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Vou-me embora D’Angola [Manuel Bandeira]

Vou-me embora D’Angola


Não sou amigo do “rei”
Não tenho o emprego que eu quero
Aqui sem comida dormirei

Vou-me embora D’angola


Aqui eu não sou feliz
A existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Ricardo de Abreu
Rei e falso gerente
Venha a ser presidente
Da nação que nunca tive

Fora, como farei ginástica


Andarei de carro
Montarei em moto potente
Dirigirei no asfalto
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira da praia
Mando chamar pelo ifood
O melhor dos Mc Lanches Felizes
Que no tempo de eu menino
Ouvia tanto falar
Vou-me embora D’Angola

Em Angola há pobreza
Até de água temos imperfeição
Aos meus olhos ofusca a tristeza
De não ter oportunidades em mãos
Há falta de comida
Mas de miséria não há
Tem prostitutas bonitas
Pelo alto desemprego que há.

E se eu estiver mais triste


Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
Não o escolhrei
Pois mesmo sabendo
Que na miséria dormirei,
Esperança não me falta.
Vou-me embora D’Angola.

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