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A influéncia da religiao afro-brasileira na obra escultdrica do Metse Didi ae & Jaime Sodré cid i (©2006 by Jaime Sodré reiios para esta eco caddos @ EDUFBA. Feito 0 depésto gal ernur pare dese ho pode ser eprodzda, sam gua orm os Tacs eT eegaes yuma Parcom a permasao escrta do autor © das extras, confore a La r° 9610, de 19 de fevereira de 1998. Capa Gabriela Nascimento Luiz Celestina Projeto Grafica e Arte Final Gabriela Nascimento ‘Alana Carvalho Fotografias Carlos Alberto lwustragdes. Leonardo Matos ‘Ngumas tstragoes foram baseadas nos trabalhes etnogricos 6° canta» Pierre Verger,outras baseadas om fotografas da exposigfo do MESTRE DIDI realzadas na epoca da pesausa. Cores Rafael Nicory Revisao Tania de Aragéo Bezerra ‘Mage! Castlho de Carvalho Biblioteca Central Reitor Macédo Costa - UFBA 8679 Sodré, Jaime. ‘Aichuéncia da religiéo afro brasileira na obra escultérica do Mestre Dici Jaime Soaré projeto grafico © arte final Gabriela Nascimento, Alanda Carvalho, - Salvador EDUFBA, 2006. 372 p.: ISBN 85-292-0997-4 4. Digi, Mestre, 1917-. 2, Cultos afro-brasileiros - Influéncia, 9. Escultura afro-brasieira. 4, Arte afro-brasileia. 5. Candomblé. |. Titulo. Cpu - 299.6181) CoD - 299.67 Editora da UFBA Rua Bardo de Geremoabo, sin ~ Campus de Ondina 140170-290 - Sahador - BA Tel: +55 71 2263-6164 Fax: +55 71 3263-6160 ‘new edutba.ufba.br ‘edurba@utba br 3 ‘A rclagdo que se estabeleceu entre o explorador europeu € a Africa, traduzida na possibilidade de amplas vantagens nas ages mercantilistas, quer do ponto de vista dos minérios, especiarias ou tréfico de escravos, traduz, uma visao baseada na superioridade de uma civilizagao sobre outra, onde se inaugura o binémio: “civilizados x primitivos”. Essa dicotomia ird fundamentar uma ago supostamente legitimada de um sobre outro, construindo a base de um elaborado discurso preconceituoso, legitimador da exploragao de negros na condigao de escravos, inclusive com 2 colaboragéo de outros africanos tendo como base as rivalidades tribais, guerras expansionistas ¢ intolerancias religiosas. Deste modo, a relagao “civilizados x primitivos” universaliza-se como suporte das aces preconceituosas, que se difundem até a contemporancidade Do ponto de vista da ate, esta relagao é contundente, na medida do entendimento receber essa honrosa identificagao, imento ou homologagao de de que somente determinados objetos poderiam desde que relacionados com um certo grau de desenvoh instancias superiores de dererminados povos. Levando em conta a Arte ‘Africana, recorremos a Jean Laude’, através de comentarios sobre sua obra Les Arts de L’Afrique Noire. / Do ponto de vista metodoligico, o autor reafirma o que parece undnime do ponto de vista de alguns historiadores: as dificuldades de abordagem da realidade africana, pela auséncia de uma produsao de registros escritos, a0 menos a épocas remoras. fo su historia en documentos Salvo raras excepciones, los africanos na han estabelecido su ; dean cree oxsten manuscrtos Kotoko (Republica de Chad), pero en scnios cn caracteresérabes y sun posterioresal siglo XVI- 32 J. Ki-Zerbo, analisando as fontes que possibilitam uma Historia da Africa identifica o quc ele nomeia de tres “pilares do conhecimento hist6rico: os documentos esetitos, aarqucologia ¢a tadigio oral”, Recomenda, contudo, que as mesma sejam apoiadas pela lingiistica © arqucologia. de maneira a possbilitar 0 aprofundamenta dhs interpretases dos dads; e adverte:“estariamos errados, entretanto, em estabelecer rapusria € defnitiva entre ess diferentes Fontes”, a priori um hierarquia per A respeito das Fontes escrtas, no referente 4 realidade africana, elas primam pel raridade ou, por veres si0 mal distribuidas no tempo ¢ No espago, Localivada nos periodos anteriores © posteriores ao nascimento de Cristo, esta faixa da azo do homem africano é a que & chamada de “séculos obscures” da historia aivieana, esto justamente épocas que nao se beneficiam de restemunhos escritos, com excerio da Alrica do Norte. Entretanto, mesmo quando localizados, esses testemunhos enfrentam diticuldades interpretativas, freqiientemente ambiguas. Do ponto de vista quantitative, presume-se qu massas consideriveis de materais esritos de caréterarquivistico ou narrativo permanecem tinds inexplorados, como provam recences inventérios parciis dos manuscritosinéditos orletivos historia da Africa negra extrafdos de bibliotecas do Marrocos, da Argéliae da Europa ..] biblioteca particulares de grandes erudios sudaneses, encontrados em cidades da curva do Niger’. O autor chama a atengdo para o fato de que tao importante quanto a quantidade de documentos novos seria uma mudanga de atitude dos pesquisadores quando do exame desses documentos ¢ expurgando-os de qualquer “preconceito anacrOnico ¢ marcado por uma visio endégena”®fruto de residuos persistentes da relacdo “colonizado x colonizador” ‘Comentando as Fontes arqueolégicas, revela que os testemunhos silenciosos, porém elogiientes, dos achados arqueolégicos sao geralmente mais convincentes que 3 fontes excritas, Reconhecemos que aarqueologia jé produziu contribuigées valorosas 4 historiografia africana, principalmente quando da auséncia de crénica oral ou escrita disponivel; esses “objetos-testemunhas” sio indicadores e medidas de uma civilizagéo: objetos de ferro € sua tecnologia de fabricagao, ceramicas e suas técnicas de produgao ¢ estos, esciturs © estilos graficos, técnicas de caga, navegagao, pesca € tecelagem, estruturas geomorfoldgicas, hidrdulicas, vegetais ligados & evolugio do clima, sio fontes importantes. No que diz respeito a tradigio oral, a mesma deverd situar-se paralelamen’® as dluas primeiras, servindo como interface: “a tradigao oral aparece como reposit6rie ® ° vetor do capital de criagGes socioculturais acumuladas pelos povos ditos sem «Sct! tum verdadeiro museu vivo”” comenta J. Ki-Zerbo. Contudo convém acrescentar ? sua especificidade metodolégica, imbuida de particularidades e técnicas peculiares # essa fonte: logo € clato que “muitos obsticulos devem ser ultrapassados pars (Ue possa peneirar criteriosamente 0 material da tradicéo oral ¢ separar o bom grao dos falsos, da palha das palavras-armadilhas [...]"*. 33 Achamos extremamente importantea opiniao do referide au a antropologia eA ctnologia, em especial na anilise corre reconhecendo a dificuldade da completa iseng no que diz respeito lor”, 0 idcokipica na produgio do mate : + contudo, isso ndo dispensa do responsivel um esforgo metodoldgico para que se nao el aca postura do “pesqui pesquisado. Lembramos que, imine, ao menos minore esse agente por vezes subjetivo .] Alingiisti alingti {aslingu, | deve desve ilhar-se de io do desprezo ctnocentrista que marcou tica africana claborada por A. W. Schlegel e Auguste Schleicher, segundo a qual da familia indo-curopéia estao no topo da evoli ponto mais baixo da escala, apresentando estas | cas lnguas dos negro Jo interesse de ~ segundo alguns revelar um estado préximo ao estado original d gramatica,o discurso s inventério clementar)’. a linguagem, em que as lingua de monossilabos eo lexi esta cria uma seqiiénci © mesmo comentiio aplica-se a fortior tropologia ¢ & etnologia. Na ver discurso etnolégico" rem sido [...] um discurso com premissas explicitamente discriminatérias ¢ conclusdes implicitamente politicas, havendo entre ambos um excrefcio {cientifico] forcosamente ambiguo. Seu principal pressuposto era muitas veres a evolugio linear: frente da caravana da humanidade ia a Europa, pioneira da civilizagio e tras dos povos “primitivos” da Oceania, Amazénia e Africa, Muitas dessas idéias se aplicam a Arte Afri indo assim, na € suas derivagoes; voltemos a Jean Laude. Ainda sobre registros escritos, 0 mesmo comenta que, nos primérdios do século XX, o sultio de FUMBAN (Camarées), N’ Joya, inventa uma escrita ae relatar suas crénicas. Deste modo fica assegurado o registro e a transmissio de importantes elementos, inclusive do ponto de vista da produgio artistica ¢ religiosa; descarta-se, da mesma forma, a possibilidade de uma Africa “a-hist6rica’, em especial no que se refere aos registros ¢ finalidades. | Uma perspectiva fantasiosa alimentou a visio da Europa sobre a Africa ¢ uma ideologia orientou essa imagem. Suas raizes, segundo Jean Laude, bascavam-se nos mitos criados na Idade Média, que vislumbravam o continente negro como 0 “reino da idolatria’, esquecido por Deus, sendo necessitia.a sua conversio e a sua reconquista, por haver ali existido um misterioso reino cristo, sendo uma alianga requerida para combater os infidis reinos, este, que os portugueses julgavam ter descoberto no inicio N [a 34 do século XVI na Etidpia. Assim é que 0 elemento religioso assume importancia para uma razodvel justificativa das incursées pelo territério africano. Babelais escreve: Samo bem sabes a Africa aporta siempre algo nuevo”, A partir do primeiro tergo do século XV, difundiu-se, através de principes € comerciantes, os chamados “gabinetes de curiosidades”, nos quais maravilhas da nacureza ea produgio dos homens eram apreciados, configurando-se, segundo Laude 0 “nascimento do exético”, sendo dificil estabelecer um inventério completo dos produtos materiais da Africa conhecido pelo Renascimento. O interesse despertado pelas coisas consideradas exdticas e as curiosidades de ultramar ocupavam a vida cotidiana. Para mensurar esse fato, o mesmo chega a afirmar que: “Esta moda duré hasta fines del siglo XVIL. (...), incluso en Africa. Artesanatos negros trabajaron siguiendo las indicaciones de los comerciantes portugueses de marfil que se disputaban las cortes principescas”'’, Além de madeiras frageis, 0 seu aspecto inusitado — que traduzia o ponto de vista da cultura religiosa africana -, inclusive falico, desagradavam os colecionadores € seus herdeiros; porém algumas obras subsistem em Kunstkammer de Dresde ¢ na antiga colegao Wwyddmann de Ulm, onde se encontram as langas de cobre trabalhadas pelos Mangbetu, pegas de Kasai, marfim, esculturas em madeira esculpidas no Reino de San Salvador e da Costa da Niggria. Acredita, Laude, que a Europa nao encontrou na Africa uma forma de pensamento ou uma religido que inspirasse sua curiosidade intelectual ow artistica, porém isso n30 ocorre no século XVIII em relacéo ao Oriente, que fascina Voltaire, e os Jesuitas encarregam-se de traduzir 0 Tio. 35 A construgio de um preconceito assume expressio religiosa; a pluralidade de ragas causava problemas dificeis no campo da teologia; “um episédio do genesis socorreu”: os filhos de Noé eram cabegas de trés familias que repovoaram a terra apés © dilivios os africanos foram considerados descendentes do mau filho CAM, cuja descendéncia 0 pai amaldigoou, Na Améri a, com a colonizagao, 0 Clero indignava-se com os maltratos sofridos pelos natives ¢ julgava um ato humanitirio importar afticanos, jé que seus esertipulos morais nao se aplicavam aos negros, que apenas deveriam sofrer a maldigao biblica, afirma Jean Laude. O mesmo informa que nao se deve imputar as crengas medievais populares & identificagio do negro com 0 demoniaco - alguns diciondrios do século XVIII registravam pata a palavi a negro o significado de sombrio, triste, infernal, com a excecao das figuras de Gaspar, 0 terceiro Rei Mago, que nfo cra um negro até 0 século XV, antes do Concilio Ecuménico de 1439; os negros nao intervém na iconografia ocidental, se nao a titulo de criados ou comparsas (Matteau, Rubens Rembrandt sio excegdes). ‘A presenga da religido catdlica em solo afticano, a exemplo do islamismo, € caractetizada pela agao de converséo ¢ influéncia na produgao artistica. No Baixo Congo houve uma conversao massificada, porém de natureza superficial, tendo o Rei Nzinga NKuwu se convertido em 1491, assumindo o nome de Joao I; porém, durante © seu reinado, surge uma forte reago em favor da religido tradicional, sendo esta faccSo derrotada por seu filho. Sabemos que essas conversdes se efetuavam por interesses das elites, embora a populagao permanecesse vinculada & religido tradicional, e os que enfrentavam as posigGes das elites eram praticamente eliminados ou vendidos como (O problema se coloca primeiramente nos termos herdados de Da Vinci: La jerarquia de las artes se armoniza con el nivel de las civilizaciones que la practican: la pintura cs la primeira de las artes y los negros que se limitan a la escultura son, hecessariamente, artistas inferiores. Em 1846, Baudelaie ...]escribe que [la esculeura es tun arte de los caribes). Imitaba asi al muse6grafo Jomard [...] que afirmando que: la pintura es el arte de los pueblos [ya adelantados en civilizacién). El descumprimento de Jas cuevas con pinturas arruinasfa |... esta teoria, no el principio que la governaba'®. 36 GEASS A. Riegel, opondo-se a tendéncia Semper, revela que o estilo resulta de um querer que se expressa endendo finalidade, matéria e técnica, jd que nesse momento o acento recai sobre a criagao ¢ a cleigao dos sistemas formais; borada em um meio “primitivo”, é hecessariamente primitiva. Evidentemente que a polémica rende diversos pontos de acao da produgio artistica africana a categoria seguidores de através dos trés coeticientes de sujeigao, compre e, entao, uma obra de arte, por estar ¢ vista, porém 0 que esti em jogo éa elev: de arte, estatura inaceitavel, até a descoberta desta produgao pelos artistas modernos. Essa atitude, busca sistematica de pecas, teve efeito considerdvel sobre a civilizagao africana. Algumas misses, a exemplo de Leo Frobenius chegavam carregadas com objetos da Africa Ocidental e do Congo. Esses saques organizados —a forca do dinheiro, no entender de Jean Laude ~ pela pressa do explorador nao sio realizados de forma criteriosa, seus fundamentos sociais nao sao estudados com profundidade, resultando, dai, registros incompletos e até mesmo sem a necessdria constatagao das informagoes a respeito da fungao social dessas pecas. As concepgoes que se mantiveram até 1914, tendo como base a predilecao pela simples descricao, orientaram a interpretagao das esculturas afticanas. Ma - < ° ascaras € estatuetas figuram nos museus € sao tratadas em monografias geralmente com o titulo “religiao, culto ¢ costumes”; em outros trabalhos, essas obras aparecem mencionadas como simples i i mples instrumentos rituais, identifi “ mow, OF , es como “fetiches” e “idolos” paras idence Do ponto de vista da arte, as referidas obr mesmo rudimentares; arbit as obras foram julgadas como indbeis, primarias incompetente representagao do homem, génios iriae estagio da evolugio. As on dré Michel, registradas na edigao de 1898 da Grande Envicopé oo de Anes 37 Entre os negros que nao obstante, como todas as Ragas da Africa central e meridional parecem bastante atrasados em tudo o que é matéria de arte, se encontram idolos que representam homens ¢ reproduzem com grotesca fidelidade as caracteristicas da raga negra mi ‘ ° (© acesso ao material que caracterizard a produgdo artistica africana, ainda discretamente compreendida com esse nome, desperta nao sé curiosidades, intensos debates, influéncias estlisticas, como, em especial, uma produgéo que busca bases metodolégicas para a teorizacio e construcio histérica da “Arte Negra Africana’. Leiris Michel & Jacqueline Delange elaboram importante ¢ exaustivo tratado sobre “Africa Negra, la creacién plastica””’, obra dedicada & produgao de artes plisticas pelos povos negros-afticanos. ‘Coubea Michel Te luas primeiras partes ca conclusao, cabendo a Jacqueline Delange a terceira parte ¢ a localizacio dos documentos a serem reproduzidos. O trabalho é valotizado por uma coletinea fotogréfica de exemplares da “Arte Negra ‘Africana’. Presume-se ser este trabalho posterior ao de Jean Laude, publicado em 1965, inclusive porque os autores formulam agradecimentos ao citado autor na qualidade de colega do Laboratoire D’sthétique et des Sciences de ’Art, em Pati. ‘Ao levar em conta a titulagao da obra, parece-me j& haver sido elaborado, de forma definitiva, conceitos que reportam & producio africana numa qualidade especial: primeiro no patamar das artes, em posicio igualitériaa de outras produgées do mundo do ponto de vista estético; segundo, entendendo-a enquanto “Arte Negra’, 0 que reporta a uma qualidade especifica, particular. Seguiremos os passos desse trabalho, importante para ararefa que nos propomos, levando em conta o tripé: “arte-religio afro-brasileira - obra escultérica do Mestre Didi", Convém ressaltar que do ponto de vista metodolégico adotamos essas andlises iniciais como uma introdugdo necesséria & temdtica que desenvolveremos. Localizada na primeira metade do século, 0 ocidente experimenta uma verdadeira revolugao no campo das artes plisticas, no referente & reptesentacéo da imagem ‘\ ID 38 identificada com um modelo caracterizado de figuragao “naturalista’, a exemplo da fotografia. Opsem-se novos modos de representagao plastica de pintores que se denominaram “cubistas” numa tentativa para representar, exacta ¢ exaustivamente, numa superficie todos 0s aspectos vistos pelo artista, em trés dimens6es: o Cubismo Analitico apresentavasimultaneamente diferentes aspectos do mesmo objeto [..J usando faces sobrepostas [+] O Cubismo Sintético traduziu tudo 0 que poderia ser visto numa linguagem de signos visuais |] tornando a pintura numa realidade paralela enao numa rflexao da realidade observada pelo pintor™ Segundo Lucas De Monterado: ‘Aautonomia da obra pictérica seria acentuada pelo Cubismo. Em 1906, Cézanne morria {0 Impressionismo, velho de trinta anos, s6 entao comesava a interessar 0 piblico, que lids, soube notar somente o uso dos tons claros, as cores calmas e luminosas [..]. A reagio irda excesso oposto: nenhuma forma mais do que a geometria reassume e firma idéia do volume. Esta maneira de pintar do Espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e de Georges Braque (1882-1963), que expuseram no saldo de 1908, Matisse rotulara de Cubismo” ‘Uma verdadeira onda “libertéria” se apossa da produgao plastica: 0 expressionismo, na Alemanha, que produzia a relagio do artista com seu tema; o “futurismo” na Ilia, que interpretava o espirito mecanicista da época, e somava-se a uma ampla corrente emancipatéria diversa, Existe uma arte caracterizada como “nao figurativa’, limicada 4 disposicio de cores e formas. Hé 0 surrealismo, dadaismo — manifestagio que caracteriza-se pelo contextatorio, pela abertura para novas idéias € posturas, com subverséo nas letras € nas artes. Dentro de uma concepsao tradicional, chamavam de “Arte” apenas a producio de determinados elementos pertencentes ao contexto identificado como civilizado: “Los tinicos objetos aquienens se les reconocia un valor artistico teniam sempre como autores a individuos que pertencidn al mundo llamado (civilizado)”* E exatamente nessa rebeldia, nessa corrente emancipatéria, que os autores sdentificam como “crise” da estética ocidental, o cenério para a promogao da escultura africana ao patamar de “Arte”, em detrimento da concepgao anterior de “primitivo”, “pegas de gabinetes de curiosidade”, “exotismo”, “prova de irracionalidade” “imperfeigao”. Laude utiliza a expressio “descobrimento da arte negra pelos artistas” para regist™t essa fase, afirmando: sm estado civil, as obras de arc africana se apresentavam também sem referéncia a tex05 ios (eoritaGao) [.] nao era possivel nem conceber nenhuma iconogeafia[~]o caropeus revordavam que inclusive para Proust, oentendimento em arte 4 ve podia descrever ou deifraro tema do quadro" 39 E complera: Aauséncia de correla fo entre a obra plistica e seu suporte literério (regras, cinones) havia de satisfazer aos pintores cujas investigagdes se orientavam para um sentido de maior {autonomia do fazer plis Para esse movimento de afirmagio da arte africana, contribufram pintores “fauves, cubistas ¢ expressionistas”, Na verdade, tratava-se do reconhecimento de uma verdadeira manifestagao artistica, de outro caréter, de outra visio de mundo, de outro contexto social, apropriada, por suas qualificado. Os europeus haviam observado com alguma atengio a produgio artistica dos racteristicas € procedéncia, como mével importante € Nos anos de 1470, admirado pelas obras trazidas por um portugués, constituida de varias esculturas, Carlos, “o temerdrio”, as adquiriu. Tratava-se de material em madeira da regio da costa ocidental africana, regido identificada como foco de procedéncia dos escravos que mais tarde viriam para o Brasil, Cuba etc. Em 1486, a expedicao de Diogo Cao, quando do seu contato com a Regiao do Congo, recolhera farto material em marfim. No século XVI, exemplares de obras afticanas, constitu(das principalmente de pegas em marfim, em especial instrumentos musicais, como as trompas, sao trazidos para integtar 0 “gabinete de curiosidades”, que possufa 0 Arquiduque do Tirol. Em 1527, ao visitar a residéncia de Juan Ango, rico armador de Dieppe, Francisco I encontrou, admirado, pecas tais como chifres de marfim e estatuetas africanas. No século XVII, o Jesuita R. P, Atandselio Kircher, com o intuito de colecionar pecas africanas, fandou em Roma um museu, atualmente Museu L. Pigorini, com uma coleco etnogrdfica de estatuetas produzidas em pedra, reclhidas na regio do Baixo Congo em 1695, Em 1668, Dapper, gedgrafo holandés, realizou uma descrigio entusiasmada da cidade de Benin, relatando a exuberdncia do Paldcio Real, que possuia pilares de madeira tornados com placas de bronze, representando cenas de batalhas, além dos péssaros confeccionados em bronze, que encimavam as miiltiplas torres do referido palacio. Bosman, um holandés, escreve: “Algunos de Tos ‘fetches de oro fabricados por los hecuraleg de Dinkira (provavelmente Dunswa, no atual Gana) tienem uma agradable figura’. ; ‘Bowdich, enviado britinico aos “Ashati”, em 1800, descreve a recepcao promovida pelo monarca, em especial o seu trae real: “Llevara un collar de conchas de oro”. Sempre chamou aatengio dos europeus a exuberance exibicfo de metais pelos negros afticanos, em especial 0 ouro: 40 ‘sus brazeletes estaban sembrados de contas de la mayor beleza y sus dedos cubiertos de sortilas, Llevaba en los tobillos ornamentos de ouro muy bien hechos’, comentério que denota uma avaliagio técnica: que representaban, en pequefio, tambores,espadas, fusives, ddajaros [..] su pecho estaba enteramente cubierto de una ornamentacao, que parecia tuma rosa aberta, cada uno de cujas pétalas sealzaba sobre la que la precedia’™ De 1775 a 1797, Mungo Dark, médico escocés, comentara, admirado, a habilidade dos forjadores mandingas no seu trabalho com o ouro, reconhecendo, deste modo, a capacidade técnica dos mesmos na produgio de ornamentos diversos. Mais tarde, em 1844, Charles Ratton, alferes do barco “Besson”, na qualidade de primeiro comandante do Forte de Grand-Bassam-Frances, em seu relatério, comenta sobre objetos de ouro que: “Acusan a veces uma concepeién facil y una inteligencia de las proporciones que raramente se encuentram en un pueblo selvaje”” ‘A arte negra, como objeto de andlise, corresponde a um perfodo de expansio da dominacéo da Europa sobre o solo afticano. Estudiosos formulam as mais diversas andlises sobre essa produsio, contribuindo para uma visio ainda modesta sobre 0 tema ¢ algumas controvertidas. Leiris & Delange destacam Leo Frobenius, de origem alema, como o primeiro a tratar da atividade estética dos negros, porém ressalta o seu cardter etnogrifico, no sentido mais restrito. Segundo Iracy Carise, Leo Frobenius é um “etnélogo alemio [..] autoridade em assuntos ligados & Africa, apesar das suas temerdrias opiniGes”™. Em 1975, George Schwinfurth, realizou uma obra sobre a cultura material dos “Zande” e outros povos da Africa Central, porém, do ponto de vista estético, a tentativa inicial seria a de Frobenius. Cresce o interesse pela produgao negra africana, inauguram-se métodos para sua andlise, a exemplo da realizada no inicio do nosso século por Read y Dalton ¢ Pitt- Rivers, ¢ pelo alemao F. Von Luschan, porém ainda carregada de preconceitos. ‘Ao analisar a arte antiga do Benin, da qual haviam chegado varias espécies, fruto da expedigao de represilia realizada pelos ingleses, esses pesquisadores, ao examinarem a qualidade dos marfins ¢ bronzes, concluiram: “Parecen de una factura demasiado sabia para ser de una arte puramente africana”, e justificaram a sua qualidade como influéncia dos traficantes portugueses. Esta hipétese foi posteriormente descartada pelo descobrimento, especialmente na Nigéria, de formosas pegas em bronze de fundicdo, a “cera perdida’™, anterior aos primeiros contatos de Portugal com a Afric: (GGiposeamentemaistesenyolvidos) A respeito do assunto, vejamos o comencério Mariano Carneiro da Cunha sobre observagées de Léo Frobenius que [...] escavando acidentalmente em Ifé, na primeira década do século, descobre alguns esses notérios bronzes que considerou — por serem vazados em estilo de um naturalism clissico — de facura nao africana, mas atribuivel aos portugueses ou mesmo a uma possivel 4 colénia grega situada na Hipotética Atlantida! Datagoes posteriores, pelo carbono 14, [..J sttuaram-se no século XII a.C., época em que 0s portugueses nao conheciam ainda : gh iam ain aquele tipo de técnica de fundigao”. no teatro de Chatelet; na ocasiao apresentara a pega “La Venus Negra’. Nos tiltimos anos do século XIX, celebrou-se a Africa na Europa em diversos campos. I:m Bruxelas, antes da constituigao do Museu do Congo-Belga, foi realizada uma exposigio de esculturas em madeira, algumas de origem africana, desta vez em um espago nobre: Zwinger em 1903. Na opiniao de Leiris & Delange “se esquematiza exclusivamente imputar 0 descobrimento da Arte Negra aos artistas que no inicio do século foram os promotores de uma prodigiosa renovacao”™; porém, segundo Jean Laude: A partir de 1906, la ausencia de toda mencién aun texto 0 a un acontecimento anteriores ala obra atiajo, en parte, pero sdlo en parte, laatencién de algunos pintores sobre el arte negro: una mascara, una estatuilla existian en s{ mesmas, para si mesmas, tal y como habjan sido concebidas en su plenitud, suficiente. Las lineas fuertes y sensibles, las tensiones de los contornos y las de las epidermis, ls relaciones de masas equilibradas y la riqueea de los volimenes expresaban el sentido dea obra antes de que aparecierael tema ode que fuera conocido". ‘A.caracteristica do escultor africano, manifesta pela indiferenga ao que é fugaz, a uma individualidade, & negagio, 8 imitagio, a0 nacuralismo, ao descritivo, manifesta- se de forma evidente nas pegas africanas. Em especial, estétuas ¢ méscaras negras inspiravam aos artistas parisienses, nos seus esforgos para subordinar a obra a um feito plistico, essencialmente a sua unidade; e completa Laude: Los expresionistas alemanes (del grupo Die Briicke) y, en cierta medida, VIaminck y Derain no cesaban |...) de considerar Ja escultura africana (y de Oceania) como mente primitiva [..- Los pincores alemanes no negaron el primitivismo con que ial afectaba, con un indice negativo, al arte negro: lo reinvi auté \dicaron la ciencia ofi conscientemente como tal”. Leiris & Delange descrevem em deralhes ® contato de Valminck com as obras africanas em uma “taberna de Argentevil”, em 1905, onde encontravam-se duas estatuetas do Dahomé pintadas de ocre e vermelho, | ¢ outra de amarelo, ocre ¢ branco, juntamente com uma da Costa do Marfim, completamente negra. 42 Para ele ¢ Andrés Derain, essas imagens nao passavam de “fetiches barbaros”, igualmente aos objetos expostos no “Museu do Trocadero” iNa aquisicao, foram acrescentadas uma grande mascara branca ¢ duas estituas da Costa do Marfim, que foram oferecidas a um amigo do seu pai, sob a alegagio de que “su mujer queria trar a la basura aquellos horrores””. , ‘A mascara foi observada por Matisse € Picasso; desde entao, escreve Vlaminck, jcasso entende o partido que poderia tirar das concepgoes plésticas dos negros africanos e das ilhas ocednicas, ¢ a fez progressivamente acrescentar 4 sua pintura ¢ Assit determinou uma novidade, cujo © movimento fez-se revolucionario: “O Cubismo! . Entre 1906 e 1907, Picasso pinta a famosa obra “As Mosas de Avignon’, inaugurando a sua “época negra’, caracterizada por figuras cujo tragado nao deixa de evocar tragos da escultura africana, movimento identificado comoGCHBISHORMANCO Na opiniao de Laude No puede afirmarse que el cubismo haya nascido enteramente de la escultura negra, pero no es exagerado pretender que Matisse, Braque y Picasso han dado al arte alticano sus ‘cartas de nobleza, habiendo sido ellos los que han originado el verdadeiro descubrimento del continence negro y de lo que Europa puede deberle, Cuando en 1937, el Museo de Emnografia del Trocadero se cunvertio en el Musée de I' Homme, fue una deuda de reconocimento, que, en el plano artistico, se pags a Africa y al (mundo primitivo)™. ‘A relagio de Picasso com a “Arte Negra” esta a dever um estudo mais aprofundado que esclarega essa interessante aproximagio. De 1913 a 1914, segundo historiador do cubismo Daniel Henry Kahnweiler, 0 artista espanhol realizou diversa obras utilizando materiais variados, assinalando uma nova ruptura em relagao ao estilo da escultura européia. No contexto daquela época, muitos se voltaram fascinados as artes do Extremo Oriente, que traduziam uma relagio de proximidade com a natureza, o gosto pelo detalhamento e efeitos decorativos. No que se refere aos “cubistas” a sua preferéncia pelos povos rotulados “primitivos”, em especial pelos negros africanos, poderia traduzir uma relagao de reconhecimento positivo ¢ nao do desejo do exético, com uma atitude nna qual a irreveréncia reforcasse o antagonismo vigente. Porém o que importava era 0 que traduzia a “arte dos negros africanos”, interessada menos em uma postura narrativa € mais em instaurar uma realidade particular. Retomando Jean Laude, o mesmo reconhece que uma certa moda voltada para exotismo favoreceu o interesse pela arte negra africana: Los adornos femininos, los orfebres se inspiram con frecuenci en joyas africanas, y el ‘modista Paul Poiret reproduce una mascara negra en el prospecto de su libro Ein Hatillant epoque (..] el azz, los ballets negros, Josefina Baker, la Croisitre Noire (de L. Poiten) Aleluya! (de K. Vidor), la creacion del mundo (de D. Milhaud y F. Léger) constituyen «30s clementos disparatados que alimentan seunds y conversaciones mundanas, pero que ejercen una profunda accién en la consciencia publica : Essa onda de identificagio com a arte negra & classificada por Laude com a a, € tem seu apogeu com a fo colonial de Vincennes’, em 1931, que extrapolando o campo das artes, influenciou 0 voto na Assembléia Nacional Francesa em favor da concessio de crédito com o objetivo de financiar a “Missio Oakar-Yibuti”, realizada entre 1931-1933. expressiio. Negrofilia, como inclusive se dizia na épo. “exposi : ntua, provocando estudos mais detalhados, mais precisos € mais qualificados cientificamente. Retomando esta evolugio, destacamos 0 poema de carter autobiogrfico, como uma espécie de manifesto, em 1912, de Guillaume Apollinaire, amigo dos cubistas. O poeta fala de “Los Fetiches de Oceania y de Guinea”, referindo-se aos mesmos como “Cristos de Otra Forma y de Otra Creencia””, porém com a ressalva de serem Cristos inferiores das escuras esperancas. Uma verdadeira euforia fantasiosa faz da Africa a motivacio, por vezes controvertida. Marche! Duchamp e Francis Picabia, figuras destacadas do Movimento “Dada”, impressionam-se ao assistir a representagao da pega “Impressoes da Africa’, de autoria de Raymond Roussel, que vislumbra uma Africa fantéstica produzida por sua imaginosa inspiracao fantasiosa, que posteriormente ser considerada uma das grandes obras da literatura do espitito surrealista. Segue-se a “Febre” de Arte Negra, com exposigées em 1912 em Folkwang, no Museu de Hagen, na Alemanha; dois anos depois, realiza-se em Nova York uma exposigao na Galeria do fotdgrafo e comerciante de pintura moderna Alfred Stieglitz, editor da revista “Camera Work” ¢ “291”, Movido por essa influéncia, em 1913, Picabia nomeia um dos seus quadros, “aparentemente de forma gratuita”, comenta Michel Leiris & Jacqueline Delange™, de “Cangao Negra”; percebe-se uma certa apropriacao da tematica, sem que, contudo, houvesse uma énfase maior na produgio escultérica de origem africana; enquanto tal, esta serve, apenas, de subsidio para um movimento em torno de si mesma, Em 1914, a escultura africana faz a sua entrada, até certo ponto oficial, no mercado das Belas Artes de Paris, com uma exposigao na Galeria de Paul Guillaume. Essa posiggo mais atrevida emprestada d Arte negra produz intensa formulagao te6rica. Cinco anos depois, em uma crdnica publicada no “Mercure de France”, Apollinaire revé sua expectativa sobre a produgao negra e busca melhorar o seu pono de vista, tornando-se positivo; porém justifica-se: 4 que parece ter un indurable parentesco con la estética egipcia de que se derivan, a ‘menos que sea al contrario y que elles ejercieran sobre los artesanos de Egipto una influencia que justificarfa ampliamente el interés que se redica hoy a essas obras”. N 44 Na busca da referéncia ao Egito como fator de exceléncia, prova-se o desconhecimento da pluralidade africana ¢ estabelece-se uma relagéo valorativa daquela em detrimento a outra, sem compreender a produgao do Egito como produto da Africa Negra, hoje reivindicada por Cheik Anta Diop, historiador, arquedlogo ¢ fisico, que possufa uma profunda consciéncia do momento politico que viveu. Falecido em fevereiro de 1986, Diop foi um lutador, no entendimento de Marco Aurélio Luz, pela libertagao dos povos africanos ante o jugo colonial ¢ neocolonial, num contexto em que a cultura antiga greco-romana aparecia como berso dos valores da 0, embora jf se iniciasse um revisionismo em relagao a essa posi¢ao na propria Europa e que 98 estudos sobre a mais antiga civilizacio do mundo, o Egito farabnico comegassem a colocé-lo no seu devido lugar, nunca se mostrava que sua composic4o populacional, cultural e etnicamente falando, fosse negra“. Apontando valores da identidade negra na civilizagao do antigo Egito, através das idéias publicadas em seu livro Nationes Negres el Culture € evidente que Diop, contrariou boa parte da historiografia fundamentada em atitudes mentais etnocentristas; ¢ foi mais além: denunciou as tentativas de embranquecimento das representagoes dos deuses egipcios como Osiris, Isis e Ra nas ideologias eurocéntricas que procuravam inverter as caracteristicas do processo civilizatdrio pretendendo que esses deuses teriam origem nérdica ou indo- européia". Retomando as andlises anteriores, convém destacar 0 trabalho de Carl Einstein: “poeta e professor de arte alemao (1885-1940), instalou-se em Paris e, atraido pela originalidade da escultura afticana, escreveu 0 primeiro livro sobre 0 assunto como critico de arte, Esse trabalho, que aparece em Leipzig em 1915, chama-se “NEGERPLASTIK”. Trata-se de uma obra etnogréfica de grande importancia estética no referente & escultura africana, na qual destaca as qualidades que sio postas em relevo, através de afirmagées, a exemplo de: “A Sélida Arquitetura da obra revela a capacidade de impor-se em sua existéncia espacial imediata”®, observando que existe uma clara articulacao das partes, revelando autonomia e perfeita integracao, qualidades, estas, segundo Einstein, reveladoras do trabalho do artista negro enquanto “Oficio Religioso” resultando na realizagao de uma figura em si mesma transcendente ¢ nd0 apenas reduzida a busca de “efeitos” a despertar-se no espectador. Sem duivida essa observacao traduz jé um cardter valorativo da obra, buscando respostas em si mesma enquanto obra plastica, e acrescentando que o sentido da arte escultérica seria a construgdo de obras em que a “qualidade das cores situadas no espago se afirme como tal, sendo que “a forma dada a matéria deve procurar sem que os olhos tenham que mover-se ¢ que a capacidade da forma se opere assim segundo um desenvolvimento no tempo”. Apés esta descrigao, que reconhecemos de carter 45 universal, Carl Einstein volta-se a produgao africana, afirmando: “os escultores africanos fazem a verdadeira escultura, porque como as estétuas so para eles a realidade mitica [.u] representa o seu lugar de elevacio ¢ para confeccioné-la deverd evitar vagas sugestes, opticas™. E importante registrar a nitida evolugao de conceitos, tais como “fetiches” ‘objetos de povos primitivos”, para uma visio mais apurada, por vezes até empolgada, dessa produgio. E prossegue Einstein: ‘uma estécua que é um deus a0 menos receptsculo de uma divindade s6 pode revestir uma aparéncia da coisa em sf, em ver. de preocupar-se com uma descrigdo artificial. Esse mperativo religioso tem as mesmas conseqiiéncias para as partes e para o todo, eiss0 é que explica sua autonomia: cada parte expressa o sentido que tem dela mesma endo é 0 que pode dar-Ihe o espectador®, Reconhecendo sua qualidade hierdtica, Carl Einstein demonstrou o que seria, de forma sintética, a esséncia da escultura africana, 0 scu valor, ao menos do ponto de vista de uma tendéncia geral, chegando a explicar porque as artes produzidas na Oceania, to “implicadas religiosamente”, brilharam por outras qualidades e em especial por sua exuberante inventiva, que despertaram a admiracéo dos surrealistas de modo semelhante, 0 que faz entender como o rigor plistico das produgGes africanas havia inspirado os “cubistas’. Os “novos ares” experimentados pela “onda africana” encontra, em grupos de pintores ¢ letrados de Zurich, aliados que se reuniam no Cabaret Voltaire proclamavam, no plano das artes, um verdadeiro “negrismo”, executando tantas € supostos “cantos negros”, manifestagdes sempre presentes Nos seus atos. Segundo Leiris & Delange, em 1917, Tristén Tzara, reconhecidamente 0 seu membro mais atuante, destacou, em um artigo publicado em Paris na revista SIC, a importincia da verticalidade e da simetria das figuras africanas, 0 que traduz um juizo de valor de natureza estética, observando que o escultor negro, por concentrar sua visio nna cabeca do objeto, perdea relacéo convencional entre a cabega ¢o resto do corpo, logo abandonando a convengio tradicional greco-latina; como se percebe, a pluralidade de opinido estende-se, também, a especulagées por veres frdgeis © apressadas. Em 1916, surge em Nova York uma obra importante, produzida por Marius de Zayas, intitulada African Negro Art, its Influence on Modern Art, 0 que traduz 0 reconhecimento da Arte Negra Africana como elemento suporte do movimento denominado Arte Moderna. Bevidente a receptividade da arte negra na Europa neste momento, em especial em 1914. 1918, quando 0s europeus recebiam uma forma de arte que ja se caracteriza como moda, inclusive através de ritmos musicais que artistas negros ofereceriam ao Ocidente, produzides por grupos do sul dos Estados Unidos, através do Exército americano, que conquistaram o pablico gragas aos famosos bailes nos quais cocavam. Em 1919, com a normalidade da vida européia, inauguram-se exposiges de artes aficanas e da Oceania, principalmente na Galeria Devambez, com significativa N 46 EO presenga de ptiblico, assim como ocorre uma sucessio de publicagdes voltadas para a Arte Negra, como registra Leiris & Delange, as quais achamos importante informa, até mesmo para conhecimento dessa bibliografia que traduz.o interesse de teéricos ¢ artistas pela arte africana. A respeito da Galeri Devambez, a mesma editou o livro “A, Arte Negra ea Arte da Oceania’, tendo como autores Henri Clouzot e André Level; do ponto de vista histérico, trata-se do primeira livto francés sobre 0 assunto, Os mesmos autores publicam na Gazeta das Belas Artes um artigo sobre 0 mesmo assunto, Em 1920, vieram outras publicagées a demonstrar que a arte ¢ a leitura sobre assuntos relacionados aos negros da Africa possufam uma grande audiéncia. Em Paris, um novo trabalho sobre o assunto, de autoria de Clouzot ¢ Level, € publicado na Revi ta Amour de LAr; em Munique, Kurt Wolff achou oportuno € reeditou o ger Plastik, endo que em Delphin Verlag aparece 0 “Expressionismo”, de Herman Bahr, Nesta publicagio, o autor coloca trés esculeuras negras, a titulo de comparacio com as obras dos artistas ocidentais; neste momento, em seu entendimento, a arte estava caracterizada como Oriental ¢ Ocidental, porém considerava as obras afticanas como pertencentes a tendéncia expressionista. Na Inglaterra, uma exposiso de escultura africana, no Chelsea Book Club, de Londres, motivou um artigo do critico de arte Roger Fry sobre a Arte Negra Africana. Em 1921, Cendrars publicou uma Antologia Negra consagrada & literatura oral dos negros de diversas regides da Africa, com textos mais amplos que os de Frobenius na colegao Der Sihwarze Dekameron, publicada em Berlim antes da guerra. Aindaem 1920, o interesse despertado pela Arte Africana motiva a pesquisa mais apurada, ¢ novamente Clouzot e Level publicam o Bulletin de la vie Artistique, editado em Paris pela Galeria Bernheim Jeune. ‘Uma das mais importantes revistas especializadas em arte da época chamava-se “Action”, que registrava opiniées de Paul Guillaume, Vitor Goloubew, Viamink, além de textos ou entrevistas dos trés maiores artistas do “cubismo” — Picasso, Juan Gris ¢ o escultor Jacques Lipchitz —, assim como de poetas como André Salmon, Jean Cocteau, Jean Pellerin ¢ Paul Dermée. Polémica, a obra de escultores afticanos ganhava adeptos ¢ reagoes, inclusive tilagdes, realizadas em muitos objetos que exibiam claramente membros filicos is, numa exagerada demonstragao de censura. Mostrando-se sensivel aos tragos da estatudria africana, Goloubew oferece exemplos de relevancia destas obras, enfati: indo a sobrevivencia da érvore enquanto elemento da natureza, até mesmo quando da sua metamorfose em estétua, alegando que a Arte Negra era 0 pacto entre 0 Homem e a Selva, reconhecendo que a s¢lv4 empresta ao homem suas esséncias mais belas ¢ duraveis para que criem € representem seus deuses, revelando, nesta postura, uma relagao harmoniosa, poética reflexdo que traduz a esséncia da arte escultérica negra africana. Quanto a Lipchitz, 0 mesmo reconhece: WA 47 Cierramente, el arte de los negros nos sirvié de gran ejemplo. Su verdadera compeet de la proporcion, su sentimiento del dibujo, su sentido agudo de la realidad, nos ha hecho entrever, intentar inclusive, muchas cosas [...|"". Segundo 0 mesmo, os cubistas, absorveram esses ensinamentos na criagao de obras de justas proporgées, com linhas que se impoem pelo seu vigor e elegincia, independente de toda exatidao cientifica, pois chegam a objetos dotados de um poder de convicgao ao qual nao podem aspirar os simulacros. A idéia que se tem é que uma onda de boa vontade ¢ aceitagao comega a se aproximar da arte dos negros em vista das imagens positivas a respeito da mesma. Gris constroe seu raciocinio elaborando uma comparagao entre a idealizago enquanto espirito da arte grega classica e a escultura africana; essa comparagio seria inevitdvel, porém Gris é enfatico: Las esculturas negras non dan una prueba flagrante de la posibilidad de un arte anti- idealista. Animadas de espltitu religioso son manifescaciones diversas y precisas de grandes principios y de ideas generales'® Gris evidencia uma posicéo favordvel em relagao & escultura negra, na medida em que encontra nestas obras respostas na afirmaco de que o escultor negro parte da idéia de Deus ou do ancestral para a figura que materializa, enquanto que o escultor grego, segundo 0 mesmo, buscava alcangar a beleza divina e mostrar a humanidade nna qual se havia inspirado. Empenhado na sua admiragio, Gris faz coro a0 poeta africano de expressio francesa Léopold Sédar Senghor, que foi presidente da Republica do Senegal ¢ auror de “Mascaras”, destacando-se também como idealizador do Festival Mundial das Artes Negras, em Dacar no ano de 1966. Senghorclassificou as civilizagbes afticanas como “Civilizasio da idéia encarnada’, escrevendo que a arte na Africa Negra ¢ “participacin sensible ¢ la realidad que (ubtiende) al universo, a la surtealidad 0 mds exatamente, a las furzas vitales que animan al universo”®. ‘As opiniGes nao sfo de todo favoréves, existindo teses no minimo curiosas; neste aspecto, destaca-se Arthur de Gobineau, que afirmava: “El negro posoee en el més altio gradio la faculdad sensual sin la que no hay arte possible”, porém mais adiante arrematava: cera necessaria Ia alianza con la raza branca para valorizar sus faculdades, la perspectiva se hhabis invertido, ya que era entre los negros donde iban a buscar lecciones los que, con tftulos se afanaban en una renovacién del arte occidental”. Embora Coccteau tenha reconhecido 0 que ele chamou de “Crise Negra”, ou seja, a arte africana enquanto modismo em determinados ambientes, essa cuforia estava longe de alcangar o seu ponto mais elevado. ‘N ~ Em 1921, a escultura africana jé estava representada na XIII Exposica Internacional de Arte realizada em Veneza. Nesta mesma época, Carl Einstein, como sabemos, interessado na Arte Africana, publicou em Berlim o seu segundo livro, desta vez melhor informado etnograficamente, fruto de pesquisa mais aprofundadas, onde declara: “Cuanto mis se ocupa del arte negro, mds se ocupa uno del arte negro, mis se siente penetrado de un penoso sentimento de incertidumbre que engendra la prudencia’’', Reconhecia as dificuldades de uma compreensao imediata em vista da complexidade do tema € recomendava cautela, evitando desta forma, opinides intempestivas, a exemplo das jé referidas neste trabalho, em especial as de Arthur de Gobineau. Porém outras teses so colocadas ao ptiblico com acentuada caracteristica etnocéntrica, a exemplo da de Lucien Lévy-Bruhl, conhecido por sua esbogada doutrina “As fungdes mentais nas sociedades inferiores”, 0 mesmo que mais tarde publica “A mentalidade primitiva’, caracterizada pela oposigao entre “primitivos” e “civilizados”. Reconhecendo no final da sua vida que esta divisdo caracterizava-se pot uma excessiva esquematizacao. Em contrapartida a essas teses, surgem, em 1922, as obras de Maurice Delafosse, pioneiro, entre outros, do “africanismo”. A primeira refere-se a uma “Histéria da Africa sub-saariana”; quanto a segunda, trata-se de uma “Breve Antologia da Literatura Oral”, situada na mesma regi j0. Além desses dois livros, Delafosse publicou outro, em 1925, descrevendo a vida das sociedades negras agricolas, na tentativa de formar, no leitor, “uma idéia mais justa” sobre aqueles povos, que por alguns eram considerados intelectualmente inferiores. Apesar de opinides contrastantes, a Europa parece curvar-se, ao menos numa discreta aceitacao do ponto de vista estético, a expressao dos negros, inclusive tomando- a como tematica, como ocorrera com a Companhia de Ballé Sueco, dirigida por Rolf de Maré que apresentou a Criagio do Mundo” com inspiracdo negro-africana. A apresentagao desse balé em 25 de outubro de 1923 no Teatro Campos Elisios é considerada um fato de real importéncia na compreensao da “Arte Negra” e em especial para a sua difusao, pois em fungao da mesma grande parte dos parisienses conheceu esteticamente toda uma simbologia relacionada com a mitologia africana. A influéncia da Negritude no gosto do europeu se faz sentir especialmente quando da apresentagao da revista Doverst to Dixie, com o seu elenco composto na sua totalidade por negros, alcangando sucesso no PAVILOON THEATRE DE LONDRES, um marco importantissimo na histéria da musi género exportado pelos Estados Unidos em performance do Jazz em Paris, identificado com as expressoes all, sendo o primeiro trabalho desse 1923. Um outro exemplo seria a onde os Campos Eliseos jé representavam um lugar dos negros; a prova é ia 7 ; que por ocasiao dos concertos a Syncopates Orchestry de W. H. Wellmon, a musica de danga, 0 jaz € @ aie rica havam se misturado com “negro spirituals” e cantos de planta¢a0- c ‘sta, © destaque foi Josefine Baker, que alcangou o estrelato parisiense aps brilhante odisséia. p 49 Evidentemente nao se comparam as relagdes de prestigio entre a arte produzida na Africa ainda incompreendida ¢ a produgio musical dos americanos, que, apesar de tudo gozam do prestigio deste pats, enquanto poténcia. F importante destacar 0 que observa Leiris & Delange a tespeito dessa problemdtica, quando reconhece que s6 se pode falar de influéncia negra na Europa no que se refere & imitagao das dangas, em relagao as quais o ambiente afro-americano havia sido, a 10 menos, o principal influente enquanto centro de difusio, porém reconhece ainda, que foi essencialmente no ambito das diversdes, do lazer, que se mostrou mais flexivel, mais aberta e menos controlada. (GREEEIHB. Embora haja modificagdes no campo da are, fruto dessa contribuigéo, pouco se evoluiu na mentalidade em relagdo aos negros e em especial quanto a Africa e sua produgio artistica, que comparada ao Jazz ou ao Folclore musical afro-americano estes s40 considerados como produto mais “claborado” (sic). __O que se reconhece & que, em relagdo & escultura africana, que procedia de — _ civilizagdes moldadas em uma visio de mundo prépria, com tragos estéticos coerentes com essa situagéo, a relacio dos apreciadores, de um modo geral, situava-se no plano — do “exstico”. Reconhece-se que a proximidade com as sociedades negras produziu situacdes relevantes, a exemplo de intimeras publicagdes, documentérios, exposigdes; porém parece que a atrasao pelo “pitoresco” por vezes limitava-se & sua identificagao enquanto “primitivo ¢ selvagem”, embora tivessem feito com que o cotidiano dessas sociedades fosse mais familiar ao puiblico, em especial a0 universo intelectual do ocidente, sendo que alguns, com uma postura mais flexivel, elaboram um apreciagao do ponto de vista etnocéntrico, reconhecendo nestas produgées, se nao manifestagdes merecedoras de uma abordagem mais cuidadosa, também sistemas refinados de representagao de um universo particular. Radicalizando, os autores Leiris & Delange, afirmam: curso que climinava uma No es menos cierto, sin embargo, que para muchos brancos, incluso no imbuides de prejuicios racials, los produtos esttios dels negrossiguensiendo marginale en cierto prado, como said de na medida comin ene un ftiche' aca yun Apoloo una Virgem Medieval, o acaso un (oto egipeio oun Buda, no pudiera admire sin cera repugnancia por los ocidentales” famos, em consondncia com esses autores, em mo ocidental, como Numa andlise mais evidente, di aque pese os estigios de tolerdncia experimentados pelo humanism ses ence tena sobrevivem posturas nos diversos campos da atividade humana com as quais a arte interage, que traduzem um conservadorismo deformador¢ inadequado mos tempos contempordncos, em que a Arte Negra, produzida nos variados centros¢ vecuanide @ identifieada como ral, no necessita do paternalismo ou chancela para identificar-se enquanto “arte” em toda acepsio do termo, Ls 50 NOTAS LAUDE, Jean. Op. cit: 2 Idem Ibidem, p. 27. J. KI-ZERBO. Op. cit. p. 25. “J, KI-ZERBO. Op. cit, p. 26. S No referenre 3s bibliotecas do Marrocos, Cf, UNESCO Coletinea Seletiva de textos em Arabe provenientes dos Arquivos Marroquinos do Prof. Mohammed Ibraim El Kettani SCHsUS/894. No potentado Niger, Cf. Etures Maliennes, 1.S.H.M., n® 3, set. 1972, In: J. KI-ZERBO. Op. cit. p. 63. “J. KI-ZERBO. Op. cit., 26. J. KL-ZERBO. Op. cit. p. 27. * Idem, ibidem. ° CE. HOUIS, M. 1971, p. 27. In: Histéria Geral da Africa. Op. cit. p. 32-33. "© © termo etnia, atribuido aos chamados povos sem escrita, foi sempre marcado pelo preconceito fascist “{dolatra ou éenico”escrevia Clemente Marot desde o século XVI... In: Histéria Geral da Aftica. Op. cit, p. 33. " LAUDE. Op. cit, p. 27. "2 Idem ibidem, p. 8. © LAUDE. Op. cit, p. 9. ™ Idem, ibidem, p. 9 LAUDE. Op. cic, p. 16. “© LAUDE. Op. cit, p. 20. " MICHEL, Leiris & DELANGE, Jacqueline. Africa negra. La creacion plastica. Madrid: Aguilar, 1967, Colecio dirigida por André Malraux y André Parrot El Unicarlo de las Formas. Trad. Luiz Hernandez Alfonso. " LUCIE-SMITH, Edward. Dicionério de termos de arte. Tradugao: Ana Cri Quixote, 1990, p. 67. © MOTERARO, Lucas de. Histéria da Arte. Com Apéndice sobre as artes no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientificos, 1978. p. 194-195. % LEIRIS & DELANGE, p. 2. * LAUDE. Op. cic, p. 23. » Idem, ibidem, p. 23. % LEIRIS & DELANGE, Op. cit. p. 3. % Idem, ibidem, p. 5. ® LEIRIS & DELANGE. Op. cit. p. 5. 1a Mantua. Lisboa: Don * CARISE, racy. Arce Negra. S.D.B., p. 149. * LEIRIS & DELANGE. Op. cit, p. 7. ™ Etapas da “cera perdida’: a) A forma bdsica d folha de ma basica da peca é grosseiramente modelada em barro; uma folha cera a ¢ € modelada em volta da forma de argila; sao esculpidas os detalhes e aplicam-se decoragoes ence: ) © modelo ¢ coberta de argila e quando seco aquecido de cabeca para baixo sobre um pequen chama Para que a cera derreta formando assim o molde, o bronze derretido é entornado dentro do moldé vazio,ap6s oesfiamento 0 molde é quebrado revelando a pees de bron: Ine Mariano Carmelo da, Arte afto-brasileira In. ZANNI, Walter, Historia Gel he ae CONE \ a 51 2 CUNHA, Ma * LEIRIS & DELANGE. Op. cit, p. 8. “LAUDE. Op. eft, p. 23-24, © Idem. ibidem, p. 24. © Idem. ibidem, p. 8 “LAUDE. Op. cit, p. 26. ® KAHNWEILER, Daniel Henty. In: LEIRIS & DELANGE, Op. cit, p. 10. * LAUDE. Op. cits p. 24, © LEIRIS & DELANGE. Op. cit, p. 14 * LEIRIS & DELANGE, Op. cit, p. 14. * Idem, ibidem, p. 14 © LUZ, Marco Aurélio. Do tronco a0 opa exin, meméria e dinimica da tradigio africano-brasileira, Salvador: Ediges SECNBE, 1993, p. 190. © LUZ, Marco Aurélio, Op. cit, p. 191. © CARISE, Iracy. Op. cit, p. 142. “ LEIRIS & DELANDE. Op. cit, p. 14. “ Idem, ibidem. © Idem, ibidem, p. 16. Idem, ibidem, p. 16. © LEIRIS & DELANGE. Op. cit. p. 23. “Idem, ibidem. © LEIRIS & DELANGE. Op. cit. p. 26. Idem, ibidem. » Idem, ibidem, p. 29. ® Idem, ibidem, p. 29. ® Idem, ibidem, p. 33. 10. Op. cit, p. 981.

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