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JORGE VALA - MARIA BENEDICTA MONTEIRO COORDENADORES PSICOLOGIA SOCIAL 6." Edigao SERVICO DE EDUCACAO E BOLSAS FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN JORGE VALA * MARIA BENEDICTA MONTEIRO. COORDENADORES PSICOLOGIA SOCIAL 6. Edigao SERVICO DE EDUCAGAO E BOLSAS FUNDAGC. AO CALOUSTE GULBENKIAN Apresentacdo da 4.° edic¢do Seis anos de uso ¢ a dupla reedigao da Psicologia Social ao longo desse periodo mostraram © valor deste volume, mas também algumas das suas lacunas ¢ limitagGes que agora vém preencher-se por ocasidio da publicagio da sua 4.” edigao. Para isso foram importantes tanto a experiéncia docente de todos os seus autores como a sugestdes de colegas e de estudiantes, a quem aqui deixamos o nosso agradecimento. O novo texto e os textos renovados que integram esta edigao tiveram como obj lar, actualizar e integrar mais e nova informagao dos varios dominios da Psicologia Social. Manteve- -se, no entanto, a estrutura inicial, que organizava os textos em torno de cinco questdes: |. A historia da disciplina - desde a sua origem no século XIX, a par das restantes ciéncias sociais, até as princ pais fases da sua construgao ao longo do século XX ~ e as suas orientagdes metodolégicas: 2. Os fend- menos € processos que intervém em vastas reas do comportamento, nas Suas dimensdes intrapessoal ¢ imterpessoal; 3. Os fenémenos e processos que intervém no comportamento, nas suas dimensdes de grupo e das relagdes entre grupos: 4. Os processos de construgdo colectiva dos signiticados sociais, © 5. Questaes de epistemologia e de validade ecolégica na investi ivos comple- o em psicologia social Esta 42 edicdo contém nao sé um novo capitulo sobre processos cognitivos € esterestipos sociais, como significativas alteragdes em dez dos restantes capitulos e ainda um Indice temitico que facilite a procura de temas ¢ de conceitos ao longo de todo o volume. Vejamos. entao, em sintese, essas novas contribt que tém fi de questoes. No capitulo V, sobre 0 tema ckissico da formagao de impressdes, Anténio Caetano introduz as teorias implicitas da personalidade e apresenta um modelo recente que explora 0 processamento paralelo da informagio. Com o objectivo de facilitar a pluralidade de propostas nesta drea, o texto adianta ainda uma sintese integrada dos diferentes modelos sobre formagio de impressdes. O capitulo VI, sobre atracgao interpessoal. sexualidade ¢ religdes intimas, de Valentim Alferes, alarga a apresentagdo da investigagao, nomeadamente ao t6pico da amizade. No capitulo VIL, que vers os processos de atribuigio causal, Elizabeth Sousa desenvolve sobretudo a discussdo sobre a especificidade dos processos de atribuigao social. As atitudes, no capitulo VIII, sofrem nesta edigéo um alargamento importante L gra neste capitulo as teorias da persuasio, complementando assim a ultima parte. que tratava das pro- postas tedricas sobre os processos de mudanga de atitudes. A fechar este conjunto de capitulos, e fazendo a transigd0 para Leonel Garcia Marques estende 0 capitulo IX sobre a influéncia social .4s teorias que reléem os fend- menos classicos de influéncia a luz de novos processos, como o de auto-categorizagao ou 0 do con flito sociocognitivo. Os processos de grupo. tema do capitulo > Correia Jes 1a partir da segunda area ‘a Lima inte- terceira drea de questoes. - apresentam também ino mostra agora de forma mais alargada fenémenos especificos da situaga lteragdes de relevo. Jorge 9 grupal, taiy como a polarizagao € 0 pensamento de grupo, e decisio. suas repercussdes sobre a tomada de Os esterestipos sociais ¢ os processos socio-cognitivos que 0s originam € mantém é uma drea de investigagdo que atravessa toda a psicologia social do século XX, com amplas ramificagdes € entrosamentos com muitos outros conceitos e areas da interacgdo social, constituindo, a partir do final do século XX uma das areas fortes da Cognigdo Social. Constituia, nas trés primeiras edigdes da Psicologia Social, uma lacuna que desde o inicio urgia colmatar. José Marques ¢ Dario Paez, no capi- tulo XI, sistematizam o percurso da investigagdo neste dominio, apresentando os processos cogni- tivos da construgdo dos esterestipos e a articulagdo contextual que thes confere s ido social O capitulo sobre a identidade social e as relagdes entre grupos, de Ligia Amancio, é agora 0 capitulo XILA par da exposigao critica das propostas teéricas mais classicas, as extensdes contem- porineas do modelo das relagdes de poder simbélico aparecem agora com novos desenvolvimentos decorrentes do eruzamento dos niveis de analise situacional e cognitivo, ilustrados com investigagao recente, nomeadamente na drea das relagdes de género. Ainda no dominio das relagdes entre grupos, o capitulo XII, de Maria Benedicta Monteiro, apresenta novas contribuigdes, sobretudo em dois pontos tedricos da resolucdo de conflitos: o que é expresso pela teoria da identidade social e das relagdes entre grupos o que ¢ estudado no quadro da negociagao formal. A quarta questo que estrutura a organizagdo deste volume — os processos de construgio cole tiva dos significados sociais ~ continua, nesta edi¢do, a ser tratada no capitulo sobre as representagdes sociais, agora o capitulo XIV. Jorge Vala alargou a sua apresentacao especialmente no dominio dos processos sociocognitivos que presidem a formagao dessas representagdes ~ a ancoragem e a objec tivagio — também eles agora ilustrados por investigagio mais recente Por fim, 0 capitulo XV continua, com alteracdes sobretudo de actualizagao da literatura rele- vante, propor-nos uma reflexdo de contornas epistemolégicos sobre o olhar e o pensar da psicolo- gia social, dividida entre as matrizes positivista e sistémica da sua forma de interrogar a interacga0 social. A sistematizagao das teorias € da investigagao sobre contextos territoriais. sobre densidade populacional ¢ distanciagdo interpessoal em meio urbano, a partir da qual Luis Soczka ilustra e defende a instaurago de uma perspectiva ecolégica em psicologia social, remata de novo este volume em jeito de desatio. O gosto com que agora trazemos 20 pablico de lingua portuguesa esta 4.* edigdo da Psicologia Social € aquele que esperamos que os nossos leitores partilhem connosco ao Ié-lo, Gosto pela reflexdo, pela pesquisa e pelo confronto critico. Gosto existencial pelo perguntar. Até porque, como diz. 0 Consul Honorario, de Graham Greene, «as tinicas perguntas importantes sao as que o homem faz a si proprio». Lisboa, Novembro de 1999 Maria Benedicta Monteiro Jorge Vala Prefacio a primeira edic¢do Em 1982 realizow-se em Lishoa, na Fundacdo Calouste Gulbenkian, um simpdsio sobre «Mudanga e Psicologia Social». Este simposio teve 0 apoio da European Association of Experi- ‘mental Social Psychology & nele participaram, entre outros psicdlogos sociais portugueses e estrangeiros, W. Doise, H. Tajfel ¢ J. Ph. Leyens. Na sequéncia deste encontro, iniciaram-se lagos de colaboragao estdveis entre os psicdlogos sociais portugueses ¢ os seus colegas que, desde 1963, vinham procurando uma refundacdo da Psicologia Social na Europa. Este manual de Psicologia Social reflecte os resultados dessa colaboracdo e é, em larga medida, uma expressdo das questoes que. pelo menos desde entéio, tém sido objecto de pesquisa tebrica e empirica por parte dos investi- gadores e docentes em Psicologia Social no nosso pats. A expansdio do ensino da Psicologia Social criow a necessidade da elaboragdo de um manual que apoiasse a formacao dos estudantes do ensino superior que, nas mais variadas licenciaturas, seguem cursos desta disciplina. A diversidade dos interesses destes estudantes ¢ a variabilidade dos graus de profundidade exigida na abordagem da Psicologia Social a nivel de licenciaturas tao dispares constitutram um dos constrangimentos que orientaram a programacdo desta obra. Por outro lado, pretendia-se fazer wm manual que reflectisse os interesses e as orientacdes da Psicologia Social no nosso pats. Ndo se trata, assim, de uma obra que abrange todas as temdticas desta disciplina, mas cuja preocupacdo é a de reflectir a especificidade do olhar psicossociolégico nas diversas teméticas que séo abordadas. Ora, uma das caracteristicas deste olhar é a sua pluridirec- cionalidade com uma coeréncia que the é conferida pela procura constante de novas articulagdes Este objectivo foi prosseguido através da colaboragao de diversos autores. A diversidade dos espe- cialistas que colaboram nesta obra procura garantir a diversificagao tedrica, a par de uma profun- didade equivalente ao longo dos diversos capitulos, o que dificilmente seria possivel caso a sua redacedo tivesse cabido apenas a um ou dois autores. Os organizadores deste manual vém ensinando Psicologia Social ao longo de quase vinte anos. Para os estudantes, cujo espirito critico e cuja criatividade os estimularam na sua progressdo inte- lectual, vao os primeiros agradecimentos. Agradecemos também aos colegas que desde a primeira hora nos apoiaram neste projecto ¢ que aceitaram colaborar nele, conferindo, assim, a este trabalho 0 que nele ha de positivo. O nosso papel foi o de simples gestores de uma ideia —a distancia que separa a qualidade possivel da qualidade conseguida é responsabilidade nossa. Jorge Vala Maria Benedicta Monteiro Fevereiro de 1993 Apresentacdo da primeira edicao A Psicol com a intervengao. Social € u at disciplina animada pela paixdo da investigagao e pela preocupagio Pode dizer-se que a paixdo pela investigacdo é uma caracteristica forte desta disciplina, na medida em que o seu saber se oferece claramente omo um saber em construcao, sujeito a reformu- lagdes continuas, em diilogo com a analise empirica. Para alguns, porém, isso nao & uma manifes- taco de maturidade epistemol6gica, mas de inconsisténcia te6rica. Fora maior a solidez terica desta disciplina, ¢ seria menor o seu recurso a investigagao empirica. Para outros, a presenga forte da inves tigagao empirica em Psicologi Social teria vantagens, sim, mas nio para esta disciplina — ela nao seria mais do que um Laboratorio das ciéncias sociais mais nobres, que daf retirariam as ilustragdes de que carecem sobre a dimensio individual dos fendmenos colectivos. Quanto a Psicologia Social, ela prépri m epifenémeno que desapareceria com a maturagdo anunciada das demais cién- sociais e humanas. . Seria Nao € este o lugar para descortinar as razdes da elevada produgdo emp nem para discutir 0 significado e o futuro dessa produgdo. Mas, tra portugueses, vale a pena sublinhar que aquela foi uma das caracteristicas desta disciplina a que se quis dar destaque. A apresentago de cada problema serd, assim. pautada por referéncias a estudos empiricos, Neste sentido ica desta disciplina, \do-se de apresentar o primeiro manual de Psicologia Social escrito por autores referencias a investigagdes empiricas ov, por vezes até, a sua apresentacio detalhada servem dois objectivos — ilustrar a andlise de um problema e ilustrar a estratégia de construgio de conhecimentos nesta disciplina E nosso propésito que este manual possa ser um pedagogo do jogo que consiste em lutar contra as hipéteses que se soube formular e, de uma forma mais geral, que possa contribuir para uma pers- iva no doutrinal ¢ nao opinativa em ciéneias sociais. Dissemos que a Psicologia Social era uma discipli intervengao, Este objectivo cedo a associou & ideia de tecnologia social ¢ em muito contribuiu para 4 identificagao desta disciplina com oy mecanismos de gestao dos sistemas dominantes, Dispen- samo-nos de entrar na polémica sobre a Psicologia Social como disciplina subversiva ou repressiva. Mas pretendemos que esta obra reflectisse a relevancia social desta diseiplina, Ora, poder parecer que esta preacupagio esta ausente na medida em que nao existe nenhum capitulo dedieado is apli- cagdes da Psicologia Social. Em nosso entender, dedicar um capitulo as aplicagdes desta disciplina estaria em contradis a. Na sua animada pela preocupagao com a Jo com a Sua propria gi tivas a st6ria, sempre que questdes rel problematicas sociais relevantes dominaram a Psicologia numa perspectiva qui Social, a abordagem dessas questoes fez-se Igo € a intervengao, Foi nessa perspectiva que traba- Iharam investigadores como os que. a partir de 1944, se retinem a K. Lewin e fundam o Research Center for Group Dynamics, num programa de investigagdes onde a preocupagiio com a democracia era um problema e um pressuposto importante, Ou os investigadores que. a partir de 1945, traba~ Iharam com Hovland sobre a influéncia social ¢ a comunicagio persuasiva, animados pela preo- a invest cupagao de esclarecer os mecanismos que haviam alimentado a forga da propaganda durante a Segunda Guerra Mundial. Ou ainda aqueles que. a partir de 1954, na esteira de Allport, estudaram i hip6tese do contacto como meio de contribuir para a fundamentagdo das politicas de dessegregacao. Na Europa, nao & possivel separar a teoria de Tajfel, sobre a categorizagiio ¢ a identidide social, das preocupagdes com a xenofobia € os preconceitos contra grupos culturais minoritérios. Da mesma forma, a teoria de Moscovici sobre a influéncia social dos grupos minoritirios e das minorias acti- vas. iniciada no dealbar de Maio de 1968, esté fortemente ligada as preocupagdes com a eficdcia dos novos movimentos sociais e com a mudanga social. A relevncia social desta disciplina encontra-se inscrita na sua prépt . € OS seus periodos de desenvolvimento tém sido, simultaneamente, periodos de aumento da sua relevancia social e, consequentemente, dat sua maturagdo te6rica. Importancia da investigagao e releviincia social foram dois dos eixos que organizaram a pro- gramagdo deste manual. O terceiro foi a atengao A producdo nacional. A Psicologia Social ¢ uma dis ciplina com uma historia breve entre nds. Como as demais is, esteve congelada pelo regime ditatorial que, até 1974, marcou a vida quotidiana, mas também a vida cientifica, do nosso pais. Por via das suas implicagdes na gestao das organiza algumas das preocupagdes da Psicologia Social puderam ser ensinadas no periodo pré-25 de Abril de 1974, quando o regime de o esbogou uma intencdo de reforma administrativa e os de modernizagao da esto ao nivel do sector privado. Mas essa vertente da Psicologia Social .que hoje, em larga medida, est na base dos estudos sobre o comportamento organizacional, nao € toda a Psicologia Social. Para além do mais, muita da utilizagdo dos conhecimentos da Psicologia Social a esse nivel 86 podia ser feita numa perspectiva de reproducdo, dado o ensino universitario desta disciplina se encontrar limi- lado e as condigdes para a investigacao serem nulas. Com 0 advento da democracia, foi possivel alterar este estado da disciplina — 0 seu ensino expandiu-se e dio-se os primeiros passos na investi gacio. Uma parte importante dos tabalhos empiri la reflexdo teérica realizados entre nds reflecte-se na programagao € nos contetidos deste manual. E evidente que nem essa produgdo € tanta que pudesse marcar de forma clara © manual, nem o seu cardcter de introdugio a uma disciplina 0 deveria permitir, caso tal fosse possivel, Procurou-se, assim, um equilibrio aceitavel entre as preo- cupagdes pedagégicas, as necessidades de uma certa coeréncia transversal ¢ a atencio & produgio nacional e as orientagoes de cada autor. Examinemos agora a estrutura do manual. Os trés primeiros ¢: da Psicologia Social. As raizes desta disciplina na filosofia social europeia e tual que, nos finais do século pasado, permitiu a emergéncia das diferentes ciéncias sociais do ana- lisadas por Alvaro Miranda Santos. Se tivéssemos que eleger uma questdo-chave nesse debate, a opcao recairia na tensdo entre o individual e 0 colectivo. Esta €, alids, uma das questoes retomadas por Orlindo Gouveia Pereira ao relatar os pontos de ancoragem da Psicologia Social nos Estados Unidos. E € ainda em tomo da resposta a esta mesma questo que Jorge Correia Jesuino situa a distintividade da nova Psicologia Social europeia. Estes trés primeiros capitulos contam-nos, afinal. como se foi constituindo o objecto da Psicologia Social e quais as orientagdes basicas das respostas desta disciplina as perguntas que foi formulando. Como qualquer disciplina, a Psicologia Social caracteriza-se pela natureza dos problemas que aborda e nao pelos seus métodos. Mas a abordagem metodolégica de um problema é ela propria con- figuradora desse problema. Este livro ndo poderia. por isso mesmo, deixar de conter um capitulo dedicado aos métodos. Combinando questoes epistemoldgicas e técnicas, Jorge da Gloria escolheu o ia teori enti os & sem problema da medida como aquele a partir do qual reflecte sobre as orientagdes metodold Psicologia Social. Apés estes capitulos introdutorios, dois capitulos abordam um problema nuclear na pesquisa psicossociol6gica — a percepgdo do outro ¢ as relagdes interpessoais, No capitulo sobre a formagao de impresses estd em causa a compreensao dos mecanismos basicos que nos permitem construir um retrato estvel e coerente acerca de outrem, nomeadamente quando a informago de que se dispoe & escassa. Mas sera mesmo necesséria qualquer informagao para que seja possivel formar uma impressio € predizer 0 comportamento futuro de uma outra pessoa? E este 0 tipo de quest6es analisadas por Ant6nio Caetano no capitulo V. Valentim Alferes propde-nos, no capitulo seguimte, uma aniilise dos factores que estdo na base de modalidades especificas de relagdes interpessoais — as relagdes de amizade e de amor € 0 seu contexto emocional Avaliar e explicar sto duas actividades qu povoam a nossa vida quotidiana. Avaliamos € explicamos fenémenos sociais, comportamentos de outros ¢ os nossos préprios comportamentos. A Psicologia Social dedicou muita da sua investigacao a anilise destas actividades quotidianas, no 86 porque elas se repercutem na programagio dos comportamentos individuais ¢ colectives, mas também porque constituem um lugar privilegiado de compreensio do funcionamento cognitive. O conceito de atribuigdo, abordado por Elizabeth Sousa no capitulo VII, é aquele que tem apoiado a compreenso dos factores que regem as imputagées de causalidade. O conceito de atitude, por sua vez, € aquele que da conta da dimensao avaliativa presente na apreensio de qualquer objecto. As ati- tudes so anatisadas no capitulo VIII por Maria Luisa de Lima, Praticamente no centro deste manual. o leitor encontra um capitulo sobre a influéncia social, da autoria de Leonel Garcia-Marques. Trata-se de uma temdtica também central na Psicologia Social Em sentido lato, poder-se-ia até definir esta disciplina como o estudo da influéncia social ¢ poder-se-ia dizer que este problema est presente em todos os capitulos. Mas exactamente porque esta tematica ¢ de tio grande importincia para este ramo de conhecimento, ela foi-se especificando ¢ assumindo progressivamente uma autonomia propria. E na sua dimensao restrita, embora percor- endo varios paradigmas, que a influéncia social & abordada no capitulo IX. Nos tiltimos anos. paradigma da cognicao social tem sido dominante em Psicologia Social e orientow o interesse desta disciplina para duas temiticas presentes em capitulos jd apresentados— a 0 causal. Mas estes tiltimos vinte anos de pesquisa ainda nao atingiram oy niveis de divulgagiio © popularidade alcangados por temas como as atitudes € os pro- cessos grupais. Alids, para alguns te6ricos da Psicologia Social, iremos entrar numa nova era no estudo das atitudes @ no renascer do interesse pela andlise da vida dos grupos, No capitulo X, Jorge Correia Jesuino apresenta os aspectos mais centrais na pesquisa sobre o funcionamento dos grupos. tomando como problema a relagao entre estruturas grupais, processos grupais ¢ eficiicia dos grupos. Na sua heterogeneidade. os quatro iltimos capitulos estdo ligados por uma clara mudanga de nivel de andlise relativamente aos precedentes, A interacgdo desloca-se dos niveis interpessoal ¢ intragrupal para objectos de andlise mais macrossociais, O manual termina, assim, com uma andlise das principais temdticas da Psicologia Social da vida social O desenvolvimento das teoriats das relagdes entre grupos, o significado das rupturas terie: tém pautado o seu discurso e a anilise critica do seu formagao de impressoes e a atribui que explicativo sio desenvolvidos no capi 10 € ai dada ao modelo da identidade tulo XI. apresentado por Ligia Amancio, Uma saligneia espec social © as suas extensdes contemporaneas. do contito ed de Maria Benedicta Monteiro. A identificagao dos sucessives niveis de andlise que tém sido adopta- rupos. bem como a forma de os reduzir, constitui, As direas mais espeetfica cooperagio entre grupos sao 0 tema do capitulo XI dos para explicar a génese dos conflitos entre neste capitulo, o fio de ligagdo das diferentes hipdteses que se desenrolam ao longo de meio século de investiga Num campo tensional entre © macrossocial e 0 psicolégico, a aniilise dos processos através dos quais as pessoas constroem teorias sobre os objectos sociais. configurando assim o seu préprio na da campo de signific Psicologia Social que Jorge Vala apresenta no capitulo XIII ~ as representagdes social em revista a literatura mais consensual neste dominio, mas também a mais polémica, tentando jos © de priticas. integra desde os anos 60 um conceito © um paradig Nele se passa traduzir a perspectiva de que estamos perante uma area de conhecimento em que se vivem as con- n construcdo. tradigdes € a fragilidade de um saber et No quadro do debate apresenta, no capitulo XIV. uma perspectiv epistemolégico entre 0 positivismo e o construtivismo social, Luis Soczka ecok a da Psicologia Social. Da densidade popula. cional & proxémica, percorre as temiiticas ckissicas e contemporineas que nos chegam dos estudos ambientais. E encaminha-nos dialecticamente. bem ao seu jeito, para uma nova discussio. 2 um caleidoscépio: 0 movimento de Convidamos 0 leitor a utilizar este manual como quem w uma leitura atenta ¢ critica produzird combinagoes € articulagdes de teorias € problemas que, espe- ramos, serdo ndo s6 agradaveis como também estimulantes da pesquisa. Jorge Vala Maria Benedicta Monteiro Fevereiro de 1993 AUTORES via ¢ de Ciencias da Educacde da Universidade Alvaro Miranda Santos, professor jubilado da Faculdade de Psive Coimbra + Anténio Caetano, professor auxiliar do Instituto Superior de Ciéncias do Trabalho ¢ da Empresa, Lisboa. Elizabeth Si fessora associada do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa. «+ Jorge Correia Jesuino, professor catedritico do Instituto Superior de Ciéncias do Trabatho ¢ da Empresa, Lisboa: + Jorge da Gloria, professor da Universidade Luséfona. + Jorge Vala, professor cutedrdtico do Instinto de Ciéncias So «+ Leonel Garcia-Marques, professor auxiliar de Psicologia e de Ciéncias da Educagdo da Universidade de Lisbon. + Ligia Amine! * Luis Soceka, professor associado do Instituto Superior de Psicologia Aplicada. + Maria Benedicta Monteiro. professora catedratica do tnstituto Superior de Ciéncias do Trabalho ¢ da Empresa + Maria Luisa Pedraso de Lima, professora auxiliar do Instinto Superior de Ciéncias do Trabalho ¢ da Empresa Orlindo Gouveia Pereira, professor caredratico da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Valentim Rodrigues Alferes, professor auxitiar da Faculdade de Psicologia ¢ de Ciencias da Educagde da Universidade de Coimbra. José Marques, professor associado da Faculdade de Psicologia e de Ciéncias da Educagdo da Universidade do Porto Dario Paéz, professor catedrivicn da Faculdade de Psicologia da Universidade de San Sebastian. ais da Universidade de Lishoa -professora associada do Instituto Superior de Ciéncias do Trabatho ¢ da Empresa, Lisboa. CAPITULO! Os primérdios de uma disciplina A psicologia social realizou varios percursos a0 longo do seu caminhar em direcgao a sua defi- nigdo epistemol6gica. Quase se poderia falar de caminhos € descaminhos da psicolos Nao seria valido, no entanto. Com efeito, mesmo os descaminhos nao so descaminhos. Se bem reflectidos, se convenientemente reelaborados, em convergéneia, podem constituir etapas va das para a rigorosa afirmago da validade episte- moldgica da pratica tedrica e da pritica aplicada, da psicologia social em constante renovacao perante novos dados, encontrados na observacao experimental. Em consequéncia, na medida em que se nos deparam caminhos e descaminhos, 0 tecido desta breve apresentacdo vai patentear malhas que se li- gam entre si, umas de forma mais rigorosa, outras de forma menos rigorosa, ¢ algumas seguramente sem ligagdo aparentemente nenhuma, vistas duma forma isolada. Perspectivadas no seu conjunto até podem apresentar um tecido relativamente acei- Livel ou, mesmo, com subido interesse por deixar uma ou outra matha capaz de provocar um alarga- mento, uma diversificagao, um aprofundamento, Situando-nos no século XIX, por razdes facil- ‘mente compreensiveis, poderiamos apontar um primeiro percurso, que iria dal e — CUISO © Perculso Alvaro Miranda Santos no fim? Seguramente duma certa imagem ou ideia dessa mesma psicologia Haveria, portanto, um novo percurso, centrado em tomo da convergéncia polémica entre as Um ultimo ou um primeiro per- curso seria © duma psicologia social em moldes tre os mais significativos Esta possivel pré-hist6ria, talvez_proto-hist ria, da psicologia social quer evitar a todo 0 custo cair no lugar-comum de ir buscar g inicio da ciéncia ou das ciéncias aos Gregos! 4 neos ¢ posteriores. como Hesiodo, Demédstenes. Sotocles Euripides e principalmente Aristételes. No mundo romano seria de realgar Tito Livio, Cicero, particularmente Plinio, « Moco. Mesmo nos medievais, Agostinho de Hipona, Ibn Sinna ¢ Ihn Kaldum, Tomas de Aquino ¢ Anselmo, ¢ mesmo Herbert de Salisbury. Entre os modernos, 08 portugueses das erdnieas ¢ dos relatos de via gens €. entre O¥ estrangeiros, tantas vezes apoi dos nos relatos portugueses, como € 0 caso de Montaigne, mesmo de sau de Campanella ou Th, Morus. Vamos tentar compreender a historia da psi- cologia social, destiando os seus pereursos. Por ultras palavras: vamos procurar construir uma his (ria da psicologia social. inventariando algumas das suas diversas «imagens» ou «representagdes». Rous: nae primeira seccio desta Wiliom MeDougatt 1871-1938 obra leva por titu hum o: «As caracteristicas mentais do mno (so) de primeira i vida na sociedade». Ea déncia da tendéneias primairias do_pensamei humano na vida das sociedade nto aqui Se encontra a hase para uma igo. com interesse. Por outras palyr ambiguidade que durou demastado tempo. No entanto, altemativas varias foram de- sabrochando ao longo dos 3 nos € ‘outras mais dominadas pelo bissubstancialismo, na_forma particular que the _imprimiu + ae ‘em nomes, seria de ver entre McDougall ¢ Ross, n consequencia Wos. amas m Neste ponto, vamos ficar por esta primeira parte dos caminhos ¢ descaminhos, lobrigando ao Jonge a possibilidade detinitiva da psicologia social como ciéncia e contetido cientifico espect ficos. O ponto seguinte iri demonstrar, adentro das perspectivas dos seus autores. como que ela foi acontecendo. Aqui ficard como € que ela se foi mostrando, a0 menos no que diz respeito « gran- linhas ow a grandes espagos d sua tematica, 2. 0 individuo e a sociedade Ainda hoje se encontram estereotipias. mais ou menos avatares, da antinomia tradicionalista entre © individuo e a sociedade. Trata-se de antinomias variadas que Palante (1913) resume do seguinte modo: a antinomia psicoligica, na vida intelec- wal, na vida a tividade voluntitia: econémica, politica, juridica, sociolégica e moral. Tais antinomias encontram-se mais ou menos esquecidas ou, ao menos. postas de lado. Trat mesmo duma finguagem que. em algumas suas modalidades, ji nem sequer se encontra em- pregue. A um olhar mais atento para a actualidade, na sua manifestagdo global, encontra-se cl mente presente e, mais do que isso. claramente ex- +) A dicotomia criada pela diakéctica actual: a antinomiaventre personalidade e cultura) Esta anti- nomia domina em muitas reflexGes acerca da pre- senga e interacgdo de culturas diferentes. acerca da aprendizagem escolar e. insensivelmente. passou para o linguajar do dia-a-cia. E nao admira: facil se tora observar a tal respeito uma quase unifor- midade de certoy dizeres © de certas perspectivaas em meios de comunicagdo social, quer escrit quer falada, quer televisiva, Toma-se, portanto, ‘operacional situar a antinomia de fundo € como é que se pensa superi-la. E, em primeiro lugar, de que constari ela na sintese praticada por Palante, As reflexdes de Palant@etntetizam bem unr certo niimero de ideias comentes nos fins de XIX ¢ inicios de XX. Assim, para os contetidos do vor bulo individuo, convém superar o que ainda hoje € Vulvar. Ou ja: St Te em primitivo, da natureza. a Rousseau («ideia. pri- ‘meira de bondade natural, claramente peregrina» (Palante, 1913, n. 2). Menos ainda se pode tratar da individualidade, espécie de unidade absoluta esséncia espiritualy mais ou menos universal (Kante Fichte) O mais frequente € a ideia de indi. CaN MO NAGAI particularmente re 15 ‘ado em contraste com o colectivismo de qual- quer cor que seja. [deia de individual que apre senta 0 individuo como claramente independente —certas ideias de liberdade — como podendo viver isolado na sua «torre de marfim», fora de qual- quer tipo de sociedade. Ora, como refere Palante tal individu nao se encontra em lado nenhum E aquele autor conclui com esta refle na-se indispensivel reconhecer que a conscién cia individual & sempre, numa parte razodvel. ¢ reflexo das opinid mesmo que se encontre em reacgdo contra essaas opinides e esses costumes» (Palante. 1913, n. 2) Por aqui se pode adivinhar quais vao ser os contetidos culturais presentes no voedibulo so dade. Nao somente nem principalmente 0 Estado, s ¢ dos costumes do seu meio. $ © Conjunto dos «circulos sociais» nos q Participa um individuo e as consequentes relagdes complexas. nas quais se encontra envolvido pelo facto mesmo da participagio, Em qualquer hipstese, convém procurar evitar os dois extre- ‘mos principais: «divinizar e anatematizar» a soci dade (Palante, 1913, n. 1), pois pode-se verificar sempre um sem-niimero de influ ora se adicionam e se reforgam, ona se opdem e até se neutralizam (EE eS ae dade, razoavelmente ambigua: «O homem € pro- duto ¢ produtor da sociedade e/ou da cultura». Seria de perguntar, nesta sequéneia: tudo se equivale? E & resposta surge: nao, propriamente: Com efeito, hd uma diferenga aprecidvel entre as as que Se podem enumerar eo realgar mais fortemente das antinomias entre o individuo, jas. as quais © a sociedade. A primeira a ser equacionadit yai Sr @ antinomna psicolégica, pors constitu «i Giinomia Tundimentabs Cowpreeneeetincnic todas as outras nada mais siio do que extensdes GUAPERCOESUESSD F torna-se interessante. para a andlise que aqui me proponho, perspectivi: como algo na _dependéncia da_antinomia psi se trata, partindo da perspectiva de que a propria realidade é a leitura que dela efectuamos, ha que a tomar como tal até que consigamos transtormé-la duma forma capaz de corresponder a totalidade do real em observa- Ho, na fundamentacdo duma «leitura> diferente. Vai ser 0 caso «leitura», $ GG Este siktimo a tocarnos muito mais de perto © muito rapidamente. Vamos ver porqué. Toda a historia da ciéneia, como, al historia em geral, encontra-se em maior ou menor proporgao circunscrita a um grupo, a uma organizagao ou a um Estado (Nagao), com mais ‘(ou menos ramificagoes. Toda a historia da ciéneia, muito particular- mente, apresenta-se como uma histéria apolo- gética das «conquistas do espirito humano», isto €, das grandes descobertas cientificas. Claro © perfeitamente compreensivel. Como € igual- mente claro e compreensivel que, pela novidade da sua apresentagio, pelo realce que recebeu em termos de divulgagao, principalmente pelo brilho. das suas aplicagdes técnicas, cada descoberta ‘ofusque com a sua fulgurincia outras verdades ou outras realidades, outras pesquisas ou outras possibilidades de ir mais longe, ou mais diversi- ficada ou diferentemente, na captagao de qual- quer outra realidade em qualquer outro campo ou ramo do saber, Quase seguro, encontra-se aqui em forga d a jogar» no sentido dum progressivismo de per- feita rectilineidade, colocando como paradigma a realidade mais facilmente observavel, mais faci mente sujeita a aplicagdes téenicas. Por conse- quéncia, parece querer impor-se mesmo decidida- mente ao que & do foro humano, ou em modo exclusivo de anilise experimental em tudo 0 que representa investigagdo sobre © humano, Apesar da divulgagio de vocabulos como progresso e/ou evolugdio, quase esvaziados do seu contetido e grandemente devedores a uma espécie de destino ceg0, hoje, pouco ou muito pouco sentido podem, ter. Ainda que se encontrem a imperar em forca dentro duma «meméria colectiva» bastante tipica, Evidentemente, insustentivel (Santos, 1991), A.alternativa consiste numa espécie de historia da ciéncia em génese. Tal «histria em génese» por observagio para descoberta do «real» vai constituir 0 fio de Ariane. a conduzir pelos mean- 19, dros dum labirinto embrenhado, em direcgao & ciéneia psicol6gica, capaz de abarcar 0 humano nna sua especiallidade e na sua globalidade. Neste contexto adquire particular relevo a psicologia social apesar da sua to propalada «infncia» (Allport, 1954), declarada € mesmo reclamada por diversos autores com responsabi- lidades. Adquire ainda, e para 0 caso, particular relevo 0 seu caminhar, feito de caminhos e des- caminhos, os quais, em sintese, poderdo cons- tituir fonte inesgotivel de problemiticas diver- sas e permitir ampliar, aprofundar, diversificar €, principalmente, especificar cada vez mais 0 humano, como objecto cientifico. 4, Uma segunda possibilidade Por todo 0 século XIX. cresce em grande forga © imteresse votado factor de base dae bi ‘ini Nessa medida vé-se GREGG. 04: seja, da interacgdo. Sem o nome, apenas. Em realidade. elarament era. na designacio de Ribot re GERD foi na Atemanha que acomeceu ecial dado ao tema, Sem aquela ponta de nostalgia por esse «estado de gragan, chegando-se a acusar a «civi- lizagio» sendio mesmo a «culturay ow a «socie~ dade» de o destruir (Moscovici. 1972; Roszak; racgio encontrava-se igualmente presente nessa outra problemdtica, designada por Volksgeist, e aqui a lingua adquire mais importancia e mesmo especificidade como manifestaciio que é grupo cultural ‘or este lado. a psicologi étnica ganhou impacte a partir de 1859. Este foi © ano da fundagio da Zeitschrift fuun ‘colo und Sprachenwssenschaf ns Lazarus e Steinthal. Foi este que. partir de estu- dos diferenciais em histéria, em geologia, em antropologia,em etnologia e, principalmente,em linguistica, estabelece as leis psicolégicas da linguagem. A psicologia étnica preparava a psi- cologia social através da interacgao, cujo instru- mento a lingua, No entanto, além ou aquém desse instrumento encontram-se as mais diversas formas vivenciais © vivenciadas para cada um ‘em si mesmo considerado. assim como em grupo ‘ou grupos, dentro e fora das . Por outras palavfall BP iste uma comuns as individuais, ‘duma nagao, duma ragaO que pretende € dispor, regularmente, em tornc(@Uhi enthO PSCOIOgIeo. a diversidade dos factos sociais (1) tal eentro SeOMMMMAD or actividades, particularmentAGOD estas duas:/o instinto) ou aetividade irreflectida ¢ a vontade ou actividade reflectidas A primeira scrula dos selvagens e a segunda a dos civiliza- GBD Esia perspectiva constitui_o fundo dD Naturvoetker und Kulturvoetker (Povos Primuti- vos ¢ Poves Civilizados). E em subtitulo: «Ein Betrag zur Socialpsychologie» («Contribute para H Psicologia Soci Nesta pespeetre mais ou Teno dicotémica, se podem compreender as vie riagdes dos costumes, dos usos. das ciéncias e das como das religides: em conformidade wconsciéncias» com as actividades fupdamentais dos humanos. Vierkandt, ao enumerar as caracteristicas: do BPRinto. define © tipo de viet dos povos inst vos: vida apaixonada, sem fins previstos, do qu fesulta a sua forma de deixar correr, a permifif fuma forma de jogo de que resulta uma alegria cof fiante, despida de preocupagdes, agindo 20 sabi Klas circunstincias, fisicas € sociais. Por ouffty lado, a actividade de analogia e de metéforas. bd Bas mitologias é-hes familiar, assim como urfl Britica moral voltada para o exterior. O civilizaday Beri algo em contraste total com o selvageil Be actividades livres, forma projects varios pall Bdicctivos de imteresse e, por isso, age indepelly Pentemente das circunstincias. vive ocupadiil fobretudo preocupado com o futuro na mail parte dos dominios, capitalizando sob as mdi diversas formas para o depois, Lats conseqn ncia, tam para valores que dao & moral a forma de algo POF Sua Vez. Vali incidir Sobre ‘ordem parece divina quando é Economia politica previdente, arte criativa. a cumprir. religido. Toda moral ciéncia explicativa, conscién valor eum ‘o-moral constituem a predomi sobre 0 instinto. nao pretende. esta bem de ver. que existam efectivamente estes dois grupos. nem apenas estes dois grupos. Trata-se mais propria mente de protétipos, a permitirem todos os matizes. quer neles mesmos dois. nancia da vontad nando 0 insti enire os humanos. o sentimento soci -se no maximo. Dominando a vontade, factor de desunido ou de separagio entre os humanos. a sociedade que se civiliza caminha para o suicidio. O instinto une, a vontade separa: onde domina o instinte 4 soviedade € forte © temos a bathsrie: onde a vontade c. E clara domina, na eivilizagio. 1 sociedade enfraquecs intinomia entee & sociedude e a eivilizagio e a harmoniat entre a moral A civilizagio. A vivilizagioé uma flor rara ¢ ofémera. nt Hist6ria da humanidade, come a sotividade voluntiria do individuo (Vierkanalt, 1896, pp. 5. 24-6 26), convém reter nesta caminhada: na diversidade das formas de interacgao ¢ des con- teidos interactives em foco, o humano encon- tra-se todo, por inteiro, a justificar, pela sua eria lividade, a diversidade das manifestagdes. Apesar de toda esta reflexdo, com um certo interesse. enfermar de generalidade pronuncis- da, € bom colocd-la em foco, pois encontra-s a frequéncia, sem as pessoas dela se darem conta. E, neste contexto duma aproxi- com \cclacids plo TSS TTS Tso. magio a psicologia social, encontramos algo de mais explicito ¢ de mais significativo, ao menos historicamente, Antes de todos os autores. seria de foear coy erto releva Qud Apesar disso, no segundo tomo da sua obra as Leiy Sociais. j4 aponta para um sentido diferente do direito e da sua consagrago em termos de pre- ceitos. No terceiro tomo, no entanto, a come. pelo titulo hi algo de sisi Social. icativo:_Psicofisica qualquer que seja o significado da sua obra se propos realizar algo de diferente no domi- nio da investigagdo sobre © humano, em plena euforia da antropologia fisica, amplificada com a acao da ivas de Darwin e outros, do mesmo modo ¢ logo no inicio alguém se propos perspectivar a psicossociologia, qualquer que seja © valor da sua obra. Import, isso sim, realgar que Como seri praticado na sequéncia. Jai antes de Lilienteld (1873) ¢ mesmo de Fechner (1860), algo de interessante, mesmo de curioso, a0 menos para o nosso olhar de hoje, estava acontecendo, Ventilou-se, duma forma inédita ow significativa, no titulo e no contetido duma obr. A sua Wineim Wunatt 1832-1920 Neste contexto © sem afirmar nem infirmar a validade ~ para aqui irrelevante — convém praticar uma breve referencia a QQ O menos conhe- cido talvez mesmo simplesmente desconhecido pelas histérias da psicologia, tendo presente a divulgagio, através do paradigma fisico-mate- miatico ¢ biofisiolégico, da suat No entanto, € fundamental para se nos deparar uma contra- partida, notavel 10 maci¢a por ¢ para e, no 0. redutora dum pensamento e de perspectivas largas e diversific afirma mais ou menos por estas palavras A su Vast aleance de todos e apta a demonstrar que a vida, os costumes, as tradigSes, as crengas. a pripria linguagem dos «povas selvagens» oferecem uma matéria demasiado vasta i investigacio cientitica. en ao Jo que o estado psiquico destes poves uultado de circunstincias tao complexas dem escapar ~ escapam e escaparam — a obs “do desarmada. E acrescenta: é lamentavel hoje n: yrancado a estes docu E. no entanto, mentos dum ele- ncontram-se ek vado interesse psicoligico nas «cosmogonias» tradicionais dos «selvagens», assim como nas «mitologias» dos povos civilizados. Em ambos os casos, quanto hi a esperar duma releitura desses dados arqueolégicos vistos nao apenas como pro- dutos mortos, mas como vivéncias vivas de pes- soas ¢ de grupos. Tais dados foram desconsider dos. desprezados por vezes, mesmo destruidos, até materialmente, sob pretexto de inutilidades supersticiosas, para uns e para outros, de crengas obscurantistas. No entanto, a partir duma inter- pretacao hicida e aprofundada ou diversificada de todos esses velhos documentos literirios ~ orais e/ou escritos ~ to importantes se ndo mais, to Ficos se nao mais do que os monumentos em. matéria dura, revelar-se-d algo bem desconhecido. Toda essa literatura, oral e/ou escrita, muito poderi: contribuir para mais adequada leitura- o, isto é, para mais especifica obser- vacdo cientifica, do humano ¢ dos humanos. atra- ves da andlise da linguagem e dos seus contetidos mais do que das suas formas, adentro da comu- nidade humana e de cada comunidade humana. Jd amtes, convém frisi-lo, se exprimia um por- igués lticido, em contacto com as populagdes kiokas que 0 maravilhavam: «Tendo-nos como modelos... as realidades que vemos, levamo-las & conta de selvajaria, para com desprezo tratarmos © negro e chegarmos 3 triste e errénea conclusao que queremos faga eco no mundo civilizado: de que os povos da Africa sao brutos e como tails $6 a liro se podem submeter aos nossos usos © cos- tumes; ou entio que deles nada Se pode fazer por serem rebeldes ao ensino» (Carvalho, 1890, p.45). Tinha afirmado paginas antes: «Se ha estudo que 1 mais sossego de espirito © maior impa alidade de opini das tibos africanas com que se logra estar em contacto; e, sem este estudo despreocupado, a etnografia ndio pode progredir nem fixarse em bases seguras» (Carvalho, 1890, p. 4). Propostas preciosas contra 0 etnocentrismo, seja de qual cor for ou mesmo de cor neutra, este a negar validade © valiosidade a ciéncia e a prat partic @n grinde vantagem que pode trazer para a com- preensio da personalidade a andlise dos fend- menos que resultam da a proca. Consiste nisto © papel da «psicologia éinica: «Observar cuidadosamente os fenéme- nos psicolégicos que se encontram na base do desenvolvimento geral das sociedades humanas edo aparecimento dos produtos colectivos dum valor geral» (1901). A seguir avanga mais esta ideia curiosa: a psicologia étnica diz respeito a alma e nao ao espirito, A ideia de alma, com eleito, © de fendmenos psicoldgicos comporta sempre a relagdo a um corpo, os fendmenos ps coldgicos sdo-nos dados, ligados a um corpo. E aalma colec to real como alma individual. Observagao maiy pertinente ainda 6 esta io &, sem contestagao aly uma,o (criticando: Darwin e Spencer para realgar as expressoes de intensidade. de qualidade e de representacao das emogdes), a pensar na linguagem gestua |. com particular realce para a facets simbélica, a pen- sar nos sons, na sua faceta natural e na sua trans- y.-de analisar historia duma palavra, ao longo de mithares de anos. consegue captar a histéria duma ideia enquanto fenémeno cultural. Isto prende-se com a importincia atribuida por Froqual faz derivar 0 sen- timento da representaco, Wundt v@ nas. duas. expressdes humanas fenémenos coordenados dum s6 © mesmo processo. A dificuldade sub- siste em clarificar as diferengas entre fuhlen (sentir), begehren (desejar) € wollen (querer) ©, consequentemente, a relagdio de cada uma dessas actividades com a representagio. Pro- blema que se encontra em Novikov (1897) com a chamada «consciéncia social» e, particular mente, a «vontade so }». Social, como? Soma ou Sintese ou outra coisa? Assunto para outro espago (Santos, 1978). 26 Encontramo-nos uma vez mais com o vocd- bul QED A variedade dos seus contet- dos pode receber alguma elarificagao. se nos ati- vermos i sua primeira grande aplicacio nestes clones «tes ilatva de Burin (1898) ‘A psicologia social no ‘tem aqui nem caminho nem. descaminho; Peto contrério, encontra agui_uma_rampa de langa- ment por ri Apo varia por exemplo, aquela que ressalta das! pp. 296-7 © 302) Mas ainda se encontra tanta gente a cionar dentro destes esquemas tradicion racio- Listas! E tudo isto, porqué? Por causa do abuso das ana- logias, por outras palavras. por virtude de conver- ter a analogia em demonstrago. Claramente: A sem-ravaio dos socidlogos biologistay nd consiste, portago, ew ussrem da anulogia. mas deg terem usado F mas inducir as primeiras das segunda, 1 rijo possuem qualquer valor: com efeite, se as vida se encontram na sociedade, € sob formas noval ccaracteristicas especificas que a analog que directamente procuro atingir, apoiando-me em Durkheim: Mas @ ainda muito mais natural Vamos. efectivamente. tentar mostrar que ums 9 mesmo tipo de relagdes com © seu substrato respectivo, No entanto, esta aproximagdo. longe de justilicar « convepsao que red ja a ser apenas lum coloririo da psicologia individual, awentuard, pelo com Unrio.o realce da inelependéncia relatva destes dois mundos ias (Durkheim, 1898, pp. 273-4), ce destas das cién Muito mais facil se torna, deste modo, libertos das estereotipias do pasado. ainda cultivadas no presente. por anacronismo, evidenciar a especi- ficidade da psicologia social. especiticidade ja real ¢ ainda tomar muito mais real no futuro, Se tivermos presente que as representagdes comti- nuam a exist, jd porque se pode demonstrar essa persisténcia, jd porque agem umas sobre as ou- tras. autonomamente em relagdo ao estado dos centros nervosos... Ou Seja, a vida representativa, porque ndo é ineremte «

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