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Jéréme Baschet A CIVILIZAGAO FEUDAL Do ano mil a colonizacgao da América tradugia Mareclo Rede Professor do Departamento de Historia da Universidade Federal Fluminense prefacio Jacques Le Goff 2" reimpressito Q EDITORA OBO « Haroldo Dente Auul, da Dinamarcay em 995, & Olavo da Suécia, em 1008) e « sonesa reunida em Thingvellir ). Mesmo se as datas indi- stianismo, Escandinévia (batismo dos rei Olavo Tryggveson da Noruega, : Telandia (no ano mil, pelo voto da assembléia cart r vgananismo realizado por seu chefe 2 at dos ret) uma difuso geral do cri ‘as a conversio dos Iideres © 1 i E wing uma cristandade,(cat6lica)-¢-a fronteita rante a Alta Idade Média — em que crista0s istir de maneira residual cam apen doravante o Ocidente & por int ol — mas sempre presente du to s6 continua a ex m fe pagios entravam em conta Poderio dos bispos e florescimento do movimento mondstico go se considerasse 0 surgi- O processo de conversio seria incompreensivel se ‘mento da instituigao eclesidstica, O tema seré retomado no capitulo I11 desta primeira parte, mas devemos sublinhar, desde ja, 0 papel fundamental dos his- pos que, no Ocidente cristao'dos séculos v a vit, so os pilares incontestaveis ds ¢ beneficio o que subsiste das estruturas_urbanas resce, a fungdo episcopal é ja, especialmente al. Essa aristocratizacio da nutengao Igreja. Eles capiam e romanas, de modo ¢ Investida pela aristoc mente Agreja, bastante saliente na Gélia do Sul e na Espanha, assegura a r de uma rede de cidades episcopais nas maos de hom formados, escora- dos por famflias poderosas e que sabem.governai a principal “autoridade urbana, concentrando em si podereseligiosos e olitico’: ele é juiz Tconciliador, encarnagao da lei e da ordem, “pai” e protetor de s E Bispo ndo pretende cumprir esse papel apenas com suas forgas humanas; ele tem necessidade, nesses-tempos conturbados, de uma ajuda sobrenatural, que ele encontra junto aos santos, cujo culto constitui.uma ‘extraordinaria invencia> desse periodo. Ambr6sio, bispo de Milio (mais tarde tido como um dos quatro Doutores da Igreja ocidental, com Agostinho, Jerdnimo e Gregério), esté entre 0s que dio um impulso decisivo a essa inovagio quando procede, com grande reforgo do fasto littirgico, & exumagéo dos corpos dos martites Gervasio ¢ Protisio e 8 sua transferéncia pata sua basilica episcopal, em 386--Pouco.a pouco, a Europa inteira poe-se a venerar os santos, “esses mortos muito especiais” (Peter Brown), cuja vida exemplar e a perfeicao herdica transformam os testos corpo- tais (as reliquias) em.um.depésito de sacralidade, um canal privilegiado de de atv miacln, Cae doo tens donee s wal cnae cade inértiz ou bispo fundador mais ou menos ler ren ee sey santo padtosiys do que esta pelavra tinha na sociedade romana, ei Seamed, . in ana, OU seja, um poderoso protetor A CIVILIZAGAO FEUDAL 63 capaz de cuidar de sua clientela, um personagem influente na corte celeste — como, anteriormente, os/atistocratas na corte imperial —, intercedendo pelas palavras (suffragia) pronunciadas em defesa dos clientes que Ihe rendem as homenagens devidas & sua posigio Desde ento, a reputagao do santo padroeiro, de quem a catedral geralmen- te conserva 0 corpo, é um elemento decisivo do prestigio do bispo encarregado dela e é compreensivel que estes tenham tido 0 cuidado de estabelecer e embe- lezar a biografia de seus heréis, de divulgar seus milagres e de dar ao seu tiimu- Jo um fauisto cada vez maior. Um exemplo espetacular € 0 de so Martinho, sol- dado romano convertido no século 1v, que se tornou bispo de Tours e apéstolo de Norte da Gélia. E somente nos anos 460, todavia, que um de seus sucesso- res a frente da diocese.transforma o seu tuimulo, até entdo modesto, € constréi para ele uma imensa basflica, ornada de mosaicos mostrando os milagres reali- zados por Martinho, testemunhando um poderio sempre ativo, do qual os visi- tantes, vindos de toda a Gélia, esperam se beneficiar. O renome do santo con- fere o prestigio da sede episcopal e nao é surpreendente que um dos grandes prelados desse perfodo seja Gregério de Tours, bispo desta cidade de 573 a 594, cuja Historia dos francos nos informa sobre sua época e sobre a importancia de uma devogiio aos santos que o bispo partilha plenarnente com seus mais humil- des fiéis, Todo 0 Ocidente desse perfodo se cobre de santuérios luxuriantes, imagens terrestres do parafso; e as cidades, onde pululam as igrejas, parecem se transformar em centros cerimoniais votados ao culto dos santos. Em breve, as (Feliquias tornam-se objetos tdo sagrados e tdo essenciais a influéncia das igrejas ue se est sempre pronto a.encontré-las. Multiplicam-se, entdo, os roubos de reliquias, concebidos no como atos de vandalismo, mas como empreendimen- “tos piedosos, justificados para o proprio bem do santo, tido como maltratado na sua morada anterior e clamando pelos cuidados da nova comunidade que 0 aco- Ihe (Patrick Geary). Um dos mais célebres roubos de relfquia é cometido pelos venezianos, que se apossam do corpo do evangelista Marcos em Alexandria, em 827, eo levam para sua cidade, da qual ele se tornard o simbolo e o tesouro supremo. Mas este é apenas um episédio dentre muitos outros, muitas vezes mais modestos e nos quais nao faltam as atuagdes de traficantes-que negociam suas intervengGes para o beneficio espiritual dos futuros depositérios de relf- quias prestigiosas. Ao longo da Antiguidade tardia e da Alta [dade Média, o culto dos santos torna-se um dos fundamentos da organizacao social, fazendo das relf- quias os bens mais preciosos que se pode possuir sobre a terra ¢ os instrumen- tos indispensaveis de contato com o mundo celeste. Nessa época, os bispos séo ainda mais importantes, pois ndo dependem de nenhuma hierarquia, O bispo de Roma (que se reservard mais tarde o titulo 64 Jerome Baschet dé papa) beneficia-se, entéio, apenas de um privilégio honorffico, reconhecido desde a Antiguidade, a0 mesmo titulo que os patriarcas de Constantinopla, Antioquia e Alexandria. Sua eminente opinigo € habitualmente solicitada por diferentes partes do Ocidente, mas também por Constantinopla, onde ela tem peso nos debates teolégicos. De fato, nos séculos Ve vi, 0 bispo de Roma tem ‘os olhos voltados, sobretudo, para o Império.do Oriente, do qual se considera parte integrante, Nao existe, entdo, nenhuma estruturagao hierarquizada da Igreja ocidental. Nela, cada diocese é praticamente auténoma e o bispo & senhor de “eu dominio, mésmio se, por vezes, ele € convocado para concilios “nacionais”, ‘como os que aconteceram em Toledo, na Espanha visigstica do século vi O mesmo ocorre ainda nos tempos de Gregorio, o Grande (papa de 590 a 604), apesar de alguns sinais de mudanga: voltando-se cada vez mais para o Ocidente, Gregério envia a missdo de Agostinho as Ilhas Britdnicas e faz com que sua cerca de 20 mil cartas em resposta a solicitagdes referentes a questdes administrativas ou eclesidsticas vindas de todo o Ocidente. Entretanto, se sua opinigo conta, como aquela de uma fonte de sabedoria ou por vezes, de um arbitro, Gregério nao dispde de nenhuma superioridade insti- tucional sobre os demais bispos ¢ de nenhum poder disciplinar para intervir nos negécios de suas dioceses. Se vie é uma das figuras maiores da Igreja medieval, 5 isso se deve, sobretudo, A sua obra teoldgica e moral. Sua mensagem, particular- e menie clara, dé a medida da afirmagao da instituigaio eclesial de seu tempo. Ele 5 estabelece para a sociedade doravante crista (e, por conseqliéncia, para os Sobe- \ 5 ‘Fanos que as ditigem) um objetivo fundamental: a salvagdo das almas, O pecado e € 0 diabo estando em todos os lugares, nao € facil consegui-la, e menos ainda para 10s homens engajados nos negécios do mundo e no governo dos homens. Para essa questo tao delicada, Gregério recomenda que, entiio, os cristdos se confiem a uma elite de especialistas do sagrado, que ele qualifica de "médicos da alm: ci que s sabem melhor do que ninguém como salvé-los dos miiltiplos perigos que os cer- n cam.-O propésito é exigente para os clérigos, em particular para esses aristocratas ° tomados bispos, suspeitos de serem mais dotados para o comando dos homens do Ss que para os exercicios espirituais. Mas, acima de tudo; isso oferece um testemu ci nho da distancia cada vez maior entre clérigos ¢ laicos e da posigéo dominante rei-}) « vindicada por um clero que pretende, dali para a frente, guiar a sociedade e enun. 7 iar ag norma’ que convém ao “governo das almas" (Peter Brown), Alem dos bispos, uma outra instituigéo, totalmente nova, tem seu inicio durante os séculos da Alta Idade Média, terminando por moldar de maneir, decisiva a face do cristianismo ocidental;.o movimento monéstico, E no inicig do século v que ele finca 0 pé no Ocidente. Vindo do Oriente, Jodo Cassiann chega @ Marselha com a idéia de aclimatar a experiéncia dos eremitas do de A civitizacho reunan: 65 to egipcio, de quem ele descreve, em suas Instituigdes cenobitas, as realizagées _Penitenciais e a sabedoria, enquanto santo Honorato funda, nao longe dali, 0 monastério de Lerins, rigida escola onde sao formados os filhos da aristocracia meridional destinados & carreira episcopal. Mas é sobretudo no século vi que as fundagées monésticas se multiplicam, como tantas outras iniciativas particula- es, assumidas com frequiéncia pelos bispos ou, por vezes, a titulo privado. Assim, Cesério, bispo de Arles, cria, em 512, um monastério para sua irma € + atras diizentas monjas (para as mulheres, muitas vezes °s origindrias da aristocra- €a preservacao da virgindade). Em meados do mesmo C 80) funda um monastério no Sul da Itélia, 0 qual busca ser, sobretudo, um lugar de cultura, consagrado & preservacao da ret6rica ¢ da gramética latinas e a difuséo da literatura crista. Um pouco mais tarde, Greg6rio, o Grande, safdo de uma familia romana, renuncia a sua carreira de funcionario imperial e decide transformar sua casa no Aventino.em um retiro onde leva uma vida de peniténcia extremamente severa. Varias obras que se esforgam para codificar as regras da vida monéstica circulam na Itélia desse tempo, tais como a andnima Regra do senhor ou a Regra de so Bento, destinada a ter um futuro mais glorioso. Morto em 547, este é apenas um fundador den- tre outros e seu monastério do Monte Cassino é destrufdo, pouco tempo depois, pelos lombardos. Sem diivida, é Gregorio, o Grande, o verdadeiro inventor da figura dé Bento, de quem ele conta a vida e os milagres no livro it de seus Didlogos, em 594, preparando, assim, a origem mais tardia do movimento monéstico que seré chamado beneditino, Enfim, mais 20 norte, em 590, Colombano, um santo homem vindo da'Irlanda, funda Luxeuil, nos Vosges, onde a aristocracia franca faz educar seus filhos. Por or volta de 600, existem, ao todo, cerca de duzentos monastérios na Gélia e, um século depois, mais 320, alguns dos quais sao imen- samente ricos, possuindo 5 por vezes até 20 mil hectares de terras. O conjunto desses estabelecimentos, geralmente fundados em lugares isolados, permite a0 cristianismo fincar pé nos campos: ao lado da rede urbana dos bispos, existe agora uma plantagdo rural de fundagées monésticas, O sucesso dessa instituicao € considerdvel. A tal ponto que, no século vi,_ a palavra “conversao” adquire um novo sentido, Ela ndo-significa mais apenas a adesao a uma nova f€, mas também a escolha de tuma vida resolutamente dis- tinta, marcada pela entrada em um monastério. Com efeito, se-os primeiros dis- cipulos de Cristo eram uma elite cuja escolha érdua podia ser vista como sinal seguro da eleigo divina, a partir de agora, em uma sociedade tornada inteira- mente crist, alguns se perguntam se a qualidade de cristao € uma garantia sufi ciente para alcancar a salvacdo. Como conseguit, pois, a propria salvagdo em meio das atribulagdes do mundo secular? Como se preservar do pecado quan- 46 Uetme Racchat > os deve do se participa dos negécios de um tempo tumultuoso? Ads laicos ders ideal de vida cristo parece cada vez mais inacesstvel e mesmo a carreira ele 2 sidstica, estreitamente ligada as preocupagoes mundanas, Parece muito parca a segura. A exigencia de uma escola mais.rude impie:se: esta seré oma . ~ Tugar de estudo e de prece, de mortificacao de si mesmo pela obediéncia alic E | fanite’ao abade, pela peniténcia e pela privacdo. Espiritual e ideologicamente, « 7 ‘aparigdo do movimento moniistico é, entdo, 0 contragolpe da formagao de uma © ~—| sociedade que se quer inteiramente cristi, mas se admite necessariamente ee | imperfeita, Ele é o reftigio de um ideal ascético em meio a um mundo que a teo- “ logia moral de Agostinho e de Gregério entrega a onipresenca do pecado, Mas al ~ ele € também o instrumento de um aprofundamento da cristianizacdc 7 ¢0 ocidental e da penetragao da Igreja nos campos ; are Ja nos campos Je a sal ro . se A luta contra 0 paganismo A Através de que processos ocorreu a conversio do Ocidente ao cristianismo? Ao que tudo indica, o batismo de um rei e de alguns guerreitos nao é suficiente para ~ tomar um povo cfistao. Por volta de 500, o cristianismo é ainda essencialmente a uma religiao das cidades (© bastante imperfeita, pois, por exemplo, em 495, ainda 5s sdo-celebradas em Roma as Lupereais, festas pagis de purificagdo, ao longo das ne quais os jovens aristocratas correm nus através da cidade). Para se ter uma idéia, e basta saber que é entao que a palavra “pagio” gunhia o sentido cristo que conhe- ° cemos ainda hoje. No entanto, como sublinha a Historia contra os pagas. cle os Orésio, “pagio” (paganus) é também o homem do pagus, o camponés. Assim, ¢ We . Polifefsmo antigo é considerado uma crenga de homens rurais atrasados. Ele no to somente € uma ilusdo “fora de moda’, como jé 0 havia dito Constantino, mas, além > ve quicio rural, objeto do desprezo dos.citadinos, Para.os cristdos, os : a u m, mas so demSnios, que é preciso cacar. A expulsao dos 1 deménios encontra- » entdo, no centro de toda narrativa de propagagao da fé cris: u {contra o paganismo. A primeira forma disso 6.0 batismo que, tanto quanto uma e adesto a Deus, é uma rentincia a Sata e aos dem@nios do paganismo ("Eu renun- ‘ 7% io a todas as obras do diabo, Thunor, Wotan e Saxnot", diz uma férmula para o ie batismo dos saxdes). Mas ele € geraimente insuficiente e é por isso que o exorcis- 7 val mo, que visa cagar os deménios alojados no corpo dos fiéis, é Praticado em gram” . de escala por.clérigos especializados. A outra modalidade decisive € a destruigao a dos templos pagios, de seus altares e estétuas, a fim de expulsar deles ‘os demo: a Bios. Sdo Martinho de Tours € o proprio exemplo do bispo aplicado a essa dupla m tarefa, como exorcista e como destruidor de templos. E também o caso de sin" A GIVILIZACAO FEUDAL 67 ‘Marcel de Paris, cuja legenda diz triunfar sobre um temido dragio, que encama, sem diivida,.tanto 0 diabo e o paganismo como as forcas de uma natureza insub. missa que o santo consegue domar. Ele aparece, entao, como um her6i duplamen- te civilizador, encamando conjuntamente a vit6ria do cristianismo sobre o paga- nismo e do homem sobre a natureza. . No entanto, esse primeiro procedimento é insuficiente. E provavel que mui- tos dos cristios da Alta Idade Média partilhassem as dtividas dos auditores de ‘Agostinho: se é certo que o Deus sinico do cristianismo governa as coisas superio- res, aquelas do céu e do além, seria também evidente que ele se preocupe com egécios prosaicos € naturais deste mundo aqui embaixo?. Nao seria necessario Pensar, ao contrério, que estas so regidas por espiritos inferiores? Um século mais, tarde, os sermdes de Cesério de. ‘Arles (470-542) dao uma verso tipica dessa preo- Cupagtio dos clérigos em sua Juta contra um paganismo que persiste, mesmo quando 0s templos foram destruidos e os {dolos quebrados. Seus “restos” (é este 0 Senitido da palavra superstitio) estado em todos os lugares, como tantos outros maus costumes ¢ habitos sacrilegos que ¢ necessério erradicar. A dificuldade mais grave diz respeito, sem diivida, a sacralidade difusa do mundo natural que os Pagios percebem como impregnado de forgas sobrenaturais. Ainda em 690, na Espanha, € preciso transferir para as igrejas as oferendas votivas acimuiladas em torno de arvores sagradas, de fontes, em cruzamentos ou no topo das colinas. ‘A visto cristal do mundo impoe dessacralizar totalmente a natureza, submetendo- $)| a inteiramente ao homem. Mas isso seria possivel num mundo to ruralizado como 6 da Idade Média? O culto dos santos — que, segundo a doutrina da Igreja, tetiam 0 seu poder derivado do proprio Deus — ¢, certamente, o tinico compro. misso eficaz e aceitave] diante desse desafio impossivel, Com efeito, se os ares daqui de baixo continuam habitados pelos deménios, os bons cristaos devem se Fecusar a se aliar com eles, como o fazem alguns, e devem se confiar aos ‘santos, s de controlé-los (e também, sem davida, de certa maneira, de substitui-los € encarnar o conjunto dessas poténcias intermediétias entre os homens Deus). ‘Sua ago concreta se faz presente em todos os lugares da cristandade, de modo que, através de seus gestos sensiveis, as miiltiplas manifestagdes de uma sacrali- dade difusa podem ser consideradas a expresso da vontade de Deus. & Essas dificuldades voltam & tona cada vez que a fronteira da cristandade 42) avanga e poe os clé iante de um paganismo ainda vivo ou superficial St da fe encoberto, Durante 0s séculos da Alta Idade Méd n s sio'Togo postas em marcha: destruir e des A primeira € acomy hada, de preferéncia, por uma subst tuigdo, como o gesto realizado por sdo Bonifécio quando, em 730, ele derruba o carvalho de Thunor e, depoi as tdbuas tiradas dessa drvore sagrada dos saxbes para construi > 0 68. Jerome Bascher duas atitudes comple- utiliza ~~ o.ople.y ol: lugar, um oratério dedicado a sf Pedro. A segunda opsao, nao menos eficaz, _procura pontos de contato qué permitam que o cristianismo recubra © payanis “no de um modo menos brutal. Pode-se, por exemplo, tolerar @ crenga na virtu. de protetora dos amuletos, desde que estes carreguem a cruz. Mas & sobretuide o culto dos santos que tem aqui o papel decisivo, permitindo uma cristianizagio Felativamente facil de numerosas crengas ¢ ritos pagdos: mais do que destruir “um lugar de culto antigo, confere-se-lhe uma sacralidade legitima, afirmando que se trata de uma drvore benzida por sio Martinho ou de uma fonte onde se v@ 0 trago do casco de seu asno. Assim, 0 culto dos santos deu ao cristianismo uma excepcional maleabilidade para iniciar, com uma mistura de sucesso e de Tealismo, sua luta, sempre renovada contra 0 paganismo. Para dizer a verdade, essa maleabilidade marca também o limite da conversao do Ocidente medieval 20 cristianismo e da formagdo de uma sociedade cristd no seio da qual a Iyreja comeca a adquirir uma posiggo dominante. Sua luta contra 0 paganism 6, ao mesmo tempo, um triunfo — a imagem dos santos abatendo os dragdes — ¢ uma éia vit6ria, pois ela se impde somente ao preco de um sério compromisso com uma visio de mundo enraizada no mundo rural, animada por ritos agrari impregnada por um sobrenatural onipresente 7 O RENASCIMENTO CAROL{NGIO (SECULOS VIIl E IX) Os defensores da visio obscurantista da Idade Média surpreender-se-do ao cons- tatar que uma expressio amplamente consagrada pela tradigdo historiogriitica evoca um renascimento em pleno coragao dos séculos mais sombrios das trevas medievais. Mas, como se disse, a Idade Média é um longo rosario de “renascimen- tos’, e o desejo de um retorno 4 Antiguidade, que é a esséncia desse ideal, nao é © apandgio dos séculos xv e xv1 — ele se manifesta desde o fim do século vit A alianca da Igreja e do Império AS i'er4 A historia dos carolingios é, de infcio, a da ascensio militar de oe aris tocrdtica franca. Carlos Martel, 0 prefeito do palacio, espécie de vice-rei dos Francos, havia adquitido um grande prestigio militar depois de sua vitoria con- tra os muculmanos em Poitiers. Tal prestigio recaiu sobre seu filho Breve, que continuou sua obra de unificago militar epinu, 0 @ adquiriu tal poder que A civiiizacda rLuoa 6

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