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SUMMARI
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: Chronica... „-. .Olavo Bilac
^As^porraigás . Coelho Netto.
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'-¦Üraafaiída 4e Historia Pátria Dr. Pires de Almeida.
•fclfc. JypOS e?^ii)olos^.......
João Luzo.
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t»^ >,.-'.'*Ss?
-vO Galértbttrgp;.. -.";'..\. ¦.... Raul Pederneilras.
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:; Gonzaga; Duque.
v^V^.---i--. Thomâz Lopes,
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s Nepheii batas; v.. Gonzaga Dücjue.
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gpngelíío..... Xavier da Silveira.
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iafrft a......... Armando Bur!!àmaqui.


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fle>.;., .. EÍyseu Visçonti.
Residente Eleito
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.. .. ..i Fantasio.-

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St * ^ aí esterilisação absoluta pela Po^Já^É^'^^


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SUPCRIORÍ.S A TOÓOS :í^^m^t§^T^ - Tmmmi^mmmftTtf^T^mfWmW^^ '

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Eis o qne dis a aoalyse a qae procedeu o Laboratório lUnieapel tmm^niímttW de Paria
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« A agua filtradaé ;$$ %n*'iii-àj|»i^ ág^ livre das matéria»
: organieas que continha em soapensao, «••^ifi-toi^^ d»senvolvendo-se
com prejusso de soas qualidades. Em i nu fjiiiiiViTr^^jjBPlrMI-^^ i*? ^mm
é filtriMjAo através do*
filtros examinados por nos, é e*o-inentemeote própria a

Agentes geraes para o Brazil:—A. ABREU à COMP.


Rua da Quitanda N. 102-fôo de Jantíra
Depositários no Rio de^^ Janeiro: - A NOVft ft/iÊmíè* Ei: CHINA

^positarios em ^
Ruíi Dir^^^anitaído tyiaduétófr ^Ç"^ss» H*em "!¦!

ENVIÀM-SE PRQSPECtO&ti ÍÍÜEM OS PEDIR AÜSAQEtijES


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PRIMEIRA ORDEM: DE
O MAIS SAUDÁVEL CLIMA DO BRAZIL >f»
OS MAIS BELLOS PANORAMOS DO MUNDO
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VIAGEM COMMODA E AGRADÁVEL «K -*» v.' í -"í
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* * RIO*#• DE JANEIRO
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DUBONNET
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JI Equitativa 1

RELAÇÃO DAS
Apólices sorteadas em dinheiro em vida do segurado
EM 16 DE ABRIL DE 1906
10.2S7 : Aderaldo do Andrade Joázeiro, Bahia
40.520 Padre Hermeto Jo.sé Pinheiro Olinda. Pernambuco
17.1(10 José da Cruz G ou vê-a Recife. Pernambuco
17.003 Dr. Euzebio de Queiroz Carneiro Mattoso S. Paulo
17.S30 José S(tares de Medeiros Ribeirão Bouitf, S. Paulo
13.S52 Francisco <Ie Macedo Couto
41.08:) Olympio A Ives Lisboa Quarahy, Rio Grande do Sul
(ínara|>uava. Paraná
S.924 Francisco das Chagas Pinheiro Alto-Acro, Amazonas
17.0SS José de Oliveira Bastos Manáos, Amazonas
s.r>73 Pedro Jacooie de Araújo Alto-Piirús. Amazonas
1(3.301 D. linsina Del- Pecéhio Capital Federal
10.17!) Dr. Pedro Francisco Rodrigues d<> Lago
12.700 Francisco Cardoso Rangel
40.1.12 Alexandre Gasparoni
40.077 Capitão Secundino Cesarib Dias Ubá. Minas
10.073 Egydio Bonnaní Passa-Quatro, Minas
40.57S i>. Anna Izabel de Souza Gonçalves Juiz de Fora. Minas
41.210 Pedro Coelho Pinto Porto de Guanhães. Minas
10.S01 Antônio Cahxto Barboza e esposa Dores de Bôa Esperança. Minas
41.SOI Fernando Ausrusto Cardoso Mirahv. Minas

FILIAL EM PORTUGAL:
20.230 Dr. Antônio César d'Almeida Rainha Figueira da Foz. Douro
20.0K1 Joaquim Casimirp Ivo de Carvalho Lisboa
~"'•_.'_'! 'Tí s Gonçalves Moreira Villa Nova de Gaya. Douro
20.755 José_ Fernnndez Rodrigues ' Lisboa

Este sorteio teve lugar a 16 por ser o dia 15 de Abril um domingo. -_=>
A apólice de resgate em dinheiro, de exclusiva invenção á'A Equitativa, é a ultima
palavra em seguro de vida. __=» «6= ¦___» <=_^ <=_=» <=__. °_=» °_=> «=&=> _¦_=> _*=>
Todos os sorteios são públicos e são dirigidos pelos representantes da imprensa, e
teem lugar em 15 de Abril e 15 de Outubro de cada anno. ~s=_ «_=> _*=> <=_=• *=_=.
Até hoje A Equitativa tem sorteado 100 apólices na importância total de
Rs. 454:000$000, pagos em dinheiro d vista, sem prejuízo dos contractos que continuam

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em pleno vigor. -^-^<=^-^-=^-=^_^«_^_^_=^<_^<_^^.

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SEDE SOCIAL

G___
125 - AVENIDA CENTRAL - 125
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• ____________R_____Hf_U_a__t__MM________MMí. i. _i - ¦
fÇpWRS
REVBST75 ARtlSTICft,
Pircc tor-proprietário
INTERIOR
SCIENTIFICA E CITTER?!^!^
ASSIGNATURA ANNUAL
20S000 EXTERIOR 25S000 I RUA Redacção e Officinas
JORGE SCHMIDT KIO
DA ALFÂNDEGA, 24
NUMERe^ AVULSO 2S000 — ATRAZADO 3S000 j DE JANEIRO

ANNO III J^AIO 1906 N. 5

ENDEREÇO TELEGRAPHICO KÓSMOS-RIO - CAIXA DO CORREIO N. 1085

p
(ÜR0NI(A de conservas, cento e cincoenta kilos de
lombo de porco, quinhentos de biscoutos,
outros quinhentos de queijos, quatrocentas
garrafas de champagne, oitocentas de cer-
'¦rr*x\"lm' I kjO momento em que prin- veja, quinze barris de vinhos,- tão grande
**t cipio, com bom humor e stock de alimentos, que, como escreveu a
descançe) (graças a tode)s Gazeta, «Pantagruel, o famoso comilão,
os deuses!), a traçar esta teria uma delicia inédita ao examinar a sua
chronica de maio, só se lista..."
falia, em toda a cidade, da Haverá, talvez, quem pergunte: "que
_ viagem do futuro Presi- interesse podem ter todas essas informa-
dente do Brasil, —viagem preparatória para ções?!"
o exercicio do alto cargo, excursão ele Têm todo o interesse! O Jornal foi in-
estudo pela irrimensá extensão da pátria.
yentàdò para "informar". "Informar" é o
E' o assumpto magno, é o assumpto ma- seu destine-), é a sua funeção social, é a sua
ximo e único. Os jornaes descreveram uiiiiti- razão de ser.
ciosamente, por dentro e por fóra, o navio E, a esta hora, a bordo do Maranhão, já
em quês. ex. viaja, biogjapharam a comitiva o sr. Affonso Penna deve saber quão vasto
de s. ex., perpetuaram em photogravura as e profundo é o poder do Jornal, quão ty-
physionoinias de todos os tripulantes e ser- rannico é o seu império, e quão implacável
viçaes (sem olvidar as dos cosinheiros e é o seu despotismo...
as dos criados), não se esqueceram de de-
dicar algumas linhas ao figaro encarregado
de zelar pelo cabello e pela barba de s. ex.,
— e chegaram a inventariar as victualhas e
Na Roma antiga, quando um Triumpha-
bebidas que entulham as dispensas do ck)r entrava solemnemente na Cidade Po-
Maranhão,—duas mil e quinhentas latas derosa, nem tudo, no cortejo triumphal, era
é
KÓSMOS ^*m^. I Oy y m -

3
apotheóse e louvor. A' frente d'elle, inar- Ha idéias perversas, que somente occor- /
chavam: o Senado Romano, na plena pom- rem a jornalistas... Nós somos uma raça
pa da sua magestade; as hordas dos bucci- de algozes, uma casta de verdugos, um dan
natores, proclamando ao som das trombe- de carrascos! A creação do
tas a gloria do Grande Homem; as carrua- "Brasil" é uma idéia cruel... jornalsinho
gens atulhadas dos despojos da guerra e Nas democracias modernas, o Jornal é o
das riquezas do saque; os escravos e pri-
sioueiros, arquejando ao peso dos ferros; Quarto Poder, um poder tão forte como os
outros, e mais temível e tyrannico do
os estandartes de seda, em que vinham in- elles. O Estadista é escravo do Jornal. que
O
scriptas em lettras de prata as façanhas do
Heróe; o touro branco do sacrifício, entre Jornal pode metter-se dentro da vida e da
alma do Estadista, a qualquer hora do dia
as filas dos tibicines, tocadores de flauta; — e da noite, pesquizando, indagando, devas-
depois, os lictores precediam o carro do sando, perllistrando, desvendando toda a
triumpho; e, dentro d'elle, vinha o Trium- sua existência publica e toda a sua existen-
phador, esplendendo na sua toga palmata, cia particular. Quando o Estadista é um
de purpura preciosa broslada a ouro... Mas, Presidente de Republica, então a sua escra-
ao seu lado, um escravo lhe repetia ao ou- vidão é completa e absoluta. O Jornal tem
vido, de quando em quando, a phrase sa- o direito de dizer que s. ex. acordou a tal
cramental: "Respiciens post te, hominem hora e que a tal hora tornou a adormecer,
memento te!" E, além disso, o Heróe, na- e que s. ex. repetiu ao almoço o frango as-
quellas horas de triumpho, era obrigado a sado, e que s. ex. prefere o.bife sangrento
trazer em um dos dedos da mão direita um ao bife passado, e que s. ex. ao saíiir do
annel de ferro, symbolo da servidão... Isso banho espirrou tres vezes por ter apanhado
servia para lembrar-lhe que se não devia um golpe de vento. «E's Presidente da Re-
orgulhar demais: era o aviso da Prudência
e da Modéstia, segredado ao ouvido da publica? deixas de ser um homem livre':
Victoria... és minha propriedade!))— diz a s. ex. o
Rememorei essa antiga ceremonia, quan- Jornal...
do li a noticia da partida do futuro
dente da Republica para o norte do Brasil.presi-
Triumphador de combates incruentos, o Dizia-se, a principio, que o sr. Affonso
sr. Affonso Penna teve também
segredasse ao ouvido aquelle memento quem lhe Penna viajaria sem a companhia dos jorna-
im- listas. Parece, porém, que s. ex. finalmente
portuno, e também foi obrigado, figurada- se convenceu da impossibilidade de conse-
mente, no dia do triumpho, a submetter-se
ao uso d'aquelle symbolico annel de ferro, gíiir essa deliciosa ventura. Por mais rigo-
rosa que fosse a vigilância exercida a bor-
emblema da humildade e da escravidão. E do, por oceasião do embarque, sempre
o memento vae soar ao seu ouvido durante alguns seis ou doze reporters (gente mali-
toda a viagem, e durante toda a viagem ciosa, que parece ter commercio intimo com
aquelle aro de tosco metal lhe ha-de óppri- Satanaz) haviam de subpreticiamente in-
nur o dedo... troduzir-se no navio presidencial, escon-
dendo-se no porão das cargas, ou nas
m carvoeiras, —até o momento, em que. já no
alto mar, podessem surgir, como diabos de
A empreza do Lloyd, satisfazendo o mágica, ante os olhos attònitos do illustie
pe-
dido dos jornalistas da comitiva, installou, viajante.
a bordo do Maranhão, um prelo, de onde O verdadeiro repórter, essa entidade fa-
sahirá todas as manhãs, cheirando a tinta bulosa, possuidora de duzentos olhos para
de impressão, um jornalsinho, "BrasiT\ ver, de duzentas ventas para cheirar, de
Tal será o memento diário, tal será o annel duzentos ouvidos para ouvir, de duzentas
de ferro! II
mãos para apalpar, — não é um simples
d)
KÓSMOS
3
portador das noticias que lhe dão, um sim- de esmerilhadores da vida publica e parti
pies mensageiro entre as secretarias publi- culár da sua eminente victima.
cas e a redacção, um simples "leva recados",
um simples "rápido auxiliar de remessas".
O verdadeiro reportei; quando é digno do
Deus que o creoü e do nome que tem, é um
demônio, capaz de atravessar, sem ser visto, Isso, porém, não bastava.
e impunemente, oito filas de sentinellas
dobradas; capaz de, incorporeo como uma Os jornalistas não são o Jornal. E, sem
bruxa, passar pelo buraco da mais apertada o Jornal, que valem os jornalistas? valem
fechadura ; capaz de, arguto como o mais tão pouco como os oradores sem a Voz, ou
como os photographos sem a Machina
privilegiado feiticeiro, ler toda uma carta, Photographica.
atravez do envellope fechado e lacrado;
capaz de, como o Ariel da Tempestade, de Sem um vehiculo, sem um modo de ex-
Sliakespeare, estar em toda a parte, no cia- pressão, sem a fixidez da lettra de fôrma,
rão (io luar, no rumor do vento, no aroma os jornalistas do Maranhão seriam peixes
de uma flor, na fumaça de um charuto, no fora da agua, seriam andarilhos sem pernas,
diamante de um pingo de chuva, num grão seriam marinheiros sem bússola, seriam
de poeira... pássaros sem azas.
Ainda que a administração do Lloyd e Se, a bordo do Maranhão, não existisse
os homens de confiança e companheiros o Jornal, o sr. Affonso Penna acabaria por
de viagem do sr. Affonso Penna conseguis- esquecer a funeção d'esses amáveis cava-
sem impedir a entrada dos reporteis no lheiros que o acompanham... Mas o Jornal,
Maranhão, — elles iriam, pelo ar ou pela apparecendo todas as manhãs, dizendo a
agua, como aves ou como peixes, disfarça- hora em que s. ex. acordou e a hora em
dos na fumaça da chaminé ou na espuma- que s. ex. adormeceu, o que s. ex. almoçou
rada phosplioreceute da popa, acompa- e jantou, o que s. ex. sonhou e o que s. ex.
nhando o navio presidencial. De manhã, disse, os ternos que s. ex. vestiu, as opiniões
quando s. ex., ao despertar, abrisse o sa- que s. ex. externou, e os sorrisos enigmati-
bofd de seu camarote, —um repórter, en- cos com que s. ex. sublinhou certas pala-
trando por alli, equilibrado num raio ar- vras,—o Jornal, impresso a bordo, prolon-
dente do sol, cahiria em pleno redueto do gando e mantendo, no alto mar, a sua
segredo; e, á noite, quando s. ex., encos- funeção informativa, estará alli parodiando
tada á amurada do navio, se puzesse a mirar o antigo: "Respiciens postte, hominem me-
meditabundamente o esplendor do céo es- mento te/." Somente haverá duas pequenas
tre!lado e a negrura mysteriosa do oceano, alterações: «Olha em tomo de ti, e lembra-
-outro reportei; cavalgando a flecha de te que és Presidente da Republica!"
ouro da luz de uma estrella, viria esvoaçar,
invisível e impalpavel, em torno de s. ex.,'
para lhe sorprehender no vinco da testa a
preoecupação do momento, ou para lhe
adivinhar no brilho desusado dos olhos a
reforma já concebida... O Jornal será alli como o memento terri-
vel, será como o annel de ferro symbolico,
Decididamente, não haveria meio de im-
que a velha Roma impunha aos seus Tri-
pedir que os jornalistas acompanhassem o umphadores.
sr. Affonso Penna. Foi o que todos com- "E's Presidente da Republica? deixas de
prehenderam: e os jornalistas, ao lado de ser um homem livre: és minha proprie-
s. ex., hospedados e alimentados
pelo
Lloyd, lá se foram, mar em fora, victoriosos, dade!" —dirá a s. ex. o Jornal...
de lápis aparados e kodaks armados, exer-
cendo o seu tyrannico e dictatorial mister \U O. B.
KOSMOS
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\

AS FORMIGAS Vedes a formiguinha


que\\vae c vem pro-
curando migalhas na terra-se a encontra e
pode carreal-a leva-a, se é superior á sua-
própria força, recorre á companheira que
passa; outras chegam, ajuntam-se em chusina
e eil-as fazendo com facilidade o
trabalho
que seria impossível a uma só.

u fTl sombra duma faia, no parque, emquanto Se a formiga desanimasse nunca iria
l\\ o príncipe, que era um menino, corria visão ao formigueiro. Assim vós, meu Princi- pro-
perseguindo as borboletas, abrio o velho pe, pretendeis um conhecimento, ides ao livro
preceptor o seu Virgílio e esqueceu-se que o contem c inclinai-vos sobre elle No
de tudo. enlevado na harmonia dos versos
primeiro instante tudo vos parece obscuro-
admiráveis. desanimais, aborrecei-vos. Se lançardes
Os meiros cantavam nos ramos, as libel- o livro frcareis sempre em ignorância, de vós
lulas esvoaçavam nos ares e elle não ouvia mas se
as vozes das aves nem dava pelos iusectos e, persistirdes, appellando para todas as forças
do vosso engenho, pouco a
se levantava ps olhos do livro era para repe- pouco ireis re-
movendo as difficuldades e chegareis
tir, com enthusiasmo, um hexametro sonoro. ao ca-
nimho franco da certeza.
Sahio. porém, o príncipe a interrompel-o Assim é em tudo na vida. O
(>
com um commentario pueril sobre as peque- de governar deve ver o trabalho que preten-
da Formiga
ninas formigas que tanto se afadigavam con-
duzindo uma folhinha secca; e disse: porque e um ensinamento. Não pôde o prin-
-Deus devia tel-as feito maiores. çipe alhanar um embaraço só com o seu
São tão juizo, chama a conselho os homens de mais
pequeninas qne cem dellas não bastam para experiência e tino, ouve-os, delibera com elles
arrastar aquella folha que eu levanto da terra e juntos facilmente arredam o no prin-
e atiro longe com um sopro. cipio, parecia inamovivel. Tudo qne,é pròpOrcio-
O preceptor, que não perdia ensejo de nal na vida. Deus não fez o insuperável
educar o seu imperial discípulo, aproveitando «Impossível é uma expressão inventada O
as lições e os exemplos dá natureza, disse- fracos. O que é para a formiga um carreto pelos
lhe : voa com o sopro débil de uma creança, o
— Lamenta V. A.
que sejam tão e para o homem empecilho as águas levam que
nas as formigas... Ah! meu príncipe, pequeni-
tudo é roldão, onde nao pôde a força de um braço
de
pequeno na vida: a união é qne faz a gran- suppera-0 o instrumento e, se ainda o embargo
deza. Que é a eternidade? um cònjuncto de se obstina então o homem appella
minutos. Os minutos são as formigas do Tem- para o ho-
mem como a formiga reclama a companheira
po. São rápidos e a rapidez con/ e, conjunetamente, afastam o pesado entrave
fal-os parecer pequeninos, mas sãoqneelles passam
reunidos, formam as horas, as horas fazem que, Se eu vos podesse levar ao labvrintho,
os que e o reino subterrâneo das formigas, verieis
dias, os dias compõem as semanas, as sema- a perfeita ordem que nelles ha, a disciplina ^^^^^w\
nas completam os mezes, os mezes A que os compõe, a harmonia
os annos e os annos, Alteza, são os prefazem
elos dos y que os rege e
séculos. se cá fora pudesse ser appíicadà a lei
regula a sociedade dos iusectos exemplares que
Que é um grão de areia ? terra ; uma gotta fácil vos seria governar o povo
dágua? oceano; nina centelha? chamma; um porque todos
os homens se dariam por felizes nos seus
grão de trigo? seara; uma formiguinha?
força. postos, não haveria inveja nem ambição, ma-
les que tanto malsinam as sociedades.
Quem dá attenção á passagem de um mi- Qual é a força da formiguinha ? é pouca
nuto? é uma respiração, um olhar, um sorri-
so, mna lagrima, um gemido, para um grão de assucar, entretanto, a formi-
muitos minutos e tereis a vida. juntai, porém ga pôde mudar montanhas se o formigueiro
se ajunta em esforço solidário.
Ali vae um rio a correr-as águas
acceleradas, ninguém as olha. ^Que passam Que é uma gotta de orvalho? um nada
fazem para o calor de um raio de sol, lançai-a ao
ellas, na corrida? regam, refrescam, desalte-
mar, entrará na vaga concorrendo o
ram, brilham, cantam e lá vão, mais ligeiras
sossobro das maiores náos de guerra. para
que os minutos. Quereis ver a força da formiga, procurai-a
Quereis saber o valor de um minuto, disso no formigueiro, que é a união.
que nao sentis como não avaliais a força da Assim falou o preceptor. E, como
form iga ? entrai de mergulho nagua e tende- passas-
vos no fundo -todo o vosso organismo, antes se uma borboleta azul e o príncipe sahisse a
que passe um minuto, estará protestando, a perseguil-a, elle abrio de novo o seu Virgiiio
e continuou, deliciadamente, a leitura inter-
pedir o ar qne lhe falta. Ora! o ar de um rompida.
minuto, que é isso? díreis, é a vida, Alteza.
Coelho Ni:tto.
KÓSMOS
•ê. üfr^ 3

guro porte, sabe-se por que abençoado con-


UMA LAUDA DE HISTORIA PÁTRIA tratempo elle descobriu o Brazil; e, mais ainda,
que tendo despachado para Lisboa um dos
navios de sua esquadra afim de levar a D. Ma-
3 DE MAIO—1500 1906 noel a feliz nova, velejou para a índia, com
os onze navios restantes.
anniversario da descoberta do Brazil me Os ulteriores acontecimentos d'esta expe-
parece oceasião opportuna para alguns
0 detalhes
dição são pouco conhecidos, entre nós. A pri-
pouco sabidos, nem só com res- meira parte da viagem, apenas a esquadrilha
peito ao almirante portuguez Pedro Alvares deixara a costa do Brazil, foi calamitosa: ella
Cabral, mas ainda sobre a rota e incidentes de encontrou, na altura do Cabo da Bôa-Espe-
sua gloriosa viagem, depois de haver tomado rança, inaudito e incessante temporal, e o pé-
posse da Terra de Santa Cruz, em nome da rigo aceresceo com o pânico que causara, entre
Coroa de Portugal. (Eig. 1) a já extenuada maruja, o apparecimento, poucqs

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* ' ' ^^JS^^^^^^^^^^^^z^^rW^^^^^^^^^^J^9^^ÊJ^^^KÊÊÍBÊt^^^^^^^^KB^mm^m^^^^^^^'-

FIG. 1

Não menos illustre pela sua preclara e au- dias antes, 12 de maio, de um cometa, que
tiga linhagem, do que pelos predicados que o ella tomará como prenuncio de imminentes
ennobreciam, Pedro Alvares Cabral assignava- infortúnios. E as ondas engoliram, sem que:
se Senhor de Belmonte e Alcaide-Mór de de sua equipagem um só homem escapasse,
Azurára. . quatro caravelas, entre estas a commandada
Partindo festivamente de Lisboa a 9 de
por Bartholomeu Dias, decobridor do Cabcj
março de 1500 (Fig. 2), com destino ás índias, e das Tormentas, primitivo nome do supracitado
á frente de uma frota de doze caravelas de se- cabo.
KOSMOS
3

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V^íLlj ^ffl*PEÉL W^^^^^ÍJ Êt^~j3t*~J'-* JõB ^IlifwlM Bl^H ¦ W ~"*" il» ' :t" " ** ^^ m^&r&^ã* yí^y - /^l

FIG. 2

Camões perpetuou, nos seiis Lusíadas, este

«I
no residente nesta cidade, para prevetyj^b^l^-^
fatalissimo acontecimento,
pelos lábios do gi- sua chegada. ///// gentio, que se fisera ciiristão,
gante Adamastor: de nome Miguel, e pertencera d classe dos reli-
?Aqui espero tomar, si não me cn^anu.
giosos mala bares, que por penitmqS. vagão nus,
l>e quem me descobriu humana vingança...»
cobertos (Vimmundicia, e arrastando cadéas.»

Com sua esquadra assim reduzida, o valo- Agradecido aos soberanos de Cochino^e ¦
roso Cabral proseguio entretanto^ Tocando em de Cananor, voltou Cabral, em janeiro, para
Quilôa, na costa da Ethiopia, sttrgio em Me- Lisboa, depois de ter mandado um dos seus
linde, onde, a contrário do que se passara em navios reconhecer a ilha de Sofaía; sendo que
Quilôa, fòi fidalgamente recebido pelas auto- de Cananor tomou um carregamento de
pi-
ridades melindanas, e avistou alfim Calecut a menta, especiaria, naquelle tempo, tão cara como
13 de setembro. oiro; e de Cananor e Cochino levou comsigo
Perfeitamente acolhido a principio pelo so- dons embaixadores de confiança e honra.
berano indiano, ou Samorim, bem depressa N'essa travessia, o nauta portuguez teve
vio-se Cabral em pleito com as perfidias d'esse ainda de luttar com o furor das ondas,
que tão
príncipe; e, para desfôrçar-se, atacou quinze depressa pareciam arremessar suas caravelas
navios indígenas, os quaes reduzio a chammas, ás nuvens, como afundal-as na voragem dos
e bombardeou por espaço de dous dias a ci- abysmos, até que, na madrugada de 31 de
dade de Calecut. julho de 1501, entrou em Lisboa.
Acto continuo, partio para Cuduuu, na cosia Antes de sua cnegada, porém, D. Manoel
do Malabar, depois de ter enviado ao sobera- já havia expedido para a índia unia esqua-
KÓSMOS
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FIG. 3

drilha de quatro navios, commandada por João inimigos do seu rei; nós outros, os brazileiros,
da Nova; á volta d'essa expedição, descobrio
porém, o considerámos tão sobranceiro á hu-
este navegador a ilha de Santa Helena, mais mauidade, como mesquinhos aquelles que con-
tarde famosa pelo captiveiro do grande Na- demnaram ao ostracismo um dos mais altivos
poleão. argonautas portuguezes, ao tempo em que a
Cabral morreu quasi no esquecimento; e marinha de sua pátria dominava o Oceano,
attribue-se esse proposital menosprêço ás dô- accumulando descobertas sobre descobertas.
lorosas perdas soffridas, n'essa expedição, por
suas constantes luctas com os mares e com os
Dr. Pires de Almeida.
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KÓSMOS
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da Câmara, dos Ministérios, [Ipu a sanha com
que um capoeira ensiumado anavalhara a
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D) (O) amante, nàlguni beco lobrego, ás tantas da
madrugada...
Depois, outras figuras salientes da
gazeta
O «ALMA* o foram buscar á sua obscuridade, ao seu re-
trahimento laborioso e sem ambição,
mesmo tom de publica homenagem, louvar para, no
A Ernesto Senna. os
seus merecimentos, exaltar a sua influencia,
msensar o seu triumpho. O chronista literário,
comprido, chapéo para traz, esse semeador de palavras de ouro, esse es-
gravata ao vento; sempre atarefado é banjador de divinas graças, obrigou a sua Arte
febril; pulando do passeio para a cal- a dobrar o joelho deante daquelles «consta»
CABELLOcada e da calçada para o passeio; met- de nomeações, transferencias e demissões e
tendo hombros á multidão, alongando o pescoço, daquellas notas sem estylo, sem capricho e até
furando de èsguelha, desmanchando-se em per- ás vezes sem grammatica que ofiuscavain os
nadas dc andarilho que disputa um seus poemas em prosa ou pelo menos se lhes
grande
pareô; farejando de passagem os desvãos de antepunham, os repelliam para traz, mal lhes
porta e a physronomia dos transeuntes; per- concedendo o ultimo bocejo do leitor já des-
guinando a toda a gente, já por habito e interessado e farto. O critico estudou em ses-
quasi insensivehnente: «Que ha de novo? que senta artigos de columna e meia a sua des-
se diz por ahi?»; puxando de vez em quando lumbrante carreira mundial e em outros ses-
o lápis e rabiscando uma nota atabalhoada senta artigo? a sua rota de astro de primeira
num maço de tiras que lhe èmpanturrá a al- grandeza no firmamento especial do jornalismo
gibêíra do paletõ—íá vae elle. nervoso, infa- carioca. E todos, um a um, o foram guindando
tigavel, meio allucinado na sua correria, sempre e diviuizando, pondo-se sempre abaixo delle,
em busca de alguma coisa que lhe foge, lhe de olhos fitos nelle, dominados e fascinados
troca as voltas, o desorienta, o desespera... por elle, ua mais solemne e convicta das apo-
Typo de grande destaque, originalíssimo, in- theoses.
confundivel; toda a gente o conhece, toda a E semelhante coro de lisonjas era tanto
gente o distingue, toda a gente o adivinha : é mais sentido e eloqüente, quanto é certo que
o repórter; nelle entrava o publico, a grande massa ano-
Não surgiu hontem, de certo, na rua do nyma que esyota as edições e enche de sor.o-
Ouvidor, com a sua curiosidade bisbilhoteira, ros nickeis a gaveta do jornal. Digamos até
nem na imprensa carioca, com a sua impor- que era o publico quem custeava os fogos
tancia capital. I Ia muito tempo se lhe attribue do quadro olympico e «puxava a fieira» mu-
o papel predominante e imprescindível de sical. Porque o mais ponderado e pomposo
«alma do jornal ; e estudo politico do chefe não influía na venda
quem um dia lho cha-
mou, para depois, a todo o .momento, lho com um só exemplar; a mais floreada e re-
repetir, foi exactamente aquelle em cujos la- quintada fantasia do chronista passava desper-
bios ou penna semelhante declaração eqií.va- cebida nas contas da gerencia; criticas, exca-
lia á mais eloqüente confissão de infériori- vações, humorismos, sciencia. religião sumi-
dade; foi o próprio director do am-se e apagavam-se na folha, mal ella sahia
jornal, autor
dos artigos solemnes da columna, á rua, a disputar os preciosos cem reis do
deputado federal, membro primeira
da Academia de transeunte; ao passo que uni caso da rua bem
Letras, coronel da Guarda Nacional, sócio contado e bem explorado impressionava a ei-
effectivo ou correspondente de muitas ággre- dade inteira; um escândalo attrahia todas eu-
miações scientificas do Brasil e do estrangeiro. riosidades e aguçava todos os appetites; e,
Porque, assim o deixando dito á roda adula- quando o humilde rebuscador de noticias con-
dora que lhe bebia as ou gravado seguia essa façanha prodigiosa e suprema que
na pagina fulgurante do palavras,
seu orgam, desassom- se chama dar um furo», os milheiros de ex-
bradamente atirou ás emplares fugiam, sumiam-se, levados numa
gerações esta verdade
insuspeita: que menos valiam os seus formi- rajada de incomparavel exito. E a verdade é
daveis estudos politicos ou sociaes do
que a que, se tal circumstancia se não desse, e repe-
hgeira noticia, despretenciosa e desentrelinha- tidas vezes, até estabelecer uma perfeita regra,
da, que se escondia na terceira não viria tão lealmente o articulista illustre,
fmitamente superior aos seus hercúleospagina; e in-
golpes nem o profundo critico, nem o esfuziante
na opinião, ao seu desbaratar de e chronista proclamar alto e bom som, isto é,
princípios
ideas destinados a salvar o Brasil e a corrigir em letra de forma, as glorias do repórter e'
o mundo, era a curta local cuja importância investil-o desse atributo sublime de alma do
se limitava a vulgarizar um boato do Senado,
jornal.
KOSMOS
fe
=^>

Pobre alma ! Nunca o rifão da fama sem


po, lá encarreirou, lá assentou a mão, lá dava
proveito se accentuou numa profissão ou num o seu recado, com dignidade e decência. Não
indivíduo, tão caracteristicamente, com taina- bastava, porém; quando elle conseguiu narrar
nha ironia e tamanha amargura. Esse que, no mais ou menos correntemente como um car-
conceito dos seus superiores hierarchicos e roceiro ficara com a perna sob a roda do seu
dos seus companheiros de faina, ia trepando, vehiculo, disseram-lhe que, agora, era
ascendendo dia a dia, até os pincaros da enfeitar a noticia, tornàl-a mais attrahentepreciso
consideração profissional, continuava, dentro e
amena, extrahir delia uma nota de vivo inte-
do seu paletó cocado e do seu ordenado ma- resse, commental-a, amplial-a, fazer sempre
grissimo, a marcar passo no mesmo terreno delia um pequenino romance, ou uma rápida
de pobreza, se não, ás vezes, de verdadeira e intensa tragédia, ou uma hilariante comedia
miséria... (mamavam-lhe heróe, gênio, susten- em vinte linhas. Não entendeu, naturalmente;
taculo e salvador—mas não lhe pagavam em e ás primeiras tentativas, muito tempo hesi-
relação a tão transcendentes qualidades, nem tou, mordendo a extremidade da caneta, e
mesmo ás que exòrhám o mais rude opera- muito se ralou, despedaçando as tiras ingra-
rio, o mais boçal dos carroceiros. Perguntae tas onde o incêndio ou o assassinato, ou o
a um engraxate quanto elle apura, no seu desfalque, ou o escândalo official se desenvol-
patamar de escada, dando brilho ás botifarras viam, com toda a miúda documentação de
dos burguezes e vede se os seus ganhos não hora, logar, quantia exacta,
vão muito além dos desse fornecedor de no- mas sem tragédia, sem comedia, phrasés textuaes—
vidades á mesma freguezia anonyma a quem sem nada
mais que o facto simples, secco, bruto, deses-
dia a dia vae lustrando a intelligencia e a
p era dor!
educação. Dif-sè-ja, Deus meu, que o cliente
Hoje, é um homem de letras. Conhece o
põe maior preço á sumptuosidade do seu cal- francez como os seus dedos, arranha o bas-
çado do que á resplandeceucia do seu espi-
rito! fante de outros idiomas para «entrevistar» os
diplomatas que chegam e surprehender os
Mas, não, não é propriamente isso. Ahi segredos que se agitam nos couciliabulos in-
estão as edições esgotadas, demonstrando o ternacionaes dos caftens. Sem fallar, está cia-
prêmio generoso, a justa recompensa. A quês- ro, do conhecimento profundo
tão é que tantos milhares de folhas consumi- que foi obri-
das liquidam para o repórter numa só moeda, gado a adquirir da giria dos nossos capoei-
ras... E, fora desse terreno lingüístico,
sonante de certo, mas sem curso no mercado quantas
— a gloria. E' o repórter especialidades não tem que abranger a sua
quem multiplica as actividade profissional! Elle tira
tiragens, mas isso nada influe no seu ordena- photogra-
do. Quando o jornal prospera dum modo pinas, faz discursos, anda em bycicleta, dirige
extraordinário, augmentam-lhe a elle, factor a extineção dum incêndio; monta
garbosa-
mente a cavallo, para acompanhar as mano-
principal ou único de tal prosperidade, vinte bras militares, dirige cotillons, quando vae re-
mil réis; e se dá uma fortuna á empreza, en-
tão a empreza passa o jornal adeante—e o presentar a folha em algum baile; ultimamen-
repórter vae para a rua. te, desde que Victor Vianna inventou no Paiz
os five-ó-clock cariocas, faz espirito,
Acresce ainda que, desde o dia em o flirta, se-
duz, conquista ; e entrega-se actualmente com
repórter pegou de medrar, de se tornarque furor á dactilographia,
per- para, num dado mo-
sonagein, surgiram para elle novas lutas e fa- mento, compor elle próprio qualquer noticia
V digas e sobre elle se encarniçaram cada vez
mais penosas exigências. Ao
principio, a sua
missão limitava-se a escrevinhar de fugida, no
da ultima hora nas lino-type
estão mandando vir da Europa !
que os jornaes

punho da camisa, um apontamento, unia lem- E, com todas estas exigências de encyclo-
branca, uma impressão— e contar ao redactor o pedia, de estylo, de representação, de sobre-
resto da noticia. O redactor ficava a escrever, humana fadiga e gênio absoluto — o seu or-
a compor, a temperar, a puxar denado continua a oscillar entre os duzentos
seus ta-
lentos literários e elle ia para o pelos
café, esperar
e os trezentos mil reis e a provocar a com-
outras novas palpitantes. Ao paixão do mais desfavorecido dos proletários.
passo, porém, E ainda fazem questão de que elle seja ho-
qne foram descobrindo e reconhecendo a sua
importância, foram-lhe introduzindo no nesto! Mas, fallei eu em proletários... EHe é,
as «marcas mais variadas e mais complexas. papel na verdade, o representante mais legitimo —
Para começar, obrigaram-no a redigir, elle mais ainda que o critico, o chronista, etc —
próprio, as suas notas, a dar corpo e fôrma desse grande proletariado, o único do Brasil
ás suas «cavações . O coitado não estava — o proletariado intellectual.
acostumado, não tinha estylo, não cosia os
períodos -foi um tormento. A poder de tem-
João Luso.
KÓSMOS
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CjTi
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p todas as regras da dialectica. Os sócios
0 CALEMBURGO desse grêmio exótico, as melhores cabeças
do tempo, usavam pseudonymos, aritepon-
do o distinetivo âne; Analise, Anagramme,
Anapeste, adopfãndo de Pontanes, austero

n erudição de Pli. Cbasles affirma que


elle provém decalemberg personagem
alegre dos contos allemães; outros,
contrariando essa opinião, fazem-lhe o ber-
professor da universidade, o elegante nome
de Anathème...
A Egreja contribuiu e contribue com
soberbo contigente,
em seu seio trocadilInstaspois sempre contou
ferrenhos. Sirva
ço na expressão italiana: calamajo bnrlare, de prova a phrase attribuida a Gregorio
ca Ia mo burla, calam-bur...
XVI, quando um cardeal gabava uma cruz
Calemburgo, trocadilho, ou que melhor de ouro a brilhar na alvura do collo semi-
nome tenha, o espirito actual recebeu-o n ú de u m a f ida Iga:
como um temerário avassalador. E' piá bello il cah'a -
rio che Ia croce...
Não é de hoje a forte corrente para o
malabarismo da palavra; já gregos e troy- Tido sempre como a quintessência da
verve, a affectação é detestar o calemburgo.
anos, syrios e bolonios...
que sei eu? Detes ta 1 - o! Quid est sine peca to...
possuíam no acervo de brocardos e phra-
ses populares o cultivo exótico da ambi- Donville cita-nos uns versos de Dellile,
güidáde que proliferou pelos idiomas adi- de uma severidade pasmosà para o troca-
ante, nótadámente o latino. dilho. Talvez o poeta ignore que anathe-
E' encontrado no cahotico Homero, fer- matisava delidos de escriptores estimados,
vilha nas obras de Aristophanes, espouca de oradores celebres, de poetas immortaes'.
Talvez tivesse esquecido as
pelas palavras de Plauto e condimenta a palavras do
demagogia de Cícero em suas orações. Divino Mestre ao discípulo amado: - « Tu
Pela renascença, creou elle foros de ei- és Pedro e sobre esta pedra ed[ficarei a
dade, largamente abusado em Dante, em minha Egreja"... palavras que encerram um
Shakespeare, em Rabelais. pensamento profundo... de envolta com
um simples calemburgo.
Dahi surgiu tremendo, em edições ex-
pressas, especiaes, como a Tiistoire de ma Voltairè foi egualmente severo e perpe-
mie... de pain de Derveau de Caros, es- trou alguns... André Chenier levou a oge-
tandp reservada ao jovial marquez de Bié- risa ao ponto de atirar este calháu esina-
vre a gloria de eclipsar a todos em fecun- gfador:
didade, com o seu livro de estréa Lettre à "Lejanus à deux fronis, Fhébélé calem-
Madame lá Contessc Tation, facécia de bourr
grande êxito e onde se vê que innumeras Guerra Junqueira,Sluma resenha rimada
phrases de repentismo, attribuidas a autores de tudo que lhe causa asco, inclue o ca-
contemporâneos, podem ser reivindicadas lemburgo... e elle próprio, solemnemente,
pelo defunto autor da Brcviana. em capitulo especial da Velhice do Padre
Houve, em França, um arremedo de Eterno, perpetra o mais terrível dos troca-
Academia, o Club des Anes, citado dilhos contra a companhia jesuíta, intitu-
Larousse, onde cada acadêmico se appel- por
laudo essa meia dúzia de versos: Calem-
lidava Membro ne bingo...
(membre âne). Os as nos
celebres figuravam em
nobre, desde o de Balaão painéis no salão Hoje vive em toda a parte, salientando-
ao de Sancho se mais no theatro, mola real de vaudevilles,
1 anca, destacando-se o de Buridan na os- de operetas, de mágicas; deu margem a
cilação philosophica entre dous mor- collecções abundantes em alentados volu-
rendo logicamente de fome e depotes, sede com mes: as Comedia na, as Gasconiana, as
d)
KÜ\
KÓSMOS
C7
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Encyctopediana e a Feira dos annexins, ve- S\ entretanto um rio faz o seu curso sem sa-
lho folheto de qne ha vários exemplares hir do leito."
pelos catacebos. Ha annos, a policia de um estado cercou
Entre nós, teve elle tini momento de tre- celebre casa de jogo, chefiada dois
guas, não passando de elemento .esporádico anões^ a protecção appareceu de por
do privilegiado espirito de um Lopes Car- prompto,
os anões ficaram livres e a autoridade Iiifii-
doso, de um Garrido, de um Ney... Depois, tou-se a recolher os dados da
surgiu impetuoso, impertinente, proteifor- jogatina. Este
facto deu motivo á observação do Dr.Fróes
me, aqui, ali, pelas palestras, pelos artigos, da Cruz:
pelos discursos, alastrando-se éxtraòrdina- "Vão-se os anões, mas ficam
riamente. E isto porque muitos cuidam os da-
dos."
aeeessjvel esse gênero difficil e atiram-se
ás trivial idades plioneticas, irritantes, sem Em Santa Thereza ha uma relíquia de
senso, sem repentismo. chafariz que, pelo uso continuo, desprumou
a bica, donde sae o liquido obliquamente.
O calemburgo improvisado e bem feito
é patrimônio de poucos, bem poucos, Vendo-a, Felix Pacheco explicou:
que "E' simples: o uso da caçamba
são os que conhecem inteiramente a lingua, faz a
suas modalidades e variações bica torta."
plioneticas! Fontoura Xavier, antes de se entranhar
Em Portugal o trocadilho é menos cul-
tivado: quando um apparece, ganha as no Iabyrintho diplomático, usou e abusou
honras de eojumna e tanto dos do trocadilho, e fez época, nos bons tem-
jornaes, pos o seu seu rimado reclamo:
ao passo que aqui elle esfusía na
prosa,'
no verso e muitas vezes na mirniçal "Depois de cheiral-o bem,
Entre os nossos humoristas podemos
apontar Emílio de Menezes, Gastão Bons- Um perfumista opinou : "
"Depois de cheirar Lubin,
quer, Bastos Tigre, de uma fertilidade ines-
gotavel. Gonzaga Duque e Lima Campos Um perfumista, o Pinaud..."
duellam-se ás vezes num interminável
jogo
de palavras, e essa adorável mania empolga No celebre baile dos chilenos, na ilha
outros cultores de valor no meio litterario. fiscal, houve uma pequenina rusga num
Entre os sisudos, entre os que não appa- casal; depois de ligeira nuvem fizeram as
recém diariamente na faina da escripta, os pazes ali mesmo, entre festinhas e beliscões
que se mascaram pela convenção, tendo recíprocos, motivando esta phrase
pictores-
nalma o sinete da ironia,... ãtil entre estes camente gauleza do Lima Campos:
ha cultores que a indiscreção deve apontar — "O belisco da concórdia..."
como exemplos felizes: Daria para uma serie infindável, uma re- 1
Attribuem ao Dr.Nerval de Gouveia este senha destas, entrando em linha de conta
commentario sobre a substituição do fina- as humoradas femininas, pois também as
do Portei Ia na presidência do Estado do ha com a força e a fertilidade
que celebri-
Rio: O Port ei Ia deixa PoreiuncuIa, disse saram certa Laís napolitana. Tinha ella, á
o douto lente, destacando as syllabas, uma cabeceira do leito, a imagem da maddna,
por uma, e pondo a tônica na ultima... com esta inscripção de seu
próprio punho:
A Gastão Ruch attribuem este jogo eu- O Maria, concepita senza
peca to, fami
rioso: "Para ensinar pecare senza concepire...
geographia, tenho
sempre de saltar do leito e ir
para o curso- Raul Pederneiras.
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KÓSMOS
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OS SELLOS PAM-A/nERICANOS
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Il 3'COMCKCStO. PAU ÍVHtRI

* PAN-AMERICANO
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Desenho e composição de Desenho e composição de


Rodolpho Arnoêdo Henrique Bernardelli

^ARA commemorar a reunião do 3o O do proFessor Rodolpho Arnoêdo, para


[p Congresso Pan-Americano no Rio a taxa de cem de réis, representa as duas
de Janeiro, em Julho do anno cor- Américas, em figuras de mulheres, desta-
rente, o sr. Ministro da Agricultura encom- cadas dum esquadramento em estylo Re-
mendou a dois notáveis artistas brasileiros, nascimento clássico, contemplando o ideal
os professores Arnoêdo e Henrique Ber- commum symbolisado num barrete phry-
nardelli, desenhos originaes
para uma geo aureolado pelo sol, allegoria á frater-
emissão especial de sei los. nidade universal.
E', sem duvida, medida louvável, con- As figuras estão em trajes do Renasci-
séfànea com as normas de um mento, para indicar a época da respectiva
governo
progressista e dum povo civilisado. Uni- incorporação á Civilisação Occidental.
camente, e com fundada razão, tememos Ao lado de cada uma vêem se attrilmtos
que esses originaes tenham a sorte dos do caracteriscos: assim, a que representa a
celebre concurso de modelos de franquia, America do Sul tem o café, o cacáo e a
em que o saber e o alto
gosto de Eliseu can na de assucar, e a do Norte dois molhos
Visconti tnumpnou de
grande numero de de trigo, uma foice e uma roda dentada.
eoncurrentes com os mais artísticos, os
Deve-se notar que a mulher, que repre-
mais pensados e lindos sellos senta a America do Norte, traz á mão
que jamais
têm apparecido nos
paizes cultos. esquerda um ramo de oliveira, symbolo
A escolha dos artistas não
podia ser da Paz, principal intuito do Congresso.
melhor. São duas reputações
que se man- O modelo do professor H. Bernardelli,
teriam no mesmo nivel em
que se mantêm destinado a taxa de duzentos réis representa
aqui ou, é de crer, em maior consideração as duas Américas, caracterisadas em suas
se vivessem em culta cidade da velha
raças pelos traços physionomicos.
Europa. E, portanto, só se
poderia esperar A do Norte conduz fraternalmente a do
delles o quanto elles deram, o
firmado nos trabalhos apresentados que está Sul para uni mesmo ideal, que é o Pro-
e que gresso, symbolisado no typo de Minerva.
nos apressamos de reproduzir em nossas Nas mãos dessa deusa vêm-se um ramo
paginas. de oliveira e a roda da fortuna; ella está
KOSMOS
<*__
:_^

reclinada no angulo do enquadramento, Mas... Ainda temos a sombra duma ap-


em cuja base se acha uni globo terrestre prehensão a nos toldar a alegria...
com o continente americano. Ha tanta cousa imprevista e imperfeita
Em todo o composto percebe-se o in- nas deliberações dos nossos governos!...
tento allegorico, detalhadamente concebido Bem sabemos que o nome do actual sr
e harmonisado com a mais feliz idealisação. ministro d'Agricultura deve nos inspirar
Como se vê, são modelos compostos confiança; com tudo, a nossa experiência
com uma nítida comprebensão do destino nos diz que, acompanhando as melhores
de taes sei los, evidentemente origiriaes e idéas dos nossos homens públicos, vem
innegavelmente de grande valor artístico. sempre nm cortejo de condessendencias e
Dc parte a parte, os ii lustres artistas concessões as quaes, neste caso particular,
escolhidos (e diremos: escolhidos com um são favorecidas pela pequena ou difficiente
tacto que é raro em taes circumstancias) familiar.dade com o assumpto.
procuraram manter os justos créditos de Tememos, pois, que a filaucia se ante-
que gosam no pequeno meio dos que en- ponha á capacidade dos dois mestres da
tendem de arte. nossa arte.
Se o professor Bemardelli mostrou-se E se, amanhã, nos disserem que houve
o mestre, que é, no desenho, se a sua com- alguém que, geitosamente empurrado, se
posição obedece a um pensamento e, deu- oppôz ao mérito de um dos mestres com
tro da sua própria representação,
pôde ser uma coisa qualquer, copiada de estafadas
inculcada como exemplo; o professor estampas e desenhada á maneira de fieuri-
Amoêdo hoinbrea-o com a sua maestria fe
nha para livro infantil (o que seria indeco-
de desenhista, com a sua clara e secura roso num sello!) teremos uma grande dôr,
comprebensão do Symbolo em
que teve mas, com franqueza, não nos admiraremos!
por mestre o grande Puvis de Chavaimes, O que nos admiraria e muitissinio era
e, a sua linda, a sua bella composição ver a boa, a excellente, a honrosa obra dos
constituo, como a do sr. Henrique Bernar- dois artistas brasileiros estimada eacolhida.
delli, um verdadeiro modelo cia Decorativa, Isso, sim. Isso é que seria caso para nos
em cuja classificação devem ficar os deixar admiradissimos!
pro.
duetos philatécticos. De qualquer maneira, porem, os dois
Apesar da immensadesillusão modelos aqui ficam nestas paginas, e os
quesoffre-
mos com a sorte dos sellos do sr. Visconti;
que teem cultivo esthético, os que enten-
sellos que nenhum paiz da Europa os dem de Arte e sabem-na querer, poderão
pos-
sue tão perfeitos no sen valor artístico e,
por si próprios julgar do valor dessa obra
também, (devemos dizer com vebemencia) e confrontal-a com o que, por ventura,
np seu valor dapplicação, de especialidade;
possa depois apparecer a custo de prote-
apezar disso, a escolha dos dois illustres cções inconscientes, de empurradores que
artistas, e a produção que elles apresenta-
já foram também empurrados, para, mais
ram, nos deixam numa doce esperança de uma vez, depreciar o nosso gráo de ca-
que, ao menos desta vez, não cahiremos no pacidade mental e nosso bom gosto.
chatismo dos retratos on das figuras
pre-
tensamente representativas, sem indicação
séria que as faça considerar produeto de Maio de 1906.
idéas combinadas e de um intuito alieno-
fe
rico. Gonzaga Duque.
KOSMOS
^vm
«
% x
de inventar a coisa mais absurda, mais impes-

PI NTU RA soai mais auíiesthetica, mais angulosa, mais


espalhafatosa e que se conhece
Art Nouveau. Arte nova! Como pelo nome de
si a Arte
tosse uma creaçao, uma remodelação, unia
Arte e Artistas-A simplicidade antiga e adaptação da moda, como si as mãos de
Vau
OS EFFEITOS NOVOS - O DESENHO E O CO- üyck mudassem como o feitio das luvas, como
LORiòo—Alguns quadros do Museu de si os coloridos de Tiziano e os desenhos de
Arte Moderno», de Madrid. Velasquez fossem como as fazendas e os ma-
nequins de Radfern ou de Paquin! Uma ca-
UANDO o homem do século XIX se beca arte-nova é um modelo de em
emfim, civilisado e iridependen- casa de cabelleireiros elegantes; penteados
as-mãos.-de
|^| julgou,
te, deixou a contemplação pela investi- tão alongadas, de tão brancas, de tão
tas, perdem-se no infinito; o perfei-
gação. Tudo quanto tinha feito a delicia «pescoço de eysne» dos pescoço é o
de outras edades passou a ser considerado poetas de logares-
como relíquia e múmia; a simplicidade foi communs; a pàllidez é cadaverica, o colorido
vista, então, como mediocridade; e, á força e apopletico. As estatuas do mesmo estylo não
de se procurar o complexo conseguiu-se o teem fôrma, não teem elegância, não teem li-
extravagante. O espirito modernista quiz ir nha, não teem contorno; desmedidamente
além do espirito da Renascença; mas, ao altos, ridiculamente finos, os bronzes, os mar-
passo que esse se limitou a vestir com graça mores, os gessos ornamentaes dão idéa de
os corpos esculpturaes do Paganismo, aquelle, cobrinhas chinezas que, collocadas em tun
pensando adquirir uma perfectibilidade cada prato, inflammadas por um phosphoro. crês-
vez maior, -alcançou a caricatura. Lsse empe- cem, sobem, ondulam até que caem desfeitas
nho de tornar difficeis as coisas náturaes àpo- em cinza e cheirando suffocadoramente. Os
derou-se de todas as manifestações da intelli- architectos do modem style não fazem casas,
-constróem labyrmthos, com
^encia, e reinou principalmente na Arte. A portas que são'
Poesia, sobretudo, inventou metro, creou ri- gavetas e janellas que são buracos. Inventou-
mas, desvendou inspirações ineoncebiveis, sub- se um material adequado para as constru-
stituiu o Parnaso pelo Caucaso. A isso se cções «fim de século», como se aproveitou uma
chamou o Svmbolismo, como si symbolos não espécie de lama para as novas estatuas, como
fossem a llliada, a Odvssea. a' Eneida, as se ápplicou o ovo para as paizagens. — Tizia-
Metamorphoses, a Divina Comedia, os Lusia- no, uma vez, pintou com uvas, por extrava-
das, o Paraíso Perdido, os poemas de Leo- gaucia; mas bem depressa reconheceu que as
pardi e de Lord Byron, as tragédias de Sha- uyas são mais úteis no vinho, e que, para pin-
kespeare, as comédias de Molière, de Cervan- tar ha uma coisa mais própria que se chama
tes. de Lope de Vega, as poesias de Victor tinta. L' isto o hediondo art-nouveau; e no
Hugo e de todo mundo que desde então, em fim resulta que essa arte constituiu apenas um
interesse mercantil, com tanto êxito para o
todas as lingoas, faz versos com inspiração,
com correcção e com idéias. A obra d'arte
esta ligada ao symbolo; e o symbolo,
mais velado que se mostre é sempre por
com mercio como as camisas de côr e os cha-
péos do Panamá.
4
Tão complicada foi essa idéa de svmbolismo pessoal.
que não coube nos metros clássicos; c o ver-
so se derramou como um copo que transbor-
da. Não se lembraram os symbolistas de A differença que existe entre o Museo dei
que Prado e o Museo Arte Moderno é a mesma
ò. symbolo não está na fôrma e sim na essén-
cia, e que quem não pode sujeitar a sua idéa que ha entre o episódio de Paolo e LTances-
a jaula de oiro de um alexandrino.—tem o ca, na «Divina Comedia , de Dante, e na
«Prancesca da Rimini», de d'Annunzio. Dante,
recurso de escrever em
prosa. Passada, porém, em setenta versos, com uma simplicidade pro-
a primeira tempestade, as ondas inúteis se
embeberam na areia, as ondas fecundas volta- fundamente emotiva, contou o eterno padeci-
ram ao mar, e outra vez resplandeceu a rima mento dos dois amantes, desde o beijo da
e cantou o rithmo. e, como alma perdição até ás torturas do Inferno; D'Annun-
corpo formoso, a idéa triurriphou na pura em zio fez d'esse idylio morto uma longa trage-
forma dia em cinco actos. Assim são os pintoTes
parnasiana e perfeita. O svmbolismo rebelde antigos e os pintores de hoje. Nas coisas mais
so existe verdadeiramente no mármore har-
monioso de D'Annunzio e no simples, mais náturaes, Velasquez, por exerií-
gênio em flor de pio, encontrava um motivo novo, uma pagina
Rodenb.ich. da vida, e em vez de um quadro, reproduzia
Na Pintura, ua Esculptura. na Architectu- a Natureza. Não ha em nem uma das suas
ra, a mania do modernismo chegou ao telas nada que impressione pelo terror; não
ponto
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EXECUÇÃO MILITAR DE TORRIJOS E SEUS COMPANHEIROS


KOSMOS
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lia uma ferida aberta, uma chaga, uma situa- \
que o horrível supplicio de esperar por ella
ção fúnebre, um assombramenío. Velazques bom do corpo, bom da alma, bom
encanta e impressiona pelos aspectos naturaes rito, so porque a maldade humana doinventou
espiri-
da Vida. Goya, porém, mais moderno, é si- uma espingarda e uma bala, e as confiou
nistro. Em todo caso, no Fusilamento de fies- ei e aos soldados para que os soldados e aá
panlwes pelas tropas de Aiurat, a pezar das lei façam da Pátria uma assassina e
horríveis e desfiguradas expressões dos con- reza um carrasco. Um marinheiro, datambem Natn-
demnados, lia um movimento de lucta, de com os olhos tapados, está como um som-
reacção, e o sangue que mancha o solo' pa- nambulo, sem noção da vida, do movimento
rece que foi derramado numa terrível invés- e do equilíbrio. Um outro baixa
tida contra os inimigos armados. Isto consola sobre o peito a cabeça cheia de gravemente
um pouco... pensamentos.
p um mundo de idéas que revolve; e tudo
Representando assumpto parecido, o qua- isso, em breve,-alma, sonhos, intelligencia-
dro de üisbert, Execução Militar de Torrijos desapparecerá sob uma descarga brutal.
e seus companheiros, que está no Mu seo de seu iado, um rapaz alto e loiro, com a Áo
Arte Aíoderno, é um assassinato monstruoso sionomia séria e fechada, baixa os olhos phy- so-
que cornmove e indigna; é a visão do fusi- bre o chão, como que pensando na frialdade
lamento,-o crime mais covarde da lei e dos que o espera. E' um official inglez que acom-
homens de guerra. - __' uma paizagem triste, á panhava I orrijos. Outro eleva a vista ao céo
beira mar, em Alalaga, com o céo todo em- n uma recolhida e muda prece. Ah! si
brnlhado em nuvens de chuva. As ondas ein- se lá chegar sem sentir as balas no pudes-
zentas vêem rolando ate a Parece, á primeira impressão peito!...
o homem
tumidas, sinistras. No primeiro praia,-pesadas
plano, o (iene-
que
grave e triste que está á direita cie Torrijos,
ral Torrijos, grave e pallido, com os braços tita-o com um amargo olhar de accusaçâo'
amarrados, estende as mãos a dois compa- muda, culpando-o por todo o horrível dra-
nheiros, fazendo com elles o ultimo ma, e que, ante a tremenda responsabilidade,
vando para a morte a derradeira alliança pacto, le- Torrijos baixa os olhos, confundido. Alas,'
O
ultimo vento da Terra alvoroça e levanta os olhando com mais calma, procurando
seus cabellos ondeados; os tristes olhos fitam o trar o segredo do Artista, vê-se que elle pene-
aper-
chão onde repousam já quatro cadáveres e o ta a mão do General vencido, com uma emo-
braço de um. Na sua physioríomia vaga uma ção de amizade fraterna, firme na vida, in- -
tristeza serena e passa um sonho de quebrantavel na morte. Como um contraste,
da mágoa, como si reconhecesse ser pròfuri- desola- quando todos os condemiiados moços mos-
dpramente tarde para alcançar a longa cara- tram uma immensa resignação soffredora, só
vana das suas esperanças. E o velho D. Alanoel Flores Calderón, a quem
parece'tambem um dos frades venda os olhos, e outro lhe
que um so remorso lhe afflige a alnm.-é ver
que por elle tantos outros vão morrer. Os de- lê uma pagina consoladora de' religião, — tem
mais condemiiados teem expressões differen- um ar de lucta e de revolta.
tes. Perto do mar, com um Basta ver-lhe a mão esquerda crispada
um homem com os joelho em terra,
pulsos presos, parece n'um violento gesto de energia para que se
chorar, sacodidò por uma agitação violenta e adivinhe o fulgor dos olhos brilhando por
amargurado pela mais traz do lenço. Parece que elle se vae voltar
sem forças, sem vontade, pungente saudade,-já
tão morto para os soldados de Calomarde que, sem or-
como os companheiros de quasi rebellião que ja- dem de Fernando VII, executaram no dia 11
zem a seus pés. Dois amigos ou dois irmãos de Dezembro de 1S31 os que rebellaram con-
se abraçam, ifuma despedida suprema; um tra o decreto de 26 de Março de 1830 que
irmão darmas, com os braços fechados derrogou a Lei Salica.
o peito, volta para elles a cabeça, como sobre E' este o extranho quadro difficil de Gis-
si os
quizesse separar sob o fulgor dos seus olhos bert. Alais do que todas as obras eruditas, os
onde brilha uma coragem impassível. discursos ernphatiços, as poesias, os dramas
lado, nm outro, com as mãos atadas,Ao olha seu
de propaganda, elle fala contra essa instituição
paia a frente, mas com uni olhar que, brutal salvaguardada pela lei, que mata inno-
distinguindo os aspectos da Natureza, já não
procura centes e criminosos, em nome de um direito
sondar os mysterios da Morte. Um condem- que não existe, üisbert é um pintor muito
uado se ajoelha moderno; si Affonso Karr conhecesse o seu
nha aos olhos para que um frade lhe po-
o lenço misericordioso; um quadro, talvez não tivesse proferido a sua
antigo soldado, ainda com as vestes e o phrase, — celebre e imbecil.
ro de camponez, com a expressão de gor- um
completo desprezo sua sorte, fita desde-
niiosamente aquella pela
morte,-como si a morte precaução para não ver a O Museo de Arte Moderno, ricamente ins-
fosse mais dura do .aliado no mesmo palácio da Biblioteca Na-
KÓSMOS
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cional, encerra as mais formosas paizagens, os Tadema, da Innoceneia, de Pedro Saen, das
mais emotivos episódios da Historia; e sobre- paizagens de Shardy, de Jimenez, de Haes
tudo da historia de Hespanha, lendas, allego- da Nuvem de verão, de Garcia Mencía das
rias, todo um copioso trabalho dos pintores Nympãas do occaso, de BrulI Vinolca, da ca-
modernos do paiz e de alguns artistas extran- beca da Infanta Eulalia, de D. Carlos de Por-
geiros. A significação de arte moderna não é tugal, das Aceituneras, de Romero de Eorrv
a de art nouvcau ou modem stvle: longe da Pastora adormecida, de Agrasot, da Anda-
disso,— não ha um quadro em que transpare- luza, de Beulliure. da cabeça de leão, de Ro-
çam as fôrmas doentias e inexpressivas de co- sa Bonheur, do Berço, de Tantardini, ennevoam-
loridos absurdos e linhas fantasiadas. Os pin- se de repente ante Dona Ignez de Castro co-
tores de Hespanha, talvez por causa da bene- roada depois de morta, de Martinez Cubells
fica influencia de Velasquez, conservam a cias- de J'nana Ia Loca, de Pradilla, da Morte de
sica e nobre beileza da arte. O art nouvcau Viriato, de E. Madrazo, da Lenda do
não penetrou na vida artística deste paiz. Monge, de Casado de Alisal, do Direito Rei de
No Prado, as telas que representam sup- Asylo, de E. Amérigo, dos Funeraes de Santa
plicios e violências formam a minoria; a sen- Cecília, de L. Madrazo, dos Funeraes de São
sação esthetica é absorvida pelo poema á Francisco de Assis, de B. Mercadé, da Morte
Verdade que está em Velasquez, pelas doçu- de Lacraia, de Rosales, do Duelo, de F. Do-
ras de Murilio, pelo naturalismo de Oova, iningd, de Neto e Agrippina. de X. Moiitero
pelos arroubos de Ribera, pelas evocações re- da Fundação da Republica Romana, de Pia-
ligiosas de Raphael, de Tieppolo, de Correg- sencia, do Ultimo dia de Nu maneia, de A. Ve-
gio, de Tintoretto, de Pra Angélico, pela arte ra, e de tantas outras Inetas, assassinios, de-
harmoniosa, branca e pagan de Rubens, de predações, carnificina, horrores.-Como é fácil
riziano, pelas linhas perfeitas no conceito ama- uma caverna lugubre. meia noite, povoada de
vel de Van Dyck, pela elegância de Watteau, fantasmas e de pesadellos! Como é difficil
pela naturalidade de Jordaéns, pela grata e urna paizagem calma, batida de sol, com ar-
pela força de todos os velhos mestres. No vores verdes e sombras frescas! Como é fácil
Mu seo de Arte Moderno, a calma é a excep- a Fantasia! Como é difficil a Natureza!
ção. Do começo do século XVIII para traz, os
pintores, quando encontravam um effeito máo
na natureza, esperavam que um bom surgisse
para transmittir-ihe as impressões. Tinham o Com a Guerra, o seu auetor Villegas
nobre conceito de que só excepcionalmente a
natureza é feia; aproveitar n'um quadro as obteve a medalha de oiro.
suas manifestações sinistras afigurava-Se-lhes E' uma allegoria sinistra: 11'uni campo de-
tao inçohérente como apedrejar um teretro. solado, onde uiva e ulula um vento de des-
De resto, é muito mais fácil impressionar pelo traição, uma mulher amarrada a nm
poste em
lado horrível do que por um aspecto da sim- que ainda se fixa uma lanterna despedaçada,
tem a seus pés um grande cão feipudo,
plicidade. I [òffmann gastou menos tempo em todo ensangüentado. O tronco mi, os braços já
escrever qualquer dos seus contos assombra-
dores do que Anatole France em pensar as nus amarrados nos cotovellos e nos
cintura, tambem amarrada, as saias em pulsos, a
trágicas singelezas que estão na Histoire Co- fran-
iniquc; em Edgar Põe, Ligeia é mais fácil uo galhos, os cabellos soltos, esvoaçando, con-
fundindo-se com a fumaça que sahe de um
que o Corvo; Theophile Oautier poz em Ala- archote fincado junto ao cão,-tudo isso dá a
moiselle de Maupin toda uma existência de
artista; em Spirite alguns dias ile trabalho. E impressão de um fim do mundo, do ultimo
reimainento da maldade humana. No
para falarem coisas nossas: Rodolpho Amoedo inferior,-esphacelado, desconjunetado, plano
ha-de preferir ao Ultimo Tamoyo a immensa partido,
doçura da Narração de Phyleias, a magoa e com a roda em artilhas, um velho carro de
a saudade da Partida de Jacob; Olavo Bilac campo, que trazia a colheita do dia, foi sur-
é mais poeta em qualquer dos maravilhosos prehendido pelos homens de guerra, e o seu
sonetos da Via Láctea do conduetor morreu sobre elle, conservando na
que em Delenda dextra a faca com que se defendera e
Carthago. Os pequenos arranhões da vida, são, que
sob um certo ponto de vista, intensamente' pousa, como uma bofetada, na cara de um
soldado morto. E por toda
mais dramáticos do que todas as chagas da parte armas e ca-
morte. Ora, os artistas do século XIX daveres. A mulher e o cão dão um aspecto
curaram dramatisar, afeiar a vida, com pro- desolador ao quadro. Porque essas duas victi-
um mas innocentes ? Ella era talvez uma
amontoado de chagas, de
dios, de putrefacções. Assim, pestes, de incen- camponeza. talvez a mulher do lavradorpobre
por exemplo no • que
Museu de Arte Moderno, quando os olhos _ jaz sobre a carroça. Os ' bois e o cão eram
extasiam diante da Scena pompeiana, de Alma toda uma familia, feliz e humilde, sobre
desabou a bruta selvageria dos quem
guerreiros. O
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EL DERECHO DÉ ASYLO
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KOSMOS
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colorido d'esse quadro é admirável de verda- sores da Lei... Ha nos seus olhos um myste-
de e horror. O archote e o cão dão frêmitos rio: não se sabe bem si o seu modo extatico
ao corpo ; parece que o fogo de breu que e indeciso vem do ódio contra o criminoso,
resiste ao vento vae cahir sobre o corpo ma- do resenthnento contra os Frades, ou da sur-
lhado do animal, envenenando o espaço com preza de haver encontrado no seu caminho
o cheiro acre de carne queimada de cada- alguma coisa maior do que o direito de ar-
veies. rançar vidas. Puxando o seu hombro, — o seu

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GUERRA

E' assim, geralmente, a inspiração moder- duro hombro, apertando o seu braço,— o seu
na. A\al os olhos cançados e tristes deixam forte braço, a mulher do réo, de joelhos, sus-
essa paizagem de fogo, param assombrados tentando o filhinho que esperneia e chora,
deante de uma paizagem de gelo: — El Dere- pede lhe, roga, supplica... — O homem está
cho de Asylo, de F. Ainérigo. salvo: — o carrasco não se conforma de ter
Longe, n'um plano afastado, uma arvore perdido a sua gratificação. Ficará para outra
sem folhas, uma arvore de inverno servia de vez; como ha de ser forte a corda para a
forca ; grupos curiosos iam assistir á execução próxima victima...
de um desgraçado. Mas por um capricho do
Destino, o laço se parte, o condemnado esca-
pa, corre pelo campo, e vae cahir, meio dei-
tado, meio ajoelhado á porta de um conven- A batalha de Wad-Rass, o celebre quadro
to de frades em cuja parede ha uma cruz, a de Fortuny, está em Barcelona; mas o Mu-
palavra Asi/vm, e mais em baixo Lex, quasi seo de Arte Moderno conserva o seu esboço,
coberta de neve. Essa tela é feita de estupen- além de uma outra tela que representa a
dos contrastes. —Vede o condemnado, com os Rainha D. Maria Christina, mãe de Izabel II,
olhos cheios de pavor, os pulsos amarrados e encorajando as tropas a resistir aos Carlistas.
vermelhos de sangue, e todo o seu corpo, co- O colorido, a luz, o movimento que ha nos
berto apenas por uma camisa verde, estreme- quadros de Fortuny são coisas de milagre,
cendo sob a carinhosa protecçao dos Frades indescriptiveis, in comparáveis. Olhae para este
que o defendem do carrasco que se approxi- troço de guerreiros combatendo no centro,
ma. E agora examinae a physionomia do ver- no primeiro plano; ha um movimento célere
dugo, — espécie de homem' e de demônio, de cavallos que saltam, que upam, que caem,
monstro que parece nunca ter sido creança, de armas que se levantam e se abaixam em
nem gente, nem bicho, ao mesmo tempo si- golpes terríveis, de bandeiras em frangalhos
nistro, repellente, immoral. Vem offegante da que pannejam e luetatn tambem. No segundo
carreira, seguido de homens cTarmas-—defen- plano, á esquerda, apparece a I.nfarjteria, ali-
KOSMOS
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- -¦¦¦"'• ^Wi_W_W z_*y~~~l—_?C-~--_y.>E-ff^__H|^(

A BATALHA DE WAD-RASS

nhada e coberta de fumo, avançando n'um Em fim ! Atravez de tanta tórmenta appa-
ímpeto marcial. Homens e cavallos atravessam rece um quadro de paz e doçura-Una vi-
o rio; e ao longe, em todo o campo, no cen- dona más, de J. M. dei Rincón.
tro, nos flancos, nas extremidades, avançam
E' de um suave encanto esse^kJ^ím£r~ í Cn/T"
pelotões encobertos pela esbranquiçada fuma- sombra de uma grande arvore. Elle.. o,vTeno-
ça de incessante fusilaria.
rio, calmo, tranquillo, com a mão
galharda-
mente á cinta onde se aninha uma
pis-
tola, todo elle arrogante, desde as altas
botas de montar até o chapéo de
plu-
ma,-galanteador e orgulhoso; ella, sim-
pies, humilde, com os pés nus, os braços

rwm F ] P
_l 1 I ^1 i^l uâ
II sl mis, o pesccço ml, as brancas mãos sus-
tentando um grande cesto cheio de uvas.
A floresta se estende verde e fresca, mar-
___H*J__________*à I L I - li ^ ___L^ __>•__ _Ft_. _ri
çhetada de sol como um crivo dc
___>__¦_¦__________ Elle, forte, dominador, murmura-lhe oiro.
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do-
ces seducções atravez do bigode atre-
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vido; ella, confiante e innocente, ouve
áttenta e séria,-porque habituada á sin-
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geleza do campo, pensa que singelas
e puras são também as palavras dos
_P ___r ^~^__*p_3_^&___ 1 B. homens. Para elle. ella é uma victoria
_____ _F ^_M >-\ _____à^_*-*^T--IT X
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mais, logo esquecida ; para ella, elle é
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____________________________ ____________________ .-^
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um momento suave que ha de encher


toda a sua existência de amargura e de
_________________T^^^_L___Pn____v*^__t Si f recordações.-Talvez nada d'isto. Para
^F^^^^ ^2VV^ki^M ___^_l Itf ¦ B
que fazer commentarios em torno de
¦______________________________. \____ttttJ • * Jl _B® um idyllio casto, á sombra de uma ar-
___________________________________________ __, ií^- ¦ V
vore ?
— Bemdita sejas tu, formosa selvicola,
¦ _¦_¦ _iín**««.~^._íí*c?-'_- • que, atravez de tantos esphacelárnenfos,
I A^mmVài'- *&QÊAtJi
________ -_ê __Pt* ¦'* i^fT*il?'/'^_ de tanto sangue, de tanto horror, appa-
receste de surprèza e fizeste esquecer
todos os tormentos, — cem a graça da tua
juventude, com o encanto da tua hino-
cencia, —com a suave harmonia, com a
incomparavel belleza da simplicidade...

Madrid, 7 de Abril de 1006.

Thomaz Lopes.
UNA VICTORIA MÂS
KÓSMOS
^: si m *D

sentir; procura dar a sensação das cousas, seja


por construcções novas, seja por symbolos
magÍ5ta5 Nephelíbata5 evocando a intensidade pela comparativa. Em
summa, tudo para ella resume-se em: synthese
da matéria e analyse do coração.»
Isto, que não é transcripto para desafiar
argumentos, escrevia o fundador da revista
Decadente, de Pariz, no declínio do século XIX,

X
NATOLE Báju, no seu opusculp jiu- e nessa mesma cidade, por esse mesmo tempo,
bliçado em 1887 sob o titulo LÉcóle com a pequena differença de uns annos a mais,
Decadente, expôz os princípios da sua em 1SSQ, o poeta Geòrgés Vauor, também num
estliética reformàdora nas seguintes pa- opusculo intitulado LArt Symboliste, expunha:
lavras: « Inscrever um dogma num symbolo, esco-
«A literatura decadente synthetisa o es- 1 hei" no vocabulário os termos raros e precio-
pirito duma época, isto é, o da elite intel- sos, construir um estylo superior e composito,
lectual da sociedade moderna. Quando se trata traduzir as sensações pela musica das syllabas,
vincular estreitamente o rytluno á idéa e re-
pellir toda a descripção para procurar toda a
muyy^' ¦
_¦-__¦ musica, taes são os principaes preceitos do
seu catechismo.
Decadentes e symbolistas assim difiniaiil
lfiS>^Ixfr-M ^L^r .m^Lm^r ^m\\ \m^^^ '" ^m\mmm^ ^H as suas esthéticas. particularmente restringidas
ao verso. Fim pouco tempo, porem, e como a
prosa viesse se adaptando aos modos das
novas escolas, esses rigores adoçaram-se, e em
muito pouco tempo, as duas escolas innova-
dpràs, que se combatiam para a conquista da
supremacia, fundiram-se quasi insensivelmente
V "t" ^^T^^. ¦¦ 'Vf^aããaãMâ^à^M
mmmmm^ \ ^H-M^H^^w?**!

_pr—-—¦——¦r_g JKU M*t-"

de Arte não se faz entrar em conta a multidão»


porque ella não pensa, é apenas numérica*
O alto publico intellectual, o único que deve _Pj?4j*' .'- .7iH MM ÍP^^@
ser estimado e cujos suffragios constituem con-
sagrações, esse, está farto de todas as emo- amÊS---mmÊs^m^r -- --^m^-^^m.' ''-^^^^f
ções fictícias, dessas grosseiras excitações, dessas mtÊSr JmmMKm^mmÊmmw^lQr^' =JB^~y~
convenções banaes dum inundo imaginário
que as ultimas literaturas puzeram em obras
para a estimulação dos seus sentidos.
«Elle está cansado da farragein romântica
e naturalista, que fascina algumas vezes a ima-
ginação, mas é impotente para corrigir o en-
gorgitamento do coração. l_^_^_fl H__l_A_HH _^_P^fl_|
«O que elle deseja é a vida; está sequioso
desta vida intensa tal como o progresso a fez,
sente a necessidade de se saciar delia, quer
condensar uma porção de existências humanas
numa só, na sua própria, e lhes extrahir o
sueco, vibrar com todos os seus extremeci-
mentos. Por uma contradição bizarra, mas, por
isso mesmo, explicando o effeito do desespero,
a necessidade de viver é a coracteristica desta
época que parece ter adquirido a sombria e
aterrorisante certeza do Nada. tão de accordo estavam em seus princípios!
«A literatura decadente propõe-se a refle- O symbólismo abrangeu todos os grupos de
ctir a imagem desse mundo spleenetico. Ella poetas e escriptores novos ampliando precei-
não aproveita senão o que interessa á vida. tos, tornando-se, a ipe.m dizer, a escola dos
Nada de descripções, porque suppõe tudo co- apaixonados da écritare artistique que preoc-
nhecido. Apenas uma synthese rápida dando cupou os Ooncõurts ou, como disse (iustave
a impressão do objecto. Em vez de pintar faz Kaliu, Wécritiire expressive et de forme noa vede.
KÓSMOS
<^:
y?

Comprehende-se que as artes do desenho, foi dos primeiros a praticar essa analyse. E' in-
especialmente a pintura, não poderiam per- tercssante o que a respeito nos conta o sr.
manecer alheias a essa influencia. Desde que Adolphe Retté num livro que ainda se não
o symbolismo, sob suas varias formas e ma-
neiras, se manifestou com maior vigor, o de- póde dizer velho:
senho procurou objectivar pela imagem as suas «Por esse tempo,-informa o sr. Retté-
creações. Mas, a tentativa foi difficil. Ao prin- M. Max Nordau percorria Pariz em busca de
cipio, a esthetica symbolista, por tender a documentos para o seu estranho volumaço das
abstração, não offerecia vantagens á forma fi- Dcgcncrcscencias. Nordau seguia as pegadas do
seu mestre Lombroso, descobrindo em tudo
guiada, ao relevo material das representações symptomas de deüquescencia social e, como
desenhadas. Um artista de gênio apprehendera-
lhe a intenção, esse artista foi o belga Felicien espirituosamente disse M. Clémenceau «distri-
Ropps. Não obstante, Ropps era lugubre e buindo diplomas de degenerado a todos os
lubrico. a sua arte trazia a perturbação allu- que não pensavam como elle..,
cinadora dum riso glacial de caveira na ar- «Afim de observar de perto os symbo-
dente bocca duma mulher lindíssima. Era uma listas, Nordau fez-se freqüentador assíduo do
arte de ironia e lascívia, donde, por vezes, Café Francisco /, no boulevard Saint-Michel,
irrompiam risadas doudas de coruja sortilcga.' onde nos reuníamos algumas vezes para con-
Acompanhal-a, imital-a, seria perigoso. Ropps versar sobre arte e literatura.
põssuia o saber do desenho, manejava a ly- «Elle tomava logar o mais próximo
possivel
tographia com perícia e era uma natureza'á da nossa mesa, e ingerindo copos de absintho
parte, inimitável na sua complexidade. notava o que dizíamos. Ao cabo de certo
Então, os iniagistas propenderam para os tempo reparamos nesse auditor hisurto que,
typos, entraram a compor uma determinada aguçando o ouvido, nos lançava olhares surra-
figura, que tivesse a forma idealisada duma teiros... Então, um de nós tratou de tomar
mulher nem romântica nem realista, forma li- informações a respeito delle, e veio a saber
geira, quasi vaga, de lyrio heráldico, de an- que o sr. Nordau se preparava para nos fixar,
gelica decorativa. Vieram as simplificações sob a rubrica —Nevropathia-uo capitulo de
tenazes, os rebuscamentos exhaustivos da ori- um dos seus livros em preparo.
ginalidade. E o esforço esteve longamente pa- « Desde esse momento decidimo-nos for-
rado nesse objectivo. Por pouco não cahiu necer-lhe os mais terríveis documentos sobre
num esgotamento desastroso. Não que carreguemos, a nossa individualidade. Um dizia-se adepto
porem, tanto a culpa aos desenhistas/O erro' dos costumes contra a natureza e celebrava as
nasceu da confusão dos bellezas do amor unisexual; outro apresenta-
princípios restrictos.
A necessidade dum dogma num svmbolo- va-se como sectário dos paraizos artificiaes e
era uma expressão obscura, estonteou os mais absorvia, ostensivamente, bolinhas de miolo de
atilados dos escriptores e com mais razão em- pão que fazia passar por pilulas de ópio ou
baraçavaos desenhistas. Surgiram os exaggeros de haschich... Emfim, nós todos pronunciava-
literários, e de tal sorte se"con- mos os mais audaciosos discursos sobre reli-
petulantes,
fundiam com o dèsváriò. Houve que suspeita de gião, sociologia e moral. Nordau exultava, re-
que esses moços tinham endoudecido. O pu- gistrava o que ouvia, com jubilosa actividade.
blico afastou-se desconfiado, aturdido com essa E assim foi composta a parte da Degeneres-
creação torturada e misteriosa;
"foi a Critica entesou cencia que se occupa dos symbolistas.»
as oiças e riu-se, e desse riso que stirdiu
o sarcasmo do Ncphclibatismo. A informação do sr. Retté também póde
ser uma opportuua pilhéria, que isso está bem
Que era isto? no excellente humor francez; mas, innegavel-
Ninguém o sabia nem mesmo mente, houve da parte do sr. Nordau*" certa
tentar a curiosidade com para con-
pulsava-se a encyclo- precipitação nas suas conclusões.
pedia Larousse, o diccionario d'Academia. Fx- No desenho e na pintura, em grande parte,
qmsito, estranho, inédito, este termo valia por a singularidade de taes composições proveio
uma troça, sitiava e demolia. Era um cartuxo da desregrada interpretação da obra extraor-
dalvaiade. Verdadeiramente não offendia, dinaria de Burne-Jones, desse admirável artista
que, por sua composição grega, queria dizer por
de quem se disse ser de imaglnatiàn ali com-
habitante das nuvens e na sua applicação-
pact, e não menos da originalidade violen-
pensamento inaccessivel ao commum dos ho- tadora de Eranz Stuck. Por outra parte, sem
mens, transcendentalismo. Mas, empregado duvida na mesma proporção, o que influio
o conhecimento do seu valor, é tão ridículo sem
como uma carapuça de para essa extravagância foi a preoccupação do
jornal velho. reclame, o desejo de se fazer conhecido ainda
Assim caracterisados por este desprezo, não que a custa do-escândalo.
raltou quem os julgasse degenerescentes.
e logo Para ser pheuomeuo da degenerescencia,
sob tal-aspecto os estudasse. O sr. Max Nordau
como orientado pelo cxclusivismo scientifico
KOSMOS
^=; ü>^if ^>

de Lombroso admittiu Nordau com relação qual dum symbolismo desesperador, capaz de
aos literatos, (que estavam nas mesmissimas ensandecer o próprio San Peladan se o qui-
condições) seria preciso que uma serie de zesse destrincar com o requintado saber da
actos equivalentes se correspondesse na vida sua exegese.
desses artistas, com a qual poder-se-ia deter- Mas, a tenra idade do snr. Luciano e a sua
minar a identificação mórbida. Mas, assim não incultura artística, como a moc.idade do snr.
era. Muitos desses compositores de mexordias Jean Jacques, passada no alegre meio da bo-
symbolicas não tinham a responsabilidade dos hérnia de München, contrariam opiniões teme-
annos, á outros faltavam estudos sérios em rarias que se levantem sobre a sanidade men-
cursos preparatórios do desenho. Moços e tal de ambos. A persistência no defeito é que
canhèstros, isso, sim, eram elles. Basta-nos at- denuncia o desequilíbrio. Hoje, esses dois es-
tender ás duas estampas que illustram esta panta-gente, perderam-se no commum fastiento
noticia. Na lo sr. Luciano Affonso Daudet, da vida.
que tem o pomposo e perturbaute titulo — Pondo de parte o esforço das tentativas,
le jour de Ia grande Colere — vèr-se-á uma esforço que triumphou mais tarde com a fixa-
mistura apoçolyotica de fantasmas, de tumbas
destampadas, de astros desgravitados e... de ção e clareza da nova esthética, essa arte foi
simplesmente uma inoffensiva mystificação á
coisas que ninguém saberá dizer o que sejam,
tal o enorme disco perfurado que parece um gravidade cabeçuda do farto burguez e aos
sólidos princípios esfarripados da Critica de
cartão de tiro ao alvo. E' visivelmente uma
combinação de symbolos, mas, a qual a es- palanque. O que ella fez fizeram o rorriántis-
mo, a escola naturalista e esse muito comba-
querdicé do desenhista não soube ou não tido grupo dos impressionistas.
ponde dar uma unidade compositiva e muito Chamemol-a nephelibata, mas com um
menos precisar-lhe as formas.
suave sorriso que não humilhe nem hostilise.
O snr. Jean Jacques des Valèurs apresenta-
se ainda mais complicado, mais obscuro na Maio de 1906.
sua composição que, notada em três posições
differentes, mostra três assumptos diversos, cada Gonzaga Duque.
-

KÓSMOS
J) (//A
^
í ^
S\
Sobe o clamor das cousas, a epopéa
Paginas do Evangelho Dos psalmos immortaes, lausperenne
Do mysiicismo errante da alma hebréa...

Christo e a adultera Ora, o Rabbi divino, aquella tarde,


Num dos pateos do Templo, profligára
0 contuma?, o incrédulo e o covarde
li na lei nos mandou Movsés
Que ao erro se escravizam, e fallára
que estas taes sejam apedrejadas.
De sua grande missão, da perspectiva
Tu, pois, que dizes ? De uma vida melhor, e emfim dissera:
Isto diziam elles, tentando-O, "Quem crê
para terem dt- que o aecusar. Mas
em mim, torrentes de água viva
Icmis, inelinando-se. escrevia com Lhe manarão do ventre". A atmosphera
o dedo na areia.
Mais clara parecia c o ar mais brando
K como perseverassem em fazer-
lhe a peryunta. eryueu-se
Jesus e
Que nunca, nunca, nos passados dias,
dis>e-lhes . E a turba dispersara, murmurando
(S. Joâo, cap. VIIJ) Confusa: —Na verdade, este é o Messias...

Ao sol da lardc c ao refulgir da espada Então, de seus discípulos seguido,


Com que Roma os Vencidos Jesus recolhe-se á mansão syivestrc
guarda á vista,
Jerusalém resplendc, —a amargurada Das Oliveiras. Algo tendo ouvido
Metrópole da fé monotheista. De um discípulo acerca do conceito
Do dia é a hora undecima. Amortece De parábola obscura, logo o Mestre,
0 tumulto das ruas c das Num argumento nítido e perfeito
praças;
Vo?es perdidas, mais c mais escassas, Discorre ante os amados assislenles
Flebeis sussurram. 0 silencio cresce, E tudo explica e torna incontroverso,
Enche de pa? Jerusalém facunda, As parábolas como os transcendentes
E a tarde cáe, doirada e luminosa, Mysterios do universo!...
Sobre a austera paysagcm que circumda E ali, de pé, no monte agreste, dieta
A cidade. Uma nevoa côr dc rosa 0 Evangelho que, em hora n:\o distante,
Cobre o Valle do Hebron. Harpas doridas Vae redimir a humanidade afflicla.
Piangem, sob os salgueiros, num lamento, Formando um nimbo esplendido e radiante,
Invisíveis e vans, como tangidas Fuigem-lhe, no conspecto illuminado,
Pelas mãos meiancholicas do vento... As tênues daridades derradeiras
A noite lentamente se avisinha Do horizonte do oceano, todo orlado
E cru?am-se nos ares, em desordem, De phantasmas de cedros e palmeiras... *
A mansa pomba c a aligera andorinha.
Do sol os claros raios ainda mordem, Na seguinle manhan, deixando o monte,
N'um anceio de adeus c de fadiga, Desce Jesus ao Templo, em companhia
0 muro que a cidade orla e demarca, De seus discípulos, e bem defronte
A cúpula do Templo, a torre antiga Do pórtico uma predica annunciá,
De David e o palácio âo Telrarcha. Em breve falia e a multidão surpresa
E emquanto a sombra desce, ao céo, soiemne, Ouve aquella palavra temerária
II
KOSMOS
<k; j>

P Para a mulher, assenta-se a seu lado


E ungida de doçura e singeleza,
Que proclama a verdade millenaria E, desattento a phariseus e escribas
Dos direitos do homem, —essa obscura Que o questionam com furor lettrado,
Visão eterna da consciência humana, Entra a escrever na areia ...
Que a tradição judaica desfigura
Mas, resurge, sublime,
Como caudal que por fragosas ribas
A' Iu*? meridiana,
Se imprimiu e com Ímpeto estrondeia,
Na limpide? com que Jesus a exprime)
Ruge na turba immensa vo?eria.
E, clara, a vo? prosegue, derivada
LeVanta-se porem, doce e tranquillo
Do amanlissimo peito do propheta,
0 suavíssimo filho de Maria
Divina fonte dessa lu? divina
E contrapõe-se, erecto e silencioso
Que, em jorro, pelas almas se projecla, Aos doulores que tentam confundil-o.
Lançando eterno brilho de alvorada
Sobre a graça celeste da doutrina!
E Vae a vo?, que enleva e persuade Affrontando seu meigo olhar divino,
Tão castas esperanças derramando, Gamaliel, com garbo apparatoso,
Tanto infundindo o amor, tanto a bondade Vocifera iracundo: —"A lei, Rabbino,
Que mais parece o próprio céo faltando... E' explicita e severa,
Vem de Novsés e ordena
De súbito, o auditório se conturba Que seja lapidada a que adultera)
Oppões-te acaso, a que se cumpra a pena?"
A' apparição de uma mulher que irrompe
Pelo alrio, seguida de uma turba
Que a apedreja, colérica. Interrompe A' sacrilega h^polhese, um protesto
Jesus a predica e contempla aquella No seio estruge do insensato povo.
Figura dolorosa e flagellada Jesus porem, domina-o com o gesto
Que corre qual levipede ga?ella E, no silencio que se fa? de novo,
E cáe-the aos pés, de bruços, A mão esquerda imposta sobre a fronte
Semi-núa, convulsa, desvairada, D'aquelta que ás suas plantas se confrange,
Implorando um amparo, entre soluços... E a outra espalmada acima do horisonte
Ergue Jesus o meigo olhar, e estaca Por sobre a multidão, que toda abrange,
Ante a elle a turba dos perseguidores. Exclama, em alta vo?;
Fa?-se um silencio, em que somente a fraca Num sacrosanto brado,
Vo? da triste mulher, baixinho, geme... Que abala toda a pharisaica exhedra:
"Aquelle,
de entre vós,
Aquelle que mitiga humanas dores Que se julgar isento do peccado
E prolcge os humildes e opprimidos, Lance a primeira pedra!"
— Sempre de iníquo sentimento extreme,—
Baixa os celestes olhos doloridos Xavif.r da Silveira Júnior
ê
KÓSMOS
<§=

Essa approxunação
ao povo brazileiro o seu que muito recommenda
A Nova Politica Internacional Brazileira amara y, sem nenhuma duvida,
actual chanceller do
de: effeitos positivos com a feição distineta
tornar-se-ha
e tem nnpresso o nosso eminente que
embaixa-
E Fà átlIMíFSn&MI^ ° ¦ ÍPWfo Nabuco. O Brazil só
Im' a colher
tem n vantagens d'esse intimo eiiten-
d.mento entre os dois
povos. E' ainda cedo
terceira reunião do paia se as ver de perto mas não o é
as conjuturar com as maiores para se
Congresso Pau-Americano, a politica in-
APPROXIMANDO-SEa probalidades de
ternacional do continente se agitou... A desi- acerto.
gnação da metrópole brazileira para sede das Sobre todos os pontos nós devemos
culti-
sessões, e a noticia de que o chefe do depar- esí!,erü1a umidade de relações com
tamento do exterior da grande republica do S^ÍSS
os tstados Unidos.
Norte faria acto de presença; como Quem observar as condições de nossa
da representação de seu paiz, suscitaram presidente litica internacional, e a nossa po-
entre posição no con-
as republicas da America Meridional, um mal vivio universal, não
pode deixar de applaudir
contido sentimento de despeito, sinceramente todos os
provocando passos que dermos para
protestos de uma d'ellas, justamente aquella que andar de accordo com os Estados
tem sido permanente pomo de discórdia entre solução e defeza dos nossos Unidos na
os dois grandes continentes directores da grandes interesses.
po- A expansão dos povos
htica universal, a escolha do Rio de
Janeiro hoje tuna ameaça para os preponderantes é
para o ponto de reunião. povos índèfezos
que so podem ficar livres da obsorpção'
Nenhuma razão existe para reparos de se apoiando na força material,
qual- maiores sacrifícios, ou se approximando que custa os
quer natureza, nem os publicamente expostos de
como os de Venezuela, nem os encobertos de nina garantia que represente nobremente
outras nações, que sem quererem se expor sagrados princípios da autonomia das a dos
á
posições falsas e antipathicas, não puderam como são os Estados Unidos com a nações
sua es-
entretanto, conter o seu máo humor, plendida doutrina de Monróe. acceita no sen-
essa pretendida victoria da diplomacia por mais tido da interpretação liberal do
bra- presidente
zileira. Roosevelt, em face da America Latina.
Na verdade, não houve A ninguém escapa que os paizes sul
tao assignalado triumpho, propriamente um americanos a politica da pazpara
pelo qual nós de- armada é a" rui-
nos orgulhar e ellas tanto se con- na, o atrazo, o descalabro, e
yessemos
ira ri a rem. so teem a lucrar com a que todos elles
perfeita en tente cordi-
Quer um ou outro facto são perfeitamente ale entre si e com os Estados Unidos.
naturaes e amplamente Esse passo já foi inaugurado
justificáveis. Elles tra-
duzem a affirmação de que, incontestavelmente nao obstante a forte corrente pelo Brasil
a preennnencia na America do Sul essa política de intimidade com que se oppõe a
o governo e
ao Brasil, por seu progresso, cultura, pertence povo norte-americano, preferindo o isolamento
popula-
Çao, commercio, riqueza e excepcional posição que tem sido a nota característica de nossa
continental. - política exterior.
A' disignação do Rio de Os outros paizes sul americanos não
uma preterição sobre Janeiro não foi ver como legitimo coroliario da nossa querem
direitos de inicia-
nenhuma outra capital, pretendidos
e a presença do Mi- çao no concerto mundial essa communidade
•Ji*ti-o Root longe de ser motivo de vistas, porque receiam
de suspeição, que dahi possa
ueve ser de alegria, provir facilidades para a politica inaugurada
empenho do norte em por quanto representa o
considerar os paizes do pelos Estados Unidos após a guerra de Cuba
e que tambem nos deixemos conduzir
caminho, mas não duvidam em apresentar por esse
Que ella ainda exprima uma demonstração
ae particular sympathia do theses cujas essências são uma verdadeira
e povo tu-
americano pelo povo brasileiro,governo
é perfeitamente
tella norte-americana, como indiscutivelmente
explicável pela orientação e a these Drago, com o seu intuito de impedir
que tem tomado a a cobrança a mão armada das dividas
nova política internacional, cou-
r.mdo a approxiinação com osjustamente procu-
Estados Unidos.
traludas pelos estados. Se receios existem
pela
acceitação da doutrina Momõe, e a sua
A elevação de nossa representação inter-
nlathica de Washington á embaixada, diplo- píetação Roosevelt, maiores devemos sentir
aua Inerarchia da carreira, e a escolha a mais com a approvação da these Draoo
do nosso subordina aos Estados Unidos, que nos
mais notável diplomata
para esse posto pro- para cuja força
vam as tendências da nossa prestigio e auctoridade moral nós recorremos'
politica. nos casos apertados, e
que nos colloca eni
KÓSMOS
<è= -3

posição antipáthioa com relação a politica in- que nos asseguram em pouco tempo uma
teínacional da Europa, principalmente vista preponderante posição no convivio dos gran-
pelo prisma de grandes interesses econômicos des paizes.
e commerciaes, que são, aliás, os conductores Em opposição a dual alliança sul ameri-
dos movimentos dos povos. cana, se formará a alliança entre as republicas
Tal perigo uão existe. O imperialismo ame- Argentina, Bolívia e Peru, trazendo a primeira
ri ca no foi uma conseqüência forçada da poli- os seus seculares aluados Uruguay e Paraguay,
tica asiática. que em relação a politica brasileira, estão sem-
Na America elíe não pode imperar não só pre em campo opposto, adespeito dos grandes
pelas conveniências commerciaes, pelo estado serviços que a ambos temos prestado.
e condição dos paizes, como pela existência Nenhum brasileiro felizmente se illude.a esse
da doutrina de Monroe, que, longe de ser um respeito, e por essa razão, a politica exterior do
perigo, é uma solida garantia. império assumindo em relação a esses paizes
Se existe perigo contra o qual devemos uma attitude de severa fiscahsação foi a mais
nos premunir, elle está no imperialismo alie- correcta. Se no calculo das forças maleriaes a
mão, no pan-germanismo. A Allemanha é o balança inclinar-se fortemente para o lado das
mais ousado campeão do imperialismo mo- cinco republicas, o que não é muito provável,
derno, e não òcculta o seu ardente desejo de a entrada do Equador, com o qual tanto o
fundar o seu domínio colonial. Que muitas de Chile como o Brasil tem as mais cordiaes re-
suas vistas se tem voltado para nós, apezar lações, e ao qual prendem laços de commum
dos desmentidos constante de seu governo, interesse, para formar uma tríplice alliança em
ninguém pode negar, e, se actos positivos não substituição da dupla, terá restabelecido a equi-
teem sido praticados mais ostensivamente é valencia numérica.
porque a situação da politica internacional eu- Se o Brasil só devesse considerar a sua
ropeia tem sido de difficuldades e lhe impede posição no continente de que é a porção mais
distracções ou em prezas arriscadas, como lhe evidente, a directriz da politica está natural-
tem saindo a iniciativa da colonização africana, mente indicada n'essas linhas geraes, que
com a reluctancia dos herreros em receber acima rapidamente esboçamos, e que são in-
tutela não desejada, menos pedida. questionavelmente as mais fáceis de serem se-
A politica exterior do Brasil tem dois as- guidas como as de resultado mais benéfico.
pectos a considerar. Ou gyra em torno dos Excluímos d'esses cálculos as duas repu-
interesses sul americanos, ou considera a po- blicas do norte, a Columbia e a Venezuela,
si ção do paiz em face da grande politica porque os seus interesses raramente collidem
universal. com os dos outros paizes sul-americanos, mesmo
Se consideramos o primeiro caso, todo o com os do Brazil que só em futuro remoto
nosso empenho deve ser o de manter o per- poderão ser devidamente contemplados.
feito equilíbrio entre os povos que comnosco Estabelecendo as bazes como acreditamos
formam o continente, e esse empenho será mais viáveis e mais conforme os sentimentos
conseguido com a sagração de uma alliança e interesses de cada nacionalidade não nos
que já existe cimentada largamente entre os po- move outro desejo que o de manter a harmo-
vos chileno e brasileiro. Estabelecida sobre bazes nia na familia sul-americana, e que essa poli-
defensivas, a alliança chileno brasileiro, conse- tica só se consegue pelo império da força ao
guirá o equilíbrio entre os demais povos, con- serviço da paz.
tendo-os em limites naturaes das suas
ambições, e determinará, pela sua força mate-
justas E' axioma de guerra que nenhuma nação
rial e moral, a politica de paz, que tanto a se arrisca a um conflicto armado quando sente
America do Sul necessita para vencer as que o resultado é duvidoso, e o resultado é
meiras difficuldades do seu desenvolvimento. pri- duvidoso todas as vezes que os paizes se re-
unem em grupos que se eqüivalem.
E' de suppôr que a attitude assumida
Brasil e Chile, acarretará a reunião de outros pelo Como nos tempos presentes da republica,
está abandonada a preocupação de interferen-
paizes. formando-se novas allianças, por este cia nos negócios internos do Prata, a aproxi-
modo facilitando o equilíbrio, harmonizando
os interesses pelo receio do resultado de uma inação do Brazil com as três republicas tribu-
conflagração. tarias d'aquelle grande rio se tem fortalecido
e ainda mais pela habilissima condueta do
A equivalência das forças solucionará General Roca, ex-presidente argentino que
cificamente os mais graves problemas, e isso pa-
com as suas visitas pessoaes, e continuadas
deve ser a nossa maior ambição, demonstrações de significativa cortezia e ami-
porquanto não
nos animam pretensões de espécie alguma, zade, conseguio romper o fio ambiente que
possuindo como possuímos todos os elementos reinava nos prevenidos círculos da politica in-
«de ampla prosperidade e rápido ternacioual sul-americana.
progresso,
KÓSMOS
3
/y 4^\
Se ainda algum impecillio existe, todos são A força capaz de deter a/'arrogância dos " I
concordes eir, affirmar que não é elle creado fortes repousa no solido preparo de uma es-
pelo sentimento brazileiro, sempre generoso, quadra, na mais completa e perfeita organisa-
expansivo, mas pela falsa comprehensão que
ção do apparelho marítimo, e tanto uni como
em certas camadas argentinas, sociaes e poli- outro acarretam alem de tempo, esforço, e de-
ticas, existe a respeito da posição que o seu dicação do governo e do povo, 'Brazil
paiz deve assumir em face da America his- grandes des-
pezas que para os paizes como o devem
pano-Iatino, e sentimento esse que encontra ter um limite, nas exigências dos outros ser-
echo favorável na imprensa chauvinistas, que viços de caracter positivo, que facilitam e con-
não perde ensejo de animar e entreter esse correm para o progresso do paiz.
modo de pensar todo prejudicial a boa mar-
cha dos interesses còmmuns de ambos os Não quer isso, porem, dizer que esses ser-
viços pretiram a necessidade primordial do —
paizes. Não satisfeitas de alimentar uma cor-
rente perigosa de prevenções e animosidades, defeza efficiente, mas sim que essa não deve
ainda agitam nas sociedades oriental e para- cahir nos excessos que derivam da politica á
mão armada. O primeiro dever de uma nação
guaya as cordas que nos são aníipathicas, cre-
ando mna athmosphera de hostilidade, é estar preparada para sua defeza, e quando
que estiver bem segura d'ella. deve crear tudo mais
pode em um instante inesperado se transfor-
mar em deplorável conflicto de tristíssimas que é fonte de prosperidade, longe de ser mo-
conseqüências. tivo de cobiça, que já não que excita o assalto
Os nossos officiaes de marinha, que pela certeza de resistência, o que se dá todas
encargos de sua profissão, mais convivem por as vezes que os bens existem sem capacidade
n'aquelles centros, sabem perfeitamente com para se garantir.
que frieza glacial são recebidos e como se A alliança pode ser feita entre os paizes
pensa a respeito do Brazil e de sua politica, sul-americanos, n'este caso visando todas as
para sentir que, de um momento á outro, outras nações, inclusive os Estados Unidos, ou
a politica tomar rumo diverso d'aquelle pode pode ser com este, e consequentemente traduz
reclama a necessidade de todos, em beneficio que a acceita ção da doutrina de Monrõe, e estabe-
da paz e da ordem. lece essa doutrina como continental-americana.
Más, independente d'isso a politica exte- Somos francamente favorável a esse ultimo
nor p«')de se desinteresar do continente, alvitre, justamente aquelle que tem seguido
voltar suas vistas para a situação para
geral creada com grande elevação de vistas o iIlustre mi-
pela lucta commercial que governa a grande nistro do exterior, o Ex.">° Sr. Barão do Rio
politica do Universo. Branco, com clarividcncia e o seu superior pa-
A caracterisca dessa politica nos fins do triotismo, secundado brilhantemente pelo emir
século 19 c princípios do século 20 é a do nente embaixador de Washington, o Ex.'"o Sr.
mais puro imperialismo, cuja legitima traduc- Dr. Joaquim Nabuco.
ção so pode ser aquella Lord Salisbury Somos por essa directriz. porque ella asse-
deu num de seus discursosquede satisfação elei- gura a preemineucia brazileira no continente
toraj aos seus constituintes inglezes de as sul-americano, e nos colloca no posto que de-
nações fracas, cedo ou tarde, teriam que ser vemos ter no congresso das nações.
dominadas, governadas que
pelas nações fortes, e, Acreditamos também que a approximáção
definia nações fracas-aquellas
travam capazes de se que não se mos- intima entre os dois grandes Estados Unidos
riqueza de seus territórios, governar, aproveitar a do Norte e do Sul é a melhor garantia para
utilizar os recursos a paz sul-americana, melhor mesmo que a ai-
de que a natureza as dotou, e
cem no convívio universal a menor que não exer- liariça com os nossos fieis e dedicados amigos
de influencia pela omissão de uma condigna parcella do Chile, porque essa não deixaria de levantar
representação armada. uma politica de opposição, chefiada justamente
Este foi o pensamento do chefe conserva- peta Republica Argentina, com o auxilio do
Peru e Bolivia, porquanto, posto que somente
dor mglez, e por elle teem as defensiva a alliança chileuo-brazileira, seria uma
grandes nações
procurado moldar o seu proceder, cada uma espada levantada sobre as demais nacionali-
se attnbumdo a faculdade de das con- dades, se ellas se conservassem pacatamente
eliçoes de uma nacionalidade julgar em isolamento.
seu interesse. pelo prisma do
Para que, porem, o Brazil possa continuar
Na presença de uma tendência tão accen- no caminho que lhe está traçado pela politica
tuadamente aggressiva, nós temos a disjunc-
Rio-Branco-Nabuco, é preciso que cuide seria-
uva de-ou nos armamos no mar com força mente do seu poder naval, porque só assim
capaz de conter o appetite dos
ou nos adiarmos, grandes povos — cumprirá nobremente os deveres de sua nova
para conseguir força que im- posição para não ficar em plano inferior junto
peça as tentativas d'aquella condenável theoria. de seu aluado.
KOSMOS
^

A esquadra, ainda mais, será o elemento A marinha, que é a esquadra efficiente so-
indispensável á qualquer das outras combi- bre qualquer ponto de vista, é a força mais
nações. genuinamente nacional dos povos modernos,
Só a força material da esquadra servida por para ella concorrendo todos os recursos que
um pessoal competente e exercitado, dirigido os paizes podem, mesmo com sacrificio, dis-
por uma ádininistracção modernamente orga- por. A Inglaterra, acabam de provar os liberaes
nisada poderá dar ao Brasil a liberdade de de Bannèrmann e Grey, não comprehende di-
escolha para o Çeu governo exterior. versidade de politica em assumptos riaváes, e
Si, erradamente, elle quizer conservar a sua a conservação do notabilissimo almirante de
anterior obstinada abstenção, mantendo-se em esquadra Sir John Fisher, como chefe naval
do Alinirantado, demonstra que a politica naval
posição rigorosamente neutra, só conseguirá ingleza é uma e única, qualquer que seja o
dispondo de uma esquadra forte, mas não co-
llierá vantagens, creando antipathias. Os povos partido que tenha a maioria do povo e a con-
não podem viver em isolamento, e para me- fiança do Rei, porque a esquadra é para elles
lhor defeza dos seus interesses devem procurar o imprescindível elemento de vitalidade. E' a
amigos ou aluados. esquadra que os faz rejubilar com os alliados
Formando a dual alliança, a imposição da japonezes, que permitte as expansões da en-
tente cordiale franceza, que facilita a aproxi-
esquadra ainda é mais evidente. O tratado de inação americana, de que a visita da divisão
alliança Fatalmente estabelecerá a cláusula do
Battenberg foi o passo final, e concede elo-
poderio naval de cada um dos dois povos. queucia aos leaders da opinião de todos os
Ainda será a esquadra o factor predominante
nas combinações, o elemento decisivo dos matizes para declarar ao povo que
— Com uma esquadra composta dos sete
conflictos, o pára-choque das ambições injus-
ti ficadas. couraçados de esquadra, typo "King Eduardo
VII" e do "DreadnoughP\ este paiz terá em
E, finalmente, a politica de estreita appro- commissão uma força pela mera possessão da
xiinação com os Estados Unidos, em obedi-
encia a doutrina de Monrõe, como a compre- qual, como tem sido verdadeiramente dito, ba-
talhas diplomáticas e commerciaes podem ser
hende o presidente Roosevelt, figura de grande diariamente vencidas sem o movimento de um
destaque entre os chefes d'estado, requer uma unico soldado e sem o derramamento de uma
esquadra que seja capaz de impor obediência
simples gota de sangue.
aos pequenos povos que, irrequietos por na-
tu reza e instincto, são sempre elementos de O exemplo inglez é seguido por todos os
discussão, discórdia e confiicto com os paizes povos que não querem desmerecer da confi-
anca universal.
preponderantes da Europa.
A esquadra será o expoente de nossa ca- A esquadra é ainda para a Federação
pacidade de defeza. Quanto maior, melhor or- Brazileira o mais solido élo de sua cadeia, e
ganisada e dirigida, maior confiança imporá ao a força que o governo central pode mais con-
nosso alliado, ao mesmo tempo que nos asse- fiadamente chamar em seu auxilio, quando as
gurará liberdade de acção, e direito de fisca- demasias de uma autonomia mal comprehen-
lização sobre as possíveis aggressões do pro- dida e pessimamente praticada pelos estados
prio alliado. soberanos ferirem a constituição, que é a arca
\ politica internacional brazileira só pode sagrada, da Republica, e a melhor esperança
subsistir com a esquadra, essa é que lhe da pátria unida e grande.
confere poder para se fazer representar com O problema naval brazileiro por todos os
auetoridade no concerto universal, onde cada aspectos, é o grande problema do momento,
povo tem a ascendência que lhe concede a o mais urgente, o mais inadiável, o mais im-
força militar que possue, sempre medida pelo prescindivel, aquelle que secunda os sábios
numero e qualidade dos navios e capacidade vistos da nova politica internacial de Rio-Branco
do pessoal. e Nabuco.
A esquadra é que marca o timbre de voz
com que cada nacionalidade expõe as suas Armando Burlamaqui.
vistas, defende os projectos, manifesta os seus
deselòs. Maio-190ó.

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A EXCURSÃO 00 PBESIOENTE ELEITO


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Away ! S. Ex. foi por esses mares fora ^fl»3*' MpP ufc

por essas terras dentro, fazer conhecimento


directo com o paiz que tem de flfl flV flB flB fl\ol
governar.
Muito bem !
Oxalá que a Republica tire dessa viagem
o melhor partido. O Brazil precisa bem de
ser conhecido, ao menos pelos o o0-
veriiain. que
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Quem já começou a lucrar com a exem-
são a que se propoz o Dr. Affonso Penna
foi a navegação nacional.
O Lloyd Brasileiro, recentemente refor Tfll B ¦¦ i^B ^B^B BÉ^flTflll"¦*¦¦ ^ ¦¦¦¦¦¥ iü«HB Ib
mado, e administrado com Tfll flfl^^flB ' áíiB '^P^flV-•' ISrflfl Bb
galhardia, apre-
sentou a S. Ex. um transporte Yfllflfl^flflflrflfl flBÍNSb --Br* tt -m flH Br ¦ Iflf
ter surprehéndido. Toda a que o deve
gente, mesmo,
que visitou o Maranhão confessou-se admi-
rada pela belleza do navio, rapi-
damentecom os recursos daspreparado offi-
próprias
emas do Lloyd, trabalho inteiramente ^'4-/ I -'jBifllfl^HflHu^''

cional. ria- ^^flflBBI


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A BORDO -S. EX. ESTREANDO DIANTE DOS


PHOTOORAPHOS

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S. EX. E COMITIVA ÀPPROXIMANDO-SE DO «MARANHÃO


KOSMOS
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LDir» raiTiropiss^O) Penna

O Lloyd Brasileiro renasce em aprimora- O navio^.parece novo, e tem, de facto»


dos moldes, abandonando aquella rotina apenas, dezenove primaveras... É'todo de
estafada que lhe dera uma fama inglória de aço por fora, todo de madeira de lei por
calhambeques arrastados, pelos portos do dentro. Linha elegante, e divisões intelligen-
norte e do sul. E o processo de rehabilita- tissimas. Na tolda a céo aberto estão, de ré
ção éesse: limpar-os navios,dar-lhes asseio, para avante, com muito espaço entre si, o
Iiygiene, conforto, belleza; tornal-osdignos bar, a sala de musica, e o camarim de luxo,
de hospedar e locomover as famílias este contíguo ao camarote do Sr. com-
até aqui procuravam transporte commodo que
mandante Pacheco Junior.
somente nos transatlânticos estrangeiros.
O bar é um primor da marcenaria. Na
O Sr. Dr. Affonso Penna seguiu confor- sala de musica o marcineiro foi venci-
tavelmente hospedado a bordo do Mara- do pelo estofador. No camarim os dois
nhão. empenharam-se em fazer cada qual melhor;
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KÓSMOS
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VAPOR MARANHÃO»
KÓSMOS
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o Dr. Affonso Penna dispõe alu de um A melhor informação que podemos


esplendido dormitório, um banheiro e uma transiuittir aos nossos leitores, e que nos
boa sala de leitura. foi dada pelo Intendente do Lloyd, Sr.
No primeiro convez gosa-se a beileza de Edgar Ribeiro, é que pondo o Maranhão
um passadiço longitudal, sobre o corredor neste apuro, o Sr. Dr. Buarque, digno pre-
dos camarotes de primeira classe. E' rica- sidente do Lloyd Brazileiro, quiz apenas
mente decorado este trecho do navio onde mostrar o que está disposto a fazer com a
se prolongam innumeros bancos á disposi- frota de tão importante e futurosa empreza
ção dos passageiros. Tem-se ahi a impres- de navegação. O bello navio que transpor-

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GABINETE DE LEITURA DE S. EX.

são de estar a bordo de um grande trans- ta o presidente eleito da Republica é o typo


atlântico dos que mais capricham em offe- dos navios que vão fazer o trafego em
recer agrado aos seus hospedes. todas as linhas do norte e do sul doBrazil.
Nesse mesmo pavimento dos camarotes Assim, sim. Assim, não seremos esma-
está, a meia náo, o salão de
jantar. gados e envergonhados pela còncurrencia
O Lloyd pode ufanar-se de ter apresen- de empregos architectados no estrangeiro
tado tim mobiliário chie, e uma baixella de sobre os escombros do nosso credito e da
fino gosto. Da dispensa não falaremos; os nossa capacidade administrativa. Assim, o
teíegrammas já estão ahi chegando com a Lloyd prestará serviços reaes a esse littoral
notic' i de saborosos manjares. de 3.600 milhas marítimas, facilitando rela-
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KOSMOS

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SALÃO DE JANTAR

ções, tomando aprazível e não tormentó a ros de seda, avolumavam as interjeições


contingência de nina viagem, animando a
o accordes num hyrrino de applausos.
cjinmercio. acoroçoando a lavoura, favore-
cendo as industrias. S. Ex. acceitou uma taça de charripagnè
que lhe offereceu o Dr. Buarque, ou vio o
discurso de um orador mineiro, soffreu a
O Sr. Dr. Affonso Penna chegou a bor-
do do Maranhão, 11a tarde do perseguição dos photograplios, despediu-se
dia 16 de todos quantos ardentemente lhe deseja-
acompanhado pelos vultos vam boa viagem, e dispoz-se a ir
em evidencia no Rio de politicos mais para a
O Sr Mi- mesa gosar o banquete que lhe dedicara
mstro da Industria, o Dr.Janeiro.
Aarão Reis e o Dr. Lauro Muller.
o
L>r. Buarque percorreram com S. Ex. o
vio todo. O Dr. Buarque sentiu-se
ria- Eram 4 ' ., da tarde. A orchestra executou
lison- a polka-marcha, ísabelle, de Berger ; o Ma-
geado com as exclamações que encontra- ranhão recolheu as escadas, levantou ferro
vam eclio em toda a comitiva.
Evidente- virou de bordo, e singrou as águas sahin-
'"ente, o Lloyd transfigurava-se.
O próprio do de diante da Avenida Central
almirante Ministro da Marinha, eneaneeido para
to da fortaleza de Willegaignon, onde jun- deu
a ver navios,
gostou do Maranhão. fundo para de novo suspender ás 7 horas
E umas palmeirinhas da noite.
graciosas, em po-
tes de faiança, agitavam-se,
contentes, ao Away ! S. Exc foi por esses mares fora,
perpassar de tanta gente e de tantas vozes por essas terras dentro, fazer conhecimento
em attitudes e expressões louvamiiiheiras. directo com o paiz que tem de
Us tapetes ensurdecjam os governar.
espe lios, os bronzes passos ; mas os
"tectos Away ! E com S. Ex. data venta, seguiu
polidos, os tambem KOSMOS para gáudio e
esculpturados, a balaustrada, os repostei- proveito
de seus innumeros leitores.
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O VAPOR «CONSELHEIRO DANTAS ENGALANADO. COM AS AUTORIDADES BAHIANAS

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O FORTE DE S. MARCELLO - AS SALVAS DA


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RECEPÇÃO NO PALÁCIO DO GOVERNO-BAHIA


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EXCURSÃO A ESCOLA AGRONOAAICA — EMBARQUE NA PONTE DA EMPREZA DE VIAÇÃO BAHI \


KÓSMOS
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© <sãp°tàã© 4© Bonito gem de leve mecheu-se e elle piou, a princi-


pio num tri lar cadenciado, moroso, depois
soffrego, estriduio, offegante!... Além a fêmea
é que creára em torno do nome do respondeu.
Jucá de Godoy aquella tradicção de for- E Leopoldino, cabisbaixo, soturno cami-
SUE ça, de coragem, de resoluto? uliava silencioso, sentindo doidamente nalnia
Beirava dos trinta annos, moreno, bigodi- o grito de chamada ao amor das avesinhas...
nho negro, falho, eusombrava-lhe os lábios; a Súbito parou.
barba apontava a susto em fios tambem negros -Vosmecê me
- como os seus cabellos e como os seus pegou á trahição, disse
olhos. para o Jucá. Eu não esperava; mas agora nho
E no entanto o seu nome era citado com Jucá, si vosmecê me soltasse havéra de vê.
pavor nas senzalas entre os pretos e conta- Ver o
que ?
vam-se. delle, façanhas na pega de escravos Vê um hôme\
fugidos.-- -Está mampàrreando commigo, negro!
Era o capitão do matto mais temido das Nem meia dúzia de vocês me assustavam. Vou
cercanias de Capivary, Tietê, Piracicaba e soltar você.
Porto-feliz! E de facto o Jucá apertou o passo, des-
Um terror suggestivò apoderava-se dt) atou-lhe a embira e disse: Pensa, acaso,
negro retiuto, quando, na picada que
que ia dar te respeito ?
á furna em que se açoitara, via a figura iso- Livres os pulsos, Leopoldino, instinctiva-
lada do Jucá de üodov, á gritar-lhe:—Entre- mente, deu um salto para traz, como a jaguar-
gue-sé, negro! E o negro que aneiára por tirica a que um jacaré quizesse abocanhar. A
aquelles dias ao ar livre, respirando a matta, garrucha, elle a sentia ainda, entre o cinto de
furtando á noite para o sustento de dia, livre couro e as virilhas. Bastava-lhe um movimen-
do vergalho do feitor, do trabalho insano de to e elle, tão hábil no manejo dessa arma.
sol a sol, no eito, de enxada ua limpa do acabaria para «sempre aquella tradicção de fa-
café, vinha submisso, humilde, entregar os ma do capitão do matto.
pulsos á embira do caboclo! E como o odia- O caboclo, porém, vigiava os seus meno-
va! Havia dito, noites antes, quando res gestos. Os grandes olhos negros, firmes
ra fugir, que si o senhor lhe mandasse planeja- o no negro, expediam uma como que luz mag-
em seu encalço, este viria o que era um Jucá ho- netisadora que parecia subjugal-o; luz que o
mem:-Não se entregaria! Sabia o attrahia, que lhe não deixava um instante de
que |uca
tinha oração, mas não acreditava, e havia de ter tambem nelle os seus olhos cravados.
vel-o escabujando o chão, ao tiro certeiro da — Vamos, negro! Mexa-se e'mostre
garrucha, que comprara a propósito na ven- que é
um homem! Atire!... e rasgando a camisa de
dinha da estrada do Manduca da Ponte. algódãósiilhó deixou a descoberto o peito,
E não sei que se apoderara delle, do Leo- onde se via, balançando, envolvido em um
poldino, naquella occasiâo. A garrucha, elle a couro sujo, pendente do pescoço, o breve tão
sentia entre o cinto de couro fallado — a oração do Jucá de (iodoy!
que lhe pren-
dia as calças e as virilhas... a sua foice enca- Não se mexeu o Leopoldino. Os olhos,
bada. encostava-se altiva ao frondoso como os de um sopo a que uma cobra mag-
bá que sombreava por completo a furna, [eqniti-
que netiza, foram se amortecendo. A phisionomia
por dois dias e duas noites o abrigará. Tinha de ódio que lhe transparecia ua face ao dar
as mãos livres, que já não as tinha agora, e o salto para tra/, como se a liberdade de no-,
era tido entre os seus parceiros como cabra vo lhe acenasse, transmudou-se, coiitiahiiido-
de respeito e perigoso! Tambem contavam se para a dó terror, è dahi para a da luiniil-
historias em seu renome os pretos da fazen- dade, ao ver e sentir tanta coragem, e íoi
da respeitavam o Leopoldino.
quasi a chorar que lhe disse:
E elle, miseravelmente, covardemente, dera -Eu tava louco, nhô
os pulsos á embira do Jucá. Me perdoe,
Jucá e como um ca- que eu me entrego!
chorrinho deciganò, lá ia, picada á cima, cami-
nho do carreador que levava á casa da fazen- * * *
da. Não reagira. Não respondera uma Pouco atraz o iuhambti-guassú de novo
siquer á intimação do pegador de escravos... palavra
piou, a principio num trilar cadenciado, mo-
Um inhambú-guassú ia pelo trilho da roso, depois soffrego, estriduio. offegahte!
estrada, sem temor dos dois De novo a fêmea respondeu;
silenciosos-Leopoldino, adiante, que caminhavam
atraz o Jucá. E o Lepoldino cabisbaixo, soturno, cami-
\ oitava a cabecinha de vez em nhou silencioso, sentindo agora mais doida-
continuava; mais além, ao sentir mais quando e...
mente dentro dahna o grito de chamada ao
mo o passo dos dois, entrou proxi- amor das avesinhas...
pelo guanxumal.
ouvio-se um ruido de folhas seccas esta-
lavam ás pizadas dos seíis pésinhos, que (Contos caipiras).
a folha- José Pi/a.
'.!¦<•* ». . r fefe.7

KOSMOS
^:

iD>fiXPISfi\ paixão, uma mania, uma febre.


mos um povo que vive dansando.
Nós so-
Não ha
casa que não tenha um piano, e não ha piano
FKÜ> RBC5 ED!E 3?Ã\P_!f:ilíH«ü) que não esteja em uma casa de dansadores.
Assim que a noite cáe, todas as ruas resoam,

o Rio de Janeiro é «a cidade que dansa»...


A Dansa é, sempre foi, e sempre será,
um divertimento universal.
primeira Arte que os homens
ram e amaram. Já, nos tempos preliistoricos,
os nossos avós trogloditas, á porta de suas
Foi ella a
cultiva-
echoando as valsas alegres, as masurkas lán-
guorosas, as polkas saltitantes, que os pianos
gritam ou soluçam. Não ha almoço, jantar,
ou pic-nic, que não acabe aqui por uma sau-
teric. Onde quer que estejam reunidas estas
quatro entidades eternas: um rapaz, uma mo-
çoila, um pianista e um piano,— a Dansa appa-
cavernas rudes, depois das batalhas ferozes ou rece, pontual como o Tempo, imperiosa como
das caçadas fatigantes, dansavam com prazer, o Dever, inevitável como a Fatalidade. Estou
ao som de musicas ingênuas, de cuja toada, em dizer que oito nonos da população do
perdida ha mais de vinte mil annos, não po- Rio de Janeiro devem a sua existência á Dansa:
demos hoje fazer a menor idéia. Mais ainda: porque? porque é dansando que os rapazes e
antes do apparecimento do primeiro homem
na terra, já os animaes dansavam: e ainda
hoje dansam; que é o faceiro patinhar do ca-
vallo, senão uma dansa? que é, senão uma
dansa, o terno volteio, com que os pombos,
na epocha do amor, gyrain, arrulliando, em
torno das rolas? Não é exagero dizer que a
Dansa é uma manifestação constante e eterna
da Vida de todo o Universo: a vida é um
rvtlnno. Que fazem os planetas, no immenso
espaço, num gyro perpetuo? O seu movi-
mento immortal é uma dansa. E' uma dansa
a sua agitação incessante. E' a Dansa das Es-
pheras, é a luminosa pyrrhica dos Astros, re-
gida pelo Maestro — Creador...
Em todos os tempos os homens amaram
a Dansa. Ella é ainda hoje amada e praticada
em todos os pontos da terra. David dansou
diante da Arca. No Egypto, não havia «mys-
terio religioso, que se realizasse sem dansas.
Na Grécia, dansavam guerreiros, sacerdotes e
poetas: Eschylo dansou, diante dos exércitos,
para celebrar a victoria de Marathona, e foi
0 grande So-
phocles quem
dirigiu as pyr-
rhiças que fes- EM BOTAFOOO
tejavam a vic-
^^^^^^^B mmr ' ^^^___ **" toria de Sala- as raparigas se conhecem e amam: a Dansa é
mina. E qual a mãe do Namoro, o Namoro é o pae do
é a região do Casamento, e ...
planeta em que A Dansa é por tal forma uma preoccupa-
hoje não se dan-
sa? Dansa-se em ção característica da vida carioca, — que é es-
tildando e classificando, por ordem de bairros,
Paris, em Londres, as dansas preferidas do- nosso povo, que se
na Tasmania, em
Tombuctti. em pode estabelecer a geographia moral dá cidade.
Botafogo não dansa como Catumby, a Ti-
Ceylão, na Polv-
nesia... jucá não dansa como a Saúde. Cada bairro
tem a sua dansa, que é a sua physionomia
Mas, no Rio de característica, rigorosa e inconfundível. Se me
Janeiro, a Dansa é vendarem os olhos, e me conduzirem, depois
¦^•sT-í Ina,s do que um de varias voltas e vira voltas, a qualquer ponto
costume e um di- do Rio de Janeiro, e se me retirarem a venda
vertiniento: é uma dentro de uma sala em que se esteja dansando,

;!feífefeí
!
KÓSMOS
,-SJ

eu direi logo, pelo simples exame dos dan- mente smokings, aqui. Ha também os modestos
sariiuis. em que country estou da urbs. « saccos, elegantemente abertos,
Em Botafogo, a Dansa é serena e mages- com uma flor
na botoeira, de abas affastadas sobre colletes
tosa como um rito religioso. Cada um daquel- de complicada fantasia, de velludo ou seda
les cavalheiros severos, amortailiado na sua com botões de rútilo esmalte. As damas
casaca negra, garroteado na sua gravata branca, não'
teem cauda nos vestidos: a barra ela saia. curta
parece um sacerdote. Cada unia daquellas e
redonda, deixa em liberdade, os volteios
damas, esbeltas ou pezadas, arrastando caudas as mesuras dopas-dc-quatre, ospara esper-
e
de rainha, parece estar cumprindo uma obri- pésinhos
tos e ligeiros, que se agitam, como aves
gação cultuai. cando o assoalho. Aqui, a Dansa bi-
Os gestos são medidos e solemnes, as mãos já não é
uma ceremonia: é uni
apenas se tocam, os pés arrastam-se sem ba- prazer. Os corpos ainda
nao se aproximam: mas. no aperto das mãos
rullio. Ha, cm Botafogo, coutradanças, que ia ha uma franqueza, uma sinceridade, uuí
lembram as dansas fúnebres dos antigos romã- abandono. Vede esse par... O cavalheiro tem
nos. Entre duas marcas, ás vezes, os pares teem os olhos postos ao lado, a dama tem os olhos
bocejos; nos intervallos, os cavalheir.ís dizem
ás damas, com gravidade: postos no chão... A\as aquellas duas mãos teem
O Rio de Janeiro unia vibração palpitante... Quando acabar
progride: o Progresso é uma lei fatal... «E as a
Jamas com um fiosinho de vo/. romântica, polka militar, quando elles forem conversar
faliam do ultimo romance tle Bourget, ou da a janella, contemplando o palhetamento
do
ultima conferência litteraria do Instituto'de Mn- luar nas copas dos ftamboya/its da rua,-não
sica... "ão tratar, certamente, do ultimo romance de
Bourget, nem da ultima conferência do lusti-
Saiamos de Botafogo, e demos um pulo á tuto...
iijuca, ao Andarahv. ao Engenho Velho. Aqui,
está um baile. Não ha carros á porta, como ^ Alas a Dansa. no Engenho Velho, ainda
em Botafogo. Aqui, o bond(- impera; aqui, e formahsta. Quereis começar a ver dansar
impera a Democracia. a Ia bonnefranquette? Vamos a Catumby!
-i
Adeus, formalidades! adeus.
eeremonias ocam-se os cor-
pos, enlaçam-se os braços, apro-
ximam-se as ®My\
faces. A wal- í v *^
sa arrebata o
par num so-
nho doce. A
sala desappa-
rece, os ou-
tros pares so-
mem-se, tudo
\~\ Si \*I "c^-* I^^£vj se apaga e se
esváe. A mu-
sica chega ao
ouvido delle,
e ao ouvido
d'ella, como
um echo lou-
giquo da liar-
monia do céo.
As abas do
fak d'ellere-
*~7 fal voam, como
sacudidas pe- EM CATUMBY
NO ENOENHO VELHO lo vento das
Não ha casacas. Ha smokings. O smoking
alturas. O vestido delia enfuna-se como uni "X"
essa caricatura da casaca,-essk casaca aerostato. E' o praser, é a delicia, é a verti-
ma uma ave negra á que Tem- gem! E lá vão os dois, n'um tufão entonte-
qual por troca hovessem cedpr, como Paola e Francesca, no rodomo-
citado as plumasda cauda,--é uma transigen-
ciada Elegância, é uma inho da Dansa, -emquanto, a um canto da sala,
ponte de transacção lan- o rival infeliz, que não sabe dansar como o
Cada entre a Nobreza e a Plebe, é um meio ter-
mo entre o Kratos e o Dêmos.:. outro, murmura, chupando um cigarro, os me-
A\as não ha s<'>- laucolicos versos de Casimiro de Abreu:

v
KOSMOS -f
Q*-, =,0

¦• Tens razão! — Walsa, donzella!


Na Saúde, a Dansa
A mocidade é iã«) bella é uma fusão de dansas,
E a vida dura tão pouco '.
No borborinhu das salas. é o samba, — uma mis-
Cercada de amor e galas, tura do jongo e dos
Sê tu feliz ! — Mu sou louco ! " batuques africa-
Mas saiamos... E vamos á Cidade Nova. nos. do conna-
verde dos por-
A Cidade Nova!... Um mundo novo, de tuguezes, e da
7<XX -p*ÉÈ&0fc\ /: \
onde a quadrilha foi banida... Aqui, tem o
maxixe o seu reino incontestadp. O maxixe/ poracé dos in-
A Hespanha tem o bole/o e a cachuca, dios. As tres ra-
Paris tem o cliahut, Nápoles tem a ças fundem-se
no samba, como
tarantella, Veneza tem a fdrlana, Lon- n'um cadinho.
dres tem a Giga, — e a Cidade Nova N
O samba é a

V xwÈés
não lhes inveja essas riquezas, porque /
^-» / o po pio cia do Co-
possue o maxixe. Aqui, já não se to- rtiço, é a pyr-
cam apenas os corpos: collam-se. As N rlüca da Estala-
gem. N'elle, o
reinól pesado
conquista a leve
mameluca. N'el-
le desappareceo
NA CIDADE NOVA
conflicto das ra-
ças. N'elle se
absorvem os o-
dios da Côr. O Samba é,--se me permittis a
expressão- uma espécie de bule, onde entram,
separados, o café escuro e o leite claro, e de
onde jorra, homogêneo e harmônico, o hybrido
café-com-leite...

A
O Rio de Janeiro
é «a cidade que dan-
sa^. Dansae, rapazes
e raparigas! A vida
é curta, o mundo é
máu, o dinheiro an-
da arisco, a carne
custa os olhos da
cara, e a morte é
NA SAÚDE certa. A Morte! tam-
bem ella tem a sua
mãos d'ella pesam -jugo doce! — sobre dansa, - a Dansa
os hombros d'elle; nos braços. d'elle, Macabra, que todos
como líiim estojo apertado, anceia a havemos um dia de
cintura d'ella. Faces em êxtase, dansar...
" Olhos cerrados tia volúpia doce "
Por agora, porém,
não pensemos na
Dansa Macabra: va-
com um sorriso de beatitude nos lábios, mos a um cake-walk
os dois parecem -
gostoso, dansa pre-
" Na mesma arvore, dois
galhos... ciosa, que tem a
No mesmo galho, dois fruetos... " virtude excepcional
de abaixar o Uo-
O inglez Cook, que viajou pela Po- mem até o Kan-
lynesia, viu um dia os Tasmanios dan-
sarem a temorodia, e escreveu: "é a gurú, e de elevar
o Kangurú até
Volúpia em acção, é a apotheose da o Homem!
Luxtiria! Ingênuo Cook! que escre-
verias tu, se viesses á Cidade No-
va ?... Fantasio

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