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LELATAMBEN Brasil: Uma Nova Poténcla Regional na Economia-Mundo Bertha K. Beckere Claudio A.G. Egler (© Mito da Necessidade Ind Elias de Castro Integragdo, Regido e Regionalismo ‘Lena Lavinas (org) Espaco e Lugar—Perspectiva da Experiéncia YiFuTuan As Politicas de Populagao Jacques Verriére Paulo Cesar da Costa Gomes GEOGRAFIA E MODERNIDADE. 5* EDICAO. [BERTRAND BRASIL 2 Ohorizonte humanista “f wcon onetime gual rms” ats cma ee ee Pasir Cokimenano i ines arc eee ee eee fered bea i ein a rena mete eee ee cubation) pei, Sntctearse of asi sci san pees Poulantzas, ou ainda, K. Mare F. gels, ‘quanto socidlogos e filésofos, como J. P. Sartre, M. Ponty, G. Shcel bomas Meloy. Geeta A Gd sina, lmetologaa, emo Be, M Hele © Jesper nbmeo eon como Shakepeart, Gost Howe, 77nd den ogame wie, vee mento wa eebalerr eee eee eee Seeeeea es asia A ceteeee leer Ine come oped Go unecclan veluno, base 308 {do por esta orientagio em fungo do novo contexto eriicn das ‘ncn scinis, Esta corrente segue, assim, a direc dominante a citncia contemporinea, que € a de buscar referencias varias Ges, em exclu nenhuma via, pois aexcluso é encarada como lum ricco delimitagio e de empobrecimento. Contudo, este eee tismoé inguictante, visto que, ao se estender sobre um campo de proposiges to largo acaba por riaruma crtaambigidade em Flagto fs suas propostas, limites e métodos. Se compararmos os fiscursos humanistas entre, sua conduta se mostra maisdo que ‘ambigua, e mais freqientemente contém miiplas contradigoes oposigies. Cada perspectiva procura impor a superoridade de fou ponto de vista, para fundar o “verdadeiro” humanismo, Poderfamos pensar que, & primeira vista, os pontos de vista sio ‘complementares, mas, de fato, em grande parte dos casos eles tentesseexclucm mutuamente. Assim, sea visio global desta cor- rente de pensamento pode ter, & primeira vista, uma aparéncia de feletismo,o exame tais aprofundado de suas proposigies nfo ‘deina divides: existem vitios humanismos, fundados sobre pres- suposto as vezesimeconcilves ‘Desta maneita diffe vr neste movimento uma unidade ‘ow uma uniformidade sobre o plano files6fico-metodoligico. No entanto, todos esto deacordo sabre ofato de que existe wm movimento geral coerente e integrado. Nossa taefa essencial é, portant, fentarreconhecer os fukdamentos desta identidade, ‘Um dos fatores principals de coesfio € 0 fato de que todos ccompartilham do mesino ponto de vista eftico a respeito da idncia em sua forma institucionalizada, Tais autores estio de facordo em reconhecer que a forma eo contecido da ciéncia geo- prificapratcada as os anos setenta so inadequados ¢ insu cientes “pinda que seja possivel encontrar suas origens na ‘escola vidaliana de geografia humana e na sociologia tnbana de Park, seus verdadeiros primérdios remon- 305 ——————— tam aos anos 70, em reagio ao positivism légico, & ‘quantifcacio exagerada,e is explicagdes mecanicis- tas, determinisas, reducionistas, de uma googeafia ‘sem homem! Uma vez mais, ecomo tentamos demonstrar no curso da nals dos outros movimentos na geografia, a conduta dag escolas de pensamento € sempre a mesma: primeiro uma critica, para methor afirmar, em seguda a supremacia ea superiorida~ {edo novo ponto de vista paraa ciéncia, No caso da geografia humanist, se todos esto de acordo em refutar o modelo cientifico anterior, nfo h4,entretanto, um verdadeiro consenso em tomo de um novo modelo a adotar, CCertos humanistas aproveitamse inclusive desta auséncia de ‘modelo, para afirmar a identidade deste movimento, tomando como argumento que o apego a um procedimento fixo éa pti ca da ciéncia que eles quem precisamente condenar. Esta ni 6, no entanto, a posiglo dominante, eo fato de que o humanis: ‘mo tenha precisado ser qualificado de marssta, existencialista ou feriomenolégico,éa prova de que nem todos compartlham a proposigio de uma cigncia sem método. ‘As diferencas de posigio nascem dos diferentes diagn dst 0s que so feitos da erise do modelo cientiico, Para uns, 6 a cincia posiivsta-igica que est em jogo, com sua estrutura Ideotégica, seu formalismio mecanicista, sus falsa objetividade, ‘Para outros, a vordadeita questio encontra-se na racionalidade, seus métodos, sua objetivacio generalizadora e sua impossiil dade deinterpretar os fatos da cultura, Esta erticas constituem 0s primelros passos na busca de novas demarcagées. aqueles que se posicionam em favor de uma concen rmaterialista e aquees, ao conttio, que retomam os argumen= TROGOCK (Doug) La atgranhi harman’ Ls comcpts del slr pe amane, BAILY (A), a. Muon, Fs 988 pp. 138 306 tos do idealism. Hé os que aceitam uma subjtivago delibera- ‘dads processos cognitivose aqueles que rfutam. Mas, o que ‘é mais importante para a geogeaia, o expago, é eonsiderado 20 ‘mesmo tempo como o resultado concreto de um processohisté- rico, neste sentido ele possui uma dimensio real efisica, ou como uma constragéo simbélica que associa sentidos eidéias. Ene estas duas posigdesextremas, encontra- toda uma gama de concepges que evoluem com os pressupostos iniciais de cada inspragio, 0 espago senda visto sob diferentes éngulos: dos valores, da alionacio, da distancia existencial, do comport mento e do mundo vvido, Procuraremos resaltar 08 aspectos que mostram as lga- 8es desta corrente com um dos pélos epistemol6gicos indica dos no curso de nosso estudlo. Nosso objetivo é most, num primeiro momento, as bases deste movimento, ressaltando os aspectos comuns com outros movimentos jé analisados; em um ‘sogundo momento, tentaremos reconhecer as efticase a pert- pectivas trazidas pelo humanismo, relacionando-as aos termos fundadores da modernidae. Um humanismo eritico ‘A definigdo da geoprafia humanist herda todos os proble- ‘mas advindos da prépria nogto de humanism, que nem sempre uilzada com os mesmos limites, nem com o mesmo conted- do, primeire conotagdo, a mais forte, faz referencia ao movi- ‘mento que, em ruptura com as radigdo da Idade Média redefi- niu a imagem do mundo ¢ da sociedade. A delimitagdo espaco- ‘temporal do humanismo no é de forma alguma consensual, pois ele exprime uma tendéncia geral fundada sobre uma rutdanga de atitude e de concepeo que pode ser interpretada de diferentes maneiras. Nao énosso objetivo aqui fazer uma sin tese histérica daquilo que foi o humanismo, de suas origens ou 307 das formas locais que cle tomou. O que nos importa €subli algumas de suas caractriticas que so atualmente utlizadas (© primeira destes aspectos fz referéncia& oposigi ent hhumanistas e homens de ciéneia® O texto de Lay e Samuel demonstra esta oposigfo fundamental e define, através dla, carter do humanismo na geografia.O fim da Idade Média nascer dois tipos de atitude. A primeira € representada Descartes, que utiliza a prova da existéncia das coisas através ‘um método lgico, o que, para estes autores, exprime uma pe pectiva “nlista” € mesmo “desumana”. A partir dat, a cin perde cada vee mais seu carder humanista, ciminando todos clementos humanos com excegio da racionalidade, A preoct pagio racionalistacoloca homem no centro de seus interesse ‘mas o faz através da naturalizagdo dos valores humans e util zancdo um método que impée a racionalidade como tnieo do ser humano, Esta concepeio, largamente difandida pe positvismo, chega a afirmar que uma ciéncia verdadeiramente’ objetiva deve eliminar todos os elementos antropomérficos (Max Planck), £ neste sentido que a ciéncia modem é respon sivel pelo abismo eriado entre 0 conhecimento definido como cientfico eas humanidades, Este mesmo ponto de vista €reto- ‘mado por historiadores como Gusdorf, que observa, por exem= plo, quea Renascenca pode serinvocada de forma retrospectiva (or suas referéncias & Antiguidade) ou de forma prospectiva, pelo surgimento da ciéncia moderna com Galileu* ‘Uma segunda atitude nascida do fim da idade Média reeo- Jocou o homem no centro de suas preocupagdes. Um homem 7 pa ea btn dete opio pode se conta em MANDROW (Gober) Des humanists aur hamedes de scence, 3 (Histone de la pense europe) Seal art, 1973 SEY (Davi) e SAMUELS (4.8), "Contents of Moder Humans a Geo wana Humanistic Gecarapl: prspete and problas, LEY (David) ERRIUELS (M8) ed, Coot en, Laon, 1978 “GUSDORE (Georges), Les ois der etancashumatns,Peyot, Pal isehp cn 508 considerado em toda a sua complexidade cultural e antropol6- sca, que fz aparecer novos pontos de vista para compreender ‘sentido da arte, da literatura, da ciéncia, da teologiae de todo © conjunto que expressa 0 campo da atividade humana. 0 cessencial desta nova abordagem & buscar um sentido interior na cultura humans, estando consciente de que, em sendo homer, ‘eu ponto de vista 6 parcial eantropomértio, Comentando a histéria dos séculos que se seguem & Idade Média, Ley e Samuels se esforgam em demonstrar de que mane!- aa concep¢io de uma cigncia légica desvia ealtera as conquis- tas do humanismo da Renascenga. Eles reclamam o retorno @ cst tradigao auténtica,fortemente desnaturada polo racionais: mo lego. Tradigdo, eis palavra-chave do discurso dos humanistas -modemnos, Bsa nogio serve, de inicio, para evocara origem per dida da ciéucia humanista, Serve também de contraponto et: 0 idéia de progresso, ieremediavelmente inserta no diseurso| da ciénca Kgica, Da mesina mancia,areferéncla a radigdo no Ibumanismo lembra 0 cariter perverso do desenvolvimento cientiico, ea evocagdo de um passado idiico exprime o retorna eum ponto de vista mais humano na definigdo do progress. Finalmente, a utlizacio da tradigio, tal como aparece no dis curso humanista, traduz-se por uma valorizagio do estudo dos costumes hibitos marcados no tempo e que sustentam a importincia primordial da cultura, reqientemente esquecida pela egncia em sua versio racionalista ‘© humanismo abre, asim, a via para a tetomada do exem- plo eléssico da Antiguidade. © carter exemplar desta reapro- priagdo inscreve na consciéncia humanista uma vocagao de continuidade, que serve igualmente na defini de uma nova relagio.com a mundo ede uma nova dimensio de homem, e siderando, sempre, que existe uma evolugio cantinuae sem rup- turas. No entanto, ste periado também conlneceu, através das grandes descoberias, sociedades diferentes. Neste sentido, © 309 hhumanismo redescobriu, por uma consciéncia renovada de mesmo, 0 outro. Gragas a estes contatos,aalteridade tomnou.s tum dos grandes valores do humanismo modemo. Contrariamente & sociedade medieval, defnida por ‘egocentrismo que via no outro um perigo para o dogma cist, © humanismo faciitou a emergéncia da nogdo de comunidad humana, unida pelo fato de que o homem é sempre criador: cultura em todos os seus horizontes espago-temporas. No li do egocentrismo medieval, o humanismo impés a idéia de antropocentrisma. Sem perder de vista a perspectiva de supeti ridade da sociedade ocidental, o humanismo procede a relat zagio de seus valores moraise intelectuais pela compara ‘com outtas cultura. Algumas das caracteritias fundamentais do humanism foram retomadas pela geografia. A primeira concerne a inco tomével visto antropoeéntrica do saber. Segundo a express consagrada,o homem 6 medida de todas as coisas e no exist conhecimento objetivo sem a consideragao deste pressuposta, ‘A subjetividade do saber € um dos tragos mais marcantes da) hhumanismo e deriva diretamente desta concepyio antropocén= ‘ica, Na geogeai, ist significa que a definigdo de uma espaci lidade ndo pode ser estabelecida através da objetivagao de uma) cigncia racionalista, O expago e suas propriedades, distancia, fluxo,hierarquia, possuem um sentido que no se reduz a medi das numéricas. Desta manera, o espago é sempre um lugar, sto 6, uma estensio earegada de significagdes varadas.” Ali, nota-se que nos textos deste gearafos a expressio “espaca”y, A props do ost dh: tif wa tng ate ie aural, mals pron do rctonalisme clenten Menten, bem plums mo Romania fundamen dans pone ‘Gincamo oars com ttf esing ne o qu el cham a wo can tere “evnuo dscengada’, ue valorza a Yeap sfeta/obpto ta cna eNTMRIN TN) The elton s Gong Madera} Hopkits Pea, Bala, 199 310 ‘muito tilizada pela geoprafia anaftica e radical, € empregada com pareiméniae tende a ser substituféa por“luger", que induz ‘uma vio mais integrada do espago com seus valores. ‘A segunda caracteristica desta corrente & uma posigao epistemolégica holstca. Com feito, o humanismo refuta vigo- rosumente.o procedimento analtico, acusado de perder arique- za do todo, limitando-se& andlise das partes. O todo nio ¢ a soma das partes ¢ o fato de se estudar os fenémenos somente sob certosaspectos no permite dar conta da totalidade fenome- nnoldgica, A geografia humanista compreende que, ainda que se pparta de um ponto antropocéntrico, a agdo humana nfo pode jamais estar separada de seu contexto, sea ele social ou fisico. A relagio entre conscigncia e meio ambiente, e seu grau de imp! ‘cagdo recfproca variam de uma quase independéncia, para os idenlistas,a uma quase determinagdo, para os materialist. No entanto, por mais extremas que sejam estas dus posigde, elas slo sempre contextualizadas, seja em relagdo ao progresso do espirito na Histéria, sea em relaglo &transformagao do espago pela sociodace (0 terceiro ponto importante para os humanistas & aquele {do omen considerado como produtor de cultura —eultura no sentido de atiibuigio de valores as coisas que nos ceream ‘Assim, esta cultura $6 pode ser interpreiada a partir do e6tigo ‘dos grupos que a criaram. O ato de generaizago, necessitio a toda tentaiva de teorizagio, conduz semprea uma perda relati- va dos contextos partculaes, que slo precisamente os elemen- {os fundadores da eultuea.E, assim, que a explicagdo pelo pro- cedimento da generalizaglo toma os fatos por aqui que nfo silo, As abstragbes expicativas logics partem, portanto, de pre- rmissasglobaisflsas que reduzem a importincia dos verdadei ‘os artesios da atividade humana, isto €, a cultura, os valores © 1s signficagdes. Assim, generalizar significa, para os humanis- tas, negligenciar as propriedades fundamentais dos contextos particulares.O holismo humanista possi, portanto, uma impli- su ‘cagdo dreta no método de investigacSo recomendaad e adota ‘do para chegar a um verdadeiro eonhecimento. (quarto ponto da concep humanista da geografiacon: cetne jstamente a0 método. Se o método logico e anaitco ta balha com abstragbes artificiais,somente um procedimento que leva em conta os contextos proprios eespecifios a eada fend= meno pode ser considerado como efciente. Este método chama-se hermenéutica isto €, a arte de interpretagio e, segun- {do Mircea Eliade a definigdo de wm novo humanismo nao pode privarse da hermenéutica, tinico método eficaz de interpreta- (fo Nao iremos rever suas caracteistics, ji precedentemente Aescritas, mas podemos, agora, refltir sobre as implicagbes deste método paraa goograia © gedgrafo deve se colocar na perspectiva de um observa {or privilepiado, capaz de interpreta. Ele dispde, com efeito, de elementos que o tomnam mais sensvel & compreensio da at ddade humana, ntadamente daquela que se exerce espacialmen- ‘te. A representagio espacial significa, aqui, mais do que uma simples indicagdo da localizagdo dos fenémenos; ela permite, ‘com efeit, resgatar a inteligiilidade que os fatos espaciais adguirem quando sio compreendidos.e partir de seus contextos prOprios. Os grupos humanos, quando se enganizam espacial- ‘mente, ndo tém consciéncia expicta de todos os processos de sigifieagio que sfo atribuldos e vividos cotidianamente no ‘espaco. A tarefa do geégrao é, portant interpreta todo o jogo complexo de analogias, de valores, de representagGes ede iden- tidades que figuram neste espago. ‘As monografias regionais so freqientemente considera- «das como os exemplos maiores dest tipo de conduta, Segundo ‘este modelo, o ge6grafotenta empreender, em uma drea deter- ‘minada, a compreensio dos processos que agem na sua configu- SHADE Don, La nova des rine, Folios, Caliad Pc, siz fo. Na maior parte dos casos, 6 em direco & Histéra que se volta para explcar esta configuracso espacial, isto 6, em diresao 180 caminho evolutivo no curso do qual a identidade social se constéi, com seus hibitos, costumes e cultura. Em outros t= mos, como diz Buttimer, trata-se de reintroduair, através do Ihumanismo, os conceitos de base da geografa clisica, como os de ginero de vida (© méodo hermenéutico, derivado da Giologia clisica, tem, como vimos, sua origm na intrpretago dos textos funda. ores, Este rotomo aos textos fundamentais na. goografia se ‘manifesta pela nova valorizao consagrada aos estudos mono- srilcos. Numerosos geégrafos humanists aconselham volar ao étodo da deserigio regional, considerado como o retomo in- ispensive] aos tempos elisscos da geografia, uma concepgio sequndo a qual a verdadeira geografiaestaria escrita nos textos ntigos,esquecios pla marcha conquistadora do racionalismo. (© humanismo na geografia, da mesma forma ques outras correntes dle pensamento oi buscar no passado desta dsciptina ‘um exemplo e um apadrinhamento, ue servem de ponteentze 0 passado clissico e estas novas (endéncias. A obra de Eric Dard, L’homme et la Tere, redescaberta no inicio dos anos oitenta,assumiu em parte este pape. Tal obra, encarada como “Tibertadora",éconsiderada como uma manifestagio claramen- {te humanista nos tempos modemos e, portanto, constitui uma piece de resistance so ciemiticismo racionalista. AAs interpretagdes da obra de Dardel variam segundo 0 nero de humanismo que se pretende valorizar, Certos geégr fos encontram as rafzes de uma perspectva semiolégica na pro- pposigdo de Darel de “decir a Terra como uma escrita” ‘Outros sublinham a influéncia do Heidegger e, portanto, da fenomenologia, que efetivamente teve um papel importante na HUTTE (ame) “Le ems, Peg e monde wu", L'Epace Geo rophiq, 179 m4, pp 248258, 0,208, "DARDEL (Ee), homme ot a Tr, Pris, PUR, 08, 318 ‘obra de Dardel: ele fio primeiro tadutorde 0 Sere o Tempo para francés. Hdainda pedgrafos que se esforgam em valorizat ‘encontro entrea geografia ea arte, ea indicar uma “geoposti <2” no diseurso de Dardel.® Estas diferencas de interpretagio sublinham, uma vex mais, a diversidade de pontos de vista do hhumanismo na geografia. nlim, o timo ponto sensvel para a maior parte dos ges- tafos humanist dz respeito & rlagdo entre a ciéncia e arte, Para chegara uma verdadeirainterpetagio das cultaras,em sua Inscrig espacial, 0 gedgrafo deve ser capaz de reunir 0 maior ‘ndimero de elementos possiveis que tratam dos valores, das sig nificagies e das associagSes construidas por um grupo social. A arte é em geral, considerada como o meio mais live © mais ‘spontineo deste tipo de manifestaglo, Aquilo que a cigncia rio choge areconhecer,devido as limites impostos peto méto- do, a arte © consegue por um meio nio-racional. Assim, da mesma maneira que os romnticos, que consideravam a poesia ealliteratura como o berco da expressio dos valores humanos, ‘0s humanists consideram a arte como o elemento de mediago| centre vida e o universo das ropresentagbes. Geralmente, invoca-se @ arte, mas efetivamente a maior parte dos estudos centrae nalliteratura, As tentativas visando a Telacionar o univer simbslico da literatura as interpretagdes ‘geogrificas sio numerosas.Além disso, em seu conjanto, 0s tex {os humanistasdividem-se, em grande pare, entre descrigdes de texperiéncas do espago vivido eestudas sobre autores ou obras Iiterdras. ‘Antes de concluir sobre ests tragos comuns ds diferentes, famfias humanists, resta-nos, ainda, examinar a questo da relaglo do humanismo com a modernidade. Em primeiro lugar, cate humanismo se define como um humanismo modemo, sublinhando, assim, sua diferenga com as manifestagdes ditas TA propo devas divs tra, ve BESSE ay Mar), "Le Dade suludnthurL tspace Gnprepiigue, 188 81,4846 sia clésscas. Esta diferenga pode ser interpretada, de certa fom, como a vit6tia do humanismo no conflto tenaz que o opde racionalidade cientfca, E assim que, sem negar suas origens ‘nem diminuiro peso da tradi, ohumanismo moderno, forea- {do @ encontrar argumentos contra oravionalismo, desenvolveu ‘novos métodos e, por isso, procurou novas releréncias, como 0 ‘existencalismo ou a fenomenologia. CCertamente, a idéia de modemnidade para estes autores poss um sentido diferente daquele conferido & marcha trunfal da razio, Os argumentos dos humanistas contra este tipo de ‘progresso acentuam a idéia de uma ciéncia sem ética e de uma ‘wenologia perversa. O melhor dos munds do racionalismo 6, segundo este ponto de vista, falso e perigoso. A verdadeira rmodernidade dos humanistes € feita da renovagdo da imagem {do mundo, que recoloca 0 homem no centro de sua cultura pas ticular, © homem modemo esté no centro do mundo, como no fim da Idade Média, s6 que agora consciente da relatividade cespago-temporal desta centraidade. "A modemidade, para os humanistas, & 0 perfodo que ‘marca a libertagio do homem pela descoberta dos valores morals ¢ intelectasis. Estes compéem o verdadeiro ambiente hhumano, que é eiferente da pura natureza, Desta descoberta, aparece a vinculagao a idéia de povo, de nagto, ea vontade de cequilrio ede harmonia, elementos que so caracteristicos des- te reeneontra do homem com sua cultura, A modernidade ‘humanista marea, também, o triunfo do espirito sobre arazio e 1 valorizagdo dos studia humanitatis, as ciéncias do esptito, ‘que substituem 0 mito da ciéncia positiva. Estas eiéncias do espiritofundam uma pedagogia que tem como abjetivo “tomar ‘8 consciéncia mais humana”. 0 advento dos novos tempos é, portanto, encarado como o término de um processo gradual de edueagio ede progresso continuo, no qual a ruptura é mareada, pelo triunfo das idéias humanists sobre o racionalismo. ‘Todas estas earactertsticas de equilbro, de harmonia, de 315, retomo is fontes, de valorizagio da cultura e de refutagio do rcionalismo fzem parte do discurso dos gedgrafos filiados a0 hhorizonte humanista. Para melhor compreender 0 papel destas caracteristicas no seio da geografia, nos parece importante seguir algumas tendéncias que, depois de alguns anos, aise desenvolveram. A divisdo das tendéncias no interior do huma- nismo ¢ delicada, pois os limites entre as diferentes orientagies sio bastante fluidos.° Certos autores recusam até serem asso- ‘adios a uma tendéncia precisa! Nesta apresentagio,sclecior ‘amos dois tipos de matrizes, em vez de tendéncias particlares, ‘para guiar nossaandlise. A primeira, insprada por um cet psi- cologismo cultural e pela semiologia,defie-se como um estuda ddoespago vivido. A segunda diz respeito& abordagem que apro- ima a fenomenologia ea geografia!® O espaco vivido, uma proposta de humantzagdo da geografia © cstudo sobre 0s espagos vivides comecou ase desenvol ver na Franca independentementee sem relagio com o huma hismo fenomenolégico anglo-saxio, como nos explica A. Frémont em seu preficio.° De fato, as referéncias fandamentais dos traballios sobre o espagovivido slo varindase parecem ser © Butime, por exemplo, nos a dvesidade de contedos presents na xpi "exprincia iid BUTTIMER (Anne, Le tp, Papen ee ‘monde wet" tapace Gographique, 197% 14 p43 2p 2 "Bo cus ron camp or lo deal hana py segundo cles prorat fom desenolimetes ne ae oo ‘tone FREMONT (aman), Vanlansdlapee eu etfomenios ‘er plopephe, BAILLY (yeSCARIAT Antropol 150 9 2 goognila du perepsoinscrevee, tbr em ua perspective de anal 6 cpap an pena via EU pele eee aes ENTRUKIN “Contemporary Humanism in Geography", AAG, 19Tewo 4, pp 3-0 pe 331 Vidade como sendo o ‘nico meio de superar a divisio do conhe- cimento em dois mundos, tal como foi introduzida na ciéncia Positvista. Contudo, Buttimer no hesta em inerrogar-se sobre ‘8 importincia da experiencia subjetiva para a compreensio dos fendmenos. Fla sugere, também, que cada gederafo comece por cestabelecer um projeto biogifico, a fim de apreender seus prd- pros rtmos biolégioas a partir de suas expe cotidianas, ‘Allis, em um de seus textos, ela conclui que “é difil eonceber lam outro caminho antes que nés geégrafos tenhamos conduzi- ‘do uma pesquisa sobre nossas prépias vida cotidianas” 3» Uma outra técnica apresentada por Buttimer consste em imaginar autores estudando problemas diferentes daqueles que se confrontavam em seu contest histérico. Assim, depois de ter ‘examinado as caractersticas fundamentais da obra de Vidal de La Blache, Buttimer tenta reconstrur o pensamento lablachea- ‘no na sociedade urbano-industrial contemporainea, Ela conelui, estabelecendo a hipétese da rellexio de Vidal de La Blache den- ‘ode um contexto urbano atl: “0 cestudo da evilizagdo urbana envolveria ets pas- 0s hisicos. Primero seria examinada a ecologia da populagdo urbana, em segundo lugar seus padtes de atvidade externa (géner0s de vida), © em terceiro Iugar um estudo dos valores alitudese cognigies de diversos individuos e grupos (..) uma abordagem vidaliana procuraia explorar o8 mundos socinis de ‘grupos de cidadios, suusattudes, habits valores” * (Os textos de Vidal de La Blache sobre as questées urbanas ‘que Buttimer examina no compreendem justamente aquele no SS BUTTIMER (Aan) Le temps, Yespace ee monde wu" op.» 25 BUTTIMER (Anne), “Chasm and Context: The Challenge of Ls G pile Humaine Hunan geoph: roqaca and Protons, {Deve SAMUELS Qa 8},00, Crem He, Landon, 12896 332 ‘qual este autor manifestou se interesse polo papel das cidades em um sistema urbano-regional.® Neste estudo, nfo hi nenhu- sma referencia aos génoros de vida, & ecotogia urbana ou andli- sede valores, Ao contrério, Vidal de La Blache faz uma andlise objetiva” das fungesurbanas, consideradas como organizado- as do espago regional. Ele utiliza conceitos, como os de funcio- nalidade e de nodalidade, para dar conta da reestruturaglo do cespagofraneés a partir da urbanizagao crescent ‘0 subjetivismo e até mesmo o irracionalismo marcam, desde o info, a geografia humanista, mas sfo nos textos mais atuais que estes tragos aparecem mais marcantes e explicitos. O ccomentirio de Ley, segundo o qual “hé um risco de passar da revelagio da ambigtidade para a celebragdo da ambigtidade’ 6 neste sentido, quase premonitio.™ Bailly, por exemplo, na apresentaga ce uma obra coletiva sobre a geogratia humanists, definiua como uma “mania de cconceber a geografia que apela, para além das légicas da razio, para aguelas do mundo sensive!,e acrescenta que “ohumas- ‘mo 6, assim, aireupco do mundo postico no mundo cientifieo ‘ca tomada de conseigncia da explicagio necessiria de sua pro pria subjetividade”. Em sua eonclusdo, Bailly retorna a este assunto, eafirma que “este pequenolivro , portanto, uma porta tberta para uma geogrfia que ni tem mais vergonha de sua subjetividade” "De fato, tados os textos do livo esto fate- ‘mente inclinados aacentuar o papel da subjtividade, © préprio ‘estilo dos autores & um dos signos desta nova attude, vise, por exemplo, na isisténcia em utilizara primeira pessoa dosin- ‘ular como marca da individualidade de seus dscursos. Nestes| S7VIDAL DE LA BLACHE (P, "Les eins fanl"o.t ° Ly (Dad, "Social Goupaohy and Sec Acton’, Humane go lo snc an polos, LEY (Bad « SAMUELS 8), SURAILLY (A) € SCARIATI(R), lamanie on glogaphie,Anteopon, Pari 980 pp 3 333 novos autores, aidéia de uma complementaridade entre a feno~ ‘menologia a eiéncia dita formalist, pregada por numerosos textos nos anos 70/0, fi substitu pela negagio absoluta de didlogo, (© subjetivismo e o anti-racionalismo, tomadas eoma ele- rmentos de base do conhecimento, difcilmente podem entrat no ‘quadro de uma cincia insttucionalizada. Avia alternativapro- posta por estes autores € 0 reencontro da ciéncia com a arte Deste rencontro surge um novo horizonte de interpretago que apela para os sentimentos, para as profes e representages individuais, temas que nao podem ser acetos sem problemas pela fenomenologia cissica. Além disso, a despeito do rétulo {enomenoldgico, os partidrios dstas novas tendéncias proci~ ram suas fontes nos dominios mais variados: poetas,escritores, antropélogosefildsofos de orientagies diversas. E por isso que influéncias de outras contracorrents,dife- rentes da fenomenologia, se fazem sentir fortemente no diseurso atual da geografia humanist. Os sentimentos, a intraspecso pura, “a invengdo” das paisagens e a sublimagso da Figura do ‘autor fazem pensar em algamas proposigdes nascidas, por exem- plo, no omantism, Alis, a unido entra cieia ea arte consti- ‘iu um dos temas mais importantes deste movimento, que con- sideravaa poesia como o produte human mais plenode sentido, Outra caraceristica inspirada no romantismo 6a nostalgia, ‘que os autores mais atuais da geografia humanistapregam. Esta nostalgia se manifesta nas exaltagdes da geogratiaclssica, a nna desvalorizagio da sociedade moderna, urbana eindusteal. A catia feita por Tuan do género de vida wrbano, 0 conceito de sheratonitation de Relph, a proposta de renovegdo do estudo dos géneros de vida de Butlimer, e o elogio ao método das ‘monografas regionals sio algumas das manifestagdes eloqden- tes desta nostalgia. Sem dtivida, este semtimento faz parte da ‘valorizagio da tradigdo, que se op6e aos signas da modernida- de, uma das caractersticas gerais do humanismo. 334 De fato, parece que Relph esti com a azo, quando afirma que. humanismo no raz nada de essencialmente novo paraa. seografia, e que suas malores contebuigdes se situam na valo “zagio do mundo humanocotidiano ena critica essencial que faz ‘daciénciaracionalsa [Neste sentido, a posigio de Entrikin sobre os limites € a importincia da geograffa humanista gana forga. Depois de tet ‘examinado profendamente 0s prineipios da. fenomenologia, Entrikin observa que “o consenso entre gedgrafos humanistas parece ser ‘de que nenhum método é aceltéve, somente um entre todos € capaz de obter uma compreensio das metas, das intengSes, dos sentidos © dos valores que o hhomem atribui ao seu meio ambiente. Este método suugerido pelos humanistas¢ intitivo, para ‘entrar na ‘mente’ dos individuos que estio sendo estudados. ‘Taser sejainjusto procurar por um método na itera- tura de um grupo que ataca 0 positivism justamente pela sua encessvarigidee motodoldgica. Anda assim, (0s humanistastém reconhecido problemas de comu hleagio nesta abordagem que permancee obscura do pponta de vista metodol6gico”* Ele afrma, também, que é impossvel estabelecer um pen- samento geralapartirda intuigdo, eque a eventuais conclusoes| da fenomenotogia na geografia 6 podem estar carregadas de subjelivismo, Conseqiientemente, Entrkin afirma que a conti= buigdo da fenomenotogia limita-se a uma critica da ciéncia| racionalista, Assim, esta corrente fenomenol6gica deve ser vista muito mais como um meio de renovagéo da ciéncia dita objeti= va, do que como uma via sltemativa para estabelecer uma base utOnoma para geografia, como querem certs autores. SF ETIKIN 0,8), Coton rnin i Gece om. 35 A conclusio de Entvikin antecipa om alguns anos reflexdes similares, expresss, desta vez, no pripro interior do movimens ‘to humanista, Levy airma, por exemplo, que “os nicos estudos sérios que emanam dos gedgrafos fenomtenologistas passados fu vindouros so aqueles que sequem a veredas, por vezes de dificil acesso, desta disciplina, nfo para passar no erivo de uma, fenomenologia mal compreendida, a pretense ‘tealidade do ‘mundo vivido’, mas para melhor aprofundar nossa rlago com ‘linguagem da vida, da arte, eda ciéncia”>® Nesta perspectiva, a fenomenologia integrase perfeita- ‘mente 20 movimento de ruptura recorrente na modernidade ‘Trata-se de um intervaloertico que jé anuneia a préxima reno- ‘ago, A analogia proposta por Sanguin a este respeitoé bastan. teesclarecedora ele nos apresenta o combate crtico da enome- ologia contra a cigncia 1dgica como similar aquele do roman- tismo contra o monop6li intelectual do Séeulo das Luzes© Este movimento jé manifesta, sob o peso das erticas de ‘suas ambigiidades, alguns sinais de estafa, O mais evidente eles €o abandono gradual das perspectivas anteriomente al ‘hada s posibes humanistas. Todavia, os arguments eriticos fundamentais desta corrente jf comecam a se organizar emt um outro campo de batalha. Trata-se do pés-modernismo, que renova toda esta tradigio erica, caracteratiea de todas as utras contracorrentes precedentes. A geogrfia pdsmodema apresenta-se como a leytima herdeira desta tradigdo e, em seu nome, traz 0s novos tenmos da condenagéo da cignciaracionae lista, anuneiando, ao mesmo tempo, que desta ver a ruptura é& definitiva. Se, todavia, a modemidade se aimenta exatamente 5 LEVY (Berar “upper de a pilosphl existent foun nant te BAILLY (h)e SCAWIATI (A) “-Bumanm en epee, * SANGUIN (André Loui, “La atographie humanist ou approche phsnomuologigt de leat, des payage el en epee, AMMee ae Geojape, 88) 9°30 pp. 80.37 90, 336 deste combate ou, ainda, seas mudancasimpostas pelos exticos estas contracorrentes consttuem justamente o meio de se ‘enovar a idéia mica da renovagi, entio estamos ainda Longe de ultapassaro sistema da moderidade, a despeito de todasas aparénclas e manifestos 337

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