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Copyright © dos autores direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida o Todos os direitos ga iva ck vados em tos dos 1 tran, cit autores. i e conta os direit ou arquivada, desde que le ‘Smitida Grupo de Estudos dos Géneros do Discurso [GEGe] ry Questées de Cultura e Contemporaneidade: o olhar obli quo de Bakhtin, Carlos: Pedro & Jofo Editores, 2011. 304p. ISBN 978-85-7993-083-6 1. Bakhtin. 2, Cultura e linguagem. 3. Lin guagem e conten Revolugio Bakhtiniana, 5. Rodas de Conversas Poraneidade, 4 Bakhtiniana. 6. Autores, | Titulo, COD ~419 Capa: Allan Tadeu Pugliese Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & Jodo Rodrigo de Moura Brito & Valdemir Miotello & Hélio Marcio Pajei Conselho Cientifico da Pedro & Joio Editores: Augusto Ponzio (Bari i/[talia); Joao Wanderley Geraldi ( Roberto Leiser Baron; (Unicamp/Brasil); as (UFSCar/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (ONIR/Brasil) Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Dominique Maingueneau (Universidade de Parig XI); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil), Pedro & Joao Editores Rua Tadao Kamikado, 296 Parque Belvedere Www pedroejoaoeditores.com.br 13568-878 - Si Carlos — sp 2011 Digitalizado com CamScanner + Inquietacées primeiras Temos de ” até os camponeses, visitd-los em suas cabanas cobertas de pa- tha, participar de suas festas, trabalhos e divertimentos. Na fumaca que paira sobre suas cabecas, ainda ecoam os antigos ritos, ainda se owvem as velhas cangées. Adam Czarnocki alar de cultura em tempos contempordneos nao se trata de uma labuta facil, tampouco, trangiiila, maiormente porque as discus- ses que circunscrevem este terreno se materializam de perspecti- vas variadas e olhares diversos, 0 que no meu ver tornam mais fortes os embates que arquitetam este conceito ao mesmo tempo que desvanecem seus limites. . _. Mesmo ao reconhecer que tal signo se emprenha de certas impresses i “um sistema de sig- o historiador Peter Burke (2010, p. 11) a define como “um 8 ingui iversidade Federal de 1 Doutorando do Programa de Pés-Graduagao em Linguistica da Universidade Fe Six ista CAPES. for o em Ciéncia, . Prat Dido penitent de Letras e do Programa te fe aera Tecnologia e Sociedade pela Universidade de S40 Carlos 3 Citado por (Burke, 2010, p: 33). 113 Digitalizado com CamScanner & Valdemir MIOTELLO’ Hélio Marcio PAJEU" nificados, atitudes e valores partilhados e as formas sipiitins (presen, tages, objetos artesanais) em que eles so expressos ou encari ° es Assim, a partir desta definigio, ainda genérica, ve-se aut esta Lema transita por terrenos belicosos de indefinigées, de fronteiras snus e Signi. ficados distintos e, por vezes, obscures, sobretudo, quando se rata do de. dalo aleunhado por cultura popular, pelo fato da maioria das correntes ts. Ticas que a discutem tomarem-na, quase sempre, como uma expressig tradicional e subalterna, contraria ao crudito ¢ assinalada pelo moderno » hegeménico, colocada ao lado do folclore ¢ da cultura de massa. E justamente essa auséncia de limites bem definidos que torna rica g Concepgio de cultura popular, uma vez que para Bakhtin (2010, p.29) nao se deve, porém, imaginar 0 dominio da cultura como uma entidade espacial qualquer, que possui limites, mas que possui também um territs. io interior. Nao ha territério interior no dominio cultural: ele esta inte: ramente situado sobre fronteiras, fronteiras que passam por todo lugar, através de cada momento seu, e a unidade sistematica da cultura se es- tende aos tomos da vida cultural, como o sol se reflete em cada gota. To- do ato cultural vive por esséncia sobre fronteiras: nisso est sua seriedade ¢ importancia; abstraido da fronteira, ele perde terreno, torna-se vazio, pretensioso, degenera e morre. E essa possibilidade de fronteira, de troca, guns pesquisadores a pensar a cultura outros considerarem que cla tem espélio no folclore ou equivale a ele ¢ ainda existir aqueles que a equiparam aos costumes das classes subalter nas, da nao elite, e por ai seguem os prumos d. bam este formigueiro, Assim 0s sentidos atributdos ao signo popular sio distintos e néo po- deria ser diferente dado os variados fendmeno: s da cultura que é atrela- do. Ele entao se arma como uma arena discursiva de embates ideoldgicos que constituem a propria unidade da cultura. Nesta senda a cultura po- pular se torna um ato praticado em um determinado horizonte social constitutivo de uma interacio e um didlogo na esfera da comunicagao cultural na qual se instaura com delimitagdes imprecisas que se arraigam de significacao a medida que se considera o terreno que ela habita, assim adquire sentido distinto para os folcloristas, para a industria cultural, Para 0 populismo, para os estudos da linguagem, de aproximagio que leva al- popular ligada & cultura de massa, as discussdes que englo- 114 [__ Digitalizado com CamScanner Nesta direc Catenace i (20 desavindas e bulicosas esf 2001, p. 31 di A eras da ne iscute popular alinhavando as de da cultura, e assim olhando pelo prisma ¢ depésito da ctiatividade camponesa, d, nicagio cara a cata, da profundidacte exteriores da modemidade. Nesse son Plicagoes sobre o popular, nfo sendo estudo de acordo com 0 folcl é lore, popular é 0 que se refere a tradicao, 0 ‘4 suposta transparéncia da comu- que se perderia com as mudancas ido, os folcloristas dio poucas ex- ‘apazes de reformular seu objeto de ento de sociedades em que os fend- valores. As comunicagges ee caracteristicas que o folclore define e » porém, colocam o popular em cena dies populares. A midia, na nedilaen soem on ses populares ~ mito, folhetim, festa, hume Se as & cultura hegem@nica, assume um papel denen eo eorPorando- ara J um papel de concorrente do folclore. O popular é visto pela midia através da logica do mercado, e cultura popu- lar para os comunicélogos nao é 0 resultado das diferengas entre locais, mas da aco difusora e integradora da industria cultural. O popular é, dessa forma o que vende, o que agrada multidées e nao 0 que é criado pe- Jo povo. O que importa é o popular enquanto popularidade. Além disso, para 0 mercado e para a midia o popular nao interessa como tradi¢ao, ou seja, como algo que perdura, Ao contrério, o que tem popularidade na in- dustria cultural deve ser, apés atingir 0 seu auge, relegado ao esqueci- mento, a fim de dar espaco a um novo produto que deverd ser acessivel ao povo, ser do gosto do povo, enfim, ser popular. A imagem de cultura popular atrelada ao homem simples da classe baixa tem sua origem no final do século XVIII e comeco do XIX quando os costumes tradicionais encontravam-se em vias de se desbotarem e 0 povo se transformou em matéria de importancia para os intelectuais eu- ropeus. Nesta época este sistema estava diametralmente abotoado as praticas dos camponeses, principalmente, na Alemanha. E justamente desse periodo que ressoa a frase do polonés Adam Czarnocki que retomo aqui como epigrafe. Por seu intermédio pode-se consttar ae Por a longo tempo os estudos direcionados a cultura popular, com sind ro ; sao boa parte, foram concebidos considerando = aspect . basiRe ° ae tincdo de classes, isto é, a classe da elite versus a classe subaltes ool tura popular versus a cultura erudita. Tal paradoxo éacent camer te mor ae (1978) que considera a existéncia da cultura popula 115 Digitalizado com CamScanner fambé medida que vive a cultura dominante. Este pensamento também aparece no dizer de Satriani (1986) ao ponderar 0 folclore como cults das clas. m 7 estudo compoe uma das formas de ses subordinadas e ao dizer que 0 seu Nesta senda a cut averiguar os valores e a ideologia destas classes. esta 4 cultura erudita se torna um valor atribuido & elite social, de moa ae © folelore a cultura popular, ao serem colocados no mesmo balaio, ajuizam os interesses, os valores e o sistema de idéias das classes dominadas, do mesmo modo que em outros lugares ela se apresenta possuidora de ca. tacteristicas fundamentais a resisténcia, 4 dominacao, a provocacao e 3 contestacao, elas manipulam de forma irdnica as imposturas culturais, O historiador Carlo Ginzburg (2008, p. 21) na introdugao de O queijoe os vermes: 0 cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisi¢fo ao rese. nhar criticamente varios autores que tratam da cultura popular escreve que a “utilizacéio deste conceito com o designio de delinear crengas, atitu- des, condutas e costumes singulares das classes subalternas foi de ocorrén- cia relativamente tardia e emergiu do seio da Antropologia Cultural", As sim, parece fixar-se uma certa dicotomia imanente em relagao ao termo cultura popular sendo reconhecida tanto como os fazeres de povos "exéti- Cos’, quanto as praticas das classes subalternas dos povos civilizados. Nota-se, pois, que os solos que pairam os estudos a respeito da cultura popular so, ainda, carentes de mais discussdes sobre suas proprias incer- fezas ¢ indefinicoes, uma vez que ela propria se trata de uma categorizacéo erudita como professa Roger Chartier no primeiro enunciado do seu escti- to Cultura popular: revisitando um conceit historiogréfico. Este estudioso da histéria cultural e da leitura abrevia, advertindo a Possibilidade de um impeto de aplanamento das distintas acepgdes da cultura popular, a dois modelos de abordagem e compreensao, quais sejam: 0 primeiro compre- ende a cultura popular como independente, eqiiipolente, com principios singulares e indoméveis a cultura letrada; ¢ o segundo enfatiza as hierar- quias viventes no orbe social e percebe a cultura popular em suas depen- déncias e auséncias em relagio a cultura dos dominantes, hegeménica (CHARTIER, 1995). Confesso, e assumo, que nao é do meu agrado olhar para a cultura popular sob uma perspectiva segregatoria, com resquicios de um mat- xismo enrijecido que reflete e refrata uma luta de classes evidenciada somente pela hierarquia social, tampouco por uma perspectiva que @ toma como objeto abstrato que se impée As relacdes sociais e a conscién 116 Digitalizado com CamScanner a humana. Ao contratio cro etn §consttds any, mre Teverbera compreende-la na direcé s ificios hibridos e abstrusos que ro eae distintos lugares e dire- em jogo, int indas, de classes e povos, ao Pan 'renas discursivas. Nessa vereda er (1995, p. 6) de que seja bes, de sujeitos dispares, de ident serem postos em relacio, nti partilho do pensamento d initil querer identifi c eet Aes F cultura Popular a partir da distribuic&o supos- Bee tos objetos ou model is aan fat, tanto quanto sua sepa os culturais. O que importa, : irtica . ce, é Sua apropriagio pelos prupee gee mas complexa do que pare- vac aciticernen ten eso8 BPEPOS Ou indviduos. Nao se pode mais ace te que & hierarquia das classee sa ce eae ae supoe implictamen s classes ou grupos «: a 8 ° ralela das produces e dos hdbitn ee Ee rresponde uma hierarquia pa- Tanto é que os sujeitos que se inserem em uma determinada pratica cultural especifica e tida como cultura popular néo se reconhecem como tal, basta ver os festejos do ciclo junino no estado de Pernambuco. La tais festejos fazem parte da cultura oficial e no de uma cultura subalterna e periférica, como é tida a cultura popular em algumas vertentes. Nesta perspectiva a questao da cronotopia instituida por Bakhtin ao se debru- car sobre os estudos da literatura ajuda, e muito, a compreender os ca- minhos que colorem este conceito tao latente. Se trata pois de uma ques- tio central de tempo e espaco, mas que aqui nao serd aprofundada. ‘Ao impregnar minh’alma por esta vereda procuro trilhar pelo cami- nho que desbravou Mikhail Bakhtin ao voltar suas atencdes para tal tema e desenvolver estudos fundamentais, por meio dos quais se revela, nas palavras de Vauthier (2006, p.656) “por qué los investigadores deberian concentrarse més en el estudio de las conexiones entre las culturas popu- lares y las de las elites que en las diferencias que separan a ambos’ Claro que no trabalho do filésofo russo $40 evidenciadas as contradigoes, oe z 5 ular ostenta uma patente hierar nao de modo esquematico em que © pop’ rua oficial e seus constit- quica arraigada de poderes qué debelem a cri meio de uso particular ites e nem de uma manera acatelns 227%" voy eobiga & ver 1 joB0 de um determinado grupo ou classe SoC* i interagao, 0 did- ai as manifestacbes, @ no Amago de s ‘ ansformagoes, atos. ieee tasers a ambivaléncia de seus logo, a transgressao, aS tre 117 Digitalizado com CamScanner Assim, busco compreender tais atos que se inscrevern na calf popu, Jar via lentes bakhtinianas ao deixar me guiar livremente pelas ambivalén, cias dos seus limites, vendo-a ser delineada nao pela incompatibilidade entre classes, todavia, pelo seu cardter transgressor, que ndo se reduz ay feitio de um grupo social especifico, mas ao contrario, se constitu Pela relacio, pela jungao, pelo didlogo e interagao que estabelecem entre si ny. ma dada oficialidade ou nao-oficialidade, numa dada cronotopia. E justamente este olhar enviesado, no melhor dos sentidos, que tenho construido em minha consciéncia a respeito da cultura popular e que me fez, de certo tempo para cd, me interessar por alguns escritos com assina- tura de autores brasileiros, especialmente, os que se revestem pela comé. dia popular brasileira, e perceber a riqueza e 0 mistifério polifonico de imagens, crengas, etnias, ideologias, a multiplicidade de origens, de histé. tias, de atos morais e éticos que compdem algumas atividades cotidianas; as manifestagdes culturais, por vezes nem tao notérias, mas que, arraiga- das no velho e no novo, na tradicao e na reconstrucao arquitetam a nossa cultura brasileira, tao popular e tao desconhecida por nés mesmos, e cons- ttuem uma ordem estética para 0 que chamamos cultura popular. Foi nesse debrucar, mais intenso outrora, que compreendi que muitas das criagGes estéticas, encarnadas nos mais variados géneros do discurso © propensas a cultura popular, tém a concepcao de seus herdis que em varias manifestacdes advindas de culturas distintas, como por exemplo, a Commedia Dell’Arte, como uma linguagem de encenagio que, a Tuas e trazia personagens fixos com caracte! Itdlia do século XVI, e posteriormente, praticada na Franga. Uma agio através da qual se subsidia consolidar, atualmente, uma geometria artis- tica que se esquiva da mesquinhez que assola alguns seguimentos da arte, possibilitando a producao de criagées que retomam e valorizam a cultura nacional e que funcionam, de certo modo, como uma reiteragio do movimento antropofagico iniciado pelos modernistas brasileiros, 20 conceber uma arte de cunho popular com 4} walidade e alto nivel critico. Nesses mesmos escritos percebi, ainda, que tais herdis soam ter fun- damento sob uma perspectiva humana das telagSes cotidianas e popula- res, onde seus criadores parecem ser transversalmente entusiasmados por uma leitura da obra de Frangois Rabelais, de quem reanimam 0 gro- Por espe- estrangeiras, que podemos compreender Principio, era praticada nas risticas proprias, surgida na 118 Digitalizado com CamScanner tesco e e popular encarnados caracteristicas essenciais de seu @ Idade Média e no Renascimento, como Embora separados por —- tipos. tenas de anos e por uma —— de quilémetros de distancia, por cen- que se inscrevem na comédia po cence, 0s trabalhos dos autores abordarem um assunto em S Popular cs tangenciam aos do francés, ao em sua maioria concebem hen a tao vasta e rica cultura popular, e tham as fabulas do romancisns ativas com caracteristicas que se asseme- desenrolar da Commedia Dell'drte. Contads want nae Pare de se constituem como miseros Arte, Contudo, ressalto que tais autores nao eee imitadores da composicao rabelaisiana, a0 estar atentos & mesma percepcio que o génio da literatura francesa ti : esa tinha da sua época, do seu contexto e das relagGes es- one a ~ Sonvivio stil has priticas cotidianas, nos festejos. import4ncia para 0 entendiment Cae ——e sobre a vida deaveafbio monsicu dac lees ve sopeen nes Tomas des 8 las letras se perpetua nas brumas das incertezas. Homem de erudigio, 0 criador de Pantagruel formou-se na Faculdade de Medicina de Montpellier por volta de 1530, apés abando- nar o habito e se tornar padre secular na Paris de XVI. Na introdugao de sua traducdo para o portugués do livro O Terceiro Livro dos Fatos e Ditos Herdicos do Bom Pantagruel, de Francois Rabelais, Elide Valarini Oliver (2006, p. 20), proficua estudiosa da obra deste ro- mancista, escreve que a época em que ele viveu nao sé foi palco de 0 arcabougo teoldgico e filoséfico pas- sm a Reforma, como também vivenciou do mundo fisico, através das desco- o esses dados que farao de Rabelais ‘uma sintese do homem universal, mudangas profundas que abalaram sando do hegeménico Catolicismo cor 0 progresso da ciéncia e 0 alargamento vos povos. Sex. bertas de novas terras € NO" i fazer tum escritor modemo, Ble procurard fazer uma 8 : aliando-o & Natureza e ao Conhecimento, jimplicando-o em novas relagSes aaa Saber a Tecnologia. Seu humanism FansFoT™ confine 670 timismo que depois deposta na realizes” dessa alana como impo pare f sy vai buscar na Aniguiade a experiencia Po 2 berdadt ob a fr ste podria pois ese €0 camino da ascensio ela acumulaaa na os exempos retirados N Mitologia servem para virtude, Da mesma Im veritas, por meio da. qual o homem es- conduzir virtude, a medi 0 ani mundo esi mesmo. tabelece a medida justa ¢ hharménica entre © 119 ee Digitalizado com CamScanner Ao ter por esteio as praticas primeiras e marcantes da civilizacéo hu. mana, isto é, as manifestacdes populares, ele se torna um conspicuo Por- ta-voz da literatura francesa. Um altivo auscultador das festividades, das relacées estabelecidas na praga piiblica, do grotesco que constituia os Personagens do carnaval e outras praticas do cotidiano, que serviam de nascente de onde emanava a riqueza que recheia a sua obra, por meio da qual concebe um mundo infinito das formas e manifestacdes do iso, opondo-se cultura oficial, ao tom sério, religioso e feudal do seu tempo. O jogo de Rabelais era uma brincadeira livre e alegre, mas que procurava dissipar a atmosfera de seriedade mals e mentirosa que envolve o mun- do e todos os seus fendmenos, [visando] a fazer que ele tome um aspecto diferente, mais material, mais préximo do homem e de seu coraco, mais compreensivel, acessivel, facil e que tudo dele se diz adquira por sua vez tonalidades diferentes, familiares e alegres, destituidas de medo. (GARDINER, 2010, p. 229) No espirito de sua heterogeneidade essas formas e manifestagdes — as fes- tas puiblicas carnavalescas, os ritos e cultos cémicos especiais, os bufdes e to- los, gigantes, andes e monstros, palhacos de diversos estilos e categorias, ete.— Possuem uma unidade de estilo e constituem partes e parcelas da cultura popular, principalmente, da cultura carnavalesca, em que todos esses ritos ¢ espetaculos organizados & maneira cémica ofereciam uma visio de mundo, do homem e das relagdes humanas totalmente diferentes, deliberadamente no-oficial, exterior A Igreja e ao Estado; onde parecia ser construido ao lado do mundo oficial um segundo mundo e uma segunda vida, uma espécie de dicotomia que se fundamentava nas priticas do cotidiano (Bakhtin, 2008). Em sua obra Rabelais se vale de tragos marcantes do cémico popular e de um notavel e bem sucedido estilo oral, com uso de mitos e lendas para manter a atencio do leitor. Desse modo, imprime um estilo genial 20 conservar em suas criag6es as farsas e parddias da tradico medieval, ao mesmo tempo em que re-visita a Cultura Antiga, buscando fundamentos de um novo homem na satira menip. O estilo empregado por Rabelais, que evidencia detalhes narratives que incitam a imaginagao do leitor ao mesclar a poética e a satira, é algo que no se consegue classificar e nem definir com facilidade. No entanto, podemos enxerga-lo como 120 Digitalizado com CamScanner uma nova linguagem des, as irregular , ‘sularidades, Dag {um novo mundo, Daf as varia luas pedras angulares que apare- mi We Procura e: lentares em sua obra: a orientagao tender a linguagem até a zona limi © 0 inomi nado, prépri \do, prdpria da poesia; ¢ a orientagéo desmistificadora e demolidora da satii ra, (OLIVER, 2006, p. 23) es, todavia, ao reconhecer que sua forma d a rancia, intensidade, ri pe 7 Tiqueza e elegancia, possuindo motes que incidem saber e escatologia, linguagem a : iguagem popular e técnica, dialetos e estrangeiris- mos, em que nao se pode modificar qual qualquer signo, qualquer ato qualquer palavra, qualquer intencao, a ato, qualquer caracteristica de seus persona- a pares uma avaria irrepardvel a arquiteténica de sua obra (O- TER, 2006). Vé-se que em sua narrativa, ao recorter & comicidade como espirito de regeneracao, ele da lugar a sdtira de idéias, com discusses filo- s6ficas e éticas que a norteiam, como observa Bakhtin em A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: 0 contexto de Frangois Rabelais. Vejo em Rabelais um engenhoso criador de narrativas que soube per- filhar com acuidade a sabedoria e opuléncia da corrente popular, influ- enciando nao somente a sina da literatura no mundo, mas, como reco- nhece Bakhtin (2008), tornando-se o “mais democratico dos modernos mmestres da literatura” cujo seu principal predicado ¢ justamente 0 de estar, mais que alguns outros autores, atento e aliado as fontes populares que circunscrevem a unidade da cultura de sua época, essas mesmas que aparecem e determinam a arquiteténica do conjunto de imagens grotes cas no interior de seus escritos. eat sco que re Sao essas imagens que revigoram obra de Rabelais um ns so a ie sistia e escapulia aos ajustes estabelecidos pelos cdnones ¢ T°8) B literdria, em voga desde 0 século XVI um riso coletivo, um riso PoPit tt ’ i impostura, a tudo um riso que se opunha a tudo o que se configurava em impos is vdeotogia Qo ne a do, ajuizado. “Em Rabelais a relagio entre ideologia que era cominado, - i mbém como relagdo entre 0 ficial e i gia nai oficial é considerada também como ren entree oficial e ideologia Nt micidade popular We poe em discussie as forms icidade sétio e 0 cémico. E a comi 18, p- 25). da cultura dominante” (PONZIO, 2008, P- 121 a Digitalizado com CamScanner Desse modo, esse francs vollava suas atengées aos ritos civis pertencen. tes 4 esfera singular da vida cotidiana: as obras cémicas fepresentades nas races publica, as paréliasorase escrtas, as formas ¢ géneros do vocabu- lirio familiar e grosseiro, sobremaneira, os festejos e formas carnavalescas, Por seu carater concreto e sensivel e gragas a um poderoso elemento de jogo, elas [as formas camavalescas] estio mais ligadas 4s formas artisticas ¢ ani. madas por imagens, ou seja, as formas do espetaculo teatral. Porém, 0 niicleo dessa cultura, isto é, 0 carnaval, néo é de maneira alguma a forma puramente axtistica do espetéculo teatral, e de forma geral, nao entra no dominio da arte, Ele se situa nas fronteiras entre a arte e a vida. Na realidade é a propria vida apresentada com os elementos caracteristicos da representagao. (BAKHTIN, 2008, p. 6) Tais formas carnavalescas significavam um subterftigio tempordrio dos padrées da vida oficial, uma vez que esses festejos se consolidavam Por suas préprias leis, em que o lema era a vivéncia da liberdade pelos sujeitos, independente de suas classes sociais. E assim, o carnaval nao era somente “uma forma artistica de espetaculo teatral, mas uma forma con- creta (embora proviséria) da propria vida, que nao era simplesmente tepresentada no palco, antes, pelo contrario, vivida enquanto ele durava” (BAKHTIN, 2008, p. 6). As praticas que constituiam tais festejos eram prenhes de riso, de um riso carnavalesco, de manifestagdes de raizes firmes, de atos éticos e estéticos, de confrontagio de ideologias. A concepcao de riso instaurada no seio da Idade Média como algo sa- grado, que ao longo dos tempos foi abafada, atualmente se arma, em grande parte, sob uma ambivaléncia que lhe dé forma como humor sati- rico, que apenas apregoa um certo humor negativo e humor alegre que tem o divertimento pelo divertimento; entretanto, 0 riso que percebo em Rabelais, e atinge diretamente nossas praticas, como por exemplo, as do carnaval atual, constroem-se como um caminho para escarnecer ortodo- xias e intransigéncias, um riso que solidifica uma critica camuflada pelas imagens e fantasias populares. As imagens rabelaisianas sio verdadeiras alegorias que encarnam 0 principio material e corporal, que ¢ 0 da festa, do banquete, da alegria, que subsiste consideravelmente na literatura e na arte do Renascimento. Em Rabelais essé ato evidencia 0 realismo grotesco de que fala Bakhtin (2008, p. 17) através do “rebaixamento, isto é, a transferéncia ao plano 122 Digitalizado com CamScanner material e corporal, o da t tudo que é elevado, eSpinien, edo coy Consultando Bakhtin ae ideal e abstrato” alismo grotesco tudo ae me maravilhei aa re ticas correntes, tudo que pairs Se aparta ieee que é dor damente marcado e exager: a um elemento cor i aie sie imagens da cultura comica lo. E convencionalrnente 1 . material as ees ice Popular em todas suas pa especifico de sob 0 escudo da tradigao Pensamento artistico e estéti anifestacdes. Por 4 classica, as i stético se desenvolver seus movimentos, nao tendo reconhy imagens do grotesco nao penetram do com isso um sentido preciso n ‘ecimento oficial pela teoria, nao ten- Seen ee eee oe ce peja seus vestigios na ar da era classica, que des- higo acabado e perfeito algo que em ida e, a0 considerar o corpo como Sita na ambivaléncia acrbndoe deformaio, manitestagies culrals win Desse modo, , ee eee 7 opul iz Se a aca ap oi ETE em que tal tiso degrada e materializa. Assim, nas praticas cotidianas, #0 nitidas as divisdes dos pélos representativos que dao o tom valorativo jocoso, triste, dramatico, cSmico, ete. 0 na sua indi: *PO na sua indissoliivel unidade, de dos nossos atos como alegre, io absoluta e rigorosamente topogré- a terra € 0 principio de absorcio (0 de nascimento e ressurreicdo (0 do alto e do baixo no seu aspecto Oalto e o baixo possuem ai um sentid' fico. O alto € 0 céu; © baixo é a terra; timulo, o ventre) e, ao mesmo tempo, seio materno). Este ¢ 0 valor topografico ‘esta nunca separado com tigor césmico. No seu aspect corporal, que na o alto é representado pelo rosto (a cabeca), € 0 © realismo grotesco € do seu aspecto césmico, paixo pelos orgaos genitais, 0 ventre € 0 ae See bdi i jam-se nessas Sign! 7 rodia medieval pbaseiam-S' eS a consi a terra, entrar em comunho com a terra concebi consiste em 9P™ po, de nascimento: imar di oximar da tein ooo mes te da como um principio jmultaneamente, matarse © quando se degrada, af radar significa entrar comu- s-ge a vida em seguiey” e dos érgaos geni- on « jda da parte inferior do corpo a0 ravidez, 0 parto, nhao com a Vi ja da Pp moo coito, a concepsao 4 gravic A vlegrade tais, e, portanto com i it ascimento. E por 3 de alimentos novo ™ jj in gativo, mas também um po- 123 — Digitalizado com CamScanner acio e afirmacg sitivo, regenerador: é ambivalente ao mesme nade Mice cs Precipita-se nao apenas para 0 baixo, para se realizam a concepso e.g mas também para o baixo produtivo, no qual se realli grotesco nap nascimento,e onde tudo cresce profusamente. O realism grote ie conhece outro baixo, o baixo é a terra que da vida, e 0 sé poral; o baj- xo é sempre 0 comego. (BAKHTIN, 2008, pp. 18-19) Dai que geralmente nas praticas de festejos populares venes 08 sujei- tos encarnarem esses aspectos mais baixos, como, por exemplo, 0 uso de um vocabuldrio mais ordinario, atos que retomam a sexualidade, as ne- cessidade fisioldgicas, todos encarnados no corpo grotesco e que apare. cem nas manifestagSes populares. Enquanto que nas atividades que di. zem respeito a aspectos mais formais, mais ortodoxos, dos atos éticos sao tepresentadas pela parte alta, pelo pensar, pela razao, pela moral, pelo espirito, 0 sagrado, a dignidade, a pureza, a redencao, motivo pelo qual nao vemos um padre celebrar um missa vestido de freira, enquanto que nos festejos populares essa pratica é totalmente possivel, como nas qua- drilhas do ciclo junino, como também um homem comum vestido de mulher passeando nos cortejos e nos blocos do carnaval. A imagem grotesca caracteriza um fenémeno em estado de transforma: so, de metamorfose ainda incompleta, no estégio da morte e do nasci- mento, do nascimento a evolugio. A atitude em relacéo ao tempo, a evo- Iugio, é um trago constitutivo (determinante) indispensavel da imagem Brotesca, Seu segundo traco indispensdvel, que decotre do primeiro, é sua ambivaléncia: os dois pélos da mudanga ~ 0 antigo e o novo, o que morte 0 que nasce, 0 principio e o fim da metamorfose ~ so expressados (ot esbocados) em uma outra forma. (BAKHTIN, 2008, p. 22) Elas so alegorias contraditérias que se apresentam deformadas, irregu- lares, espantosas e apavorantes, se observadas sob a luz da estéticn Classica, Jd consolidada e estatica, Nelas hé uma atribuicgo diferente de sentido, po- rém, sem alterar seu contetido e matéria tradicional: 9 acasalamento, a gra- videz, 0 parto, o crescimento corporal, a velhi dacamento corporal, a agonia, o comer, o beber, a satisfagio das necessida- des naturais ¢ fisiolégicas, os érgios genitais, a barriga, o falo, os seios, 08 orificios, etc. com toda sua materialidade imediata, continuam por ser sub- 124 Digitalizado com CamScanner (BAKHTIN, 2008, p. 23) Esse inferior absoluto do real . iismo grotesco & materiats : pidez nos festejos populares e re rotesco é materializado com lim- egiem sua maioris levanian ligioos No interior da cultura brasileira, ‘a contradicio entre vida e mo : : rte por meio oes da linha grotesca do corpo, como por exemplo, fa festejos do Bumba-Meu-Boi, nos cortejos do Maracatu. Nessas praticas, a escatologia, a blasfémia, e a obscenidade na palavra e nos atos [assim como nao eram em Rabelais, nao sio] meramente abusivas: [so] repre- sentagées de vitalidade e liberdade irreprimiveis. E também ambivalentes, como Bakhtin insisti em justificar, enfatizando aquilo que era positivo: qualquer énfase para as fungdes do corpo significava um protesto contra a cultura oficial do decoro e um triunfo da vida sobre a morte. (HUTCHEON, 2010, p. 265) do estudo que Bakhtin delineia, ao perscrutar a obra do francés, pude identificar serem as praticas cotidianas, da praca publica, das feiras, os ambientes intimamente ligados as massas Populi res, os lugares de onde refletem e também emergem indicos que i es estudos em qu ficam as ideologias que circula dade. Nese’ q m na socie nae izaga le Ponzi filésofo voltava suas lentes para 2 carnavalizacao, =a Fame (2008, p. 170) ele dirigia “a atencao especial ao riso rit mo- ara pular, encontrando neles a chave P' Mediado pela leitura explicar imagens especificas, am na 30 artistica da cultura popular que penetram Ao ; tivos e géneros de produc ” - 2 caso de Rabelais’ zar uma compreensae literatura oficial, como NO uemati - ’ ojo para esd rincipio car- E nesse respaldo que me ap’ saentes € ‘consagrados do princip' ‘culos per™ a das relagdes e dos vel Digitalizado com CamScanner idi Jineiam uma navalesco nas manifestagdes da vida cotidiana que de ma ordem estética cultura popular, em que 0S sujeitos tém re para conceberem belissimas manifestagBes que se inserem na tradicig . fendmeno das atividades estiveig popular, o que permite observar que 0 ae ‘i da vida humana, concretizadas nos entremeios éticos, ol ferece um farto laboratério de onde se podem filtrar imagens advindas do realismo gro. tesco que encontramos em Rabelais. . Veve, pois que a porta de entrada escolhida por Bakhtin para estudar a cultura popular na Idade Média e Renascimento foi 0 riso, por este evi. denciar os lugares nos quais aconteciam os jogos de lene, onde estavam Presentes na mesma atmosfera a praca e o palacio. E assim como ha uma ordem que é coercitiva na tessitura do discurso (FOUCAULT, 2006), en- xergo 0 realismo grotesco do qual fala Bakhtin (2008) ainda hoje como e- lemento constitutivo da ordem estética da cultura popular, principalmen- te, os aspectos referentes ao corpo grotesco. Se no discurso a ordem arqui- tet6nica retumbam da oficialidade, do que Bakhtin chamaria de palacio,na cultura popular essa ordem é delineada na praca e nos entremeios das Praticas cotidianas e por esta razao ela ¢ dialdgica por natureza. Deste modo, além do riso jé estabelecido por Bakhtin, para olhar as manifestagdes da cultura popular na contemporaneidade, elejo como lente de aumento a coletividade, que, a meu ver, permite enxergar a quebra de hierarquias e da ordem das coisas ditadas pela ideologia Oficial. Penso ser este corpo social coletivo que possibilita destrinchar algumas manifestagdes culturais que encarnam tais imagens do realismo Brotesco e que séo consolidadas, por vezes de forma estética, como por exemplo, os bonecées do carnaval de Olinda, que se inserem nas préticas Ccotidianas, de grupos sociais bem delineados, do povo, e funcionam co- mo predicados de altissima importancia Para arquitetar sua cultura, em que age a transposicdo da linguagem do carnaval a literaria, que se refle te em varias formas simbélicas (ages da massa, gestos individuais, etc), unificadas pela visio comum do mundo que todas elas expressam, por meio das quais se é permitido a jungio do palacio e da Praga no mesmo local, e agem como elemento definidor de uma possivel estética do que Bakhtin entende por cultura popular, 126 Digitalizado com CamScanner REFERENCIAS Mikhail. A cult , | A cultura popu Francois Rabelais. 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