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R E N s UA N dD. OO 3 REPENSAND! )0 O ENSINO — mest = R TANCIA DA LEITURA DE MAPAS © DOMINIO ESPACIAL NO CONTEXTO ESCOLAR S DE ATIVIDADES Digitalizada com CamScanner C—O SUMARIO EE As Autoras no Contexto .. (32\A Importincia da Leitura de Mapas ........-..+0000- 15 Te E ‘importancia do mapa Abvleitura de mapas (Mapeador x leitor de mapas 26 ((Perspectiva, coordenadas € categorias espaciais 5. Proposta de Procedimentos e Atividades ..........., 46 6. Comclusio .. 2... cece cece eeeee sete e ee eeeeeeeee 90 Digitalizada com CamScanner ee =__—_— INTRODUCAO ey As criangas nem sempre compreendem os conceitos espaciais usados pelos adultos. Principalmente aqueles emitidos na escola. Dois exemplos tirados do contexto escolar podem ilustrar isso. O primeiro ocorreu quando um aluno, ao ler a localizagao do estado de Sao Paulo, nao entendeu como ele poderia estar ao sul de Minas Gerais e.ao mesmo tempo ao norte do Paran4. Nao aceitava o fato de que uma localidade pudesse estar ao sul e ao norte ao mesmo tempo. Nesse caso, o aluno via os referenciais de localizagfio de forma estética, centralizados no pr6prio referencial norte ou sul. Faltava-lhe a reversibilidade, isto ¢, considerar os referenciais a partir da perspectiva do estado de Sao Paulo. O outro exemplo, citado por Veatch', corresponde ao cléssico esquema do movimento de translagao da terra ilustrado pela posi- go da terra no inicio de cada estagao do ano. Ao assistirem uma exposic¢ao de slides com essa ilustragao dois alunos da escola pri- méria se admiraram ao ver quatro terras. Um deles comentou: “Eu nao sabia que existiam quatro terras. Vocé sabia?” Ao que o outro indagou: “Em qual delas nés estaremos agora?” Além de engragado, esse episédio ilustra o fato de que para as criangas a representacao do espaco envolve tragos muito préxi- mos ao real. conceitos relativos 4 nogao de espago e Digitalizada com CamScanner nfio cremos que se possa, de fato, ensinar i fio” il los tos. Além disso, a “‘incompreensio” ilustrada nos exemp! oo de um lado, da dificuldade inerente ao nfvel de compreensao da realidade em que as criangas envolvidas se encon- travam; e, de outro, da forma como, na escola, os conceitos relati- yos 4 nogao de espaco sao trabalhados. ; , reas em vista esses aspectos, pretendemos, neste livro dis- cutir a importancia do trabalho escolar sobre o espago e sua repre- sentagao. Isso ser feito a partir de trés pontos basicos: © A construgio da nogéo de espaco pela crianca por meio de um processo psicossocial no qual ela elabora conceitos espaciais Primeiramente, através de sua aco e interacio em seu meio, ao longo de seu de- senvolvimento psicobiossocial._ © A importancia do aprendizado espacial no contexto sdcio- cultural da sociedade moderna, como i isso, para que a8 pessoas tenham uma visdo consciente e critica dé seu espago social, ent © O preparo para esse dominio espacial €, em grande parte, desenvolvido na escola, assim como o dominio da Ifngua escrita, do raciocinio matemdtico ¢ do pensamento cientifico, além do de- senvolvimento das habilidades artisticas e da educagao corporal. A partir desses pontos, elaboramos este material que destina- mos, principalmente, aos professores de 12 gfau os quais, em di- versas oportunidades, durante cursos e Palestras, solicitaram-nos uma referéncia bibliogréfica 4 qual pudessem recorrer na busca ini- cial de um estudo sobre o espago, sua percepgaio e Tepresentagao. atividade no Ensino. Sao Paulo: lbrasa, 1972, p. Digitalizada com CamScanner O DOMINIO ESPACIAL NO CONTEXTO ESCOLAR Desde os primeiros meses de vida do ser humano delineiam- se as impressGes e percepgées referentes ao dom{nio espacial, as quais desenvolvem-se através de sua interagdéo com o meio. Esse processo ser4 melhor comentado no capitulo 3. No entanto, quere- mos ressaltar desde j4 que 0 a a da “Gngresso no 12 grau. FE. na escola que deve ocorrer a aprendizagem espacial volta- da para a compreensao das formas pelas quais a sociedade organiza seu_espago — 0 que 86 ser plenamente possivel com o uso de Te- presentagées formais (ou convencionais) desse espaco. Sabemos, porém, que o professor de 1° grau pouco aprende em seu curso de formagao que o habilite a desenvolver um progra- ma destinado a levar o aluno a dominar conceitos espaciais e sua representagéo. Dessa forma, no curso de 1° grau, além de outras deficiéncias, o preparo do aluno quanto a domfnio espacial é muito precério. Isto ser4 tratado mais detalhadamente no capitulo 2. Nossa preocupacao neste livro quanto ao domfnio espacial re- fere-se ao seu desenvolvimento no sentido geografico, pois a con- cepgao do espago e sua organizacao sao subjacentes a andlise geo- grdfica em qualquer nivel. __Vemos a_geografia como ciéncia voltada para a anflise da ‘quanto 4 sua configuracao espacial. A produgao e J Digitalizada com CamScanner organizacao do espago pela sociedade modema Teali: do processo de trabalho. a ae ~~ Na anélise geogrifica da organizacio social do Gao sociedade/natureza se faz através do trabalho pai ie um ato social, leva a transformagées terzitoriais para : consinasa de espagos diferenciados conforme os interesses da di momento. eet Nao pretendemos. tecer aqui maiores comentérios sobre esse assunto, j4 bem desenvolvido na Proposta Curricular Para o Ensino de Geografia no 12 grau!. Mas é necessério apoiar-nos nessa con- ceituag&o para justificar 0 desenvolvimento dos diversos aspectos do dominio espacial e sua Tepresentacdo, no ensino de 12 grau. Para esclarecer melhor, tomamos emprestadas as afirmacées da Proposta: “‘A territorialidade € a representaciio dos o da totalidade do espaco. fribuem para a compre Gaolorientagao/representagio séo, portanto, conhecimentos/habili- dades integrantes do processo de trabalho e sio utilizados de forma diferenciada, j4 que o trabalho também é diferenciado de acordo com a organizagao da sociédade”?. ~~ No ensino de 12 grau, esses conhecimentos/habilidades de- vem ser desenvolvidos e aprofundados desde a 1? até a 8? séries, pois sdo essenciais ao entendimento dos conceitos que possibilitam ao aluno realizar a andlise geogrdfica. Queremos ainda ressaltar que o trabalho de orientagao, loca- lizagdo e representag&o deve partir do espago préximo para o dis- tante, porém nao de forma concéntrica, mas num cotejamento per- manente entre essas duas instfncias. No capitulo 4 apresentamos atividades para o desenvolvi- mento do domfnio espacial, partindo do espago préximo para 0 distante. No entanto, salientamos que essa disposigao nao implica uma abordagem concéntrica das esferas espaciais. O professor deve estar consciente de que o espago préximo para ser analisado preci- sa ser abordado em sua relacio com outras instfincias espacial- 19 Digitalizada com CamScanner mente distantes. Nesse proceso, a realidade € 0 ponto de partida e de chegada. De sua observacao 0 aluno deve extrair elementos so- bre os quais deve refletir e a partir disso ser levado a construgdo de conceitos. Essa observacao da realidade nao & mera identificagéo de cleméntos. A partir do levantamento de dados, su cacao, comparagao com outros dados, etc., € conseqiente ‘representagdo- espacial, que na maior pi és de mapas, 0 ~qluno chega a generalizag ser identificada ma situagao. ——Ressaltamos, no entanto, que a localizag4o, ou mesmo o ma- peamento dos aspectos observados, nao encerra uma anélise geo- gréfica, ao contrério, marca seu inicio. Essa andlise ocorre quando © aluno se reporta ao processo de produgao do espago € 0 con- fronta com a configuragéo espacial do mapa. Ora, a compreensio do mapa por si mesma ja traz uma mu- danga qualitativamente superior na‘capacidade do aluno pensar 0 espago. O mapa funciona como um sistema de signos que lhe per- mite usar um recurso externo & sua meméria, com alto poder de re-~ presentagao e sintetizagao. oo = Segundo Vygotsky “‘o uso de signos conduz os seres huma- nos a uma estrutura especifica de comportamento que se desloca do desenvolvimento biolégico ¢ cria novas formas de processos psi- coldgicos enraizados na cultura”?. tagio do espago através de mapas permite oO anizacao estrutural de sua atividade concepgao do espago. _ No enfanfo, isso somente ocorrerd se o aluno participou ati- vamente do processo de construgao (reconstrugio) do conheci- mento através da pratica escolar orientada pelo professor. E quanto ao domfnio espacial envolve pré-aprendizagens relativas a referen- ciais e categorias essenciais ao processo de concepgao do espago. Nosso propésito nos capitulos seguintes é apresentar aos pro- grau subs{dios — fruto de nossa experiéncia e sua re- 13 fessores de 1° Digitalizada com CamScanner flexo — estimulando-os a buscarem melhores. caminhos ara o tra: balho com o dominio espacial. Notas 1, Sdo Paulo (Estado) Secretaria da Educagao. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagégicas. Proposta curricular para o Ensino de Geografia: 1° Grau. Sao Paulo: SE/CENP, 1988, p.19. 2. Idem. Ibidem. 3. Vygotsky, L. S. A Formagao Social da Mente. S. Paulo: Martins Fontes, 1988. Digitalizada com CamScanner TIVE eM INTUFL IT em VIII CURSO DE LICENCIATURA EW HISTORIA A LEITURA DE MAPAS UERPE UFRPE Ler mapas € um processo que comega com a decodificag4o, envolvendo algumas etapas metodoldgicas as quais devem ser res- Peitadas para que a leitura seja eficaz. Inicia-se uma leitura pela observacao do titulo. Temos que Biber qual o espaco representado, seus limites, suas informagées. Depois, é preciso observar a legenda ou a decodificagéo propria- =o dita, relacionando os significantes e 0 significado dos signos signif, nados na legenda. E preciso também se fazer uma leitura dos sobre Cantes/significados espalhados no mapa e procurar refletir tities distribuicdo/organizacio. Observar também a escala distin .0U numérica acusada no mapa para posterior célculo das “las afim de se estabelecer comparagées ou interpretagées. 17 Digitalizada com CamScanner Segundo Hannoum' essa questo envolve a tomada de cons. ciéncia, por parte do aluno, do seguinte: do espago ocupado por seu corpo; da localizagao dos objetos no espago; das posigées rela. tivas dos objetos no espago, o que envolve deslocamento e orienta. Gao; e das distfincias, medidas e da esquematizacio do espago. A Tomada de Consciéncia do Espaco Corporal A exploragao do espago ocorre a partir do nascimento, atra- vés das experiéncias que a crianga realiza em seu entorno. Ao ser tocada, acariciada, segurada no colo, ao sugar o seio para mamar, a crianga inicia o processo de aprendizagem do espago. Em sua me- méria corporal sao registrados os referenciais dos lados e das par- tes do corpo, os quais servirio de base para os referenciais espa- ciais. Nesse processo de conscientizacgéo do espaco ocupado pelo préprio corpo ha dois aspectos essenciais: o esquema corporal ¢ a lateralidade. : O esquema corporal € a base cognitiva sobre a qual se deli neia a exploragao do espaco que depende tanto de fungées mot yas, quanto da percepgio do espaco imediato. Tlustramos a importante ligagio do esquema corporal com ; construgao da nogio de espago através da citagao de Le Boulet que considera o esquema corporal como “‘uma intuigao global 8 conhecimento imediato de nosso corpo, seja em estado de 2p008 ou em movimento, em fungdo da inter-relagdo de suas partes €> bretudo, de sua relagio com 0 espago € 08 objetos que 805 ™ deiam. ie A consciéncia do préprio corpo, de seus movimentos © Pr Ta desenvolve-se lentamente na crianga. Bla se consti paulati® mente a partir do nascimento até atingir a adolescéncia, dP ocorre a elaborago completa do esquema corporal. Este dex 28 Digitalizada com CamScanner ve-se em fungao do amadurecimento do sistema nervoso, da rela gio eu-mundo e da representagao que a crianga faz de si mesma ¢ do mundo em relagao a ela. 3% ‘A medida que a crianga se desenvolve € especializa sua agac sobre o meio, obtém maior dominio sobre 0 espago préximo, € al- canga espagos cada vez maiores. Quando consegue sentar, 0 bebé amplia seu campo de visdo e, conseqiientemente, sua percepgao da posigéo dos objetos & de seu deslocamento. Além disso, por ter conquistado maior liberdade motora, pode virar-se numa amplitude de 180°, nao sé para observar 0 ambiente, mas também para pegar os objetos que estiverem préximos. Num processo continuo, em alguns meses o bebé conquista cada vez maior dominio sobre 0 espago a0 conseguir rolar, arras- tar-se, engatinhar e, finalmente, andar. A passagem por essas fases é importante na evolugao motora, tanto para 0 desenvolvimento fi- sico, como para a estruturagio, a nivel psicolégico, da nogao de espago. Por isso, nao € conveniente colocar a crianga em quadra- dos (chiqueirinhos) ou andadores. Deve-se proporcionar-Ihe um ambiente seguro e estimulador, sem objetos que oferegam perigo & sua livre exploragéo, com possibilidades deles agir e descobrir no- vos elementos em seu ambiente. A medida que a crianga for crescendo, reconstruir4 o espago proprio dos adultos, pois estar4 constantemente voltada para o es- paco exterior — com méveis, casas, ruas, pragas, campos e monta- nhas. Esse espaco nao corresponde as suas pequenas dimensées fi- sicas ¢ 4 sua pouca vivéncia do mundo. A reconstrugéo desse mun- do serd feita, inicialmente, a partir de suas préprias dimensées e capacidade de percebé-lo, adaptando-se a ele através de uma ima- ginagdo transformadora das coisas. Todos sabemos como as criangas gostam de entrar em baixo de mesas, méveis, dentro de armrios ou caixas, e de brincar agua casas de bonecas, etc. Gostam também de brinquedos que Tos, avides af erp ip utensilios domésticos, car- . tais atitudes nao se refiram exclu- 29 Digitalizada com CamScanner sivamente a questdes de espago, tudo nos leva a crer que a cr; limita 0 espago de suas brincadeiras para poder manté-lo em ie mens6es que Ihe sejam apreenstveis. As criangas em idade escolar preferem brincadeiras que limi. tam a parte do patio da escola porque néo conseguem ocupar um espaco to grande. Na verdade, no conseguem concebé-lo Para poderem organiz4-lo. O mesmo se dé na organizagao do espaco grafico quando a crianga, ao receber uma folha de papel em bran- co, limita-se a usar apenas uma de suas partes, O espaco é para a crianca um mundo quase impenetravel. Sua conquista ocorre aos poucos, 4 medida que for atingindo alteracées quantitativas de sua percepgdo espacial e uma conseqiiente trans- formag4o qualitativa em sua concepgio do espaco. Outro aspecto importante na organizacao espacial refere-se a0 predominio de um lado do corpo. Existe um melhor adestramento de uma mio, um olho, uma perna e pé, e isto implica viver (mesmo sem se ter consciéncia) uma diviséo do espago em duas partes as- simétricas, a qual serd a raiz da futura anélise do espaco percebido. E preciso, portanto, que a Jateralizacao se realize de forma clara € completa. O professor deve ajudar a crianga a lateralizar-se, isto é, tomar consciéncia de seu predom{nio lateral para a direita ou para 8 esquerda. A anilise do espago, deve ser iniciada com a crianga rei ramente com o corpo, em seguida apenas com 0S olhos e fini mente com a mente. ; ; ivamente cons A partir dos 5 até 7 anos a crianca toma gradativamel” ciéncia do seu corpo com suas distintas partes, identificando-** durante esse perfodo surge lentamente a possibilidade de (projetar) para os objetos e outras pessoas 0 que jai havia 00 vado em si mesma. 30 Digitalizada com CamScanner

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