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A LINGUA EM ESTADO GASOSO E. M. de Melo e Castro” Resumo uimaraes Rosa, numa carta a Jodo Condé publicada no Jornal de Letras e Artes de 21 de Julho de 1946 deixou esta sugestao: “Mas, ainda haveria mais, se possivel (sonhar é ficil, Joao Condé, realizar é que sio elas...): além dos estados liquidos € s6lidos, porque no tentar trabalhar a Iingua em estado gasoso?!” Nesta comunicagao tra ‘eriguar 0 que possa ser 0 estado gasoso da lingua quer sob 0 ponto de vista fisico quer sob o ponto de vista me- taférico. Sob 0 ponto de vista fisico devem ser considerados dois momentos: o da cigncia geralmente divulgada na época em que Guimaries Rosa fez essa sugestio, ¢ 0 da atual cigncia do Caos, tendo em consideragio os movi- mentos brownianos das moléculas descritos na teoria cinética dos gases. Sob o ponto de vista m terminologia interdisei- plinar, 3 luz dos referidos conceitos da ciéncia, pode contribuir para de- linear uma possivel concepgio linguistica que esteja de acordo com a pritica ¢ 0 uso criativo diferenciados da I{ngua portuguesa, nao sé no Brasil e em Portu; mbém nos paises africanos de lingua portu- guesa, configurando-se assim uma possivel teoria cinética da lingua. mbora nao seja especialista no estudo da obra de Guimaraes Rosa é, no en- tanto, como seu leitor as ticipar nesta reuniiio de profundos conhecedores dessa obra impar da lingua portuguesa. Mas a minha contribuigao nao incidira nem sobre a obra bre nenhum dos textos roseanos em particular. Limitar-me siduo desde os anos cinqiienta, que me trevo a par- em geral nem so- tentar entender ¢ interpretar uma pequena observacio de Guimaraes Rosa, feita por duas vezes, r. pectivamente em cartas a Jodo Condé e a seu tio Vicente Guimaraes, observagio e que logo despertou a minha atengio justamente pela sobrecarga de significados que a meus olhos desde logo tomou. Na carta a Joao Condé sobre a génese de Sagarana, publicada no Jornal de Letras ¢ Artes em 21 de julho de 1946, Guimaraes Rosa exclama, ao referir-se ao seu ideal de rigor ¢ riqueza no uso da lingua: * Universidade de 100 SCRIPT Bae Tokai np OOTP EM, de Melo e Castro Mas, ainda haveria mais, se possivel (sonar é fil, Joao Condé, realizar & que sito elas..): além dos estados liquidos e s6lidos, porque ndo tentar trabalhar a lingua tam- bém em estado gasoso?! Posteriormente, na Carta a Vicente Guimaraes, datada de'l 1/5/47, ao refe- rit-se ao estado de empobrecimento da lingua portuguesa, “da rigidez de formulas e formas, estratificagio de lugares-comuns, como carogos num angu ralo, vulgarida- de, falta de sentido de belez , deficiéncia representativa,” 0 nosso autor conclui: E preciso distendé-la, destorcé-la, obrigd-la a fazer gindstica, desenvolver-the os mtis- culos. Dar-the preciso, exactidio, agudeza, plasticidade, calado, motores. E preciso re- fundi-la no tacho, mexendo muitas horas. Derreté-la, e trabathé-la, em estado liquido © gasoxo. Esta segunda referéncia ao estado gasoso da lingua vem como uma explici taco da primeira, em que Guimaraes Rosa mais nada acrescentara. Mas acontece que tal explicitago é aparentemente contraditéria ¢ leva-nos a entender a referéncia em sentidos diversos, tal como “exatidio” e “plasticidade”, desde os possiveis senti- dos metaféricos aos cientificos ¢ até alquimicos, como em “refundi-la no tacho, me- xendo muitas horas”... Facil seria remetermo-nos para a alquimia do verbo de Rim- baud ¢ ficarmos com esta nova forma dessa famosa metéfora. Mas a referéncia explicita ao estado sélido ¢ ao estado Iiquido, além do es- tado gasoso, leva-nos a considerar que algo simultaneamente mais preciso ¢ mais amplo e por isso mais complexo, esta em jogo, ou seja, que se trata de uma referéncia polissémica de cariter ao mesmo tempo cientifico ¢ imagético, aplicada como méto- doe meta a procurar atingir na escrita ¢ por isso na criagio literdria, muito para Id € contra 0 uso impreciso e degradado da escrita ¢ da lingua correntes. A lingua é assim considerada matéria que pode estar em trés estados, tal como a matéria fisica, estados que tém propriedades dependentes das relagdes de agregagio das suas moléculas; ao estado gasoso correspondendo a maior desagrega- io c, por isso, a maior liberdade de movimentos das moléculas. Estamos assim no campo da teoria cinétiea dos gases 0 que nos leva a pensar como possfvel numa teoria cinética da lingua apta para a descrigdo da liberdade inventiva ¢ criativa do seu uso. Mas uma outra observagao me ocorreu, esta feita em 1956 pelo Professor e filésofo portugués Agostinho da Silva, no seu livro publicado aqui no Brasil, Refle- xao a margem da literatura portuguesa. Diz Agostinho da Silva, caracterizando a maneira de ser do comportamento ibérico: cpankol convive com espankol como molécula convive com molécula na teoria ciné- tica dos gases: chocando, chocando e chispando no chogue. Entio, ¢ insistindo na tal teoria cinética, en sé tenho duas maneiras de conseguir que um nitmero elevado de mo- léculas num recipiente limitado me ni faca explodir: uma consistird em reforcar as 101 SRIPTA, Belo Horizonte, «2.3, p. 100-107, 2 sem, 1998 ALLINGUA EM ESTADO GASOSO paredes, € isso calcula-se em pressio por centimetro quadrado; a outra consistivia em fabricar um vaso de paredes eldsticas. Esta asso Jo analégi das moléculas dos gases parece-me paralela as idéias de Guimaraes Rosa quanto ao estado gasoso da lingua, mas especificando melhor o significado da teoria cinética, 0 que permite-nos estender a analogi em condigdes de conceber uma trfad: humano, uso da lingua ¢ matéria considerada na sua natureza quimica-fisica. Essa trfada, ao estabelecer relagdes entre os seus trés pélos, agira como 0 vaso de paredes ldsticas imaginado por Agostinho da Silva, no qual a energia ex- pansiva do uso da lingua em estado gasoso se executa pela natureza a um tempo fisica e quimicamente determinado, num processo de comunicagio ¢ convivio hu- mano. Este seria o primeiro passo para a concepgio da referida teoria cinética do uso criativo da lingua. O vaso de paredes reforcadas para conter a energia expansiva ¢ criadora da lingua seria, naturalmente, a norma Mas algumas especificagées cientificas sdo ainda necessdrias para melhor se entender a extensio seméntica da expressiio de Guimaraes Rosa “estado gasoso da lingua”. da sociabilidade humana com o comportamento 105 aspetos humanos da lingua. Estamos agora a0 modo semiético, entre comportamento A Teoria Cinética dos Gases tem origem em especulagies de fil6sofos gre- {gos mas s6.a partir do século XVII se comegou a constituir cientificamente, sendo contribuicdes do inglés J. C. Maxwell e do alemao L. Boltzmann, fundamentais, no final do século XIX. A teoria original di nos que os gases so constitufdos por mo- léculas que sao particulas esféricas, perfeitamente elisticas, com incessante movi- mento de translacio, ocupando um volume que é negligivel em comparagio com 0 volume total do gis. As velocidades, momenta, energias e direcdes dos movimentos no sfo as mesmas para todas as moléculas do mesmo gis, mas sim distribuidas de acordo com as leis formais do célculo das probabilidades. Deve também ser tomado em consideragio o calor especifico € a viscosidade como determinantes das movi- mentagoes das moléculas. Por isso os estados s6lido, liquido e gasoso pertencem a rea dos estudos da chamada quimica-fisica, érea da ciéncia onde sio estudados muitos dos fenémenos de transformagdo, nem puramente quimicos nem puramen- te fisicos que primeira e pré-cientéficamente constitufam a alquimi Daf que a cinética da lingua deva ser concebida andlogamente como uma cigncia probabilfstica, quer nas suas associagdes verbais quer na interatividade sinté- tica, quer na polissemia que consigo transporta. Tratar a lingua em estado gasoso quer entio dizer conceber a sua execugio no mais alto estado energético de probabi- lidade verbal e semantica, em oposicao ao estado sdlido que ser, como Guimaraes Rosa diz, a rigidez de formulas e formas, estratificagao de lugares-comuns, vulgari- dade, falta do sentido de beleza, deficiéncia representativa, empobrecimento do vo- cabulario. 102 SCRIPT Hons np ODT Pac EM. de Melo e Castro Ha, no entanto, algo mais e que esté contido na seguinte pergunta: Como se movem as moléculas ¢ qual € o tipo desses movimentos de translagao em todas as direcdes? ‘Tal movimento recai dentro dos movimentos espontaneos descritos e estu- dados, em 1827, por Robert Brown, por ele observados nas particulas em suspensio aquosa € que, por isso, passaram a ser designadas por Movimentos Brownianos. As particulas movem-se em todas as diregGes, chocando umas com as outras ¢ sem ra- zo aparente. Nao se trata de movimentos provenientes de vida, nem de fendmenos elétricos, nem sequer de convecgao térmica, embora o aumento da temperatura au- mente a sua atividade. Ocorrem em todas as suspensées mesmo de particulas met licas, mas também no fumo. E.um fendmeno quimicofisico ¢ aleatério, cuja descrigao e natureza proba- bilistica se aplica também as moléculas dos gases, sendo atualmente considerado no Ambito da ciéncia do caos. Benoit Mandelbrot, o matematico inventor da geometria fractal, ja na se- gunda metade do século XX, chamou desde logo a atengio para a natureza castica susceptivel de descrigao fractal de numerosos fendmenos naturais, tais como 0s mo- mentos brownianos, a variacio da forma e do volume das nuvens, a ondulagio da superficie do mar, a agitagio das folhas ¢ dos ramos das arvores impelidas pelo vento, as variagdes climatéricas, o pingar de uma torneita, a turbuléncia da agua fervente, 0 sistema de ramificagdes irregularmente simétricas do desenvolvimento dos vegetai mas também e principalmente para a impossibilidade de, usando os recursos da geo- metria euclideana, medir com rigor o perimetro de uma ilha, Entio s6 a geometria fractal o poder fazer, uma vez que o recorte costal da ou auto-semelhante: as ilhas nao sio figuras geométricas planas perfeitas ma ilhas é de natureza iterativa » por isso mesmo, fractais, isto é ndo tém dimensoes inteiras. O mesmo acontece com muitos outros fendmenos naturais ou ndo naturais que tém escapado a explicagdes linearmente racionais, mas que hoje podem ser simulados matematicamente no com- putador. Nao me parece dificil extrapolar para o mundo das ci@hcias humanas ¢ par- ticularmente daquelas atividades a que chamamos lingiiisticas como a fala, a escrita, a comunicagio, a informagio, a criacio textual, a invengdo do novo poético ou 0 exercicio do raciocinio e da capacidade formuladora do pensamento. De fato, quem poder avaliar ou “medir” direta e linearmente as caract risticas da fala dos habitantes de uma dada regidio ou de uma ilha, ou da capacidade inventiva e transformadora que a sua pratica lingiifstica em si comporta diferencia- damente da de falantes de outra ilha da mesma lingua? Creio mesmo que a esta luz se impde a consideragio de uma “lingiiistica fractal” e que a lingua portuguesa, pela sua dispersio em arquipélagos pelo mundo, necessita ser estudada A luz dos conceitos que a essas circunstancias melhor se adap- tam, como me parece ser 0 caso da geometria fractal. SCRIPTA Blo Horna 2m DWIOT 2 va TB 103 ALLINGUA EM ESTADO GaSOSO Uma concepgio fractal da existéncia da lingua portuguesa no mundo pode levar-nos a conclusées interessantes tais como, por exemplo, a de que o perfil ou “pe- rimetro” lingiifstico de cada ilha é uma entidade fragmentada mas tinica, unidade essa que € constituida por cada vez menores unidades iterativas, isto é, auto-seme- lhantes. Por seu lado, no caso da lingua, essas unidades transformadoras iniciam-se no universo microlingiifstico do individuo falante ¢ escrevente com suas idiossincra~ sias € transgresses poético-criativas, ou através das préticas lingtiisticas de grupos sociais que produzem variantes, até atingirem iterativamente o nivel macro- lingiiistico de uma nagio ou de uma cultura. Aeexisténcia portanto de uma pritica linguistica igual para todas as ilhas do arquipélago ¢ impossivel, porque cada ilha produz as suas proprias unidades iterati- vas no exercicio das fungées lingtifsticas que caracterizam e modelam 0 seu quoti- diano: falar, escrever, criar e comunicar. Existe uma polivaléncia lingiiistica que ca- racteriza o nosso arquipélago € essa polivaléncia é nao linear mas, segundo creio, de natureza fractal: a lingua encontra-se em estado gasoso, isto &, com elevada energia transformativa e movendo-se em sentidos diversos... rios Citem-se alguns exemplos correntes, aqui trazidos sem nenhuma sistema- tizagio cientifica, tais como o uso no Brasil, no registro popular, mas jé invadindo textos eruditos, de formas do participio passado como pego e escapo em ver. de pegado € escapado; ou 0 uso da crase “A” apenas por razées fonicas, confundindo-a com a preposigao “a” ou com o artigo “a” que no Brasil so abertas e em Portugal fechadas; ou a utilizagao de verbos duma forma metaforizada com muito mais freqiiéncia que em Portugal; ou a nao concordancia entre plural ¢ singular, como por exemplo em “as mulher bonita” ou “vende-se tapetes persa”; ou a introdugio de vogais desfazen- do grupos consonantais, em hipinotismo, obijeto, obissoleto, etc.; ou ainda como no poema de Oswald de Andrade: PRONOMINAIS Dé-me um cigarro Diz a gramdtica Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas 0 bom negro ¢ 0 bom branco Da Nagito Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dé um cigarro. ‘Tais procedimentos, longe de serem apenas meras fugas 4 norma, sio, isso sim, manifestagées da natureza fractal da nossa lingua, que por iterago se repetem desde o nivel microlingiifstico até o macrolingiifstico, tornando-se, a pouco e pouco, pritica aceite ¢ por isso caracterizadora diferencial, como por exemplo o uso de 104 = 2, m3; 100-107, ecm, 1K f-. M. de Melo e Castro sentidos contririos para certas Javras (“pedregulho” no Brasil quer dizer pedra pe- quena, enquanto que em Portugal significa pedra grande e disforme); ou 0 uso de verbos inexistentes no falar portugués, como ou “machucar”; ou de for- mas verbais pouco recomendadas em Portugal, como € 0 caso do gertindio, intensa- trafegar mente empregue ¢ bem, no Brasil. Nos pafses africanos de lingua portuguesa comecam a registrar-se muitas variantes, como por exemplo nas construgdes “A pessoa nao nasce ninguém”, “Os pais escondem os filhos a verdade” ou “Eles bateram o mitido”, respectivamente por “A pessoa nao dé A luz”, “Os pais escondem dos filhos a verdade” “Eles bateram no mitido”, tal como observa Perpétua Goncalves em Portugués de Mogambique, uma variedade em formagio. A mesma autora assinala também uma a como em “téléfonar”, assim como o emprego da forma reflexa do pronome pessoal ‘o” em “Alguma coisa lhe atraiu” ¢ “A mae meteu Ihe na escola”, construgdes que também se encontram no Brasil. Mas a questiio parece estar em saber se ja est4 em formagio uma variante comum a todos os paises africanos que usam o portugués como sua segunda lingua, ertura vocélica, ou se cada pafs vird a formar a sua variante, segundo condicées culturais e ambien- tais proprias. Penso que isto é o que muito provavelmente Mesmo no pequeno espago de Portugal no continente europeu, as varia~ gies vocabulares e fonéticas so muito marcadas de regio para regio, diferengas usadas como caracteristicas de identidade regional, como por exemplo as marcadamente diferentes de Lisboa ¢ do Porto. Um escritor como Aquilino Ribeiro, nos anos 20 ¢ 30 deste século, usou inventivamente (gasosamente) as diferengas regionais de vocabulirio e acento, para marcar culturalmente, (nds diremos hoje fractalmente), o habitat ¢ a diferente qua- lidade humana, dos seus romances situados na Beira Alta, regiio do centro-norte de Portugal, sendo até acusado de inventar uma lingual... Também a intensa € quase espontinea formagio de neologismos é um si- nal da natureza fractal da lingua portuguesa, o mesmo se passando no Brasil com a adogio de toponimios e de radicais de linguas indigenas. Um exemplo bem sugesti- vo €0 uso do sufixo tupi “rana” que tem o sentido de “como se” ¢ exerce uma fungao modalizante de substantivos. O que fez Joie Guimaraes Rosa no titulo de uma bem conhecida obra sua: Sagarana, isto é, “como se fosse uma saga”, tal como referido por Eni Pulcinelli Or- andi e Tania C. C. de Sousa, em “A lingua imagindria ¢ a lingua fluida”, artigo in- cluido no volume Politica lingiifstica na América Latina. Guimaraes Rosa que é, no arquipélago da lingua portuguesa, por si s6, uma dessas ilhas, sendo que ele proprio esclarece na famosa entrevista dada a Gun- ter Lorenz, em janeiro de 1965: ‘irda acontecer. endo essas prontinci Primeiro hé'o meu método que implica na utilizagio de cada palavra como se ela ti- esse acabado de nascer; para limpa-la das impuresas da linguagem cotidiana e redusi- SCRIPT ato ones mp NOY so 105 ALLINGUA EAI ESTADO GASOSO la ao seu sentido original. Por isso, e esse é 0 segundo elemento, eu ineluo em minka dicgio certas particularidades dialéticas de minha regido, que io linguagem litendvia e ainda tém sua marca original, nio estado desgastadas e quase sempre so de uma grande sabedoria linguistica. Além disco, como autor do século XX, devo me ocupar do ideo- ma formado sob a influéncia das ciéncias modernas ¢ que representa uma espécie de dialeto. E também esti & minha disposigao esse magnifico ideoma jé quase esquecido: 0 antigo portugués dos sibios e poetas daguela época dos escolésticos da Idade Média, tal como se falava, por exemplo, em Coimbra. E ainda poderia citar outros, mas isso nos levaria muito longe. Seja como for; tenho de compor tudo tss0, eu diria "compen- sar”, e assim nasce entao meu ideoma que, quero deixar bem claro, esté fundido com elementos que no sito de minha propriedade particular, que so acessiveis igualmente para todos os outros. [uo] Genialidade, sei. Eu diria: trabalho, trabalho e trabatho! Penso que esta descrigao de seu método de trabalho escritural poe clara- mento em destaque a fluidez. combinatéria dos elementos contraditérios em presen- ¢a, ficando implicita a elaboragao probabilistica, ‘compensatéria’ como ele diz, frac- tal como dirfamos nés hoje, € que constitue a pedra de toque da criatividade de Gui- maries Rosa: a lingua em estado gasoso, quer sob 0 ponto de vista cientifico, quer metaférico, ou seja poético. A lingua como material da simples complexidade livre a que se chama poesia. ABSTRACT na letter to Joao Condé, published by Jornal de Letras ¢ Artes on July 2Lfst. 1946, Joo Guimaraes Rosa wrote: *..but there is much more (vo dream is so easy, Joao Condé, to do, that is the problem...): bewond the liquid and solid states, why not try to work de language as a gas ?!” My addres isan atempt to understand the meaning of working the lan- guage as.a gas, both as a methafore and scientifically. On the point of view of science two moments must be considered: the phisics of Guimaraes Rosa won time and the present day theory of caos, namely the fractal nature of the brownian movements discribed by the kinetic theory of gases. Methathorically the use of an interdisciplinary terminology allows us to consider the portuguese language as beeing ofa fractal nature, scathe- red as itis, in various continents and used by different peoples and cul- tures, whose variants and ruptures can be diseribed within the seope of what could be called a Kinetic theory of language. 106 SCRIPTA, Belo Honizor 2,3 ps 100107, 2 vem, 199 EM. de Melo ¢ Castro Referéncias bibliograficas ESCOBAR, Alberto ¢ outros. Politica lingiifstica na América Latina, Campinas: Pontes Editores, 1988, GONGAL to: Universidade Eduardo Moni 2S, Perpétua. Portugués de Mogambique: uma variante em formagi 1c, 1996, io. Mapu- GUIMARAES, Vicente. Jodozito: a infincia de Jodo Guimaraes Rosa. Rio de Janeiro: J Olympio, 1972. 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