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=F Conselho de Recursos da Previdéncia Social pmevivencin sociat. —_Conselho Pleno N’ de Protocolo do Recurso: 36892.008644/2013-19 Unidade de Origem: AGENCIA MOSSORO- Documento: 097.587.320-2 Recorrente: INSS Recorrido: MANOEL DANTAS DE AQUINO Assunto/Espécie Beneficio: RESTABELECIMENTO APOSENTADORIA POR INVALIDEZ Relator: Rodolfo Espinel Donadon RELATORIO © proceso em andlise tem por objeto o Pedido de Uniformizagio de Jurisprudéncia, formulado pelo INSS, em matéria acerca da incidéncia ou nao da decadéncia para a cessagio de beneficio mantido indevidamente em data anterior a Lei n° 9.784/99, bem como a restituigdo dos valores recebidos. Fago um paréntese apenas para destacar que o processo é oriundo do E- RECURSOS mas, por falta de adaptagdo do Sistema a época, foi necessério sua transformagao em processo fisico. E o que informa a Autarquia 4s fs. 94. Em uma sintese do processo, o beneficidrio Manoel Dantas de Aquino foi contemplado com aposentadoria por invalidez ao trabalhador rural em 11/03/1985. Todavia, ‘em 01/02/2013 0 INSS cessou o beneficio apés ter constatado que o beneficio permaneceu em manutengao mesmo com a filiagio do segurado como empregado urbano com vinculo iado em 01/08/1989 junto a Prefeitura de Mossord, com iltima remuneragao em 08/2012 (Ais.01/56).. Interposto recurso ordinario, este foi improvido pela 18* Junta de Recursos que confirmou a irregularidade na manutengao do beneficio em virtude do retorno voluntirio a0 trabalho, determinando a devolugdo dos valores compreendidos entre 01/03/2008 a 31/12/2012 em face do prazo prescricional (fls.71/73).. Inconformado, © requerente recorreu as Camaras de Julgamento requerendo a reforma da referida deciso, afirmando que nao caberia se falar em devolugao, ratificando sua boa-fé, posto que caberia ao INSS a fiscalizago do beneficio (fls.76/82). Em contrarrazées, o INSS solicitou a manutengao da decisio da Junta de Recursos (fls.84). Os autos foram distribuidos 4 01* Composig’o Adjunta da 03° Camara de Julgamento - CAJ que conheceu do recurso do requerente ¢ deu-lhe provimento (Acérdao n° 2767/2014). O fundamento do voto foi no sentido que ao INSS também se aplica o prazo decadencial para rever o beneficio, na forma do art. 103-A da Lei n® 8.213/91 e Parecer MPS/CJ n° 3.509-AGU/2005. Portanto, no prospera a cobranga dos valores recebidos indevidamente (ls. 85/87). 097.587.320-2 = © INSS formulou Pedido de Uniformizagio de Jurisprudéncia quando informa que no ambito do Conselho de Recursos da Previdéncia Social hd diversos entendimentos contraditérios acerca do tema. Forneceu Ementas de oito Acérdaios de Camaras de Julgamento. Afirma que mesmo ndo reconhecida a mé-fé, ora foi mantida a suspenséo/cessagao dos beneficios, sem a devolugdo dos valores; ora os beneficios foram reativados; ora manda 0 INSS cobrar os iiltimos cinco anos aplicando a prescrigéo; ora determina a cessagdo sem a devolugdo dos valores (fls.88/93). requerente foi comunicado do pedido do INSS ¢ forneceu suas contrarrazbes, reafirmando a boa-fé ¢ solicitou a manutengo do entendimento da Camara, quanto a decadéncia para 0 INSS rever o beneficio (f1s.98/101) A Presidente da 1* Composigdéo Adjunta da 3* CAJ emitiu despacho admitindo procedimento de Uniformizagio de Jurisprudéncia, por ter restado configurada a divergéncia na interpretagdo entre acérddos de Camaras de Julgamento do Conselho (fis. 103). Com 0 respaldo da Divisio de Assuntos Juridicos ~ DAJ/CRPS, o Procedimento de Uniformizagao de Jurisprudéncia foi instaurado pela Presidéncia do CRPS com distribuigo dos autos a este Conselheiro (fls. 105/106). Eo relatério, voto EMENTA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ AO TRABALHADOR RURAL. PEDIDO DE UNIFORMIZACAO DE JURISPRUDENCIA. Divergéncia jurisprudencial entre as Camaras de Julgamento no que tange a decadéncia para 0 INSS rever 0 beneficio mantido irregularmente. Competéncia para aniilise deste Conselho Pleno na forma do art. 15 ine.II do Regimento Interno do CRPS aprovado pela Portaria MPS n.° 548/201. Pressupostos de Admissibilidade do pedido alcangados na forma do art. 64 do mesmo Regimento. © art. 103-A da Lei n° 8.213/91, que inst decadencial para o INSS rever os beneficios, também se aplica aos beneficios em manutengio, devendo ser considerado, como termo a quo, a data da configuragao da sua manutengio ilegitima, Entendimento doutrinério e jurisprudencial. Pedido de Uniformizacio conhecido e improvido. prazo Trata-se de andlise de divergéncia de entendimento, no caso conereto, entre Cémaras de Julgamento envolvendo a decadéncia ou nao para o INSS rever beneficio, bem como a devolugdo de valores recebidos de forma irregular. E da competéncia deste Conselho Pleno uniformizar a jurisprudéncia administrativa demonstrada por divergéncias jurisprudenciais entre as Camaras de Julgamento em sede de recurso especial, conforme disciplinado no art. 15, inc. Il, do Regimento Interno do CRPS, aprovado pela Portaria MPS n.° $48/2011, a saber: “Ant. 15. Compete ao Conselho Pleno: vrsanamea f- a) I~ uniformizar, no caso concreto, as divergéncias jurisprudenciais entre as Juntas de Recursos nas matérias de sua alcada ou entre as Camaras de julgamento em sede de recurso especial, mediante a emissao de resoluedo. (-J (grifo nosso) Passo a analisar, ainda na fase de admissibilidade do pedido de Uniformizagao de Jurisprudéncia, os pressupostos do seu requerimento com a citagao do art. 64, incl, §§ I° ¢ 6° do mesmo Regimento Intemo: Art. 64. O Pedido de Uniformizacdo de Jurisprudéncia poderé ser requerido em casos concretos, pelas partes do processo, dirigido ao Presidente do respectivo Grgio julgador, nas seguintes hipdteses: 1 — quando houver divergéncia na interpretacdo em matéria de direito entre acérdéos de Camaras de Julgamento do CRPS, em sede de recurso especial, ou entre estes e resolugdes do Conselho Pleno; ou t) § 1° A divergéncia deverd ser demonstrada mediante a indicagto do acérdéo divergente, proferido nas iltimos cinco anos, por outro drg@o julgador, composiciio de julgamento, ou, ainda, por resoluedo do Conselho Pleno.” § 6° O Conselho Pleno poderd pronunciar-se pelo nao conhecimento do pedido de uniformizacao ou pelo seu conhecimento e seguintes conclusdes: I~ edig&éo de Emunciado, com forca normativa vinculante, quando houver aprovacdo da maioria absoluta de seus membros; II — edigao de Resolucao para 0 caso concreto, quando houver aprovagiio da ‘maioria simples de seus membros.” A divergéncia de entendimentos entre Camaras foi devidamente demonstrada pelo INSS com os acérdos que juntou em seu pedido. Em seu pedido de Uniformizagao, o INSS traz varias vertentes acerca da aplicagao ou nao da decadéncia. A 01° Composigao Adjunta da 03" Camara de Julgamento - CAJ aplicou o prazo decadencial previsto no art. 103-A da Lei n° 8.213/91 e Parecer MPS/CJ n° 3,509-AGU/2005 para vedar a revisio do beneficio. A divergéncia com os Acérddos das Camaras de Julgamento (CAJ) implicam na decadéncia, nfo apenas para cobranga, mas para a propria revisio do beneficio; reviséio com aplicago do prazo prescricional; boa-fé ou mé-fé da parte beneficiada, No que tange a decadéncia para o INSS rever 0 processo, a Lei n° 9.784/99, em seu art, 54, tratou da decadéncia quinquenal do direito da Administragdo de anular os atos administrativos de que decorressem efeitos favordveis para os destinatarios (majorada para 10 anos com o advento do art. 103-A da Lei n.° 8.213/91 que foi acrescentado pela Medida Provisoria n.° 138, de 19/11/03, convertida na Lei n.° 10.839, de 05/02/04), A redagdo do art, 103-A da Lei n° 8.213/91 é a seguinte: Art. 103-A. O direito da Previdéncia Social de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favordveis para os seus beneficidrios decai em dez anos, ovrserne2 we contados da data em que foram praticados, salvo comprovada mé-fé. (Incluido pela Lei n® 10.839, de 2004) $10 No caso de efeitos patrimoniais continuos, 0 prazo decadencial contar-se-4 da percepeao do primeiro pagamento De nada adianta discorrer sobre a aplicagio ou nfio da decadéncia em atos da Administragao se um primeiro ponto ndo for superado: a m4-f8 ou boa-fé do beneficidrio. Isso porque esta previsto em lei que a mé-fé & causa de supresso do prazo decadencial. Por meio da Medida Provisoria n° 242, de 24/03/05, pretendeu o Executivo acrescentar 0 § 4° ao citado art. 103-A. Por outro lado, foi rejeitado pelo Ato Declaratério n.° 1, do Presidente do Senado Federal, publicado no DOU em 21/07/05. Tinha como redagao: Art1O3-A &) § 4° Presume-se mécfé do beneficiério nos casos de percepedo cumulativa de beneficios vedada por Lei, devendo ser cancelado 0 beneficio mantido indevidamente” Houve uma tentativa de conceituar a mé-fé na percepgdo cumulativa de beneficios, certamente, tal se estenderia a todas as demais irregularidades como a do caso dos autos. Porém, a partir do momento que no houve essa previsto legal, incube a Autarquia 0 dever de provar a mé-fé, instituto que ndo é presumivel. A maxima do direito € que a boa-fé se presume ¢ a mé-fé exige prova cabal. 0 INSS nao apresentou nenhum elemento de mé-fé por parte do requerente. Nao houve fraude na manutengdo do beneficio. Houve 0 descumprimento por parte do INSS de seu dever legal de fiscalizar o beneficio em tempo habil. Portanto, o proprio compartilhamento da culpa entre o INSS, que no cessou 0 beneficio quando deveria, e o requerente, que foi omisso ao longo dos anos de seu vinculo, inviabiliza a caracterizagto da ma-fé. Superado esse tema, voltamos a anélise da Decadéncia. O Ministério da Previdéncia Social tratou da eficdcia da decadéncia para o INSS rever os beneficios, na forma do art. 103-A da Lei n.° 8.213/91. Para este entendimento, temos 0 Parecer/MPS/CJ n.° 3,509/2005, estabelecendo que: “(..) 0s atos da Previdéncia Social relativas d matéria de beneficio, praticados antes do advento da Lei n° 9.784/99, 0 prazo decadencial foi estendido para dez anos (Medida Provisdria n° 138, de 19/11/2003, convertida na Lei n° 10.839, de 05/02/2004) e, da mesma forma, sé comeca a correr a partir de 01° de fevereiro de 1999.”, "(..) e decaird apenas a partir de 1°de fevereiro de 2009, quando se completa dez anos contados do inicio da vigéneia daquele diploma.” Note-se que Parecer refere ao prazo decadencial do proprio INSS em anular os seus atos. Para os processos concedidos em data anterior a .° 9.784/99, decairia apenas em 01/02/2009. Este Parecer, inclusive, foi convalidado no Parecer Conjur/MPS n.° 616/2010 em sua Questdo 22, a saber: 97.587.320-2 Ze 097597.320-2 Parecer CONJUR/MPSIN.” 616/2010 bo) Questo 22. O direito da Previdéncia Social de anular os atos de que decorram efeitos favordveis a seus beneficidrios, quando praticados antes da Lei n° 9.784/99, decai apenas a partir de 1-2-2009 (of. Parecer MPS/CJ n? 3509/2005)? A diivida deve-se & existéncia de prazo fixado antes da Lei n° 9.784/1999, pelo art, 207 do Dec. n° 89.312/1984. Esse artigo estabelecia um prazo geral de decadéncia contra o INSS ow impedia apenas a revisiio de decisbes tomadas em grau de recurso administrativo? 138. Esse artigo impedia apenas a revisdo de decisdes tomadas em grau de recurso administrativo. Vejamos 0 texto do citado dispositive da CLPS/1984, constante do titulo especifico que trata do recurso administrative e da revisto dos julgados do Conselho de Recursos da Previdéncia Social: "Art. 207. O processo de interesse de beneficidrio ou empresa nao pode ser revisto apés 5 (cinco) anos contados de sua decisdo final, ficando dispensada a conservacao da documentagio respectiva além desse prazo”. 139, Atualmente, é de dez anos 0 prazo decadencial para o INSS amular os atos de que decorram efeitos favoréveis aos seus beneficiérios, contados do dia primeiro do més seguinte ao do recebimento do primeira pagamento, salvo comprovada ma-fé. E 0 que dispde o art. 103-4, da Lei n° 8.213, de 1991, acrescentado pela Lei n” 10.839, de 5 de fevereiro de 2004, fruto da conversio em lei da Medida Proviséria n° 138, de 19 de novembro de 2003. 140, Por sua vez, 0 prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei n® 9.784, de 29 de janeiro de 1999, quanto aos atos a ela anteriores, comeca a correr apenas a partir de 1° de fevereiro de 1999, data da vigéncia da referida Lel. Por conseguinte, 0 direito de a Previdéncia Social anular os atos de que decorram efeitos favordveis a seus beneficidrios, quando praticados antes da Lei n° 9.784, de 1999, decairé apenas a partir de 1° de fevereiro de 2009, quando se completam dez anos contados do inicio da vigéncia da referida Lei. 141, Ressalte-se que a Lei n° 8.213, de 1991, também estabeleceu 0 prazo decadencial de dez anos de todo ¢ qualquer direito ou ago do segurado ou beneficidrio para a revisdo do ato de concesso do beneficio (art. 103). Ndo se deve confundir esse prazo com o de prescrigdo gitingitenal que fulmina toda e qualquer agdo para haver prestagbes vencidas ou quaisquer restituigies ou diferengas devidas pelo INSS aos seus beneficiérios, ressalvado 0 direito dos ‘menores, incapazes ¢ ausentes, na forma do Cédigo Civil (art. 103, pardgrafo tinico). 142, Em sintese: concedido 0 beneficio, inicia-se a contagem de dois prazos decadenciais distintos, de dez anos, um para o INSS e outro para o beneficidrio. 143. Nos termos do art. 103-A da Lei n° 8.213, de 1991, 0 INSS dispoe de dez nos para instaurar o processo de anulacdo do ato de concessito do beneficio deferido por erro ou ei vido, salvo comprovada mi-fé. Se ficar_ comprovada mé-fé do beneficidrio, 0 ato de concessito do beneficio fraudulentamente alcancado poderd ser revisto a qualquer tempo 144. Jé os segurados ou beneficidrios, luz do disposto no art. 103 da Lei n* 8.213, de 1991, também deverdo acionar 0 INSS dentro do prazo dez anos para Z revisdo da renda mensal inicial do beneficio, sob pena de decadéneia. Contudo, poderao ser efetivamente cobradas diferencas resultantes do ato de revistio apenas em relagdo aos iiltimas cinco anos de recebimento, por forca da prescrisao guingienal, nos termos do pardgrafo tinico do art. 103 da Lei n° 8.213, de 1991. (grifo nosso) A parte em destaque do referido Parecer indica 0 prazo decadencial para o INSS instaurar 0 processo de anulagao do ato de concessio do beneficio deferido por erro ou em valor superior ao devido. E omisso quanto 4_anulacho do ato de manutencio do beneficio, caso dos autos. Ou seja, que o INSS tem o prazo de dez anos para anular o beneficio concedido irregularmente € pacifico ¢ nfio merece maiores apontamentos. Todavia, o cere da questo saber se esse prazo decadencial também se aplica para cessar beneficio regularmente concedido, mas indevidamente mantido a partir de determinado ato, como no caso dos autos, aps a constatagao do vinculo empregaticio. O Supremo Tribunal Federal — STF - editou a Samula 473 que versa sobre a anulagao dos atos da Administragao, mas devendo ser respeitados os direitos jé adquiridos. Eis a sua redagdo: Stimula 473 do STF A Administracdo pode anular seus préprios atos, quando eivados de vicios que tornem ilegais, porque deles nao se originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniéncia ou oportunidade, respeitados as direitos adquiridas, e ressalvada, em todos os casos, a apreciagéio judicial. art, 53 da Lei n° 9.784/99 também indica que “A Administracdo deve anular seus préprios atos, quando eivados de vicio de legalidade, e pode revogé-los por motivo de conveniéncia ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.” Quando se menciona que a Administrago pode anular seus préprios atos, adentra- se na seara do direito administrativo. Nesse ponto, peco vénia para me socorrer aos entendimentos dos doutos doutrinadores da matéria, Segundo Odete Medauar, 0 ato administrativo é unilateral (editado pela Autoridade), tem presungio de legalidade, legitimidade e veracidade. E auto-executavel pela propria Administragdo ¢ tem seus efeitos a todos de forma coercitiva, logo, imperioso! Para Celso Anténio Bandeira de Melo, os atos administrativos praticados em desacordo com a lei sfo invélidos. A “invalidagdo surge para cumprir um duplo objetivo impedir que a fonte produtora de efeitos (0 ato) continue a gerar novas relacdes e suprimir as ja nascida, Portanto, ataca cumulativamente 0 ato ¢ os efeitos, inclusive os jé ocorridos.” Para 0 autor, tem-se os atos nulos (no convalidaveis); anulveis (convalidaveis) € inexistentes (ante sua gravidade, no convalidam e sfio imprescritiveis). O ato nulo ou anulivel produz efeitos. A Administragao tem a obrigagao de anular um ato insuscetivel de L MEDAUAR, Odete, Administrago Publica: do ato ao processo, pgs. 408/409; em ARAGAO, Alexandre Santos de; MARQUES NETO, Floriano de Azevedo (Coord.). Direito administrativo e seus novos paradigmas. Belo Horizonte; Férum, 2012. 097 597.320-2 a convalidagdo, porém, se tal ja no estiver estabilizado pelo Direito, quando nao mais havera “situacdo juridica invélida.” Nessa situagdo, entre outros, se aplica a decadéncia.” Destaco: “Dado 0 principio da legalidade, fundamentatissimo para o Direito Administrative, a Administragdo nio pode conviver com relacées juridicas formadas ilicitamente. Donde, é dever seu recompor a legalidade ferida. Ora, tanto se recompée a legalidade fulminando um ato viciado, quanto convalidando-o. £ de notar que esta tiltima providéncia tem, ainda, em seu abono o principio da seguranca juridica, cujo relevo & desnecessdrio encarecer A decadéncia e a prescri¢o demonstram a importincia que 0 Direito the atribuiu, Acresce que também o principio da boa-fé - sobreposse ante atos administrativos, jé que gozam de presungao de legitimidade — concorre em prol da convalidagdo, para evitar gravames ao administrado de boa-fé."’ (grifo nosso) © autor trata a prescrigdo/decadéncia como “barreiras a invalidagao” do ato. Aprofundando o tema, afirma que a Lei n° 9.784/99 nao fez distingao entre atos nulos ou anulaveis para fins de decadéncia do direito da Administragdo rever atos que decorram efeitos favordveis aos administrados. Quando a imprescritibilidade do direito da Fazenda de opor-se aos seus préprios atos, “O estado de pendéncia eterna parece-nos incompativel com 0 objetivo nuclear da ordenac@o juridica, que é a ordem, a estabilidade”. Em capitulo em que discorre acerca da prescrigao/decadéncia, infere 0 autor que tais institutos “Pode ocorrer tanto em relagdo ao provimento administrativo inicial relacionado a uma dada situagdo quanto em relacdo @ possibilidade de reincidir sobre uma dada situagdo (provimento secundério), para anulé-la.”. Portanto, a imprescritibilidade foi unicamente prevista na Constituigdo Federal no art, 5° ines. LII e LXIV (crimes de racismo ¢ ago armada contra a ordem constitucional), sempre em matéria penal.* Antonio Rulli Neto ¢ Justine Esmeralda Rulli, em artigo intitulado Seguranca Juridica e Ato Administrativo,’ também tratam a decadéncia instituida pela Lei n° 9.784/99 como limite a atuago da Administrago na revogagao do ato administrativo. Destaco da obra dos autores: “O decurso de lapso temporal razodvel, sem que qualquer impugnagdo haja ocorrido, sela a situag&o criada pelo ato administrative, ainda que ilegal, preservando a boa-fé daqueles que confiaram na Administragdo Piiblica, que depositaram confianca na inalterabilidade da situagao. Nem hd que se falar, neste caso, em ponderacdo de principias (legalidade e seguranca juridica), pois tal ponderacao jé foi realizada pelo préprio legislador que, ao determinar a imutabilidade do ato apés 0 decurso temporal de cinco anos, escolheu 0 principio da seguranga juridica como regra nessas hipdteses."”" 2 DEMELLO, Celso Antonio Bandeira, Curso de Direito Administrativo, 308 ed. Sao Paulo, Malheiros, 2013, gs-468, 471, 475/476, 483/486, 486/488) 3 idem, pag.424 4 ibder, pags. 488, 493, 1077 e 1081 5 em Os Caminhos do Ato Administ 2011 Idem, pag. 188. », Coord. Odete Medauar e Vitor Rhein Schirato, Revista dos Tribunais, 097.887.3202 Wr A Constituicdo Federal de 1988, em seu art. 5* inc. XXXVI, de forma expressa informa que “a lei n&o prejudicaré o direito adquirido, © ato juridico perfeito e a coisa julgada”. Conforme nossa Lei de Introdugio a0 Cédigo Civil, Decreto-Lei n° 4.657/42, define ato juridico perfeito como aquele ja consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. O direito adquirido é aquele “cujo comeco do exercicio tenha termo pré-fixo, ou condigao pré-estabelecida inalteravel, a arbitrio de outrem”. Por fim, a coisa julgada é aquela onde nao mais cabe recurso (art, 6° e parégrafos).. Os autores que defendem a decadéncia como limite na atuagdo da Administrago, fazem um paralelo ao princfpio da seguranga juridica. Marcos J. T. do Amaral Filho, na obra Limites ao Exercfcio do Poder Discricionério em face do principio da seguranga juridica (em Os Caminhos do Ato Administrativo, Coord. Odete Medauar e Vitor Rhein Schirato, Revista dos Tribunais, 2011), informa: “O principio da seguranea juridica passou a ser expressamente admitido como fundamento para a permanéncia, no mundo juridico, de atos administrativos considerados até entiio invélidos (..). Além disso, novos instrumentos de direito processual passaram a ser admitidos mediante a edigdo das leis 9868/1999 9.882/1999, dispondo sobre a acd direta de inconstitucionalidade e a arguigao de descumprimento de preceito fundamental, admitindo igualmente a prevaléncia da seguranca juridica como valor constitucional a ser preservado, mesmo em face de ato adiministrativo invéilido. (..) A admissdo da decadéncia como instituto também aplicével ao universo dos atos adminisirativos derroga preceitos que atribuiam & Administragdo 0 poder discricionério de anular ato administrative que contivesse contetido ilegal, nos termos do preceituado na Stomula 473 do STF.” (pags. 280/281). Fechando esse breve estudo dout © que se conclui € que o prazo decadencial é sim um limitador da atuago da AdministragZo, seja para ceifar atos de concessio ou de manutengo, nao importando se o ato € nulo ou anulavel. No caso dos autos, se o legislador estabeleceu 0 prazo de dez anos para o INSS rever 0 beneficio ¢, inclusive, estabeleceu no § 1° do art. 103-A da Lei n° 8.213/91 que o prazo decadencial, no caso de efeitos patrimoniais continuos se inicia do primeiro pagamento, por consequncia, entendo que a contagem do prazo decadencial se iniciaria no dia seguinte a constatago do vinculo empregaticio. Retomando a anélise do Parecer MPS/CJ/n.° 3509/2005, do seu corpo, destaco: G) 51. Isso porque, conforme jd relatado, a decadéncia é institute que pretende ‘penalizar a inércia da Administracdo, concedendo the prazo razodvel para que verifique a legalidade de seus proprios atos e jue ndo forem iveis com o. enamento juridico, 52, Caso tal prazo razodvel se estenda indefinidamente, ou seja repetidamente prolongado, a previsio de decadéncia ndo mais alcancard sua finalidade, pois nna pritica ndo mais se dispord de instrumento habil a assegurar a eficiéncia da Administracdo, principio este de sede constitucional, alids (art. 37, caput). (..) 097 87.3202 £ Estabelecido prazo legal para decadéncii esse ultrapassado implica na convalidago do ato praticado. No campo da Jurisprudéncia, © Supremo Tribunal Federal reconheceu a Repercusstio Geral desse tema, nos autos do Recurso Extraordinario ~ RE 699.535, pretendido pelo INSS. Na ocasifo, o INSS pretendia rever a renda do beneficio de pensdo por morte oriundo de aposentadoria de ex-combatente. Transcrevo alguns trechos do Voto do Excl. Min. Luiz Fux quando admitiu a Repercusstio Geral do tema, em 14/02/2013: RECURSO EXTRAORDINARIO, PREVIDENCIARIO. MILITAR APOSENTADO. EX-COMBATENTE. PENSAQ POR MORTE. REVISAO DE OFICIO. REDUCAO DA REMUNERACAO MENSAL. AUSENCIA DE CONTRADITORIO PREVIO, DECADENCIA. ARTIGO 54, LEI N° 9.784/99. ARTIGO 103-A LEI N° 8213/91. ALEGADA OFENSA AQ ATO JURIDICO PERFEITO. REPERCUSSAO GERAL RECONHECIDA. c) Para desconstituir 0 ato administrativo de concessdo de aposentadoria de ex- combatente (posteriormente convertido em pensio por morte, para a vitiva), sustenta a Administracdo a inocorréncia da decadéncia, pois, segundo argumenta, 0 erro de céleulo da remuneracdo mensal renovar-se-ia em todas as aportunidades em que se procedera ao reajuste da pensdo, por equivoco na aplicago da regra da lei instituidora da aposentadoria de ex-combatente - Lei n° 5.698/71. O Supremo Tribunal Federal tem se manifestado no sentido de balizar os efeitos decorrentes da revisdo de ato administrative que implique em modificacdo de situagées juridicas consolidadas, sobretudo em razdo da decadéncia para a Administracio Piblica rever atos considerados equivocados, erréneos ou inconvenientes. Ademais, & premissa fitica 0 transcurso in albis lapso temporal superior ao decenal, seja contado da concessao inicial da aposentadoria, seja considerada a instituicdo da pensiio por morte, sem que o INSS percebesse 0 alegado erro de cdleulo da remuneracao mensal. (..) (..)estd claro o entendimento segundo o qual a Administracto Piiblica também se sujeita as regras de presericho ¢ decadéncia, sobretudo as estabelecidas no artigo 54 da Lei n° 9.784/99 ¢ artigo 103-A da Lei n® 8213/91. (grifo nosso) Em sede de Superior Tribunal de Justiga, em deciséo monocratica, 0 Excl. Sr. Ministro Gilson Dipp, nos autos do AG n° 635176, publicado no DOU de 05/05/2005, tratou de andlise de penso por morte a filha maior de 21 anos, deu o seguinte entendimento’ 097.897.3202 (..) Nao obstante, consoante anteriormente explicitado, cumpre destacar que em recente julgamento - MS 9115/DF, Relator Minisro César Asfor Rocha e MS 9112/DF, Relatora Ministra Eliana Calmon, sesso de 16.02.2005 - a Bg. Corte Especial deste Tribunal pacificou entendimento no sentido de que, anteriormente a0 advento da Lei n° 9.784/99, a Administracio podia rever, a qualquer tempo, seus préprios atos quando eivados de nulidade, nos moldes como disposto nas Stimulas 346 e 473 do Supremo Tribunal Federal. Restou ainda consignado, que 9 prazo previsto na Lei n° 9.784/99 somente poderia ser com Janeiro de 1999, sob pena de se conceder efeito retroativo @ referida Lei a Na hipstese em comento, a Administracdo cancelou o beneficio em maio de 2002. Assim, in_casu. nos moldes do entendimento esposado pela Corte Especial, ndo hd que se falar em prescricao administrativa. Neste contexto, deve prevalecer 0 tiltimo entendimento prescrito pela Eg. Corte Especial, em face da missdio constitucional deste Tribunal quanto a uniformizago da matéria infraconstitucional em sede de recurso especial No caso, nfio se reconheceu a decadéncia em virtude do INSS ter revisto 0 ato em 2002, mas é de extrair o entendimento de que a decadéncia para o INS rever terminaria apenas em 01/2009, ou seja, a Corte infraconstitucional ndo deixou de verificar 0 prazo decadencial no pedido do INSS. Nao obstante a anélise delimitada no Pedido de Uniformizagao (nao podendo esse Conselho Pleno transpor barreiras como analisar matéria diversa da pretendida ante a excepcionalidade da pega apresentada), € oportuno destacar que o segurado era detentor de aposentadoria por invalidez. ao trabalhador rural, beneficio previsto & época no art. 294 do Decreto n° 83.080/79, Regulamento dos Beneficios da Previdéncia Social, ¢ em seu art. 296, informa que, enquanto 0 aposentado no completar 55 (cingiienta e cinco) anos de idade, & facultado a previdéncia social verificar, para efeito de manutengio ou cancelamento do beneficio, se a invalidez persiste. © ssegurado nasceu em 21/03/1963. A idade de 55 anos somente serd implementada em 21/03/2018. Logo, para fins de revisio médica ainda nao esgotou o direito do INSS rever o beneficio. Evidente que nfo poderia rever com 0 argumento de retomo ao trabalho 0 que vimos ja decaiu. Sao situagdes distintas. Porém, essa matéria sequer foi debatida nos autos, ndo tendo o Pleno a competéncia para enfrenta-la em tinica instancia, Portanto, alinho-me teorin de que o INSS estaria impossibilitado de revisar © beneficio, ante 0 esgotamento do prazo decadencial (matéria efetivamente pedida no Pedido de Uniformizacao de Jurisprudéncia). Nestes termos, conheco do pedido de Uniformizacao de Jurisprudéncia ¢ no mérito, negar-Ihe provimento, para 1) Reconhecer que 0 prazo decadencial previsto no art. 103-A da Lei n° 8.213/91 também se aplica aos atos de manutengo de beneficios sendo a tese contida no Acérdao ora impugnado passivel de ser mantida; Ante todo ao exposto, VOTO no sentido de, preliminarmente, CONHECER DO PEDIDO DE UNIFORMIZACAO DE JURISPRUDENCIA para, no mérito, NEGAR- LHE PROVIMENTO. Brasilia - DF, 26 de outubro de 2015. 097.897.3202 Ministério da Previdéncia Social Conselho de Recursos da Previdéncia Social Conselho Pleno Decisério Resolugdo n° 23 /2015 Vistos e relatados os presentes autos, em sessdo realizada hoje, ACORDAM os membros do Conselho Pleno, por unanimidade, no sentido de, preliminarmente, CONHECER DO PEDIDO DE UNIFORMIZACAO DE JURISPRUDENCIA para, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, de acordo com 0 voto do Relator © sua fundamentagao. Participaram, ainda, do presente julgamento os (as) Conselheiros (as): Ana Cristina Evangelista, Livia Valéria Lino Gomes, Rita Goret da Silva, Maria Madalena Silva Lima, Maria Cecilia de Araijo, Geraldo Almir Arruda, Rafael Schmidt Waldrich, Nadia Cristina Paulo dos Santos Paiva, Victor Machado Marini, Maria Lticia Missagia de Matos Castro, Avani Nunes da Silva, Eneida da Costa Alvim, Tarsila Otaviano da Costa ¢ Fernanda de Oliveira Ayres. Brasilia-DF, 26 de outubro de015 Espinel Donadon Relator Rod 097 587.3002

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