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Alrocentriidade ~Complesdade Liberdade indica pists de pesqis Fett qecreoptte bod, Goer melo aa Te iafioetcrra year A ata “tr reheat dina dominate qb ion de fncionsr hi mit ero, camo a ‘Sculeie tem demands nos defios, dees viscsSes Se orume da seid ds home err deveasocindnd, putida at ‘a, Tenhoa een de qe rata de scorns extemal ‘quevale a penser explora, ats ssa profi encoun s cata cantadites. (presente liv it constr uma refréasa incontorivel em Mosman its, ero, em toda aie aso, un ver qb oes ‘sao peo utoré0 meso tempo active opontode visa cies scssivel popula estudanil e a qualques out sor gue tha cise sidadedesaberalo nuissobecoasustoemauesto. > ie 7m ° a om Zz 4 z 2 oS > 9 a apeonyy oapag ourwnSa5, S Ergimino Pedro Mucale AFROCENTRICIDADE complexidade e liberdade Ergimino Pedro Mucale AFROCENTRICIDADE complexidade e liberdade ‘Tl Atacwtde —Componee bee le eri Pda Pas sie Who Ingato: viol Aes Tpit a ~Apsds Depa igane ca mace Deticeiria aeons waesonan tei ttn dls as SEE nee ono Seta hte Patan Cuts nce Reeseee Gnmemoran = mite rat Ate Poo Miccs ‘sts deguome tncabzag escee arses stores Panera reece cae « indo oss ena dn do as en inn aaa Ero mints de engin «Ct Scot taper, c Fae Timmaoebea_macrs Saat prumeangeonerc (20 et i. Fa det lo MOCANBTOUE Nb dave: FOULED oma at: ua Sinaen-menwas Se pn ‘la: St a te ea idee nr ‘ips rn gs pe sh mas (Tc tee ote tl pt onc on Cr ae Agradecimento e reconhecimento ‘Acima de tudo ede todos, agradego a Deus, autor de todo {quem sou e de tudo 0 que sou, fonte de tudo quanto sei, amo ce defendo. Em segundo lugar, 2 minha gratidao é para os meus pais (de feliz memoria): Pedro Sefula Mucalee Famélia Challe Machonga, por quem vim a0 mundo e que, desde cedo, me nutriram de valores humanos. A inguagem hura- -a Ginsuficiente para exprimir uma gratiio incomensurivel. ‘Um obrigado sincera & dirigido a Severino Elias Ngoenha pelo apoio moral ea Luca Bussoti, sobretudo, pelo awrtlio ‘moral epelapartiha de ideis de parte do material didéctico usado para aelaboragio desta obra ‘A Molefi Kete Asante agradeso a cragio da teoria da Affo- centrcidade, as corresponclenci (nas quais ds vezes me sa- geri bibliograiasinteessantes sobre a Afzocentrcidade) © 0 facto de terse dignado escrever-me o preficio (que atraves- sou aguas terase povos desde os Estados Unidos da América até Moambique). Hi pessoas que nao colaboraram directamente na elabora- «deste livro, mas que em outros tempos serviram-me de sescadas, «andaimess ou «trapolins» para ascender a0 me cestatuto actual. Pertencem a este grupo os Missionsrios © Missionérias da Consolata,cujos nomes Deus conhece, © 2 familia Mucale, especialmente: Isa, Gentildo, Candido dos Santos, Felizardo e Ant6nio. A sua solcitude, amabilidade € benfeitoria foram um investimento justo e dignificante. $6 Deus pode galardoarna justa medida a cada um, ‘Aceitora Peulinas a parteira que me ajudou a dar 2 luz 7 este primogénito, 0 meu obrigado & eterno, Aos meus preza- dlos amigos, cologase estudantes expresso 0 meu reconheci- mento da importncla da sus presenca na minha vida. Muitos ‘outros contribuleam directa ou indirectamente para a existén- cla deste trabalho. Os nomes de alguns deles nio constam aqui (nem sequer caberiam): uns por esquecimento, outros pr questdeséticas. A todas eles a cada um deles enderegoo ‘meu mito obrigad A si, que se digna ler este livro,abri- ‘gad, porque est a sujeltar-se, voluntariamente, a percorrer ‘comigo, com outros homens de boa vontade, do passado,pre- sentee futuro, ocaminho da iberdade da humanidade. Deus, 1 quem espero que este trabalho = bem como toda a minha Prefacio © tivro de Ergimino Mucaleé uma valiosa contrbuigso para o movimento munlal de Afocentricidade. O facto de guns intelectual no continent africano e na diéspora ‘Aican tomarom em conta a questo de recentraro discs0 da Avia em direeio 8 agencia do povo Aficano é um desen- velvimento maravilhoso na lingua portuguesa, Com efito, Mucaleaderin as fileiras de Abdias do Nascimento e Elisa Nascimento, do Bras e outros, em levantar a questéo do conhecimento do ponto de vista do povo Afcano como ‘suite na sua propria ists, 'Nio se poe subestimaro poder da apresentagho de Mu ale da teria eslosofia da Afrocenticidade como uma fete- :menta anata para os Estudos Aicanos. Ele demonstou a Jmportancia desta eoia para explicatorenascimento do con- tinenteafricano. Estamos de utna 86 ver introduzidos aos conceit sine que honcam os atepassados da Aiea Por ‘que seré que os arcanos elacionam toda a ua informacio, {odo o seu conhecimentoe toda a su sabedoria com a Buro- ‘at Qual €arazdo pela qual continuamos dominedos pelo ‘pensamento de que o regime colonial tinhaoconhecimento€ 2 flosofia correctos? Porque ainda estamos tentados com- preender as nossa proprascondigoes a pastr do conteto dos estudiosos europess ou americanos brancos? Eu tenho vistoas ais estanhasreacges de aicanos pra ‘ conhecimento preduzido por ascanos. Em alguns a0, 08, nostos imios ¢irmas reagem 20 conhecimento aficano como se este fosse de outro planeta. Sem qualquer contest, ° eles extio prontos para condenar a informacio africana e a pproducéo do conhecimento sem tentarem construir sobre 28 fundagbes que foram definidas no lugar hi milhares de anos fem alguns casos. Qual éa causa da nossa incapacidade em aprecaro brilho dos nossos proprios antepassadios? ‘Tomando o caso europeu, claro que os europeus deixa- ‘ram de lado os aspectos bizartos da sua histria eflosofia a fim de promoverem noves formas, Esta €a maneira certa de reagir 20 possado, Quero dizer: 0 que faremos das erengas testranhas come as de Hegel sabre os afrcanos ou as nogbes dle Aristételes sobre a fisiologia humana? Eles defenderam lalgumas nogGes estranhas sobre muitas coisas, mas também ‘defenderam algumas nocBes razosvels sobre a sociedade. 0 ‘mesmo com 0s nostos antepassados Africans, os filésofos bios e os flésofs classics da civilizagio do Vale do Nilo, como Plahhotep, Duauf, Amenhotep filho de Flapu, e Akhe- naten, Achamos estranhasalgumas das suas elas hoje, mas ® ‘maioria dela tem resistido ao teste do tempo. Se examinat- ‘mos os conceitos de sociedade, parentesc,relacionamentos, ritos de passagem, criagho dos fithos e valores ciados pelas ‘nossts proprias sociedades, veremos que so profundos. Isto verdad, a despeito do facto de que existem algumas coisas ‘com as quais no podlemos concordar hoje porque nds obtive- ‘os conhecimento adiional.Todavia, como Mucale entende, rio podemos jogar fora as nossa tradigBes eos nossos valo- es porgue estamos em desacordo com algumas das declara- (Bes, posigbes e attudes dos nossos antepassados, Muito do {que os (nossos) antepassados estabeleceram como valores pode ser aplicado com bons objectivos hoje. Portanto, 0 projecto Afrocéntic, agora um projecto mun- dial, correcto, adequado e i como uma maneira de avancar ‘a conscincia africana, para reconstruir aconfianga africana © para unie a juventude africana em todo © mundo com vista a formar tam movimento para reformae renovagio. Mas, como ‘Mucele escreve,o impacto das civilizagies clisicas, especial mente as civlizagées do Vale do Nilo de Kemet, Nba e Axum, deve ser visto como ligedo& disso do conhecimento esabe- ‘dori em outras partes da Africa. Estas civilizaées no so ‘memos do que Gréiae Roma, ou indi e China, para ns, elas ‘So muito importantes para a compreensio e valorizacio das incrivelmente diversas comunidades aficanas. (s nosso estudiososdevem continuara promover a obra {de Cheikh Anta Diop, M Bilolo, Théophile Obenga e Chin- ‘weinu em conecaras comunidades aficanas ds contribuigbes linguistcas, rituals e simb6licas das civilizagdes antiga. Ene ‘quanto nem todas as comunidades tnicase linguisticas af ‘anas tim as mesmashistras expecta, elas tém as mesma fonteshistrieas eomuns. O facto de no termos descoberto 38 «pneaxbes no signifia que as conexses no sto descobeveis, por iso que o trabalho que Mucale desenvolveu esté em linha com as melhores pritias de pesquisa de uma agenda africana progrsssta "Nada deve impedie-nos de encontrar em todas a fcetas ‘da nossa exiséndia a agéncia que é necessiria para verse ue ‘em matemstica, astronomia, aricultura,ditito,rlacbes hue manas, arguitectura, medicina, picologia humena, religifo, _artee geometra nos fot dada uma fundagSoutiizivel.O facto ‘de Eurocentrismo e, em alguns casos, 0 Arabismo, tet pro- ‘curado negaro papel central da Atia na promogio da vida e com a5 consciéncias dos africanos e de _quantos gostariam de levar cabo uma ertca a0 mesmo tem po dura eelicaz junto a0 paradigma dominante, 9 Burocen- trismo. Fessoalmente duvide que Afrocentrismo tenha uma ‘apacidade de resposta, mas tenho 2 certeza de que tratz-se de uma correnteextremamente original e que vale @ pena ser explorada, até nas suas mais profundas consequencias ee ‘alhat,contradigoes. B (© autor trata das problemiticas do Afrocentrismo de forma tbem afincads, dando uma visio dara e ao mesino tempo com- plexa daguilo que Asante foi formulando ao longo dos anos, {los problemas que ele levanta, das questbes que ainda deixa fem aberto ef isso de acordo com uma abordagem equili- brada e consciente de que se trata de uma discusséo de tipo filosfico, sem querer, portant enaltecer de nenhma forma 6 filésofo que aborda. Ele parte de Asante e o segue em muitos aspectos, mas pretend construr umn pensamento or- inal, F€ sem davida que o consegue. (O lito iré constitu uma referénciaincontorndvel em Mo- sambique e, acredito, em toda a Afi Tsbfona, uma vez que {uase todas as obras sobre o Afrocentrismo continuam dispo- ‘ivels em lingua inglesa ou francesa. Mais: 0 registo linguis- fico usado pelo autor € ao mesmo tempo aceitével do ponto de vista cienifico mas acessivel 8 populagio estudantile 8 ‘qualquer outro litor que tenha a curiosidade de saber algo a Iais sobre oassunto em questi. "Muito mais do que me debrucar em volta dos contesdos do Afrocentrismo, sobre os quais © liv se difunde com cla- 62a, gostaria, em jeto de fecho, de levantaralgumas breves consideragaes sobre 0 estado da fitosofia em Mocambique, lcreditando (mas sem conheckmento pleno das vias realida- des) que a situacéo seja a mesma, se nfo piot, nos outros pafsesaficanos is6fones, ‘Nao resta divida nenhuma de que Mogambique dew ‘pasos sigifiativos no que diz respeito a difusto do pensa- mento filoséfico, tanto que este fot introduzido hé muito tempo até nos lkimos dois anos da escola secundiria (nivel snédio) Isso permit criar uma continuidade entre as dife- rentes goragdes de investigadores nesse ambitodisciplinar. Entelanto, tem tim porém. Salvo raras excepgies 0 pensd- ‘mento afrcano contin bastante marginalizado dentro das ‘eademias mogambicanas, numa altura em que se paul, pelo rt ‘menos em linha de principio, pela buscx duma (nova) identi- dade africana, alheia as contralighes do ocdentalismo, Nao poderd se tratar de uma veleidade destinada a morre: com ‘expandir-se da globalizaci? Seja como foros pr6prios gover- ‘os avicanos esto apostando imensos aparatos idealdgicos e ‘ulturais em volta disso, Requere-se € un minimo de coerén- cia entre esta tendéncia eas préticaseducativas (pena reduzir 0 «Afro-orgullos a uma mera afirmacéo de um nacionalismo 0 mesmo tempo vazo e perigoso) A filosofia africana ~ e, nomeadamente, 0 Afrocentrismo trataclo neste livzo ~ indica pistas de pesquisa e de reflexto, mais do que respostas certs e fechadas, como tipico da meto- dologiaflosfica. Isso significa abertura, procura de identida- des coutras,re-discussio de wm paradigma dominante que jf defxou de funcionar hé muito tempo, como a actual cise (que sera ridieulo defini de econjunturals, com boa paz. de muitos colegas economistas) tem demonstrado, e ainda novos Aesafios, debates e discussbes sobre o rumo da Sociedade edo hhomem dentro desse socedade, a pati da africana. Entrementes, pelo menos em Mogambique, as aresistén- ‘dass sdo ainda muito fortes e poderosas. «Resistem», geral mente, aqueles que, na posse de ttulos académicos elevados © «pesados», continuam a acreditar que sio «donose de uma parte do saber (ness caso o saber filosfico), para ocupar (até ‘quando?) postos-chave nas universidades. , partir desses lugares de poder, travam uma lute, silenciosa mas por isso ainda mais perigosa, conta 0s jovens (de idade e de pensa- mento), que os elesafian» em tereenos para eles desconhec- dos. Dagui aideia de uma filosofia de certa forma ao servigo do Estado, snstitucionaly, por assim dizer. Ora, se é verdade ‘que a filosofa, a0 longo da sua hist6ra,teve inimeros mo- rmentos em que ficou laramente ao lado de quem detinha 0 poder (na modernidade penso em Hegel, mas também em ‘uma boa parte do pensamento de Heidegger), la, por essén- ia, € catia, wanthinstitucionals,embora financiada plas ins- tituigdes que, num regime de democracia formal, precisam justamente de quem fagareparos e indique vias alterativas ‘Reduzir esta disciplina a uma mera repeticio dos elissi- cosy he tirando a sua propria alma, significa contribu para ‘um desenho conservadar, alheio ao debate e a0 confronto; 0 contritio daquilo que a losola deveria sere que as socieda- ‘des afrcenas preciar, Neste sentido, o facto de no curso de Filosofia da Universidade Eduardo Mondlane terem sido in- troduzidas duas dsciplinas de Filosoffa Africana ~ soube que o autor dest livro, enquanto membro da comissio que ajus- tow 0 curriculo do curto de Filosofia, contribuiu muito para {que a Filosofia Afvicana vingasse ~ pode parecer pouco mas, do meu ponto de vista, ji é muito. F muito, uma vez que iso bre as portas a uma forma de conceber e praticar a filosofia ‘de maneira mais exigentee, quis, Ive, dando azo a novas investigagbes que, se calhar, poderdo até criticar 0 ponto de vista do autor deste vo, aresoentando ideas e perspectivas ‘A filosofa tem pernas préprias, ela foge as tentatives de ser reduzida a uma prtica celebrativa, de qualquer que seja 0 ‘pensamento ou a insttucao, ‘Mas para fazer com que os jovens pesquisadoresaficanos consigam, de facto, da contribuigbes valiosas 20 pensamento filos6fco, coma Mucale ous fazé-Jo, outras condigdes tém «que ser criadas:refiro-me,sobretudo,acondigées que possam colmatar ou suprir a escassez de livros; refiro-me também a {quase auséneia de assinaturas ds principals revista interns ‘nats, que poderiam facitarsobremaneita a produto de tum saber mais ariginl e inovador Iso ¢ verdade ainda mais ros paises lusofonos, em que a questi lingustice constitut ‘ais um obsticulo em comparacio com os anglifonos efran- céfonos, Deste ponto de vista, os agradecimentos ® Editora PPeulinas representam um acto de sinceridade, muito mais que ‘um dever ou um gesto de bon educagéo. Tenho acerteza que, mesmo em termos comers ela no teré nenhuma decep- ‘gla da publicacio dest liv, CConeluo com um apelo: dada a causa que defende e a sua magnitude ndo deixemos que Prgimino Pedro Mucaleseja 0 Sinico, da nova geracSo, a produzir conhecimento neste mbi- to disciplinar e, nomeadamente, no pensamento africana em ‘Mogambique. Outros terdo que segui,apesar das dficulda- dese dos desafios ainda a vencer ‘Maputo, 190872012. Luca Bussorm ei ur o Cntr de td fins SCTE ot see sing Pfr ma Uns ‘hurd Mondo de Mee ” Introducao ‘Qual a minha responssbilidade,tarefa, missio ou vocacio ‘n0 mundo, pela qual serei amado ou odiado, respeitado ou desdenhado, mortalizada ou eteenizado? His uma das ques- tes que me venho colocando, desde tenraidade. A pergunta de Fando é: qual o sentido da minha vida? A experiencia de- _monstrou-me que, ao longo da historia da existenca humans, muitos setes humanos tornaram-se oélebres no tanto pelas respostas que deram 8s tematicascandentes sobre o ser hie mano, a natureza e Deus, mas, fundamentalmente, pelo teor das questdes que sabiamente propuseram 2 si mesmos e 0s ‘outros. Prefer, entdo,aiar-me a esses seres humanos que tomam 2 indagacio como seu ofico uma vez que a qualidade da vida que levamos e a sua histria podem depender das questdes que nos colocamos e do engajemento que fxzemos ‘para respondé-ls, ‘Outras questoes tim-me preocupado ese tornado centro das minhas cogitagbes: ndagar por que razio e para que fim, com vista a susctar que curiosidade, responder a que proble- Imatica, defender que causss ou que ideals ou que valores? Sendo afticano, decidi que, sea filosofia ainda pode dedicar- ‘se As ecatsastimas., essa causas ainda podem ser, para os aricanos e nao s6, as mesmas pelasquais muitos seres hurna- ‘nos derramaram o seu precioso sangue outrora e outro ainda 6 fazem hoje 2 liberdade e a justca. As duas nogbes, liber: dade e justia, foram muita debatidas no sécala XVI ena se- ‘gunda metade do século XX, respectivamente. A liberdade consttui © paradigma de todo o pensamento africano das “iltimos séculos (Ngoenha ndo hesta considerar a busca da liberdade como substrate da Flosafia African) e a justi € 0 {dealchave ao lado da verdade, da indagacto filosfiea uni versal, Nao vamos debaté las no sentido excusivamente pol tio; o me interesse 6 sobretudoaliberdade de ser auto tem todos os sends ea justiga de ser reconhecdo erespe- {ado como tal pelo outta iberdade de antodefinigioe auto- determinagéo como sujelto-agente,e a justia de ser tomado ‘como tl peo out. “Assumo como minha responsabiidade: reflects com vist a melhoraa sociedade hsmana como wm tod. Als esta € lume responsabiidade-missSo tao nobre que ndo dé pare ser ‘eclusivamente minha mas de todos, mormente daquees que {Ee alguina forma sentense luminados daqueles que mesmo sem munce terem sido eseravos almejam ser cada vez mals livres tudo fazem pela sua propia iberagio e dos otros is que este trabalho ~ reflexo inequivoco das minhas dvi das, angéstiss, perpexidades,lutas, esperangas e utopias f- lantropicas~ constituise como 0 meu esforgoe contributo paras criagio de uma socedade humana presente melhor do {hues pastada, © para uma sociedad ftura melhor ainda do jue a actual em todas as vrtentes, sbretudo em terms de ‘hamanismo Li muitos factorese motives que influenciam omen enga jamenio filosico ea minha labuta pela causa africana, Cala wer que lio a histria que se diz ser da Afric, bem como da {sia América Latina, ox quando simplesmente penso nela fou conto-a quem quer que sep, Snto que no posso ser nem ‘devo fear indiferente. Sea mito mais leve ume m6 sobre a minha cabeca da que © peso de consciénca que o silencio {sobre este assunto me cian. O problema central que est na trigem desta elec éo facto de muitos povos outro clo- ‘izados politica, econémieideogia, cultural esocialmente pelo Ociente sofrerem, hoe, uma neocolonizasio, principe: » mente, da mente eds mais distnts cas da sua manifesta ‘lo. Cam efit, sa Arica, tla de exemplo, fo frgada a szubmeter-s politicamente ao Ocidente na era da Expansio Irperial, agora muito parece cerem os propio afsianos que se resignam aos ocidentals, como quer implora, consent ‘ou inconscientemente, uma nova colonizagio, que se difere da anterior por ser relativamente epactcas (de viléncia se «zeta e simbélica) e sconsentidae por ambas as parte. Esta resignaco 6 sintoméicad eisténcia de vestgos ou mazels da colonizacto e da escravatura nos proprios aricanos © ‘opmidose no geal Questonar sobre razio da exstncia persia des vstgis ¢ propor mandi de era rao bem de tos so dos meus sates emacs propé- sitos nesta aba per Por outro lado, feito o trabalho de casa (ode a afscanos dlesmantelarem a5 ruinas da mentalidade coloialocental due ainda jaz nas suas mentes), vou ous posiconar-me como um Mestre da Denne, pare denunca esubmetr 20 tzivo da azio a praxis ea teoréticaeuroctntries, sobretado ros campos da linguagem, edueacio, ciéncia e tecnologia. Portanto, a minha esteia no Ambito academico-flosico pode ser ousada, mas nd €presungusa, Pesto da premissa de {ue o atianos ainda ndo si eecivamente ves uma perspectva holistica, quando uma parte do todo no est lire sistema inteiro esta privado de liberdade. A mina cusadia é de, por um lado, inci a auto-estia e a agincia dos arcanos, por outro, apelar aos ocidentaisvsados que a Sua aerogincia de serem esenhores do mundo» jéchegou 20 seu fim. Defendo, pois, 05 alricanos e outros «periferizadoss das acusaoespreconceitusassecularmente produzidas edi- fundidas pels earocentistas, segundo as quais aqueles 280 incapaze de gera algo que contribua par o progress hi- ‘mano, Por outo lado, quero instar os aficano,€ nO 86,8 ‘vencerem os vestgios da colonizagdo que ainda jazem em a” sas mentes ee reflectem na sua forma de pensar e agit, pare se tomarem verdadeiramente livres e contribuirem activa- ‘mente para a humanizacio do mundo e reumanizagio do ser Jhumano como-um todo, ‘Uma das conchasdes que chego na minha monografia de Licenciatura em Filosofia, sob o tema: «Afrocentrismo em Asante: um Paradigma Libertador?» (2010), 6 de que o Alro- ‘centrismo é um paradigma ibertador,principalmente porque Tocaliza os africanos bem como outros pov0s no seu tespec- tivo centro (cultural, epistemologio psicoligco). Depois da ‘monografiacentific, seguiu-se um artigo, «Afrocentrismo ‘em Mocambique: Urgencia e Necessidade da sua Apropri ‘glo» 2011), no qual defendo que é urgente e necessiio apro- priarmo-nos do Afrocentrismo, em Mogambique, sobretudo hos cirriculs do ensino superior No meu terceiro trabalho, ppublicada sob o titulo Samora Machel: un Paradigma di Li- berazione» QUIL),1s0 0 Afrocentrsmno para analisarasideias ‘€8 ideais de Machel, omando como fulro a liberdade. Por- tanto, estimado/a eter, este livzo enquadra-se logicamente neste esforgo geral de busca da liberdade integral do ser hu- ‘mano, iberdade tanto do oprimido como do apressor que 3¢ ‘prime oprimindo, Deboto sobre a Iiberdade numa perspec- tiva afrocéntrica ni tanto pelo facto de eu ser afrcano, mas antes porque, como disse, considero a Afrocentricidade como tum paradigma libertadore critica sofiiale do paradigma eu- rocéntsico; a filosofia afrocentria aigura:se para mim como ‘uma verdadeira fllosofa de libertagio, uma libertagdo no sen- tide holistico, que implica a libertacio da filosoie, ‘As fontes principais consultadas no ambito da eaboraséo deste livro no foram todas eseritas em portugués. Assim senda, todas as tradug6es feita sio da minha inteira respon sabilidade, Para garantir a honestidade centfca, dé que of- Iso devera ser sempre exemplo, e por reconhecer que no raras vezes o tradutor € traidor, coloco em rodapé alguns 2 textos originsis de forma a possiblitara conftontagio destes com 2 minha tadugo.O uso da primeira pessoa do singular neste tubal € propostado; vst anular & cumplcdade, de {quem quer que ea, rentes minhas Litas (errs, b= shes, excestos ete) também evitar um dogmatism dissin Indo que pode esultar do emprego da primeira pessoa do phil Em termos de conteidostratados nestaslucubagbes, no primeira capitulo, «Afrocentimo: Dfiniio eContextuaiza ‘Som, apresento una definigio minuciosa do Afrocentrsmo, ‘spies sobre os quis se nda arelagio entrea Arocent- ‘ade, a Filosofia Acana eos Estudos Aicanos, bem como ‘cenalidade como imperativo categrieo da Arocentiida- de. E de notar que nesta obra uso 08 concetos «Afocentis: tno» e«Afrocentrcdades sem uma necessria dscriminacio. 'No segundo capa, «Aftocentismo Versus Burocentris- son, ogo earaterizaao fundamental do Afocentismo ¢ do Burocentismo na sua forma académicae desenvolvo su Cintamente o grande debate travado entre ambes,sobretude rn que concern a questies como: metodologia, visio da rea- Iudade eorigem da dviizagio, da religio, da esr da ilo sofia, do pensamento especlativo no geral edo pensamento sien. ‘No tec capt, «A Afroentiidade eo Desafo da Li- berdader,comego a defender deforma ritda o caricter hu- -manistice ibertSrio da Afrocentrcidade, Confronto a teria trocéntrica com a cléncia tl como ela € praticada desde a Modernidade, « Marxismo e as Religides Revoladas. igual mente, analiso os dominios da inguagem e proponho 0 re -atcimento cultural ea libertacdo da educacio formal como _snipadas do pensamento opresor No quarto capitulo, cujo titulo € Teoria Afrocéntrica e “Teoria da Compleidade: em Busea da Libertacio da Ciencia da Téenicas,procro examinas epstemologicamente, comoa 2 ‘éncia ea técnica, outrors usadas para dominar os no-ock- ‘dentais,e actualmenteideologizadas, podem ser convertidas ~ ap6s algum wexorcisma» — em instrumentos de libertacio. (Ou seja, que posicionamentos os aficanos e outros povos, sobretudo os néo-ocidentais, devem tomar frente a Moderni- dade tal como ela apresenta-se-nos hoje. Modernizar a tradi- ‘lo ot tradiionalizar a Modernidade ou fornar uma posicio ect? [No quintoe derradeiro capitulo, «lmplicagdes da Afrocen- tticidade e Algumas Criticas»,resuimo 0 que entendo ser 0 sentido e as implicagbes de se abracara teoria arocentica, sobretude no ambite étco,psicalégicae histric,e termino apresentando algumascitieas teora afrocéntris bem como fazenda o que cham de eeriicalogia»afrocentrica das cfticas ceuroctntricas de Lefkowitz e Smith isto €, 0 estudo rico das critcas (que até podia-se chamarwcitcocriicalogin). Cariruto 1 Afrocentricidade: definigao e contextualizacao 1. De#INIGé0 Do CONCEITO DE AFROCENTRICIDADE Se a questio sobre o que serd a Afrocentricidade parece banal a sua respostaafigura-se importante, sobretudo porque ‘© conceito asociado a esta palavra, as vezes, por ignorincia (0a devido ao etnocentrisino,é mal definido e mal compreen- dido. © mentor e maior defensor da Afrocentricidade (ot ‘Airocentrismo) é Molefi Kete Asante, considerado, na Amé- ‘ca, um dos «100 lending thinkers eo mals importante profes. sor da América Negra, para além de ser poeta, dramaturgo, conferencst, pinto, fundadoredirigente de uma associaga0 hhumanitéia, a Afrocentricty International. le define deste modo o seu empreendimento: A Afoenvcdae um mado de pense cargo no qual yrds: in centrale ds interes, valores espana Em ‘onside a tear, cole d poe ritmo no cena de ql. quer anise dos fends ares. Portes, epee guages un ominara dp de busca lca ds fics em dad ferimena. Em termes de acco e comport, & wm eto dis ‘de que o gue est na melhor intr concn rican eld no cara (na bose) do canportament ic. Finalmente a Afcetri. ‘dade bus saealiza a dela de ea pia negrare€ utp de a. Portanto, ser negro estar conta tats as formas de oe, acisma lassi, homo, pati uso de cron pine nao rcet banen (Asante, 21032. sta definigdo encontra-se em Afrocentricity: the Teory of Social Change, um lvro de Asante, zevisto e aumentado em 2008, que aborda, entre outras questées, assuntos relaciona- {dos com o conceito da Afrocentricidade e 2 forma como a ‘Afrocenticidade guia os aricanos paraalibertacio, como lida ‘com a supremacia do brancoe como passa da tori a pritca. (© autor escreveu este livro, como no-loafirma no preficio, porque estava convict de que « melhor via para toda asaide econémica, politica, cultural e pscoldgica, na comunidade africana residente nos Estados Unidos da América & possivel ‘mediante um posicionamento centrado dos aticanos na sua propa striae cultura, A patlr da definicto importa sobremaneirarestaltar que 0 Afrocentrsmo ni pretende apenas ser ume especulaciofilo- s6fia, uma mera disciplina com caractristicase fins imples- ‘mente teoréticos, mas, e acima de tudo, um paradigma de ‘0gio, deser ede estar assente em iteresses, cultura (com os valores a ela inerentes) e histériaafricanos. O conceito Afto- ‘antricidade (de Afro, relerente a Aitia;e centrcidade, de cen- tuo) significa literalmente, de acordo com Asante (1998: 2), colocar 0s idesisaficanos no centro de toda e qualquer and- lise que envolvaa cultura o comportamento africanos ‘Par além desta refertnca & Africa como espaco geocultu- Afi ok tg an ti ih aif fn seat rrr re eo en ee ov tenon of sn pou Ta et ro ‘Serpe sc iif A gas pee fe ‘oven eter cede oe tit ict A ‘Sums rt ca nae Fay Act eee Tarbes feos Tas edt cs baptr a ee opp, ‘cae he ore lie fi an uc emai: ‘ime 8, 2% ral, Afrcentricdade alude, metaforicamente 3 Afie, como tum wespaco> geopolitio, sociocultural, epistemolégico, et, de todos 0s povos que de alguma forma sofreram e/ou sinda padecem qualquer dos tipos de dominacto colonial capita- lista; um eespago» a partir do qual se envidam esforgos para se estabelecer um dislogo harmonioso entre povos, culturase conhecimentos dos mais vaiados. ‘Num ensaio de 2006, initulado «A Discourse on Black Studies: Liberating he Stuy of African People in the Western Acae dem, Asante considera a Afocentrcidade como uma qua dade intelectual do pensamento, priticae perspectiva, na dual 0 académico percebe os afrcarios como sujeitose verda- deiro agentes dos fendmenos, que egem a partir da sua mae gem histrcae cultural para o intresse hurnano, Os afrocen- {sta procuram examinar as condigées necessirias para que haja harmoniaeesabilidade, anaisando as condigdes soca, criticando as metiforasretricas, deteeminando as possibi dades humanas, ee. ‘Resumidamente, a Afrocentricidade, enguanto perspeciva floséfica e de acgio, concomitantemente, pauta pela des- coberta, localizao eatualzagto da intervengio (agenca) do atvicano no contexto da sua propria histériae cultura, Por tervencio deve-se entender uma aftude nadiresio da acc, criginada nas experiéncasaicanas. Isto implica que, pars © ‘Afrocentrismo, 0 comportamento ico dos aicanos, a ttulo de exemplo, néo € o que é ditado pelos outros, mas antes © que é efecivamente do interese da consciénca africana, hie toricaeculuralmente, formed a que distnguirmos, desde cedo, a Afrocentricidade da ‘Africanidade. primeira, a Afrocentrdade, busca a agéneia fou intervencio a acqio, Por seu turmo, a segunda, a Atia- ridade,transmite identidade ese; reere-e na sua general dade a todos 8 costumes, tradighese tragos de carter do ovo afrcano, tanto Continent como na diéspora, ‘A Afrocentricidade ince na confianca sobre a acgéo da autoconsciéncia. Neste sentido, ce acozdo com Asante, seria lum erro e ignorinca da dimensio pritica do Afrocentrismo ‘pensar que este no tem papel em Attica porque 0 pov aft- {Gano jé tem uma perspectiva africana, Mais claramente: 2 “Africanidade nao implica necessariamente a Afrocentrcidade, Isto €, um facto é ter nascido em Africa ou descender de aft- canos, outro é centrar em Africa e no seu povo todas as formas de existenca, teoria e acco. Por outras palavras, 0 ‘Aérocentrismo ou a Afrocentricidade nfo € uma questio geo- ‘Entrica ou etaocentrca, mas de pensamentoe allude: teoria ‘e agencia ou acgao, Contudo, um nexo entre a Africanidade € ' Afrocentrcidade & possvel e isso gera uma cultura africana mais genusina e orgulhosa de si mesma do que se esse nexo io enti 2. OS TRES PILARES DA AFROCENTRICIDADE. Em que se inspira 0 Aftocentvismo? Em que bases histér- «as, epstemol6gicaseaxioldgicas assent? Sens exclsivamen- te tm fruto histérico do discurso etnocéntrico europeu? Ou ej, serd a Afrocenticdade filha do Eurocentrismo ou wma simples subversSo deste? Expresso de outro modo ainda: ter ‘a Afrocentrcidade os seus fundamentos no Eurocentrismo? ‘Para comecar, est claro que os fundamentos da teoriahoje conhecida por Afrocentrismo ou Afrocentricidade vém de Jonge. Importa apenas salientat que foram de grande relevo, no passado, os seguintes pensadores: Cheikh Anta Diop, Herbert Ekwe-Ekwe, Chinweizu, Marimba Aru, John Henrik (Clarke, Kariamu Welsh-Asante, Théophile Obenga, Yosef Ben- -Jochannan, Maulana Kerenga, Wade Nobles, Herbert Vii kati, Asa Hilliard, Na‘im Akbar, Garvey, Du Bois, Fanon, Be- thune, Nkrumah, Muhammad, Maloolm, David Walker, da B. a Wells, George James. Este dtimo é 0 autor de Stolen Legacy (0976), uma obra que, como a de Martin Beral (Bac hen), ‘ importanisima paca a teora afrocntrica, Asante 0 con- goles Théophile Obenga si seguidores de Cheikh Anta Diop. ‘Diop e Du Beis, considerados os ntlectuais fricanos mals {importantes do sécalo XX, emborainspitem Asante, no 380 propriamente afrocentristss. Vitimas da natureza opressora {do eurocentrismo sobre os intelectuais afrcanos, eles eram ambos vlads pelo uso de terminologia,construgbese con- «its eurocntrios: Um dos exemplos 0 uso que Diop faz dda expressio «Afrique Noire» («Africa Negra»), que divide a mesma Afia de cuja unidade cultural ele € defensorna obra Unité Culterle de LAfique Noire. Diop soto, histriador, linguista, cientista fico pré-aticano~ que, se ainda vivese, talvez negasse ser consderado efrocentita~ é tido, mesmo por Asante, apenas como precursor da tradigto groctntria € 1ndo propriamente como criadord tori facto ‘Asante encontrou Diop no seu escitdrio em Dakar, em 1980, Conversendo sobre o seu desejo de pesquisa e publicar cm defesa da Africa, Diop afirmou que « Africa néo necess- tava de defesa, mas de ser avancada (desenvolvida). Asante entendeu que Diop, na circunstancia, queria dizer que se deve avangar a africanidade: a ideia da Africa em termos de cultura, dindmices potas e tradigds, mais do que de Afro- conticidade, sto é, projcgio absoluta da agéneia africana em todo discuraaesituacso, ‘Como Diop, William Edward Burghardt Du Bois (Massa- ,€ plualdade a nivel micro, tal como 0 nosso organsmo que & lum s6, mas eujos membros so diferentes. a comunulidade ou uunidade ou similitude cultural que permite que a mulipici- dade caltural sje examinada a partir do ponto fio de uma ci ‘iliagio em geral, sto significa, evidentemente, que, para a rentalidade africana, o que mais importa ndo so as diferen- ‘28 individuais ou de grupos minortérios ou maioritarios, nas as semelhancas ea unidade do colectivo. Exprestando de forma mais simples, a unidade do todo € vista como mais mm porlante do que a dissemelhanca das partes. Mas isto ndosi- Difica que as paticularidades ou especiicdades das partes sejam ou devam ser sacificadas em fangéo do todo. Mostra antes que, no pensamentoafricano, predomina o mos opti- sista e congregacionsta ou harmonioso de vera realidade. (Os diferentes povosafrcanos tinham e continuam a ter linguas diferentes, realidades culteais disintas nam sentido, mas partiTham os mesmos mits, cosmogonia,sonhos, een a ‘ase pensamentos, o qu signifa que thar pra realidad & partir do’ mesmo ponto de vista, constroem sob a mesma fandacio isto é, mesmo Substrato metatisico e axiol6gic. E cata fundagio, ete centro, eta estrutura mental que 0 Aft Centrmo procura recuperar eactualizaz Note-se que no pretenda defender o unanimitmo, como Appiah @semelhan- ‘ad que Hountondj faz com os etnfildsfos) acsa que os Arocentsas gostam de fazer Com efit, a pritica demons tra-nos que as ultras afrcanastém microdferengas e ma- cromemelhancas.Poto ito, até se pode falar nio de cuturas ‘canes mas de uma culture afeana Mase, por um ido, oAlrocentismo se funda nos ples dos valores caltaraisaicanos ssicos ou antigos, 0 mesmo tempo quer além dele, aun certo sentido, isto ele revalo- ‘za o pensamento africanocisico todavia quer servirse dele para atingit proporgées ainda mais elevadas. odtemos fazer ‘uma analogia com o Renascimentoecidental que, endo uma revalorzagi, um retorno A Antiguidade Cisse greco-roma- ‘a, 20 mesmo tempo, ulrapasa-e em algum sentido. Poran- to, no Alrcentsisme coesstem, como seus aspects funda- mentaisainovagio ea tradicto (necesidade simultinea de preserva ede crn) elementos essenciais para o process is toricoafrcéntrce de hsmaniear 0 mundo. Tete de redes- coberta e reatrmagdo de ur saber aficano antigo mas nio ‘obsoleto ou antiquado, passado mas nao necessriamente ‘ltrpastado, ede ape a inventar uma nova forma de seni, Pensa estar no mundo. ‘Outro factor ndo menos importante da ment afiana é0 valor das relagbes umanas. Este valor est relacionado tam: ‘és como da harmoni, sempre procurado pelos africans. relevantereferir que, para os ascanos,o relacionamento que fe tem com uma pesoa,geraimente, ito, por extensio, a0 ii, 8 tbo € socedade. For exemplo, ene 0 povo Thal de ‘Mogambique endo sna saudagio entre duaspesoasnio se pergunt no singular: okie? (come ests), ma sm, 0 ual a ole? (ocomo estéo?»}. Nao me vou alongar a ex. Pla o sentido do verbo ka uke (acordar desperor reste Sta, renascer, estar saudived, usado na sandagio, pogue © {que pretendosublinhar € 0 substatoaxoldgco que enforma fs pessoas que se sadam, Na cosmovisio isk alvez em todo context bantu, quando alguém dz hi oil ou hua (estamos bem), est funda dizer que ele eos seus esto te pose eectiva ca orga vila. Vale afrmar que opal que se wha, tanto na saudagio quanto a resposta 3 saudagio, na o plural de espeitoapenes, mas de incluso de outos mem bos da fais, vivo e «norton (os emoros so considera dos evivos em outro mundo), e até do cl ou da eta. ‘importante notar que o sistema de parentesco de muitos povos aficanos actus, quer ptrlinesres como matelinesres, ‘vige qu as eto sejam tomados como méese pls. Deste ‘modo, nfo exstem éefos nos negros, como bem escreveu elafss,citad por Diop (1959: 42}. Com feito, desde cran- «25,0 fea aprendem que ti tio, sto ima da mie {emo edo pai sia mae epi também na linha da importin- cia conerids 3 elagbes Humanas que em muitas das soieda- dlesnegras exist, eaindaextem em algamas dels a pitica do leviato edo sororato, bem como a adopsio dos fihos da ‘pesos falc por parte da pest que east com a viva ou 0 ‘tivo (doiméo oda rma). Contd, 0 ai efou mie subs tutor € visto sempre como um spa pequenos ou sme peque- ra» Em sintse, a lags humanes tém muito valor para os ican pela pessoa com quem se entra imestamente em ‘contacto, astra tanas que ca represent, os es antepass- ‘os, as também por um motivo religiso ou mesmo mic. Estes elementos peculiar da mente arcana 39 retoma dos pela tori afrocntrica, ee om prefere como formas de ‘estabelecer unidade na multplicidade, para assim epenerae 3 hhumanidade como um todo. O holism, a uridade dos man- dos, a dela da inclusio tém uma relaggo intrnseca com ‘valor das relagdes humanas ea nagio de tempo. Mais explc- tamente: a unidade dos mundos na mente africana €a ideia ‘de que o passado,o presente eo futuro sio um inseparsvel ‘Acerenga na comunidede dos mortos como uma com a comu- nidade viva signifia que nio hé passado, presente e futuro absolutos e separados na mente africana clissica, uma orien- fagio para o universo inteiroe aceitacdo da interigacso dos vivos com os mortos e mesmo com os ainda ndo-nascidos. Por Jsso, € convincente afrmar que a religiosidade predomina na mente africana, porque, na religio, os tempos sio conexos (ama eternidade), formando um presente perdurivel endo necessarlamente um passado longo como pretendia John ‘MBit Tado pita em torno da hermonia ou do equilro, 22,Afilosofia egipeia antiga ‘A ciilizagho egipsia foi precedida, acompanhada e suce- ida pela producto de uma vasta gama de conhecimentos, ‘em que se conta o conhecimento flosofico. filosofiaegipcia antiga, fonte da flosofia grega e um dos pares do Afrocen- trismo, emboralargamente perdida e extorquida, évasta. Vou falar apenas de algumas nocées, analisando 0s conceitos de «Primelra Ocasido», Nur e Mai. Para se ter uma dela mais 01 ‘menos ampla da fllsofia egipcia antiga, recomenda-se a lei- tura, entre outs, dos seguintes livros: The Egyptian Phiaso~ pers: Ancient African Voices From lovhotep fo ABienaten bem ‘came Lt Philosophie frctne dela Periade Pharaonigue: 278-330 foam! notre dre, de Asante e Obenga, respectvamente 2.2.14 ePrimeine easton £0 «Nw» {A Primeira Ocasio (ep tpy, em epfpeio antigo) € um mo- _mento religioso ou mitco, um instante achst6rico em que % tade comezou ou veo exténci. Fla vista como una espe sie de Constituigo ou, no sentido mais grado, a Sagsatas scrituras,o Alcorao, a Tor, 0 Gita, ow les dos antigosesip- cies Tudo o que acontece no tempo comumn pode ser higado ao que sucedeu na «PrimeiraOcasilon, de modo que a expe ‘iéncias humana (africans) comuns tornam-se como tas em, Virtude de serem o reflexo do que ocorreu na «Primeira casos. Por outeaspalavas, a «Primeira Ocasiin € igual mente uma espéce de prottipo da moralidade, do dito, da religiao, te. Note-se que é bastante provavel que seria das Tdeiase de Pato, scbretudo a nocto de remiss, seins pire na

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