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SECCÃO II

POR INTERESSE PRIVADO


Fumo, ruídos e factos semelhantes
O código determina que “o proprietário de um imóvel pode opor-se à emissão
de fumo, fuligem, vapores, cheiros, calor ou ruídos, com como à produção de
trepidações e a outros quaisquer factos semelhantes, provenientes de prédio
vizinho, sempre que tais factos importem um prejuízo substancial para o uso
do imóvel ou não resultem da utilização normal do prédio de que emanam” 1
A doutrina entende que as emissões devem provir de prédios vizinhos, não
necessariamente contíguos2; e considera que o prejuízo substancial deve ser
aferido pelo fim a que o imóvel se encontra afectado e não pelas condições
especiais em que o seu proprietário porventura se encontre 3.
Depois, em relação à não utilização normal do prédio de que emanam aqueles
elementos, entende que o uso normal depende do destino económico desse
prédio que deve ser apreciado também objectivamente, sem prejuízo das
condições e dos udos locais4.

1
Cf. Art.1346.º do Código Civil.
2
Vide PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, 178; MENEZES CORDEIRO, 425; e JOSE ALBERTO C. VIEIRA, 341,
para quem “qualquer prédio que possa ser atingido nos termos do artigo 1346.º pelas emissões de outro prédio pode
considerar-se um prédio vizinho, ainda que seja considerável a distância espacial que os separa”.
3
Por isso, o proprietário de uma clínica poderá opor-se aos ruídos que emanem de outro prédio se resultarem
inconvenientes graves para os doentes. Mas já não poderá opor-se “o dono duma casa de habitação se tais ruídos não
prejudicarem substancialmente o uso do prédio e apenas tiverem essa consequência no caso concreto, pelo facto de o
proprietário se encontrar doente”, observa HENRIQUE MESQUITA, 125-126. Também PIRES DE LIMA e ANTUNES
VARELA (178-179) referem que “o prejuízo deve ser apreciado objectivamente, atendendo à natureza e finalidade do
prédio e não segundo a sensibilidade do dono”, por isso, “o que não produz danos a uma fábrica, pode prejudicar uma
habitação (e) o que é lícito em relação à uma vivenda, pode não o ser em relação a um hospital”.
4
Por isso, PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (179), observam que “numa localidade onde são correntes as
indústrias caseiras, não pode o ruído provocado pelo trabalho fundamentar, sem mais, a oposição”.

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