA et al.,
2011). O mesmo resultado foi encontrado por Mendonça (2016) e Mendonça et al. (2017) ao avaliar
diferentes doses de calcário para A. macrocarpa.

O mogno (Swietenia macrophylla King.) é uma espécie nativa da Amazônia que possui alto
valor econômico devido à qualidade da madeira. Sousa et al. (2010) realizaram um estudo para
avaliar o crescimento e o requerimento nutricional de mudas de mogno, os autores concluíram que
para o crescimento e desenvolvimento normal da planta é necessária a correção conjunta da acidez
e da fertilidade do solo para solos ácidos e de baixa fertilidade natural, mesmo que o teor de matéria

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 48


orgânica seja considerado alto.

Segundo Vieira e Weber (2017), o ipê-amarelo (Tabebuia serratifolia) é uma espécie arbórea
com potencial madeireiro pouco utilizada em plantios florestais devido à escassez de informações sobre
sua produção, tanto em viveiro quanto no campo. Diante disso, os autores realizaram experimento
com o objetivo de verificar os efeitos da calagem no crescimento e na nutrição de mudas do ipê-
amarelo. Os melhores resultados foram verificados quando o calcário foi aplicado para a elevação da
saturação de bases ao nível de 70%, principalmente porque N, K, Ca e Mg foram disponibilizados
em concentrações adequadas, possibilitando o incremento em crescimento das mudas. Dessa forma,
a espécie se mostrou exigente em fertilidade do solo durante o crescimento em viveiro.

A teca (Tectona grandis L.f.) é uma espécie exótica cultivada no Brasil principalmente
para a produção de madeira. Ribeiro et al. (2006) avaliaram o potencial de estabelecimento da teca
submetida a diferentes adubações de plantio. Os resultados deste estudo indicam que os tratamentos
com aplicação de calcário proporcionaram maior sobrevivência às mudas de teca. Estudos anteriores
realizados por Takle e Mujundar (1956) e por Matricardi (1989), identificaram a teca como uma
espécie calcícola, indicando que ela necessita de uma quantidade relativamente grande de cálcio
para seu crescimento e desenvolvimento. Outra espécie exótica muito cultivada no Brasil, devido à
alta qualidade e ampla utilização de sua madeira, é o cedro-australiano (Toona ciliata M. Roem var.
australis). Braga et al. (2015) realizaram estudo com o objetivo de avaliar a influência de diferentes
níveis de saturação por bases, através da adição de diferentes doses de calcário, sobre o crescimento
e a qualidade de mudas dessa espécie. Os autores relataram a necessidade de se fazer a correção
da acidez do solo elevando o nível de saturação por bases para 50%, no intuito de maximizar a
produtividade dos plantios comerciais do cedro-australiano.

Machado et al. (2018) não encontraram resposta a adição de calagem até a dosagem de 4000
Kg ha aplicada ao solo para a planta angico vermelho e Vasconcellos Filho (2014) trabalhando em
-1

solução nutritiva, verificou que o caju-de-cerrado suportou altas doses de Al na solução nutritiva, sem
sofrer danos significativos.

Silva et al. (2007) conduziram experimento de campo em pomar adulto de laranjeiras,


utilizando doses de calcário calcinado, aplicado superficialmente, sem incorporação. A avaliação foi
feita durante 3 anos. Os autores concluíram que, independente da dose aplicada, a calagem elevou
a saturação por bases (V%) e alterou o ambiente químico do solo nas camadas 0-10; 10-20 e 20-
40 cm. Houve melhoria do estado nutricional e aumento da produção das plantas, com diferenças
significativas. Esse tipo de resultado é particularmente interessante quando se considera o plantio em
áreas onde a incorporação do calcário é tecnicamente dificultada.

Há necessidade de calagem para o plantio de espécies arbóreas? Diante do que foi exposto,
pode-se considerar que a necessidade de calagem em plantio de espécies arbóreas é uma questão
bastante ampla. A resposta correta ou ideal só pode ser data se considerada uma determinada espécie,
suas condições de plantio e características químicas do solo. Excluindo casos raros como o de espécies
do gênero Qualea, para as quais sugere-se que o Al seja necessário para o crescimento (MOREIRA,
2016; SILVA, 2017; CURY, 2017), a calagem pode oferecer melhores condições para o crescimento

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 49


das plantas, especialmente na fase de mudas, o que é essencial para o estabelecimento dos plantios.
Mesmo para espécies pouco sensíveis à acidez do solo, a calagem pode ser recomendada por aumentar
a disponibilidade dos nutrientes minerais pela elevação do pH e por fornecer Ca e Mg, elevando a
saturação de bases do solo com consequências positivas sobre a CTC.

Em plantios realizados para recomposição e restauração florestal, após o crescimento das


árvores ocorrerá a deposição de matéria orgânica (serapilheira) e consequente ciclagem de nutrientes.
Isto deverá favorecer as condições físicas e químicas do solo, incluindo a imobilização do Al3+ (por
complexação na matéria orgânica). Adubações e correções de solo deixam então de ser necessárias
(TOLEDO et al.,2002; VIEIRA et al., 2010; NASCIMENTO et al., 2013).

Em plantas de ciclo de vida curto, como soja, trigo e feijão, o uso de soluções de baixa força
iônica tem colaborado para a seleção de cultivares tolerantes ao Al (ROSSIELO e JACOB NETO,
2006). Estas soluções também são utilizadas em estudos de alumínio na fase jovem de plantas arbóreas
(Delonix regia, Anacardium othonianum, Clitoria fairchidiana, Bauhinia variegata, Anadenanthera
macrocarpa, Schinus terebinthifolius) popularmente conhecidas como flamboyant, caju do cerrado,
sombreiro, pata-de-vaca, angico e aroeira, respectivamente (POLESE, 2013; VASCONCELOS-
FILHO, 2014; LEMOS, 2015; MENDONÇA et al, 2017; MEZZAVILLA e JACOB NETO, 2017).
Os trabalhos com soluções nutritivas auxiliam o entendimento do comportamento destas espécies na
sua fase inicial de crescimento.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade de desenvolver pesquisas referentes aos requerimentos nutricionais das espécies


arbóreas é imprescindível, visto que as explorações de espécies de alto valor econômico são crescentes,
além dos indispensáveis benefícios ecológicos dos reflorestamentos muito em vogo nos dias de hoje.
É necessário racionalizar a exploração das espécies arbóreas. Dada a grande variabilidade genética
existente e considerando a diversidade de condições edáficas, principalmente das regiões tropicais,
as informações disponíveis sobre o comportamento dessas espécies no que diz respeito à nutrição
mineral são ainda escassos. Conhecer o potencial genético das espécies cultivadas e ocupantes de
ecossistemas naturais pode gerar benefícios futuros e dar base a ações de exploração e preservação
da biodiversidade.

Independe da finalidade do plantio de espécies arbóreas, se para reflorestamento ou produção


de produtos florestais, a adequação de fatores de sítio referentes às condições geográficas, topográficas,
climáticas e edáficas deve ser considerada. Em relação às condições edáficas, em termos de fertilidade
dos solos, a técnica mais viável seria ajustar o solo às exigências da planta, fazendo o uso de calagem e
adubação. De outra forma, a utilização de espécies adaptadas a solos ácidos e de baixa fertilidade pode
reduzir despesas de implantação, o que é especialmente vantajoso para os plantios de reflorestamento.
O plantio no espaço urbano aumenta a cada dia, seja para conforto térmico da população, seja para
uma distribuição sem prejuízo das redes elétricas, telefones etc.

Assim a exploração do potencial genético das espécies, além, da continuada procura de

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 50


espécies nativas de interesse econômico, em áreas como a região amazônica, mata atlântica, cerrado
entre outras, deve ser o mote para encontrar novas espécies arbóreas de interesse para o homem. A
identificação e seleção de genótipos pode gerar vantagens econômicas e ecológicas, independentemente
do grau de tecnologia a ser aplicado nos plantios.

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Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo V 54


CAPÍTULO VI
LEVANTAMENTO DA PERDA DE SOLO POR EROSÃO
HÍDRICA DOS CULTIVOS DE CAFÉ DO MUNICÍPIO
DE CASTELO, ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Caio Henrique Ungarato Fiorese Elevação dos espaços ocupados pela cafeicultura.
Centro Universitário São Camilo Foram estimadas informações de erosividade
Herbert Torres (considerando série histórica pluviométrica de 46
Centro Universitário São Camilo anos), erodibilidade e fator topográfico, gerando
mapas temáticos que possibilitaram a posterior
Jander Abrita de Carvalho operação da EUPS através da ferramenta “álgebra
CEEFMTI Washington Pinheiro Meirelles de mapas”. A erosão e o fator topográfico foram
Paloma Osório Carvalho interpretados conforme a literatura considerada.
CEEFMTI Washington Pinheiro Meirelles A maior parte dos cultivos agrícolas (62,99%)
apresenta fator topográfico compreendido de
Isabelly Marvila Leonardo Ribeiro 2 a 5, significando que boa parte dos cafezais
CEEFMTI Washington Pinheiro Meirelles
considerados estão localizados em áreas sob
Jefferson Gonçalves Batista condições topográficas e de relevo adversas.
CEEFMTI Washington Pinheiro Meirelles Quanto à erosão dos solos, 65,32% dos cafezais
possui tendência moderada a forte, ao passo que
Gabriel Gonçalves Batista
apenas 30,3% da área possui fraca a moderada
CEEFMTI Washington Pinheiro Meirelles
perda de solo. Significa, portanto, um agravante
Antônio Marcos da Silva Batista quanto à qualidade ambiental, sobretudo na
CEEFMTI Washington Pinheiro Meirelles presença de monocultivos. Há necessidade de
adotar práticas conservacionistas na cafeicultura
e adoção de sistemas mais sustentáveis, como
RESUMO: A compreensão da erosão dos solos os sistemas agroflorestais e agroecossistemas
em áreas agrícolas é de extrema importância, cafeeiros orgânicos, com vistas a fornecer melhor
a fim de, por exemplo, auxiliar em projetos qualidade do solo atrelada a benefícios ecológicos
ambientais visando uma produção mais e econômicos.
sustentável. Com auxílio de geotecnologias, o
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura; Impactos
objetivo deste trabalho foi avaliar a erosão dos ambientais; Mitigação; Processos erosivos.
solos ocupados pela cafeicultura no município de
Castelo, estado do Espírito Santo, como forma de
subsidiar melhorias na área. Os procedimentos ABSTRACT: Understanding soil erosion in
foram executados no programa computacional agricultural areas is of utmost importance in
ArcGIS®, considerando a Equação Universal order, for example, to assist in environmental
de Perda de Solos (EUPS) para a estimativa projects aimed at more sustainable production.
da perda de solos e o sítio eletrônico do With the help of geotechnologies, the objective
GEOBASES e da Agência Nacional de Águas of this work was to evaluate the erosion of soils
como base de dados. No GEOBASES, foram occupied by coffee growing in the municipality
adquiridos dados de ocupação dos cafezais do of Castelo, state of Espirito Santo, as a way
município, tipos de solo e curvas de nível, sendo to subsidize improvements in the area. The
esta utilizada na geração do Modelo Digital de procedures were performed in the computer

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 55


program ArcGIS®, considering the Universal Soil Loss Equation (USLE) to estimate soil loss and
the website of GEOBASES and the National Water Agency as a database. In GEOBASES, data were
obtained on the occupation of coffee plantations of the municipality, soil types and contour lines,
which is used to generate the Digital Elevation Model of the spaces occupied by coffee growing.
Information on erosivity (considering 46-year historical rainfall series), erodibility and topographic
factor were estimated, generating thematic maps that allowed the subsequent operation of the USLE
through the “map algebra” tool. Erosion and topographic factor were interpreted according to the
literature considered. Most agricultural crops (62,99%) have a topographic factor from 2 to 5, meaning
that most of the coffee plantations considered are located in areas under adverse topographic and relief
conditions. As for soil erosion, 65,32% of coffee plantations have a moderate to strong tendency,
while only 30,3% of the area has weak to moderate soil loss. It therefore means an aggravating
factor in environmental quality, especially in the presence of monocultures. There is a need to adopt
conservationist practices in coffee growing and the adoption of more sustainable systems, such as
agroforestry systems and organic coffee agroecosystems, in order to provide better soil quality linked
to ecological and economic benefits.

KEYWORDS: Agriculture; Environmental impacts; Mitigation; Erosive processes.

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as atividades relacionadas ao uso e a ocupação da terra têm revelado uma
nova dinâmica de apropriação do território. Diante dessa situação, os efeitos de manejo de atividades
sem planejamento prévio alteram a paisagem e degradam os solos, em velocidade e intensidade
superiores à capacidade de renovação do sistema ambiental e à resiliência do solo (CORRÊA et al.,
2017). Com isso, alterações de ecossistemas naturais em ambientes degradados aumentam anualmente
em decorrência da necessidade de produzir alimentos (JARDIM et al., 2017).

O transporte de solo pode ocorrer em áreas cultivadas como resultado da interação de processos
erosivos a partir do escoamento superficial. A erosão hídrica, por exemplo, motiva as perdas de solo e
pode alterar as propriedades físicas do solo, reduzindo a produtividade das culturas agrícolas. O efeito
do transporte de partículas do solo associado a uma combinação dos processos erosivos aumenta a
variabilidade espacial das produções agrícolas e o declínio global da capacidade produtiva do solo
(SOUSA; MARTINS FILHO; MATIAS, 2012).

No Brasil, que é um país tropical, a erosão causa redução da fertilidade do solo, prejudicando
a produtividade agrícola, impactando qualidade e quantidade dos recursos hídricos (SANTOS;
BLANCO; PESSOA, 2015), sendo esta através da eutrofização, do assoreamento e da poluição. Isso
também favorece a elevação dos custos para o tratamento e recuperação da água (MARQUES, 2006).

Nesse contexto, é essencial melhor compreender o impacto das mudanças de uso da terra nos
padrões de erosão hídrica, visando estabelecer a tolerância de perda do solo para melhor manejá-lo
(SANTOS; BLANCO; PESSOA, 2015). Diante dessa situação, existem vários modelos que estimam
a erosão dos solos como, por exemplo, a Equação Universal de Perda de Solos (EUPS), proposta por
Wischmeier e Smith (1978).

O modelo EUPS tem como objetivo fazer estimativa da erosão do solo a médio e longo prazos,
considerando dados como práticas conservacionistas, uso do solo, podendo dar subsídios gerais ao
planejamento de práticas conservacionistas visando minimizar a perda de solos em níveis aceitáveis

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 56


(CORREA; PINTO, 2012). Essas informações são de extrema relevância em projetos ambientais
como, por exemplo, recuperação de áreas degradadas, fornecendo auxílio ao manejo e à conservação
da água e do solo nas áreas estudadas (SILVEIRA; RIBEIRO; SANTOS, 2015).

O uso de geotecnologias é um recurso de grande potencial para o estabelecimento de planos


integrados de conservação do solo e da água. A utilização dos chamados Sistemas de Informação
Geográficas (SIG) destaca-se como grande ferramenta para mapear e obter respostas às diversas
questões acerca do levantamento de dados do meio físico e planejamento ambiental, principalmente
ao descrever os mecanismos das mudanças no meio ambiente, além de contribuir para o planejamento
e manejo dos recursos naturais existentes (MAGALHÃES FILHO; AYRES; SOBRINHO, 2014).

Com auxílio de geotecnologias e diante da relevância da temática discutida, o objetivo deste


trabalho foi avaliar a perda de solos por erosão hídrica nos cultivos de café do município de Castelo
(ES), como forma de contribuir para melhorias na área.

2. METODOLOGIA
Este trabalho considerou como local de estudo o município de Castelo, que está localizado
na mesorregião Sul do Estado do Espírito Santo. Possui a pecuária e a cafeicultura como as
principais atividades econômicas em âmbito rural. A cafeicultura ocupa a maior área de exploração
e é de fundamental importância na geração de emprego e renda local, predominando a cafeicultura
em pequenas propriedades e sob monocultivos (INCAPER, 2010). As Figuras 1 e 2 apresentam,
respectivamente, a localização do município de Castelo e a distribuição dos cultivos de café.

Figura 1 – Localização do município de Castelo (ES).

Fonte: Os Autores (2019).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 57


Figura 2 – Distribuição dos cultivos de banana e café do município de Castelo (ES).

Fonte: Adaptado de GEOBASES (2019).

Os procedimentos ocorreram com auxílio do programa computacional ArcGIS® versão


10.2.2, tendo como bases de dados digitais o Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado
do Espírito Santo (GEOBASES, 2019) e o portal Hidroweb, da Agência Nacional de Águas (ANA,
2019). Na base de dados, foram adquiridos arquivos de curvas de nível do município, distribuição dos
municípios capixabas e informações acerca do uso e ocupação dos solos do Estado do Espírito Santo
referente ao mapeamento realizado nos anos de 2012 a 2015, em escala igual ou melhor a 1:25000.

Em layout do programa, o arquivo de uso e ocupação dos solos foi editado, considerando
apenas a distribuição dos cultivos de banana e café do município de Castelo. Por meio das ferramentas
de recorte de arquivos, foi gerado o Modelo Digital de Elevação (MDE) das áreas ocupadas pelos
cultivos, a partir da interpolação das curvas de nível no ícone create tin e pela posterior conversão
do arquivo para formato raster (tin to raster), considerando o valor de 10 para a resolução dos pixels.

A erosão das áreas estudadas foi estimada através da Equação Universal de Perda de Solos
(EUPS), que considera seis variáveis ambientais e de manejo, que são: erosividade, erodibilidade,
topografia, uso e ocupação dos solos e práticas conservacionistas (SILVA; PAIVA; SANTOS, 2009).
A EUPS é descrita pela equação (1):

A = R × K × L × S × C × P (1)

Sendo: A: perda de solo (ton/ha.ano); R: fator erosividade da chuva (MJ.mm/(ha.h)); K: fator


erodibilidade do solo (ton. ha.h. / ha.(MJ.mm)); L: fator comprimento de rampa (adimensional); S:
fator declividade, baseado em % de declividade; C: fator uso e manejo do solo (adimensional); P: fator

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 58


prática conservacionista. No entanto, para esta pesquisa, foi estimada somente a erosão potencial, que
desconsidera os fatores uso e manejo do solo e práticas conservacionistas, ou seja, os valores de C e
P.

A capacidade da chuva de causar erosão em uma área desprotegida em determinada localidade


é expressa pelo fator numérico R (WISCHMEIER; SMITH, 1962), sendo obtida a partir de índices
mensais de erosão, estimados pela equação (2), desenvolvida por Lombardi Neto e Moldenhauer
(1992):

(2)

Sendo: EI i: média mensal do índice de erosão (MJ ha-1 mm-1); ri: precipitação pluvial média
mensal (mm); Pi: precipitação pluvial média anual (mm) (1 ≤ i ≤ 12) .

O fator R corresponde ao somatório dos índices mensais de erosão (BERTONI; LOMBARDI


NETO, 1999). Os dados referentes à precipitação pluvial média mensal e anual foram adquiridos
junto ao Hidroweb, da Agência Nacional de Águas (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2019),
referente à estação pluviométrica localizada no município, na coordenada S 20° 36’ 20.16’’ / W 41°
11’ 58.92’’, considerando uma série histórica pluviométrica de 46 anos. Devido à carência de estações
pluviométricas no município com maiores séries históricas, optou-se em adotar apenas uma estação
para a coleta dos dados. As informações, após coletadas, foram manipuladas no programa Microsoft
Excel.

Alguns solos apresentam maior propensão à erosão que outros, mesmo quando a cobertura
vegetal, a precipitação, o declive e as práticas de controle de erosão são as mesmas. Essa diferença
é chamada de erodibilidade do solo, e ocorre devida às propriedades inerentes ao solo (BERTONI;
LOMBARDI NETO, 1999). Para a área estudada, a erodibilidade do solo foi obtida pela literatura
considerada. A determinação dos tipos de solo na área estudada ocorreu por meio da edição de um
arquivo de tipos de solos do Estado do Espírito Santo, adquirido junto ao GEOBASES.

A partir do MDE da área estudada, foi gerado o mapa de declividade local, com intuito de
determinar o chamado fator topográfico (LS) da equação, a partir da geração dos mapas de declividade
(S) e comprimento de rampa (L). O fator topográfico representa a influência do comprimento de
rampa e da declividade na intensidade de erosão hídrica em determinado solo (BUENO; ARRAES;
MIQUELONI, 2011). O mapa do fator L foi obtido com auxílio da metodologia descrita por Desmet
e Govers (1996), McCool et al. (1987) e McCool, Brown e Foster (1989), por meio das equações (3),
(4) e (5):

sin E⁄0,0896
F= (3)
0,56+3( sin E)0,8

F
m= (4)
1+F

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 59


m+1
A+ D2 − Am+1
L= (5)
xm Dm+2 (22,13) m

Em que: D: tamanho do pixel (determinado no ícone propriedades do arquivo); A: fluxo


acumulado da drenagem (flow accumulation, no ArcGIS®); C: declividade (expressa e convertida
em radianos); x: coeficiente de forma (adotado x = 1, para sistemas compostos por pixels).

Em seguida, foi gerado o mapa do fator S, através do algoritmo de McCool et al. (1987) e
McCool et al. (1989), partindo das seguintes condições matemáticas, considerando a declividade:
quando tan E < 0,09, adotar S = 10,8 x sin (E) + 0,03 e; quando tan E ≥ 0,09, adotar S = 16,8 sin
(E) + 0,5. O mapa do fator LS foi obtido através da multiplicação dos fatores L e S. Para auxiliar na
inteerpretação dos resultados, o fator LS foi quantificado e reclassificado para as áreas ocupadas pelos
cultivos.

A inserção dos cálculos foi feita na ferramenta denominada álgebra de mapas, no ícone “raster
calculator”. As operações foram feitas a partir da conveersão de todos os arquivos para formato raster.
A erosão potencial dos cultivos foi classificada conforme a metodologia adotada por Beskow et al.
(2009), e interpretada conforme a literatura considerada.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os cafezais do município possuem total de área equivalente a 11380,97 hectares, perfazendo


17,01% do território do município. Foi obtido valor de erosividade igual a 6454,68 MJ ha-1 ano-1.
Segundo a classificação abordada por Carvalho (1994), valores de erosividade compreendidos de
4905 a 7357 MJ ha-1 ano-1 correspondem à classe “moderada a forte”. O valor estimado pode ser
atribuído à elevada pluviosidade nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, e poucas chuvas nos
meses de inverno, característicos do clima do município considerado.

Há predominância de seis tipos de solos diferentes nos cafezais do município de Castelo. Os


valores do fator K tiveram variação de 0,028 a 0,048. A Tabela 1 mostra os valores adotados para o
fator K para cada tipo de solo.

Tabela 1 – Fator topográfico dos solos ocupados pelos cultivos de café.

Tipos de solo Fator K


Cambissolo háplico 0,037
Latossolo amarelo 0,041
Argissolo vermelho-amarelo 0,034
Argissolo vermelho 0,044
Chernossolo argilúvico 0,028
Neossolo litólico 0,048
Fonte: (DEMARCHI; ZIMBACK, 2014); (DENARDIN, 1990); (LANZANOVA, 2009); (SILVA et al., 2009).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 60


Quanto ao fator topográfico, há maior predominância (62,998%) de valores de 2,0 a 5,0.
Todavia, apenas 30,195% da área dos cafezais possui fator LS menor ou igual a 2,0, ao passo que
menos de 1% dos cafezais apresenta fator LS acima de 10,0. A Tabela 2 apresenta os dados de área
para cada classe de fator topográfico.

Tabela 2 – Fator topográfico dos solos ocupados pelos cultivos de café

Classes (ton/ha/ano) Área (%)


≤ 2,0 30,195%
2,0 – 5,0 62,998%
5,0 – 10,0 6,282%
10,0 – 15,0 0,356%
15,0 – 20,0 0,095%
20,0 – 30,0 0,051%
30,0 – 40,0 0,017%
40,0 – 50,0 0,04%
> 50,0 0,01%
Fonte: Os Autores (2019).

De acordo com Barbosa et al. (2015), valores próximos ou iguais a zero (na classe: fator LS
≤ 2,0) indicam que há menores taxas de escoamento superficial, desfavorecendo a erosão laminar.
Portanto, os cultivos de café do município possuem maiores taxas de escoamento superficial na maior
parte de sua área, sendo um fator negativo quanto à conservação dos solos, o que requer medidas de
mitigação e atenuação dos processos erosivos na cafeicultura local.

Na avaliação do potencial de erosão, quanto maior a declividade e o trecho percorrido,


maior será a energia produzida pela enxurrada que se acumula e maior a erosão resultante (BUENO;
ARRAES; MIQUELONI, 2011). Dessa forma e, em virtude do fator LS estimado, a maior parte
dos cafezais estudados possui tendência a perda de solos. Todavia, a maior parte dos cultivos de café
apresentou valores de 2 a 5, indicando que a maior parte do relevo ocupado pelos cafezais possui
condições favoráveis a processos erosivos, porém, de forma não muito significativa, ao contrário de
áreas que possuem fator LS maior que 5, por exemplo.

Mas, mesmo diante dessa situação, é indispensável considerar as práticas conservacionistas


de uso de solo, sendo que terrenos ocupados por cafezais manejados indevidamente, sobretudo em
encostas com comprimento e declividade significativos, apresentam sensibilidade à erosão muito
mais elevada (RUTHES et al., 2012). Para os cafezais analisados, a necessidade dessas práticas
conservacionistas ocorre em virtude, principalmente, das condições do relevo local. Todavia, mesmo
em áreas com relevo mais favorável à instalação dos cultivos de café, a necessidade de práticas
conservacionistas também é relevante, com vistas a fornecer melhor qualidade ao solo e aos recursos
naturais, como os cursos hídricos.

A maior parte dos cafezais (65,32%) possui perda de solos classificada como “moderada a
forte”, ao passo que apenas 30,3% possui fraca perda de solos e 0,82% da área possui erosão potencial
classificada como “muito forte”. A Tabela 3 apresenta a área dos cafezais para cada classe de erosão
potencial.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 61


Tabela 3 – Erosão potencial dos solos ocupados pelos cultivos de café.

Classes (ton/ha/ano) Área (ha) Área (%)


≤ 400 (Fraco) 2090,68 18,37%
400 – 600 (Moderado) 1357,75 11,93%
600 – 1600 (Moderado a forte) 7434,05 65,32%
1600 – 2400 (Forte) 406,30 3,57%
> 2400 (Muito forte) 93,32 0,82%

Portanto, nota-se uma tendência a perda de solos considerada mediana a alta na maior parte
dos cultivos de café. A baixa vulnerabilidade a perda de solos em 30,3% dos cafezais é um fator
positivo, indicando que essas áreas possuem condições físicas (erosividade, erodibilidade, relevo e
topografia) favoráveis à instalação das lavouras.

Na atualidade, o café é economicamente cultivado a pleno sol no Brasil, em virtude de sua


adaptação a essa condição, gerando maior capacidade produtiva baseando-se na química intensiva
de fertilização (sistema convencional) (LEITE, 2013). Todavia, a cafeicultura convencional, quando
manejada incorretamente, pode favorecer a drásticas perdas de solo. No caso dos cafezais de Castelo,
a susceptibilidade a perda de solos de 65,32% da área, atrelada a um manejo incorreto, provoca
danos ambientais severos ao solo e aos recursos naturais, sendo um motivo de atenção aos órgãos
competentes locais quanto à minimização desses impactos ambientais.

Outro fator agravante é o uso de pesticidas e fertilizantes químicos nos monocultivos de café.
A aplicação dos mesmos em áreas com expressiva tendência a erosão hídrica acarreta um severo
desequilíbrio ambiental (LOPES et al., 2014), devido à contaminação dos recursos hídricos e do solo.

Em virtude da vulnerabilidade a consideráveis perdas de solo em boa parte dos cafezais


do município de Castelo, a adoção de medidas de mitigação e atenuação dos impactos ambientais
provocados pela atividade é de extrema importância. Diante dessa situação, Lopes et al. (2014)
propõem a adoção de sistemas de cultivos mais sustentáveis. Como exemplo, os mesmos autores
citam os agroecossistemas cafeeiros orgânicos (voltados mais para a substituição de insumos) e
sistema de produção integrada e diversificada, também denominado de sistema agroflorestal. Estes,
por sua vez, são dotados de maior complexidade biológica.

O manejo conservacionista nas áreas cafeeiras garante conservação do solo a partir da maior
cobertura do solo, favorece a preservação da fauna e flora, promove a ciclagem de nutrientes e
proporcionam contínuo aporte de matéria orgânica (BREMAN; KESSLER, 1997). Para os cafeicultores
do município de Castelo, a adoção de sistemas de cultivos como os sistemas agroflorestais e os
agroecossistemas cafeeiros orgânicos, além de práticas conservacionistas, traria benefícios ambientais
e econômicos expressivos, além de minimizar a vulnerabilidade a perda de solos das áreas ocupadas
pelos cultivos de café.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 62


4. CONCLUSÃO

A maior parte dos cultivos de café está localizada em áreas com vulnerabilidade de perda
de solos classificada de média a alta, significando um fator preocupante para a preservação dos
solos, sobretudo quando predominam-se monocultivos sob a ausência ou carência de práticas
conservacionistas. O fator topográfico foi considerado elevado na maior parte dos cafezais, indicando
adversidades do relevo ocupado pelos cultivos. Dessa forma, a adoção de sistemas sustentáveis de
manejo cafeeiro (agroflorestas, por exemplo), bem como trabalhos de assistência técnica por parte dos
órgãos competentes locais junto aos cafeicultores do município sobre práticas corretas na cafeicultura,
são sugestões fundamentais na conservação dos solos nos cultivos de café, proporcionando maior
sustentabilidade ambiental e rentabilidade.

5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado do Espírito


Santo – FAPES, pela concessão das bolsas de Iniciação Científica Júnior e Iniciação Científica
Tecnológica e pelo apoio fornecido para a execução deste trabalho.

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Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VI 64


CAPÍTULO VII

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA
ATUALIDADE

Diego da Silva the past, present and future. The former serves
Centro Universitário Campos de Andrade as a parameter of sustainability, while the latter
requires the definition of the desirable state of
society in the future. Past political experiences that
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo have tried to impose on the present generation the
refletir sobre o desenvolvimento sustentável na sacrifices necessary to build the future reveal the
atualidade. Para tanto, foi realizada pesquisa conflictual and complex relationship underlying
bibliográfica. Sustentabilidade também nos an apparently simple conceptual or taxonomic
remete a uma dimensão temporal pela comparação
problem. While the dominant practices in society
de características de um dado contexto
(economic, political, cultural) are determined
ecológico e sociocultural no passado, presente
by the elites of power; these same elites are
e futuro. O primeiro serve como parâmetro de
also the main references for the production and
sustentabilidade, enquanto que o último requer
dissemination of ideas, values and collective
a definição do estado desejável da sociedade
representations. Thus, the strength and legitimacy
no futuro. Experiências políticas passadas,
of sustainable development alternatives will
que tentaram impor às gerações presentes os
sacrifícios necessários para construir o futuro depend on the rationality of the arguments and
revelam o relacionamento conflituoso e complexo options presented by the social actors competing
subjacente a um problema aparentemente simples in the political and ideological areas.
conceitual ou taxonômico. Enquanto as práticas
dominantes na sociedade (econômica, política, KEYWORDS: Sustainability. Society. Ecology.
cultural) são determinadas pelas elites de poder;
essas mesmas elites são também as principais 1. INTRODUÇÃO
referências para a produção e disseminação
de ideias, valores e representações coletivas. De acordo com Pereira (2009) o
Assim, a força e a legitimidade das alternativas desenvolvimento sustentável depende do
de desenvolvimento sustentável dependerão
da racionalidade dos argumentos e opções equilíbrio dinâmico entre três pilares, o econômico,
apresentadas pelos atores sociais que competem o social e o ambiental. O desenvolvimento
nas áreas política e ideológica. econômico refere-se à geração de riqueza, a
PALAVRAS-CHAVE: Sustentabilidade. proteção ambiental diz respeito aos impactos no
Sociedade. Ecologia. sistema natural e social e a inclusão social aborda
ABSTRACT: This article aims to reflect os problemas relacionados com a má distribuição
on the current sustainable development. For de rendimento, saúde e oportunidades. O
this, a bibliographic research was carried out. conceito de desenvolvimento sustentável
Sustainability also brings us to a temporal
dimension by comparing characteristics of a surgiu a partir do termo ecodesenvolvimento,
given ecological and sociocultural context in apresentado na Conferência de Estocolmo em

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 65


1972. Ecodesenvolvimento é um termo usado para descrever um desenvolvimento ecológico através
da gestão positiva do ambiente para benefício humano e da natureza. A figura abaixo representa os
pilares do desenvolvimento sustentável:

Figura 1: Pilares do desenvolvimento sustentável.

FONTE: Pereira (2009).

Para Pereira (2009) o desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento que propicia um


benefício económico, social e ambiental a longo prazo, tendo em conta as necessidades atuais e das
gerações futuras e exige:

• uma maior ênfase na conservação dos recursos naturais e dos sistemas de base sobre os
quais todo o desenvolvimento depende;

• uma maior consideração à equidade social no contexto nacional e internacional, com


particular atenção nos países mais pobres;

• um horizonte de planeamento que ultrapasse as necessidades e aspirações da atual geração.

• Para se alcançar o desenvolvimento sustentável é necessário abordar as variáveis que o


constituem, tais como Segundo Pereira (2009).

• Dimensão social: trata-se de um processo de desenvolvimento baseado na distribuição de


renda, a fim de reduzir a distância entre os padrões de vida de abastados e não-abastados.

• Dimensão económica: deve ser avaliada mais em termos macrossociais do que apenas
por meio de critérios pontuais de lucratividade empresarial, com o intuito de promover
mudanças estruturais que atuem como estimuladores do desenvolvimento humano sem
comprometer o meio ambiente natural.

• Dimensão ecológica: propõe um sistema produtivo mais eficiente com soluções


ecologicamente corretas e economicamente viáveis através do uso de tecnologias limpas
e fontes de energia alternativa renováveis.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 66


• Dimensão espacial: sugere um dimensionamento espacial adequado, onde haja equilíbrio
entre as populações rural e urbana.

• Dimensão cultural: propõe um novo modelo desenvolvimentista que valorize a continuidade


das tradições e pluralidade dos povos.

Segundo Evangelista (2010) a interação entre as organizações e a sociedade mudou. Com


a consolidação de uma economia global e o aparecimento de novas tecnologias de comunicação, o
relacionamento entre empresas e sociedade modificou-se. Projetos públicos e privados, ao focarem
a melhoria da qualidade de vida de uma comunidade, passaram, em certa medida, a fortalecer a
identidade local, através da articulação de valores, dos sistemas de informação, e pela mobilização do
Estado, da iniciativa privada e da sociedade civil (estes três últimos considerados atores estratégicos
num cenário de mudanças).

É neste cenário que o conceito de Sustentabilidade surge como requisito básico para a
sobrevivência das empresas no mercado. Ele e outros diversos termos, que normalmente são
confundidos como seus sinônimos (marketing social, cidadania corporativa e filantropia empresarial,
entre outros), têm-se instalado como um discurso que sugere a rearticulação do papel das empresas
na Sociedade. São incontáveis os exemplos de empresas que procuram demonstrar em sua gestão e
em sua comunicação o compromisso com questões sociais. De uma forma geral, os seus objetivos
estão além de simplesmente informar. Pode-se dizer que, ao comunicar ações que refletem algum
compromisso com a Sustentabilidade, as empresas procuram fazer com que ela se transforme numa
vantagem competitiva (EVANGELISTA, 2010).

Sendo assim, este manuscrito tem por objetivo refletir sobre o desenvolvimento sustentável
na atualidade.

2. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Para Torresi et al. (2010) a percepção da maioria das pessoas é que a sustentabilidade está
relacionada apenas às emissões de gases para a atmosfera como, por exemplo, o gás carbônico, e
que este é o único risco a que o planeta está exposto. Isto é um equívoco. Em realidade este é o
principal problema, mas não é o único. Desenvolvimento sustentável não se restringe apenas a uma
ação, como reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa. Se realizarmos apenas ações no
sentido de reduzir as emissões dos gases estufa, tememos que o planeta seja alterado de tal forma que,
possivelmente, muitas espécies como as conhecemos agora deixarão de existir.

De acordo com Sartori et al. (2014) a emergência do desenvolvimento sustentável (DS)


como projeto político e social da humanidade tem promovido a orientação de esforços no sentido de
encontrar caminhos para sociedades sustentáveis. É crescente o interesse sobre sustentabilidade (ou
DS) e mais recentemente, as abordagens referentes a estratégias, produção mais limpa, controle da
poluição, eco-eficiência, gestão ambiental, responsabilidade social, ecologia industrial, investimentos
éticos, economia verde, eco-design, reúso, consumo sustentável, resíduos zero, entre inúmeros
outros termos. Numa primeira visão, o DS é o caminho para se alcançar a sustentabilidade, isto é, a
sustentabilidade é o objetivo final, de longo prazo. Em essência, o DS é multi-dimensional, incorpora

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 67


diferentes aspectos da sociedade, buscando a proteção ambiental e manutenção do capital natural
para alcançar a prosperidade econômica e a equidade para as gerações atuais e futuras. No mesmo
contexto, a sustentabilidade é a capacidade de um sistema humano, natural ou misto para resistir ou
se adaptar à mudança endógena ou exógena por tempo indeterminado.

Segundo Oliveira et al. (2012) os últimos três séculos foram marcados pelas revoluções
industriais e tecnológicas que culminaram com o surgimento de novas técnicas produtivas. Toda
essa mudança fez a capacidade de produção aumentar de maneira acelerada. No entanto, tamanha
velocidade do crescimento e a consequente necessidade de geração de riquezas acabaram culminando
numa série de efeitos colaterais para a sociedade na qual o modelo produtivo se insere, o que levou
a questões sobre a impossibilidade de subsistência. Desde então, essa sociedade passou a enfrentar
o agravamento de problemas como concentração de riquezas, desigualdade social, desemprego,
prejuízos ambientais, novas formas de abordagem em relação ao planeta, dificuldades nas relações
entre as empresas, e destas com a sociedade, além de questões relacionadas à própria possibilidade
de subsistência. Esses fatores fizeram surgir diversas correntes de pensamentos, estudos e pesquisas,
com o objetivo de gerar um modelo que permita aliar estas formas de desenvolvimento com a melhora
da interação humana com o meio ambiente e com outros seres humanos.

As organizações de grande porte possuem grande interação com o ambiente e as comunidades


do entorno da área de operação, demandando, muitas vezes, grandes quantidades de investimento
financeiro. Além disso, o crescente número de leis e regulamentações, criadas nos últimos anos, faz
com que as questões sustentáveis se tornem praticamente obrigatórias para essas organizações. No
entanto, embora todas elas tenham incluído a busca pela sustentabilidade em suas missões e visões,
ainda são raras as empresas reconhecidas como exemplo a ser seguido nesse campo. Isso se deve,
principalmente, à falta de um modelo que alie, de forma eficaz, o planejamento estratégico com os
conceitos da sustentabilidade. O que se encontra, na prática da gestão empresarial, é uma diversidade
de instrumentos de gestão, muitos dos quais de grande qualidade, porém que não demonstram a
capacidade de executar tal interação entre a sustentabilidade e a estratégia de negócios na qual a
empresa está inserida (OLIVEIRA et al, 2012).

Feil et al. (2017) colocaram que os termos sustentável, sustentabilidade e desenvolvimento


sustentável, embora muito utilizados na literatura científica, no setor privado e nas políticas públicas,
ainda não possuem um consenso em termos de conceito. Na literatura, existe uma vasta diversidade
de conceitos, relacionada, de forma predominante, com o desenvolvimento sustentável. Porém, os
significados destes termos variam na literatura em virtude do número de perspectivas e vinculações
ao contexto e ao campo de atuação. Essa diversidade de conceitos é explicada pela falta de clareza
dos termos, o que também ocasiona um ponto de convergência das várias áreas epistemológicas.
Apesar da ausência de consenso sobre o conceito destes termos, existe a aceitação geral em relação
à busca do equilíbrio entre as necessidades do ser humano e o meio ambiente, e em entender suas
complexas dinâmicas de interação, para aprofundar e ampliar seu significado. Outro aspecto de
consenso sobre os termos é que representam algo positivo e bom. As diversas discussões atreladas aos
termos sustentável, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável ocorreram visando à obtenção do
bem-estar humano em longo prazo por meio da gestão do sistema ambiental humano.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 68


Rattner (1999) mencionou que um dos resultados mais perceptíveis das conferências
internacionais sobre sustentabilidade, foi a incorporação da sustentabilidade nos debates sobre
desenvolvimento. Governos, universidades, agências multilaterais e empresas de consultoria técnica
introduziram, em escala e extensão crescentes, considerações e propostas que refletem a preocupação
com o “esverdeamento” de projetos de desenvolvimento e a “democratização” dos processos de
tomada de decisão. Muitas ONGs, adotando um posicionamento crítico em relação à definição oficial
de desenvolvimento dos governos e agências internacionais, entendem sustentabilidade como o
princípio estruturador de um processo de desenvolvimento centrado nas pessoas e que poderia se
tornar o fator mobilizador e motivador nos esforços da sociedade para transformar as instituições
sociais, os padrões de comportamento e os valores dominantes. Contudo, a falta de precisão do
conceito de sustentabilidade evidencia a ausência de um quadro de referência teórico capaz de
relacionar sistematicamente as diferentes contribuições dos discursos e campos de conhecimentos
específicos. Por outro lado, esta situação reflete a indecisão prevalecente das elites em definir um
plano e programa de ação coerentes que aceitem e incorporem as crescentes críticas dirigidas ao
modelo de desenvolvimento convencional e ainda dominante.

A fórmula atualmente usada nos discursos políticos e científicos, “...economicamente viável,


socialmente eqüitativo e ecologicamente sustentável”, não leva a formas e meios de combinar
e integrar metas e valores derivados das teorias sobre progresso técnico e produtividade
com a proteção e conservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Com relação à
reivindicação de eqüidade intra e inter-gerações e redução de disparidades nos níveis
nacional e internacional, a fórmula é ainda menos satisfatória. O conceito de sustentabilidade
transcende o exercício analítico de explicar a realidade e exige o teste de coerência lógica em
aplicações práticas, onde o discurso é transformado em realidade objetiva. Os atores sociais
e suas ações adquirem legitimidade política e autoridade para comandar comportamentos
sociais e políticas de desenvolvimento por meio de prática concreta. A discussão teórica,
portanto, revela uma luta disfarçada pelo poder entre diferentes atores sociais, competindo
por uma posição hegemônica, para ditar diretrizes e endossar representações simbólicas
de sustentabilidade, seja em termos de biodiversidade, sobrevivência do planeta ou de
comunidades autosuficientes e autônomas (RATTNER, 1999, P. 240).

Segundo Nasí-Callo (2015) a ONU reconhece a ciência, tecnologia e inovação como


fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico, e como tal, sua vital contribuição para atingir
os ODS. É necessário que a pesquisa científica sirva para embasar as decisões políticas, e não atue
apenas como espectador das mesmas. Assim, é importante conhecer em detalhes a situação atual
da ciência da sustentabilidade como área do conhecimento que apoia e orienta o desenvolvimento
sustentável. Ademais, através da análise da produção científica desta área é possível obter indicadores
do progresso das nações rumo aos ODS, além de permitir correções de rota durante o processo.

Segundo Pereira (2009) a evolução histórica da Humanidade mostra claramente as mudanças


que ocorreram na relação entre homem e natureza. O homem sempre modificou o ambiente natural em
que está inserido para garantir a sua sobrevivência. Porém, com o passar dos anos, essas modificações
foram cada vez maiores. Após a Revolução Agrícola, caracterizada pela notável alteração da relação
entre homem e natureza (o homem passa a domesticar os animais e a dominar as técnicas de plantio),
surgiram as primeiras cidades e com elas o uso insustentável dos recursos naturais. Deste modo,
emergiram os primeiros grandes impactos ambientais, como por exemplo, a extinção de espécies, a
destruição das florestas e o desvio de cursos de água. Como resultado desta nova forma de vida, que

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 69


passou do nomadismo para o sedentarismo, ocorreu o aumento da capacidade produtiva humana e o
surgimento de outros ofícios que não estavam diretamente ligados à produção de alimentos.

A complexidade deste novo contexto social exigiu uma maior cooperação entre as pessoas
para a manutenção da qualidade de vida. Nesse momento, a melhoria da qualidade de vida dava-se
em detrimento do mundo natural, pois a concepção predominante era de luta do homem contra a
natureza. No entanto, as profundas alterações que ocorreram no ambiente natural foram posteriores,
com a Revolução Industrial. Até então, a maior parte das calamidades que afligiam os homens tinham
uma origem natural. A Revolução Industrial veio alterar a situação na medida em que as ameaças
passaram sobretudo a surgir no interior das próprias sociedades (PEREIRA, 2009).

A Revolução Industrial surgiu em Inglaterra no Séc. XVIII e expandiu-se pelo mundo a


partir do Séc. XIX. O seu intuito era promover um crescimento económico e com isso uma melhor
qualidade de vida para a população. De facto, a Revolução Industrial trouxe alguns benefícios sociais
como o conforto, o aumento da esperança média de vida, a evolução dos meios de comunicação,
transporte e alimentação. Porém, os meios utilizados para proporcionar estes benefícios apresentaram
consequências devastadoras, como o consumo excessivo de recursos naturais, a poluição do ar, da
água e do solo, além da concentração populacional e dos problemas sociais oriundos dela (FORTES
E RIBEIRO, 2014).

A mudança para uma forma de desenvolvimento mais sustentado exige responsabilidade,


ética e compromisso. Apesar das diferenças sociais, económicas e ambientais variarem de país para
país, todos têm de seguir juntos em prol da mesma causa. Cada nação terá de definir a sua própria
estratégia de mudança, no entanto, todas deverão chegar a um consenso sobre o conceito básico de
desenvolvimento sustentável, já que este deve ser um objetivo mundial, enfrentado em conjunto por
todas as nações. Os objetivos primordiais para a política de desenvolvimento baseada no conceito de
desenvolvimento sustentável, segundo Pereira (2009) são:

• reativar o crescimento;

• alterar a qualidade do crescimento;

• satisfazer as necessidades essenciais nos campos do emprego, alimentação, energia, água


e saneamento;

• manter a população num número sustentável;

• conservar e melhorar a base de recursos;

• reorientar a tecnologia e atenuar os riscos; e

• integrar o ambiente e a economia na tomada de decisões.

Para que estes objetivos sejam alcançados, torna-se necessário a transição para um novo
sistema económico, onde haja uma relação harmoniosa entre produção e consumo em todos e entre
todos os países. Não podemos correr o risco de testar até onde o nosso planeta poderá resistir a este
modelo de desenvolvimento, pois as consequências podem ser irreversíveis. Devemos ampliar a nossa

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 70


percepção sobre a complexidade dos sistemas que regem a natureza e as estruturas socioeconómicas
e refletir sobre a atual relação existente entre nós seres humanos e o ambiente que nos cerca. Assim,
conseguiremos agir de forma consciente, promovendo um novo modelo de desenvolvimento baseado
na economia da permanência, reduzindo a poluição e aumentando a qualidade de vida de todos
(PEREIRA, 2009).

Segundo Evangelista (2010) a Sustentabilidade é um conceito amplo que se refere ao conjunto


de ações promovidas por empresas relativamente à Sociedade e que ultrapassam a esfera direta e
imediata da sua atividade económica. Torna-se, portanto, fundamental esclarecer este conceito para
que possamos definir da forma mais adequada um horizonte comum de entendimento. A expressão
Desenvolvimento Sustentável surge do debate ecológico das décadas de 1960 e 1970 e vem sendo
utilizada na área social para referir os problemas de esforços desenvolvimentistas humanos de longo
prazo. A ideia que a pauta é que o uso hoje de recursos não deveria reduzir os ganhos reais no
futuro. Assim, o desenvolvimento é sustentável se ele pode trazer às gerações futuras um nível de
desenvolvimento per capita igual ou superior àquele atingido pela geração presente.

Inicialmente, o conceito de Sustentabilidade estava associado à questão da preservação


ambiental. Uma empresa era ambientalmente sustentável se praticasse ações de desenvolvimento
e preservação do ambiente. Neste caso, Sustentabilidade era basicamente sinônimo de meio
ambiente. A Sustentabilidade era, portanto, uma dimensão da gestão ambiental e não social. A ideia
de Sustentabilidade foi expressa como eco-desenvolvimento e consolidada por Ignacy Sachs nos
preparativos da Conferência de Estocolmo, em 1972. Segundo ele, o eco-desenvolvimento seria o
desenvolvimento socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente prudente. Na
década de 1990, o termo Desenvolvimento Sustentável ganhou notoriedade, em detrimento de eco-
desenvolvimento, embora este também seja utilizado (EVANGELISTA, 2010; RIBEIRO, 2016).

No entanto, este paradigma mudou. Foi a emergência da equidade social como questão
central. Ela entrou na ordem do dia, influenciada pela noção de que o Desenvolvimento Sustentável
exigia a harmonização de três elementos: proteção ambiental, crescimento económico e equidade
social. De acordo com este novo modelo, uma empresa sustentável é aquela que atua nas três
dimensões: proteção ambiental, apoio e fomento ao desenvolvimento económico, quer seja local,
regional ou global, e estímulo e garantia da equidade social. Sendo assim, as empresas devem adoptar
e aprimorar seus mecanismos de gestão. Uma característica diferenciadora é a visão a longo prazo,
pois a Sustentabilidade adopta esta perspectiva. As ações que compõem este tipo de gestão requerem
algum tempo até que sua execução seja completa e os resultados possam ser identificados. De forma
distinta da filantropia, por exemplo, os programas de Desenvolvimento Sustentável incluem uma
ação conjunta entre Estado e iniciativa privada (EVANGELISTA, 2010; BIEHL E PETRYNA, 2014).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 71


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se que a conservação do meio ambiente deve ser estar inserida em uma política
de desenvolvimento do país, mas é importante enfatizar que ela não pode ser de apenas uma pessoa
ou um governo. O meio ambiente deve ser um cuidado de todos com tudo. Os cidadãos devem
estar permanentemente alertas para os perigos das ações mais indefesas que são realizadas no
meio ambiente. A implementação de ações sustentáveis envolve atos e ações simples como ir a um
supermercado, o uso racional de água nas residências, a manipulação adequada do lixo etc., mas
deve envolver também atitudes radicais quanto ao consumismo exagerado. Cada teoria, doutrina ou
paradigma sobre sustentabilidade terá diferentes implicações para a implementação e o planejamento
da ação social. Instituições e políticas relacionadas à sustentabilidade são construções sociais, o que
não significa serem menos reais. Entretanto, sua efetividade dependerá em alto grau da preferência
dada às proposições concorrentes avançadas e defendidas por diferentes atores sociais.

REFERÊNCIAS

BIEHL, J; PETRYNA, A. Peopling Global Health. Saúde e Sociedade, v. 23, n. 2, p. 376–89, 2014.
EVANGELISTA, R. Sustentabilidade Um possível caminho para o sucesso empresarial?. Rev.
Portuguesa e Brasileira de Gestão, Lisboa, v. 9, n. 1-2, p. 85-96,  jun.  2010. 
FEIL, A. A.; SCHREIBER, D. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável: desvendando as
sobreposições e alcances de seus significados. Cad. EBAPE.BR, v. 14, nº 3, Artigo 7, Rio de Janeiro,
Jul./Set. 2017.
FORTES, PAC; RIBEIRO, H. Saúde Global em tempos de Globalização. Saúde e Sociedade, v. 23,
n. 2, p. 366-375, 2014.
NASSI-CALO, L. A ciência da sustentabilidade no panorama global. 2015. Disponível em: https://
blog.scielo.org/blog/2015/10/16/a-ciencia-da-sustentabilidade-no-panorama-global/#.XK-nCIlKjIU.
Acesso em: 11/04/2019.
OLIVEIRA, L. R.; MEDEIROS, R. M.; TERRAC, P. B.; QUELHAS, O. L. G. Sustentabilidade: da
evolução dos conceitos à implementação como estratégia nas organizações. Produção, v. 22, n. 1, p.
70-82, jan./fev. 2012.
PEREIRA, J. V. I. Sustentabilidade: diferentes perspectivas, um objectivo comum. Economia Global
e Gestão, Lisboa, v. 14, n. 1, p. 115-126, abr.  2009.   
RATTNER, H. Sustentabilidade - uma visão humanista. Ambient. soc., Campinas, n. 5, p. 233-240, 
Dec. 1999 .  
RIBEIRO, H. Saúde Global: olhares do presente. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2016.
SARTORI, S.; LATRÔNICO, F.; CAMPOS, L. M.S. Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável:
uma taxonomia no campo da literatura. Ambiente & Sociedade, São Paulo v. XVII, n. 1 n p. 1-22 n
jan.-mar. 2014.
TORRESI, S. I. C. de; PARDINI, V. L.; FERREIRA, V. F. O que é sustentabilidade?. Quím. Nova, São
Paulo,  v. 33, n. 1, p. 1,  2010.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VII 72


CAPÍTULO VIII

DIRETRIZES PARA ENSAIOS TOXICOLÓGICOS IN


VIVO: UMA REVISÃO

Luane Aparecida do Amaral ABSTRACT: Toxicological tests are of


UFMS utmost importance as they assess the safety of
medicines, foods and compounds in general.
Rodrigo Juliano Oliveira Given this, this work includes the findings of the
UFMS literature and in general the sources of reference
Elisvânia Freitas dos Santos of the Organization for Economic Cooperation
UFMS and Development on how and when to use each
toxicological test. There are three main types of
toxicological tests described: acute, subacute and
chronic. Acute testing is used when you want to
RESUMO: Os testes toxicológicos são de test a product for the first time and there is not
extrema importância, pois avaliam a segurança much knowledge about it. This test identifies
de medicamentos, alimentos e compostos em the median lethal dose and supports the other
geral. Diante disso, este trabalho engloba os trials. The subacute test allows us to evaluate
achados da literatura e em linhas gerais as fontes how a particular compound acts for 28 days and
de referências da Organização para a Cooperação the chronic test for 90 days. Allowing the three
e Desenvolvimento Econômico sobre como e tests together to form the most complete toxic or
quando utilizar cada teste toxicológico. Existem nontoxic profile of a given product. Therefore,
três principais tipos de testes toxicológicos work is needed to describe in detail each type of
descritos, sendo eles: agudo, subagudo e crônico. toxicological test because, besides being complex
O teste agudo é utilizado quando se quer testar and thorough, they provide relevant information
pela primeira vez um produto e não há muito for the commercialization of new products.
conhecimento sobre ele. Este teste identifica a
dose letal mediana e dá suporte para os demais KEYWORDS: Toxicity Tests, Toxicological
ensaios. O teste subagudo permite avaliar como Symptoms, Consumer Product Safety.
determinado composto age durante 28 dias e o
teste crônico durante 90 dias. Permitindo assim,
que os três testes em conjunto formem o mais
1. INTRODUÇÃO
completo perfil tóxico ou atóxico de determinado
produto. Portanto, é necessário trabalhos que
Cada vez mais, o mundo moderno,
descrevam em detalhes cada tipo de teste
toxicológico pois além de serem complexos e intensifica-se as atividades na geração de produtos
minuciosos, fornecem informações relevantes destinados a aplicações médicas, agropecuárias,
para a comercialização de novos produtos. cosmeticológicas e alimentícias, em resposta às
PALAVRAS-CHAVE: Testes de Toxicidade, demandas crescentes da sociedade. Os novos
Sintomas Toxicológicos, Qualidade de Produtos produtos gerados pelos centros de pesquisas de
para o Consumidor.
universidades e empresas necessitam de testes
rigorosos de efeitos tóxicos in vivo para uso em

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica 73


humanos (BRITO, 1994).

Com a intenção de orientar e difundir as técnicas dos ensaios toxicológicos in vivo produzimos
este material com métodos, processos e procedimentos para a realização dos testes de toxicidade
aguda, toxicidade subaguda ou subcrônica e toxicidade crônica in vivo. A abordagem empregada
combina a praticidade da formatação e de fácil leitura e interpretação. Foram utilizadas em linhas
gerais as fontes de referências da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OECD, 1998; OECD, 2002; OECD, 2008a; OECD, 2008b).

De acordo com as referências pertinentes os testes de toxicidade são preferencialmente


realizados em ratos, porém podem ser utilizados camundongos. Algumas dificuldades como
dessecação, quantidade de sangue e limitação de análises devem ser consideradas quando o animal
de escolha for o camundongo.

Além disso, para testes de toxicidade são utilizados machos e fêmeas. As fêmeas consideradas
para os testes de toxicidade devem ser nulíparas e não-prenhas. Os animais não devem ter grande
variação de peso corporal (±20%).

Os animais devem ser mantidos em gaiolas individuais (toxidade aguda) ou coletivas


(toxicidade subaguda e crônica) e passar por pelo menos 5 dias de aclimatação para então iniciar o
teste. A luminosidade e temperatura devem ser controladas (12 horas de claro: 12 horas de escuro)
com temperatura mantendo-se em torno de 22ºC (± 3°C) e umidade entre 50% e 60%. A alimentação
deve ser constituída de água filtrada e dietas convencionais para roedores, ad libitum.

Em relação as doses, quando se tem conhecimento prévio que determinada dose cause dor e
sofrimento, esta não deve ser testada. Os animais moribundos ou que apresentem sinais de dor devem
ser submetidos à eutanásia. O Documento de Orientação da OECD (2002) descreve alguns critérios
na tomada de decisão de eutanásia.

Ainda, o volume da dose não deve ultrapassar 1 mL/100g de peso corporal, exceto quando
a solução é aquosa, podendo chegar até 2mL/100g de peso corporal. Caso seja necessário diluir o
composto em algum veículo, a água deve ser considerada como a primeira escolha. Para compostos
solúveis em óleo deve ser utilizado óleo de milho para diluição. Caso seja necessário utilizar
outros veículos é necessário que as características toxicológicas do veículo sejam conhecidas. O
grupo controle deve receber o veículo da solução, no volume mais alto usado. As doses devem ser
preparadas pouco antes da administração a menos que a estabilidade da solução por um longo período
seja aceitável.

Todos os testes de toxicidade devem possuir um relatório final e todos os dados necessários
estão descritos no ANEXO A.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 74


2. TOXIDADE AGUDA

2.1 Objetivos:

a) Identificar compostos tóxicos em alta dose em apenas uma exposição;

b) Estimar Dose Letal Mediana (DL50), com um intervalo de confiança.

2.2 Introdução

Inicialmente é necessário realizar um levantamento bibliográfico sobre o composto (caso não


se tenha conhecimento, buscar compostos similares ou da mesma família) a ser testado, estimando
assim uma dose inicial e qual teste deve ser realizado.

Além disso, preferencialmente são utilizadas fêmeas com idade entre 8 a 12 semanas. Alguns
estudos mostram que em geral há pouca diferença entre sexos, porém quando há diferenças as fêmeas
são mais sensíveis. Se for utilizado machos é necessário fornecer uma justificativa para tal.

2.3 Teste limite

Realizado quando se sabe que determinado composto não é toxico ou apresenta baixa
toxicidade. São utilizados cinco animais, testando uma dose de 2000mg/kg ou excepcionalmente
5000mg/kg. Inicialmente é testado uma dose em um animal, se esse animal morrer é realizado o
teste principal. Se o animal sobreviver são testados em mais quatro animais, totalizando cinco. Estes
cinco animais serão monitorados durante 14 dias após a administração da substância. Se três animais
morrerem durante este período é realizado o teste principal, caso mais de três animais permanecerem
vivos acredita-se que a DL50 é superior a dose teste (Figura 1).

Figura 1. Teste Limite

2.4 Teste principal

Realizado quando não se tem nenhum dado na literatura sobre o composto ou se sabe que
determinado composto é tóxico. Nesse teste são utilizados 5 animais no total, porém cada animal recebe
uma dose a cada 48 horas. O primeiro animal recebe uma dose baixa (dificilmente é tóxica), caso esse
animal não venha a óbito ou não apresente sinais de toxicidade, após 48 horas, é administrado em um

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 75


segundo animal, e assim até chegar o quinto animal que receberá a dose 2000mg/kg ou 5000mg/kg.

Quando não há nenhuma informação sobre o composto testado, é utilizado um fator de


progressão de dose de 3,2. Dessa forma as doses indicadas são: 1,75, 5,5, 17,5, 55, 175, 550, 2000; ou
1,75, 5,5, 17,5, 55, 175, 550, 1750, 5000. O pesquisador pode escolher uma sequência de 5 animais
(Figura 2, Figura 3), entretanto, quando não há estimativa de letalidade a dose deve ser iniciada em
175mg/kg.

Durante a sequência se algum animal morrer ou aparecer moribundo, o próximo animal deve
receber uma dose menor.

Figura 2. Teste principal (2000mg/kg).

Figura 3. Teste principal (5000mg/kg).

Durante as 48 horas cada animal deve ser observado. Caso não haja sinais de toxicidade ou
óbito com 2000mg/kg ou 5000mg/kg indica que a DL50 é superior a essas dosagens. Os resultados
desse teste permitem com um software estimar um intervalo de confiança.

2.5 Dose 5000 mg/kg

É utilizada apenas quando uma dose superior a 2000mg/kg pode produz resultados benéficos
para saúde ou meio ambiente. Quando adotada é necessário justificar, visto que, pode causar dor ou
desconforto ao animal.

2.6 Administração de dose

A dose deve ser administrada de uma única vez utilizando o método de gavagem, caso não
seja possível administrar em uma única dose ela deve ser fracionada e administrada em um período
que não exceda 24 horas.

É necessário realizar a administração de dose com os animais em jejum. Em ratos a alimentação


deve ser retirada no período da noite e em camundongos deve ser retirado 3-4 horas antes, mantendo
apenas a água.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 76


Os animais devem ser pesados antes da administração e calculado a dose necessária. Após
administração do composto o rato deve permanecer em jejum por mais 3-4 horas e o camundongo
1-2 horas. Quando fraccionada a dose, pode ser necessário fornecer alimentação sem jejum posterior.

2.7 Parâmetros avaliados

2.7.1 Triagem hipocrática

Deve ser realizada a triagem hipocrática em cada animal durante os primeiros trinta minutos,
nas primeiras 24 horas e diariamente por 14 dias. Todas as observações devem ser registradas, bem
como aparecimentos de sinais tóxicos e período de duração.

Os sinais avaliados são: estado consciente (atividade geral); atividade e coordenação do


sistema motor e tonificação muscular (resposta ao toque e aperto da cauda, alisamento, força para
agarrar); reflexos (córnea e orelhas); atividades no sistema nervoso central (tremores, convulsões,
sedação, anestesia e ataxia) e atividades no sistema nervoso autônomo (lacrimação, cianose, ptose,
salivação e piloereção) (MALONE; ROBICHAUD, 1962) (APÊNDICE A). Além disso, deve ser
considerado o controle de consumo alimentar e hídrico, porém para toxicidade aguda a OECD não
descreve a periodicidade.

2.7.2 Peso corporal

Peso corporal deve ser aferido antes da administração da dose e no mínimo uma vez por
semana. Antes da eutanásia é necessário pesar o animal para possível cálculo de peso relativo.

2.7.3 Análise macroscópica e microscópica de órgãos

A análise macroscópica deve ser realizada em todos os animais, inclusive aqueles que foram
a óbito durante os 14 dias. A análise microscópica (histologia) pode ser realizada, porém não é uma
exigência para o teste de toxicidade aguda.

A OECD não descreve quais órgãos devem ser avaliados na análise macroscópica para o teste
de toxicidade aguda. A literatura tem avaliado: coração, pulmão, baço fígado, rim, útero e ovário
direito (SOUZA et al., 2014; LIMA et al., 2017; BRANQUINHO et al., 2017).

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 77


3. TOXIDADE SUBAGUDA OU SUBCRÔNICA

3.1 Objetivos:

a) Verificar a segurança de doses repetidas durante um curto período de tempo (28 dias) após
a informação inicial sobre a toxicidade aguda;

b) Definir relação dose-resposta.

3.2 Introdução

Após a realização da toxicidade aguda é realizado o teste de toxidade subaguda. Esse teste
consiste na administração diária de doses durante um período de 28 dias. Neste teste são utilizados
animais de ambos os sexos, após o desmame ou antes de completar nove semanas.

3.3 Teste limite

Realizado quando nenhum efeito tóxico é esperado na dose 1000mg/kg/dia. Dessa forma, são
utilizados dois grupos: a) grupo 1000mg/kg b) grupo controle. Cada grupo deve conter dez animais,
cinco fêmeas e cinco machos.

3.4 Teste principal

É realizado quando não há muitas informações sobre o composto teste. Nesse teste é necessário
pelo menos três grupos com doses graduadas e um grupo controle. Cada grupo deve conter dez
animais, cinco fêmeas e cinco machos.

As doses devem ser selecionadas com base nos dados de toxicidade disponíveis ou objetivo
do composto. A dose mais alta deve ser escolhida com objetivo de induzir efeitos tóxicos, entretanto,
sem causar morte ou sofrimento grave ao animal.

As principais doses utilizadas na literatura são: 125mg/kg, 250mg/kg, 500mg/kg e 1000mg/


kg (SOUZA et al., 2014; LIMA et al., 2017; BRANQUINHO et al., 2017; SALDANHA et al., 2018).

3.5 Grupo satélite

Deve ser considerado a inclusão de um grupo satélite de dez animais, cinco fêmeas e cinco
machos, no grupo controle e na dose máxima.

Esse grupo receberá o composto por 28 dias e permanecerá em observação por no mínimo
14 dias após o tratamento. A existência deste grupo é importante para observar a reversibilidade,
persistência ou atraso na ocorrência de efeitos tóxicos relacionados à administração do composto em
teste.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 78


3.6 Administração de dose

O composto a ser testado pode ser administrado via gavagem, via dieta ou água potável. O
método de administração oral depende da finalidade do estudo e das propriedades físicas/químicas
do composto.

A administração das doses deve ser realizada em horários semelhantes todos os dias e ajustadas
conforme o peso do animal.

3.7 Parâmetros avaliados

3.7.1 Triagem hipocrática

Deve ser realizada durante os 28 dias e mais 14 dias (grupo satélite), segue as mesmas
especificações da toxicidade aguda.

3.7.2 Peso corporal, consumo alimentar e hídrico

Peso corporal deve ser aferido pelo menos uma vez por semana. O controle do consumo
alimentar e hídrico deve ser realizado semanalmente.

3.7.3 Análise macroscópica e microscópica (histologia)

A análise macroscópica deve ser realizada em todos os animais. Deve ser avaliado
macroscopicamente os órgãos: fígado, rins, glândulas suprarrenais, testículos, epidídimo, próstata
com vesículas seminais, útero, ovários, timo, baço, pulmão cérebro e coração. A aferição do peso dos
órgãos deve ser realizada o mais rápido possível, vale ressaltar que os órgãos de camundongos são
pesados em balança analítica devido ao seu tamanho e com ratos é possível utilizar uma balança semi
analítica.

A análise microscópica deve ser realizada nos órgãos e tecidos de todos os animais nos grupos
controle e maior dose. Caso apresente anormalidades é necessário realizar a análise nos demais
grupos. A OECD não descreve quais órgãos devem ser realizado a análise microscópica, mas a
literatura utiliza: coração, pulmão, baço fígado, rim e órgãos reprodutores (TRAESEL et al., 2014;
BRANQUINHO et al., 2017).

3.7.4 Análise hematológica e bioquímica

Devem ser avaliados: hematócrito, concentração de hemoglobina, contagem de eritrócitos,


reticulócitos, contagem total e diferencial de leucócitos, contagem de plaquetas e tempo de coagulação
sanguínea. A coleta deve ser realizada antes da eutanásia ou como parte do procedimento.

Devem ser avaliados: sódio, potássio, glicose, colesterol total, ureia, creatinina, proteínas totais
e albumina, pelo menos duas enzimas indicativas de efeitos hepatocelulares (alanina aminotransferase,

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 79


aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina, γ-glutamil trans- peptidasee glutamato desidrogenase)
e ácidos biliares. A coleta deve ser realizada antes da eutanásia ou como parte do procedimento.
Outros parâmetros podem ser considerados, principalmente hormonais.

4. TOXICIDADE CRÔNICA

4.1 Objetivos

a) Verificar a segurança de doses repetidas (90 dias) durante um longo período de tempo;

b) Abranger a maturação e o crescimento pós-desmame até a idade adulta;

c) Indicar principais efeitos tóxicos, órgãos alvo e a possibilidade de acumulação;

d) Definir níveis de dose para estudos crônicos.

4.2 Introdução

Após a realização da toxicidade subaguda é realizado o teste de toxidade crônica. Esse teste
consiste na administração diária de doses durante um período de 90 dias. Neste teste são utilizados
animais de ambos os sexos, após o desmame ou antes de completar nove semanas.

4.3 Teste limite

Realizado quando nenhum efeito tóxico é esperado na dose 1000mg/kg/dia. Dessa forma, são
utilizados dois grupos: a) grupo 1000mg/kg b) grupo controle. Cada grupo deve conter vinte animais,
dez fêmeas e dez machos.

4.4 Teste principal

É realizado quando não há muitas informações sobre o composto teste. Nesse teste é necessário
pelo menos três grupos doses e um grupo controle. As doses são selecionadas conforme teste de
toxicidade subaguda. Cada grupo deve conter vinte animais, dez fêmeas e dez machos.

4.5 Grupo satélite

Deve ser considerado a inclusão de um grupo satélite de dez animais, cinco fêmeas e cinco
machos, no grupo controle e na dose máxima. Esse grupo receberá o composto por 90 dias e
permanecerá em observação após o tratamento (a OECD não indica o número de dias de observação
para toxicidade crônica).

A existência deste grupo é importante para observar a reversibilidade, persistência ou atraso


na ocorrência de efeitos tóxicos relacionados à administração do composto em teste.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 80


4.6 Administração de dose

O composto a ser testado deve ser administrado em dose única, via gavagem, via dieta ou água
potável. O método de administração oral depende da finalidade do estudo e das propriedades físicas/
químicas do composto.

4.7 Parâmetros avaliados

4.7.1 Triagem hipocrática

Deve ser realizada durante os 90 dias e durante os dias de observação do grupo satélite, segue
as mesmas especificações da toxicidade aguda.

4.7.2 Peso corporal, consumo alimentar e hídrico

Peso corporal deve ser aferido pelo menos uma vez por semana. O controle do consumo
alimentar e hídrico deve ser realizado semanalmente.

4.7.3 Análise macroscópica e microscópica (histologia)

A análise macroscópica deve ser realizada em todos os animais. Deve ser avaliado
macroscopicamente os órgãos: fígado, rins, glândulas suprarrenais, testículos, epidídimo, próstata
com vesículas seminais, útero, ovários, timo, baço, pulmão, cérebro e coração. A aferição do peso dos
órgãos deve ser realizada o mais rápido possível.

A análise microscópica deve ser realizada nos órgãos e tecidos de todos os animais nos grupos
controle e maior dose. Caso apresente anormalidades é necessário realizar a análise nos demais grupos.
A OECD não descreve quais órgãos devem ser realizado a análise microscópica, porém sugere que
qualquer anormalidade seja avaliada.

A análise microscópica deve ser realizada nos órgãos e tecidos de todos os animais nos grupos
controle e maior dose. Caso apresente anormalidades é necessário realizar a análise nos demais
grupos. A OECD não descreve quais órgãos devem ser realizado a análise microscópica, mas a
literatura utiliza: coração, pulmão, baço fígado, rim e órgãos reprodutores (TRAESEL et al., 2014;
BRANQUINHO et al., 2017).

4.7.4 Análise hematológica e bioquímicas

Os mesmos parâmetros hematológicos e bioquímicos avaliados na toxicidade subaguda devem


ser avaliados na toxicidade crônica.

4.7.5 Exame oftalmológico

No teste de toxicidade crônica é necessário realizar um exame oftalmológico, utilizando um


oftalmoscópio ou equipamento adequado. O exame deve ser realizado antes da administração da
substância e no final do estudo, de preferência em todos os animais ou pelo menos nos grupos controle
e maior dose. Caso seja identificado alterações nos olhos, todos os animais devem ser examinados.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 81


REFERÊNCIAS
BRANQUINHO, L. S.; SANTOS, J. A.; CARDOSO, C. A. L.; MOTA, J. S.; JUNIOR, J. L.; KASSUYA, C.
A. L.; ARENA, A. S. Anti-inflammatory and toxicological evaluation of essential oil from Piper glabratum
leaves. Journal of Ethnopharmacology, v. 198, n. 1 p. 372–378, 2017.
BRITO, A.S. Manual de ensaios toxicológicos in vivo. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1994. 122p.
LIMA, F. F.; TRAESEL, G. K.; MENEGATI, S. E. M. T.; SANTOS, A. C.; SOUZA, R. I. S.; OLIVEIRA, V.
S. SANJINEZ-ARGANDOÑA, E. J.; CARDOSO, C. A. L.; OESTERREICH, S. A.; VIEIRA, M. C. Acute and
subacute oral toxicity assessment of the oil extracted from Attalea phalerata Mart ex Spreng. pulp fruit in rats.
Food Research International, v. 91, n. 1, p. 11-17, 2017.
MALONE, M. H.; ROBICHAUD, R. C. A Hippocratic screen for pure or crude drug materials. Llordya, v.
25, n. 4, p. 320-331, 1962.
OECD – Organization for Economic Co-operation and Development. Guidelines for Testing of Chemical,
Guideline 408, in: OECD (Ed.), Repeated Dose 90-day Oral Toxicity Study in Rodents, Paris, 1998.
OECD – Organization for Economic Cooperation and Development. Guidance Document on the Recog-
nition, Assessment and Use of Clinical Signs as Humane Endpoints for Experimental Animals Used in
Safety Evaluation. Environmental Health and Safety Monograph Series on Testing and Assessment No 19.
2000.
OECD – Organization for Economic Cooperation and Development. Guidelines for Testing of Chemical,
Guideline 425, in: OECD (Ed.), Acute oral toxicity - Up-and-down-procedure (UDP), Paris, 2008a.
OECD – Organization for Economic Cooperation and Development. Guidelines for Testing of Chemical,
Guideline 407, in: OECD (Ed.), Repeated dose 28-day oral toxicity study in rodents, Paris, 2008b.
SALDANHA, G. B.; SALDANHA, G. B. SOUSA, M. R. C.; OLIVEIRA, G. L. S.; SILVA, A. P. S. C. L.; DA-
VID, J. M.; DAVID, J. P. Absence of toxicity in Swiss mice following treatment with 7-acetoxy-4-aryl-3,4-di-
hydrocoumarin: Acute and repeated-dose toxicity study. Regulatory Toxicology and Pharmacology, v. 94,
p. 75–82, 2018.
SOUZA, J. C.; PICCINELLI, A. C.; AQUINO, D. F. S.; SOUZA, V. V.; SCHMITZ, W. O.; TRAESEL, G. K.;
CARDOSO, C. A. L.; KASSUYA, C. A. L. ARENA, A. C. Toxicological analysis and antihyperalgesic, antide-
pressant, and anti-inflammatory effects of Campomanesia adamantium fruit barks. Nutritional Neuroscience,
v. 0, n. 0, 2014.
TRAESEL, G. K.; SOUZA J. C.; BARROS, A. L.; SOUZA, M. A.; SCHMITZ, W. O.; MUZZI, R. M.; OES-
TERREICH, S. A.; ARENA, A. C. Acute and subacute (28 days) oral toxicity assessment of the oil extracted
from Acrocomia aculeata pulp in rats. Food and Chemical Toxicology, v. 74, n. 1, p. 320-25, 2014.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 82


ANEXO A - RELATÓRIO FINAL

É necessário relatar e justificar todos os dados pertinentes ao teste de toxidade aguda. Os seguintes
dados devem ser descritos:

1. Composto testado: identificação (número CAS), natureza, propriedades físico-químicas.

2. Veículo: descrição e justificativa.

3. Animais: espécie, estado microbiológico, número, idade e sexo dos animais, condições do
ambiente e alimentação.

4. Teste:

4.1 Toxicidade aguda: justificativa para seleção de dose inicial e fator de progressão de dose;
detalhes da formulação do composto, volume de dosagem e tempo de dosagem.

4.2 Toxicidade subaguda e crônica: seleção de doses, detalhes da formulação do composto, volume
de dosagem e tempo de dosagem. Se for o caso, conversão da concentração da substância em estu-
do na dieta/água de beber (ppm) para a dose real (mg/kg/dia).

5. Variáveis:

5.1 Toxicidade aguda: descrição de peso corporal, triagem hipocrática, achados da análise
macroscópica e microscópica, quando realizado, de forma individual. Resultados dos dados
da DL50 e tratamento estatístico de todos os resultados, comparados ao grupo controle.

5.2 Toxicidade subaguda: descrição de peso corporal, triagem hipocrática, achados da análise ma-
croscópica, microscópica, hematológica e bioquímica.

5.3 Toxicidade crônica: descrição de peso corporal, triagem hipocrática, achados da análise macros-
cópica, microscópica, hematológica e bioquímica e exame oftalmológico.

6. Discussão dos dados encontrados

7. Conclusão

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 83


APÊNDICE B - TRIAGEM HIPOCRÁTICA (adaptado de Malone e Robichaud, 1962)
Composto:...................................Dose:....................mg/kg volume da gavagem:.........mL Data:......................Hora da gavagem:..............
Caixa: ............................... Animal: ........................ Peso:.........................g Data de nascimento:...................................
Sintomas Tempo/Escala de intensidade de 0 a 4: 0=nenhum sinal e 4=intenso
0 30m 1,0h 2,0h 3,0h 4,0h 12h 24h 2D 3D 4D 5D 6D 7D 8D 9D 10D 11D 12D 13D 14D
Aparência Normal
Frênico vocal
Irritabilidade
Resposta ao toque
Aperto da Cauda
Contorção
Trem posterior
Endireitamento
Tônus muscular
Força de agarrar
Ataxia
Reflexo auricular
Reflexo corneal
Tremores
Convulsões
Estimulações
Straub
Hipnose
Anestesia
Lacrimação
Ptose
Micção
Piloereção
Defecação
Hipotermia
Respiração
Cianose
Morte
1. AVALIAÇÃO DO ESTADO CONSCIENTE E DISPOSIÇÃO
Aparência geral: Observa-se se os animais estão excitados ou deprimidos, ou recolhidos em grupos
no canto da gaiola.
Frêmito vocal: Verifica-se os sinais sonoros emitidos pelos animais estão aumentados.
Irritabilidade: Observação do comportamento animal quanto a agressividade.

2. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE E DESCORDENAÇÃO DO SISTEMA MOTOR


Atividade Geral: Verifica-se se os animais se movimentam normalmente.
Resposta ao toque: Observa-se se os animas respondem ao estimulo do toque.
Resposta ao pinçamento da cauda: com uma pinça aperta-se a cauda do animal e observar a res-
posta sensitiva à dor.
Marcha anormal: Observa-se se o deslocamento do animal dentro da gaiola é normal ou não.
Reflexo de endireitamento: Verifica-se a falta de equilíbrio na locomoção do animal

3. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE SOBRE A MUSCULATURA ESQUELÉTICA


Tônus da pata: Testa-se a capacidade do animal se equilibrar sobre um lápis ou bastão de vidro.
Tônus do corpo: Retira-se o animal da gaiola e verifica-se se a musculatura está flácida.
Força para agarrar: avalia-se a capacidade do animal em permanecer seguro a um lápis ou mesmo
a grade superior da gaiola.
Ataxia: Verifica-se se há irregularidade das ações musculares ou falta de coordenação dessas ações.

4. AVALIAÇÃO DE REFLEXOS
Auricular e corneal: Trata-se de comprovar se o animal responde a excitação provocada por coto-
nete de algodão nas regiões auriculares e corneal, através de movimentação sensitiva do pavilhão
auricular e/ou com fechamento das pálpebras.

5. AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL


Tremores e convulsões: Trata-se de observar estas alterações nos animais.
Estimulações: Trata-se de aquilatar se os animais apresentam efeito estimulador semelhante ao pro-
vocado por drogas como estricnina, picrotoxina e cardiazol
Straub: Observa-se se o animal apresenta cauda ereta, muitas vezes com a ponta quase tocando a ca-
beça, (devido a espasmo da musculatura próxima a base da cauda e ao redor do ânus), característica
dos opiáceos.
Sedação: Constata-se se há indícios de sedação no animal
Hipnose: Verifica-se a ocorrência desses efeitos semelhantes ao apresentado pelos barbituratos
Anestesia: Pode ser medido por pinçagem na cauda

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 85


6. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE AUTÔNOMA
Tamanho da pupila: Observa-se se ocorreu contração ou dilatação do diâmetro pupilar
Lacrimejamento ou salivação: Trata-se de observar nos olhos e na boca dos animais a presença de
secreção que em geral apresentam tonalidade avermelhada
Ptoses: Registra-se a ocorrência de fechamento palpebral que caracteriza as drogas neurolépticas
Micção: Verifica-se, se houve aumento, diminuição ou se não ocorreu diferença de volume de urina
eliminada pelos grupos teste comparando ao controle
Defecação: Compara-se quantidade de fezes expelidas pelo grupo teste e controle
Piloereção: Observa-se se há eriçamento dos pelos
Respiração: Observa-se se a respiração do animal está aumentada ou se há insuficiência respiratória.

Produção e Manejo de Culturas Agrícolas de Importância Econômica Capítulo VIII 86

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