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ry ene HISTORICOS Dem Sty A poderosa atuacao de Deus no meio do seu povo OS LIVROS ISTORICOS A poderosa atuagio de Deus no meio do seu povo Que lig6es 0 leitor moderno poderd tirar da leitura de uma obra sobre os livros histéricos da Biblia? Intimeras. A primeira delas é a constatagao de que esses livros encerram uma importante mensagem de esperanga € vitéria para a Igreja de hoje. A segunda dessas ligGes é que Josué, Juizes, Rute, 1° ¢ 2° Samuel, 1° e 2° Reis, 1° e 2° Crénicas, Esdras, Neemias e Ester demonstram, com abundancia de fatos, que o plano de Deus com relagao ao seu povo sempre triunfard. Deus peleja e garante a vitéria para aqueles que o temem, apesar das forgas que se levantam contra eles, e dos proprios desvios e fraquezas da natureza humana. Este livro demonstra fundamentalmente que o Antigo Testa- mento é atual. Sua forma didatica ¢ apropriada para os estudiosos da Biblia, principalmente para os alunos de escolas ¢ semindrios teoldgi- cos. VN 8573°674 ISBN 85-7367-498-9 - Categoria: Referéncia Este livro foi publicado em espanhol com o titulo Los Libros Historicos por Editorial Vida © 1980, 1992 por Editorial Vida © 1996 por Editora Vida I*impressGo, 1996 2° impressao, 2000 3* impressdo, 2001 4° impresséo, 2003 Todos os direitos reservados na lin; c ¢ gua portuguesa por Editora Vida, rua Julio de Castilho, 280 7 . 03059-000 Sao Paulo, SP — Telefax: (0xx11) 6096-6833 As citagdes biblicas foram extraidas da Edigdo Contemporanea da Tradugao de Joao Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida, salvo onde outra fonte for indicada. Capa: Martin Dauer lace aa apec Impresso no Brasil, na Imprensa da Fé SUAS INDICE Prdlogo ... Introducao geral aos livros hist6ricos A CONQUISTA DE CANAA JOSUE Introduco ao livro de Josué I. Aconquista da Terra Prometida (1-12) A. Preparativos (1-5) B. Campanhas de guerra Ul. Partilha de Canaa (13-21) Ill. Fim da lideranga de Josué (22-24) PER{ODO TURBULENTO DE TRANSICAO JUIZES Introduc&o ao livro de Juizes L__ Introducao: Epoca posterior 4 morte de Josué (1:1-3:6) A. Campanhas independentes das tribos (1) B. Mensagem do anjo de Jeova (2:1-5) C. Ciclos religioso-politicos (2:6-3:6) Il. Historias das opressdes e os libertadores (3:7-16:31) A. Mesopotamia: Otniel (3:7-11) B. Moabe: Etide (3:12-30) C. Filistia: Sangar (3:31) D. Canaa (Hazor): Débora e Baraque (4:1-5:31) E. Midia: Gidedo (6:1-8:35) F. Abimeleque, Tola e Jair (9:1-10:5) G. Amom: Jefté (10:6-12:7) H. Ibsa, Elom, e Abdom (12:8-15) I. Filistia: Sans4o (13:1-16:31) Situaco social na época dos juizes (17-21) A. Mica e sua idolatria (17,18) B. Atrocidade de Gibed e guerra civil (19-21) Ul. a PER{ODO TURBULENTO DE TRANSICAO (continuagao) RUTE Introdugaéo ao livro de Rute Contetido A. Rute decide fazer parte de Israel (1) B. Rute é objeto das atengdes de Boaz (2) C. Rute apela para que Boaz a redima (3) D. Rute se casa com Boaz (4) - 93 O INICIO DA MONARQUIA. OS LIVROS DE SAMUEL Introducao I. Samuel (1 Samuel 1-7) A. Nascimento e primeiros anos de Samuel (1-3) B. Guerra contra os filisteus (4-7) II. Samuel e Saul (1 Samuel 8-15) A. Estabelecimento da monarquia (8-12) B. Comego do reinado de Saul (13-15) II. Saul e Davi (1 Samuel 16 - 2 Samuel 1) A. Davi comega a servir a Saul (16:1-18:5) B. Davi é perseguido por Saul (18:6-28:2; 29:1-30:31) C. Fim de Saul (1 Samuel 28:3-25; 31:1-2 Samuel 1:27) IV. Davi (2 Samuel 2-24) A. Guerra civil (2 Samuel 2-4) B. Davi como rei de todo Israel (2 Samuel 5-10) C. O pecado e 0 arrependimento de Davi (2 Samuel 11-12) D. Histéria de Absalao (2 Samuel 13-20) E. Varios acontecimentos no reinado de Davi (2 Samuel 21-24) 101 DIVISAO DO REINO, SUA DECADENCIA E RUINA ..... 167 REIS E CRONICAS Introdugao geral 4 época Introdugao aos livros dos Reis Introducao aos livros das Crénicas I. Reinado de Salomao (1 Reis 1-11) I. II. IV. VI. A. Ascensao de Salom&o ao trono (1:1-3:2) B. Inicio do reinado de Salomao (3:3-4:34) C. Construgdo do templo (5:1-6:38; 7:13-9:9) D. Magnificéncia exterior do reino (7:1-12; 9:10-10:29) E. Decadéncia de Salomao (11) A divisao do reino. Historia sincrénica dos reis até Onri e Asa (1 Reis 12:1-16:28) A. Dissidéncia politica e religiosa (12) B. Reis de Israel: de Jeroboao até Onri (13:1-14:20; 15:25-16:28) C. Reis de Juda: Desde Robodio até Asa (14:21-15:24) Acabe e Elias (1 Reis 16:29-2 Reis 1:18) A. A luta entre Elias e 0 baalismo (1 Reis 16:29-19:21) B. Episddios no reinado de Acabe (1 Reis 20:1-22:40) C. Acazias e Elias (1 Reis 22:51- 2 Reis 1:18) Eliseu (2 reis 2:1-8:15; 13:14-25) A. Eliseu sucede a Elias (2) B. Eliseu prega a vitoria sobre Moabe (3) C. Alguns milagres de Eliseu (4:1-6:7) D. Guerras Sirias (6:8-8:15) E. A morte de Eliseu (13:14-25) Histéria dos reis de ambos os reinos até a queda de Samaria (1 Reis 22:41-50; 2 Reis 9-17) A. Josafa, o bom governante (1 Reis 22:41-50) B. Jeti e Jeoacaz: revolucao e decadéncia (2 Reis 9,10; 13:1-9) C. Alguns reis de Juda (2 Reis 8:16-29; 11:1-12:21; 14:1-22; 15:1-7, 32-38; 16) D. Os tiltimos reis de Israel e a queda de Samaria (2 Reis 13:10-14:16; 14:23-29; 15:8-31; 17:1-41) Os uiltimos tempos do reino de Juda (2 Reis 18-25) A. Ezequias: reforma e sobrevivéncia (18-20) B. Dois reis impios: Manassés e Amom (21) C. Josias: reforma e desvanecimento de uma esperanga (22:1-23:35) D. O triunfo de Babilénia e a queda de Jerusalém (23:36-25:30) E. Ocativeiro babilénico A RESTAURACAO ESDRAS E NEEMIAS Introducaéo A. Os livros de Esdras e Neemias B. Fundo histérico I. Primeiro regresso dos exilados (Esdras 1-6) A. O retorno de Jerusalém é organizado (1,2) B. Reconstrugao do templo (3-6) IL. Segundo regresso (Esdras 7-10) A. A missao de Esdras (7,8) B. A reforma de Esdras (9,10) Ill. Terceiro regresso (Neemias 1-7) A. Neemias comissionado por Artaxerxes (1:1-2:10) B. Comega a construcdo dos muros (2:11-3:32) C. Oposigao dos inimigos externos (4) D. Oposigao dos inimigos internos (5) E. Intriga dos adversarios e conclusao do muro (6) F. Disposig6es para a protecao de Jerusalém (7) IV. Reformas (Neemias 8-13) A. Reforma religiosa (8-10) B. Reforma social e politica (11-13) PROTECAO NA DISPERSAO ESTER Introducao Contetido do livro de Ester A. Assuero se divorcia de Vasti (1) B. Elevacao de Ester (2) C. Intriga de Ama (3) D. Intervencao de Ester (4-7) E. Salvacao dos judeus (8-10) INDICE DE MAPAS E ILUSTRAGOES Palestina vista do sudoeste ... Corte longitudinal do desnivel que o rio Jordao sofre ao longo de sua trajetéria........ Vista parcial da cidade cananéia de Laqui: Estratificacgao de um tel... Campanhas de guerra de Josué Localizagao das doze tribos.. Estatueta cananéia do deus Baal . InvasGes na época de Juizes e as vitérias dos lideres israelitas .. sesoeee Duas cabegas fi s de um baixo-relevo egipcio Saul é ungido rei.......... Fortaleza-palacio de Saul em Gibea Eventos importantes da vida do rei Saul . Jerusalém na época do rei Davi Acontecimentos importantes na vida de Davi Império de Davi e Salomio....... Reconstrugao do templo de Salomfo . O reino dividido .. Alguns eventos dos ‘livros dos Reis Jet pagando tributo ao rei Salmanazar III, da Assiria Baixo-relevo do rei Assurbanipal Comparagcao cronolégica dos reinados de Juda, e seus profetas ... O império assirio O império babilénico Reconstituigaéo da Porta de Istar na a antiga cidade da Babilénia O timulo de Ciro na | atualidad O império persa ....... Ruinas do palacio do rei Dario Copeiro do rei persa Palestina e Jerusalém no tempo de Neemias .......sseeeee 305 PROLOGO historia de Israel contém uma importante mensagem para a Igreja de hoje. O plano de Deus sempre triunfa, apesar dos contratempos que o povo sofre, a oposigao de seus inimigos e a fraqueza humana. No livro de Josué vemos Israel “imponente como exércitos prontos para a batalha”, tomando posse de sua herangca sem que nada possa deté-lo. O livro de Juizes mostra como Deus levanta libertadores — alguns até indignos, como Sanséo — para livrar 0 seu povo em momentos de crise. Apesar da ignorancia espiritual, daimoralidadee docaos social da €poca de Juizes, continuaram a existir a piedade e a bondade, como podemos constatar no livro de Rute. Nos livros de Samuel, Reis e Crénicas, observamos nao sé 0 estabelecimento da monarquia em Israel e 0 seu florescimento, mas também acompanhamos sua decadéncia, a ponto de parecer que a lampada do conhecimento do verdadeiro Deus se havia apagado. Elias lamentou-se dizendo: “S6 eu fiquei”, nao sabendo que Deus tinha conservado um remanescente de sete mil pessoas que nao se haviam dobrado perante Baal. Deus sempre preserva um remanescente fiel. Mesmo tendo disciplinado 0 seu povo mediante o cativeiro babilénico, O Senhor fez com que um remanescente retornasse para a Terra Santa. Enfrentando a oposicao externa, e grandes problemas dentro de suas préprias fileiras, o valente povo repatri- ado reedificou as muralhas de Jerusalém. Da mesma forma como ocorreu em Jerusalém na época de Neemias, ainda restam muitos escombros ao redor dos fundamentos da atual Cidade de Deus, e nao faltam inimigos externos e internos que nos atacam. Porém,”“o povo que conhece ao seu Deus se tornaré forte, e faré proezas” (Daniel 11:32). Edificaré o muro apesar dos “tempos angustiosos”. Dos pogos da histéria de Israel, a igreja atual tira 4guas de inspiragao, para ficar fortalecida. Sabe que o plano de Deus ha triunfado e triunfara. Exorto 0 leitor apressado por falta de tempo a que nao ceda 4 tentacao de ler as partes deste livro sem estudar primeiro 0 texto biblico que corresponde a elas. Mesmo que neste livro sejam incluidos alguns dos resultados das investigacées cientificas sobre © texto biblico, certos descobrimentos da arqueologia 4 luz da historia secular, nao devem ser considerados como um substituto para o estudo pessoal das Sagradas Escrituras. Devemos ter presente que a Biblia é o melhor intérprete de si mesma, e que 0 crente tem a “uncao” que lhe ensina todas as coisas (1 Joao 2:27). Deus fala hoje através de sua Palavra, mas devemos lé-la, e ter um coragao atento para ouvir a voz divina, e uma vontade disposta a obedecé-la. Sinto uma divida de gratidao para com os que me ajudarama preparar este livro. Agradeco a Floyd C. Woodworth, redator de -materiais educativos do Programa Educagao Crista para a Améri- ca Latina e Antilhas, que leu os originais, e me deu valiosas sugestdes para melhora-los. Os desenhos e mapas preparados por Jorge Besso Pianetto, pastor argentino, tornam mais compreensi- vel e real a histéria hebraica. Hugo Miranda Diaz, de Santiago, Chile, corrigiu a linguagem dos originais, tornando-a mais facil de entender. Também expresso minha gratidao a minha esposa Beth por sua valiosa cooperacao para dar término a este trabalho, como também por haver me encorajado a seguir adiante na tarefa de escrever livros para ajudar os obreiros cristaos em formacao. Meu desejo é que os pensamentos expressados neste livro ajude o leitor a compreender e a apreciar melhor a historia de Israel, povo que preparou o caminho para Aquele que viria a redimir toda a humanidade. INTRODUCAO GERAL AOS LIVROS HISTORICOS lguma vez vocé j4 imaginou uma Biblia que nao incluisse as histérias de Josué, Sansao, Davie Elias? Seria uma Biblia imensamente empobrecida, muito menos interessante; uma Biblia que necessitaria dos livros histéricos. A que se referem os livros hist6ricos? Constituem a segunda divisdo do Antigo Testamento, que comega com Josué e termina com Ester. Chamam-se hist6ricos, porque em seu contetido predo- mina a historia do povo do pacto. (O Pentateuco comeca a histéria sagrada, mas em parte também trata sobre a legislacao e por isso nao se inclui entre os livros histéricos.) Estes livros narram a conquista de Canad e o estabelecimento de Israel nesse pais, seu posterior florescimento, decadéncia e queda, relatam também o cativeiro babilénico e a restauracao do povo 4 Palestina. Abrange aproximadamente um perfodo de 800 a 1000 anos: desde a invasao efetuada por Josué no século XV ou possivelmen- te no século XIII a.C., até Neemias, em meados do século X a.C. 1. Importancia da histéria sagrada. Por que estudamos os livros histéricos do Antigo Testamen- to? Em primeiro lugar, boa parte do restante da Biblia ficaria incompreensivel se nao tivéssemos 0 relato histérico de Israel. Este complementa a histéria contida no Pentateuco e torna com- preensiveis alguns Salmos e livros proféticos. Também ilumina verdades neo-testamentarias. Por exemplo, Jesus de Nazaré com- parou-se a si mesmo com os profetas Elias e Eliseu, os quais ministrarama pagaos, pois seus proprios cidadaos eram indignos. Desta forma ele chama a atengao para o fato de que um profeta é rejeitado em seu proprio pais (Lucas 4:24-27). A hist6ria sagrada ensina além do mais grandes ligdes morais e espirituais. O escritor da carta aos Hebreus menciona no décimo primeiro capitulo alguns dos heréis do Antigo Testamento como exemplos que inspiram fé nos leitores. Através dos séculos de 12 OS LIVROS HISTORICOS hist6ria da igreja crista, os crentes tém extraido ligdes de incalcu- lavel valor do estudo da histdria sagrada. Essa historia também tem grande importancia, porque Deus se revelou aolongo delacomo povo escolhido. Deus nao €é uma idéia abstrata, e sim um Ser pessoal que opera em favor dos homens que confiam nele. Sua personalidade se destaca em seu relacionamen- to com eles através de encontros pessoais e acontecimentos hist6- ricos. Ele tem falado por atos de salvagéio e com palavras que ilu- minam. A Biblia 6 0 tinico livro religioso que leva a sério a histéria. Asescrituras de outras religides, em regra geral, apresentam uma série de revelagées dadas a umsé6 homem ou um sistema de precei- tos, doutrinas abstratas e dogmas. Na Biblia, a doutrina se encerra na histéria, na vida dos homens ¢ no dia a dia de uma nagao.» Na Biblia, podemos ver Deus como o principal protagonista da historia; s6 ele da significado aos acontecimentos. Através da histéria de Israel — seus acontecimentos, suas guerras e seus ressurgimentos espirituais — Deus se manifesta realizando seus elevados propésitos, e até langando mao de poténcias pagas para castigar e libertar 0 seu povo. O Antigo Testamento relata sete acontecimentos transcen- dentes realizados por Deus: 1) Deus escolheu Abraao para formar um povo especial: ele Ihe fez grandes promessas ¢ estabeleceu um pacto com ele. 2) Livrou com um notavel poder sobrenatural os hebreus da escravidao egipcia. 3) Estabeleceu um relacionamento intimo e tnico com os hebreus no Sinai, fazendo um pacto comeles, entregando-lhes e lei eo modelc do tabernaculo. 4) Entregou Canaa como um presente aos hebreus, mediante a conquista dirigida por Josué. 5) Inaugurou a monarquia hebraica e, em especial, estabele- ceu a dinastia davidica. 6) Disciplinou os hebreus apéstatas entregando-lhes aos caldeus, que os deportaram para a Babilénia. 7) Restaurou os fiéis 4 terra de Canad mediante um decreto de Ciro, o grande rei Persa. Desta forma Deus se revelou na histéria israelita como um Deus pessoal e soberano. Atuou com justica, juizo e graca, motiva- Introdugao Geral aos Livros Histéricos 13 do por seu amor infinito, para fazer com que o homem extraviado voltasse a fonte de vida, e para restaurd-lo 4 comunhao com seu Criador. Nao é de se estranhar que se diga que 0 tema da Biblia é a redengaio do homem, e que o Antigo Testamento ensina como Deus, através do seu povo, preparou o caminho para a vinda do Redentor. * 2. O ponto de vista profético dos historiadores inspirados. Os livros de Josué, Juizes, Samuel e Reis, sio chamados de “profetas anteriores” na Biblia hebraica, em contraposicao aos “profetas posteriores”: Isaias, Jeremias, Ezequiel e os doze profe- tasmenores. Os demaislivroshistéricos, Crénicas, Esdras, Neemias e Ester, sao encontrados em um grupo chamado “escritos” pelos hebreus. Neste grupo se acha também 0 livro de Daniel. Por que sao chamados “proféticos” os livros que nds chamamos histéri- cos? Ha duas razées possiveis. Em primeiro lugar, a tradigéo hebraica atribui a “profetas” a composicao destes livros. Em segundo lugar, o objetivo principal dos escritores nao é tanto ensinar a hist6ria de Israel tal como ela foi, e sim “a forma pela qual a mensagem de Deus entrou na vida da nagao.”! Ou seja, os historiadores cristéos escrevem sempre guiados por um fim dou- trindrio, e inspirados na lei e nos profetas. Apresentam a historia de Israel desde o ponto de vista profético. Os profetas nao se limitavam a predizer o futuro, mas decla- ravam aos seus contemporaneos o que Deus exigia de seu povo, e interpretavam o passado, o presente e o futuro a luz dos propési- tos divinos. Revelavam o significado religioso dos acontecimentos e das situacées de sua época. Assim como os profetas, 0s escritores dos livros hist6ricos se interessavam mais em interpretar a historia queem registra-la. Sua motivagao era dar ensinamentoe edificacao aos seus leitores. Os historiadores sagrados nao tentavamnarrar todos os acon- tecimentos de Israel e das nag6es que estavam ao seu redor. Passaram por alto certos periodos ou os trataram de forma breve, por estes nao terem relacionamento direto com seu tema. Escolhe- ram, selecionaram e orientaram todos os acontecimentos histéri- cos com um fim religioso, dando-lhes uma significag4o profunda esublime: a atuacao de Deus na historia. Nao tinhamesses autores 0 propésito de glorificar 0 seu povoe os seus grandes lideres,como 14 OS LIVROS HISTORICOS acontecia com os escritores egipcios e babilénios. Por isso limita- vam-se a descrever de forma ampla e detalhada so os aconteci- mentos e as pessoas que tinham destacada importancia moral e religiosa. Por exemplo, pode-se notar como 0 escritor dos livros de Reis trata a duas personagens: Onri e Acabe. Onri foi um rei célebre do século IX a.C., um poderoso general que estendeu o territério de Israel e foi o construtor da cidade-capital de Samaria. Os assirios admiravam tanto sua capacidade militar, que durante cento e cingtienta anos depois de seu reinado chamaram Israel “a terra da casa de Onri”. Porém, o historiador inspirado dedica somente oito versiculos a Onri, enquanto dedica quase seis capitulos a seu filho Acabe, um rei de pouca importancia histérica. Por qué? As ligdes morais da vida de Acabe e 0 espetacular profeta Elias tinham mais significado para 0 escritor que todos os brilhantes sucessos milita- res de Onri. O conceito do pacto entre Jeova e Israel forma a base da mensagem profética. Israel ligou-se a Jeovd mediante a alianga do Sinai, e como era seu povo, devia-lhe absoluta lealdade. Devido a eleigdo feita por Deus, seu governo, sua onipoténcia, graca e zelo consumidor, os israelitas haviam de obedecé-lo com total submis- sao. Deus tinha dado ao seu povo a terra de Canad, mas nao como um presente incondicional. A grande profecia de Deuterondmio 28 ensina que se osisraelitas nao servissem fielmente a Deus, Deus os tiraria de Canaa. Portanto, os profetas e em seguida os histori- adores inspirados, insistiam em um tema principal: A FIDELIDA- DE A JEOVA E PORTADORA DE BENCAO, ENQUANTO QUE A INFIDELIDADE PRODUZ CONSEQUENCIAS FUNESTAS. Os livros histéricos registram como se cumpriu ao pé da letra a mensagem profética. Os repetidos fracassos de Israel narrados nesses livros demonstram claramente quao impossivel era a lei por si s6 efetuar‘a verdadeira salvagao. Necessitava-se de um Redentor Divino. 3. A terra da Palestina. Por que a Palestina é tao importante? Ali nao se desenvolveu nenhuma civilizagao brilhante, tampouco ela teve poderio militar. Sua importancia se apéia principalmente no fato de que foi o cendrio da revelacao de Deus. Desde a chamada de Abraao em diante, a histéria biblica se desenvolve em sua Introdugéo Geral aos Livros Histéricos 15 maior parte na terra da Palestina. Ali viveu a maioria dos escrito- res inspirados que escreveram a Biblia; ali, a monarquia hebraica veio a sero modelo do reino futuro, e as muitas quedas da nagéo c seus subseqiientes castigos mostram a santidade e a justiga de Deus; ali as intervencGes divinas nas crises espantosas de Israel revelam a fidelidade de Jeova e o seu incansével empenho em preparar um povo para receber 0 seu Filho; e ali o Verbo eterno nasceu, ministrou, foi crucificado e ressuscitou dentre os mortos. Portanto, a Palestina é um territério incomparavelmente sagrado c¢ importante. Onome Palestina provém do grego, e significa Filistia, “a terra dos filisteus”. Chama-se também Canad porque seu povo original era descendente de Canaa, neto de Noé. Situada entre a antiga civilizagao do Epito ¢ as grandes civilizagses da Mesopotamia, a Palestina forma uma ponte natural entre a Asia, a Africa e a [uropa; uma ponte com o deserto por um lado e o mar Mediter- rinco pelo outro. Portanto, ela tem sido o caminho do comércio e a rota dos invasores que entraram por seus extremos norte ou sul. Hicava sujeita,em regra geral, aos paises mais fortes. Porém,nessa siluagao se destaca 0 designio divino de colocar o povo hebreuem um centro geografico onde ele pudesse exercer a maior influéncia rcligiosa possivel no mundo antigo. A Palestina é um pais muito pequeno. Estende-se somente por uns duzentos e quarenta quilémetros desde Da até Berseba, os pontos extremos norte e sul tespectivamente. Na sua largura, desde Gaza até o mar Morto, mede uns noventa quil6metros e se estreita até uns quarenta.e cinco quilémetros na altura do mar da Galiléia. Sua area 6 de uns vinte ¢ scis mil quilémetros quadrados, menor do que o menor estado brasilciro, Sergipe. A Palestina pode ser dividida lopograficamente em quatro BEKOES, AS quais se estendem como faixas paralelas tragadas de norte asuk a planicie maritima, a cordilheira central, o vale do Jordao © 6 alliplano oriental. u. A planicic maritima: E 0 territorio que se estende ao longo da costa mediterranea. Tem o aspecto de uma faixa estreita no norte que vai estreitando-se até o sul. Devido ao fato de ao sul da Henicia nao existirem portos naturais, os barcos de comércio se dirigiam a Tiro e a Sidom, no norte. Os hebreus dedicavam-se a 16 OS LIVROS HISTORICOS agricultura melhor que ao comércio maritimo; consideravam ° mar como simbolo de intranqjiilidade e violéncia (Isafas 17:12,13). A planicie maritima, em sua generalidade, é terra ondulante e muito produtiva. Ao sul da planicie da Fenicia encontra-se a planicie de Acre ou Aco. Estende-se desde a Escada de Tiro, promontério situado ao sul de tiro, até as bordas das colinas do monte Carmelo. O largo vale de Esdrelon (GJezreel) penetra esta area ao norte das colinas do monte Carmelo.Em seguida, ao suldo monte, esta a planicie de Sarom. Esta planicie se estende uns 80 quilémetros até o sul e alcanga uma largura maxima de 18 quilé- metros. Por ser pantanosa e de espessos bosques, formava uma barreira protetora contra a Filistia e a Fenicia. A planicie da Filistia comega a uns oito quilémetros ao norte de Jope e se estende 113 quilémetros ao sul. Era uma terra densamente povoada pelos filisteus, inimigos terriveis dos israe- litas. Dé-se o nome de “A Sefela” & comarca formada pelas colinas baixas entre a planicie maritima e a cordilheira central. Encontra- vam-se ali cidades fortificadas como Laquis, Debir, Libna e Bete- Semes (Cf. 1 Sm 6:13.) Era o histérico setor em disputa entre filisteus e hebreus, até que o rei Davi venceu decisivamente aqueles. b. A cordilheira central: Constitui-se na coluna vertebral da Palestina e situa-se entre a planicie maritima e 0 vale do Jordao. E a continuagao do Libano e se estende para o sul até o deserto do Negueve. A cordilheira central 6 0 setor mais importante da Palestina. Diz o escritor evangélico C. O. Gillis: Entre as montanhas a vida do povo israelita se desenvolveu através dos séculos... Uma vida sadia pelo clima saudavel e 0 trabalho arduo. Estas montanhas davam amparo ao povo, em €pocas de perigo, protegendo-o dos inimigos que com tanta freqiiéncia passavam pelo pais.? As trés regides mais importantes da cordilheira central sao: Galiléia, Samaria e Judéia. Tem uma elevacao que varia de 610 até 2.200 metros sobre o nivel do mar. Existem vistas panoramicas das cadeias montanhosas da Palestina, raramente igualadas pela sua magnificéncia. O fértil vale de Jezreel ou Esdrelom serve de separacdo entre as colinas da Galiléia e as de Samaria. Forma uma planicie que se estende por 64 quilémetros até o Jordao e se divide em dois vales Infrodugao Geral aos Livros Histéricos 7 ALSYOGNS OC VISIA ONV@IT-LLNY VWNILSATVd 18 OS LIVROS HISTORICOS que chegam até o Jordao. No lado ocidental do vale de Jezreel encontra-se a famosa colina de Megido, que domina a passagem que conduz a planicie de Sarom. Tinha grande importancia estra- tégica para os invasores, e foi o cenario de mais de vinte batalhas decisivas, como por exemplo, aquela em que Baraque derrotou a Sisera ou aquela em que foi morto Josias. Ali ter lugar tambéma ultima batalha da histéria, a de Armagedom (Apocalipse 16:16). A zona de Samaria se localiza no centro geografico da Pales- tina. A regido que se estende para o sudeste até Betel, esta cheia de recéncavos, de colinas e vales. As ladeiras sao ideais para a agricultura e o pastoreio. E famosa por suas uvas, azeite e figos.O terreno quebrado permitia também que cada aldeia se tornasse uma fortaleza, pois ali havia pedras em abundAncia para a cons- trugdo de suas defesas amuralhadas? A terceira regido da cordilheira central é a extensdo meridio- nal da Judéia. Estende-se desde Betel até Berseba, e em seguida as colinas se transformam nas planicies ondulantes do deserto do Negueve. As montanhas formam barreiras para as chuvas, extra- indo a umidade das brisas mediterraneas. Como conseqiiéncia disto, as colinas do lado oriental tornam-se muito dridas e quase desprovidas de vegetagéo. Nas quebradas escabrosas daquelas regides desérticas, o fugitivo Davi encontrou reftigio quando Saul 0 perseguia. c. Ovale doJordao: Ba grande falha geolégica que se estende desde as cordilheiras do Libano e Antilibano, até o deserto de Araba. Tecnicamente falando, 0 vale do Jordao é sé aquela parte da falha que se encontra entre o mar da Galiléia e o mar Salgado ou mar Morto. A superficie deste vale afundou até formar a depressao mais profunda do mundo. Nessa regiao faz um calor intenso e a vegetacao depende principalmente da umidade do rio. Ovale do Jordao tem uma largura de seis quilémetros ao nivel do mar da Galiléia, e se dilata até onze quilémetros a altura de Betsam, e até quase 23 quildmetros a altura de Jericé. Seu solo “é entrecortado de riscos de argila cinzenta, e véem-se nele inumera- veis figuras de forma fantastica, que imprimem aquele lugar um ar um tanto triste e desolador.”* O nome do rio Jordao é muito apropriado. Significa “o que desce”. Suas trés fontes se encontram nas proximidades do monte ‘B0% . SEQUEL SPELL Introducio Geral aos Livros Hist6ricos “a 898 + mira9p O10} W ° tes] m a > ° o ° zZ Q 3 9 a n G > 4 a Ra tH 4 om a > JNSAG OG TVNIGOLISNO1 ALIOD ovauol or8 O AND THA 19 20 OS LIVROS HISTORICOS Hermom, cujo pico mais alto alcanca a altura de 2.760 metros; forma primeiramente um lamagal, “Aguas de Merom”; em segui- da desemboca no mar da Galiléia (lago de Genesaré), a 208 metros sob onivel do mar; depoissegue para 0 sul cominumeréveis voltas por um profundo vale cercado por colinas abruptas, entre mar- gens cobertas de espesso matagal e arvoredos. Diz o escritor evangélico Samuel Schultz: “O vale do Jordao representa uma das mais fascinantes regides do mundo.”® O Jordao desemboca no mar Vermelho, a 393 metros abaixo do nivel do mar. A profundidade deste mar alcanga 400 metros. Tem uma longitude de 76 quilémetros e sua maior largura nao ultrapassa os 16 quilémetros. Nao tem saida, e suas 4guas contém 26% de minerais, em contraste com o Atlantico, que s6 tem 6%; conseqtientemente, nao existe vida naquele mar. As aguas da parte sul do mar cobrem a area onde estavam as destruidas cidades de Sodoma e Gomorra. d. A altiplano oriental ou Transjordania: £ uma extensao do Antilfbano, mas em seu conjunto as montanhas da Transjordania s&o mais uniformes, com mais inclinagdes e com maior elevacao que as da Palestina ocidental. A fronteira oriental necessita de defesas naturais, e por isso os israelitas que ocupavam a zona sofriamnormalmente as incursées das tribos némades do deserto. Mesmo que 0 solo nao seja ideal para a agricultura, apresenta-se admiravelmente favoravel para a criacéo de rebanhos, tanto 0 bovino como 0 lanigero. Basa encontra-se na zona norte, onde estava o reino de Ogue de Basa (Deuteronémio 3:4). Ao sul de Basa estd a zona de Gileade, a maior das mesetas orientais. Em Gileade encontravam-se 0 arroio Querite, onde se escondeu o profeta Elias, e 0 rio Jaboque, onde Jacé lutou com um anjo do Senhor. Os bosques de Gileade produziam balsamo e gomas aromaticas (Jeremias 8:22). Viajando desde onorte parao sule desde o ocidente parao oriente, o terreno vai se tornando progressivamente arido. Oantigo territ6rio de Amom encontra-se na regiao localizada entre o nordeste do mar Morto e 0 ponto onde 0 rio Jaboque alcanga sua maxima profundidade. Em Amomesta 0 monte Nebo, onde Moisés péde ver a Terra Prometida antes de morrer. Ao sul de Amomesta Moabe, uma sinuosa meseta de pedracalcdria entre Introducio Geral aos Livros Histéricos 21 os rios Amom e Zared. As planicies de Moabe que se encontram entre os estreitos caminhos que atravessam o pais, costumam ser allimente produtivas, mas hoje em dia estéo quase totalmente desobidas. Nao obstante o pequeno tamanho da Palestina, 0 clima apre- senta muita varicdade nas distintas partes do pais. Isto se deve em ‘ande parte a acidentada geografia e as diferengas de alturas. Em 1 geral, o clima é subtropical, benigno e saudavel, exceto em. certas Zonas como o vale do Jordao, onde faz um calor sufocante, ou-aserra setentrional, onde se encontra o monte Hermom, cujo pico esti coberto por uma camada de neves eternas. O més mais quente & agosto ¢ 0 mais frio é janeiro. Os hebreus dividiam o ano em duas estagdes: a de chuva e a dle nec A epoca da chuva comega em principio de novembro e dinate meadosde abril A precipitagao forte de um ou varios dias que maupura oO ano agricola @ prepara o solo para o lavradio, recebe o nome de “chuva tempora”. As chuvas intermitentes que caem no final de margo e nas primeiras semanas de abril, sao denominadas de “chuvas tardias ou serédia.” Sao propicias para amacurecer 0 rao (veja Joel 2:23). Durante o verao, ou estacaéo seed, pralicamente nao chove. E a época das colheitas se caracte- tiza pelos dias quentes e as noites de abundante orvalho. Na treyiao do mar Morto chove muito pouco, mas ha uma intensa evaporagio maritima como conseqiiéncia do calor. De noite cai tm copioso orvalho que conserva a vegetacao. Outras vezes na primavera, sopra o “siroco”, um temivel ventocaloroso edestrutivo «que proveém dos desertos situados a sudeste da Palestina (Jeremias 1:11). Este vento prejudica a vegetagao e ocasiona um estado de languidez entre homens ¢ animais. Perguntas Introdugao geral | 4) Quanto tempo abrangem os livros histéricos? b) Comegam com (um acontecimento) e termi- nam com (outro acontecimento). 2. Indique a principal raz4o pela qual os livros histéricos tém importancia. 22 OS LIVROS HISTORICOS 3. a) Quem é 0 principal protagonista dos livros histéricos? b) Mencione as grandes obras deste protagonista descritas nesses livros. 4. a) Porque os hebreus deram o nome de “profetas anteriores” a varios dos livros histéricos? (Dé duas razées.) b) Qual foi a base da mensagem profética? c) Faga uma comparacao entre a base da relagao dos israelitas com Jeova ea base da relagao do crente atual com Ele. (Veja 1 Corintios 6:19, 20.) 5. a) Qual é 0 tema dos livros histéricos? b) Em que livro e capitulo da Biblia se apresenta detalhadamente o tema? c) Qual é a licdo dos repetidos fracassos de Israel? d) Que aplicacao pratica para a vida didria vocé extrai desta ligao? (Veja Joao 15:5; Filipenses 4:13.) 6. a) Canaa é importante porque foi 0 cendrio de Originalmente se chamava Palestina porque era a terra dos. b) Observe a localizacao da Palestina entre as grandes civili- zagoes. Que ligao pratica vocé vé nessa situagdo, e 0 que essa licéo tem a ver com 0 crente? (Veja Mateus 5:14-16; 1 Tessalonicenses 1:8.) 7. a) Mencione as quatro regides importantes da Palestina e localize-as no mapa. b) Qual a foi a regiao mais importante da histéria de Israel? Citagées da Introdugao geral 1. John Taylor, “Os livros histéricos, introdugéo” em Manual Biblico Ilustrado, David Alexander e Pat Alexander (redato- res), 1976, p. 204 2.C. O. Gillis, Histéria e Literatura da Biblia, tomo 2, 1956, pp. 19,20. 3. James Houston, “A Biblia em seu meio ambiente” no Manual Biblico Ilustrado, op. cit., p.18. 4. Netta Kemp de Money, A Geografia Histérica do Mundo Biblico, 1968, p. 36. 5. Samuel J. Schultz, Fala o Antigo Testamento, 1976, p.28. 6. Money, op. cit., pp. 45, 46. tif? MB A Conauista DE CANAA ; c JOSUE ~ Introduc4o ao livro de Josué 1. Titulo e protagonista. O livro de Josué recebe seu nome do grande general Josué, nado porque ele seja considerado o autor de todo o livro, mas sim porque cle figura como personagem princi- pal Seu nome significa “Joova 6 salvagao” ou “Jeova salva”, e sua forma prega e “Jesus”. No Pentateuco ele se apresenta como 0 ajuclante de Moisés (Exodo 33:11), e seu assistente na guerra de Refidim contra Amaleque (Exodo 17:9). Ali ele demonstrou sua destreza como comandante militar derrotando aquela tribo aguer- ricla de salteadores. um homem de grande fé, firmeza de carater e corajoso, pois junto com Calebe deu uma boa informacao sobre Canad hascado no que havia visto como espiao. Diante da oposigao dos outros dez espides, confirmou que mediante a ajuda de Deus os israclitas seriam capazes de conquistar a terra (Numeros 14:6-9). Esteve sempre unido a Moisés na lideranga do seu povo. Nao é de sv estranhar que tenha sido eleito para suceder Moisés como lider dos hebreus (Nimeros 27:15-23). Mesmo que tenha sido um homem de grande qualidades naturais, por preparacao e por experiéncia, sua suprema qualidade consistiu em ser “homem em «que ha o Espirito” (Numeros 27:18), ou seja, um homem investido do Espirito Santo. Por ser um dos sobreviventes do éxodo do Egito, Josué era ja um homem ancido quando invadiu Canad. Havia presenciado as pragas do Egito, a travessia do mar Vermelho, os grandes milagres de Deus e as falhas de Israel no deserto. Conhecia tanto 0 poder divino como as fraquezas humanas. Como Moisés, ele gozava também da comunhaéo com Deus (Josué 1:1-9; 5:13-15). Porém, nao pode ser comparado com o 24 OS LIVROS HISTORICOS grande libertador. Mais que um pensador, era um homem deagao. Sua tarefa nao foi legislar, receber revelagées sublimes nem desen- volver conceitos morais e teolégicos. Era muito mais um homem pratico, um soldado fiel que tinha um s6 trabalho, o de conquistar Cana erepartir as terras entre as tribos. Observa C. O. Gillis: “Nao se pode imaginar uma conquista de Canad sem Josué. Nenhum outro poderia té-la realizado.” 2. Autor e data. Os eruditos liberais consideram que o livro de Josué é um prolongamento do Pentateuco; assim se formaria o “Hexateuco”, ou seja, uma unidade literdria formada por seis livros. Tem-se buscado a continuacao dos supostos quatro “docu- mentos” ou “fontes” do Pentateuco, no livro de Josué. Segundo a idéia da alta critica, Josué seria uma recopilagio das tradicdes tribais, redigidas provavelmente durante 0 cativeiro babilénico (598-538 a.C.). No final do século V um redator teria revisado e lhe teria acrescentado a introdugdo e a conclusao (capitulo 1, 23 e 24). Os eruditos conservadores ndo véem nenhuma razado para apontar uma data tardia 4 obra, e chamam atencao para 0 fato de que a magnifica unidade do livro faz com que n4o se torne digna de crédito a teoria de que é uma recopilac&o de documentos antigos. Até mesmo uma autoridade liberal, E. M. Good, admite: “Os eruditos que pressupdem a existéncia de documentos pentatéuticos em Josué acham dificil explicar a auséncia destes.”? Os escritores da Biblia de Jerusalém comentam: “Essa ‘teoria *A alta critica € a ciéncia que tenta descobrir a data dos livros da Biblia, seu autor, seu propésito esuas caracteristicas de estilo e linguagem. Tenta determinar as fontes originé- rias dos documentos biblicos. Pergunta-se: Sao dignas de confianga? Qual é o fundo histdrico de cada livro? Os criticos alemaes do século XIV estudaram a Biblia tomando como base algumas suposicées, tais como que a Biblia nao é um livro inspirado e sim um livro como outro qualquer, e que a religiao dos hebreus tinha se evoluido. Rejeitavam totalmente todo elemento sobrenatural da Biblia. Os eruditos da alta critica afirmam que o Pentateuco nao pode ser obra de Moisés. Eles tém proposto uma teoria para explicar a variedade de tracos estilisticos ou dados teoldgicos € histéricos do Pentateuco. Segundo eles, o Pentateuco seria uma recopilacao de quatro documentos principais com data posteriores a Moisés: J (Jeovista, c. de 850 a.C.), E (Eloista, c. 750 a.C.), D. (Deuteronomista, c. de 621 a. C.) e P (Sacerdotal, c. 500-450 a. C.). Os documentos, com excecao do “D”, correriam paralelamente através dos primeiros quatro livros do Pentateuco. A obra final teria sido redigida no séculy V a.C., provavelmen- te por Esdras. Esta teoria é chamada “teoria documentéria J. E. D.P, F” Nega a veracidade de muitas partes do Pentateuco e nao deixa lugar para a inspiracao divina da Biblia. (Cf. Paul Hoff, “A alta critica”, em O Pentateuco, 1978, pp. 263-266.) A Conquista de Canaa 25 documental’, suspeita ja para o Pentateuco, parece inaplicavel aos livros que seguem’” (“Introdugio aos livros de Josué, Juizes, Rute, Samuel e Reis”). A tradigao judaica dda Josué a paternidade literaria da maior parte do livro. Mas em sua forma atual, 0 livro nao pode ter sido escrito totalmente por Josué, jé que ele registra sua morte e outros acontecimentos que nao se realizaram sendo depois de ele sair do cendrio histérico. Entre estes esta a conquista de Hebrom por Calebe, de Debir por Otniel e de Lessem (Lais) pelos danitas (veja Josué 15:13 e Juizes 1:10,20; Josué 15:15-19 e Juizes 1:11-15; Josué 19:47 e Juizes 17, 18). Em contrapartida, é evidente que 0 autor 0 escreveu antes da conquista de Jerusalém por Davi (Josué 15:63) e de Gezer pelo Faraé, sogro de Salomo (Josué 16:10; 1 Reis9:16,17). Existem evidéncias de que o autor era contemporaneo dos acontecimentos escritos, porque algumas partes do livro parecem ser obra de uma testemunha presente. Em alguns manuscritos hebraicos, o autor fafa na primeira pessoa do plural, “nds” (5:2). Também apresenta detalhes muito especificos, tais como os da travessia do Jord&o e os das descrigées dos capitulos 7 e 8. Em 15:4 opronome “vés” sugere um escrito autobiografico. Tambémo uso muito freqiiente da expresséo “até hoje” e 0 contexto no qual ocorre, insinua que foi escrito muito préximo da época de Josué. Além do mais, parece que Raabe ainda vivia (6:25). Em mais de uma ocasiao, Josué escreveu no livro de Deus (18:9; 24:26). Uma autoridade biblica comenta: “Mesmo quando o autor nao é 0 proprio Josué, ele contribuiu sem davida em grande maneira para ocontetido total.”*E possivel que Josué tenha escrito certos relatos do livro e que outra pessoa, como Finéias 0 sacerdote (24:33), acrescentou detalhes e lhe deu sua apresentagao final. Apesar das evidéncias internas de que 0 livro de Josué foi escrito no préprio periodo do conquistador, ou um pouco depois, certos eruditos da alta critica levantam uma questao de julgamen- lo para a historia do livro. Eles asseguram que a narracao do livro dos Juizes indica que a conquista de Canad nao foi tao rapida como a descreve o livro de Josué, e sim que foi uma ocupagcao gradativa. Porém, a arqueologia comprova autenticidade do relato de Josué: as escavacoes feitas em Betel, Laquis, Debir e Hazor tém apresen- tado evidéncias de violentas lutas datadas um pouco depois de 26 OS LIVROS HISTORICOS meados do século XIII a.C., a época considerada por muitos estudiosos como a da conquista hebraica. “As grossas camadas de cinzas falam de uma devastacao total, eas localizagdes das cidades escavadas no centro, no sul e no norte do pais, confirmam o relato biblico das lutas de Josué, que foram particularmente ferozes nestas zonas.”* 3. Fundo historico. O povo da Palestina nao estava organizado em fortes nagées. Na época de Josué, formavam umconglomerado de pequenas cidades-estados (pequenos reinos ao redor de suas cidades fortificadas), que normalmente lutavam entre si. Quando os exércitos dos grandes impérios marchavam sobre a Palestina, estas cidades-estados com freqiiéncia evitavam a guerra pagando tributo aos invasores. O Faraé do Egito era o senhor de Canaa, do Libano e de Damasco. Também 0 Faraé Amenofis III (1410-1372 a.C.) perdeu o interesse em seus tributarios na Asia, ea maioria dos pequenos reinos da Palestina e da Siria deixou de pagar tributo. A influéncia do Egito sobre Canaa havia minguado. As cidades-estados de Canad foram acoitadas pelas invasdes dos habiru, termo que as vezes designava tropas mercendrias provenientes da Siria. As famosas cartas do Tel-el-Amarna (cida- de dos Farads Amenofis IV e Aquenatom) trazem luz sobre a situacdo. Foram escritas pelos senhores vassalos de Cana&, que pediam urgentemente que o Egito enviasse tropas para protegé- los dos habiru (1400-1360 a.C.). Mas 0 Egito prestou pouca atencao a esses pedidos. Abandonados pelo Egito, enfraquecidos pelas continuas guerras internas, e acoitados pelos invasores, os estados cananeus estavam em condigGes ideais para ser conquistados pelos hebreus. Ha diferenga de opiniao entre os estudiosos quanto a data da invasao dos hebreus. Em 1 Reis 6:1 parece se estabelecer que 0 ano quatro do reinado de Salomao (960 a.C.) coincidiu com 0 ano 480 depois de os filhos de Israel terem saido do Egito. Isto fixa as datas por volta de 1440 a.C. para 0 éxodo, e por volta de 1400 a.C. para a conquista. Os arquedlogos, porém, datam na segunda metade do século XIII a destruic&o por fogo das cidades cananéias, Laquis, Debir, Betel e Azor. Assinalam também que as conhecidas cidades de armazenagem, Pitome Ramessés Cf. Ex. 1:11 que foram edificadas A Conquista de Canaai 27 gracas aos trabalhos forgados dos escravos israelitas (Exodo 1:11), sao de data posterior ao século XV a.C. A cidade de Ramessés foi construida por Sete I (por volta de 1302-1290 a.C.) e Ramsés II (por volta de 1290-1224 a.C.) Uma dessas cidades, Ramessés, recebeu seu nome deste Farad. Como se poderia entao conciliar estas evidéncias aparente- ménte contraditorias? Alguns estudiosos tém sugerido que em alguma etapa tenha se escrito “480 anos” para indicar “doze geracdes”, pois 40 anos era a duragaéo convencional de uma geracao.* Por exemplo, Israel esteve quarenta anos no deserto até que a geracao que saiu do Egito morreu. Parece também que se fala de quarenta anos para indicar que as magistraturas dos juizes Otoniel, Baraque e Gidedo duraram uma geracao. Porém, quando o historiador soma varias geragGes, uma parte de cada geracao é fundida coma seguinte, resultando ent&éo que uma geragao repre- sentaria algo em torno de vinte e cinco anos (desde o nascimento do pai até o nascimento do filho). Se é assim, as doze geragdes de 1 Reis 6:1 dariam um periodo de 1300 anos para o lapso compre- endido entre a conquista de Canad e 0 reinado de Salomao, e a conquista teria ocorrido no século XIII a.C.5 Mesmo que a arqueologia nao seja inspirada nem infalivel, n&o poderemos ignoré-la. Seja qual for a data da invasao de Canaa, sabemos que 0s israelitas j4 estavam em Canai em fins do século XII, porque um monumento de vitéria erigido pelo Faraé Mernepath I naquela data menciona uma batalha entre os judeus e os hebreus em Canaa. 4. Religiaio dos cananeus. Os cananeus eram politeistas. Rendi- am culto a “El”, criador e principal divindade que se chamava também “o pai touro”, e a Asera (Astarte), sua esposa. Entre seus muitos filhos, Baal (Senhor) era o mais importante. Dizia-se que reinava na terra e no céu, era 0 deus das tormentas e das chuvas, e dava fertilidadea terra e vida a vegetacdo. Cada povo tinha oseu proprio baal e os altares eram construidos, geralmente, sobre lugares altos. *Os eruditos da alta critica acusam 0s historiadores inspirados de haver narrado os detalhes com pouca exatidao em casos de idiomatismos, préprios dos antigos, queempregavam esses modos nosrelacionamentosentre homens daquele tempo. Se conhecéssemos todos osmodos de expressao dos antigos, poderiamos resolver muitas dificuldades das Sagradas Escrituras. 28 OS LIVROS HISTORICOS O culto consistia em ritos cheios de lascivia, pois os cananeus criam que a fertilidade da terra e dos animais, as chuvas e 0 cresci- mento da vegetacaéo dependia das relagées sexuais dos deuses. Deste modo os adoradores praticavam indiscriminadamente o sexo nos cultos para assegurar a fertilidade e a produtividade da terra. Também praticavam a adivinhacao, adoravam serpentes e sacrificavam criangas. Os pecados contra a natureza eram tao co- muns (confronte Levitico 18; Deuteron6émio 12:31), que o Senhor disse que a “terra vomitou os seus moradores” (Levitico 18:25). 5. O problema do aniquilamento dos cananeus. Jeova mandou que os cananeus fossem destruidos completamente (Nimeros 33:51- 56: Deuterondémio 7:1-5,16). Muitas pessoas perguntam: Como um Deus de amor pode ser tao cruel? Como se pode justificar esta ordem de Deus? Temos que considerar trés aspectos que levaram a esta ordem. a. Foi o castigo divino sobre os cananeus. Haviam chegado ao cume de sua impiedade, maldade e imoralidade (Génesis 15:16; Levitico 18; Deuteronémio 9:4). Deus empregou os israelitas como instrumento de castigo contra a imoralidade dos cananeus. Ele poderia ter utilizado outros métodos para destrui-los, tais como terremotos, inundacées ou pragas, mas escolheu Israel para reali- zar seu castigo. b. Deus ordenou a exterminagao dos cananeus para proteger 0 povo escolhido da contaminagao de uma religiao depravada (Deuterondmio 7:4; 20:16-18). A histéria seguinte de Israel de- monstra quaéo propensos eram os hebreus em cair na idolatria sexual dos cananeus. A redencao do mundo dependia da preser- vacao e da perseveranga da fé pura. Era necessario extirpar 0 cAncer para salvar 0 corpo. Todo vestigio que ficou dos cananeus na Palestina contaminou terrivelmente os israelitas que ocuparam a terra. O célebre arquedlogo William“ F. Albright afirma: Foi afortunado para o futuro do monoteismo, que os israelitas se tornassem gente feroz, cheia de energia primitiva... O fato dos cananeus terem sido dizimados impediu a fusdo completa dos povos, algo que poderia ter rebaixado inevitavelmente os valo- res do Senhor a ponto de ser impossivel restauré-los. c. Tinha também 0 propésito de gravar na mente dos israelitas A Conquista de Canaai 29 conseqiiéncias funestas da impureza (Levitico 18:27-30). Se o Senhor destruisse os cananeus por sua maldade, também castiga- ria Os israelitas quando por sua vez eles caissem em iniqtiidade. A histéria posterior dos hebreus confirma que nao foi uma advertén- cia va. . 6. Os propésitos. Sdo trés os propésitos pelos quais o livro foi escrito. a. Relatar a conquista de Canad e 0 estabelecimento das tribos nela. b. Demonstrar a fidelidade de Deus em cumprir as promessas que havia feito aos patriarcas de que levaria Israel para a Terra Prometida ea entregaria em suas maos (21:43-45; Génesis 15:7, 18- 21; 26:2-5; 28:13,14). c. Mostrar a santidade de Deus em seu julgamento sobre os depravados cananeus e na exigéncia divina de que os israelitas se despojassem de toda coisa proibida a fim de ganhar a guerra santa. 7. Tema. ACONQUISTA DECANAA E OESTABELECIMEN- TO DE ISRAEL NELA. 8. Esbogo: I. Aconquista da Terra Prometida (1-12) A. Preparativos (1-5) B. Guerras (6-12) IL. Partilha de Canaa (13-21) Ill. Fim da lideranga de Josué (22-24) 9. Alegoria espiritual. O Exodo apresenta a salvagéo como a libertacao da escravatura; 0 livro de Josué representa muito mais: indica a vitéria, posse e repouso (1:13; 21:43, 44). O repouso previsto por Deus em Cana torna-se um simbolo profético do repouso do crente em Cristo (Hebreus 4:1, 8, 9). A piedade crista considera que 0 livro de Josué éa epistola aos Efésios do Antigo Testamento. Diz uma nota da Biblia anotada de Scofield: “Os lugares celestiais de Efésios sao para o cristao 0 que Cana era para os israelitas: um lugar de conflito — e portanto nao um tipo do céu — mas, ao mesmo tempo, em lugar de vitéria e béngao por meio do poder divino (Josué 21:43-45; Efésios 1:3).” Tem-se visto em Josué um simbolo de Cristo, nao somente por seu nome, mas sim também pelo que ele realizou. Assim como Moisés nao péde introduzir os israelitas na Terra Prometida, tao 30 OS LIVROS HISTORICOS pouco a Lei poderia conduzir o crente ao repouso de Deus. S6 Jesus, nosso grande Josué, nos leva a essa Terra e nos reparte a heranga. Pode-se aplicar espiritualmente a Jesus as promessas feitas a Josué: “Ninguém te poderé resistir... tu faras a este povo herdar a terra que jurei a seus pais que lhes daria” (1:5, 6). Como toda terra de Canaa foi colocada nas maos de Josué para que as repartisse entre as tribos, assim todas as béncaos estao nas maos de Cristo para que ele reparta entre os seus. Mas havia um rio turbulento que cruzar, cujas 4guas simboli- zam condenagio, julgamento e morte. Como Josué, Jesus partiu as Aguas para nos conduzir 4 outra margem por uma senda seca. Com Cristo estamos mortos, sepultados e ressuscitados espiritu- almente (Romanos 6:3,4). Como as hostes do inimigo se opunham. a tomada da Terra Prometida, assim o crente luta “contra hostes espirituais da maldade nas regides celestes” (Efésios 6:12). Mas a vit6ria é certa, pois 0 inimigo ja esta derrotado, eo que nos fica por fazer é entrar e tomar posse da terra. Perguntas Introducao ao livro de Josué 1. Responda colocando “verdadeiro” ou “falso”: a) Chama-se “Josué” o primeiro dos livros histéri- cos porque Josué 0 escreveu. b) Josué tinha grandes talentos além de sua capaci- dade militar. c) As cartas de Tel-el-Amarna indicam que os israelitas estavamna Palestina no século XVa.C. d) Osestudiosos piedosos véema entrada em Canaa como um simbolo da entrada no céu. 2. a) Conformeseu parecer, que caracteristicas de Josué 0 torna- ram o homem ideal para ser o general de Israel na invasao? b) Que trago é mais importante hoje em um lider espiritual? 3. Indique algumas evidéncias de que o livro de Josué foi escrito pouco tempo depois da época de Josué. 4. Mencione trés fatores providenciais que debilitaram os cananeus num periodo imediatamente anterior a invasao dos israelitas. A Conquista de Canad 31 wa Segundo os descobrimentos da arqueologia, parece que era o Farad do éxodo, e a invaséo de Canaa ocorreu no século . 6, a) Porque Deus mandou que os cananeus fossem extermina- dos? _ b) Emsua opiniao, é justificavel realizar agdes militares hoje em dia para se extirpar heresias? (veja Mateus 13:24-30; 36- 43). 7. Aprenda de meméria o tema de Josué e os propésitos pelos quais 0 livro foi escrito. 8. Segundo a alegoria que muitos estudiosos véem no livro de Josué, este se assemelha a epistolaaos_____—=—— Canada I. A conquista da Terra Prometida (Capitulos 1-12) A, Preparativos (Josué 1-5) 1. Josué é comissionado (Josué 1:1-9). A morte de Moisés marcou © fim da época da fermagao da vida nacional de Israel. Como profeta de Deus e lider dos hebreus, Moisés havia tido a respon- sabilidade de dirigir 0 éxodo, de estabelecer as instituig6es religi- osas e de guiar 0 seu povo durante os longos anos de prova no deserto. Morreu antes de Israel entrar na Terra Prometida. Mas os planos de Deusnfo fracassaram, pois nenhum homem éindispen- savel, Deus comissionou a Josué para prosseguir com a nova fase de seu plano, a conquista e a ocupagao de Canaa. Mesmo que os israelitas tivessem que lutar para ocupar a Palestina, o territdrio foi um presente de Deus, uma heranga dada ao seu povo. Compreendia a regiao que vai desde o deserto do sul até a cordilheira do Libano, no norte, e desde o rio Eufrates até o mar Mediterraneo. Ou seja, incluia 0 norte da Siria. Os limites assinalados ao territério que se havia de conquistar sobrepujavam em muito os que se repartiriam nos capitulos 13-19. A promessa de Deus fracassou? Nao, porque seu cumprimento dependia de Israel atuar por fé. Jeova lhe entregaria “todo lugar que pisasse a planta do vosso pé”..Da mesma forma que os israelitas, muitas 32 OS LIVROS HISTORICOS vezes nao nos apropriamos completamente das bén¢aos espiritu- ais de Cristo, por falta de fé ou falta de vontade. Josué teve a garantia do éxito de sua missao. Isto ocorreria sempre que tivesse 0 cuidado de seguir as instrucées do livro da lei que Ihes haviam sido dadas por Moisés, e fosse esforcado e valente. As geracées seguintes teriam que aprender o necessario que era meditar diariamente na Tord (a Lei), e fazer caso dos seus mandamentos para prosperar espiritual e materialmente. Haveria dias dificeis no futuro de Israel, mas Deus 0 acompanharia nas provas, se Israel fosse fiel. 2. Preparativos para entrar em Canad (Josué 1:10-3:13). Ao ser comissionado, Josué tomou medidas para invadir a Terra Prome- tida. a. Chamou imediatamente 0 povo para preparar-se a fim de cruzar 0 Jordao (1:10-18). O exército hebreu ja estava bem organi- zado e disciplinado; era uma forga combatente muito mais eficaz que a timida turba de escravos sem personalidade que havia saido do Egito quarenta anos atras. Deus havia levantado uma nova geracao de israelitas, instruidos nas leis divinas, acostumados com a dureza da vida desértica e experimentados na guerra. Os rubenitas, os gaditas e a meia tribo de Manassés, que se haviam estabelecido ao oriente do Jordao, responderam com presteza quando Josué lhes lembrou que deveriam combater junto com seus irmaos contra os cananeus. A unidade do exército e sua submiss4o voluntaria a lideranca de Josué destacou o seu bom animo e a expectacao de que seu capitao tinha sido investido pelo Espirito de Jeova (1:17; ver 1 Samuel 10:6; 11:6). Josué era um general muito habil; ele poderia ser comparado com Napoleao como grande estrategista militar.’ Ele nao invadiu a terra pelo sul como era de se esperar, pois no sul haviam cidades bem fortificadas; entrou pela parte central e capturou Jericé. Esta cidade tinha grande importancia estratégica, pois se localizava na entrada das passagens que levavam ao interior de Canad. Sua captura fez com que houvesse um ponto de apoiono centro do pais dividindo-o em duas partes. Em seguida, Josué conquistou as outras duas regiGes, a meridional ea setentrional separadamente, com campanhas bem desenvolvidas. b. Enviou espias a Jeric6 (2). Mais ou menos 38 anos atras, A Conquista de Canaa 33 VISTA PARCIAL DA CIDADE CANANEIA DE LAQUIS La a ty wy Wi vw . 34 OS LIVROS HISTORICOS Moisés havia enviado espias a Canad, em parte porque os israelitas nao estavam seguros de que a Palestina fosse um pais de abundan- cia como o senhor havia dito, nem de ser capazes de conquista-la (Deuteronémio 1:22,23). Agora, Josué enviava outros, nao porque lhe faltasse fé, mas sim porque queria conhecer tanto as defesas da cidade como o estado de Animo de seus habitantes. Os dois espias foram a casa de Raabe, uma prostituta, porque segundo a tradi¢ao era hospedeira e sua casa era um lugar onde um estranho poderia entrar sem levantar suspeitas, e escutar a conversa das pessoas. Esta casa também tinha a vantagem de estar localizada na superficie do muro, proporcionando assim um meio de escape. Provavelmente Deus guiou os passos dos espias, ja havia comegado a operar no coracao de Raabe. Elogia-se a Raabe no Novo Testamento (Hebreus 11:31; Tiago 2:25). A Biblia aprova as mentiras que ela disse para proteger os servos de Deus? Nao, o que aprova é a fé de Raabe, e nao sua mentira. Além do mais, ela nao tinha a luz que os israelitas tinham, pois ela vivia na densa escuridao de um povo idélatra e imoral. Porém, tinha um raio de luz. Compreendia que Jeova era o Deus verdadeiro, o “Deus em cima nos céus e embaixo na terra” (2:11). Os outros habitantes de Jericé haviam ouvido também as noticias das vitérias de Israel, mas seus temores somente os encheram de preocupacao. Por outro lado, Raabe estava disposta a confiar em Jeova, e resolveu, mesmo correndo 0 risco de perder a vida, que sua parte seria com Israel e seu Deus. Pediu misericérdia e demonstrou sua fé protegendo os espias. Apesar de sua racae de seu passado imoral, foi salva. Mais adiante Raabesecasoucomum hebreu chamado Salmom (Mateus 1:5), entrando assim na lista dos antepassados do grande rei Davie do préprio Messias. Figura no Novo Testamentocomo uma mulher que atuava por fé (Hebreus 11:31; Tiago 2:25). Que maravilha de graca! Mesmo que o cordao nao tenha sido um auténtico simbolo profético,* muitas pessoas devotas através dos séculos tém visto um paralelo entre ele e o sangue protetor de Jesus. E semelhante ao sinal colocado nos portais das casas israelitas. Deus viu o *Um ato, pessoa, ou instituigéo tem que ser mencionado no Novo Testamento para ser considerado como simbolo profético. A Conquista de Canad 35 sangue, passou por longe e todos os que estavam dentro foram salvos. Compara-se também a fé de Raabe com a do carcereiro de Vilipos: “Cré no Senhor Jesus Cristo e seras salvo, tue a tua casa” (Atos 16:31). A informag&o dos espias demonstrou a Josué que os habitan- tes de Jericé estavam aterrorizados e que Jeova ja havia entregue a cidade na mao deles. 3. A travessia do Jordao (Josué 3 e4). Por que Deus abriu 0 Jordao de uma maneira sobrenatural? Era primavera, e 0 rio havia cres- vido com o degelo da neve do monte Hermom; era um obstaculo tormidavel perante os hebreus. Os israelitas nao tinham embarca- ces, nem meio algum de cruzar as turbulentas Aguas. Porém, o autor inspirado nos da outras trés importantes raz6es para que Deus operasse um milagre. a. Para engrandecer a Josué perante os olhos dos israelitas e confirmar sua confianga e lealdade no novo lider (3:7). Conside- rando a magnitude da tarefa de Josué e os grandes perigos no caminho do exército hebreu, 0 lider necessitava de prestigio para exercer a autoridade sobre suas tropas. Deus informou a Josué antes de realizar o milagre, e o cumprimento do mesmo era a evidéncia de que Josué era um instrumento escolhido por Deus. Nota-se que Josué nao exaltou a si mesmo; foi Jeova quem o fez. b. Para desenvolver a fé dos hebreus e demonstrar que Deus expulsaria os cananeus da terra da promessa (3:10). c. Para semear o terror em seus inimigos e dar testemunho a todos os povos do poder e da fidelidade de Jeova (5:1; 4:23,24). Os israelitas tinham que dar dois passos para que 0 milagre se realizasse. Primeiro, deviam santificar-se (3:5). Mesmo que se santificassem externamente, isto era um simbolo da purificagao interior. E a melhor preparacao para se operar milagres. Em segundo lugar, na travessia do Jordao os israelitas foram yuiados pela arca, a qual foi levada pelos sacerdotes. A arca representa a presenca de Deus, e o fato de que este mével do taberndculo os tenha guiado ao atravessar 0 rio, simbolizava que © proprio Deus estava passando diante deles como o grande capitao da guerra santa. Até esta altura Israel havia sido guiada por uma nuvem e um coluna de fogo. Agora Jeova mudava de método. O povo deveria marchar quase um quilémetro atras da

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