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1. Introdução
Um dos desafios para as organizações no que concerne à manutenção dos seus arquivos é
possibilitar que o volume de informação acumulada ao longo da sua actividade diária seja
acessível para o cumprimento de demandas administrativas, burocráticas e legais. Nesse sentido,
em arquivos permanentes, o arranjo de fundos surge para dar subsídio técnico-científico à gestão
de fundos. O arranjo e a descrição dos documentos de arquivo podem ser considerados os dois
processos nucleares da teoria e da prática arquivística que compartilham o mesmo objectivo:
representar o conhecimento arquivístico. Esta representação está baseada fundamentalmente na
aplicação do princípio da proveniência e no conceito de fundo documental.
Assim, desde sua emergência enquanto disciplina, no século XIX, nomeadamente a partir da
publicação do Manual de Arranjo e descrição de arquivos, em 1889, pelo trio holandês Muller,
Feith e Fruin, a Arquivística tem o arranjo e a descrição dos documentos de arquivo como
processos complementares e nucleares de sua teoria e prática, com o objectivo de classificar,
ordenar, descrever e fornecer acesso aos documentos. Estes processos têm objectivos específicos,
dividindo um objectivo em comum: representar o conhecimento arquivístico (TOGNOLI, 2012:
80).
Deste modo, o presente trabalho que tem como tema o “Arranjo do Fundo do Ministério da
Informação (1976 – 1995) ” é desenvolvido como requisito para a obtenção do grau de
licenciatura em Arquivística na Escola Superior de Comunicação e Arte da Universidade
EduardoMondlane (ECA – UEM). A escolha da baliza cronológica deve-se ao facto de (i)
1975ter se criado o Ministério da Informação de Moçambique e começo da produção do acervo
documental desta instituição e (ii) 1995 pelo facto de o governo moçambicano de ter extinguido
o Ministério da Informação e consequente cessação da produção documental desta instituição.
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1.1. Justificativa
A escolha deste tema deriva em primeiro lugar, de motivações profissionais, uma vez que o seu
autor é funcionário do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM) – Departamento de Arquivos
Permanentes (DAP). Em segundo lugar, a escolha do tema deriva de motivações académicas
pelo facto de o proponente ser estudante do curso de Arquivística na ECA-UEM. Estas duas
razões despertaram o interesse em perceber como tem sido o processo de ordenação dos fundos
dentro das séries e dos itens documentais no AHM – DAP, dai a escolha do tema acima
supracitado. Também outra motivação surge da oportunidade de procurar discutir
cientificamente algumas actividades que temos realizado no nosso dia profissional.
1.2. Problematização
Geralmente chega aos arquivos um elevado número de documentos desordenados, que não só
devem ser ordenados, como também, de acordo com um plano de arranjo 1 arquivístico devem
ser, colocados correctamente nas galerias e estantes. É tambémnecessários estarem em boa
ordem para serem localizados com facilidade quando houver necessidade de consultá-los; e
arranjá-los precisamente para serem inteligíveis tendo em conta a organicidade. A primeira
actividade, o arranjo arquivístico,consiste em estabelecer a ordem a partir da desordem, isto é, da
desorganização/desordenação (não arranjo) á organização/ordenação (arranjo). A ordenação ou
arranjo dos documentos é imprescindível por duas razões: (i) tornarem-se acessíveis ao usuário,
(ii)o conhecimento de sua natureza e seu conteúdo. O arranjo arquivístico implica também
processos intelectuais, pois para poder ordená-los o responsável deve ter um conhecimento
completo da história da instituição que produziu a documentação — sua origem, função e
desenvolvimento organizacional e funcional.
Foi a partir deste contexto em questão que se formulou a seguinte pergunta de partida:
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1.3. Objectivos
1.3.1. Objectivogeral
Discutir o arranjo do Fundo do Ministério de Informação.
1.3.1. Objectivosespecíficos
1.4. Argumentos
i. O primeiro sustenta que o arranjo de um fundo, deveria ser visto, antes de tudo, como
uma construção intelectual devido á complexidade de toda actividade pois é preciso
ordenar e organizar todos os documentostendo em consideração a sua relação,
conteúdo, produtor, sentido, etc;
ii. O Segundo argumento fundamenta que uma vez que muitos documentos de vários
produtores estão orgânica e irremediavelmente misturados muito antes de sua
chegada ao arquivo permanente, é papel do arquivista ordenar essa mistura para
ressaltar toda a proveniência contextual dos documentos.
1.5. Metodologia
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Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, trata-se de uma pesquisa bibliográfica e
documental. A parte bibliográfica consistirá no levantamento preliminar do material já publicado
a respeito, incluindo especialmente, as informações disponibilizadas pelo Arquivo Histórico de
Moçambique. A pesquisa documental foi o levantamento de material não – publicado pelos
cursos, obtido por meio de questionários, pesquisa in loco e contactos directos. Trata-se, ainda,
de uma pesquisa mista quanto à análise dos seus resultados, uma vez que se pretende trabalhá-los
tanto numa abordagem quantitativa, quanto qualitativa.
CAPÍTULO II
2. REVISÃO DA LITERATURA
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O arranjo de fundos arquivísticos e a classificação arquivística aparece na literatura pela primeira
vez no século XVII, notadamente com o último volume da obra De ReDiplomatica, de Jean
Mabillon. O método de Mabillon se ocupava de investigar os fatos e eventos aos quais os
documentos estariam relacionados, embora ainda não abordasse noções de organização. No
mesmo século, como destaca SOUSA (2006), os italianos passaram a utilizar-se de um
instrumento de arranjo ao qual chamaram titolario, elaborado a partir das funções de uma
instituição e que sesubdividia de acordo com a hierarquia de funções. Paralelamente estendendo-
se até o século XIX, os espanhóis também passaram a teorizar sobre o arranjo de fundos, muito
embora a prática só viesse a ser executada posteriormente, (HERNANDEZ & MEDEIROS,
2016).
Desde meados do século XIX, o respeito aos fundos tem sido considerado “o princípio básico da
ciência arquivística” (COOK, 2017: 8). O principal autor sobre o tema, o arquivista e historiador
francês Michel Duchein, afirma que é pela prática desse princípio “que o arquivista se distingue
mais nitidamente tanto do bibliotecário quanto do documentalista”, (DUCHEIN, 1986: 14).
Falando da importância de arranjos de fundos nos arquivos das instituições (públicas e privadas),
COOK (2017: 9) mostra-nos que;
5
Dessa forma, ressalva o mesmo autor procurando mostrar uma das características de documento
de arquivo, a organicidadeque;
Para os objectivos deste trabalho, a importância do fundo é claramente baseada no facto de ter
sido colocado no centro do arranjo e da descrição arquivística. Para melhor compreensão do
objecto de estudo deste trabalho, importa definir em primeiro lugar o “conceito de fundo”. O
conceito de fundo apenas começou a emergir no final de 1985 nos Estados Unidos da América.
“O fundo é um termo largamente usado em arquivística, documentação e biblioteconomia, para
designar, para fins de controlo, os documentos permanentes de um tipo específico de instituição
ou organização” (EVANS, 1974: 422)2.
Para o BUREAU OF CANADIAN ARCHIVISTS (1985: 7), “fundo pode ser definido como a
totalidade dos documentos de qualquer natureza que toda entidade administrativa, toda pessoa
física ou entidade colectiva, acumulou automática e organicamente por razões de sua função ou
actividade”.
Importa salientar que as duas definições descritas acima sobre o conceito de fundo, ambas
podem ser usadas para abranger documentos em qualquer forma ou suporte produzidos por
órgãos ou pessoas agindo em representação pública ou privada.
Uma tese muito importante sobre a ideia de “acto de produção de documentos” que é a principal
para o conceito de fundo, é nos apresentados por COUTURE e ROUSSEAU (1987):
2
Essa definição é repetida em TAYLOR (1980, p. 157), BERNER (1983, p. 127) e mais surpreendentemente em
COUTURE; ROUSSEAU (1987, p. 267).
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impossível, dessa forma, conceber, e menos ainda identificar, um fundo sem ter uma clara
compreensão da natureza, âmbito e autoridade do produtor dos documentos envolvidos. Os actos
de produção e acumulação são vistos como os mais centrais para a definição de fundo, enquanto
classificação, arquivamento e ordenação original são vistos como pontos centrais para a descrição
das séries, dossiers e itens. Como corolário da sua natureza orgânica, o fundo não pode ser
artificial, ou sintetizado após o acto de produção. Por exemplo, a colecção não é um fundo, mas
sim um “anti-fundo”. Ao contrastar fundo e colecção, foi observado que “o primeiro é o resultado
de um processo natural, o produto de actividades claramente definidas, enquanto a última é uma
construção artificial, uma criação arbitrária, frequentemente fruto do acaso. Ainda que os
documentos produzidos pelo coleccionador em seu trabalho de reunir a colecção obviamente
constituam um fundo (ou parte de um fundo), o produto reunido – a colecção propriamente dita –
não é um fundo (COUTURE; ROUSSEAU, 1987: 161)”.
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“Respeitados os critérios de arranjo, há que acordar entre os dois organismos3 uma data para
efectivar a organização física da documentação. Esta, devidamente acondicionada, deverá ser
colocada em unidadesde transferência (por exemplo, caixotes, inventários), transportada,
desencaixotada e instalada no destino, no mais curto espaço de tempo possível, dado que se
pretende reduzir ao mínimo o período em que a documentação fica inacessível para consulta e,
consequentemente, o risco de ineficácia organizacional. No momento de preparar esta operação,
deve ser dada a cada fundo uma identificação, no mínimo, um número sequencialmente atribuído.
Em simultâneo, deve ser elaborado um mapa de controlo dos documentos, que faça a
correspondência entre a referida identificação e os números de referência atribuídos no fundo
(trata-se de um instrumento de controlo que especifica que pastas ou outras unidades documentais
estão dentro de cada fundo). Poderá também revelar-se conveniente identificar no fundo e no
mapa de controlo ou inventário o local exacto de destino, especialmente quando esteja em causa
um grande volume de documentação e se pretenda que a mesma venha a ser instalada em
diferentes depósitos ou gabinetes”, (LOURENÇO & PENTEADO, 2012: 36).
Importa ter ainda em atenção alguns outros aspectos de arranjo de fundos de arquivo
nomeadamente:
i. Aquisição de caixotes ou caixas – estes devem ser de uma dimensão que não impeça
um fácil manuseamento por uma única pessoa, quando cheios. Isto significa que
devem ter uma capacidade que não seja superior a mais de 4 ou 5 pastas standard de
arquivo. A quantidade mínima de caixotes a adquirir é facilmente calculada logo que
esteja efectuada a avaliação eselecção de documentação a arranjar,
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funcionários dos organismos à coordenação do processo, no local onde decorre o
arranjo e organização da documentação. O arranjo e organização dos documentos
devem ser previamente acordados entre ambos os coordenadores, especialmentepara
disciplinar a instalação do fundo no local de destino.
COOK (2017: 19), mostra que o arranjo de fundos arquivísticos é uma oportunidade para
efectuar um diagnóstico geral ao seu sistema de arquivo e levar a cabo actividades que permitam
incrementar a qualidade dos serviços arquivísticos aos utentes. Para este efeito, é importante que
o processo de arranjo contemple:
Diagnóstico - consiste na recolha e análise de documentos sobre o sistema de arquivo
organizacional, com o propósito de identificar pontos fortes e fracos, oportunidades e
constrangimentosverificados, de modo a poder definir quais os passos a dar para a sua
melhoria,
Elaboração dos instrumentos integrados de gestão de documentos, visando a
classificação, avaliação e preservação da informação / documentação, nomeadamente:
Plano de classificação - este instrumento, preferencialmente elaborado numa
perspectivafuncional, compreende a identificação sistemática e organização de
actividades, de acordo com convenções logicamente estruturadas, métodos e regras,
representando-as num sistema estruturado para a classificação da informação/documentos
de arquivo,
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casos, dever-se-á reagrupar a documentação, enquanto noutros será mais útil a sua
descentralização. Contudo, as decisões deverão ser tomadas pensando nas pessoas que recorrem
aos serviços de gestão dos recursos informacionais, (LOURENÇO & PENTEADO, 2012).
Portanto, o arranjo de fundos que tinham tido na fase corrente um plano de classificação claro e
preciso, e que esse plano tinha servido como instrumento de classificação desses documentos,
vai ajudar em grande medida o trabalho de arranjo que será desenvolvido em arquivos
permanentes.
Desse modo, entendemos nós, que o sucesso do processo de arranjo passa por confiar esse
trabalho arquivístico a pessoal altamente qualificado,porque a actividade de arranjo impõe
conhecimentos sólidos sobre a Arquivística, na componente prática e teórica, conhecimento
sobre a evolução institucional do produtor dos documentos, para compreender as variações de
competências ao longo do tempo e as estruturais desse órgão, entre outras coisas.
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CAPÍTULO III
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O ciclo documental é composto por 3 idades4, sendo que, para que os documentos da idade
permanente possam servir de prova ou a história, impõe-se que estejam disponíveis ao acesso
público, pois como sustenta PAES (2004:121), “ a função de um arquivo permanente é reunir,
conservar, arranjar, descrever e facilitar a consulta dos documentos…”.
Entretanto, a mesma PAES (2004), defende que a administração dum arquivo permanente é mais
complexa que nos arquivos correntes e intermediário e passa por desenvolver as actividades de
arranjo, descrição, conservação e referência.
Tendo em conta que o objecto do nosso estudo é o arranjo arquivístico, actividade que visa
ordenar os documentos dos fundos tendo em conta uma lógica, neste capítulo procuraremos
discutir de forma geral como é desenvolvido o arranjo no Arquivo Histórico de Moçambique
(AHM).
Entretanto, é preciso frisar que a lógica a que nos referimos no parágrafo anterior é sustentado
por BELLOTTO (2006:136), quando diz que “a operação do arranjo resume-se à ordenação dos
conjuntos documentais remanescentes das eliminações…, obedecendo a critérios que respeitem o
carácter orgânico dos conjuntos, internos e externamente”.
Assim, partindo desses pressupostos, importa analisar como foram arranjados os documentos dos
diversos fundos que se encontram a guarda permanente no Departamento dos Arquivos
Permanentes (DAP) do AHM.
Tendo em conta que a ordenação dos fundos deve ter em conta o carácter orgânico que cada
órgão produtor de documentos tem, logo, não existe um padrãode organização dos diversos
fundos que existem no DAP5. Deste modo, a abordagem neste capítulo vai se concentrar na
ordenação ou arranjo do Fundo da Administração do Concelho de Marracuene, do Fundo do
Governo-Geral e do Fundo da Educação. A escolha destes três fundos tem em conta as
particularidades como foi feito o arranjo de cada um dos fundos.
Ao analisarmos estes três fundos notamos que em algum momento a questão da busca do
carácter orgânico dos documentos que constituem principalmente os documentos do fundo da
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Corrente, intermediário e permanente.
5
Porque cada órgão produtor dos documentos tem sua estrutura orgânica e suas funções, dai que, cada fundo vai ter
sua própria estrutura de arranjo ou quadro de arranjo.
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Educação pode não ter sido observado na altura de elaborar o quadro de arranjo e consequente
organização dos documentos desse fundo.
Pegando o Fundo da Educação achamos que o arranjo desenvolvido apenas se baseou na espécie6
documental, pois na primeira divisão desse fundo encontramos: “ relatórios das escolas”,
“processos das escolas” entre outras divisões. Por esta organização não fica reflectido o carácter
orgânico dos documentos. Achamos nós, que esse arranjo pode beneficiar o historiador que
consulta esses documentos, no entanto, o mesmo não vai entender os documentos dentro do
contexto de sua produção, buscando assim apenas “meias verdades”. PAES (2004:125), sustenta
até que “no arranjo do conjunto, os interesses das pesquisas históricas são consideradas
secundárias”.
Já no que diz respeito ao Fundo do Governo-Geral, achamos que o seu arranjo foi desenvolvido
tendo em conta as funções que esse órgão produtor dos documentos desenvolvia. Pois, segundo
PAES (2004:124), existe os critérios de organização estrutural e funcional, sendo a funcional
“constituído dos documentos provenientes de mais de uma fonte geradora de arquivo, reunidos
pela semelhança de suas actividades, mantido porém o princípio de proveniência”.
6
Segundo o Dicionário Brasileiro da Terminologia Arquivística (2005), espécie documental é a divisão de género
documental que reúne tipos por seu formato.
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No entanto, neste fundo temos a destacar também em relação ao seu arranjo que foi se tendo em
conta as variações de competências que a administração do concelho produtor dos documentos
foi tendo ao longo do tempo. Assim, por exemplo temos a função “Negócios indígenas” que
depois desaparece porque foi abolido o estatuto do indígena em 1961 e surge a função “trabalho
e acção social”, também podemos destacar a função “tribunais indígenas” que desaparece
quando acaba o indigenato, sendo que isso é “fruto” das variações de competências que o
concelho foi tendo. Essa realidade vai se reflectir também no quadro de arranjo que foi elaborado
para os documentos deste fundo.
Portanto, a actividade de arranjo torna-se crucial para compreensão plena dos documentos de
valor permanente pelo usuário desses mesmos documentos, dai que, essetrabalho 7 deve ser
executado por pessoa altamente qualificada, para que o fundo reflicta a realidade da sua
produção.
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Moçambique foi colonizado por Portugal até ao dia 25 de Junho de 1975, quando a Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO) proclamou a independência do país, criando assim a
República Popular de Moçambique.
Com a independência foi criado o primeiro governo de Moçambique independente e com isso
alguns ministérios para ajudar na governação do país. Dentre os ministérios criados está o
Ministério da Informação, instituição criada pelo Decreto Presidencial nº1/75 de 27 de Julho.
Esse ministério, segundo os artigos 16 e 17 da sua criação, tinha como competência a difusão da
linha política da FRELIMO e do governo através dos órgãos de informação, de modo que, esses
órgãos eram coordenados pelo Ministério da Informação, cabendo ao ministério criar ou
extinguir órgãos de informação.
No entanto, para permitir que o Ministério da Informação levasse avante os seus objectivos com
sucesso era necessária uma estrutura administrativa, de modo que, por Portaria nº119/75 de 22 de
Novembro de 1975 foram criados os seguintes órgãos junto ao ministério:
- Gabinete do Ministro;
- Departamento de Finanças;
Assim, o Ministério da Informação para além de criar órgãos de informação que compreendiam a
imprensa, rádio e imagem, promovia a formação dos quadros da área, controlava a política
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editorial dos órgãos de informação, autorizava a instalação de representantes das agências
noticiosas estrangeiras no país, entre outras actividades.
O ministério em estudo funcionou no país durante todo período de vigência do partido único 8, até
a altura em que foi extinto através do Decreto Presidencial nº4/95 de 16 Outubro.
8
Na altura da vigência do sistema monopartidário.
9
Surgimento do sistema multipartidário.
16
“O respeito dos fundos é tradicionalmente considerado, desde a segunda metade do séc. XIX,
como o princípio fundamental do arquivo…. Mas como muitos princípios é mais fácilenuncia-lo
do que defini-lo e defini-lo do aplicá-lo. Se as suas bases conceituais são relativamente fácies de
estabelecer, ele levanta, desde que se procure aprofundar os aspectos teóricos e aproveitar as
consequências práticas, inúmeras dificuldades sobre as quais gerações de arquivista se debruçam
sem que soluções nítidas fossem, no entanto, universalmente imposto”, DUCHEIN (1992:1).
A citação acima de DUCHEIN (1992), reflecte as dificuldades que realmente os técnicos dizem
que sentiram quando buscaram aspectos teóricos para criar o quadro de arranjo usado para
organizar o Fundo do Ministério da Informação. O primeiro momento do arranjo do fundo, que
foi a parte intelectual do arranjo, consistiu em elaborar a história do Ministério da Informação
para compreender quais eram as suas funções e atribuições e com isso poder compreender
tipologia documental que tais funções e atribuições podiam produzir no funcionamento
administrativo do ministério, foram tendo ao longo do tempo.
Dos dados levantados por nós podemos concluir que o quadro de arranjo produzido para o fundo
em estudo baseou-se na estrutura administrativa do produtor dos documentos, pelo que o arranjo
desenvolvido neste caso foi um arranjo estrutural.10
Desse modo, o quadro de arranjo elaborado teve como primeira divisão11 deste fundo as divisões
administrativas máximas do ministério, procurando ir ao encontro do argumento de BELLOTTO
(2006:147), quando diz que “o principio norteador da fixação de fundos de arquivos é o órgão
estrutural…. O que determina seu arranjo interno é, num primeiro momento, ainda a estrutura
10
PAES (2004), diz que existe arranjo estrutural e arranjo funcional.
O arranjo estrutural consiste em organizar os documentos com base na estrutura.
11
BELLOTTO (2006), diz que a primeira divisão do fundo é a secção ou grupo.
17
organizacional…. Por sua vez DUCHEIN (1992:11), diz que “a estrutura interna dos fundos
reflecte evidentemente essas variações de competências”.
Assim num primeiro momento o quadro de arranjo teve as seguintes secções, que correspondiam
os primeiros órgãos criados no ministério:
- Gabinete do Ministro;
- Departamento de Finanças
No entanto, ao manter as divisões funcionais do ministério 12 como base de arranjo, isso levou a
que fosse necessário ter em conta que em alguns momentos certos órgãos deixavam de existir.
Ou mudavam de denominação, e isso devia se reflectir também no quadro de arranjo. Por
exemplo, essa situação aconteceu nos seguintes casos:
Portanto, essas mudanças vão se reflectir nos documentos que são sendo produzidos e com isso,
o contexto de organização dos documentos deve ter em conta esta organicidade, respeitando-se
assim o princípio de respeito ao fundo13, e a evolução institucional.
12
Entende-se divisões funcionais como estrutura orgânica.
13
Que diz que a organização dos documentos deve partir do geral ao particular.
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Para sustentar a afirmação acima, DUCHEIN (1992:13), diz que “as divisões funcionais do
organismo como base da classificação de fundo, temos então que fatiar o fundo por ordem
cronológica ou períodos delimitado pelas mudanças de estrutura dessas divisões…”
Assim, para o fundo em estudo aconteceu essa realidade em algumas secções como vimos nos
exemplos acima citados. Ao analisar o fundo em estudo encontramos 10 secções, sendo que
algumas das secções não tem documentos de todo período da existência do ministério que vai de
1975 a 1994, porque podem ter sido extintos esses órgãos, ou mudado de denominação como
resultado da variação de competência da instituição que produziu os documentos destes fundos.
Assim, vão abaixo as secções criadas no fundo e o período de tempo dos documentos que os
constituem:
Portanto, o quadro de arranjo produzido para este fundo procurou reflectir o dinamismo do
ministério, dai que, algumas secções não reflectem ou não cobrem todo período de
19
funcionamento do ministério, tendo em conta a perspectiva de funcionamento da instituição
produtora dos documentos, pois, segundo BELLOTTO (2006:155), “… o arquivo deve realizar
estudos sobre legislação, estrutura, seus quadros de secção e série”.
Por isso temos por exemplo as funções de gestão de recursos humanos ligadas ao Departamento
dos Recursos Humanos; as funções ao controle d politica de informação na Direcção de
Informação; as funções ligadas as finanças no Departamento de Finanças. Essas situações no
nosso entender vai ao encontro de um quadro de arranjo que procura reflectir a estrutura
organizativa, sua evolução e funções.
14
Na fase corrente e intermediária.
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Os arquivos permanentes têm grande valor para as sociedades porque é através deles que se faz a
recuperação de acontecimentos e factos passados com alguma consistência, e ai ajudar a
compreender alguma realidade.
No entanto, esses arquivos que são de acesso público, tal só podem acontecer quando existem
instrumento de pesquisas fiáveis de recuperação da informação que os documentos de valor
permanente possuem. Porém, para que se produza os tais instrumentos de pesquisa fiáveis é
necessário primeiro desenvolver a actividade de arranjo.
Portanto, aparte intelectual de arranjo joga papel fundamentalmente para que se organize
devidamente os documentos de um fundo, e o arquivista que desenvolve esta parte intelectual
deve ter conhecimentos muito profundos não apenas do órgão produtor dos documentos, mas
também da teoria e prática dos arquivos, pois em arquivos não se usa regras mas princípios
arquivísticos.
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Por outro lado, feito esse trabalho de análise do arranjo do Fundo do Ministério da Informação,
recomendamos:
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
22
BEARMAN, D (1999). “Documenting documentation”. Archivaria, 34 (summer), p. 33-49,
1999.
COOK, Terry (2017). Conceito de fundo arquivístico: teoria, descrição e proveniência na era
pós-custodial. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, Ministério da Justiça Segurança Pública.
EVANS, Frank B. et al. “A Basic Glossary for Archivists, Manuscript Curators, and Records
Managers”. American Archivist 37 (n. 3, Jul 1974), p. 415-518.
HERNANDEZ, Bianca Ferreira; MEDEIROS, Graziela Martins de (2016). “Análise dos termos
classificação e arranjo na literatura arquivística brasileira”. Biblionline, João Pessoa, v. 12, n. 3,
p. 16-33, jul./set., 2016. Disponivel na internet.
PAES, Marilena Leite. Arquivo Teoria e Prática. 3a edição Ampliada. Fundação Getúlio Vargas.
Rio de Janeiro. 2004. Pp. 121-125.
23
TOGNOLI, Natália Bolfarini (2012). “A representação na arquivística contemporânea”. RICI:
R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Brasília,v. 5, n. 2, p. 79-92, jul./dez. 2012. Disponível
na Internet.
Referências legislativas
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