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RA 1224010, polo Bragan�a Paulista.

Trago o poema Leveza, de Cec�lia Meireles.

Leveza

Leve � o p�ssaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.

E a cascata a�rea
de sua garganta,
mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.
E o desejo r�pido
desse mais antigo instante,
mais leve.
E a fuga invis�vel
do amargo passante,
mais leve.

Pessoalmente, considero todo esse poema como uma obra prima. Os versos traduzem com
maestria a tem�tica proposta - a leveza, o fugidio, o et�reo e o ef�mero. A obra de
Cec�lia, not�riamente modernista, rompe com a forma tradicional do poema, adotando
versos livres. H�, por�m, a presen�a de rimas, que atuam na constru��o da
sonoridade do poema e, por extens�o, de sentido: o ritmo do poema �, ele pr�prio,
muito leve e brando. Nesse sentido, percebem-se tra�os simblistas no poema, como a
subjetividade, a musicalidade do texto e a despreocupa��o com temas sociais. O que
impera, aqui, � um discurso metaf�sico de busca do eu e da realidade, numa evidente
influ�ncia do existencialismo, ilustrados na ang�stia diante da leveza do ser e da
exist�ncia, que cria o "amargo passante". Assim, � poss�vel estabelecer uma rela��o
entre o poema e obras de autores como Kieerkgard, Milan Kundera, Sartre, Simone de
Beauvoir, entre outros. Especialmente, por tratar da tem�tica da leveza, os versos
de Cec�lia fazem lembrar "A insustent�vel leveza do ser", de Kundera.

N�o � poss�vel estabelecer uma rela��o entre a tem�tica e a sociedade brasileira,


mas sim com aquilo que a sociedade n�o � (ou, em �ltima an�lise, com aquilo que n�o
percebemos ser): calma, tranquila, leve. Vivemos em tempos de agita��o e correria,
em que a espiritualidade e as quest�es mais profundas da exist�ncia humana v�m
sendo esquecidas pela maior parte da popula��o, em parte por influ�ncia do
pensamento positivista, que tanto marcou o s�culo XX e chegou at� a p�s-
modernidade, e em parte porque, na pr�tica, a vida cotidiana j� n�o reserva tempo
para a auto-observa��o e a busca de uma compreens�o mais ampla do mundo: resta-nos
a exist�ncia mec�nica, reativa e condicionada.

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