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Polis IRO)ENS Revista Latinoamericana 41 | 2015 Ciencias sociales : desafios y perspectivas Pela vida, pela dignidade e pelo territério: um novo léxico teérico politico desde as lutas sociais na América Latina/Abya Yala/Quilombola Porla vida, la dignidad y el Territorio: un nuevo léxico tebrico politico desde las luchas sociales en Latinoamérica/Abya Yala/Quilombola For life, dignity and territory: a new theoretical political lexicon springing from social struggles in Latin America/AbyaYala/Quilombola Carlos Walter Porto-Gongalves © OpenEdition Journals Edigdo electronica URL: htp journals openedition org/polis/11927 ISSN: 07185568 Editora Centro de Investigacién Sociedad y Poltcas Publicas (C'SPO) Reférencia eletrénica Carios Walter Parto-Goncalves, «Pela vida, pela dignidade e pelo teritério: um novo léxico tesco poltico desde as lutas socias na América Latina/Abya Yala/Quilombola», Pols Online), 41 | 2015, posto online no cia 20 selembro 2018, consultado @ 01 maio 2018, URL: ita /? Journals.openedition orgipolis/11027 Este documento foi criado de forma automalica no dia 1 Malo 2019, Pos Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. Pela vida, pela dignidade e pelo territério: um novo léxico tedrico politico desde as lutas sociais na América Latina/Abya Yala/Quilombola Porla vida, la dignidad y el Territorio: un nuevo léxico tedrico politico desde las luchas sociales en Latinoamérica/Abya Yala/Quilombola For life, dignity and territory: a new theoretical political lexicon springing from social struggles in Latin America/AbyaYala/Quilombola Carlos Walter Porto-Gongalves NOTA DEL EDITOR Recibido: 10.08.2015 Aceptado: 25.08.2015 “ou Inventamos ou Erramos” Simén Rodrigues Para comegar, destaquemos que nossa formacio social/nossas formagSes sociais esté/ esto marcada/s pelo desafio da emaneipacio haja vista o carster da subordinado com que se se d& nossa insergdo no sistema mundo capitalista moderno colonial desde seu primeiro momento, em 1492, E, mais, esse cardter subordinado exige que nos desprendamos das leituras colonials que se forjaram sobre nés que associam esse caréter subordinado a alguma natureza inferior seja de ordem cultural ou mesmo natural. Afirmamos, pois, que é da natureza do pensamento/acao colonial inferiorizar o diferente como condicéo da sua colonizacdo: ninguém coloniza ninguém que considere igual ou eventualmente superior. Enfim, a inferiorizagiodo outro/do diferente & condigio da colonizagao. Logo, descolonizemos. Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. 2 Registremos que até 1492 todos os caminhos levavam ao Oriente e foi a tomada de Constantinopla que abriu a busca de outros caminhos ¢ a Europa, até entdo, tinha uma posi¢do marginal nos principais circuitos comerciais de larga duracdo. Que desafios se colocam para um continente, sobretudo para sua porgao subordinada - América Latina/ ‘bya Yala/Quilombola - quando a centralidade do Atlantico Norte passa ser deslocada geograficamente? lado olvidado desse sistema, A razdo do sistema mundo capitalista moderno colonial é, para nés, razio sofrida pois fundada na opressdo/exploragao, conceitos que, para nés, s8o no s6 conceitos, mas sentimento. Dai a inspiragdo de Orlando Fals Borda, recentemente retomada por Arturo Escobar, de um pensamento que sente, sentipensamento. 4 Efalar de um sentipensamento préprio desde esse continente que nos cabe habitar e que nos habita exige um didlogo aberto ao mundo, pois assim no conformamos. A ‘modernidade capitalista nos habita ainda que marcada pela colonialidade. Afinal, os primeiros estabelecimentos organizados precipuamente para acumular capital foram forjados aqui com as plantations de cana no Caribe, em Cuba e Halt, e, na América do Sul, no Brasil. As primeiras manufaturas modernas que o mundo conhecera para produzir para um mercado mundial foram os engenhos de agticar e exportdvamos essa manufatura, ‘ agticar, endo matéria prima, a cana, como nos ensinam nas escolas e uma ciéncia social ‘colonizada repete ad nausean. A época ninguém produzia em grandes extensdes de ‘monoculturas que era a forma moderna de produzir nao para si mesmo, mas para outrem, para terceiros. © trabalho escravo fez. parte dessa modernidade colonial. 0 racismo também e, por aqui, raca e classe se forjam juntas, o que exige outros conceitos jé censaiados (José Carlos Maridtegui, Florestan Fernandes, Pablo Gonzalez. Casanova, Anfbal Quijano) © que devemos aprofundar. Enfim, técnicas modernas, coloniais. Somos ‘modernos (e colonials) hé 500 anos! mito da modernidade tecnolégica, que tanto sucesso ainda faz. entre nés, tem larga data, 5 Orlando Fals Borda (Fals Borda, 1980) jé nos advertira que as ciéncias sociais, de um modo geral, t8m tomado dois caminhos: “um académico e outro extra-académico”. Quem poderia negar a contribuigdo de Karl Marx e Antonio Gramsci, para o desenvolvimento das ciéncias sociais, apesar de suas contribuigdes terem sido feitas longe da academia? Pierre Bourdieu jé assinalara que “é da natureza da realidade social a luta permanente para dizer 0 que é a realidade social”. Para aqueles, como nés, que nos colocamos na perspectiva dos grupos-classes socials/etnias/povos/nacionalidades que t8m em comum a condigdo de subaltemnizagao no contexto das relagées sociais e de poder do sistema ‘mundo capitalista moderno-colonial patriarcal fundamental tomarmos em conta o lugar de enunciagéo do discurso que, ao dizer 0 que € a realidade social contribui para constitui-la, Marx ja havia assinalado que as ideias dominantes muma determinada Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. sociedade sdo as ideias das classes dominantes, ainda que essas idetas tenham por serem dominantes nao podem deixar de dialogar com o que & dominado. Afinal, a dominacdo no & abstrata, mas sim parte das préticas socials. Nao hé dominagao sem resisténcia, -de enunciagao do discurso das cincias sociais foi devidamente levado em conta. Por cexemplo, uma das marcas do pensamento europeu que colonizou o mundo é a primazia do tempo e o olvido do espaco. Alids, as sociedades/povos/regides do mundo foram arroladas num continuum de natureza & cultura numa linha temporal de sociedades/povos/regiGes atrasados/adiantados onde os povos agricolas/cacadores/coletores deveriam deixar de sé-lo para se tornaram urbano-industrializados, tal como os europeus que ocupavam pice de um progresso civilizatério que se acreditara uni-versal, assim mesmo uni-versal, ou seja, numa versio que se quer tinica do devir societério/civilizatério. Quando nas ciéncias sociais se fala de lugar de emunciagdo do discurso quase sempre se quer referir a0 lugar na hierarquia/estrutura social e de poder (classe dominante e/ou classe dominada) onde se olvida seu lugar geogréfico, Lénin formulou a teoria do imperialismo que, na verdade, é 0 capitalismo visto de outro lugar distinto daquele que Marx analisara em 0 Capital, e caracterizando os paises em coloniaise semicoloniais. $6 assim foi possfvel identificar 0 “elo fraco” do capitalismo nas contradigées geografico-politicas da época: a Riissia, A “revolugdo” ndo necessariamente se daria nos centros mais desenvolvidos do capitalismo, aliés como 0 século XX haveria de demonstrar cabalmente onde o proletariado realmente existente nao cumprira a missio que Ihes havia sido atribuida. ‘Aqui hé, mesmo no campo do pensamento ligado aos grupos/classes sociais subalternizados o mesmo mito urbanocéntrico, da cidade-luz. Embora tenhamos partido de uma caracterizacio feita pelo colombiano Orlando Fals Borda até aqui dialogamos com autores de uma outra geografia, europeia: Marx, Gramsci, Bourdieu, Wallerstein e Lénin, Com isso queremos sinalizar nosso compromisso de didlogo com o pensamento emancipatério venha de onde vier, por esse lugar que nos & comum, qual seja, de pensar/agir com/contra o sistema mundo capitalista moderno- colonial patriarcal que nos habita desde 0 seus grupos-classes sociais/etnias/povos nacionalidades subalternizados. Nesse sentido, junto com Walter Mignoloassumimos que 4 experiéncia colonial nos oferece uma perspectiva prépria de critica a esse sistema ‘mundo capitalista moderno-colonial que vai além da critica ao capitalismo, embora a incorpore. F assim tem sido, se nos descolonizamos e observamos a enorme contribuigdo do pensamento eritico que se desenvolve, e nao & de hoje, também em nosso continente. 0 venezuelano Simon Rodrigues jé nos alertara que “ou inventamos ou erramos” nos convidando a um pensamento préprio mostrando que a independéncia era nao s6 um proceso politico, que é, mas também epistémico. José Artigas jé nos convidara a uma integracio mais profunda que respeitasse os negros e os indigenas jé nos indicando um caminho para além das elites criollas. José Maria Caycedo com seu poema Los Dos ‘Américas j& nos alertara para nossa diferenca Latina na América ainda que com isso deixasse de fora os que José Artigas queria reunir na diferenga. Caycedo dava continuidade, assim, ao cardter anti-imperialista, muito antes da teoria imperialista de Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. Lénin, que Simon Bolivar havia identificado na Doutrina Monroe estadunidense, 0 mesmo ‘em José Marti que propusera Nuestra América, ele que como periodista havia “conhecido ‘© monstro por dentro” quando vivera nos Estados Unidos. 0 siléncio sobre o pensamento de Thoussant de L'Overture e sua agenda politica ainda pendente -a dupla independéncia - chega aos nossos dias como desafio ao pensamento social de nosso continente. As elites criollas se viram ameacadas pelo haitianismo, medo da tentativa de dupla emancipagao dos negros do Haiti, Recentemente, quando das comemoragdes dos bicentendrios de nossos paises, a data de referéncia foi 0 1810, ano da independéncia do México, ¢ no 0 1804 da independéncia do Haiti. Como afirma Anibal Quijano,“na América Latina o fim do. -colonialismo nao significou o fim da colonialidade”, 'Nosso continente experimentaria a primeira revolugdo do século XX protagonizada pelos campesindios/indigenatos (Armando Bartra/Darci Ribeiro) em 1910, no México. A Reforma Agréria entraria definitivamente como questo politica central para pensar a democracia e a justica social entre nés. Afinal, em torno da concentragdo da terra se estruturam relagdes sociais e de poder das mais perversas do mundo, fonte de desigualdades sociais profundas. Injustica social essa que traz junto consigo a discriminacio étnico-racial fazendo com que, entre nds, raga e classe sejam inseparsveis (Maridtegui) £, sublinhe-se, a violéncia contra os indigenas e os negros se agravou com a ascensio das elites criollas ao poder com as independéncias. Foi contra a violéncia aumentada depois da independéncia que se deu a maior revolta popular da histéria do Brasil com a Cabanagem, na Amazénia, entre 1835-1840, Os niimeros so impressionantes: fala-se de 35 mil mortos! A “conquista do deserto” argentino e a invasio do territério mapuche no Chile s6 se deu aps a ascensio da elite crilla. Tal como na Bolivia e no Paraguai. A invengdo da mestigagem nao foi suficiente para dirimir a injustiga social racializada. Ao contrério, a mesticagem foi mais uma ideologia/projeto de diluir a diferenca eludindo a discriminacao. Em suma, modernizagao-colonizagao. NO Onde se pretendeu enfrentar a oligarquia fundiéria, a violencia se mostrou cruel, como na Guatemala contra a revolucio democrétice-popular comandada por Jacobo Arbenz: o anticomunismo das oligarquias se mostrou com toda a violéncia colonial racializada contra os indigenas através de massacres. Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. Para superar o subdesenvolvimento entendido enquanto sub em relagdo a0 modelo eeuurocéntrico urbano-industrial o tema da dependéncia ganharé destaque entre as elites polticas ¢ intelectuais. z i B 3 3 a i 3 5 i | i i z 3 & j uma teoria descolonizadora original com os “‘condenados da terra” de Franz Fanon onde a critica a0 capitalism incluiria a critica a0 racismo, ainda que para isso Aimé Cesaire tivesse que se desligar do Partido Comunista francés que, por seu eurocentrismo, no conseguira entender a ferida colonial e seu racismo constitutivo. Os “jacobimos negros” (CR. James) voltavam a ocupar a cena tedrico-politica desde o Caribe recolocando na agenda a dupla independéncia da revolugdo haitiana de 1804. 0 Caribe, onde o sistema ‘mundo capitalista moderno-colonial eurocentrado deu seus primeiros passos, trazia a0 ‘mundo tedrico-politico a negritude que haveria de levar & descolonizacio da Africa’, ainda que essa descolonizagao se fizesse nos marcos da colonialidade e seu sistema de estados territoriais. A Africa e a Asia enfrentario os dilemas da implantacdo desses estados territoriais independentes sob a régua e compasso da Conferéncia de Berlin de 1884, na tensio da Guerra Fria buscando se afirmar como ndo-alinhados tal como se associaram em Bandung, Indonésia em 1955, ‘A revolugdo cubana (1958) haveria de mostrar os limites das oligarquias latifundidrias que reagiam com violéncia as demandas populares, como se viu na Guatemala, Reabria-se 0 debate geopolitico acerca do imperialismo estadunidense que, sobretudo desde 1845-1848, com a anexago de amplos territérios pertencentes ao México, passou a ter uma verdadeira obsessio pelo controle do Caribe, particularmente de sua maior ilha, Cuba. 0 1né geopolitico para os Estados Unidos representado por Cuba, & maior do que se pode jer com a bipol da Guerra Fria, Desde que o territério estadunidense se constituiu como um territério coast to coast conformando a “grande ilha” geopolitica que interligava o Atlantico ao Pacifico, o que s6 se conformou com a anexagao dos territérios de camponeses e indigenas mexicanos, que os Estados Unidos passou a entender o Mar do Caribe e 0 Golfo do México como mare nostrum, conforme nos ensina o porto-riquenho Ramon Grosfogel. A amputagdo do Panama & Colémbia para criar um pais-canal, em 1903, facia parte da manobra geopolitica estadunidense que ao mesmo tempo tutelara, como denunciara José Marti, @ independéncia formal de Cuba da Espanha em 1898', Enfim, a violéncia do bloqueio contra o povo cubano, sustentado pelos EEUU durante mais de 50 Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. anos, ndo pode ser entendido somente pela Guerra Fria, insistimos. H4 razdes propriamente geopolticas ¢, nesse sentido, diz respeito a todo o significado que a Pétria Grande (Bolivar), a Nuestra América (Mart), as Duas Américas (Caycedo) tém para os Tstados Unidos e seu projeto da Doutrina Monroe da “América para os americans” ‘Um antiamericanismo persegue as esquerdas latino-americanas, nem sempre anti- imperialista, como veremos mais adiante. Esse antiamericanismo crillo, todavia, néo dé conta da coloniatidade que the acompanha. Pablo Gonzalez Casanova € Rodolfo. Enfim, nfo somos um “novo continente” como os invasores/colonizadores nos batizaram 40 falarem de “descobrimento da América” ao consagrarem a data de fundacao do “novo mundo” em 1492, Como diria Enrique Dussel estamos diante do encobrimento do que aqui havia e, assim, invisibilizando etnias/povos/nacionalidades/civilizagbesque aqui nesse espaco geogréfico se forjaram durante milénios. John Murra estudou a integracio dos espacos desde o Pacifico & Amazdnia passando pelos Andes com o “méximo controle de pisos ecolégicos” com base nos principios de complementariedade e reciprocidade que, recentemente, foi trazido ao debate pelos povos indigenas da Bolivia quando do debate da nova constituigdo do pats. Nos debates acerca da urbanizagdo entre nés, o eurocentrismo no deixa comparecer Cuzco/Machu Pichu, cidade andino-amazénica, ou Tenochtitlén, no México. Olvidamos que o espaco geogréfico abriga diferentes temporalidades imbricadas (“o espaco geografico & acumulagdo desigual de tempos”, diria 0 gedgrafo brasileiro, Milton Santos), Na Amazénia colombiana, a tradicdo cultural Chiribiquete de 17.000 anos ¢,na Amazinia brasileira, o sitio de Pedra Lascada em Monte Alegre, no Paré, com 11.200 anos nos dao conta da presenga humana e, com isso, de saberes associados aos modos de alimentar-se, de curar-se e de habitar desenvolvidos antes mesmo que a floresta mais densa do mundo se formasse, o que ocorreu de 12.000 aos nossos dias depois do recuo da ‘itima glaciagio, povos esses que co-evoluiram com a floresta nos oferecendo um patriménio de conhecimentos que se coloca como de interesse para toda a humanidade pelo significado da Amazénia na dindmica ecolégica global, sobretudo para a o clima, para a dinamica hidrica e bioldgica. Afinal, a universalizagéo colonizadora de um sistema 0 giro espacial que as cincias sociais experimentaram desde finais dos anos 1960, com Michel Foucault e Henri Lefebvre & frente se fard, entre nés,como “giro territorial” e terd seu momento constitutive, para usar uma ideia cara ao boliviano René Zavaleta Mercado, Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. nos finais dos anos 1980 e infcios dos anos 1990, com os camponeses da Amaz6nia brasileira aliados aos povos indgenas ~ Alianca dos Povos da Floresta ~ eas duas grandes ‘marchas em Defesa da vida, da Dignidade e do Territério, na Bolivia e no Equador. Uma nova agenda teérico-politica se oferece ao debate atualizando uma histéria de larga duragdo, Essa foi a contribuicdo que os indigenas trouxeram na Conferéncia das Nacdes Unidades sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Al, se reuniram todos os chefes de estado de todos os paises do mundo para debater a relacdo entre meio ambiente e desenvolvimento e os indigenas trouxeram ao debate © caréter de larga duragao do sistema mundo capitalista moderno-colonial ao associarem 0 ano de 1992 ao 1492 e, depois de 500 anos, o planeta Terra passava a ser a comunidade de destino ameacada por um sistema técnico-cientifico a servigo da acumulacio incessante de capital onde a riqueza & medida pro um equivalente geral abstrato (quantitativo) que pe em risco as qualidades da Physis, das diversas culturas e de outras civilizagdes. Luta pela Vida, pela Dignidade e Territério em que varios desses movimentos indicam que a vida no pode ser pensada fora da natureza, como na tradicio cientifica hegembnica ntrica. As Reservas Extrativistas dos seringueiros da Amazénia_ brasil empresa a0 conceito de extrativismo um sentido positive, a0 contrério do produtivismo desenvolvimentista que acreditar que tudo produz, como indica a tradigao antropocéntrica e, assim, olvida que ndo produzimos gua, minerais e fotossintese. Em suma, aos se afirmarem como extrativismo, os seringueiros afirmam que dependem do que extraem e, como tal, dependem da “produtividade biolégica priméria” (Leff). A Dignidade & um reclamo ao respeito & sua condigio de outro ser digno, negado pela colonialidade da modernidade que quis evangeliz-lo, civilizé-lo e, depois, desenvolvé-lo, segundo os diferentes momentos da moderno-colonialidade. Nao, agora colocam na agenda tedrico-politica, o respeito & sua dignidade, enfim, o direito & diferenca afirmando a diversidade biolégica, em que criativamente se inspiram, para afirmar suas culturas. Insinuam, para além do universalismo, a pluriversalidade, em suma, miltiplas verses do que pode nos ser comum. E como a cultura nao é algo abstrato nos apontam que si necessérias as condigdes materiais para seus horizontes de sentido para a vida. Daf o territério, como categoria que reiine natureza e cultura através das relagdes de poder sobre as condigées materiais da vida. Com isso, desnaturalizam 0 conceito de territério, até ento “base natural do Estado”. Com isso, sinalizam que no mesmo estado territorial hhabitam miitiplas territorialidades e que ndo ha territério que nao seja fruto de um processo de terrorializagao entre diferentes sentidos - territorialidades - para estar com a Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. terra. Enfim, tensdo de territorialidades. Daf o debate acerca da autonomia territorial, da ‘plurinacionalidade, dos direitos da natureza, como se inscreve nas novas constituigées do Equador e da Bolfvia, Nao mais Estado nacional, mas plurinacional. Contra o desenvolvimentismo que por aqui tem sido expropriador e devastador nos oferecem alternativas ao desenvolvimento e nao de desenvolvimento (Buen vivir? Suma kausay? ‘Suma Qamdna? Decrescimento?) Enfim, abrem um novo Iéxico teérico-politico que é um ‘infraestrutura, em geral, e, em particular, da IRSA ~Iniciativa de Integraglo Regional Sul ‘Americana (Bio-Bio, no Chile; Belo Monte, no Brasil, Hidroituango, na Colémbia). Enfim, hé um enorme legado te6rico-politico que nos vem desde Guaman Poma de Ayala, ‘Simon Rodrigues, Simon Bolivar, José Artigas, José Maria Caycedo, José Marti, Emiliano Zapata, José Carlos Mariategui, Franz Fanon, Aymé Cesaire, C. R. James, Pablo Gonzalez Casanova, Zavaleta Mercado, Florestan Fernandes, Silvia Rivera Cusicanqui, Rachel Gutierrez, Anibal Quijano, Maristela Svampa, Enrique Leff, Enrique Dussel, Walter Mignolo, Ramon Grosfogel, Catherine Walsh, Arturo Escobar, Rui Mauro Marini, Norma Giarraca, Raul Zibechi, Pablo Mamani, Alberto Acosta entre tantos e tantas que hhaveremos de considerar para um didlogo denso com o pensamento critico do sistema ‘mundo capitalista moderno colonial em sua heterogeneidade histérico-estrutural. BIBLIOGRAFIA ‘Araoz, Horacio Machado (2014), oto, eLorigen. Genealog dela miner contemporea. Ed Mardulee, Buenos Aires Bartra, Armando (2008), EI Hombre de Hierro ~ los limites sociales ¢ ambiental del capital. UNAM, México, DE. 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Artel & uma pritica associativa, especificamente russa, ue consistia numa equipe que trabalha fem conjunto e que divide entre si a renda do trabalho, Tratava-se de uma associagio do perfodo pré-industral, de um sistema cooperative tradicional, frequentemente utilizado pelos artesios & pelas turmas de camponeses que trabalhavam fora de suas préprias aldeias de origem. 0 termo relagdo de artel éutlizado geralmente para expressar todos os tipos de cooperacdo tradicional na Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. producio, propriedade e arrendamento, inclusive ma comuna rural camponesa (abschina). Shanin, 1985: 125, Marx Tardio, 3.C.R. James em seu psfcio de 1984 aos Jacobinos Negras, seu livro de 1938, 4. Consta que no Tratado de Paris, onde a Espanha reconhecera a independéncia de Cuba, haviam representantes franceses, estadunidenses e espanhis e nenhum cubano. 55. Uma das fontes de Pablo Gonzalez Casanova para sua teoria do “colonialismo interno” foi @ ge6grafo occitano-francés Robert Lafont, em seu livro “La Revolucién Regionalista”, publicado ‘em 1967, que denuncia o colonialisma interno frances RESUMENES, © objetivo de desse artigo &refletir acerca dos “principals desafis que enfrentam as Ciéncias Sociais em nosso continente” para contribuir “sobre o futuro da democracie, da paz © da sustentabilidade em nossas sociedades",conforme nos prope Pélis em sua edigdo comemorativa. COptamos porrefletir sobre esse desafio desenvolvendoum breve artigo tomando por base uma andlise da nossa formagéo socal/nossasformagSes sociais destacando os desafios que se colocam 2s CiénciasSociais Fl objetivo de este articuloes reflexionar sobrelos “principales retos que enfrentan las Ciencias Sociales ennuestro continente” para contribul “al futuro de la democracia, de la paz y de la sustentabilidad de nuestras sociedades", como nos lo propone Polis en su ediclén conmemorativa, Optamos por reflexionar sobre este desafio desarrollando un breve articulo tomado por base un analisis de nuestra formacién social/nuestras formaciones sociales relevando los desaffos que enfrentan las Ciencias Sociales. The almofthis paper is tothink on the" main challenges facing social sciencesinour continent" to contribute"on the future of democracy, peaceand sustainabilityin our societies’ proposedinPolison itscommemorative edition. We chose to think on this challenge by developing a brief article building an analysis of our social formation/our social formations highlighting the challenges faced by Social Sciences. INDICE Keywords: Critical thinking-action, decolonization; society-nature (Political Ecology), Territorial State / internal Colonialism, Plurinationality /Interculturalism/Good Living, Palabras claves: pensamiento-accién critico, descolonizacién,sociedad-naturaleza (tcologia Politica), Estado Terrtorial/Colonialismo interno, Plurinacionalidad/interculturaidad/Suen vivir Palavras-chave: pensamento-acio critico, descolonizagéo, sociedade-natureza (ecologia politica, plurinacionalidade/interculturalidade/buen vivir Pots 112015 Pela vida pladgndadeeptoteritéri: um novo lio tte pltien. AUTOR CARLOS WALTER PORTO-GONGALVES Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil. Email: ewpg@uol.com.br Pots 112015

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