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oro Urs “se Paco Deo Hawi ila Pe ae Tres Rope do Ss ‘one Mage otras Exot, ‘Cet my emi nel Soe ‘A EXPERIENCIA ETNOGRAFICA: antropologia ¢ literatura no século XX Jaues Cuirroso orgenizagso ¢ revisto then ‘se Jost Recinauso Saaros Goveatses 1 impression alton: UF apie 2 by ee ies, 18 de Presomano Teco ~ SUF Gin Gi ore ‘Aprils atic: aol ws 9 seine Sie a eto 198 oo ce vaso eRe Soar Gonahns gener Pajao Geo © ihe rons Urea eal Bo i Fn ena ode io sooo SUMARIO Aprsentasto 7 ‘Sobre a autordedeetnogutien 17 Sobre slegoriaeinogrsticn 62 Sobre automodelegem etsorstc (Conrad © Malinowski 100 Solis surrealism etnogrtico 132 Poder edilogo na einograia: ‘iniciagSo de Marcel Griaule 179 ‘rabao de campo, reciprosidage tlabocagie de wxtoretngrsfcat: ‘ eauo do Msrice Lentardt 227, As tontias ea antropologi, ReferSncia bibliogrfieat 276 APRESENTAGAO ose Reinaldo Sonos Congaes [As itimas décadas do stula XX ttm sido mareadas por uma forte tendéneia autoeflexiva nas eincias humans em etal, ena antopologa social u curl em particular No caso espetfico da antiopologi, esse moment i foi catacteizalo coma "reflexive", "hormenduieo, “interpretative”, "desc trativa, ands eomo ear de manifectago de una “sens- bilidads" omdasea, que, ara George Stocking compara tod a histria dessa dsciplina (1999:7). obra de James Clittord parece desempeahar um papel singular nesse contesto istrieoe epistemic, “Enquant isoriaor ele analisaaemergéncada moderna nogio antropolgica ou etnogrfia de “cultura” (on “cultoas, 10 plural, a com eta vei a s configura nos dos peimelos tergos do sécalo XX. Sus contibuigio ap estado deta categoria {irda afinidades sgnifiativae com trabalho de Raymond Wiliams, ohistoriadr inglés cujs estudos abordaram 2 con copso himanistaeiteia de “ultra entndids no sings) durante séeulo XIX (Wiliams, 1966) Com o propésito de ent der os proessosdeconsruio dessa madera nogioantropolégica ou etnogrfica de cultura, James Clifford focaliza os modes de representadoetnogrifica no contexto colonial epés-colonial © no contexto cull do medenismo iteriio eatstico europe, [Nessepercurso, explora de modo orginal as frnteiras sempre rveis ene hist, trata e antropologia ao sé XX. ‘A posgfo que assume nessa empracndimento analiico & aniculada, de cero modo, em um ds seus textos eunides nessa colt, quando diz: “Um espcialisa em histria intelectual, no ato de 2010, se tal pessoa €imaginivel, pode mesmo clhar paras pimeirs dois erpos de nosso séculoe observar que este {oj um tempo no gual os inclectusis ocidenais estvam proscd- dos com contexts de significado e de identdade que eles ‘hamsvam de ‘clr’ linguagem’(domesme medo.omo ago raolhamos para oséculo XIK ef pereeberns wma problemen preocupaio com “hstra" eo progresso" no sertidoevaucio- iso” (‘Sobreaautomodelagem emogrfis"p. 103) Esta lgora por meio da qual James Clifford (om historidr que jt {ol chamado de “meaetndgata”) define sua posigio em eae ansenérafos modermos. Ele ostransforma em maives assuming ‘uma posgio distancia em regio to dscursoetnogréfco © 20 conteto ultral modemisa em que este se inser simaltanes- mente com condigio eee, Primsramente, cama aatengao para fato de os anropé- logos soa modemosconstrirem asuaidentdade profisional ‘come “etnGgratos”.Antesde Boase Malinowski, oetnéprafe no ‘ranscessritment um aieopsogo,E vice-versa Seguads James Clifford "Er erosesquemitios, ants do final do século XIX, etndgrafo © 0 antepSloge, auele que desreviae taduzia costumes eaquele que ea o constr de teoias ges sobre a humanidade,eram porsonagens dstitos” "Sobre a atordade ‘ogre. p. 26. ientifiago entre oetnaafo co antops logo deixa assim de aparece como umdado,taleomo se apreseaca ‘ma sutocariteri2ago diseiplinar da moderra antropoogia social «cultural, ¢ parsa a ser pansada como o eftitocontngente de ‘leteinado context strc intelectual. Anogode que James Clifford fz uso para peaseranlicarente csv ceil € a de “autoridade etogifica’, pega fundamental em sss reeds sabe o dscors etnogrtio no século XX. ‘Ao focaliae as diveeas modalidades de “antordade"= amtculdas no textos etnogefios, James Clifford disanca-se ‘ronicamente dos entendimentos canénios da represeatagio cnogrifca, No saber conveacional da discplna, a etnogratia ‘desempenta um papel mesodol6gico cena Fla estima base da ‘dentiade discipinar da entopologa sociale cultura, tal como ‘ enenders em ma versio modems, Nos lites do discus Aisciplinay,aetnografia¢entenida por crtos autres como "a observa anise de grupos humanos consierados em su paricularidade.)eviando asia reconstiugso to fel quanto possvea vida de ead om dle" (Lévi-Seaus, 197214) Alguns ‘ores, no entano,pensam aetnogafiacemo algo maisque um “reconsttigio fo el quanto possvel” da vida dos grupos etu- dadse problemutizamextendinento mesmo doque sna "prt- cn da etnogafs”, Exe 6 0 caso de Clifford Geers, para quem “em antopologia o, de qualgver forma, em anroplogia social, 0 gue oF pratcanesfazem & 9 etnografa.E €justamente 20 ‘comproendero que é a eografia, ou mais exatameate o que a ples du ethogrfia que se pode comoyaraentendero que repre Senta antropologincomo forma de conbecinento” (Geet, 1978 15), Segundo esse sto, a emografia € ua atividade eminent ‘mente “interpretative”, uma “desergSo densa, voltada para a ‘busca de “estuuras de sipiieago" (1978: 15-20). Esquivando-sedosentendinentos dinars da etnogr- fia, que podem osllir etre oe pos aim representados por dois eminentes antopslogos, James Clifford prope entender a diverse mesma dos processs de consti dos textos etno- ‘ico, vewlizando-o como empreendimentostestais stusdos temeircunstincias histriaseculturaisespectess. Nessa propos- 1a vale slientar gue fo ve tata de entender a etnografa apenas como "textos" no sentido etite dese temo Os exo einopr ‘sma verdad fazem pare, segundo James Cio, dum ister complexo de relages; eles so pensads smultaneamente como ‘ondigéeseefets deumarede de elagdesvvidas po einégrafs, ativos e outros prsonagens stvados no contexto de stages colonia [Num pieiro movimento, papa problematiagio do que se entende psa *prtca da emografia" que leva foealizagio das dimonsse “terri” do dscurso enogifico,explrando 64s fronts ente uma eauta modalidade de scree, Ese dlenses “itervas”deisam dese considaadss como apents suplemenios dos dscursos etogetios, uma erpéie de orien ‘ago dspensivel, passando adesemperhar um papel constitivo nesses discuros. 0 no significa, no entanto, afar de modo simpli, qo a etograia Sa “lterara”e que os enoyratos ‘jam spenas ume expe de romancitas manqués, co expres So “subjeiva" se nseuarialiminarmente no texto enograico, Fao a lado com a dado “objetivo” Entendida por James Clifford como wm “atividede hii, aetnografia€ vista simultanesmente como “esr “eclesionaments “collage modernist “poder imperial" & “erica ubversiva™ (198815). Nese sentido, msvaperspectva, enografia no recebe uma definigo estensva, que terinaria or naturalists come “metodo” (nas versbes “universal ou como wins espécie de “teat” (nts verses romintias"). El se configu na verdade como tum campo antculado pelas tenses, ambigtidades e indeter- ‘minaes péprias do sistema de relagies do qua fax pate, ‘A eznografi, al como vio ser concobid no s6eulo XX, 6 por um ldo, pat snterante do univers cual e esttico ‘odemista* No coraco da experiénciaenogrfic, encontmse 1 mesma atiude cultural, presente nos escitores artistas ‘modernists, de busea de uma experici "annie"? Aommesma tempo articlase a conscitncia de que essa experizncin no & possel no mundo modem. Dafasia buses en gars stds fora dos limites desse mundo on em suas éeas maginas. A reflex soe es tema percorreos textos de Clifford (eee stra de modo bastante ntido em sua anise sobre a “wbjeivdade ‘nogréica” em Conrad eMalinowskie em sua anise sobre © aque chuma de "surtealismo etnogtico”), Mas a etmografaesté também mistuada&expeiéncin dit relagies de poder ent endgrafosenativosem stapes colenais (ver, por exomplo, brlhante anise que deenvolve sabre a expzrigoci etnogrfica de Marcel Graule ea nfo menos ian lise do taba de campo eda enografia de Maurice Lenhart) [io h, assim, frome dfinida env a einograia, ngwamto seria, © a experignca. © que faz precisamenteo encanta dis ndises de James Cliffe 6 0 foco nesta sea de indterminagso entre a inguageme a experincia emogrticas Poeun lo, wnt experitncia que no aprecnsivel senso por meio do texto ‘ogréfco; por cut, um texto que se abe par aexperiénes, que a articula paca o Keitor (través de dstinas“esatgias de sutra”), Estamos, portant, loge dma vis dicatomiada entre linguagem e experiéacia (sea & primeira vista como “representagio" ou como "interpetagio" da segunda). A expe signa etnogrtia& sempre textualizada,enquanto que o texto cmografico est smpre contaminado pla experiencia. Em otras alas, os temas i etnogafia esto simultaneamente no texto fora 60 texto ‘Ao assumit uma aude “rbnis™ Fonte 8s formas de represcnapoctngufia o feito de sun eflexioé dsesiabilzar ‘a pepria nopioantmpoies ow einogrifiea de celtira tl como _¢sta se confgureu a0 longo do séeulo XX. Em espeialaqulas ‘concepoes em que a “cultura” aparece como una oalidade Fntegrada no espago e continua no tempo, dotada de uma “identi” ¢ de fonteias ito bem defini, fundada em “aise portadora de “utetcidae”" Esse efeito de desestbilizagio da nogio etngrafica de cara pe em xeque tanto aqueaseoncepges segundo as gis ‘cultura € uma totliade objetiva ase representada por um ‘voeabulitia supostumente “neuto”, “transparent” (verst0 ostvista da representa etogréfica de cults, em busca de bjesivdade), quanto aquelas concepgdes segundo as qais a cultura é uma ttalidade subjetiva a er expeessa com "astentcida- sea pees nies, sj pele etndgrafo concep romania en busca de autenisdade), Bm mas © ontas conepgbes a el. ‘ura vai epaocer como uma totalidade dade definia por ua vert inensteasitaca o tempo © no expaso. Ora coma ortadora de signiicadesuntvocs a seem resguados por ara nterpretagio™ ora como portadora de atibutos objtivar a serom “epresentades"com netralidade sea desestailizagio vem por em xeque o Fuvdamen- talismo que tem mareado as concepgdesetogrifieas de cultura no universo moderne. E conseqUentemente pr em xeque 3 peépiaepistemologia modernistaem sua busca obsessive por fundamen, sejam estes de natureza"objetivaon “subjei Sua obra supde uma estatégia de distanciamenta irbnico tanto ‘mela concep “objatvistaa” universalist” “iam rissa"), quanto en relayo 38 concep es “sujet” Cela tiviss", "omnicas") da culo Ap6s a letra de seus textos, aver possam fornar-se menos automatics e obsessivos os joges de linguager conven ‘ini ou ditipinrs através dos quis pensamos a experiencia ‘ennogefica,e através dos quais muitos defendem a chamada “raigio antropologies. Oefeito de atoconsigncia em relagio sess jogos, no entats, resulta, no caso de Tames Clifford, de ‘euidadosasanlises das formas de produsio desert da eto ‘prafa em autores e em contexos espcficos. Na medida em ue ess escia épesadn a pair de suas abigtidades inde: rminages, nos ata de proclamar, ma aude vanguard, tum nove ponte de vista em elago essa "radio". Tatas ma verdade de evidenciar sua complexidade, sua diversidade, sua permanente indeterminaeio, as diversas possbldades delet Aue comport, as perspetivas que abr. Esa no 6, absoita ‘mente, uma contribu netigeeisvel, Walter Benjamin que, sold de Mikhail Bat, é uma fore presnga nas andlises de Tames Ciford) adver: "Em eada époes, € precio aranea 4 ‘uadigdo ao conformism0",« arescentiv ge dante deste ergo, °(.) também os mons no estardo em seguranga J". = Notas "Sobre afomijo de amex ifr como istered, ver ete ‘ins "Ae rns da sarepolgi 2 al dst collie. + noptode aod” éuzade no no sentido sinplitade sa ‘larva des galdade socal plc) ene etogafo naive (e aconsyiete evn deus elo igual) st ‘oso de se pesarem as stg rics plas uals © "tO ened come um da, mas ome wna fo) one sau presen (ou asta) 1 to asegand em tetnospitenalgieo (mer amb ao mesmo op ee ‘monde pe lpn doen darn sobre agen core. {orocil ecaharas represen, Des nodo0"trdade tm guns no agen una spiced jaca par si ito de spend do etndgrfo mas na Yer 6 poe Fundamental npeépricosigdo desc sinulaneamene, tatoo dn experi eprecntngs En ora plas, € ‘pio oorheinenoetngrtco (esimalaseamenc {0 eo “ojetdeasecoshesimens) gue corto pr dist foveal deride Ver "Sores aide enogtior™ esta oes. > Panenenderspeieo aula por ames Chior importante ‘Setar qe ameter at prtate ro sc pensent no ‘Etent (Como ops “ttopaoga inert"), ma Sim a "esi" sentido metalic explored por Jaeqos Devin. Nese eto apa, gern pel esto facts liad por Janes Cid ector ores, 2 ess” Ho ‘Sime apeeas esti datnngrain mses oat smu também podem ser etnias com “seri” spite Socks asmalg sta. Nee endo ar "primitvs amen “scrven, utopia poem see nerfed ads ea mesma etfra, Um ul ua exer ou pode ser pena amo unaesziAculuapode ser pensia raves dnt, ‘aescin Ness endo metafeco,aesrano se ops ono legomoc maf” spestnet nis" ‘argo de brent sa gos ne pla aon “dant asset” Para lilo o“ext",como entender 05 "sntopSogosinrpretatvs” raze si wn sgniiesdo que ‘dove seresgaado pels merpeiso. Hi una cea nda set reeuprea lone, samt "ot ‘feo avis do text eomo wm campo de estes, qa ne ‘exis sialic icons (Para umaelsborgte dss ‘ising ene esr "ext" er Clif, 1986126. Para uma iniepetago das reloges ene as pret modems docolecionanen, aetgratineanagta eclter,ver “Sobre sree eloprsfco” nei cota thn Clif, 1988: 18725, ‘VerSbreo sureatime eps esa oetaea ‘erespecainete "Pode ddlogan gratia iniciagsa de Marl Gru” &"Tiabaho dcapo leit celaborsso stets norco: aso de Mrs Lenbad” ambo in doen cole. ‘er “Sore a alogcaenogrifica”e“Sobe« antomodeager ctoogries: Consd « Malinowshi" também incu est ‘alec Sole as eles enue cis sei itrtrae moensme 0 Bras ver doi portant crus: Moras, 1985 Arai 1998, Sobre o tema da “ntentisiads” ver Gagaves, 1988; 1996 Viena 1997 Nave, 1988, ere owes. soa anosio de “torn senda bul po Richard ‘Rey quando fala em "estatgias ecoserimento ities cmopsiio a estates “nealstas” (Rony 199.7395). tenor bom esustico pose diac ques rinias core ‘onde mn td “antifendamentalists enquan ote eii-se-am por ma tae fade Pare ma for ligt ognal dae contrat ver Velho, 199188206 1 Param desdbramento dese nines sobre neg zope Iigca dcaltre sou ines de beatae, desenva¥as ‘Man dascatgaiar" age edu" er (illod 197), Referéncias bibliograficas ARAUIO, Ricardo Benzaguen. Guerra e par: Casa Grande & ‘Senza ea obra de Gilbert Freyre nos sn0s 30. Rio de Ja rere: Eitora 34,1994, CLIFFORD, J. “Pasi truths”, Writing enltare the poetics and polite ofehnography. (Clifford, J; Mareus,G.) University fof California Press, 1986, The predicament of culture: wentieh-centaryehnogrie literate nd act, Cambridge: Harvard University Press, 1988 Routes rae nd transltion inthe late twentieth century “Cambridge Harvard University Press, 1997 GGEERTZ,C.A inerpretagdo das cultura. Rio de Sant: Zar, 8 GONGALVES,R.“Auteticidade,memérae deotogias aco nas", Extos Hlitricor, v.12, FG, 1988. [A retirea da perda: 0 discrss do pattie cltral “ho Brasil. Rio de Janeiro: Eaitora UFR; Iphan, 1996, LEVESTRAUSS, Cande Anmopolopiaesutral. Rio de Janeiro ‘Tempo Braileico, 1973 -MORABS, EJ. constitu da dade mademidade no Moder- nismo brasileiro. 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Ea estéacompanhada por dois querubins ~ que adam ra area de eomparagio ~ e pela babu pesonagem do Tempo, que aponta para uma cena quo repretenta a fente primordial da verdad brotando da pena do certo. A imagem paraaqulajovem mulher die seu char ‘deur conjuntode aves onde esto Adio, vaca serpent. Asim <éelesestioo homen.es mulerredimides do Apocalipse, de cada Tad de um triingulo queria Ine ostents a insergho Yahweh, cemalfabetohebraco, ‘Kem Os argonoutas do Pacifico Ocidenal ofoisptcio. <6 fotografia com ottulo "Um at crionia do Kula. Un colar de conchasexté senda ofeecio s um chefe wobeandts, ‘queertdepén portadesuacasa. Ate dohomem quepreseateit ‘cola, est uma fia desis jovens, curvidos em revertacis, ‘um dos quae sopra uma concha, Tod as petsonagens esto de perfil, com a tengo aparentementeconcentada noida eo tum evento importante na vgn melanésia, Mas un olla mais tent parse quctim dos trabranderes ques eurvamestéthando paractnen, Alegoria de ata 6 menos frill: eu stor tansrev, nor. Difereatemente da feco de Mainowsiagravura io fz reniuma referencia experéncia enagsfia~apesar dos cinco ‘nce de peeqush de Laitan entre os mehaws, uma pesquisa que The ranjeou um lugar de onra entre oe pesquisadores de eampo de qungher ergo. Seaelto¢apesentado no com um predsto. ‘de abservagt de primeira mio, mas como un produto da ese ‘mum gbinetreplto de objtoe O rontisp si dO argonaus, ‘coma oda fotografia, fa uma presenga adacena dante das lenis suger também outa presenga ado etre eborando ativarente ese fragmento darealidade rbriandesO sistema de ‘soca ls, tema dolivrode Malinowski fo transformado emalgo pereitamente vise, cenrado noms esramure de percepsso, ‘ngnta ola dea das patepantesreiecooa nossa atengo para o posto de vistadoobservador qu, como litres, patiliarpos ‘om etngraf ean cSmert. O mod predominanieo medeeno de uoridade no tala de camp é assim expresso: “Voe8 est 14. porque eu estava te esto teagan formngdoeadesintepragio da atordade taogifica na anropolgia social do séevlo XX. Nio 6 uma ‘explicago completa, sem esti basesda name tora plenamente desenvolvida da interpetapioe da textualidadeeinogréfca* Os ‘ctomos de tal tera so problemsticns, uma vez que a edicn fe repreentago etercultural exté hoje ais do que munca om theque, Odile atvalext&associado A desintogragso e & ‘edintibuigie do poder colonial nas désadas pstriores 21980, 1s repereassdes dat teoriascultaras radicals dos anos 60 e 70. ‘ApSs a reversio do olhar europea em decoeracia do movimento da “nogrinde”, aps a cise de conscience 6a ztropologia em relagioaseu stars literal no contexo dt order iperialist, ‘agora que o Ocidente no pode mais so spresontar como o ico provedorde conhecimentoanropoiice sobre out, tomo se necessrioimaginarum mando de etografiageneralizaa, Comma expansio dacommnicardoe da inftbcia intervll,a pssnas Jmerpetam sous, eas mesmas, ore esnorsant versie de idiomas uma condigio global que Mikhail Bakhtin (1953) ‘chamon de “heteroglosia"? Fite mando ambigvo, raltvosal, toma cada vez mas diffe conceber a divesidade hirsina como cuts indepersenes, delimitadase ise. A difeengaé um feito desincretimo inven. Recentemente,abalhos como © ‘de Edward Ssid ~ Orientalism (1978)~e0 de Pain Hosntondi = Sur la “plilosophe” ayicalne (1977) ~ tevantaam avid radicas sobre os procedimentes pelos gus grupos humanos strangers podem er epesentads, em popor, ded fino e sistemitico, noves métodos au epstemologits. ais exudes sugerem ge, sea esrsetnogrfica mo pod seaprintiramente do so reducionista de dicotomins eesstcis, cla pode wo menos Iutarconscentemente pra evita representa "oueoe” asta © “shistrens,Emais do que nana crucial paraos diferentes povos ormarimagens compexaseconeretat un dos ours, assim como das relagdes de poder e de concimeno que os conecia, as _Lnenhura méiedoeatficosoberano ov instincia ica pode gaanti> 2 verdade de tas imagens. Els #80 elaboradas ~ a erica dos ‘modes de pesca colonial pelo mena dmenstou bem iso ~apairde elosdeshisricesespctias de domingo edilog, Asexprincias de eseria enogrifc analisadssnsteexto io seguem nenhuma dreo clararentreformieta ou evolu, las so invenges hoe, nto podem ser enearas em tems esta, part Ati um pouse pn fora da din © me sete 20 indo de ua Severe Depois ge elt mses, soit nfo sabi ue fee [iota ertava a, movendo rue beagos, tentandoehapar 0 pds dedes.Comegou a chara Senet al olhandepaacla Rensvar“Beste omen bbs? ‘Quem para ese cringe”, nto pense "Uma ois sani dsse eit? Come pose queso er sat ‘lox ieus genie” Sena cotbvs para clhaa ollava eos. (158113) ‘A histria om forte ipacto. A vos deNisadinconfunv, s.experidcianidamentereconsinéa:“Laestavacl.movendo eas bragos, tentando chupar os prdprios dedos”. Mas, como etre, fazemos mais do qe rgistar um aconteciment singular O desdobramento da hstra requer de ns, primero, imaginar vst norma culural dierent ( asseimento hung, sli, no rat), e depos, que reconhecamos uma experitacia humana ‘comum fo discrete heroism que envolve um naseimente, os etimentos de dvd eincecteza aps opto) bistia de um ‘evento ceorid em alum lupar ne desert do Kalahari nfo pode ‘contnuar mais sendo apenas eo Ela implica iniiadcecltris Tecais nama isi geal demascimento. Uma difeenyaé postlada uanscendia. Mais do gue isso, histéia de Nisa nos conta (e ‘como podria no faz?) algo basco sobre a expeizncia da mulher. vida de um individu tung, que nos conta Shostak, inevtavelmente stoma uma alegovia da humaniade fering), Argumasto a sogir que estas espécies de signiicados transcendentes nfo s80 abstagdes ou inkerpetagdes "nereseen- ‘ada 20"simples" relat orginal. Antes, consitvem as condigbes kes significa, Os textos etnogrticos so inescapaelmante slegsrens, ema aceltaoao sia dese fate modifica as formas ‘com que eles poem ser exerts e lids. Fazendo uso do expe rimento de Shostak com um esto de cao, anaisindo us te. ‘pc recente em ding os nes alepricn como "vooes" es pecfces dento do texto. Argument, inalmente que aatividade mesma da excita etngrifiea- visa como inseriglo ou textal- agin ~encona una slegria oeidental eden, Fssaestrtara tsa precisa ser perce avallada em coneste com otros fenredos para a performace etnogrética A sci feria some ccotia ou can, por as st “ports” das cots dee mundo que ely preende decor Mice! Bzayjou Some padois of desertion A ategoi la greg alos, “outro © agorewin, “fla”) rormalmente deots oma pica na qual uma fcelo aveativa contnsamente se efor onto palo de ias gn eventos. Ela & ‘ma representaggo que “interpreta Hi mesma, Extou usando o terme alegoria no sentido amp evn para ela em recente scutes xtieas, notdament areas de Angus Fletcher (1964) ‘© Pan De Man (1979). Qualquerhiséria tr ura propensio a "str our bistra na mente do os Itt (ow ovine), a eptire ‘eslocar agua hstra anterior. Pocalizar preferencialmente a slegoriactrogréfica, em verde, digamosa“ideloga”enogstca sina que as dimensées politieasestejam sempre presetes ‘laneson, 1981) -,chama a tengo para aspects da deserigio call que tm sio até ecenernente ninimizados, Ur econ ‘Simento da alegora enfatiao fro de que reas realists, na medida em que so “convinentes” ou “cos, so metifors xtensus, pds de asscioges que apontam pa signiicados ‘diols coerntes (em termos treo, esis © moras). A slegora (de maneira mais fre que a "ntespretagao") destaca a co atusera pte, tadcional¢cosrolspca de tis procstos de ‘A alegorinconcide especial stngto 2 cater narratva das sepeesentagies clas as histrins embatdes no pp proceso de representa, El também rompe com o aspecto de ‘continuidede da desergzo cultural, acrescentando um aspecto temporal no proceso de liters, Um nivel de sinifcada em um texto vai sempre geri oucosniveis, essa forme, 2 rtérica da presen, que prealeoeu em boa parte da teratura prominin (eemmutodaunropologa sibs", Ginerompid. A exc dee Man valozagso dos simbols em desrimenta da slegoria ‘ag esticavomdatcatamiém question 0 pojeto do reaismo (De ‘Man, 199), A tse de que a descrgio no legen as possvel = ‘uma posi sbjocente ao lteralismo pesitisa € sinédogue realist (rlaionarento crn, funcional ou “tpco” depres com o tedo)~ esti intimamenteassoviada 8 busearomfnties peo significado nto mediado no aconteciment, O positivism, © realismo e @ romantismo ~ ingredientes do sevlo XIX na tniropologia do sfculo XX ~ dos reeitvam oso” atfiio ‘etre, juntamente com a supostaabstragho da alegoia. A legoria volvo cbrones da cnc mpi espontane- ‘dae arte (Ong, 1971-9, En era mito dedi, umaimpo- gla explicit demais do significado sobre aevidénci senstel (recente "evivesimeno” da erica por um grupo variado de tees da erature da cult (Roland Bates, Kenneth Burk, Gerard Genet, Michel de Carte, Hayden Waste, Paul de Man ‘Michel Resour ent oats) langou sri vides ene oon Senso posiivit-srntico-elsta, Na etograi, tal gine ddnem droge & retin oinide com um pefoco de reavaliagio politica episteoldgea no quel a natrea constru,ipost, ‘Sasutridaderepresetaonal trots, de forma extant, visvelecontesade A legora no nea a dizer, arespeio de quik oer deg ela no storepresnt om simbolica, aie”, ‘nas sim “essa é uma histria (que carrega una moral sobre auile"? 6 (0 relatos espectficas eontidos nas etnografis jamais podets ser limitados a wm projeto de desrisio clentfiea, na ‘edida em gue a tarefs principal do taalho& tomar 0 (quase ‘Sempre exes) comporamento de um modo devia diferente hhmanamente compreesivel Dizerqueocomporamentoexico ‘a aimbolos Fem sentido em termes “humanos” a “ears” ‘fomecerusmesmas epéres esgnfiadaslgsricos acres tados, que agarose em narratives maisamgas, que viamas ages ‘come “espitituareate” sigifictvas. As alegeias cultists” ‘chimmaniias oso porte des lgdes controls sore dferenga ‘simile que chamarce de eats etnogriios. O que se man- tem nesses texlos 6 uma duplaaeneio soperfcie deserivae ‘0s significaosmais abstrats, commparativoscexplnatrios. Essa ‘strata cm dos nivel €exabelecida por Coleidge mma det niga esse: demos nfo, cm segirng, eiiraescinalegécica ‘omo oempeoge de um conino de gene iagens ‘om egGer» ambigniscorespondenes, de modo a tetunalnd ue sb disfree, o8quidates mors ‘wloncepter dament que nfo soem sinesnes eos oy statis, ou ous agen, agentes, desis © ‘Sounetinis tis qo « erenga esl em tod lugar fubmetida ao olho ou & imnginagio, enquanto 2 Femelianga ete suger ® ment; e isso deforma onectads, de mode que partes se combinem para formar ur oo consistent (193630) (© que ze vé nar relatostnogriicecourent, a contro figuada do otto, stécormctado en uma dup estitra contra, ‘om a qual se entonde, As vees, esa estratua & por demais tritante: "Durante 0 proceso de fabricaglo de cerimica, as ‘mulheres conversam gentimentc, calmamente, sempre sem confitos, sobre a dinimica do ecossisema (.)” (Whiten, 1978847), Uatmene ea émenosebvia,e parte mais realist, Adaprandoafrmsa de Coleridge, oque aparece descitvamente 0s sends (e uicipuimente, como ele sere, a0 olko gue o serv) parece sero “ou”, enquanto que o ques ager avs de uma série coerete de percepyes 6 uma smu subjocene comportamentoesranto€retatao como signtistivo dentro «dua rede comum de smtols ~ uma base eam de atv ompreensivl vida par cbservadre para o observado, por implieagao para todos os gropos humanos. Assim 4 nanatva tnogrifica de diferengas especies pressupse e sempre se e- ‘ere aum plano abstrato de similridace. Vale nota, embor ev nfo poss aqui desenvelver 0 tema, que anes da emegncn da aniropologia secular como uma icin os fendmenosculwaise hasan o lala enogrfco eva conta a referents slegioecfrertes. fun comparagio do Padre Laitay (1724) ds costumes dos nativos da América com os das artigo hebceut e egfpcoeexerpliin urn tendéncia Anterior de mapear descrigis do otro em termoe de cncepybes os premiers temps, Alegria biblias cu cissieas mais 08 menos ‘xls abundam ra rims desrgbes do Novo Mind. Ps, ‘ome Johannes Fabian (1983) argument, houve om encnsia its. preigrar os “ertos" num espazoterporalment distnto {arterion, mas loealizdve nos mites de um assumido progreso distraoeidental A anuopoogia cll no slo XX ede substi (embora nunca completamente) esses alegorias histreas plas slegoras humanists. Elaevto uma busca das ‘gong favords prim por similrideshumanasecferenas cular. Maso proceso de representa em mesmo i oe ‘uma rmdanga essencial. A maioria das deserigdes dos “outos” continua a assume se refer anv elements ou warscen- ents de verde, Essa conchsto emerge claramente ma rceute cntrovérsia aad Frama’ Duss epreseniapies isso a vida em Samos ‘Slo apresentadas como projets cieniios, mat ambascoofguram © “outro” como um alterego com significado mera. Med af ‘mava estar conduzindo um “experimonto®contoado no campo, “westandoTa unversalidade do tenso peiodo da adoleseéncin, examina empiricamente wr contra-exemplo, Mas, pesar da ‘etrica boasiana sobre o"aboratério® do trabalho de campo, o ‘xperimento de Mead produziu ma mensagem de ampla signiticapio tics e poli Assim como Rath Benediet em Pater ofeultue® (193), ela ustentava uma visio ploralist © liberal espendendo as dilemas de urna "complex sociedade americana, As histrias etnografeas que Mead e Benedict ‘ontavamn estavam manifestamentelgadas stwagio de uma ‘lira ent ta com diversas valores, com um aparente colapso ‘detracgoesestabeleedas,com vibes utpicas da maleabildade humana e os medos da dessgregagdo. Suasetnografias eram. “fabulas de idemtidade,adaptando o titolo de Northrop Frye (1963). Seu propio sbetanenteslegécco no ora ura espe doestraturaexpostva marl para deserigbes empties algo que se nerescenava a preficins = concluses. Todo 0 projeta de invent e representa “colts ea, para Meade Benedit, um empreendimento pedagepio esico (0 “experimento” de Mead em variago cultural cntolada se pare hoje em gia menos com ciacia do qu com slegoria~ uns hstéria de Samos com um Foco muito preciso e sugerindo tuna Aeiespossvel. erica de Derek Freeman, no entant, ‘gnoraquasquerdinenses poprismente Iiteririas no trabalho sinogrifico sem verdes apicaSeuprépto tipo de ientiiismo, Snsprado por [eto recente desenvolvimentos na socibictogia [Na vio de Freeman, Mead extavasimplesmenteeraa sore 0s samoanos, Eles no sio aque povo informal e pemissivo quecta Tomou fame so, a verdade,cereados pot fos us tenses Inumanas comune. Eles x0 vilenos. Tem glee, © eonjnto principal de sua critea um atmeledeconte-exemplosratiados Aeregistos istic ede sen pre wabalo de campo. Fan 170, gina de dovastagio empiria, ele mostra com sueeso que ji fra explicit para qualquer lito atento de Coming of age in ‘Samoa: gue Mead constaty um guadeo resumido, destnado a propor ges moras e priticas pra a sccedade americana. Mas ‘enquanto Freeman vai acumolandoexemplos de ansiegade e de violéncia samoanas, a estrutura alegérica de sen préprio ‘rpreendimento comesa a emer Fica cro que algo mais esti sendo expresso do que simplesmente "lad escr0", ta como Freeman apresona, a vidi em Samoa. Numa evelidora pina final ele mesmo confine, eontapondo a rentdo“spotneo” de cauillrio curl de Mead natureza hursana “aonistea” dn biologiaessencial, emocional, ete). Mas qual o status cenitico

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