Você está na página 1de 30
LS HAC | aT INTRODUG AY Acredite em mim, existem poucas coisas mais embaragosas que ter de escrever a introdugao de seu préprio livro. Nada daquele dubio prazer de re- ceber um endosso de Stephen King ou Clive Baker. Nada de elogios inflama- dos de meus amigos, que mentem ran- gendo os dentes e esperando 0 che- que chegar pela Federal Express. Nada de andlise detalhada da técnica, de agradaveis tapinhas nas costas, dotom reverencialmente humilde e respeitoso. ‘Ao invés disso, sou forgado a subir na tribuna e fazer minha propria defesa E o que eu posso dizer? “HOMEM-ANIMAL foi uma pedra fundamental no desenvolvimento recen- te da narrativa grafica, e eu posso me considerar sortudo. por Grant Morrison Nao, privilegiado. Nao! Abengoado por ter conhecido Grant Morrison no momento mais importante de sua bri- thante carreira... E tudo verdade. Mas 0s leitores de quadrinhos gostam de modéstia e hu- mildade acima de tudo. Entao, talvez eu devesse ficar com aquele tom can- sado, cinico e auto-depreciativo. “HOMEM-ANIMAL? Nada demais. Pagava 0 aluguel, pelo menos.” Hm, isto no chega a ser totalmente mentira, mas também nao conta toda a historia ‘Acho melhor eu me ater apenas aos “fatos”: Em 1987, no dpice do furor dos criti- cos, que aclamavam o trabalho de Alan Moore em MONSTRO DO PANTANO e WATCHMEN, a DC Comics despa- chou um bando de especialistas em uma missao esquisita popularmente co- nhecida como “caga-talentos”, man- dando todos para 0 Reino Unido. A idéia era nao deixar pedra sobre pe- dra enquanto procuravam por mais da- queles autores britanicos esquisites que, supostamente, poderiam fazer ma- ravilhas com alguns daqueles persona- gens velhos e empoeirados, lé no fun- do dos catdlogos da DC. Eu fui um dos que recebeu uma ligacao naquele ano, nao fazia a minima idéia de quem eu poderia desenterrar e revitalizar. No trem que ia de Glasgow a Londres, en- tretanto, meu cérebro febril e estressado finalmente se lembrou do Homem-Animal. Esse personagem me- nor, surgido nos anos 60 nas paginas de STRANGE ADVENTURES, sem- pre, sabe Deus por qual obscura razao, fascinou-me. E, enquanto o trem mo- via-se barulhentamente através de uma paisagem pitoresca das casas de Tudor, com criancas felizes andando de bicicleta, eu comecei a trabalhar num cenério envolvendo um super-herdi de terceira categoria, desempregado, ca- sado e com filhos, que repentinamente envolve-se com questdes de direitos dos animais, e descobre sua verdadei- ra vocaco na vida. Inicialmente, HOMEM-ANIMAL foi concebido como uma mini-série em quatro partes. Minha intengao era radicalizar e realinhar 0 personagem Buddy Baker e, entao, deixd-lo para que outro escritor o desenvolvesse. Mas enquanto trabalhava na mini-série, per- guntaram-me se eu nao queria transforma-la em uma nova série men- sal. E, de repente, eu estava desespe- rado por novas idéias. Sem a minima vontade de produzir mais uma realistica exploracao do que € ser um super-hu- mano e/ou um vigilante urbano com sérios problemas emocionais, eu co- mecei a atirar para todos os lados, pro- curando um novo caminho. E o que fa- talmente resultou de tudo isso foi “O Evangelho do Coiote”, que se tornouo molde para o desenvolvimento de todo orestante da série e que ainda perma- nece como uma das minhas histérias preferidas. O mais engra- ado é que, enquan- to eu escrevia "O Evangelho do Coiote”, estava absolutamente convencido de que © que es- crevia nao passa- va de um monte de bobagens totalmen- te ilegiveis, e que eu estaria dando a ltima martelada no Ultimo prego do cai- x&o de minha recente carreira como es- critor de quadrinhos de super-herdis norte-americanos. Todo 0 sucesso e a popularidade que a historia alcangou pegou-me de surpresa e me encorajou acontinuar produzindo bobagens ilegi- veis que desde entao tomaram-se meu cartao de visitas. Ao mesmo tempo, “O Evangelho do Coiote” iniciava uma tra- ma que so iria se resolver na edigéo #26 de ANIMAL MAN, meu ultimo nu- mero como roteirista da série. Dicas quanto a natureza da trama foram introduzidas muito antes, na edicdo #8, e os novos leitores nao devem ficar muito confusos com as aparigoes de uma misteriosa tela de computador, uma figura misteriosa nos arbustos @ um igualmente misterioso fisico nativo- americano. Esses sao apenas alguns elementos intrometidos da sub-trama, e vocé nao deve deixé-los afetar o di- vertimento, ou coisa parecida, da his- toria principal. Novos leitores podem também confundir-se um pouquinho com as por- tentosas referéncias a uma “Invasao” nas historias “Aves de Rapina” e “A Morte do Mascara Rubra”. INVASAO foi, de fato, um mega-crossoverda DC, ‘onde um bando de personagens mal- encarados do espaco sideral lancam um ataque totalmente nao provocado ‘em nosso pobre Planeta Terra. A mai- oria dos titulos de super-herdis da DC acabaram envolvendo-se com a trama central de Invasdo, e o HOMEM-ANI- MAL nao foi uma excegao. Entao, en- tre os nimeros #6, #7 e #8, o Homem- Animal participou da guerra dos super- herdis contra 0s invasores alienigenas, ‘0. que acabou por bagunear ligeiramen- te com seus poderes animais, mas isto jA6uma outra historia. Confuso? Eu, com certeza, estou. Agora que posso olhar para HO- MEM-ANIMAL através da lente engana- dora do espetaculo dos uniformes colo- ridos, vejo muitas coisas das quais par- ticularmente gosto. Eu gosto do fato de que a maioria das histérias séo autocontidas em vinte e quatro paginas. Eu gosto da oportunidade que me de- ram de introduzir uma versao escocesa e boca-suja do Mestre dos Espelhos [n. do t.: que 86 vird a aparecer no segun- do volume dessa colecdo], e eu gosto das gags caseiras da familia Baker. Para mim, o aspecto mais importan- te de trabalhar com o HOMEM-ANIMAL foi que, nao s6a série me providenciou um palanque de onde \._ pudesse gritar minha visdo ranzinza e cada vez mais misantropica das questées sobre 08 direitos dos ani- mais, como também me encorajou a colo- car meu dinheiro na causa que minha boca proferia. E entdo, pouco depois de comegar a tra- balhar em Homem-Animal, eu me juntei ao Animal Liberation Front Supporters Group e comi o meu tiltimo bife. Des- de entao, eu tenho sobrevivido exclusi- vamente de agua, mato, amendoins e da gentileza de estranhos. Agora, as questdes de direitos dos animais me parecem muito vastas e complexas para serem abordadas de maneira adequa- da nas paginas de um gibi de super-he- ris. Mas se HOMEM-ANIMAL ajudou aalertar alguns leitores para as atroci- dades sem sentido que sao cometidas diariamente em nome da “pesquisa”, entao significa que valeu a pena. O que me traz ao final da pagina. Mas como eu escrevo uma introdugao ao meu proprio livro sem parecer exageradamente orgulhoso ou falsa- mente humilde? “HOMEM-ANIMAL 6 uma série em quadrinhos escrita por Grant Morrison e ilustrada por Chas Truog, Doug Hazlewood e Tom Grummet. Possui ca- pas maravilhosamente desenhadas por Brian Bolland, foi originalmente edita- da por Karen Berger e Art Young, origi- naimente colorida por Tatjana Wood e originalmente letrerada por John Costanza. Algumas pessoas gostam dela, outras nao.” Provavelmente. Por que vocé nao Ié e julga por si proprio? O#, MEU WOH, MEL Deus! Deus! = dah Me) \ Fr~ \ o Vee AMOS! CS CN CANELA, /, A CIDADE FOI ATACADA POR UM CAGA KHUNDIO ANTEONTEM! L_ >. E,COMO SE NAO BASTASSE, TUDO: ISSO COMEGOU A APARECER! ROBOS VERMELHOS! ESSA E UMA COISA EN- GRAGADA DE SE DIZER! d O QUE TE FAZ PENSAR QUE EL) NAO POSSO VOAR?| NO SE APERTA A MAO OO ; "a WA. WV poe DEDAI Te. ! Rares MASCARA RUBRA! EU Te- | SOZINHO! Ei, NB UN GUS PE NOR, iE FOL SO UMA . voce \ rina NAO SABE, NE? VOCE... HLUICC... ao ‘SIM, EL) ESTOLT TODOS ESSES ROBOS. SO UM MINUTO! DELXA EU PEGAR O MEU INA- LADOR, TA BEM? CLARO QUE SOUT AFINAL, EU SOU UM SUPERVILAO! O QUE ACHOU DESSES RO- 80S, HEIN? ESSAS DROGAS NAO FUNCIONAVAM NA DECA- A DE 40 E SAO MAIS iN TEIS AINDA AGORA! GANHE! ESSAS PORCARIAS NUM JO- GO DE POQUER COM ‘© DOUTOR FANG! A ORIGEM SECRETA DO SE TIVER CINCO SEGUNDOS SO- BRANOO, EU TE CONTO A HISTO- RIA DA MINHA E IDO? E O QUE EU DISSE! VOAR!APOSTO | | VOCE TEM PODERES ANIMAIS! EU TENHO UM TOQUE DE MORTE! MINHA CARA! ME DEL PODERES VOAR, E EU TINHA DE ANIMAIS! DE moRTE COISA QUE EU SEMPRE QUIS FO! VOAR! QUEM SABE, SE EU TIVESSE ENCONTRADO LIM ME- TEORO DIFERENTE? "CLARO QUE MINHA MULHER | | ‘PRA FALAR A VERDADE, ACHO SE MANOOU! QUALQUER PES- | | QUE ELA TAVA TRANSANDO COM SQA TERIA FEITO ISSO!” O CARTEIRO!* "O QUE EU PO- GIA FAZER, AFI- Nat, Com tn TOQUE oc monre?* —, *SEIA COMO FOR, AS COISAS FICARAM LE- 'GAIS POR UM TEMPOS “EU ME ASSOGEI A UM CARA CHAMADO O A CENTE CONSESLILT ALGLINA GRARA'! ENGRAGAGO QUE ELE SEMPRE USAVA UMA ME(A~PERUCA! ME PERGUNTE POR QUE! QUASE NINGUEM VIAA CABEGA CELE DEBAIXO DO CApUZY PORQUE VOU AN RER! SAO OS MEUS PULMOES, E EL NAO QUERO MORRER NO HOSPITAL QU VEN- (PET, ENTENDE? je! UM ULTIMO CRIME PERFETO!, EH! MODELO COM FOGUETES! PRIMEIRA VEZ QUE EU VEIO UM SE ERGUER MAIS DO QUE } ALGUNS CENTIMETROS! al PRA MIM, VOCE NAO LEVA JEITO MORTE, UA EXERCITO DE RO- BOS ASSASSINOS, UMA CAVEIRA PIN- TADA NQ PEITO, €, OS VILOES SAO DIFERENTES HOE! TODO MUNDO TEM LINIFORMES SENSACIONAIS, CHEIOS DE FOTON ISSO, A GENTE TINHA UMA CLASSE MELHOR DE SA LAFRARIOS' VERDADE! ODEIO GENTE QUE RES- \MUNGA O TEM- TRUMAN ERA O PRESIDENY ELE TI TE QUANDO MANDE! FAZER } NHA UM ISTO! UA CARA MEIO CE- ,_ GATO ‘SARNEN- To QUE SE CHA- MAVA AH, ESSA DROGA NUNCA EN-| aa =< S Sy = = ZI BA ZOD | ee we bo eu GOSTARIA DE PODER DIZER Y DE QUALQUER FORMA, MESMA COISA, CARA’ PRAZER TE CONHECER! 0 HOMEM COM PODERES ANIMAIS Uma coisa pode ser dita com certeza sobre Buddy Baker, 0 Homem-Animal: ele nao é um super-herdi comum. Desde sua primeira apari- a0, na revista STRANGE ADVENTURES #180 (originaimente publicada nos EUA em Setembro de 1965), isso jd ficava bastante claro, se consi- ‘derarmos que, em sua origem, nem mesmo um ‘desses tamosos uniformes coioridos de super- herdis, ele tinha: 0 tradicional uniforme laranja ‘azul 86 101 introduzido. em sua terceira aventura, publicada em STRANGE ADVENTURES #190 (Wulho de 1986). Criado por Dave Wood (roteiro) e Carmine Infantino (desenhos), 0 “homem com poderes.ani- ‘mais” tinha uma estranha “aura” que fascinavam 05 leitores, mas, aparentemente, nunca os edito- tes... Entre 1965 @ 1967, ele teve cinco aventuras pubiicadas, para entéo permanecer no limbo do fesquecimento até 1980, quando fez uma aparigao especial em WONDER WOMAN 257-268 (Maio e ‘Junho de 1980}, por cortesia de Gerry Conway Jose Delbo, em’'duas aventuras que nao mais fa- zem parte da cronologia “oficial” da DC Comics. Dentre 1980 © 1986, 0 Homem-Animal fez di- ‘versas aparigdes especiais, em varios titulos da C. @ até mesmo fliou-se a um dos super-grupos mais obscuros do Universo DC, que usa 0 suges- tivo nome de “Herdis Esquecidos” (Forgotten Heroes), a0 lado de outros ilustres desconheci dos do grande publico, como Cave Carson, Rip Hunter, Congo Bill, Detim @ 0 Homem-Imortl Eniao velo a Crise nas Infinitas Terras, uma ‘mega-saga que tinha por objetivo “apagar” toda a cronologia dos super-herdis da DC, e recomegar tudo, praticamente do zero. Algumas poucas col ‘888 ¢ Salvaram da faxina geral, mas a grande maioria dos personagens (incluindo o astro de: te livro) foram profundamente moditicados. E 6 ai que entra Grant Morrison, escritor bitd- nico que num belo dia recebeu um convite para revitalizar algum dos herdis deixados “de lado" pela DC Comics, Sendo ele mesmo um daque- Jes muitos garotos fascinados polas (poucas) aventuras do “homem com poderes animais’, a escolha pareceurine dbvia, ¢ 0 resultado, vocé tem nas maos. Homem-Animal foi o primeiro grande “hit” da carreira de Grant Morrison nos comics de super- herds, © deu um pontapé inicial a uma carreira bei- thante que dura até hoje, cada vez mais prolifera. E, ja em suas primeiras historias no universo da DC Comics, podemos perceber algumas das caracte- risticas marcantes de sou estilo narrativo. A primeira dessas caracteristicas ¢ a sua mania de desenterrar personages para colocar nas historias. E assim j4 nas primeiras historias desta edigao, onde Momison nos apresenta o Fera Bwana (B'wana Beast), personagem criado por Bob Haney e Mike Sekowsky, que apareceu pela primeira vez na revista SHOWCASE #66, de Fove- Teiro de 1967. A SHOWCASE ora uma “rovista- teste” onde varios personagens eram apresen- tados e, dependendo da reacao dos leitores, po- ANOTAGOES E CURIOSIOADES driam ser langados a0 estrelato ou tadados a0 ‘esquocimento. A Showcase fol ponto de partida para diversos personagens hoje muito famosos, ‘como 0 Flash/Barry Allen (SHOWCASE #04) ¢ 0 Lanterna Verde/Hal Jordan (Showcase #22). 0 Fera Bwana caiu na segunda categoria, tendo ape- rnas duas aveniuras publicadas, para depois de- ‘saparecer no limbo, junto com sua macaca Djuba @ Seu companheiro, Rupert Kenboya, Além do fa Bwana, diversos outros personagens virl am a ser resgatados, no decorrar da sério.. ‘Ainda neste volume, Morrison nos traz 0 G viao Negro, personagem que, na epoca, tazia aparigoes esporddicas em revisias como a da iga da Justica. Este personagem, apesar da ‘apaticao breve, merece um parégrafo & parte: ‘© Gavido Negro foi criado por Gardner Fox @ ‘Sheldon Moldoft, tendo estreado na revista FLASH COMICS #1, de Janeiro de 1940, sendo um dos mais antigos hor6is da DC Comics. Durante os ‘anos 40, fez sucesso tanto em suas proprias Aventuras quanto ao lado da Sociedade da Justi 2, até fatalmente cair no esquecimento. Quando a DC comecou a reciclar seus antigos sucessos, ‘nos anos 66, 0 Gavido Negro foi completamente ‘enovado por Gardner Fox e Joe Kubert Em 1961, nna revista THE BRAVE AND THE BOLD #34, 0 Gaviao Negro nos foi apresentado como 0 alion‘gena Katar Hol, vindo do distante planeta Thanagar. Katar 0 sua esposa Shayora (a Mu- ther-Gaviao), ambos oficiais da policia de Tanagher, vieram para a Terra atrés de um crim ‘noso chamado Byth, mas decidem ficar no pla- neta para estudar suas técnicas de combate & criminalidade. Seus poderes vinham de arte tos especiais: 0 cinto antigravidade, que thes per- mitia voar, @ um par de asas para controlar 0 v60, @ um aparelho chamado Absorbascon, que Ihes davam as habilidades de so comunicarom com 08 passaros, de falarem qualquer lingua terres tre, © ainda hes conferia todo © conhecimento humano. Para protegerem suas identidades, 0 ccasal assumiu o nome de Carter e Shiera Hall, tomando-se funciondtios de um Museu, na cida: de de Midway City. Sendo Tanaghar um planeta fextremamente beligerante, Katar © Shayera ti nham acesso a armamento de alta tecnologia, mas optaram por uillizar armas antigas, como ‘magas © machados, que encontraram no Museu. Eles tomaram essa'decisto visando nao afetar o cequiliorio de poder na Terra (uma alusdo clara & Guerra Fria © suas armas atomicas). {Alé 0 momento em que Morrison escreve a his- {ria “Aves de Rapina’, muito pouco havia sido mostrado sobre a cultura de Tanaghar. Sendo um ovo guerteiro, os Tanagharianos vem mais be- leza na Guerra do que na arte om si. e, basean- o-s0 neste pouco que se era conhecido, Morison criou uma intrincada mistura entre guorra @ arte. ultimo personagem “obscuro” a aparecer neste volume é 0 Mascara Rubra, um pseudo- superildo do pasado. Ao contrério do que pode parecer, desta vez, a criaglo 6 do préprio Morison, vvisto que nenhuma referéncia ao personagem foi encontrada no passado da OC Comics. Durante historia, 0 Mascara Rubra diz ter enfrentado 0 Capitao Triunfo (outro personagem que fez su- ‘cesso na Era de Ouro, tendo sido criado por Allred ‘Andiiola © Jerry Drake, na rovista CRACK COMICS #27, em Janeiro de 1943), mas nao existe qui Quer outra roferancia a este encontco. Outta caracteristica presente na narrativa de Morrison, e mais especilicamente, em seu porio- 40 junto com 0 Homem-Animal, ¢ a metalingua- gem, o recurso da histéria que fala da propria histéria, © capitulo cinco, a promiada historia “O Evangelho do Colote", ¢ completamente met gUistica: Morrison fala, aqui, das mudangas que vinham ocorrendo com 08 ‘comics americanos, cada vez mais realisticos e violentos, ao iwés da diversdo simples e descompromissada que sempre foi marca regisirada das historias em quadrinhos. Esta historia, ainda, 6 © pontapé in cial de uma trama que $6 viria a ser completa mente resolvida mais de vinte nimeros depois, e que vocé tera a chance de ler nos volumes sub- Sequentes desta série. Também @ comum, nas histérias do eseritor, uma portentosa quantia do referéneias a concei- tos fisicos, metatisicos ou artisticos, que dao um sabor especial as suas historias, Um bom exem- plo do uso dessas referéncias 6 o proprio perso: fagem Mascara Rubra, que retirou 0 seu nome de um conto de Edgar Allan Poe, “A Mascara da Morte Rubra’. O conto doscreve uma terrivel pes- te, a "Morte Rubra’, que comeca com a aparicao de terrivois pustulas vermeihas na face do infectado, vindo a matarihe em menos de meia hora. Apavorado com a peste, o Principe Prospe- 10 tranca-se, com a companhia de mil amigos amigas da cérte, que ainda estavam sadios, em ma abacia fortiicada @ repieta de mantimentos. Assim, trancados dentro do forte, sem terem como entrar ou sar, a nobreza festeja enquanto os cam- Poneses mortem da terivel peste. At6 0 dia em que © Principe resolve organizar um gigantesco baile de mascaras dentro dat abadia, @ quando 0 enorme ‘relégio de ébano, no utimo saldo, toca a meia-noi- te, 08 nobres festeiros percebem a presenca de uum ostranho convidado. 4J4 no capitulo seis, *Aves de Rapina’, © per- sonagem Rokkara Soh apresenta-nos uma bre- ve explanacéo sobre os conceltos da geometria fractal, @ acaba comparando a propria vida como tum fractal. Tecnicamente, um fractal 6 um objeto ‘que no perde a sua detinigao formal & medida que @ ampliado, mantendo sua estrutura idéntica @ original. Pelo contrério, uma circunferéncia pa- tece perder a sua curvatura a medida que ampli- amos uma das suas partes. Existem duas cate gorias de fraciais: os tractais geomstricos, que Fepetem continuamente um padrao idéntico, © os fractals aleatorios, ‘As principals propriedades que caracterizam 08 fractais s4o a auto-semelhanca @ a com- plexidade infnita. Outra caracteristica importante dos fractals # a sua dimensao. ‘A auto-semelhanga 6 a simetria através das escalas. Consiste em cada pequena porcao do fractal poder ser vista como uma réplica de todo © fractal numa escala menor. Esta propriedade pode ser vista, por exemplo, na couve-tor. A complexidade infnita prende-se com o fato de 0 processo gorador dos tractais ser recursivo, tendo um numero infinito de interagoes. ‘A dlmensao dos fractais, ao contrario do que sucede na geomettia euclidiana, nao 6 neces- ‘sariamento uma quantidade intera. Com eteito, ela 6 uma quantidade fraciondria. A dimensao de um fractal representa 0 grau de ocupacao deste no espaco, que tem a ver com o seu grau de leregularidade. Para introduzir a \déla de que a dimensio néo é necessariamento inteira, o mate- matico Mandelbrot utlizou 0 seguinte exemple: ‘Qual @ a dimensao de um novelo de 1a? ‘Mandelbrot respondeu que isso depende do ponio de vista. Visto de grande distancia, © novelo nio é ‘mais do que um ponto, com dimensao zero, Visto de perio, © novelo parece ocupar um espago periférico, assumindo assim tres dimensoes. Visto ainda mais de perto, 0 fio toma-se visivel, © © objeto tomna-se de fato unidimensional, ainda que essa dimensao unica se enovele em volta de si mesma de tal forma que ocupa um espaco tridimensional. A nocéo de quantos nimeros so ecessérios para especificar um ponto (dimensao) continua a ser util. De muito longe, nao é preciso Renhum - 0 ponto é a unica coisa que existe. ‘Chegando mais perto, precisamos de trés, po © objeto torna-se tridimensional. Chegando’ mai erto ainda, um 6 suficente ~ pois 0 objeto volta a ser unidimensional Os computadores, com 0 seu poder de calculo © as representagoes graficas que conseguem execulat, sto responsavels por trazer de novo ‘estes “monstros” @ vida, gerando quase instan- taneamente fractais no monitor, com suas formas bizarras, os seus desenhos aristicos, ou pormo- norizadas paisagens @ condrios, Os fractals deram origem a um novo ramo da matematica, muitas vezes designado como a geomotria da natureza. As formas estranhas e Ccadticas dos tracta's descrevem alguns fenémenos aturais, como 0s sismos, 0 desenvolvimento das Arvores, a estrutura de sua casca, a forma de algumas ralzes (como, por exemplo, do gengibre), a linha de costa martima, as nuvens. Este novo tipo de geometria aplica-se na astronomia, na meteo- rologia, na economia © no cinema. Por fim, cabe aqui apenas uma ditima expl- cagao: as referéncias & uma invasao alienigen: que aparecem nos capitulos 6 © 7. Trata-se da mega-saga Invasdo, onde nove ragas alienigenas ‘nem forgas para atacar a Terra. O motivo: 0 medo da capacidade dos torrestres de gerar seres sobre-humanos, os “super-herdis*. Apos um breve sucesso, onde os alienigenas dominaram toda a Austrdlia, a ONU forma um oxército de herdis, liderados pelo Capito Atomo, para expulsar os invasores. Dentre os “convocados”, estava também o Homem-Animal, como el mesmo relata no capitulo 7. Apos a derrota, os alienigenas resolvem, entao, utilizar-se de seu ultimo recurso: uma bomba genética, designada para destruir 0 “metagene”, 0 gene responsavel pelos super- poderes da maioria dos superseres da Terra. A Bomba explode na atmostera terrestre (como ‘voce pode ver na ultima pagina do Capitulo 7), afetando a grande maioria dos Super-Herdis. © eteito que ela teve no Homem-Animal, voce podera conferir no segundo volume desta colecdo. Aé ld. Texto de Danilo Valota, com colaboragao e pesquisa adicional de Celso Henrique Freixo

Você também pode gostar